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A REGÊNCIA
1 83 1 - 1 840
O período posterior à abdicação de Dom Pedro I é chamado de Regência
porque nele o país foi regido por figuras políticas em nome do imperador até
a maioridade antecipada deste, em 1 840. A princípio os regentes eram três,
passando a ser apenas um, a partir de 1 834.
O período regencial foi um dos mais agitados da história política do país
e também um dos mais importantes. Naqueles anos, esteve em jogo a unidade
territorial do Brasil, e o centro do debate político foi dominado pelos temas
da centralização ou descentralização do poder, do grau de autonomia das
províncias e da organização das Forças Armadas.
As reformas realizadas pelos regentes são um bom exemplo das dificul
dades em se adotar uma prática liberal que fugisse aos males do absolutismo.
Nas condições brasileiras da época, muitas medidas destinadas a dar alguma
flexibilidade ao sistem;i político e a garantir as liberdades individuais aca
baram resultando em violentos choques entre as elites e no predomínio do
· interesse de grupos locais.
Nem tudo se decidiu na época regencial. Podemos mesmo prolongar a
periodização por dez anos e dizer que só por volta de 1 850 a Monarquia
centralizada se consolidou, quando as últimas rebeliões provinciais cessaram.
162 HISTÓRIA DO BRASIL
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4 l. A S REFORMA S IN STITUCIONAI S
4.
2. A S REV OLTA S PROVINCIAI S
4.
2.l. AS REVOLTAS NO NORTE E NO NORDESTE
te vestida com farrapos". Elas parecem ter-se referido inicialmente aos trajes
usados por Cipriano Barata nas ruas de Lisboa, com o acréscimo de um chapéu
de palha. Assim, ele se distinguia dos portugueses como se fosse um matuto
brasileiro. Os adversários dos farrapos gaúchos derani a eles esse apelido para
depreciá-los. Mas a verdade é que se suas tropas podiam ser farroupilhas, os
dirigentes pouco tinham disso, pois representavam a elite dos estancieiros,
criadores de gado da província.
O Rio Grande do Sul era um caso especial entre as regiões brasileiras,
desde os tempos da Colônia. Por sua posição geográfica, formação econômica
e vínculos sociais, os gaúchos tinham muitas relações com o mundo platino,
em especial com o Uruguai. Os chefes de grupos militarizados da fronteira -
os caudilhos -, que eram também criadores de gado, mantinham extensas
relações naquele país. Aí possuíam terras e se ligavam pelo casamento com
muitas famílias.
Por outro lado, a economia rio-grandense, do ponto de vista da desti
nação de seus produtos, estava tradicionalmente ligada ao mercado interno
brasileiro. A criação de mulas teve importante papel no transporte de mer
cadorias no Centro-Sul do país, antes da construção das ferrovias. No período
de renascimento agrícola das últimas décadas do século XVIII, colonos vindos
dos Açores plantaram trigo no Sul, consumido nas outras regiões do Brasil.
Quando foi proclamada a Independência, em 1 822, esse período de expansão
do trigo já se encerrara, devido às pragas e à concorrência americana, mas os
vínculos com o resto do país permaneceram.
A criação de gado se generalizou, na região, assim como a transformação
da carne bovina em charque (carne-seca). O charque era um produto vital,
destinado ao consumo da população pobre e dos escravos do Sul e do Centro
Sul do Brasil. Criadores de gado e charqueadores formavam dois grupos
separados. Os criadores estavam estabelecidos na região da Campanha, situada
na fronteira com o Uruguai. Os charqueadores tinham suas indústrias ins
taladas no litoral, nas áreas das lagoas, onde se concentravam cidades como
Rio Grande e Pelotas. Criadores e charqueadores se utilizavam de mão-de
obra escrava, além de trabalhadores dependentes deles.
As queixas do Rio Grande do Sul contra o governo central vinham de
longe. Os gaúchos achavam que, apesar da contribuição da província para a
economia brasileira, ela era explorada por um sistema de pesados impostos.
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papel, mas teve uma existência real, incluindo o estímulo à criação de gado e
à exportação de charque e de couros.
A posição do governo central foi entremeada de combate e concessões
aos rebeldes.Os farrapos não eram gente esfarrapada: e a região onde lutavam
tinha para o Império grande importância estratégica.Por exemplo, em prin
cípios de 1840, o governo central cedeu a uma das principais exigências
econômicas dos farrapos, decretando uma taxa de importação de 25% sobre a
carne salgada vinda do Prata e que concorria com a nacional.
Um passo importante para pôr fim ao conflito ocorreu quando, em 1842,
Caxias foi nomeado presidente e comandante de armas da província.Ele
combinou habilmente uma política de ataque militar e medidas de apazi
guamento.
Afinal, em 1845, após acordos em separado com vários chefes rebeldes,
Caxias e Canabarro assinaram a paz.Não era uma rendição incondicional.
Foi concedida anistia geral aos revoltosos, os oficiais farroupilhas integraram
se de acordo com suas patentes ao Exército brasileiro e o governo imperial
assumiu as dívidas da República de Piratini.
Há controvérsia entre os historiadores sobre se os farrapos desejavam
ou não separar-se do Brasil, formando um novo país com o Uruguai e as pro
víncias do Prata.Seja como for, um ponto comum entre os rebeldes era o de
fazer do Rio Grande do Sul pelo menos uma província autônoma, com rendas
próprias, livre da centralização do poder imposta pelo Rio de Janeiro.
A revolução farroupilha forçou o Brasil a realizar uma política externa
na região platina, bem diferente da tradicional.Durante anos, o Brasil seria
forçado a não ter uma política agressiva no Prata e a buscar acordos com
Buenos Aires, para ocupar-se de uma revolução no interior de suas fronteiras.
O fim da farroupilha reacendeu as pretensões brasileiras de manter forte
influência no Uruguai e os temores de que um mesmo poder - a Argentina -
controlasse as duas margens do rio da Prata.Estes temores cresciam na medida
em que, naquele país, à frente de Buenos Aires e outras províncias, Juan
Manuel de Rosas promovia uma tentativa de consolidação do poder.
Uma coalizão anti-rosista se formou entre o Brasil, a facção dos "colora
dos", tradicionais aliados do Brasil no Uruguai, e as províncias argentinas de
Corrientes e Entre Ríos, rebeladas contra Rosas.A presença brasileira foi
dominante, na guerra iniciada em 185 1, quando o Imperador Pedro II já
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