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A REGÊNCIA
1 83 1 - 1 840
O período posterior à abdicação de Dom Pedro I é chamado de Regência
porque nele o país foi regido por figuras políticas em nome do imperador até
a maioridade antecipada deste, em 1 840. A princípio os regentes eram três,
passando a ser apenas um, a partir de 1 834.
O período regencial foi um dos mais agitados da história política do país
e também um dos mais importantes. Naqueles anos, esteve em jogo a unidade
territorial do Brasil, e o centro do debate político foi dominado pelos temas
da centralização ou descentralização do poder, do grau de autonomia das
províncias e da organização das Forças Armadas.
As reformas realizadas pelos regentes são um bom exemplo das dificul­
dades em se adotar uma prática liberal que fugisse aos males do absolutismo.
Nas condições brasileiras da época, muitas medidas destinadas a dar alguma
flexibilidade ao sistem;i político e a garantir as liberdades individuais aca­
baram resultando em violentos choques entre as elites e no predomínio do
· interesse de grupos locais.
Nem tudo se decidiu na época regencial. Podemos mesmo prolongar a
periodização por dez anos e dizer que só por volta de 1 850 a Monarquia
centralizada se consolidou, quando as últimas rebeliões provinciais cessaram.
162 HISTÓRIA DO BRASIL

Um ponto importante a ser ressaltado para a compreensão das difi­


culdades desse período é o de que, entre as classes e os grupos dominantes,
não havia consenso sobre qual o arranjo institucional mais conveniente para
seus interesses.Mais ainda, não havia clareza sobre ·o papel do Estado como
organizador dos interesses gerais dominantes, tendo para isso de sacrificar
em certas circunstâncias interesses específicos de um determinado setor social.
A tendência política vencedora após o 7 de abril foi a dos liberais mo­
derados, que se organizaram de acordo com a tradição maçônica na Sociedade
Defensora da Liberdade e Independência Nacional.Entre eles, havia uma alta
proporção de políticos de Minas, São Paulo e do Rio de Janeiro.Havia também
uma presença significativa de padres e alguns graduados por Coimbra.Muitos
eram proprietários de terras e de escravos.Foram nomes de destaque entre os
liberais moderados: Bernardo Pereira de Vasconcelos, magistrado mineiro
educado em Coimbra; o Padre Diogo Feijó, nascido em São Paulo e futuro
regente; e Evaristo da Veiga, responsável pela edição no Rio de Janeiro da
Aurora Fluminense, o mais importante jornal liberal de seu tempo.
Na oposição, ficavam, de um lado, os "exaltados", e de outro, os abso­
lutistas.Os exaltados defendiam a federação, ou seja, a efetiva autonomia das
províncias, e as liberdades individuais; alguns, como Cipriano Barata e Borges
da Fonseca, eram adeptos da República.Os absolutistas chamados de "cara­
murus", muitos deles portugueses, com postos na burocracia, no Exército e
no alto comércio, lutavam pela volta ao trono de Dom Pedro 1.Os sonhos res­
tauradores não duraram muito, pois Dom Pedro I morreu em Portugal em 1834.
Não faltavam apelidos depreciativos para os portugueses, variando ape-·
nas de acordo com a época e a região: "marinheiros", "pés-de-chumbo",
"marotos", "caramurus".Em represália, eles chamavam os brasileiros de
"cabras".

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4 l. A S REFORMA S IN STITUCIONAI S

As reformas do período regencial, entre outros pontos, trataram de su­


primir ou diminuir as atribuições de órgãos da Monarquia e criar uma nova
forma de organização militar, que reduzisse o papel do Exército.
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Em 1 8 32, entrou em vigor o Código de Processo Criminal, que fixou


normas para a aplicação do Código Criminal de 1 8 30. O Código de Processo
deu maiores poderes aos juízes de paz, eleitos nas localidades já no reinado
de Dom Pedro I, mas que agora podiam, por exemplo, prender e julgar pessoas
acusadas de cometer pequenas infrações.Ao mesmo tempo, seguindo o mode­
lo americano e inglês, o Código de Processo instituiu o júri, para julgar a
grande maioria dos crimes, e o habeas corpus, a ser concedido a pessoas presas
ilegalmente, ou cuja liberdade fosse ameaçada. Logo adiante, ao tratar da
questão da escravatura e do poder local, veremos como essas medidas, em
princípio positivas, acabaram muitas vezes por resultar na impunidade de
traficantes e assassinos.
Uma lei de agosto de 1 834, chamada de Ato Adicional, porque fez adi­
ções e alterações na Constituição de 1824, determinou que o Poder Moderador
não poderia ser exercido durante a Regência. Suprimiu também o Conselho
de Estado.Os presidentes de província continuaram a ser designados pelo
governo central, mas criaram-se Assembléias Provinciais com maiores po­
deres, em substituição aos antigos Conselhos Gerais.
Além disso, legislou-se sobre a repartição de rendas entre o governo
central, as províncias e os municípios . Atribuiu-se às Assembléias Provinciais
competência para fixar as despesas municipais e das províncias e para lançar
os impostos necessários ao atendimento dessas despesas, contanto que não
prejudicassem as rendas a serem arrecadadas pelo governo central.Essa fór­
mula vaga de repartição de impostos permitiu às províncias a obtenção de
recursos próprios, à custa do enfraquecimento do governo central.Uma das
atribuições mais importantes dadas às Assembléias Provinciais foi a de nomear
e demitir funcionários públicos . Desse modo, colocava-se nas mãos dos polí­
ticos regionais uma arma significativa, tanto para obter votos em troca de
favores como para perseguir inimigos .
Quando começou o período regencial, o Exército era uma instituição mal
organizada, vista pelo g_�)Verno com muita suspeita. Mesmo após a abdicação
de Dom Pedro, o número de oficiais portugueses continuou a ser significativo.
A maior preocupação vinha, porém, da base do Exército, formada por gente
mal paga, insatisfeita e propensa a aliar-se ao povo nas rebeliões urbanas.
Uma lei de agosto de 1 8 31 criou a Guarda Nacional, em substituição às
antigas milícias.Ela era cópia de uma lei francesa do mesmo ano.A idéia
lfí4 JIISTÓRIA DO BRASIL

consistia em organizar um corpo armado de cidadãos confiáveis, capaz de


reduzir tanto os excessos do governo centralizado como as ameaças das "clas­
ses perigosas".Na prática, a nova instituição ficou incumbida de manter a
ordem no município onde fosse formada.Foi chamáda, em casos especiais, a
enfrentar rebeliões fora do município e a proteger as fronteiras do país, sob o
comando do Exérdto.Compunham obrigatoriamente a Guarda Nacional,
como regra geral, todos os cidadãos com direito de voto nas eleições primárias
que tivessem entre 2 1e 60 anos.O alistamento obrigatório para a Guarda
Nacional desfalcou os quadros do Exército, pois quem pertencesse à primeira
ficava dispensado de servir no segundo.Até 1850, os oficiais inferiores da
Guarda Nacional eram eleitos pelos integrantes da corporação, em eleição
presidida pelo juiz de paz.A realidade nacional e as necessidades de esta­
belecer uma hierarquia se sobrepuseram ao princípio eletivo.As eleições
foram se tornando letra morta e desapareceram antes mesmo que a lei fosse
mudada.

4.
2. A S REV OLTA S PROVINCIAI S

As revoltas do período regencial não se enquadram em uma moldura


única.Elas tinham a ver com as dificuldades da vida cotidiana e as incertezas
da organização política, mas cada uma delas resultou de realidades específicas,
provinciais ou lccais. Muitas rebeliões, sobretudo até meados da década
iniciada em 1830, ocorreram nas capitais mais importantes, tendo como pro·�
tagonistas a tropa e o povo.No Rio de Janeiro, houve cinco levantes, entre
1831e 1832.Em 1832, a situação se tornou tão séria que o Conselho de Estado
foi consultado sobre que medidas deveriam ser tomadas para salvar o impe­
rador menino, caso a anarquia se instalasse na cidade e as províncias do Norte
se separassem das do Sul.

4.
2.l. AS REVOLTAS NO NORTE E NO NORDESTE

Muito diferente dessas revoltas foi a Guerra dos Cabanas, em Pernam­


buco, entre 1832 e 1835, um movimento essencialmente rural que se dife-
A REGÊNCIA lfí5

renciou também das anteriores insurreições pernambucanas, por seu conteúdo.


Os cabanos reuniam pequenos proprietários, trabalhadores do campo, índios,
escravos e, no início, alguns senhores de engenho. Sob alguns aspectos,
constituíram uma antecipação do que seria a revolta sertaneja de Canudos, no
início da República. Lutaram em nome da religião, pelo retorno do imperador
contra os chamados "carbonários jacobinos", em uma referência feita por seus
líderes aos revolucionários franceses e às sociedades secretas liberais euro­
péias do século XIX.Dessa forma, camadas pobres da população rural ex­
pressavam suas queixas contra mudanças que não entendiam e eram distantes
de seu mundo.Os cabanas contaram com o apoio de comerciantes portugueses
do Recife e de políticos restauracionistas na capital do Império.
Depois de uma guerra de guerrilhas, os rebeldes foram afinal derrotados,
ironicamente, por Manuel Carvalho Pais de Andrade, a mesma pessoa que
proclamara em 1824 a Confederação do Equador e era agora presidente da
província.
Após o Ato Adicional de 1834, ocorreram a Cabanagem, no Pará ( 1835-
1840), que não deve ser confundida com a Guerra dos Cabanos em Per­
nambuco, a Sabinada, na Bahia (1837 -1838), a Balaiada, no Maranhão (1838-
1840), e a Farroupilha, no Rio Grande do Sul ( 1836 - 1845).
Quando se sabe que muitas das antigas queixas das províncias se vol­
tavam contra a centralização monárquica, pode parecer estranho o surgimento
de tantas revoltas nesse período.Afinal de contas, a Regência procurou dar
alguma autonomia às Assembléias Provinciais e organizar a distribuição de
rendas entre o governo central e as províncias. Ocorre porém que, agindo nesse
sentido, os regentes acabaram incentivando as disputas entre elites regionais
pelo controle das províncias cuja importância crescia . Além disso, o governo
perdera a aura de legitimidade que, bem ou mal, tivera enquanto um imperador
esteve no trono.Algumas indicações equivocadas para presidente de provfn­
cias fizeram o resto.
A Cabanagem explodiu no Pará, região frouxamente ligada ao Rio de
Janeiro.A estrutura social não tinha aí a estabilidade de outras províncias,
nem havia uma classe de proprietários rurais bem estabelecida.Era um mundo
de índios, mestiços, trabalhadores escravos ou dependentes e uma minoria
branca, formada por comerciantes portugueses e uns poucos ingleses e fran­
ceses.Essa minoria se concentrava em Belém, uma pequena cidade de 1 2 mil
Jf,f, f/JSTÔR!A DO BRASIL

habitantes.Por aí escoava a modesta produção de tabaco, cacau, borracha e


arroz.Uma contenda entre grupos da elite local, sobre a nomeação do pre­
sidente da província, abriu caminho para a rebelião popular.Foi proclamada a
independência do Pará.Uma tropa cuja base se compunha de negros, mestiços
e índios atacou Belém e conquistou a cidade, após vários dias de dura Juta.A
partir daí, a revolta se estendeu ao interior da província.
Em meio à Juta, destacou-se na liderança dos rebeldes Eduardo Angelim,
um cearense de apenas 21 anos que migrara para o Pará após uma grande seca
ocorrida no Ceará, em 1827.Angelim tentou organizar um governo, colocando
como seu secretário um padre, uma das poucas pessoas capazes de escrever
fluentemente.
Os cabanas não chegaram a oferecer uma organização alternativa ao
Pará, concentrando-se no ataque aos estrangeiros, aos maçons, e na defesa da
religião católica, dos brasileiros, de Dom Pedro II, do Pará e da liberdade.É
curioso observar que, embora entre os cabanas existissem muitos escravos, a
escravidão não foi abolida.Uma insurreição de escravos foi mesmo reprimida
por Angelim.Como se vê, aparecem na Cabanagem paraense alguns traços já
encontrados na Guerra dos Cabanas de Pernambuco, embora entre os dois
movimentos tenha havido apenas uma relação de nome.
A rebelião foi vencida pelas tropas legalistas, depois do bloqueio da
entrada do Rio Amazonas e uma série de longos e cruéis confrontos.Belém
acabou sendo praticamente destruída e a economia, devastada.Calcula-se que
30 mil pessoas morreram, entre rebeldes e legalistas, ou seja, cerca de 20%.
da população estimada da província.
A Sabinada deriva a designação de seu principal líder, Sabino Barroso,
jornalista e professor da Escola de Medicina de Salvador.A Bahia vinha sendo
cenário de várias revoltas urbanas desde a Independência, entre as quais
rebeliões de escravos ou com sua participação.A Sabinada reuniu uma base
ampla de apoio, incluindo pessoas da classe média e do comércio de Salvador,
em torno de idéias federalistas e republicanas. O movimento buscou um
compromisso com relação aos escravos, dividindo-os entre nacionais - nas­
cidos no Brasil - e estrangeiros - nascidos na África.Seriam libertados os
cativos nacionais que houvessem pegado em armas pela revolução; os demais
continuariam escravizados.
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Os "sabinos" não conseguiram penetrar no Recôncavo, onde os senhores


de engenho apoiaram o governo.Após o cerco de Salvador por terra e mar, as
forças governamentais recuperaram a cidade através de uma luta corpo a corpo
que resultou em cerca de 1 800 mortos.
A Balaiada maranhense começou a partir de uma série de disputas entre
grupos da elite local.As rivalidades acabaram resultando em uma revolta
popular.Ela se concentrou no sul do Maranhão, junto à fronteira do Piauí,
uma área de pequenos produtores de algodão e criadores de gado.À frente do
movimento estavam o cafuzo Raimundo Gomes, envolvido na política local,
e Francisco dos Anjos Ferreira, de cujo ofício - fazer e vender balaios -
derivou o nome da revolta.Ferreira aderiu à rebelião para vingar a honra de
uma filha, violentada por um capitão de polícia.Paralelamente, surgiu um
líder negro conhecido como Cosme - sem sobrenome pelo menos nos relatos
históricos - à frente de 3 mil escravos fugidos.
Os balaios chegaram a ocupar Caxias, segunda cidade da província.De
suas raras proclamações por escrito constam vivas à religião católica, à Cons­
tituição, a Dom Pedro II, à "santa causa da liberdade".Temas de natureza
social ou econômica não são evocados, mas é difícil imaginar que Cosme e
seus homens não estivessem lutando por sua causa pessoal de liberdade, fosse
ela santa ou não.
As várias tendências existentes entre os balaios resultaram em desen­
tendimentos.Por sua vez, a ação das tropas do governo central foi rápida e
eficaz.Os rebeldes foram derrotados em meados de 1 840.Seguiu-se a con­
cessão de uma anistia, condicionada à reescravização dos negros rebeldes.
Cosme foi enforcado em 1 842.No comando das tropas imperiais estava um
oficial com presença constante nos confrontos políticos e nas batalhas do
Segundo Reinado: Luís Alves de Lima e Silva, que na ocasião recebeu o título
de Barão de Caxias.

4.2.2. A GUERRA DOS FARRAPOS

A milhares de quilômetros do Norte e do Nordeste, eclodiu em 1 835, no


Rio Grande do Sul, a Guerra dos Farrapos, ou Farroupilhas."Farrapos" e
"farroupilhas" são expressões sinônimas, que significam "maltrapilhos", "gen-
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te vestida com farrapos". Elas parecem ter-se referido inicialmente aos trajes
usados por Cipriano Barata nas ruas de Lisboa, com o acréscimo de um chapéu
de palha. Assim, ele se distinguia dos portugueses como se fosse um matuto
brasileiro. Os adversários dos farrapos gaúchos derani a eles esse apelido para
depreciá-los. Mas a verdade é que se suas tropas podiam ser farroupilhas, os
dirigentes pouco tinham disso, pois representavam a elite dos estancieiros,
criadores de gado da província.
O Rio Grande do Sul era um caso especial entre as regiões brasileiras,
desde os tempos da Colônia. Por sua posição geográfica, formação econômica
e vínculos sociais, os gaúchos tinham muitas relações com o mundo platino,
em especial com o Uruguai. Os chefes de grupos militarizados da fronteira -
os caudilhos -, que eram também criadores de gado, mantinham extensas
relações naquele país. Aí possuíam terras e se ligavam pelo casamento com
muitas famílias.
Por outro lado, a economia rio-grandense, do ponto de vista da desti­
nação de seus produtos, estava tradicionalmente ligada ao mercado interno
brasileiro. A criação de mulas teve importante papel no transporte de mer­
cadorias no Centro-Sul do país, antes da construção das ferrovias. No período
de renascimento agrícola das últimas décadas do século XVIII, colonos vindos
dos Açores plantaram trigo no Sul, consumido nas outras regiões do Brasil.
Quando foi proclamada a Independência, em 1 822, esse período de expansão
do trigo já se encerrara, devido às pragas e à concorrência americana, mas os
vínculos com o resto do país permaneceram.
A criação de gado se generalizou, na região, assim como a transformação
da carne bovina em charque (carne-seca). O charque era um produto vital,
destinado ao consumo da população pobre e dos escravos do Sul e do Centro­
Sul do Brasil. Criadores de gado e charqueadores formavam dois grupos
separados. Os criadores estavam estabelecidos na região da Campanha, situada
na fronteira com o Uruguai. Os charqueadores tinham suas indústrias ins­
taladas no litoral, nas áreas das lagoas, onde se concentravam cidades como
Rio Grande e Pelotas. Criadores e charqueadores se utilizavam de mão-de­
obra escrava, além de trabalhadores dependentes deles.
As queixas do Rio Grande do Sul contra o governo central vinham de
longe. Os gaúchos achavam que, apesar da contribuição da província para a
economia brasileira, ela era explorada por um sistema de pesados impostos.
A REGÊNCIA / 69

As reivindicações de autonomia, e mesmo de separação, eram antigas e feitas,


muitas vezes, tanto por conservadores como por liberais.
A Regência e o Ato Adicional não abrandaram as queixas.As províncias
que não podiam arcar com todas as suas despesas recebiam recursos do go­
verno central provenientes em parte de outras províncias.Isso acontecia antes
do Ato Adicional e continuou a acontecer depois dele.O Rio Grande do Sul
mandava, seguidamente, fundos para cobrir despesas de S anta Catarina e de
outras regiões.
Entretanto, a revolta não uniu todos os setores da população gaúcha.Ela
foi preparada por estancieiros da fronteira e algumas figuras da classe média
das cidades, obtendo apoio principalmente nesses setores sociais.Os char­
queadores que dependiam do Rio de Janeiro - maior centro consumidor bra­
sileiro de charque e de couros - ficaram ao lado do governo central.
Além das queixas gerais já apontadas, os estancieiros tinham razões
próprias de descontentamento.Eles pretendiam acabar com a taxação de gado
na fronteira com o Uruguai ou reduzi-la, estabelecendo a livre circulação dos
rebanhos que possuíam nos dois países.Além disso, como já estavam orga­
nizados militarmente com seus pequenos exércitos particulares, baseados em
uma chefia indiscutível, consideravam uma novidade perigosa a criação da
Guarda Nacional, com cargos eletivos de oficiais.
Os farrapos contaram com o concurso de alguns oficiais do Exército,
chegados recentemente ao Rio Grande do S ul, entre eles João Manuel de Lima
e Silva, irmão de um dos primeiros regentes e tio de Caxias.Nas fileiras dos
revoltosos, destacaram-se pelo menos duas dezenas de revolucionários italia­
nos refugiados no Brasil, sendo o mais célebre deles Giuseppe Garibaldi.A
figura mais importante do movimento foi Bento Gonçalves, filho de um rico
estancieiro, com larga experiência militar nas guerras da região.Ele organizou
lojas maçônicas na fronteira e usou o serviço postal dos maçons como alterna­
tiva para sua correspondência secreta.Estendeu, assim, à fronteira as socie­
dades maçônicas que prolife ravam em todo o Rio Grande.
A luta foi longa e baseada na ação da cavalaria.Garibaldi e Davi Cana­
barro levaram a guerra para o norte da província, assumindo por uns tempos o
controle de Santa Catarina.Na região gaúcha dominada pelos rebeldes, foi
proclamada na cidade de Piratini, em 1838, a República de Piratini cuja
presidência coube a Bento Gonçalves.A República não existiu apenas no
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papel, mas teve uma existência real, incluindo o estímulo à criação de gado e
à exportação de charque e de couros.
A posição do governo central foi entremeada de combate e concessões
aos rebeldes.Os farrapos não eram gente esfarrapada: e a região onde lutavam
tinha para o Império grande importância estratégica.Por exemplo, em prin­
cípios de 1840, o governo central cedeu a uma das principais exigências
econômicas dos farrapos, decretando uma taxa de importação de 25% sobre a
carne salgada vinda do Prata e que concorria com a nacional.
Um passo importante para pôr fim ao conflito ocorreu quando, em 1842,
Caxias foi nomeado presidente e comandante de armas da província.Ele
combinou habilmente uma política de ataque militar e medidas de apazi­
guamento.
Afinal, em 1845, após acordos em separado com vários chefes rebeldes,
Caxias e Canabarro assinaram a paz.Não era uma rendição incondicional.
Foi concedida anistia geral aos revoltosos, os oficiais farroupilhas integraram­
se de acordo com suas patentes ao Exército brasileiro e o governo imperial
assumiu as dívidas da República de Piratini.
Há controvérsia entre os historiadores sobre se os farrapos desejavam
ou não separar-se do Brasil, formando um novo país com o Uruguai e as pro­
víncias do Prata.Seja como for, um ponto comum entre os rebeldes era o de
fazer do Rio Grande do Sul pelo menos uma província autônoma, com rendas
próprias, livre da centralização do poder imposta pelo Rio de Janeiro.
A revolução farroupilha forçou o Brasil a realizar uma política externa
na região platina, bem diferente da tradicional.Durante anos, o Brasil seria
forçado a não ter uma política agressiva no Prata e a buscar acordos com
Buenos Aires, para ocupar-se de uma revolução no interior de suas fronteiras.
O fim da farroupilha reacendeu as pretensões brasileiras de manter forte
influência no Uruguai e os temores de que um mesmo poder - a Argentina -
controlasse as duas margens do rio da Prata.Estes temores cresciam na medida
em que, naquele país, à frente de Buenos Aires e outras províncias, Juan
Manuel de Rosas promovia uma tentativa de consolidação do poder.
Uma coalizão anti-rosista se formou entre o Brasil, a facção dos "colora­
dos", tradicionais aliados do Brasil no Uruguai, e as províncias argentinas de
Corrientes e Entre Ríos, rebeladas contra Rosas.A presença brasileira foi
dominante, na guerra iniciada em 185 1, quando o Imperador Pedro II já
A REGÊNCIA 1 71

assumira o trono.Cerca de 24 mil soldados brasileiros, recrutados principal­


mente no Rio Grande do Sul, participaram do conflito.Garantido o controle
do Uruguai pelos "colorados", as tropas rosistas foram derrotadas em território
argentino (Monte Caseros, fevereiro de 1852).

4.3. A POLÍTICA NO PERÍODO REGENCIAL

Enquanto as rebeliões agitavam o país, as tendências políticas no centro


dirigente iam-se definindo.Apareciam em germe os dois grandes partidos
imperiais - o Conservador e o Liberal.Os conservadores reuniam magistrados,
burocratas, uma parte dos proprietários rurais, especialmente do Rio de Ja­
neiro, Bahia e Pernambuco, e os grandes comerciantes, entre os quais muitos
portugueses.Os liberais agrupavam a pequena classe média urbana, alguns
padres e proprietários rurais de áreas menos tradicionais, sobretudo de São
Paulo, Minas e Rio Grande do Sul.
O sistema político porém ainda não se estabilizara.Nas eleições para a
regência única, realizadas em abril de 1 835, o Padre Feijó derrotou seu prin­
cipal competidor, Holanda Cavalcanti, proprietário rural de Pernambuco.O
corpo eleitoral era extremamente reduzido, somando cerca de 6 mil eleitores.
Feijó recebeu 2 826 votos, e Cavalcanti, 2 251 . Pouco mais de dois anos
depois, em setembro de 1837, Feijó renunciou.Ele sofrera pressões do Con­
gresso, sendo acusado de não empregar suficiente energia na repressão aos
farrapos, entre cujos chefes estava um de seus primos.Nas eleições que se
seguiram, triunfou Pedro de Araújo Lima, futuro Marquês de Olinda, antigo
presidente da Câmara e senhor de engenho em Pernambuco.
A vitória de Araújo Lima simbolizou o início do "regresso".A palavra
indica a atuação da corrente conservadora desejosa de "regressar" à cen­
tralização política e ao reforço da autoridade.Uma das primeiras leis nesse
sentido consistiu em .uma "interpretação" do Ato Adicional (maio de 18 40),
que retirava das províncias várias de suas atribuições, especialmente no que
dizia respeito à nomeação de funcionários públicos.

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