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Introdução
A história predominante indica que em 1500 o território hoje denominado Brasil foi
invadido e dominado pelos europeus. Tal dominação consistiu no extermínio de milhares de
nativos, nomeados pelos invasores de índios, de diferentes nações. Os que não foram
exterminados foram escravizados, catequizados e abusados sexualmente. Situação muito
semelhante ocorreu com os negros trazidos do continente africano a fim de consolidar a
economia colonial, processo esse que se estendeu por longos anos. E foi assim que a tão
exaltada mestiçagem brasileira teve seu início, baseada na dominação e violência.
Cento e vinte e seis anos após o fim da escravidão, no Brasil, ainda não é possível
observar o reconhecimento da cultura negra como uma das bases estruturais do que hoje se
reconhece como sendo a cultura brasileira. A sociedade brasileira ainda é calcada num padrão
estético e educacional eurocentrado sem identificar e reconhecer a origem multicultural desse
país. Dessa forma, a comunidade negra vive, a partir de 1888, em condições de liberdade
formal, mas aprisionada às condições de vida propiciadas pela história. Hoje, os descendentes
desse povo ainda comungam das mazelas herdadas de um período histórico em que eram
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a população de cor branca apresenta em média 7,1 anos (IBGE, 2003 apud SILVA e
COELHO, 2013). Dados como esses deixam explícitos a penalização sofrida pelos negros
“por meio da exclusão do sistema formal de ensino como também nas outras esferas da vida
social” (SILVA e COELHO, 2013, p. 130).
Vivemos em um sistema sócioeconômico que tem por base de edificação e sustentação
a exaltação das diferenças para a construção de desigualdades. A diferença foi construída não
a partir da valoração da individualidade num universo diversificado. Na maioria dos casos a
diferença é “a manifestação do poder ou de chegar a ser, de ter possibilidades de ser e de
participar dos bens econômicos e sociais” (SACRISTÁN, 2002, p. 14). Para validar a ideia de
que alguns tenham e outros não é necessário que se construa e se consolide no imaginário da
sociedade justificativas sociais que legitimem as desigualdades em função de tais diferenças.
Admitir a existência de diferenças e que essas nos remetem a diversos estereótipos é
fundamental para nos aprofundarmos e entendermos a grave situação racial do Brasil. Não
reconhecer a construção histórica da imagem que temos do outro não faz avançar o debate da
superação do racismo, pois:
quando estamos face a face com outra pessoa, é inegável que seu fenótipo, cor da
pele, penteado e forma de vestir-se desencadeiam, de nossa parte, julgamentos sobre
quem é, o que faz e até o que pensa tal pessoa. Dessa forma, informados por
estereótipos, se não estivermos atentos, podemos manifestar, por palavras e gestos,
discriminação, desrespeito, desqualificação. Estes julgamentos decorrem de
preconceitos. Pessoas negras têm sido vítimas deles. Não poucas vezes se ouve que
pessoas “desta raça”, os negros, são feios, sujos, violentos ou preguiçosos. [...] No
Brasil, tensas relações étnico-raciais são vividas, principalmente, entre negros e
brancos (VERRANGIA e SILVA, 2010, p. 709).
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conhecidas como “racismo científico”, cuja discussão precisa ser incluída nestas disciplinas
escolares (VERRANGIA e SILVA, 2010).
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Considerações Finais
O parecer CNE/CP 003/2004 apresenta importantes encaminhamentos para auxiliar na
construção de currículos das diferentes disciplinas escolares para que contemplem a educação
das relações étnico-raciais.
Ter reconhecida a Lei Nº 10.639/03 e o parecer CNE/CP 003/2004 por parte das
secretarias de educação potencializa a discussão sobre a temática em questão, subsidia e
viabiliza a construção de currículos que, no lugar de ações individuais, sirva de base para
estruturação de diferentes propostas de políticas curriculares.
É preciso que não só as disciplinas citadas no corpo da Lei Nº 10.639/03 (Educação
Artística, Literatura e História), assumam o compromisso de rever sua base epistemológica de
construção de currículo, pois esse fato não exime as demais disciplinas do compromisso
social de reverter o paradigma cultural eurocentrado vigente. Somente assim superaremos a
falsa ideia de democracia racial no país e enfim teremos uma sociedade de fato democrática,
de modo que a luta pelo reconhecimento e garantia às diferenças não diga respeito apenas aos
negros, mas ao conjunto da sociedade.
Contudo, tais mudanças estruturais não se darão naturalmente e nem excluída de
conflitos de diferentes ordens. Ao contrário, a superação do paradigma epistemológico atual
para a construção de currículos requererá inúmeras disputas, reivindicações e
desenvolvimentos de políticas públicas para esse fim. A menção, ainda que de forma tortuosa,
da legislação referente ao tema no documento curricular de Ciências da SME-RJ nos dá uma
ideia desta disputa. Também nos faz supor que o tema foi lembrado por algum dos
formuladores do documento, porém, por motivos que cabem ser melhor investigados, acabou
por aparecer de uma forma que pouco contribui para o enfrentamente da questão na prática
dos professores.
Referências
APPLE, M. Ideologia e currículo. São Paulo: Brasiliense, 1982.
BRASIL, Ministério da Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações
Étnico-Raciaia e para o ensino de História e Cultura Afri-brasileira e Africana. Brasília: junho, 2005.
BRASIL. Lei Nº 13/90, de 03 de Julho de 1951. Inclui entre as contravenções penais a prática de atos
resultantes de preconceitos de raça ou de cor. Disponível em:
1909
BRASIL. Lei Nº 7716, de 05 de janeiro de 1989. Define os crimes resultantes de preconceito de raça e
cor. Disponível em: http://presrepublica.jusbrasil.com.br/legislacao/111031/lei-do-crime-racial-lei-
7716-89 Acessado em: maio. 2014.
CUNHA, L. A. Educação, Estado e democracia no Brasil. São Paulo: Cortez; Niterói: EDUFF;
Brasília: FLASCO do Brasil, 2009.
MULLER, M. L. R. Lei 10.639/03 Em Escolas da Região Centro Oeste: Elementos que facilitam e
que dificultam sua implantação. Revista Teias, v. 14, n. 34, p. 49-64, 2013.
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