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05/12/2014
O modernismo nasce no início do século XX, sob o fim da Primeira Grande Guerra, período
em que se esgotam também os elementos que sustentam o espírito da Belle Époque. É um
momento em que “a intensificação do interesse dos intelectuais europeus pela busca de
identidades culturais calcadas no espírito nacionalista” (CONTIER, 2004, p. 10), é a insígnia
resultante do processo pós-guerra.
Nesse sentido, Andrade compreende a música como a expressão máxima dessa junção entre a
cultura popular – enquanto inspiração – e a produção artística erudita. Segundo, ele apud
Lamb & Bergold
a “música artística” seria desenvolvida (e assim conviria à constituição de uma cultura nacional) a partir
de uma “observação inteligente do populário”, incorporando traços do folclore, porém, não se abdicando
do procedimento intelectual. Seu ideário, portanto, está longe de considerar a brasilidade como uma
referência a exotismo ou primitivismo. (LAMB & BERGOLD, 2010, p. 222)
Andrade, “conferiu à música parte das suas atenções, tomando-a como uma fértil expressão
cultural e uma potencial catalizadora dos esforços de apreensão/compreensão da cultura”
(Lamb & Bergold, 2010, p. 218). Nessa perspectiva, a música – e consequentemente as
demais expressões do movimento modernista – encontraria o distanciamento necessário da
cultura europeia, por tanto tempo fielmente reproduzida, sem negá-la, bem como a cultura
ameríndia e a africana. Haveria assim, inspirada em aspectos genuinamente brasileiros, uma
cultura e uma arte genuinamente brasileiras.
Como música popular industrializada, sua expansão girou, e nem poderia ser diferente, na órbita do
crescimento da indústria de entretenimento ou, como queira, da indústria cultural. Para tanto jogaram um
papel decisivo a própria urbanização e a diversificação social experimentada pelo Brasil nas primeiras
décadas do século XX. (PARANHOS, 2003, p. 83)
O samba, ainda em disputa na sociedade, é uma manifestação gestada nesse novo ambiente
urbano. Enquanto componente de uma tradição nacionalista, influenciada também pelos
ventos do modernismo, vai sendo inventado “como elemento essencial da singularidade
cultural brasileira por obra dos próprios sambistas” (PARANHOS, 2003, p. 83).
O autor procura relacionar o samba através do tempo, considerando a sua ruptura com o
marginal; a dicotomia entre morro x cidade; as disputas no seio dessa manifestação, do
“samba amaxixado” ao samba de novo ritmo produzido no Estácio. Trata também do
preconceito ao samba e ao sambista, das tentativas de higienização do ‘produto’, de sua
nacionalização e apropriação pela indústria cultural e da conciliação social em torno dele.
Nesse último ponto, Paranhos diverge da ideia de utilização da música enquanto ferramenta
do Estado para consolidar a unidade nacional. O centro da reflexão desse autor está na
produção, no sambista e no cenário que se desenha para a consolidação de uma
cultura/identidade nacional.
Em Kerber (2002), a reflexão sobre a figura de Carmen Miranda enquanto ícone da música
brasileira daquele período toma como pressuposto metodológico o conceito de representação,
no qual o autor relaciona a força simbólica da artista sobre o imaginário popular/social,
consolidando uma identidade cultural brasileira. Neste aspecto, a música interpretada por
Carmen Miranda reflete o nacionalismo vigente, assim como constitui simbologias sobre a
brasilidade, sobre a figura do/a homem/mulher brasileiro/a.
Carmen Miranda – interprete e não compositora – não se apresenta em Kerper enquanto uma
portavoz de uma política de Estado, mas enquanto uma figura que, em sendo representante
de uma indústria cultural já bem estabelecida, reforça uma ideia vigente que necessita de
consolidação.
Carmen teve mais popularidade entre as camadas populares do que qualquer compositor das músicas que
interpretava. Isso ocorreu, em grande parte, pelo fato de o intérprete ter um relacionamento mais próximo
com o ouvinte do que o compositor. E o intérprete que leva a música diretamente para o público, e não, o
compositor. É o intérprete a figura mais amada pelo público. Além disso, não está se falando, no caso, de
qualquer intérprete: está-se falando em Carmen Miranda, o maior nome da música popular brasileira dos
anos 30. O sucesso das músicas estava intimamente associado ao carisma de Miranda, que dava
legitimidade às representações que ela difundia (KERPER, 2002, p.01*).
Referências: