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TRIBUNAL MARÍTIMO

AR/MCP PROCESSO Nº 27.420/12


ACÓRDÃO

B/M “SALMISTA DE DAVI I”. Navegação pelo Furo do Arrozal, zona rural do
município de Barbacena, PA, com excesso de passageiro a bordo, expondo a risco a
segurança da embarcação, as vidas e fazenda de bordo, sem ocorrência de danos
materiais, pessoais, tampouco registro de poluição ao meio ambiente fluvial.
Comercialização de passagens acima da lotação autorizada e descontrole no acesso
a bordo, por parte do proprietário e do Comandante da embarcação. Condenação.

Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.


Trata-se de analisar e determinar a(s) causa(s) e responsabilidade(s) pelo fato da
navegação, previsto no artigo 15, alínea “e”, da Lei nº 2.180/54 materializado com a constatação
pela equipe de inspeção da Capitania dos Portos da Amazônia Oriental de excesso de passageiros
a bordo do B/M “SALMISTA DE DAVI I”, 27,60 metros de comprimento, 169 AB, propriedade
de R A Pereira Lourinho ME, em 24 de maio de 2011, cerca das 22h25min, quando navegava no
Furo do Arrozal, zona rural do município de Barbacena, PA, sem registro danos materiais,
pessoais ou de poluição ao meio ambiente fluvial.
Extrai-se dos autos, que o B/M “SALMISTA DE DAVI I”, sob o comando do
Contramestre Fluvial (CMF) Sebastião Lopes Gomes, suspendeu às 19h de 24 de maio de 2011,
do porto de Souza Sobrinho, na orla fluvial de Belém, PA, com destino à cidade de São
Sebastião da Boa Vista, PA. A viagem transcorria sem anormalidades até que, por volta das
22h25min, quando navegava pela baía de Guajará, a embarcação foi abordada por uma lancha da
Capitania dos Portos da Amazônia Oriental, que, ao proceder a Inspeção Naval, constatou o
excesso de 43 (quarenta e três) passageiros em relação ao permitido.
No IAFN foram ouvidas 04 (quatro) testemunhas, elaborado Laudo de Exame
Pericial, juntados os documentos de praxe, a destacar aqueles citados neste Relatório e CD com
as principais peças do IAFN.
O CMF Sebastião Lopes Gomes, comandante (fls. 14/15) declarou: que o B/M
“SALMISTA DE DAVI I” está autorizado a transportar 116 (cento e dezesseis) passageiros e
que não foi feita lista de passageiros para aquela viagem, sendo que o responsável pela venda de
bilhetes é o proprietário. Afirmou ainda, que existem a bordo 160 (cento e sessenta) coletes
salva-vidas, 04 (quatro) boias circulares e 08 (oito) balsas rígidas; o depoente não estava ciente
que a embarcação se achava com excesso de passageiros naquela viagem. O responsável pela
embarcação no dia da viagem era o proprietário, Sr. Robson Antônio Lourinho, que juntamente
com o depoente foram presos, ficando detidos por 03 dias, e liberados mediante pagamento de
fiança. Atribui como causa determinante para o fato em questão a perda do controle do número
de passagens vendidas pelo vendedor.
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Robson Antônio Pereira Lourinho (fls. 41/42), confirmou ser o proprietário da
embarcação e o responsável pela venda de bilhetes de passagens e que o depoente estava
presente no momento da inspeção de passageiros, mas que até então desconhecia o excesso de
passageiros a bordo, pois não foi feita lista de passageiros a bordo, e o funcionário que conferia o
embarque da carga ficou sobrecarregado e perdeu o controle do número de passageiros, ficando
ainda mais prejudicado na contagem, devido ao embarque gratuito de crianças.
As demais testemunhas nada acrescentam ao relatado pelo Comandante e pelo
proprietário do B/M “SALMISTA DE DAVI I”.
Os Peritos em Laudo de Exame Pericial (fls. 08/10v) informam: (a) no momento da
perícia, a embarcação encontrava-se em bom estado de conservação e flutuabilidade, equipado
com radar, bússola, GPS, Ecobatímetro e rádio VHF, todos funcionando normalmente, além de
160 (cento e sessenta) coletes salva-vidas, 08 (oito) balsas rígidas, 04 (quatro) boias circulares e
09 (nove) extintores de incêndio; (b) o fato ocorreu quando o B/M “SALMISTA DE DAVI I”
navegava no Furo do Arrozal, zona rural do município de Barcarena-PA, conforme croqui em
anexo; (c) o tempo estava bom, sem chuva, águas calmas e visibilidade boa; (d) lotação
autorizada para a embarcação transportar são 116 (cento e dezesseis) passageiros, e após ser
inspecionada, constatou-se que a mesma estava conduzindo 159 (cento e cinquenta e nove)
pessoas, ou seja, 43 (quarenta e três) além do permitido; (e) havia material de salvatagem
suficiente para todas as pessoas que se achavam a bordo da embarcação, naquela viagem; e (f)
por ocasião da perícia foram contabilizados 160 (cento e sessenta) coletes salva-vidas, todos
dentro do prazo de validade, em perfeito.
Apontam o fator operacional como contribuinte para o fato eis que o controle de
embarque dos passageiros não foi efetuado com eficiência.
Encerraram a perícia, atribuindo como causa determinante a negligência por parte
do comandante e do proprietário do B/M “SALMISTA DE DAVI I” em não controlar
adequadamente o acesso de passageiros durante o embarque, colocando em risco a segurança da
embarcação, as vidas e fazendas de bordo.
No Relatório (fls. 96 a 105), o encarregado do IAFN, após descrever as diligências
realizadas, características da embarcação envolvida, analisar e transcrever o resultado da perícia,
depoimentos, sequência e consequência do fato, em conformidade com as conclusões da perícia,
encerrou o inquérito apontando como possíveis responsáveis pela ocorrência em questão,
enquadrada nos casos de fatos da navegação em pauta, o MAF Robson Antônio Pereira
Lourinho, o proprietário e encarregado a bordo pela venda de passagens, por ter sido negligente
pela falta de controle na venda das passagens, e o CMF Sebastião Lopes Gomes, comandante,
por não ter cumprido as atribuições inerentes ao Comandante, conforme previsto no art. 8º,
inciso II, da Lei nº 9.537/97 (LESTA), colocando em risco as vidas e fazendas de bordo.
Notificados da conclusão do IAFN (fls. 107 a 110), apenas Sebastião Lopes Gomes,
comandante, apresentou defesa prévia (fls. 115/116) alegando em síntese que o único
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responsável pela venda de passagens era o proprietário, que naquele dia não elaborou relação de
passageiros, o que também não acredita haver ocorrido de maneira intencional.
Após análise dos autos, a Procuradoria Especial da Marinha - PEM apresentou (fls.
125 a 127) com fulcro no art. 15, alínea “e”, da Lei nº 2.180/1954, contra o Sr. Sebastião Lopes
Gomes e contra Sr. Robson Antônio Pereira Lourinho, respectivamente, Comandante e
Responsável do B/M “SALMISTA DE DAVI I” nos seguintes termos: o primeiro Representado,
na condição de Comandante da embarcação, não se desincumbiu do dever de cumprir e fazer
cumprir os procedimentos previstos para a salvaguarda da vida humana e para a segurança da
navegação, agindo de modo negligente e imprudente, no instante em que não tomou as medidas
necessárias para averiguar a quantidade de passageiros a bordo, vindo a empreender navegação
com o B/M “SALMISTA DE DAVI I”, mesmo diante da possibilidade de estar trafegando com
número excessivo de passageiros, expondo a risco, assim, a incolumidade física das pessoas de
bordo e a segurança da embarcação.
O segundo Representado, deve ser responsabilizado, uma vez que, na condição de
responsável pelo B/M “SALMISTA DE DAVI I” e encarregado pela comercialização de
passagens, deixou de adotar medidas eficazes quanto ao controle de entrada de pessoas na
embarcação, permitindo o ingresso de número excessivo de passageiros, em plena inobservância
às normas que regulamentam a salvaguarda da vida humana e a segurança da navegação”.
Ante o exposto, requer a procedência da presente Representação, com a condenação
de ambos os representados nas penas e custas processuais estabelecidas na Lei nº 2.180/54, não
antes de protestar por todos os meios de prova em direito admitidos, porventura ainda
necessários.
Recebida a representação (fl. 133), e citados (fls. 140/141) os representados foram
regularmente defendidos por I. Advogado em comum constituído (fls. 150/151) que em peça
única (fls. 146 a 149) rebatem a tese acusatória, alegando, (...) Os Oficiais não especificaram o
número de crianças a bordo, uma vez que na fiscalização a contagem é feita por vida, ou seja, as
crianças de colo foram contadas como passageiros, o que por si só justifica o excesso encontrado
na embarcação, pois é comum para os ribeirinhos viajarem com seus filhos, principalmente pelo
fato de não se cobrar passagem de crianças menores de cinco anos. Restando, assim, que mesmo
possuindo lista de passagem, as crianças menores de cinco anos não foram contadas uma vez que
não contam como passagens vendidas.
Alega ainda a defesa, que “mesmo diante das alegações dos Oficiais está claro que
não houve excesso de lotação, uma vez que a fiscalização determinou que a embarcação
retomasse ao porto de origem, com os passageiros a bordo. Ora, se a superlotação fosse real eles
teriam solicitado apoio, e colocado alguns passageiros em outra embarcação para evitar a
exposição do barco e dos passageiros ao perigo, uma vez que como autoridades que zelam pela
segurança marítima, jamais permitiriam que uma embarcação navegasse se estivesse colocando
vidas em risco. De acordo a previsão normativa. Convém ressaltar alguns trechos da NORMAM-
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07 que se expressa dessa forma quanto ao assunto tratado: 0308 - APREENSÃO E RETENÇÃO
DE EMBARCAÇÃO - “A embarcação só será impedida de dar continuidade ou iniciar uma
singradura, quando a infração praticada efetivamente caracterizar perigo ou risco potencial à
navegação, à salvaguarda da vida humana nas águas e/ou de poluição ambienta. Essa medida
será aplicada sempre que necessário, pois nada justifica o comprometimento da segurança”.
Ademais a alínea “b” do item 0314 também da NORMAM-07, afirma: “A
apreensão de uma embarcação deve ser interpretada pela. OM, como uma medida administrativa
de caráter preventivo visando à segurança, mediante a sua retirada temporária de tráfego, para
que seja sanada uma irregularidade”.
Ora, repise-se que a Procuradora em sua peça inaugural afirmou que a
“circunstância punha em risco à segurança da navegação, a própria embarcação, as vidas e
fazendas a bordo, como entendeu a fiscalização da CPAOR”, de certo que se assim fosse os
inspetores que fizeram a abordagem impediriam a embarcação de navegar. Se havia
comprovação de excesso de passageiro por que não se resguardou a vida humana? Não há
dúvidas que os próprios inspetores reconheceram naquele momento que não havia perigo algum
para as pessoas presentes na embarcação, ou melhor, repito, não houve excesso de passageiros,
não houve perigo para embarcação, passageiros e tripulantes, não houve infração por parte dos
ora representados.
Importante esclarecer que já houve punição, quando da abordagem pela lancha de
inspeção naval, a mesma retomou ao porto de origem na orla fluvial de Belém-PA, onde atracou
às 24hs do mesmo dia. Os passageiros desembarcaram e a embarcação ficou apreendida, por se
tratar de crime, de acordo com o art. 261 do Código Penal, o Comandante Sebastião Lopes
Gomes, junto com o proprietário do B/M Sr. Robson Antônio Lourinho, foram presos e
encaminhados à DRCO pelo delegado Dilermando, onde foi aberto um inquérito por expor à
risco a vida de terceiros, onde ficaram detidos por 03(três) dias e foram liberados mediante o
pagamento de fiança.
Face ao exposto e, tendo em vista as diretrizes emanadas do direito nota-se a
embarcação não estava com excesso de lotação. Bem como a tripulação estava preparada e
devidamente capacitada, pois são profissionais experientes e estavam a bordo de uma
embarcação segura e devidamente equipada. O laudo pericial é cristalino ao informar que a
embarcação estava em bom estado de conservação, bem como não houve acidentes pessoais,
danos materiais e nem poluição, ou seja, não resultou qualquer consequência do fato dê
navegação alegado. Tem-se, ainda, o fato de que a embarcação estava guarneci da com todo
equipamento de segurança necessário e de auxílio á navegação, tais como: rádio VHF, eco-
sonda, bússola, prumo de mão, buzina, holofote, GPS, 184 coletes (dentro do prazo de validade),
4 boias salva-vidas, 8 balsas rígidas, e 7 extintores dentro do prazo de validade. Não esquecendo,
que já houve a punição pelo suposto crime, conforme sentença, anexo, logo devendo a
representação ser arquivada, haja vista já ter havido a punibilidade dos culpados, e outro
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condenação no mesmo fato, vai de encontro ao princípio do “non bis in idem” (a pessoa não
pode ser punida duas vezes pelo mesmo fato) indo por consequência contra os demais princípios
básicos da dignidade humana.
Assim, requer os Representados: a) a total improcedência e arquivamento da
representação ofertada; b) a produção de todas as provas em direito admitidas, nos termos do art.
57, da Lei nº 2.180/54; e c) a não imputação, aos representados, de quaisquer das penalidades da
supracitada lei, haja vista já ter havido a condenação na esfera judicial, devendo o processo
administrativo ser arquivado, por serem medidas da mais lidima JUSTIÇA.
Juntada à defesa (fls. 153 a 157), cópia da Sentença com Mérito, nos autos de
processo criminal, de autoria do Ministério Público do Estado do Pará, contra os representados
pela Prática do crime de atentado contra a segurança de transporte fluvial (art. 261, do Cod.
Penal).
Aberta a instrução nenhuma nova prova foi produzida.
Em alegações finais, a PEM em manifestação à fl. 170 ratifica os termos de sua
exordial de fls. 125 a 127; silente os Representados (Cf. Certidão de fl. 174).
Isto posto, assim decidimos.
De tudo o que consta nos presentes autos, conclui-se que o fato da navegação sob
análise, tipificado no artigo 15, alínea “e”, da Lei Orgânica deste Tribunal (Lei nº 2.180/54),
caracterizado como navegação realizada com excesso de passageiro a bordo, expondo a risco a
segurança da embarcação, as vidas e fazenda de bordo, sem ocorrência de danos materiais,
pessoais, tampouco poluição ao meio ambiente fluvial, teve como causa determinante a
comercialização de passagens acima da lotação autorizada e descontrole no acesso a bordo, por
parte do Proprietário/Responsável e do Comandante da embarcação.
As provas trazidas à colação em sede IAFN e não destruídas por prova contrária, a
destacar as declarações dos ora representados, o Sr. Robson Antônio Pereira Lourinho (fls. 41-
42) quando afirma não saber quantas pessoas foram embarcadas nessa viagem em que a
embarcação foi abordada pela Equipe de Fiscalização Naval e que não tinha o controle do
número de passageiros, mas que atualmente tem.
Por sua vez, o Comandante Sebastião Lopes Gama (fls. 14-15) afirma que tinha
conhecimento de que a lotação da embarcação era de 116 pessoas, não sabendo, contudo,
informar o número exato de passageiros no dia da fiscalização. Afirmou ainda, que nesse dia o
proprietário da embarcação estava muito ocupado e que não elaborou a lista de passageiros,
sendo que normalmente a venda das passagens era controlada, declarações estas em consonância
com as demais provas colhidas em sede de IAFN, e que, repise-se, dão conta de demonstrar que
quando da abordagem pela Equipe de Inspeção Naval, da Capitania dos Portos da Amazônia
Oriental, encontravam-se a bordo do B/M “SALMISTA DE DAVI I” 159 passageiros, ou seja,
um excesso de 43 passageiros em relação ao número permitido no Cartão de Lotação a autorizar
116 passageiros, o que colocou em risco as vidas dos de bordo, a própria embarcação e a
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segurança da navegação, riscos estes, felizmente não materializado.
E esta a tese acusatória que a defesa não deu conta de refutar com o argumento que
o excesso de passageiros constatados pela Equipe de Inspeção Naval se deveu ao fato dos
Inspetores contarem vidas quando deveria considerar apenas o número de pagantes, ressaltando
ainda que crianças menores de cinco anos tem gratuidade e não são considerados passageiros
para efeito de contagem. Procedimento este em desacordo com as Normas da Autoridade
Marítima para a salvaguarda da vida humana e segurança da navegação, a destacar a NORMAM-
02/DCP e a Lei nº 9.537/97 que dispõe sobre a segurança do tráfego aquaviário (LESTA).
Demais disso, como pá de cal à tese da defesa, temos a Sentença exarada pelo Juízo
do 1º Grau do Tribunal de Justiça do Estado do Pará, nos autos do Processo Criminal de autoria
do Ministério Público Estadual, contra os Srs. Robson Antônio Pereira Lourinho e Sebastião
Lopes Gomes, respectivamente proprietário e Comandante do B/M “SALMISTA DE DAVI I”,
pela prática de crime de Atentado contra a Segurança de transporte fluvial (art. 261, do Código
Penal), e trazida à colação pela própria defesa (fls. 153 a 159) julgando procedente a referida
Ação Penal, ficando convencido o E. Magistrado que (...) “A materialidade e a autoria do delito
imputado aos réus se evidenciam na medida em que analisamos as provas produzidas em juízo;
(...) que a autoria é certa, porquanto congruentemente explicitada pelos agentes responsáveis
pelo flagrante dos acusados tanto na fase administrativa como na judicial. A materialidade foi
induvidosamente comprovada através do Auto de Constatação de Excesso de Passageiros, de fl.
27”.
Afirma o E. Magistrado, “Como bem pondera o Ministério Público, no presente
caso, os acusados tinham conhecimento do limite máximo dos passageiros que deveriam
transportar, contudo, não diligenciaram no controle de passageiros, sendo consciente sua
conduta, arriscando num risco de eventual sinistro, expondo a embarcação a perigo e, nesse caso,
o delito se configura com a mera exposição ao risco de dano.
Portanto, tanto o proprietário da embarcação como o Comandante são responsáveis
diretos, destacando-se que estavam presentes quando da fiscalização, tendo conhecimento de
todo o ocorrido, havendo omissão consciente, com assunção do risco (...). Assim, o conjunto
probatório conduz à conclusão de que os acusados encontram-se incursos nas sanções previstas
pelo artigo 261, do Código Penal, pois tinham o dever de adotar todas as diligências necessárias
para assegurar uma embarcação segura, não expondo os passageiros a perigo e quando da
fiscalização foram detectados excesso de passageiros e ausência de um tripulante.
A conduta foi antijurídica, pois não estavam os acusados acobertados por nenhuma
das excludentes de ilicitude: legítima defesa, estado de necessidade, exercício legal de um direito
ou estrito cumprimento de dever legal.
Outrossim, a conduta foi culpável. Os acusados são e eram imputáveis ao tempo do
fato delituoso, pois eram maiores de 18 anos de idade e, no momento em que o crime foi
cometido, entendiam o caráter criminoso do fato e podiam se conduzir de acordo com este
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entendimento. Não houve, também, qualquer erro ou outra circunstância que os isentem de pena.
Em outras palavras, eles sabiam que o que estavam fazendo era crime e, mesmo assim,
praticaram a conduta.
Por todo o exposto, julgo procedente a pretensão punitiva estatal deduzida na peça
acusatória, razão pela qual condeno os réus, Sebastião Lopes Gomes e Robson Antônio Pereira
Lourinho como incurso nas penas do art. 33, da Lei nº 11.343/2006 (...).
Neste sentido, vale registrar o entendimento já pacificado desta Corte Marítima que
“o excesso de passageiros é circunstância que expõe a risco a segurança da embarcação, as vidas
e fazendas de bordo, evento este capitulado no artigo 15, alínea “e”, da Lei nº 2.180/54”.
Como acima exposto, a ocorrência de tal fato restou provada no presente caso,
devendo, portanto o Sr. Robson Antônio Pereira Lourinho ser responsabilizado pela venda de
bilhetes de passagens em excesso, e o Comandante da embarcação Sebastião Lopes Gomes por
não promover o controle efetivo do número de passageiros no momento do embarque, antes do
início da viagem, a fim de que fosse evitado o ingresso de passageiros a bordo em número que
excedia a lotação permitida da embarcação.
Vale ainda salientar, que de acordo com o art. 21, da citada Lei nº 2.180/54, “nos
processos instaurados por este Tribunal Marítimo em que houver crime ou contravenção a punir
nem esta nem aquele impedem o julgamento do que for da sua competência, mas finda a sua
ação, ou desde logo, sem prejuízo dela, serão remetidas em traslado, as peças necessárias à ação
da Justiça”, por conseguinte não havendo que se falar em violação ao princípio do “non bis in
idem” (a pessoa não pode ser punida duas vezes pelo mesmo fato) como alega a defesa.
Por todo o exposto, considerando ainda o contido no artigo 58, da Lei Orgânica
deste Tribunal (Lei nº 2.180/54) julgamos procedente a representação de autoria da D.
Procuradoria Especial da Marinha - PEM (fls. 125 a 127), para com fulcro no artigo 15, alínea
“e”, da Lei nº 2.180/54, responsabilizar Sebastião Lopes Gomes (1º Representado), na condição
de Comandante e Robson Antônio Pereira Lourinho (2º Representado), condição de responsável,
ambos do B/M “SALMISTA DE DAVI I” eis que demonstrado ao se conduzirem com
negligência e imprudência, contribuíram para a ocorrência do fato da navegação, em exame, do
qual felizmente sem outras consequências.
Na aplicação da pena, contudo, deve-se observar o contido nos artigos 124, inciso
IX, 127 e 139, incisos II e IV, alínea “d”, todos da citada Lei nº 2.180/54, com redação dada pela
Lei nº 8.969/94.
Assim,
ACORDAM os Juízes do Tribunal Marítimo, por unanimidade: a) quanto à natureza
e extensão do fato da navegação: navegação realizada com excesso de passageiro a bordo,
expondo a risco a segurança da embarcação, as vidas e fazendas de bordo, sem ocorrência de
danos materiais, pessoais ou registro de poluição ao meio ambiente fluvial; b) quanto à causa
determinante: comercialização de passagens acima da lotação autorizada e descontrole no acesso
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a bordo, por parte do proprietário e do Comandante da embarcação “SALMISTA DE DAVI I”; e
c) decisão: julgar procedente a Representação de autoria da D. Procuradoria Especial da Marinha
(fls. 125 a 127) para, considerando o fato da navegação, previsto no artigo 15, alínea “e”, da Lei
nº 2.180/54, como decorrente das condutas negligentes e imprudentes de Sebastião Lopes Gomes
(1º Representado) e de Robson Antônio Pereira Lourinho (2º Representado). Condenar o
primeiro à pena de Repreensão, prevista no artigo 121, inciso I, e o segundo à pena de multa de
R$ 500,00 (quinhentos reais), prevista no mesmo artigo 121, inciso VII, ambos c/c os artigos
124, inciso IX, 127 e 139, incisos II e IV, alínea “d”, todos da mesma Lei nº 2.180/54, com
redação alterada pela Lei nº 8.969/94. Custas processuais ao 2º Representado.
Publique-se. Comunique-se. Registre-se.
Rio de Janeiro, RJ, em 03 de agosto de 2017.

MARIA CRISTINA DE OLIVEIRA PADILHA


Juíza Relatora

Cumpra-se o Acórdão, após o trânsito em julgado.


Rio de Janeiro, RJ, em 27 de novembro de 2017.

MARCOS NUNES DE MIRANDA


Vice-Almirante (RM1)
Juiz-Presidente
PEDRO COSTA MENEZES JUNIOR
Primeiro-Tenente (T)
Diretor da Divisão Judiciária
AUTENTICADO DIGITALMENTE

8/8

COMANDO DA MARINHA
c=BR, st=RJ, l=RIO DE JANEIRO, o=ICP-Brasil, ou=Pessoa Juridica A3, ou=ARSERPRO, ou=Autoridade Certificadora SERPROACF, cn=COMANDO DA MARINHA
2018.03.07 14:41:01 -03'00'

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