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REALIZAÇÃO
06 14 22 32 43
Panorama Projeto e Metodologia Impactos Considerações
da educação resultados finais
inclusiva no
ensino médio
Nas próximas páginas, você encontrará informações Esta publicação está organizada da seguinte forma:
e dados sobre a criação, o desenvolvimento, os im-
pactos e os resultados do projeto “Ensino Médio • Panorama da Educação Inclusiva no Ensino Médio:
Inclusivo — Construindo uma escola para todos”. dados e contexto atual no Brasil, apresentando re-
Realizado em 2016, é fruto de uma parceria entre o flexões sobre os principais desafios nessa etapa e
Instituto Rodrigo Mendes (IRM) e o Instituto Uniban- possíveis caminhos para inclusão.
co (IU) com o grande objetivo de promover reflexões
sobre o tema da inclusão escolar nessa etapa especí- • Projeto e resultados: apresentação da iniciativa,
fica de ensino e estimular a criação, pelos educado- com descrição de objetivos, etapas — com desta-
res participantes, de intervenções locais transforma- que para a formação — e resultados quantitativos.
doras. Além disso, buscou-se dar apoio às equipes
das secretarias estaduais de educação envolvidas no •M
etodologia: apresentação do percurso metodo-
planejamento de políticas públicas para a garantia lógico, com destaque para os princípios da educa-
de acesso, permanência e aprendizagem dos estu- ção inclusiva e cinco dimensões de análise, criados
dantes público-alvo da educação especial. pelo IRM.
A principal atividade do “Ensino Médio Inclusivo” foi • Impactos: dados, resultados qualitativos e contex-
uma formação, e sua idealização considerou o atual tualização de projetos locais de intervenção desen-
contexto onde a educação continuada é, cada vez volvidos pelos cursistas, sob a ótica das dimensões.
mais, imprescindível para que o ensino alcance uma
qualidade superior e avance na inclusão. Participa- • Considerações finais: avanços conquistados e desa-
ram 219 professores, coordenadores pedagógicos, fios a serem superados no futuro no que diz respei-
profissionais de apoio, diretores das unidades esco- to à inclusão na educação.
lares e técnicos das secretarias de educação de Mi-
nas Gerais e Pernambuco, além de equipes do IU de Esta publicação está disponível nos sites das institui-
São Paulo e do Rio de Janeiro. Como resultado, foram ções realizadoras em formatos .pdf e .html, ambos
implantados 54 projetos locais de intervenção, de- em versões acessíveis. A divulgação e o compartilha-
senvolvidos com base no conhecimento e ferramen- mento são mais que bem-vindos para que as infor-
tas sugeridas durante a formação, cuja metodologia mações apresentadas contribuam verdadeiramente
busca dialogar diretamente com a realidade dos cur- para os avanços da educação no Brasil no que diz
sistas. Os projetos locais impactaram mais de 21 mil respeito à inclusão.
pessoas, dentre as quais cerca de 14 mil estudantes.
Desejamos boa leitura e convidamos você a
Assim como esses resultados, as demais informa- compartilhar considerações, dúvidas e, principal-
ções apresentadas neste documento são baseadas mente, outras experiências inclusivas pelo e-mail
em análises das experiências desenvolvidas e relata- comunicacao@rm.org.br.
das pelos educadores, levando em conta os princí-
pios da educação inclusiva e as dimensões que fun- Boa leitura!
damentam o projeto.
”
todos, é o direito à educação. Ricardo Henriques
Superintendente executivo do
Instituto Unibanco
Convite à leitura 5
Panorama da
educação inclusiva
no ensino médio
Contexto brasileiro
Ao longo dos últimos 10 anos, a quantidade de es- com alguma deficiência, de acordo com o Relatório
tudantes com deficiência matriculados no ensino Mundial Sobre a Deficiência de 2011 da Organiza-
médio brasileiro triplicou. Segundo o Censo Escolar ção Mundial da Saúde (OMS).
de 2015, o total de estudantes era pouco mais que
62 mil, o que representa 0,8% das matrículas nessa Comparando etapas de ensino em 2015, mais um
etapa de ensino. Esse percentual evoluiu de 0,2% dado importante: no ensino fundamental a parcela
em 2007 para 0,4% em 2011. de estudantes com deficiência representa 2,9% das
matrículas nos anos iniciais e 1,8% nos anos finais,
Apesar da evolução, a representatividade de pes- ou seja, ocorre um afunilamento progressivo da
soas no ensino médio no Brasil com deficiência presença desse grupo na sala de aula ao longo da
ainda é discreta se considerarmos o dado que reve- vida escolar.
la que 15% da população é composto por pessoas
0,8% 62.167
0,4% 30.512
0,2% 15.935
2,9%
1o. ciclo do ensino fundamental
15%
1,8% da população é
2o. ciclo do ensino fundamental composto por
pessoas com
alguma deficiência,
de acordo com
0,8% o Relatório
Mundial Sobre a
ensino médio
Deficiência de 2011
da Organização
Fonte: Boletim em Foco 15 Mundial da Saúde
Esses e outros avanços resultam de políticas públi- Outro ponto crítico é o baixo índice de aprendiza-
cas, como a Política Nacional de Educação Especial gem no decorrer do processo de escolarização, rea-
na Perspectiva da Educação Inclusiva1, aprovada em lidade que atinge a maioria dos estudantes e que
2008. Ela segue as diretrizes legais estabelecidas em tem como consequência reprovações em demasia e
níveis nacional e internacional, preconizadas, entre o abandono escolar. Esses dois fatores, por sua vez,
outras referências, pela Convenção sobre os Direitos impactam diretamente a queda da taxa de matrícu-
das Pessoas com Deficiência da Organização das Na- las e o aumento da evasão, sobretudo quando se tra-
ções Unidas (ONU), de 2006. ta do ensino médio.
Apesar de o acesso apresentar crescimento, é ne- Existem garantias legais discriminadas na Política
cessário colocar em evidência algumas questões, a Nacional que podem contribuir para avanços na in-
começar pela exclusão escolar. Dentre os estudantes clusão escolar, seja em nível individual, como o direi-
com deficiência matriculados na educação regular, to ao transporte, ou institucional, como a verba para
nem todos realmente frequentam as aulas e, dentre investimento em acessibilidade e a disponibilidade
os que lá estão, nem todos se encontram nas salas do serviço de Atendimento Educacional Especiali-
de aula comuns junto dos colegas. zado (AEE), que pode ser requisitado por meio das
secretarias ou via convênios com instituições espe-
1 Cf. MEC/SEESP. Política Nacional de Educação Especial na Pers- cializadas (leia mais no box).
pectiva da Educação Inclusiva. Brasília, 2008.
Um apontamento comum entre especialistas, edu- pe gestora, professores de sala de aula regular e de
cadores e público em geral é o problema da distân- educação especial, tradutores e intérpretes de Lín-
cia entre o que é oferecido pela escola no ensino gua Brasileira de Sinais, guias, intérpretes, cuidado-
médio e as expectativas dos adolescentes e jovens. res, funcionários, estudantes e familiares”, diz Eliane
A realidade local desse público praticamente não é de Souza Ramos, pesquisadora do Laboratório de
considerada, mesmo sendo ele o principal interessa- Estudo e Pesquisa em Ensino e Diferença da Univer-
do em uma educação de qualidade, o que provoca sidade Estadual de Campinas (Unicamp).
desinteresse ou mesmo afastamento dos estudan-
tes da vida escolar. O currículo do ensino médio é Estudos, pesquisas e relatos de casos apontam bons
reconhecido por ser fortemente centrado na prepa- modelos de gestão e práticas pedagógicas que aco-
ração dos estudantes para o vestibular e por deixar a lhem a diversidade e colocam o estudante no centro
desejar no que diz respeito ao atendimento das ne- do processo de aprendizagem, respeitando suas ca-
cessidades e interesses de todos, além de ser pouco racterísticas e investindo nas potencialidades dele.
aberto à articulação dos papéis dos atores escolares. Essa forma pode servir de inspiração para a inclusão
“É importante que a escola se ancore na realidade ser realidade no ensino médio e tem como exemplo
local por meio de um projeto político-pedagógico a história da estudante Renata Basso, do Colégio Es-
(PPP) que represente, organize e sistematize os pro- tadual Coronel Pilar (leia mais no box).
pósitos educacionais em ações alinhadas com as
demandas e necessidades de todo o grupo — equi-
“É mitoinclusiva
Para tornar o ensino médio atrativo e inclusivo a to-
dos os estudantes, é necessário colocar em prática dizer que a educação
um conjunto de mudanças. A começar por rever não pode ser
o currículo dessa etapa de ensino, que raramente
prevê articulação das disciplinas e tem ênfase ex- rigorosa. Da mesma maneira,
cessiva em conteúdos que fogem à realidade dos não faz sentido afirmar
estudantes. que não funciona reunir
É interessante também que as escolas criem uma estudantes com deficiência
rede, de maneira que toda a equipe — e não somen- com os demais alunos e
”
te os educadores em contato com os estudantes — superdotados
trabalhe em sintonia colocando o estudante no
centro do processo de aprendizagem, oferecendo JoAnn Brown, professora da
um ensino mais personalizado, considerando habi- escola William Henderson
lidades e competências de cada um e estimulando
a autonomia de todos. Essa reflexão leva a outra
sobre os padrões e os níveis de ensino estabeleci-
dos, principalmente quando se trata de rotular es-
tudantes abaixo da média determinada e deixar de padrões que colocamos ajudam cada um dos jovens
incluir aqueles que possuem alguma deficiência. O a alcançar seu potencial pleno, e damos apoio a to-
histórico da escola William Henderson, em Boston, dos no percurso que têm de trilhar para atingir esse
Massachusetts, nos Estados Unidos, revela como um potencial. Sendo assim, posso afirmar que é mito di-
bom processo de inclusão pode, sim, estar ligado ao zer que a educação inclusiva não pode ser rigorosa.
aumento dos níveis de ensino, ajudando e desafian- Da mesma maneira, não faz sentido afirmar que não
do todos os estudantes a participar e desempenhar funciona reunir estudantes com deficiência com os
seu máximo. A instituição norte-americana é uma demais alunos e superdotados”. No entanto, a res-
das mais bem-sucedidas do país: as notas dos estu- peito de altas expectativas, é válido esclarecer que
dantes em avaliações estaduais e nacionais que me- elas devem ser personalizadas, móveis e constante-
dem o desempenho em padrões rigorosos são rela- mente revisadas. “Caso contrário, estaremos desper-
tivamente altas. JoAnn Brown, professora da escola, diçando talentos, seja porque a barra está muito alta
tece um comentário baseado no modelo de atuação ou muito baixa”, explica Rodrigo Hübner Mendes, su-
da instituição: “Temos padrões elevados para todos perintendente do Instituto Rodrigo Mendes. É pos-
os estudantes, inclusive aqueles com alguma de- sível acessar o estudo de caso completo da escola
ficiência ou dificuldade de aprendizagem. Os altos Henderson em http://bit.ly/caso-henderson.
Outro ponto que contribui com a melhoria da qua- das secretarias de Educação dominarem a legislação
lidade do ensino e pode impactar positivamente vigente. “Muitas secretarias deixam de explorar re-
na permanência dos estudantes no ensino médio cursos disponíveis específicos para a transformação
é a articulação do trabalho dos professores de sala da escola, para a formação de educadores, para a
de aula regular com os professores do AEE. A ação acessibilidade, por desconhecimento. E esses recur-
conjunta desses atores incentiva o compartilhamen- sos são devolvidos para os cofres públicos”, diz.
to de conhecimentos e experiências, abre espaço
para análises e diálogos sobre como cada estudante Por fim, a respeito de desafios, considerando a
aprende melhor e permite refletir quais estratégias aprendizagem importante tanto para estudantes
podem ser desenvolvidas e compartilhadas para quanto para profissionais da educação, a formação
que todos alcancem os objetivos educacionais. Si- continuada tem papel fundamental na melhoria do
belle Faria, educadora da Escola Estadual Ana de processo de ensino e na valorização da carreira do-
Carvalho Silveira, cursista do projeto “Ensino Médio cente. O tema da inclusão ainda é escasso em ações
Inclusivo”, do polo Belo Horizonte 1, conta que, de- formativas oferecidas no Brasil e ainda mais inco-
pois da implantação do projeto local desenvolvido mum quando conjugado a reflexões específicas rela-
pelo grupo, os profissionais de AEE passaram a inte- cionadas ao ensino médio. Por isso a importância de
ragir de forma mais eficaz com os professores de sala cursos que se propõem a ressignificar os conteúdos
de aula regular. “Agora, eles pedem os planejamen- aprendidos na formação inicial e na trajetória indivi-
tos das aulas com antecedência, perguntam sobre dual de cada profissional, de maneira a transformar
os objetivos que serão propostos aos estudantes e modelos de práticas pedagógicas tradicionais em
pensam nas adaptações necessárias”, diz. uma perspectiva que considere as especificidades
de cada estudante e possibilite uma atuação quali-
Em todos esses cenários, o papel do gestor é impor- ficada sobre a realidade escolar.
tante para mobilizar e orientar a equipe com a fina-
lidade de incentivar, facilitar e coordenar as diversas
ações de inclusão. Com base em pesquisas feitas
pelo Instituto Rodrigo Mendes, o superintendente
Rodrigo Hübner Mendes alerta os gestores da rede
pública sobre a necessidade de as equipes técnicas
Projetos e Resultados 15
Um dos diferenciais do curso semipresencial é a gra- especialistas que incentivam debates e apresen-
de curricular, que contempla os principais assuntos tam novos pontos de vista, informações, contextos,
relacionados à educação inclusiva e à gestão escolar exemplos e reflexões. As aulas da edição 2016 foram
(para a equidade, com disciplinas ministradas por organizadas em cinco macrotemas.
MACROTEMAS E PROFESSORES
A tecnologia permite que o usuário entenda em qual parte do site está e encon-
tre facilmente a área que deseja explorar. Além disso, é a ferramenta usada pela
equipe de tutoria do curso de formação para acompanhar com mais informações
o desenvolvimento dos projetos locais, os avanços, as colaborações e as dificulda-
des de cada cursista.
Projetos e Resultados 17
Seminário amplia debate sobre gestão escolar
O evento foi realizado em agosto de 2016, no realmente inclusiva em uma sociedade com
espaço Itaú Cultural, em São Paulo, como uma altíssimo padrão de desigualdade e que passou
oportunidade de reflexão e debate sobre as a conviver com essa condição como se fosse
práticas e os desafios da educação inclusiva no inevitável ou natural. Cleuza Repulho, especia-
Brasil, com exemplos relacionados ao ensino lista em Educação Pública e ex-presidente da
médio. O formato contou com a apresentação União Nacional dos Dirigentes Municipais de
e mediação de Luiz Henrique da Conceição, Educação (Undime), falou sobre a importância
coordenador de formação do IRM, e quatro de a inclusão estar atrelada às políticas públicas
debatedores de diferentes perfis, com direito a para que ela aconteça realmente. Braz Nogueira,
perguntas da plateia no bloco final. professor da Diretoria Regional de Educação do
Ipiranga, em São Paulo, e ex-diretor da EMEF
Durante sua apresentação, Rodrigo Hübner Presidente Campo Salles, no bairro Heliópolis,
Mendes, superintendente do IRM, tratou sobre a defendeu que, quando se fala de inclusão, é
aparente dicotomia entre duas vertentes: uma, preciso problematizar todas as estruturas —
defensora da meritocracia e do desenvolvi- política, econômica, social — e construir uma
mento de competências cognitivas voltadas às sociedade com base na justiça, na democracia,
demandas tradicionais do mercado de traba- na autonomia e na responsabilidade.
lho, e outra, comprometida com a igualdade
de direitos, pautada pelo desenvolvimento de O seminário contou com a presença de 150
competências socioemocionais e a construção participantes ao vivo e por streaming, alcançou
de uma sociedade inclusiva. Ricardo Henriques, 26 municípios brasileiros, teve intérprete de Li-
superintendente executivo do Instituto Uni- bras e está disponível para ser assistido online:
banco, discorreu sobre como ter uma estratégia http://bit.ly/video-seminario-gestao.
219
A formação foi desenvolvida durante seis meses e
reuniu 219 profissionais da educação da rede esta-
dual de Minas Gerais e Pernambuco e profissionais
do Instituto Unibanco em grupos de trabalho. Den-
tre os perfis mais frequentes, 28% eram professores
de sala de aula comum; 20%, professores do aten- educadores
dimento educacional especializado (AEE) ou sala de participantes,
recursos multifuncionais (SRM); 17%, coordenadores
pedagógicos; 10%, profissionais de apoio; 9%, técni- dentre eles
144
cos de secretaria; e 4%, diretores e gestores escolar.
9% 4%
certificados
28%
10%
12%
Durante os encontros semanais para assistir às au-
las, os cursistas se reuniam em polos formados por
20% até 30 pessoas e que envolviam 10 escolas, no má-
17% ximo. Nos polos, dois papéis foram essenciais para
garantir a qualidade dos projetos locais e o bom
professor(a) regente/sala de aula regular desempenho dos cursistas: os interlocutores e os
professor(a) do AEE/SRM facilitadores. Os primeiros — com trânsito e acesso
coordenador(a) pedagógico(a) à gestão das secretarias — trabalhavam para viabili-
outro profissional zar as providências necessárias para a realização do
profissional de apoio projeto “Ensino Médio Inclusivo” no polo, sinalizan-
técnico(a) da secretaria do problemas ou dando esclarecimentos para dúvi-
diretor(a) e gestor(a) escolar das que surgiam sobre a formação.
Projetos e Resultados 19
Já os facilitadores — com desenvoltura no meio di-
gital, comprometimento, proatividade e bom rela-
cionamento interpessoal — eram responsáveis por
preparar a sala e a infraestrutura necessária para a
realização das aulas do curso; recepcionar os cursis-
21.819
tas; controlar e registrar a presença no AVA; fazer a pessoas
abertura, a mediação e o fechamento das aulas no
polo; orientar dinâmicas locais, trabalhos em grupo impactadas,
e atividades a distância; e, por fim, oferecer suporte dentre elas,
para o desenvolvimento e a execução dos projetos
locais e seus registros no AVA pelos cursistas. Além
de influenciarem positivamente na qualidade dos
projetos, os facilitadores foram de extrema impor-
tância para que os cursistas cumprissem a carga ho-
rária do curso e se mantivessem motivados.
14.637
estudantes
Os cursistas tiveram também um contato próximo
com a equipe de tutoria do Instituto Rodrigo Men-
des tirando dúvidas sobre os projetos locais e in-
teragindo em fóruns. Dentre outras muitas tarefas,
as tutoras eram responsáveis por colaborar com a
criação de atividades e desenvolvimento das aulas e
dar apoio à coordenação nas interações com os cur-
sistas no chat ao vivo, orientar facilitadores e interlo-
cutores na resolução de dificuldades, acompanhar o
acesso dos cursistas ao AVA, conversar com os faci-
54
litadores sobre cursistas ou grupos inativos ou com
baixa frequência e ainda colaborar na apuração de projetos de
dados quantitativos e qualitativos do curso.
intervenção
Como resultado da formação, foram desenvolvidos local
e implementados 54 projetos de intervenção rela-
cionados à realidade local. Nessa atividade, reunidos
em grupos, os cursistas fizeram um diagnóstico de
suas escolas e selecionaram uma barreira com o ob-
jetivo de reduzi-la ou eliminá-la. Ao final, apurou-se
que 21.819 pessoas foram impactadas pelos proje-
tos, dentre elas 14.637 estudantes. Foram certifica-
dos 144 cursistas, cerca de 66% dentre o total de
participantes. Recife (Pernambuco) foi a cidade com
maior índice de certificação, com 96%, seguida por
Ribeirão das Neves (Minas Gerais), polo 1, com 79%.
Metodologia 23
Dimensões para análise
Políticas
públicas
Gestão Parcerias
escolar
aprendizagem
Estratégias
Famílias
pedagógicas
3 Compreendem atividades do ensino re- gia crítica, que incentiva a reflexão e seja
Estratégias gular, ações destinadas ao atendimento dialógica e responsiva, investimento na
pedagógicas educacional especializado e o processo de aprendizagem com base na experiência,
avaliação dos estudantes. As estratégias promoção do tema da saúde no currículo
indicam as etapas de planejamento e de- e, como estratégia interdisciplinar, a educa-
senvolvimento das práticas que tenham a ção que visa à cidadania, à sustentabilidade
ver com o ensino e a aprendizagem. Como e ao combate à violência e a aprendizagem
exemplos de estratégias bem-vindas, po- sem rotulação por habilidade. Todas estas
dem ser citados a adoção de uma pedago são sugeridas pelo Índex para a Inclusão.6
>>>
Metodologia 25
4 Trata do vínculo formado entre os familia- o envolvimento e a aceitação de todos, a
Famílias res dos estudantes e a escola em relação colaboração e o “estar juntos”. É desejável
à educação inclusiva, como situações de que tudo isso aconteça por meio de um
conflito e resistência, e inclui a família no acompanhamento ativo, tanto no que diz
que diz respeito ao ato de planejar conjun- respeito à aprendizagem propriamente
tamente e desenvolver atividades esco- dita como nas tomadas de decisão, sempre
lares. O Índex sugere que a participação de maneira a dar prioridade ao diálogo e à
dos familiares tenha como propriedades parceria entre educadores e familiares.
5 São as relações construídas entre escola Nacional, não devem substituir o papel da
Parcerias e os atores externos a ela que apoiam os escola, e sim funcionar num regime com-
processos de educação inclusiva, sejam plementar ou suplementar, onde cabe o
eles parceiros da área da saúde, educação apoio de organizações públicas, iniciativas
não formal, assistência social, entre ou- privadas e até iniciativas de indivíduos e
tros. As parcerias, de acordo com a Política grupos pertencentes à comunidade.
Aprendizagem
É importante ressaltar que a educação in-
clusiva almeja assegurar o direito à educa-
ção na perspectiva de propiciar a aprendi-
zagem. Para que esse objetivo maior seja
alcançado, duas considerações merecem
especial atenção. Em primeiro lugar, obser-
vou-se que os projetos educacionais inclu-
sivos se tornam consistentes e sustentáveis
somente mediante a existência de ações
contínuas relacionadas a cada uma das
cinco dimensões abordadas anteriormen-
te. Em segundo lugar, entendemos que a
aprendizagem deve ser perseguida de for-
ma ampla, envolvendo os estudantes, os
educadores e os demais atores da comuni-
dade escolar.
1. elaboração
diagnóstico
de 2. elaboração de
plano de ação
3. implementação
e avaliação
Metodologia 27
Qual a situação atual da escola/rede?
Facilitadores Barreiras
valorizar compreender
ampliar eliminar
compartilhar transformar
Prioridade do diagnóstico
Considera
O processo sugerido é ilustrado no mapa conceitual Feito isso, é necessário começar a implantar o plano
e tem início com a compreensão da situação atual de ação e registrá-lo no AVA, considerando, inclusi-
da escola ou da rede, considerando os cinco prin- ve, os avanços conquistados de acordo com as estra-
cípios e as cinco dimensões da educação inclusiva. tégias definidas para a avaliação.
Ou seja, é necessário fazer um diagnóstico inicial da
instituição, identificando as barreiras e os facilitado- Para que essa inclusão aconteça, segundo Sassaki7, é
res que impedem ou favorecem, respectivamente, o importante “identificar nas diferenças todos os direi-
processo inclusivo. tos que a elas são pertinentes e, a partir daí, encon-
trar medidas específicas para o Estado e a sociedade
As barreiras para inclusão são definidas por caracte- diminuírem ou eliminarem as ‘restrições de partici-
rísticas do ambiente ou por atitudes humanas que pação’ (dificuldades ou incapacidades causadas pe-
não permitem a essas pessoas participarem na so- los ambientes humano e físico contra as pessoas
ciedade plenamente e com efetividade, tal como com deficiência)”.
fazem os demais. Quando se trata de educação, as
barreiras precisam ser eliminadas, modificadas ou Um projeto de educação inclusiva considerado efi-
então substituídas por algo para que os estudantes ciente, sustentável e consistente assegura que os es-
possam aprender de verdade. Já os facilitadores são tudantes de fato aprendam, como lhes é de direito.
atitudes ou características ambientais que ajudam Por isso, o Instituto Rodrigo Mendes também consi-
na tarefa de eliminar as barreiras identificadas, en- dera necessário que a proposta tenha duas caracte-
curtam o tempo para tal e diminuem os recursos rísticas elementares:
necessários, além de colaborar com a promoção de
boas práticas. • a ções contínuas relacionadas a cada uma das cinco
dimensões já apresentadas;
Se o levantamento aponta que não há respeito aos
princípios ou existem barreiras em cada uma das di- • c ompromisso com a aprendizagem em um âmbito
mensões, os cursistas devem escolher uma dessas amplo, envolvendo estudantes, educadores e to-
barreiras como prioridade, a fim de traçar com cla- dos os outros atores da comunidade escolar.
reza um plano de ação formado por um objetivo e
pelas estratégias. Para eleger tal prioridade, devem 7 SASSAKI, Romeu Kazumi. Como chamar as pessoas que
considerar os recursos disponíveis para eliminá-la e têm deficiência? Diversa. 24 de maio de 2013. Disponível em
as necessidades da comunidade e da equipe escolar. http://bit.ly/artigo-sassaki
Metodologia 29
Paradigmas: inclusão x integração forma de dar aula não é modificada pelo educador, e
É fundamental destacar as diferenças entre paradig- os gestores não pesquisam informações para saber
mas que buscam a promoção na sociedade da pes- como receber os estudantes. É esperado que eles
soa com deficiência. Quando se fala de integração, se adaptem ao ambiente como ele é: o usuário de
limita-se o enfoque no indivíduo, e é previsto que a cadeira de rodas acaba tendo de ser carregado nas
sociedade esteja disponível para conviver com ele — escadas da escola, o cego precisa solicitar ajuda aos
dessa forma, cabe ao sujeito se adaptar aos padrões colegas ou contar com um auxiliar que descreva as
que existem no entorno, seja recorrendo a auxílios, imagens usadas pelo professor durante as aulas, o
tecnologias assistivas, intervenções médicas ou ou- estudante com deficiência intelectual acaba sendo
tros métodos. Na educação, por exemplo, o paradig- reprovado repetidas vezes porque não aprende o
ma da integração pode ser assim exemplificado: a conteúdo apresentado. Portanto, no paradigma da
integração, escolas e classes especiais são mais fre-
quentes, modelo em que estudantes com deficiên-
cia estudam com colegas considerados seus iguais.
SAIBA A DIFERENÇA: Nesse cenário, a diversidade é subtraída e ocorre a
busca pela homogeneização.
integração
Já o paradigma inclusivo traz a definição da defi-
ciência como resultante não somente das condi-
ções físicas, intelectuais e sensoriais de uma pessoa,
escolas e classes especiais, e sim como a interação de tais particularidades com
onde estudantes com as barreiras que existem na sociedade. Transpondo
deficiência estudam com para a aplicação dessa realidade em uma escola, o
colegas considerados seus resultado seria uma instituição que se adapta, se
iguais = diversidade subtraída modifica, em vez de esperar que o estudante o faça.
e busca pela homogeneização. Nessa visão, é a instituição que precisa alterar o am-
biente para que todos transitem com autonomia,
assim como é esperado que a equipe pedagógica
inclusão
varie os recursos didáticos tendo em vista a partici-
pação de todos. Para um estudante cego, por exem-
plo, são disponibilizados pelo educador conteúdos
instituição se adapta e em braile (ou em formato digital), e ele planeja as
modifica, altera o ambiente aulas de modo que descreva por conta própria as
para que todos transitem imagens que utilizar. As avaliações também são
com autonomia e a equipe pensadas de forma a entender o processo de apren-
pedagógica varia seus dizagem de cada pessoa: são individualizadas. Ou
recursos didáticos = seja, a escola se corresponsabiliza pela trajetória de
participação de todos. todos os estudantes.
4% 54%
AEE [atendimento educacional especializado] nas
escolas, promovemos discussões sobre as políticas
4% do AEE e organizamos um congresso para capacita-
ção dos profissionais do AEE e demais envolvidos”.
Impactos 33
2. Gestão escolar teoria e a experiência acumulada por cada profissio-
Em Belo Horizonte, as cursistas Sibelle Faria, Silmara nal para a eliminação de barreiras que impeçam ou
de Souza, Beatriz Moreira e Romilda Santo, da Escola atrapalhem o aprendizado de todos.
Estadual Ana de Carvalho Silveira, concluíram após o
diagnóstico da instituição que faltavam informações Na Escola Estadual Alessandra Salum Cadar, em Ri-
sobre inclusão aos educadores, e que isso os impe- beirão das Neves (Minas Gerais), e na Escola Estadual
dia de fazer, muitas vezes, um trabalho realmente João Paulo I, em Belo Horizonte (Minas Gerais), o
inclusivo, valorizando e respeitando as diferenças de foco das cursistas foi promover maior acesso a infor-
seus estudantes. Com base nisso, o grupo planejou mações sobre inclusão para os educadores, tal como
e desenvolveu encontros formativos com educado- para os demais membros da comunidade escolar. As
res da escola e encontrou como resposta imediata cursistas Patrícia Ferreira, Liliane da Silva, Clair Mar-
muito interesse dos colegas em aprender. “A gestão tins e Adriana Faustina, da Escola Alessandra Salum,
da escola sempre teve uma postura favorável à edu- trabalharam com a divulgação do assunto por meio
cação inclusiva e à busca de melhorias para receber de uma palestra, cartilhas e informativos. Destaque
estudantes com deficiência. Quando apresentamos para o grande envolvimento não apenas de profes-
o projeto para a diretora, fomos bem acolhidas”, di- sores e gestores mas também de estudantes, prin-
zem. Então, foram realizadas apresentações e dinâ- cipalmente das turmas de magistério. Esses futuros
micas para promover um novo olhar sobre currículo, professores puderam entrar em contato, em sua
ensino e aprendizagem na perspectiva da educação formação inicial, com o tema da educação inclusiva
inclusiva. Em uma das dinâmicas, foi abordada a e desenvolveram materiais adaptados para alunos
questão do uso da linguagem adequada, mais pró- com deficiência em seus trabalhos de curso.
xima do estudante e de sua vivência, para que ele
aprenda, encontre sentido no que está sendo expos-
to pelo professor.
3. Estratégias pedagógicas
Na Escola Estadual José Joaquim Lages, em Ribei-
rão das Neves (Minas Gerais), os cursistas Hermano
de Sá, Maria Imaculada de Souza e Marselha Araújo
identificaram a dificuldade de estudantes e profes-
sores se comunicarem com Jessica, uma estudante
surda, sem a intermediação da intérprete. Esse foi
o disparador para a elaboração do projeto “Dialo-
gando mais com Libras [Língua Brasileira de Sinais]”,
que teve os próprios estudantes como grandes pro-
tagonistas da atividade. Com apoio da intérprete, a
turma, dividida em grupos, pesquisou os principais
vocabulários e criou vídeos apresentando-os na
língua de sinais. Os temas abordados foram: cum-
Impactos 35
“educação
Os debates sobre
inclusiva
contribuíram
para todos
compreenderem
que os estudantes
com deficiência
são como os
demais, e não uma
responsabilidade do
professor de AEE.
”
Maria Helena Torres, cursista de
Belo Horizonte.
primentos, horários do dia, pronomes, atividades do da comunidade escolar. Além disso, após entrevistas
dia a dia, profissões em geral e no ambiente escolar, com os professores, notou-se falta de conhecimento
lazer, diversão, família, principais pontos da cidade e sobre inclusão, ansiedade e expectativa em relação
materiais escolares. Cada vídeo tinha de 15 a 20 si- à presença destes nas salas de aula. Sendo assim, os
nais de Libras com legenda e nenhum áudio, somen- cursistas focaram estratégias pedagógicas para me-
te música instrumental de fundo, em volume baixo. lhorar a relação entre todos, sensibilizar e aprofundar
Além de se dedicarem com afinco a estudar apostilas o debate sobre inclusão na comunidade escolar.
e CDs sobre Libras e a realizar a gravação e edição
dos vídeos, ao final os grupos apresentaram seu tra- Para efetivar o processo de construção de conheci-
balho para toda a turma e para a diretora da escola, mento dos professores, foram realizadas diversas es-
compartilhando os saberes conquistados. tratégias envolvendo estudantes, professores de AEE
e de sala de aula regular, um trabalho que durou 20
É importante salientar que a dimensão de Estratégias dias, incluindo nele a realização da Semana da Pessoa
pedagógicas não engloba somente a criação ou a com Deficiência, que contou com jogos, brincadeiras
adaptação de conteúdos. É possível abordar questões e danças. Muitos estudantes envolvidos nessas ati-
relacionais, como a comunicacional relatada no proje- vidades frequentam o ensino médio normal, o que
to local acima. A partir de “incômodos” ou percepções mais uma vez merece destaque, pois o curso forma
dessas questões, podem ser construídas soluções en- profissionais para a carreira do Magistério.
tre os agentes da comunidade escolar, visando a uma
instituição mais democrática e participativa. “Orientados pela nossa equipe, os estudantes parti-
ciparam de momentos reflexivos com as dinâmicas,
Na Escola Estadual Marcelino Champagnat, no Recife, visando desenvolver um olhar diferente sobre a indi-
o diagnóstico realizado pelos cursistas evidenciou um vidualidade de cada um”, explicam as cursistas Ana
estranhamento na relação entre os estudantes públi- Regina Gouveia, Andrea Regina de Melo, Antonio
co-alvo da educação especial e os demais membros Carlos Muniz, Izabel Maria França, Maria do Carmo
Impactos 37
minhos para trabalhar a questão da inclusão no am- A sensibilização foi bem recebida e, a partir dela, fo-
biente escolar. A primeira ação foi a realização de ram realizadas diversas atividades na escola, como
conversas com os estudantes para levantar o que jogos, confecção de cartazes, dinâmicas e rodas de
era inclusão para eles e quais experiências eles pos- capoeira, entre outras, sempre abordando a inclusão
suíam de convivência com pessoas com deficiên- e também convidando não só as famílias como de-
cia. As conversas revelaram que muitos não tinham mais atores da comunidade escolar. A participação
contato e afirmaram que não saberiam lidar com as de familiares foi muito marcante no auxílio à apre-
características dessas pessoas, utilizando um pensa- sentação de peças teatrais realizadas pela escola e
mento de senso comum de que escolas segregadas também no projeto Horta Vertical, que, além de jo-
seriam mais adequadas. Os educadores propuseram, vens do 1o ano do ensino médio, envolveu crianças
então, a 120 estudantes de duas turmas do ensino do ensino fundamental em um projeto interdiscipli-
médio e a uma do ensino fundamental passarem nar de iniciativa dos professores de ciências, biologia
por uma experiência de sensibilização cobrindo um e língua portuguesa.
dos olhos para andar a fim de buscar uma aproxima-
ção com alguns impedimentos que as pessoas com As cursistas Maria de Lourdes Leite e Nubia de Paiva
deficiência visual vivenciam cotidianamente. Cabe contam que, depois das diversas atividades realiza-
salientar que esse tipo de simulação tem um risco de das, “há um novo olhar sobre inclusão na nossa esco-
gerar a falsa percepção de que é possível entender la. Esperamos continuar a desenvolver outros proje-
as particularidades de uma pessoa com deficiência tos, contando sempre com o apoio e a participação
visual por meio de uma vivência pontual. dos pais e toda a comunidade”. É válido considerar
que a relação entre as famílias dos estudantes e a
escola não pode acontecer somente em momentos
de crise, para a resolução de problemas e conflitos.
Evidentemente, contar com a participação dos pais
em momentos como esses é de grande importância.
“no
Ao incluir a família
processo de
No entanto, é mais que bem-vindo tê-los lado a lado
com a gestão para planejar e desenvolver atividades.
ensino-aprendizagem,
podemos fazer com 5. Parcerias
que se sintam parceiros “A capacitação profissional tem sido um fator de
muita dificuldade e impeditivo para que os jovens,
e colaboradores, de maneira geral, tenham seu espaço no mercado
aproximando-os dos de trabalho. Devemos então buscar formas para que
princípios da escola, nossos estudantes tenham acesso a cursos profissio-
nalizantes, estabelecendo contato e realizando par-
como o respeito, a cerias com instituições que oferecem esses cursos.”.
solidariedade e a A reflexão foi ponto de partida do projeto desenvol-
democracia.
”
Elma Damasceno, Rosana Goulart,
vido por Marilene Freitas, Marilania de Freitas, Marli
Diniz e Roseli Melo, da Escola Estadual Silvio Lobo,
em Betim (Minas Gerais), que estabeleceu contato
Juliana Duarte, cursistas de Sabará. com instituições que oferecem cursos para inserção
de jovens no mercado de trabalho, como o Serviço
Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), o Ser-
Segundo os cursistas Domício de Souza Júnior, Gi- Pessoa com Deficiência da Prefeitura de Betim. A vi-
sele Aparecida Ferreira, Jane Rodrigues da Silva e sita ao Instituto foi proveitosa e ficou acordado que
Edivanda Maria de Jesus, do grupo Escola Estadual os estudantes da escola seriam bem-vindos para se
Dr. Orestes Diniz, também de Betim (Minas Gerais), cadastrar e participar dos cursos ofertados. O contato
como se preparar para o mercado de trabalho e com a Coordenadoria de Apoio à Pessoa com Defi-
como se comportar dentro dele são questões que ciência da Prefeitura de Betim também rendeu frutos,
precisam ser mais exploradas com os jovens. Além e foi marcada uma palestra para as turmas da escola
disso, pontuam que a oferta de cursos profissionali- sobre a procura e oferta de emprego para pessoas
zantes é ampla, mas poucos são acessíveis a pessoas com deficiência. “Adalgiza Palmério, gerente da coor-
com deficiência. denadoria, demonstrou muito interesse para fazer de
nosso projeto algo permanente e que possa ser ado-
Motivados por essas reflexões, o grupo buscou conta- tado por outras escolas”, contam os educadores.
to com instituições de qualificação profissional para
criar um espaço de diálogo junto aos estudantes da Em ambas as escolas de Betim, a procura por par-
escola. Novamente o Instituto Ester Assumpção foi cerias aconteceu para ajudar os jovens a encontrar
parceiro e, além dele, a Coordenadoria de Apoio à uma colocação no mercado de trabalho e em cursos
Impactos 39
profissionalizantes. Indo além do tema mercado de aprendizagens citadas por professores e gestores
trabalho, o estabelecimento de elos entre escola e estão um novo olhar para o AEE e para a educação
outras instituições — sejam indivíduos, pequenas inclusiva em geral; melhoria no relacionamento com
ou grandes organizações — pode resultar em be- os colegas com foco em compartilhamento de boas
nefícios que contribuam para a inclusão escolar e práticas e união de esforços para encontrar soluções
social. Parcerias podem gerar novos olhares sobre o para problemas; conscientização sobre os direitos
tema, ou ainda enriquecer estratégias e práticas de das pessoas com deficiência; ampliação de conhe-
ensino e, inclusive, apoiar a própria gestão da escola cimentos teóricos e práticos; atenção mais apurada
para que seja mais efetiva e democrática. para as habilidades de cada estudante; e adequação
da prática pedagógica para que todos possam parti-
cipar das atividades propostas.
6. Aprendizagem
O processo de ensino-aprendizagem é complexo, “O curso me ajudou a compreender melhor todo o
ainda mais quando se fala em formatos semipresen- processo de evolução da inclusão. Mudei minha vi-
ciais. Para tentar garantir uma aprendizagem signifi- são sobre o estudante com deficiência e me sinto
cativa a todos os cursistas, o projeto “Ensino Médio mais segura para trabalhar com ele”, conta Sibelle
Inclusivo” utilizou as seguintes estratégias: Renata de Salles Gouvêa Faria, educadora de Belo
Horizonte. A cursista Isa Neves de Oliveira, também
1 de Belo Horizonte, revela o quanto sua prática mu-
contratação de professores especialistas com dou depois do projeto. “Entendi a história da de-
grande conhecimento e larga experiência nas ficiência, a diferença entre inclusão e integração, a
áreas em que trabalham; importância do espaço escolar e, sobretudo, meu
papel na vida dos estudantes com deficiência e na
2 socialização deles com os demais. Agora sei que
garantia de interação ao vivo durante as aulas en- tenho de fazer muito mais por eles, que ainda são,
tre os cursistas e os professores especialistas; infelizmente, mais ignorados do que incluídos”, fala.
“deficiência
Meu trabalho com estudantes com
era mais simplificado, visando
a que não ficassem ociosos durante a
aula. Agora consigo fazer programações
de aulas muito mais produtivas e visando
ao progresso deles também.
Betânia Ferreira Gonzaga,
”
cursista de Contagem.
“fez
Conhecer mais sobre inclusão me
perceber a importância para
os estudantes com deficiência de
frequentar o ensino regular. Antes,
pensava que o melhor para eles eram as
escolas especializadas e achava que eu
jamais teria condições e preparo para
trabalhar com esse perfil.
Claudio da Silva Santos,
”
cursista de Ribeirão das Neves.
“interação
Acredito que todos aprendem na
com o outro e que têm direito
”
de viver e conviver na sociedade.
Maria do Carmo da Silva,
cursista de Recife.
Impactos 41
Considerações finais
“prática
É pensando criticamente a
de hoje ou de ontem
que se pode melhorar a
próxima prática
”
Paulo Freire
Assim como expressa a epígrafe de Paulo Freire, ensino médio em igualdade de condições com seus
acreditamos na ideia de que ação-reflexão-ação são colegas, sendo obrigação das famílias e do Estado a
partes constitutivas do processo educativo. Com garantia desse direito. Essa perspectiva encontra-se
base nos principais resultados gerados pelo projeto também na Lei Brasileira de Inclusão (Lei n. 13.146,
“Ensino Médio Inclusivo — Construindo uma escola de 6 de julho de 2015), que representa o marco re-
para todos”, este capítulo tem como objetivo apre- gulatório mais atual no Brasil.
sentar alguns pontos considerados relevantes para
servir de inspiração, reflexão e desafio para futuras
iniciativas educacionais inclusivas. Art. 27. A educação constitui direito da
pessoa com deficiência, assegurados siste-
Segundo o artigo 24 da Convenção sobre os Direitos ma educacional inclusivo em todos os níveis
das Pessoas com Deficiência (ONU, 2016), para que o e aprendizado ao longo de toda a vida, de
direito à educação seja garantido, os Estados Partes forma a alcançar o máximo desenvolvimento
deverão assegurar um sistema educacional inclusivo possível de seus talentos e habilidades físicas,
em todos os níveis, no qual: sensoriais, intelectuais e sociais, segundo
suas características, interesses e necessidades
a) As pessoas com deficiência não sejam ex- de aprendizagem.
cluídas do sistema educacional geral sob ale-
gação de deficiência, e que as crianças com
deficiência não sejam excluídas do ensino Conforme apresentado anteriormente neste rela-
primário [ensino fundamental] gratuito e tório, as matrículas dos estudantes público-alvo da
compulsório ou do ensino secundário [ensino educação especial no ensino médio têm crescido
médio], sob alegação de deficiência. nos últimos anos. Entretanto, a proporção desses
estudantes em relação ao total de matrículas nes-
Assim, às crianças e aos adolescentes com deficiên- sa etapa de ensino ainda é muito pequena. Um dos
cia não pode ser negada a matrícula e a participação motivos para esse fato é a evasão que ocorre gra-
em escolas comuns, sendo os espaços segregados dativamente ao longo do ensino fundamental e do
considerados inapropriados para esse fim. Impor- próprio ensino médio. Nota-se que os percentuais
tante lembrar que, apesar de a Convenção não citar de matrículas vão decrescendo, conforme se avan-
como compulsório o ensino médio, a Constituição ça nas etapas da educação básica. A figura do fu-
brasileira prevê “educação básica obrigatória e gra- nil da inclusão (apresentado no capítulo Panorama
tuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade”. da educação inclusiva no ensino médio) ilustra esse
Portanto, os estudantes têm o direito a participar do acentuado quadro de exclusão.
Considerações finais 43
Considerando que uma das metas do atual Plano
Nacional de Educação (PNE) é universalizar o ensi-
no médio para toda a população de 15 a 17 anos
com elevação de 85% na taxa líquida de matrícu-
las, os educadores desse nível de ensino têm so-
licitado como um dos assuntos prioritários para
meta 3 do PNE
sua formação o tema da educação inclusiva. Nesse
sentido, o “Ensino Médio Inclusivo” ofereceu a seus Universalizar o ensino médio
participantes repertórios e ferramentas voltados para toda a população de 15
à eliminação (ou redução) de barreiras que impe-
a 17 anos com elevação de
dem a participação dos estudantes público-alvo
da educação especial de forma plena no ambiente
85% na taxa de matrículas
escolar. A partir da análise dos projetos locais de <observatoriodopne.org.br>
intervenção dos cursistas, é possível extrair bons
aprendizados e vislumbrar caminhos para avançar-
mos na oferta de um ensino médio mais inclusivo.
O primeiro ponto a ser destacado foram as ações A respeito do envolvimento da comunidade escolar
de formação sobre o projeto político-pedagógico no desenvolvimento dos projetos locais, foi observa-
(PPP), promovidas pelos técnicos das secretarias do um esforço em busca de fortalecer os múltiplos
de educação participantes. Essa estratégia tem diálogos possíveis, sejam eles entre educadores e es-
uma forte coerência com o que foi proposto ao tudantes, familiares com a escola e dos próprios res-
longo do curso “Ensino Médio Inclusivo”, na medi- ponsáveis com os filhos. Esse panorama rompe, por
da em que esse instrumento permite uma pereni- exemplo, com a cena comum de participação da famí-
zação do tema da educação inclusiva nas unida- lia na vida escolar atrelada a burocracias ou dificulda-
des escolares, ou seja, promove uma mudança de des pedagógicas dos estudantes. Pontuamos, portan-
cultura em médio prazo, colocando os estudantes to, o quão importante é buscar o fortalecimento dessa
público-alvo da educação especial dentro de to- rede de atores que perpassa o ambiente escolar.
das as ações de planejamento e tirando-os pro-
gressivamente da invisibilidade. Explorando um pouco mais a participação das famí-
lias, os cursistas manifestaram grande preocupação
A formação dada pelo “Ensino Médio Inclusivo” com esse aspecto no contexto do ensino médio. Seja
mostrou-se também muito relevante para os gru- pela idade dos estudantes, que muitas vezes não
pos que trabalharam junto à gestão escolar. Como querem essa participação, seja pelos pais, que con-
já discutido anteriormente, a formação em serviço sideram já ter feito sua parte, o cenário inicial nem
é uma ferramenta importante para inserirmos o sempre parte do otimismo. Mais uma vez, é impor-
assunto da educação inclusiva na prática docente, tante repensar como deve ser o envolvimento da
dado que esse tema é ainda pouco abordado em família numa etapa de ensino que possui caracterís-
outras atividades formativas iniciais. Além disso, ticas distintas das demais.
quando a formação ocorre a partir do interesse dos
educadores, de forma territorializada, e tem uma Um dos temas que tangencia esse nível do ensino é
assimilação maior pela comunidade escolar, criam- a inserção dos adolescentes no mercado de traba-
-se perspectivas de uma mudança de cultura local. lho. Alguns dos grupos participantes da formação
Considerações finais 45
AGRADECIMENTOS
Itaú Cultural
Interrogação Digital
Redação
Alexandre Moreira
Beatriz Vichessi
Lailla Micas
Luiz Henrique de Paula Conceição
Edição
Rodrigo Hübner Mendes
Rúbia Piancastelli
Revisão
Raciolina Moreira
Fotos
Pat Albuquerque
Acervo IRM
Capa: Acervo IRM/Goiânia, 2012
Considerações finais 47
Há 20 anos o IRM atua como uma organização sem
fins lucrativos com a missão de colaborar para que
toda pessoa com deficiência tenha uma educação de
qualidade na escola comum. Para isso, desenvolve
programas de pesquisa, formação continuada e con-
trole social na área da educação inclusiva. Seu portal
colaborativo, DIVERSA, oferece artigos, práticas ins-
piradoras e soluções construídas coletivamente por
sua comunidade de usuários.