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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

IEL – INSTITUTO DE ESTUDOS DA LINGUAGEM

EDIÇÃO E TRADUÇÃO CRÍTICAS DOS TRÊS PRIMEIROS


TÓPICOS DO LIVRO XIII DAS “ETIMOLOGIAS”, DE ISIDORO
DE SEVILHA, QUAIS SEJAM, “DO MUNDO”, “DOS ÁTOMOS”
E “DOS ELEMENTOS”

ALEX AUGUSTO MARCELO

CAMPINAS

NOVEMBRO DE 2017
AGRADECIMENTOS

Ao Prof. Dr. José Leonardo Souza Buzelli por introduzir-me no fascinante mundo da
Paleografia e da Edição Textual.
ÍNDICE DE ABREVIATURAS

a.c. (ante correctionem) antes da correção


add. (addidit) adicionou
cfr. (confer) compare, confira
dub. (dubius) duvidoso
Elem. Os Elementos
En. Eneida
Eucl. Euclides
exp. (expunxit) apagou, rasurou
gr. grego, em grego
lat. latim, em latim
om. (omisit) omitiu
p.c. (post correctionem) depois da correção
part. particípio
pres. presente
v. verbo
Virg. Virgílio
1

1. Introdução

Este trabalho tem por finalidade a transcrição, a edição e a tradução de trechos de dois
fólios (40r, 40v, 41r) do manuscrito 232 da Biblioteca da Abadia de São Galo, na Suíça, e de
dois fólios (147v, 148r, 148v) do manuscrito F III 15 da Biblioteca da Universidade de
Basileia, no mesmo país, a partir de fac-símiles digitais, em formato .jpeg, obtidos na página
web http://www.e-codices.unifr.ch, que tem digitalizado e disponibilizado manuscritos de
toda a Suíça.
Para fins de comodidade, os manuscritos 232 e F III 15 passarão a ser denominados,
respectivamente, manuscritos A e B. Ambos os documentos, a serem descritos nos parágrafos
seguintes, trazem cópia, entre outros, do livro XIII das Etimologias ou Origens do arcebisto e
acadêmico hispânico Isidoro de Sevilha (560–636).
O manuscrito A foi produzido no fim do século IX na Abadia de São Galo, na Suíça.
Contém os livros de XI a XX das Etimologias, de Isidoro de Sevilha, sucedendo um outro
códice que contém os livros de I a X. Suas dimensões são 27 x 21,5 cm. Encontra-se em
ótimo estado de conservação. O corpo do texto se acha dividido em duas colunas de 26 linhas
cada uma, distribuição que se mostra consistente em todos os fólios analisados. O tipo de
escrita é a carolíngua minúscula, e algumas diferenças de caligrafia sugerem a participação de
um segundo copista. Os títulos dos capítulos são dados em capitalis rustica, e o uso de
iluminuras também se faz presente. Os fólios analisados têm coloração esbranquiçada, mas
alguns fólios apresentam manchas de umidade. Os nomes dos tópicos apresentam tinta de
coloração avermelhada, normalmente em gradientes de claro a escuro. A iluminura e as letras
capitais mantêm a mesma coloração. O corpo do texto apresenta tinta de coloração negra.
O manuscrito B foi produzido no início do século IX, provavelmente na
Predigerkloster de Basileia, na Suíça, e foi transferido para a biblioteca da Universidade em
1559. Suas dimensões são 26,5-28 x 16,5-18 cm. Encontra-se em bom estado de conservação,
com a exceção do último fólio, não contemplado neste artigo. Não é trabalho de um único
escriba, razão pela qual o número de linhas varia de 27 a 36. O corpo do texto se dispõe em
uma única coluna, com a exceção, entre os fólios analisados, do índice do livro XIII, que foi
apresentado em uma coluna improvisada. O tipo de escrita também varia; nos cabeçalhos,
porém, predomina a uncial. Os fólios analisados têm coloração amarelada e bordas
amassadas; o segundo fólio, porém, encontra-se em melhores condições. Os nomes dos
tópicos apresentam tinta com coloração vermelho-alaranjada. As letras capitais são grafadas
em tinta de igual coloração. O corpo do texto apresenta tinta negra, com alguns tons
amarelados.
A primeira edição acadêmica do texto ocorreu em Madri em 1599, mas foi somente
em 1911 que Wallace Lindsay publicou, pela Oxford Press, a primeira edição crítica moderna.
Em 2006, Barney, Lewis e outros publicaram a primeira tradução integral dos vinte livros
para o inglês (ver Bibliografia).
Isidoro de Sevilha, o autor das Etimologias, por vezes traduzidas como Origens,
nasceu em Cartagena, no ano de 560, e morreu em Sevilha, no ano de 636, deixando seu
trabalho praticamente completo. Com esta obra monumental, tornou-se o primeiro autor
cristão a compilar uma summa de conhecimento universal. Trata-se de um compêndio, em
2

forma de enciclopédia, que contém um grandioso volume de conhecimento, tanto do mundo


greco-romano quanto do mundo cristão. Por cerca de um milênio, as Etimologias foram o
livro mais influente do Ocidente latino, perdendo apenas para a Bíblia (Barney, Lewis et al.,
2006).
A divisão da obra em livros não foi feita pelo autor, mas somente a divisão em tópicos.
Em uma dedicatória ao rei Sisebuto anterior a 621, Isidoro diz que suas fontes são leituras da
Antiguidade. De fato, é possível encontrar, ao longo de todo o texto, excertos e paráfrases de
trabalhos de outros autores (Barney, Lewis et al., 2006); cfr., por exemplo, a citação de
Virgílio no texto. Tal como Plínio, o Velho, Isidoro se destaca por sua capacidade de seleção
e organização de conteúdo.
Neste artigo, são editados e traduzidos os três primeiros tópicos do livro XIII das
Etimologias, bem como seu índice. Segundo o próprio autor, este trata de “algumas questões
celestiais, localizações terrestres e expansões marítimas”. Nele, são abordados 12 tópicos,
quais sejam, Do mundo, Dos átomos, Dos elementos, Do céu, Do ar e da nuvem, Do trovão,
Dos raios, Do arco-íris e dos efeitos das nuvens, Dos ventos, Da diversidade das águas e do
mar, Dos rios e Dos dilúvios.
No primeiro tópico, Do mundo, Isidoro atribui a Deus a criação do Universo e
apresenta a etimologia das palavras mundus e κόσμος (latim e grego, respectivamente), que os
antigos escolheram para se referir a esta obra. Fornece também os significados dos nomes das
quatro “regiões do mundo”, isto é, os pontos cardeais, bem como do que chamou de “portões
do mundo”.
No segundo tópico, Dos átomos, o autor apresenta a definição filosófica de “átomo” e
sua etimologia, enriquecendo sua explicação com uma série de exemplos de átomos nos
corpos, no tempo, nos números e nas letras.
No terceiro tópico, Dos elementos, Isidoro apresenta a matéria primordial, da qual se
formaram todos os elementos visíveis, e fornece a origem dos nomes matéria e στοικεῖα,
sendo este último o que os gregos escolheram para denominar os elementos. Finalmente, o
autor exemplifica a união dos quatro elementos fundamentais na formação de todos os demais,
e atribui à Divina Providência a distribuição dos mesmos a todos os seres vivos.

2. Procedimentos de edição e tradução

A ortografia utilizada é pré-ramista, isto é, não se faz distinção entre vogais e


semivogais.
Os ditongos foram explicitados em todos os vocábulos que os contêm.
Utilizam-se letras maiúsculas no início de orações e em nomes próprios, bem como em
vocábulos derivados de nomes próprios.
Os vocábulos gregos foram grafados em grego, embora ambos os manuscritos
apresentem somente a transliteração para o latim.
3

A pontuação foi incluída de modo a propiciar um ritmo de leitura similar ao do


vernáculo.
Para preservar o aspecto de uma obra enciclopédica, não se utilizou paragrafação
dentro dos tópicos.
Indicam-se, em aparato crítico, as variantes lexicais e gramaticais entre os manuscritos
A e B, bem como outras informações relevantes extraídas dos mesmos.

3. Bibliografia

1. Barney, S. A., Lewis, W. J. et al. – The Etymologies of Isidore of Seville. Nova York:
Cambridge University Press, 2006.

2. Basel, Universitätsbibliothek – F III 15: Isidorus, Etymologiae, lib. II-XIX. Disponível


em http://www.e-codices.unifr.ch/en/list/one/ubb/F-III-0015. Acessado em
11/11/2017.

3. Lindsay, W. M. – Isidori Hispalensis Episcopi Etymologiarum sive Originum Libri


XX. Oxford: Oxford University Press, 2004.

4. St. Gallen, Stiftsbibliothek – Cod. Sang. 232: Isidorus, Etymologiae, Books XI-XX.
Disponível em http://www.e-codices.unifr.ch/en/list/one/csg/0232. Acessado em
11/11/2017.
4

4. Texto

INCIPIT LIBER XIII

I. De mundo uidentur elementa, “quoniam”, inquit, “per


II. De atomis semetipsa mouentur.” Graeci uero nomen
III. De elementis mundo de ornamento adcommodauerunt 30
5 IV. De caelo propter diuersitatem elementorum et
V. De aere et nube pulchritudinem siderum. Appellatur enim
VI. De tonitruo apud eos “κόσμος”, quod significat
VII. De fulminibus “ornamentum”. Nihil enim mundo
VIII. De arcu et nubium effectibus pulchrius oculis carnis aspicimus. Quattuor 35
10 IX. De uentis autem esse climata mundi, id est plagas:
X. De aquarum diuersitate et mari Orientem et Occidentem, Septemtrionem et
XI. De fluminibus Meridiem. Oriens ab exortu solis est
XII. De diluuiis nuncupatus. Occidens quod diem faciat
occidere atque interire. Abscondit enim 40
In hoc uero libello quasi in quadam
lumen mundo et tenebras superinducit.
15 breui tabella quasdam caeli causas situsque
Septentrio autem a septem stellis axis
terrarum et maris spatia adnotauimus, ut in
uocatur, quae in ipso reuolutae rotantur.
modico lector ea percurrat et compendiosa
Hic proprie et uertex dicitur, eo quod
breuitate ethimologias eorum causasque
uertitur, sicut poëta ait: “uertitur interea 45
cognoscat.
caelum.” Meridies, uel quia ibi sol faciat
20 De mundo. Mundus est caelum, medium diem, quasi medidies, uel quia
terra, mare et quae in eis sunt opera Dei. tunc purius micat aether. Merum enim
De quo dicitur: “Et mundus per Eum factus purum dicitur. Ianuae caeli duae sunt:
est”. Mundus Latine a philosophis dicitur Oriens et Occasus, nam uma posta sol 50
quod in sempiterno motu sit: caelum, sol, procedit, alia se recipit. Cardines autem
25 luna, aer, maria. Nulla enim requies eius mundi duo: Septentrio et Meridies. In ipsis
elementis concessa est, ideoque semper in enim uoluitur caelum.
motu est. Unde et animalia Uarronia
__________

22/23 et mundus per eum factus est] cfr. João 1:10


__________

3 atomis] athomis A || 4 elementis] elimentis B || 5 de caelo] capitula tria add. B || 10 uentis


p.c. : uestis a.c. B || 11 de aquarum diuersitate] exp. B || 12 de fulminibus] exp. B || 13 De diluviis] exp.
B || 17 ea pecurrat] eaque currat B || 17 compendiosa] conpendiosa B || 18 eorum] earum B || 20 de
mundo] om. A || 21 sunt] om. B || 24 dicitur] dictus A || 24 sempiterno motu] sempiternum motus A ||
25 eius] eis A || 27 Uarroni] Uarronia B || 28/29 inquit per semetipsa mouentur] per semetipsa in quid
mouentur] B || 29 uero] om. B || 30 adcommodauerunt] accommodauerunt A || 32 pulchritudinem]
pulcritudinem B || 32 siderum] syderum A || 33 κόσμος] cosmos A et B || 33 firmamentum uel] add. A
|| 35 pulchrius] pulcrius B || 37 septentrionem] septemtrionem A et B || 38 exortu] ortu A || 42
septentrio] septemtrio A et B || 43 vocatur] vocatus A || 44 proprie] propriae A || 43 reuolutae] reuoluto
B || 44 et] om. A || 45 sicut poeta ait.] om. B || 45 sicut p.c. : sicu a.c. A || 47 medium] mediam] A || 47
medidies p.c. : medides a.c. B || 48 aether] ether B || 50 posta] dub. A || 51 recipit] recepit B || 51
autem] om. B || 52 septentrio] septemtrio A et B
5

De atomis. Atomus philosophi potest. Atomus ergo est quod diuidi non
5
55
10 uocant quasdam in mundo corporum partes potest, ut in Geometria punctus, nam 90
tam minutissimas ut nec uisui pateant nec "τόμος" diuisio dicitur Graece, "ἄτομος"
“τομή”, id est sectionem, recipiant, unde et indiuisio.
atomis dicti sunt. Hi per inane totius mundi
inrequietis motibus uolitare et huc atque De elementis. “ὕλη” Graeci rerum
illuc ferri dicuntur, sicut et tenuissimi quandam primam materiam dicunt, nullo 95
60
pulueres qui infusi per fenestras radiis solis prorsus modo formatam, sed omnium
uidentur. Ex his arbores et herbas et fruges corporalium formarum capacem, ex qua
omnes oriri, et ex his ignem et aquam et uisibilia haec elementa formata sunt, unde
uniuersa gigni atque constare quidam et ex eius diriuatione uocabulum
philosophi gentium putauerunt. Sunt autem acceperunt. Hanc “ὕλη” Latini materiam 100
65
atomi aut in tempore, aut in corpore, aut in appellauerunt, ideo quia omne informe,
numero, aut in littera. In corpore, ut lapis. unde aliquid faciendum est, semper
Diuidis eum in partes, et partes ipsas materia nuncupatur. Proinde et eam poëtae
diuidis in grana, ueluti sunt harenae, siluam nominauerunt, nec incongrue, quia
70 rursumque ipsa harenae grana diuide in materiae siluarum sunt. Graeci autem 105
minutissimum puluerem, donec, si possis, elementa “στοιχεῖα” nuncupant, eo quod
peruenias ad aliquam minutiam, quae iam sibi societatis concordia et communione
non sit quae diuidi aut secari possit. Haec quadam conueniant, nam sic ea inter se
est atomus in corporibus. In tempore uero naturali quadam ratione iuncta dicuntur, ut
modo originem ab igni repetentes usque ad 110
75 sic intellegitur atomus. Annum uerbi gratia
diuidis in menses, menses in dies, dies in terram, modo a terra usque ad ignem, ut
horas. Adhuc partes horarum admittunt ignis quidem in aera desinat, aer in aquam
diuisionem, quousque peruenias ad tantum densetur, aqua in terram crassescat,
temporis punctum et quandam momenti rursusque terra diluatur in aquam, aqua
80 stillam, ut per nullam morulam produci rarescat in aera, aer in ignem extenuetur. 115
possit, et ideo iam diuidi non potest. Haec Quapropter omnia elementa omnibus
est atomus temporis. In numeris, ut puta inesse, sed unumquodque eorum ex eo
octo diuiduntur in quattuor, ut rursus quod amplius habet accepisse uocabulum.
quattuor in duo, deinde duo in unum. Unus Sunt autem diuina prouidentia propriis
autem atomus est, quia insecabilis est. Sic animantibus distributa, nam caelum 120
85
et littera, nam orationem diuidis in uerba, angelis, aerem uolucribus, mare piscibus,
uerbum in syllabas, syllabam in littera. terram hominibus ceterisque animantibus
Littera, pars prima, atomus est, nec diuidi Creator ipse impleuit.
__________

54 atomis] athomis A || 54 atomus] athomos A : atomos B || 57 τομή] thomen A : tomen B || 58


atomis] athomis A || 60 ferri] ferre B || 61 pulueres p.c. : puluers a.c. B || 66/67 aut in tempore aut in
corpore aut in numero] aut in corpora aut in tempore aut in numero B || 67 aut in littera] add. B || 68
diuidis] diuides B || 68 eum] enim B || 68 et] ut A || 69 diuidis] diuides B || 69 harenae] arenae B || 70
ipsae harenae] ipsam arenam B || 72 quae iam] qua etiam A || 73 diuidi] diuidit B || 73 haec] hoc A || 74
atomus] athomos A : atomos B || 75 atomus] athomos A : atomos B || 75 annum] om. B || 76 diuidis]
diuides B || 76 dies] diebus B || 78 peruenias] venias B || 79 quandam] quendam B || 81 haec] hoc A ||
82 atomus] athomus A : atomos B || 83 rursus] om. A || 83 quattuor] quatuor A || 84 duo] duos A :
duobus B || 84 deinde] om. A || 85 atomus] athomus A : atomos B || 86 et] add. A || 86 uerba] uerbo B ||
87 uerbum] uerba A || 87 syllabas] syllabis B || 87 litteras] litteris B || 88 atomus] athomus A : atomos
B || 89 atomus] athomus A : atomos B || 90 geometria] geometra A || 91 τόμος] thomus A : tomus B ||
91 graecae A || 91 ἄτομος] athomos A : atomos B || 94 ὕλη] ylen A et B || 95 primam] primatam B || 98
formata] creata B || 99 diriuatione] diriuationem B || 100 acceperunt] acciperunt B || 100 ὕλη] ylen A et
B || 106 στοιχεῖα] ictoixixo A et B || 112 quidem] quidam B || 112 aquam] aqua A || 113 terram] terra
A || 115 rarescat] rariscat B || 118 uocabulum] uocabolum B
6

5. Tradução

COMEÇA O LIVRO XVIII

I. Do mundo “ornamento”, devido à diversidade dos


II. Dos átomos elementos e à beleza dos astros. Entre eles,
III. Dos elementos o mundo é chamado de “cosmos 4 ”, que
IV. Do céu significa “ornamento”, pois com os olhos
V. Do ar e da nuvem da carne 5 não podemos contemplar nada
VI. Do trovão mais belo que o mundo. Há quatro regiões
VII. Dos raios no mundo, isto é, quatro zonas: o Leste e o
VIII. Do arco-íris e dos efeitos das Oeste, o Norte e o Sul. O Leste6 foi assim
nuvens chamado pelo nascimento do Sol. O Oeste7
IX. Dos ventos recebeu esse nome por fazer o dia
X. Da diversidade das águas e do mar sucumbir e perecer, pois esconde a luz do
XI. Dos rios mundo e o cobre de trevas. O Norte8, por
XII. Dos dilúvios sua vez, foi assim chamado pelas sete
estrelas do polo, que giram enquanto
Neste pequeno livro, registramos,
rotacionam em torno dele. Propriamente
em um breve memorial, algumas questões
falando, ele também é chamado de vértex,
celestiais, localizações terrestres e
uma vez que gira, como diz o poeta9: “Gira
extensões marítimas, de modo que o leitor
o céu nesse meio-tempo 10 ”. O Sul 11
as percorra rapidamente e venha a
recebeu este nome ou porque lá o sol faz
conhecer, por meio de uma compendiosa
meio-dia, como se a palavra fosse
brevidade, as suas etimologias e as suas
“medidies”, ou porque nesse momento o
causas.
éter12 brilha mais puramente, pois “merus”
Do mundo. O mundo consiste no quer dizer “puro”. Os portões do céu são
céu, na terra, no mar e nas obras de Deus dois: o Leste e o Oeste, pois por um o Sol
neles contidas, sobre o qual se diz: “E o aparece e por outro se retira. Os polos do
mundo foi feito por Ele 1 ”. O mundo 2 é mundo são dois: o Norte e o Sul, pois o céu
assim chamado em latim pelos filósofos gira em torno deles.
porque está em eterno movimento3: o céu,
o Sol, a Lua, os mares. Ora, aos seus
elementos não se concedeu repouso algum;
assim, ele está sempre em movimento. Este 4
Gr. κόσμος.
5
é o motivo pelo qual os elementos são Com os sentidos.
6
considerados por Varrão como coisas Lat. oriens, part. pres. do v. lat. orior,
“nascer”.
animadas, “pois eles se movem por conta 7
Lat. occidens, part. pres. do v. lat. occido,
própria”, diz. Os gregos, por sua vez, “morrer”.
tomaram um nome derivado de 8
Lat. septentrio, de septem (“sete”) + triones
(“estrelas”).
9
Virgílio (70 a.C. – 19 a.C.).
1 10
Cfr. João 1:10. Cfr. Virg., En. 2.250.
2 11
Lat. mundus. Lat. meridies.
3 12
Lat. motus. O ar, o céu.
7

Dos átomos. Por átomos13 os Geometria15, pois “τόμος”, em grego, quer


filósofos se referem a certas partículas dizer “divisão”; “ἄτομος”, “não divisão”.
corpóreas no mundo que são tão
Dos elementos. Os gregos chamam
minúsculas que nem são contempladas pela
a matéria primitiva das coisas de “ὕλη”,
visão nem estão sujeitas a divisão14, donde
que não se forma de modo algum, mas é
foram chamadas de átomos. Dizem que
capaz de modelar todas as formas
elas voam pelo vácuo do mundo todo em
corporais. É dela que se formaram os
um movimento incessante e que são
elementos visíveis, de cuja derivação
carregadas para lá e para cá, como as mais
também se tirou o seu nome. Os latinos
finas partículas de pó que vemos dispersas
chamaram essa “ὕλη” de “matéria”, porque
nos raios de sol que entram pela janela.
tudo aquilo que não possui forma e do qual
Alguns filósofos pagãos acreditavam que é
se há de fazer algo é sempre chamado de
deles que nascem todas as árvores, plantas
matéria. Pela mesma razão, os poetas
e frutos e que se originam e constam o
também a chamaram de “selva16”, e não de
fogo, a água e todas as coisas. Há, pois,
modo inconveniente, pois as matérias são
átomos no tempo, no corpo, no número e
das florestas. Os gregos chamam os
na letra. No corpo, tomemos uma pedra.
elementos de “στοικεῖα 17 ”, porque eles
Você a divide em partes, as partes em
concordam entre si em uma associação
grãos, como as areias, e mais uma vez
harmônica e em uma espécie de comunhão.
divide os grãos de areia em finíssimas
Ora, dizem que eles se juntam entre si por
partículas de pó, até chegar, se conseguir, a
uma certa ordem natural, retornando a sua
uma outra partícula muito pequena que já
origem: ora de fogo a terra, ora de terra a
não se pode dividir ou decompor. Eis o
fogo; o fogo termina no ar, o ar se
átomo no corpo. No tempo, porém, o
condensa na água, a água toma
átomo é entendido desta forma: você
consistência na terra; novamente, a terra se
divide o ano, por exemplo, em meses, os
dispersa na água, a água se evapora no ar,
meses em dias, os dias em horas. As horas
o ar se atenua no fogo. Por essa razão,
ainda admitem divisão, até que você
todos os elementos estão presentes em
chegue a um ponto do tempo, uma espécie
todas as coisas, mas cada um recebeu por
de unidade temporal, de tal modo que não
nome o elemento que contém em maior
seja possível prolongá-lo por nenhum outro
quantidade. Os elementos foram
intervalo e, portanto, dividi-lo. Eis o átomo
distribuídos aos seres idôneos pela Divina
no tempo. Nos números, tome por exemplo
Providência, pois foi o próprio Criador
a divisão de oito em quatro, depois de
quem encheu o céu de anjos, o ar de
quatro em dois, e então de dois em um.
pássaros, o mar de peixes e a terra de
Ora, o um é um átomo, porque é
homens e outros seres vivos.
indivisível. Assim também é a letra, pois
você divide a oração em palavras, a
palavra em sílabas, a sílaba em letras. A
letra, a parte mínima, é um átomo e não
pode ser dividida. O átomo, portanto, é o
que não se pode dividir, como o ponto na

15
Cfr. Eucl., Elem. 1.1.
13
Lat. atomus; gr. ἄτομος. 16
Lat. silva.
14
Gr. τομή. 17
Do v. gr. στοικεῖν, concordar.

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