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ISSN 2446-7014

BOLETIM
GEOCORRENTE

ANO 4 • Nº 67 • 23 DE FEVEREIRO DE 2018

O Boletim Geocorrente é uma publicação quinzenal do Núcleo de NORMAS DE PUBLICAÇÃO


Avaliação da Conjuntura (NAC), vinculado à Superintendência Para publicar nesse Boletim, faz-se necessário que o autor seja
de Pesquisa e Pós-Graduação (SPP) da Escola de Guerra Naval pesquisador do Grupo de Geopolítica Corrente, do NAC e submeta seu
(EGN). O NAC acompanha a Conjuntura Internacional sob o olhar artigo contendo, no máximo, 350 palavras ao processo avaliativo por
teórico da Geopolítica, a fim de fornecer mais uma alternativa para pares.
a demanda global de informação, tornando-a acessível a todos
Os textos contidos neste Boletim são de responsabilidade única
e integrando a sociedade civil aos temas de segurança e defesa.
dos autores, não retratando a opinião oficial da EGN ou da
Além disso, proporciona a difusão do conhecimento sobre crises e
Marinha do Brasil.
conflitos internacionais procurando corresponder as demandas do
Estado-Maior da Armada.
CORRESPONDÊNCIA
O Boletim tem como finalidade a publicação de artigos compactos
Escola de Guerra Naval – Superintendência de Pesquisa e Pós-
tratando de assuntos da atualidade sobre as dez macrorregiões do
Graduação.
globo, a saber: América do Sul; América do Norte e Central; África
Av. Pasteur, 480 - Praia Vermelha – Urca - CEP 22290-255 - Rio de
Subsaariana; Oriente Médio e Norte da África; Europa; Rússia e
Janeiro/RJ - Brasil
ex-URSS; Sul da Ásia; Leste Asiático; Sudeste Asiático e Oceania;
TEL.: (21) 2546-9394 | E-mail: geocorrentenac@gmail.com
Ártico e Antártica, ademais, algumas edições contam com a seção
“Temas Especiais”.
Os textos do BOLETIM GEOCORRENTE poderão ser encontrados
O grupo de pesquisa ligado ao Boletim conta com integrantes de
na home page da publicação:
diversas áreas do conhecimento, cuja pluralidade de formações e
<https://www.egn.mar.mil.br/boletimgeocorrente.php>
experiências proporciona uma análise ampla da conjuntura e dos
problemas correntes internacionais. Assim, procura-se identificar
os elementos agravantes, motivadores e contribuintes para a
escalada de conflitos e crises em andamento, bem como seus
desdobramentos.

ESCOLA DE GUERRA NAVAL


SUPERINTENDÊNCIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
NÚCLEO DE AVALIAÇÃO DA CONJUNTURA
ÍNDICE
CONSELHO EDITORIAL
EDITOR RESPONSÁVEL
Leonardo Faria de Mattos (Egn)

EDITOR CIENTÍFICO
Francisco Eduardo Alves de Almeida (Egn)
AMÉRICA DO SUL
EDITORES ADJUNTOS Mudanças constitucionais no Equador trazem à tona tensões políticas............ 3
Jéssica Germano de Lima Silva (Egn)
Luciane Noronha Moreira de Oliveira (Egn)
AMÉRICA DO NORTE & CENTRAL
Noele de Freitas Peigo (Facamp) Revisão da postura nuclear estadunidense....................................................... 3
________________________________________________________ Rex Tillerson na América Latina......................................................................... 4
PEQUISADORES DO NÚCLEO DE AVALIAÇÃO DA CONJUNTURA
Adriana Escosteguy Medronho (Ehess)
ÁFRICA SUBSAARIANA
André Figueiredo Nunes (Eceme)
A escalada da crise na ‘Ambazônia’................................................................... 4
Ariane Dinalli Francisco (Universität Osnabrück) Renunciar para controlar: a relação entre Zuma e CNA.................................... 5
Beatriz Mendes Garcia Ferreira (Ufrj)
Beatriz Victória Albuquerque da Silva Ramos (Egn)
Carlos Henrique Ferreira da Silva Júnior (Ufrj) EUROPA
A soberania turca e sua relação com a OTAN................................................... 5
Daniel Santos Kosinski (Universidade de Praga)
A economia das Forças Armadas britânicas...................................................... 6
Dominique Marques de Souza (Ufrj)
Ely Pereira da Silva Júnior (Uerj)
Felipe Augusto Rodolfo Medeiros (Egn) ORIENTE MÉDIO & NORTE DA ÁFRICA
Franco Napoleão Aguiar de Alencastro Guimarães (Puc-Rio) Arábia Saudita e Israel: sinais de Mudança Geopolítica no Oriente Médio?..... 6
Gabriela Mendes Cardim (Ufrj)
Gabriela da Conceição Ribeiro da Costa (Uerj)
Gabriele Marina Molina Hernandez (Uff) RÚSSIA & EX-URSS
A “Lista Putin” e seus impactos na corrida eleitoral russa.................................. 7
Giulianna Bessa Reis Anveres (Puc-Rio) Rússia e Japão voltam a negociar uma ação econômica conjunta nas Ilhas
Jéssica Pires Barbosa Barreto (Uerj) Curilas................................................................................................................ 8
João Victor Marques Cardoso (Unirio)
José Gabriel de Melo Pires (Ufrj)
LESTE ASIÁTICO
Karine Fernandes Santos (Ufrj)
Impasses entre China e EUA na América Latina................................................ 8
Lais de Mello Rüdiger (Ufrj)
Para quem vai a medalha de ouro?................................................................... 9
Larissa Marques da Costa (Ufrj)
Louise Marie Hurel Silva Dias (London School of Economics)
Luciane Noronha Moreira de Oliveira (Egn) SUL DA ÁSIA
Luma Teixeira Dias (Ufrj) China considera construir uma base militar no Afeganistão............................... 9
Marcelle Torres Alves Okuno (Ibmec)
Matheus Souza Galves Mendes (Egn)
OCEANIA & SUDESTE ASIÁTICO
Pedro Allemand Mancebo Silva (Ufrj) O estreitamento dos laços de Washington-Hanói............................................. 10
Pedro Emiliano Kilson Ferreira (Universidade de Santiago)
Pedro Mendes Martins (Uerj)
Philipe Alexandre Junqueira (Uerj) ÁRTICO & ANTÁRTICA
A entrada da Colômbia nas negociações antárticas......................................... 11
Rebeca Vitória Alves Leite (Ufrj)
Rita de Cássia Oliveira Feodrippe (Egn)
Rodrigo Abreu de Barcellos Ribeiro (Ufrj)
TEMAS ESPECIAIS
Stefany Lucchesi Simões (Unesp) Veículos não tripulados e o futuro da guerra no ambiente marítimo ................ 11
Taynara Rodrigues Custódio (Ufrj)
Thaïs Abygaëlle Dedeo (Ufrj)
Thayná Fernandes Alves Ribeiro (Ufrj) Artigos Selecionados & Notícias de Defesa........... 12
Victor Eduardo Kalil Gaspar Filho (Puc-Rio)
Vinícius de Almeida Costa (Egn) Referências............................................................ 13
Vinicius Guimarães Reis Gonçalves (Ufrj)
Vivian de Mattos Marciano (Ufrj)
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AMÉRICA DO SUL
Mudanças constitucionais no Equador trazem à tona tensões políticas
Beatriz Mendes

N o início de fevereiro, o governo equatoriano promoveu


um referendo com algumas propostas de mudanças
constitucionais, obtendo a aceitação de ampla maioria
2018), que apesar de estar preso e afastado da esfera política,
ainda representa uma força aliada a Correa dentro do partido
Alianza Pais.
dos populares nas proposições apresentadas. Em meio às Após ganhar as eleições em abril de 2017 com pequena
crescentes tensões políticas, o apoio da sociedade civil ao vantagem (Boletim 49), Lenín Moreno passa a adotar
pleito representa uma ruptura definitiva do atual Presidente, uma postura pragmática e conciliatória com a oposição
Lenín Moreno, com seu antecessor Rafael Correa (2007- conservadora, distanciando-se do modelo de seu antecessor.
2017). A campanha do referendo marcou o acirramento do confronto
Uma das principais medidas aprovadas no referendo foi entre os dois líderes, o que levou Correa a se desligar do
o fim da reeleição indefinida, ficando possível se candidatar Alianza Pais.
duas vezes seguidas a um cargo representativo, mas sem Com isso, Moreno acaba por isolar o partido de duas de
direito a concorrer novamente ao mesmo, após findado o suas figuras centrais - Correa e Glas -, o que torna provável
último mandato. Esta mudança prejudica diretamente Rafael a sua fragmentação. Com a aprovação do referendo, o
Correa, que tinha planos de assegurar a longevidade de seu diagnóstico é de que, devido à expressiva polarização do
projeto político, voltando a concorrer à presidência em 2021. país, a revolução outrora conduzida por Rafael Correa abra
Outra medida é a punição de qualquer indivíduo condenado espaço para mudanças de ordem econômica e para uma
por atos de corrupção, vedando sua participação na vida renovação política, aproximando o Equador da linha de
política do país. Tal ato remete diretamente à campanha governo mais liberal, tendência já observada na maioria dos
anticorrupção que marcou o início do governo do presidente países sul-americanos.
equatoriano, e atinge o ex-vice-presidente Jorge Glas (2013-

AMÉRICA DO NORTE & CENTRAL

Revisão da postura nuclear estadunidense


Jéssica Barreto

N a primeira semana de fevereiro foi lançado nos


Estados Unidos o Nuclear Posture Review (NPR)
para o ano de 2018. Tendo sua última atualização em
documento em relação à posição assumida em 2010, que
corrobora o que Trump vem defendendo desde o início
dos trabalhos sobre a Revisão Nuclear do seu governo
2010, no início do governo Obama, o documento aborda (Boletim 52), é o foco na Rússia e na necessidade de
a doutrina estadunidense sobre o poderio nuclear e uma garantir a balança de poder com o país. Segundo membros
visão do país sobre seus planos, armamentos e projetos do Pentágono, Moscou tem investido no desenvolvimento
de desenvolvimento e modernização. Complementando de armas nucleares táticas, que seriam de menor poder
a Estratégia de Defesa Nacional, lançada pelo Governo explosivo e, caso houvesse um conflito na Europa, os EUA
Trump em janeiro, o documento não traz mudanças para o não seriam capazes de impedir que o país empregasse tais
programa de modernização nuclear, que inclui a atualização armas, por só possuírem armas estratégicas de grande
dos submarinos nucleares da Classe "Ohio" (Boletim 32) poder explosivo.
e a substituição dos Mísseis Balísticos Intercontinentais Mesmo afirmando que o acordo New START está
Minuteman III. Segundo dados de outubro de 2017 do vigente até o ano de 2021, podendo depois ser prorrogado
Departamento orçamentário do Congresso, tais planos por mais cinco anos, o documento ressalta que a Rússia tem
custarão aproximadamente US$ 1,2 trilhões de dólares nos violado seus compromissos envolvendo armas nucleares,
próximos 30 anos. principalmente o Intermediate-range Nuclear Forces
Apesar de conter sessões debatendo sobre a China, Treaty, investindo em novos sistemas. Desta forma, por
Coreia do Norte e Irã, a grande mudança apresentada pelo conta da necessidade de manter a deterrência nuclear do

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país crível, além de reafirmar os planos de modernização de armamentos do país: a volta de um míssil de cruzeiro
da Tríade Nuclear, o NPR traz como proposta a com ogiva nuclear e a opção de ogivas de menor potência
implantação de duas novas capacidades na disponibilidade para os mísseis intercontinentais lançados por submarinos.

Rex Tillerson na América Latina


Victor Gaspar Filho

E m fevereiro, Rex Tillerson, secretário de Estado norte-


americano, visitou cinco países latino-americanos.
No México, juntamente com os secretários de Estado
da importação não é uma ação tão simples, pois muitas
refinarias dos EUA são preparadas exatamente para o
refino do petróleo mais viscoso da Venezuela.
do México e o do Canadá, assinalaram a questão do Precedido de comentários de Trump acerca da
tráfico humano como a prioridade do esforço trilateral. possibilidade de corte de auxílio financeiro ao Peru e à
Abordaram também os temas da ruptura democrática na Colômbia, em virtude de suposto combate malogrado
Venezuela, da renovação do NAFTA, questões energéticas ao narcotráfico, Tillerson realizou visitas a ambos os
e de combate ao narcotráfico. países. O secretário congratulou o presidente peruano
Divergindo de declarações do presidente Trump Pedro Kuczynski pela iniciativa do Grupo de Lima e a
acerca da necessidade de uma solução militar para a crise consequente condenação por parte de catorze países-
venezuelana, Tillerson encontrou consonância nos países membros à ruptura democrática venezuelana. A posição
visitados, onde houve unânime demanda pela reafirmação favorável à desnuclearização da Península Coreana de
do Estado democrático de direito no país sul-americano. Colômbia, Peru e Argentina foi também aclamada por
Até o momento, 21 integrantes do governo venezuelano já Tillerson, salientando a retirada dos diplomatas peruanos
sofreram sanções pela administração Trump por corrupção da Coreia do Norte.
e abuso de poder, incluindo o presidente Nicolás Maduro. Em visita à Jamaica na última etapa da viagem,
Na Argentina, Tillerson conjecturou sobre a o secretário apontou o momento como propício para
possibilidade de interromper a importação do petróleo estreitar os laços com o país, cujo primeiro-ministro
venezuelano pelos Estados Unidos, responsabilizando-se assumirá a presidência da CARICOM. A cooperação na
por não o empreender em detrimento da população daquele área da segurança foi o tópico mais importante na agenda,
país. A Venezuela tem no petróleo a parcela de 95% de com ênfase na continuidade do suporte norte-americano
suas exportações, sendo o terceiro maior exportador para ao patrulhamento conjunto do espaço marítimo jamaicano
os Estados Unidos. Mesmo tendo alcançado em 2017 para combater a crescente criminalidade transnacional no
seu mínimo histórico desde 1991, a interrupção total Caribe.

ÁFRICA SUBSAARIANA

A escalada da crise na ‘Ambazônia’


Franco Alencastro

O que antes eram protestos pacíficos de cunho separatista


ameaçam se transformar em uma insurgência. A crise
no Camarões - onde uma minoria da região anglófona
movimentos separatistas: em outubro passado, cerca
de quarenta civis foram mortos e mais de cem feridos
durante uma manifestação. É possível, contudo, que essa
do sudoeste do país iniciou protestos contra o governo reação violenta por parte do governo esteja alimentando
majoritariamente francófono em 2016, conforme noticiado a determinação dos grupos separatistas, que agora
no Boletim 62 - se intensificou com a prisão, no dia 5 de contam com unidades paramilitares, como os Tigres da
janeiro, dos líderes do movimento separatista, incluindo Ambazônia e o Ambazonia Defense Forces (ADF). Essas
seu presidente Sisiku Ayuk Tabe, que estavam em Abuja, unidades foram as responsáveis por um ataque que, no
capital da Nigéria. A prisão se deu com a cooperação das dia 3 de fevereiro, levou à morte de três combatentes das
autoridades nigerianas. Forças Armadas Camaronesas. A escalada da crise traz
O Estado Camaronês tem reprimido fortemente os também consequências humanitárias: estima-se que 43 mil

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camaroneses tenham cruzado a fronteira com a Nigéria à
procura de refúgio.
Diferentes elementos dessa crise podem ser destacados
para entender seu futuro: primeiramente, a cooperação
entre Nigéria e Camarões - que pode surpreender, uma vez
que a Nigéria é anglófona - se dá como consequência da
aproximação dos dois países no contexto de sua cooperação
militar contra o Boko Haram. Porém, com a iminente
derrota do grupo e com um número cada vez maior de
refugiados do Camarões capaz de causar uma nova crise
humanitária no país, é provável que essa parceria dure
pouco. Além disso, existe a possibilidade de a crise criar
novos desafios e pontos de inserção para o Brasil, uma vez
que Camarões é o caminho natural que nossas tropas e o
material de apoio logístico devem seguir para a Missão
Multidimensional Integrada das Nações Unidas para a
Estabilização da República Centro-Africana (MINUSCA).
Fonte: Wikipedia

Renunciar para controlar: a relação entre Zuma e CNA


Vivian Mattos

D ez anos após a renúncia de Thabo Mbeki (1999-


2008), ex-presidente da África do Sul, a história se
repete com o presidente Jacob Zuma, em 14 de fevereiro
mesmo nas eleições de 2019.
O novo presidente do país, Cyril Ramaphosa, também
líder do partido, governará até 2019 e terá diversos desafios
deste ano. A decisão de Zuma ocorreu em meio à crise pela frente, tendo em vista a atual situação do Estado. A
política, que teve origem em escândalos de corrupção, África do Sul enfrenta a maior seca em três anos, afetando
lavagem de dinheiro, fraudes e agressões que envolviam gravemente a segurança alimentar da população que
diretamente o até então governante, desgastando assim, encara o maior surto de listeriose (infecção bacteriana) do
sua imagem com a população sul-africana. Desta forma, mundo, provocando a morte de mais de 60 pessoas com
o Congresso Nacional Africano (CNA), partido de Zuma, mais de 750 infectados. No cenário político, Ramaphosa
demandou a saída do líder sul-africano em 13 de fevereiro. terá que lidar com a divisão interna do seu partido, além
Caso o presidente não entregasse o cargo, o CNA iria ao de restabelecer a imagem do CNA frente a todos os casos
parlamento iniciar o processo de impeachment. de corrupção em que o partido está envolvido. Ademais,
O envolvimento na renúncia de dois presidentes reforça o o campo econômico certamente será o maior desafio do
poder do CNA, partido governista desde o fim do apartheid, atual presidente. A enorme desigualdade econômica entre
no cenário político sul-africano. Ambos Zuma e Mbeki foram negros e brancos - questão ignorada em anos de governo
envolvidos em casos de corrupção e perderam a aprovação do CNA - e as altas taxas de desemprego (27%) são pontos
popular perto das eleições gerais do país. Dessa forma, a cruciais que devem ser desenvolvidos por Ramaphosa a
saída de Zuma, pressionado pelo CNA, teve como objetivo fim de evitar a queda da supremacia do CNA na África
melhorar a credibilidade do partido, evitando o declínio do do Sul.

EUROPA

A soberania turca e sua relação com a OTAN


Dominique Marques

E m 20 de janeiro deste ano, sob ordem do presidente


Erdogan, a Turquia iniciou a operação “Ramo de
Oliveira” no norte da Síria a fim de combater grupos
considerados terroristas, como o Partido dos Trabalhadores
do Curdistão, a União das Comunidades do Curdistão,
as Unidades de Proteção Popular e o Partido de União

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Democrática. Erdogan considera esses grupos terroristas, já EUA ou da própria OTAN. Mevlüt Çavuşoğlu, ministro das
que são antigos os conflitos entre eles e o Estado soberano Relações Exteriores turco, pediu aos EUA para pararem de
da Turquia pela criação do Curdistão. apoiar os curdos, principalmente, nas regiões de fronteira
Os curdos estão situados majoritariamente na Turquia, com seu país, o que aparentemente foi ignorado por seu
Síria, Armênia, Azerbaijão, Irã e Iraque e representam uma aliado ocidental. Em um clima de crescente tensão entre
das maiores forças de combate ao Estado Islâmico na Síria Ancara e Washington, no último dia 16, em encontro com
e no Iraque, sendo apoiados pelos Estados Unidos (EUA). líderes turcos, o secretário de Estado norte-americano Rex
Porém, para Erdogan, o grupo está se aproveitando do Tillerson reafirmou a parceria entre ambos e indicou que,
vácuo de poder na Síria para criar seu Estado, nas fronteiras juntos, lutarão contra o terror e pela democracia síria. Perder
com a Turquia. Neste sentido, EUA e Turquia, que são seu parceiro geopoliticamente estratégico de 65 anos seria
aliados na Organização do Tratado do Atlântico Norte um grave problema para os norte-americanos. Na Turquia
(OTAN), acabam ficando perigosamente em lados opostos estão posicionadas diversas unidades da OTAN, sendo a
da situação. principal a Base Aérea de Incirlik, onde estão armazenadas
Diante deste fato, a operação turca ao norte da Síria alguns dos artefatos nucleares da organização.
busca proteger suas fronteiras independente do apoio dos

A economia das Forças Armadas britânicas


Matheus Mendes

E m novembro do ano passado, Sir Michael Fallon Bruto (PIB), atualmente oscilando em 2%, conforme
renunciou ao cargo de secretário de Defesa após o estipulado pela OTAN. Vale lembrar que o país é um
denúncias de escândalos sexuais ocorridos em sua vida dos seis membros da organização a atingir esta meta de
investimento.
pregressa. Gavin Williamson assumiu a pasta, mesmo não
possuindo qualquer experiência anterior lidando com as Apesar do aparente declínio em gastos e número de
pessoal, os últimos governos britânicos têm se esforçado
Forças Armadas britânicas. O principal desafio do novo
para manter um nível mínimo de investimento em suas
ministro é o de segurar os constantes cortes aplicados no
Forças Armadas, a fim de cobrir seus gastos e poder
setor, ao mesmo tempo em que enfrenta pressões internas investir na renovação de seu material.
dos militares pela manutenção ou aumento nos gastos, bem
O recente histórico britânico sugere que o país poderá
como por uma revisão estratégica em Defesa e Segurança, aumentar o corte de gastos e pessoal em face do processo de
ainda não confirmada. saída da União Europeia, visto que a incerteza econômica
O Reino Unido conta, atualmente, com 155.474 que paira no ar ainda impacta negativamente a vida
militares, entre ativos e da reserva, de acordo com o último econômica e financeira da Coroa. Embora os efeitos reais
relatório do Ministério da Defesa do país (outubro/17). do “Brexit” devam ser sentidos apenas na próxima década,
Até o final dos anos 1980, terminando a Guerra Fria, os quando ocorre o acordo entre as partes, o planejamento a
britânicos contavam com quase o dobro dessas provisões, médio e longo prazo também é afetado. A própria Revisão
indicando uma queda vertiginosa nos últimos 30 anos. Estratégica de Defesa e Segurança (SDSR, em inglês) de
Ademais, os cortes orçamentários acompanham tal 2015 pode não ser cumprida em virtude do novo contexto
tendência, sobretudo no que concerne à diminuição político-econômico, podendo ocasionar a publicação de
da participação do setor de Defesa no Produto Interno novos documentos estratégicos em breve.

ORIENTE MÉDIO & NORTE DA ÁFRICA

Arábia Saudita e Israel: sinais de Mudança Geopolítica no Oriente Médio?


André Nunes

H á uma nova configuração geopolítica se formando no Um dos impulsionadores deste acercamento foi o
Oriente Médio devido à aproximação entre Arábia Acordo Nuclear Iraniano de 2015, criticado pelos dois
Saudita e Israel, motivada, sobretudo, pela expansão da países por entenderem que tal compromisso proporcionava
tempo para que Teerã desenvolvesse capacidade nuclear
influência iraniana e pelo interesse de ambos em contê-la.

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militar. Dessa forma, um possível Irã nuclearizado e com Em dezembro de 2017, Washington reconheceu
um programa avançado de mísseis balísticos é considerado Jerusalém como capital israelense, conforme já abordado
como ameaça direta à sobrevivência de ambos. Ademais, o no boletim anterior. Nesse contexto a Organização para
Estado persa ficaria fora dos limites de um ataque coercitivo a Cooperação Islâmica (OCI) convocou uma reunião
e poderia garantir maior poder de ação a aliados regionais emergencial, em Istambul, na Turquia, onde reforçou o
estatais ou não. reconhecimento de Jerusalém Oriental como capital da
Com o levantamento das sanções econômicas sobre Palestina. Na conferência da OCI estiveram presentes
Teerã, sauditas e israelenses julgam que um Irã mais forte os estadistas de países como Turquia, Jordânia, Líbano,
no campo econômico pode exercer maior influência –até Kuwait, Catar e Irã. Por outro lado, Arábia Saudita, Egito
mesmo militar – em países como Iêmen, Bahrain, Iraque, e EAU registraram presença por meio de representantes
Líbano e Síria. diplomáticos, o que foi tomado como sinal de impassibilidade
É sabido que Arábia Saudita e Israel não possuem por outros participantes, inclusive o Irã.
relações diplomáticas oficiais, em larga medida por conta Uma das principais razões de entrave para a aproximação
da Questão Palestina. Todavia, indícios apontam uma aberta entre Israel e Arábia Saudita é a Questão Palestina.
aproximação discreta nos setores de inteligência e militar. Nesse sentido, mais do que os israelenses, os sauditas
Em maio de 2015, em uma reunião não confirmada pelos enfrentam um dilema de seguir considerações geopolíticas
atores envolvidos na embaixada norte-americana em Amã, para reprimir a expansão iraniana e, ao mesmo tempo,
na Jordânia, Israel teria oferecido o sistema de defesa manter-se como uma liderança política e religiosa nos
antimísseis “Iron Dome” à Arábia Saudita, Kuwait e mundos árabe e muçulmano.
Emirados Árabes Unidos (EAU).

RÚSSIA & EX-URSS

A “Lista Putin” e seus impactos na corrida eleitoral russa


Pedro Martins

N o dia 17 de fevereiro, o conselheiro especial norte- políticos de alto escalão, como o Primeiro-Ministro
americano Robert Mueller indiciou 13 cidadãos e 3 Dmitry Medvedev, Ministros da Defesa e das Relações
entidades russas. Essa notícia é mais um desdobramento das Exteriores, Serguei Shoigu e Serguei Lavrov, e até
mesmo empresários, como o dono do Chelsea, Roman
investigações acerca do suposto envolvimento de hackers
Abramovich. Apesar de ter como objetivo afetar a imagem
russos nas eleições presidenciais norte-americanas de 2016,
do presidente Putin e de seu governo, a divulgação da
beneficiando o então candidato republicano Donald Trump “Lista Putin” e o indiciamento dos cidadãos russos poderá
em detrimento da democrata Hillary Clinton. Ela vem pouco ter efeito contrário nas eleições russas que acontecerão
tempo depois de o Departamento do Tesouro dos EUA no dia 18 de março, aniversário da reincorporação da
divulgar uma lista de políticos e oligarcas de alto escalão Crimeia à Federação Russa. Uma pesquisa do centro de
russos que poderão ser alvo de sanções norte-americanas pesquisa VTsIOM indica que a visão da população russa
devido à suposta interferência, bem como violações diante dos EUA é majoritariamente negativa (60%); ao
de Direitos Humanos, à reincorporação da Crimeia e a mesmo tempo, a União Europeia também sofre com uma
condução de operações militares no leste da Ucrânia. Acerca visão negativa por parte da população russa (54%).
do indiciamento por parte de Robert Mueller, o ministro Nesse cenário, é improvável que as ações dos EUA,
das Relações Exteriores russo Serguei Lavrov afirma que, no que se referem ao envolvimento russo nas eleições
na inexistência de provas, o indiciamento é apenas um americanas de 2016, sejam vistas como positivas ou
“disparate”. incorporadas na disputa eleitoral russa de março deste
A “Lista Putin”, como foi chamado o documento ano, quando o presidente Putin deve vencer por ampla
publicado pelo Departamento de Tesouro, envolve maioria.

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Rússia e Japão voltam a negociar uma ação econômica conjunta nas Ilhas Curilas
Rodrigo Abreu

N o último dia 06 de fevereiro, diplomatas japoneses e recusou, insistindo que todas as quatro ilhas deveriam
russos voltaram a se reunir buscando avanços para uma voltar a integrar o território japonês. As ilhas em disputa,
disputa territorial entre os dois países envolvendo as Ilhas atualmente sob jurisdição russa, possuem uma grande
quantidade de recursos naturais; além de reservas de ouro
Curilas. O encontro teve como objetivo uma ação econômica
e prata espalhadas pelas ilhas, é possível encontrar na ilha
conjunta na região das quatro ilhas disputadas, distribuída
de Iturup a maior reserva conhecida de rênio — elemento
em 5 áreas: hidrocultura, estufas agrícolas, turismo, energia usado no desenvolvimento de motores de aviões a jato e
eólica e redução de resíduos. turbinas.
As quatro ilhas estão localizadas ao norte da Ilha de
Embora, desde o início das negociações dessa chamada
Hokkaido, no Japão, e ao sul da península de Kamchatka,
“ação econômica conjunta”, em 2016, as autoridades dos
na Rússia. As ilhas foram invadidas pela então União
dois países tenham concordado que a aproximação na
Soviética em 1945, durante a chamada “Operação
área econômica não enfraqueceria a posição de ambos
Tempestade de Agosto”, na qual o Exército Vermelho
quanto à soberania das ilhas, a iniciativa não deixa de
também ocupou, principalmente, a Manchúria e o norte
ter seu valor. Com o foco na região voltado para a crise
da Península Coreana, quebrando o pacto de não-agressão
da Península Coreana, nada indica que Rússia e Japão
entre o Império do Japão e a URSS estabelecido em 1941.
tenham qualquer intenção, pelo menos no curto prazo, em
O Tratado de São Francisco, assinado em 1951, selava
escalar as tensões pelas Curilas.
a paz entre os países aliados e o
Japão, determinando, entre outras
cláusulas, que o Japão deveria
abdicar de suas reivindicações
sob as Ilhas Curilas. No entanto,
a União Soviética não assinou tal
acordo.
O Japão sustenta que as quatro
ilhas em disputa não fazem parte
das Ilhas Curilas e que, portanto,
pertencem ao território japonês.
Após a restauração das relações
diplomáticas entre a URSS e o
Japão, os soviéticos propuseram
um acordo que restaurava a
soberania japonesa sobre duas
das quatro ilhas, mas o Japão
Fonte: DW

LESTE ASIÁTICO

Impasses entre China e EUA na América Latina


Philipe Alexandre

A segunda reunião ministerial do Fórum entre a China e os


33 países-membros da Comunidade de Estados Latino-
Americanos e Caribenhos (CELAC), ocorrida em 22/01, em
de conectar toda a região ao litoral do Pacífico e abastecer as
rotas marítimas para o litoral chinês através da Rota da Seda
Marítima do Pacífico.
Santiago, expôs uma importante mudança geoeconômica e O plano da China para a região segue a lógica "1 + 3
geopolítica. O ministro das Relações Exteriores da China, + 6”. O "1" refere-se ao próprio plano de cooperação. O
Wang Yi, convidou os países da região a participarem do "3" indica as principais áreas de cooperação: comércio,
projeto chinês da Nova Rota da Seda (NRS). Tal atitude investimento e finanças. O "6" prioriza a cooperação em
energia, infraestrutura, agricultura, manufaturas, C&T e
de Yi tornou evidente os interesses de Pequim para o
tecnologia da informação.
continente. A estratégia seria construir infraestrutura capaz

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BOLETIM GEOCORRENTE • ISSN 2446-7014 • N. 67 • Fevereiro | 2018

No ano passado, bancos e instituições chinesas alguns países da região, e também neste mês de fevereiro,
investiram US$ 23 bilhões na América Latina. O Brasil é o comandante do US SOUTHCOM, Almirante Kurt
o maior receptor dos investimentos estrangeiros chineses Tidd, em seu depoimento anual à comissão de defesa do
nos últimos 10 anos, em cerca de US$ 46,1 bilhões. Além Senado, descreveu a presença da China e da Rússia como
do Brasil, a China já é o principal parceiro comercial de as "preocupações mais significativas" para os militares dos
Argentina, Chile e Peru. EUA na América Latina.
Os EUA dão claros sinais de estarem incomodados Dessa forma, percebendo as disputas de poder que se
com a maior atuação dos chineses na América Latina, e já desenham na América Latina, faz-se necessário que os
vêm respondendo a este novo cenário. Como já abordado países da região criem suas próprias estratégias e cooperem
neste boletim, semanas após o Fórum China-CELAC, entre si para lidar com tal cenário.
o secretário de Estado dos EUA, Rex Tillerson, visitou

Para quem vai a medalha de ouro?


Marcelle Torres

D urante as Olimpíadas de Inverno na Coreia do Sul, a a sua imagem internacional e logra o adiamento dos
visita da delegação de alto nível da do Norte, liderada exercícios militares entre Coreia do Sul e EUA. No tocante à
por Kim Yo-jong, irmã de Kim Jong-un; e Kim Jong-nam, escalada na Península Coreana, Seul tenta reduzir as tensões
e melhorar as relações intercoreanas, com a prudência de
presidente do Presidium da Assembleia Popular Suprema e
demonstrar a manutenção da aliança com os EUA. Dessa
considerado chefe de Estado nominal, despertou expectativas
forma, pretende-se convocar o Norte para retomar o diálogo
e preocupações acerca da proposta de uma terceira cúpula com Washington, em resposta ao convite de Kim Jong-un
intercoreana. para uma visita de Moon Jae-in a Pyongyang.
Trata-se da tentativa do presidente Moon Jae-in de
Mais uma vez, a seriedade do regime norte-coreano é
utilizar as Olimpíadas para iniciar um descongelamento das
posta em dúvida. Ademais, a visita do presidente sul-coreano
relações intercoreanas e atingir o cerne: a questão nuclear da
seria suficiente para mudar a narrativa norte-coreana de
Coreia do Norte. Em contrapartida, o Norte visa influenciar
que as armas nucleares são a garantia contra a mudança de
a aliança Coreia do Sul-EUA e aliviar as sanções contra o
regime? Estaremos no espectro entre a brecha proposital do
regime. Enquanto isso, Donald Trump promete mais pressão
Norte, liderada por Kim Yo-jong; e o endurecimento, liderado
contra Pyongyang. Além disso, o comportamento do vice-
por Mike Pence. Moon Jae-in terá dois desafios à frente: 1)
presidente Mike Pence perante a delegação norte-coreana
ser bem-sucedido; 2) administrar as relações Washington–
gerou críticas à diplomacia estadunidense.
Pyongyang e gerir possíveis consequências à aliança de seu
Do ponto de vista estratégico, Pyongyang novamente
país com os EUA. Após a passagem do momento olímpico,
utiliza da diplomacia de esporte como tentativa de melhorar
será possível calcificar algumas respostas.

SUL DA ÁSIA

China considera construir uma base militar no Afeganistão


Rebeca Leite

N o início de 2018, a mídia internacional divulgou que a das regiões tribais do Paquistão e entrar no Afeganistão.
China tem discutido a possibilidade de construir uma Trata-se do Corredor de Wakhan, um pequeno espaço entre
base militar no Afeganistão, na província de Badakhshan, o Tadjiquistão e o Paquistão que compartilha fronteira com
a China. Para Pequim, construir uma instalação militar nessa
fronteira com a província chinesa de Xinjiang. Apesar de
área significaria prevenir incursões, evitando que militantes
agentes do governo chinês negarem a informação, oficiais de
de Xinjiang atravessem o corredor e tentem ataques contra o
segurança do Afeganistão asseguraram que as negociações regime chinês a partir do Afeganistão. Assim, incluir o país
estão em curso e que Pequim se dispôs a prover a estrutura sua zona de influência se dá, dentre outros motivos, pelo
e os recursos necessários para a construção de uma base de aspecto fronteiriço, o que sugere maiores cuidados relativos
infantaria na região. à instabilidade política e de segurança das regiões limítrofes
A província de Badakhshan é conhecida por proporcionar entre ambos.
uma rota ideal para insurgentes islâmicos que procuram fugir

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Além disso, o fato do Afeganistão deter importantes ao passo que o Afeganistão oferece várias oportunidades
reservas de matérias primas despertou o interesse chinês econômicas e estratégicas.
e marcou a relação bilateral ao longo do tempo. Ainda
em 2007, o governo de Cabul assinou um acordo de 30
anos, no valor de US$ 3 bilhões, com a estatal China
Metallurgical Group Corp, permitindo a exploração
de cobre em solo afegão. Atualmente, Pequim está se
empenhando para colocar em prática tal acordo e incluir
outros recursos como lítio, minério de ferro, ouro e nióbio.
O Afeganistão não possui capacidade de explorar estes
recursos, o que desencadeia uma competição geopolítica
entre os grandes países interessados, como China, EUA
e Índia.
Assim, é evidente como um país frágil, devastado
por 17 anos de guerra, torna-se relevante no jogo
internacional devido à sua localização geográfica e
reservas de materiais estratégicos. A China, que não
possui recursos naturais suficientes para suprir o seu
Fonte: Alyson Hurt / NPR
crescimento, procura promover sua agenda na região,

OCEANIA & SUDESTE ASIÁTICO

O estreitamento dos laços de Washington-Hanói


Larissa Marques

A Guerra do Vietnã foi um dos conflitos mais marcantes Nang de 5 a 9 de março, sendo o primeiro deste tipo a
da Indochina devido ao seu teor violento, incluindo visitar um porto vietnamita desde 1964. O propósito é
bombardeios aéreos com armas químicas que ocasionaram reforçar a cooperação de defesa com base em um plano de
ação trienal acordado em outubro de 2017, com foco na
sérias violações aos Direitos Humanos. Todavia, apesar dos
segurança marítima, assistência humanitária e assistência
rastros do conflito que duraram cerca de 20 anos (1955-
em caso de catástrofe e operações de manutenção da paz.
1975), os Estados Unidos são, atualmente, um dos principais
A decisão representa não apenas um aumento da
parceiros comerciais de Hanói.
presença militar dos EUA no Vietnã, mas, sobretudo, uma
O processo de restabelecimento das relações de
aliança para contrabalançar o crescimento do poderio
Washington-Hanói vem acontecendo desde 1995, mas
chinês e fortalecer a relação de segurança entre os dois
foi intensificado durante o último mandato do governo de
países, buscando um "equilíbrio de poder favorável na
Barack Obama, com vistas a ampliar a cooperação na área
região da Ásia-Pacífico".
de defesa. No ano passado, as unidades da Marinha dos
EUA realizaram uma série de exercícios militares com Não apenas o Vietnã, mas uma rede crescente de países
seus homólogos vietnamitas. se sente ameaçada ao observar o aumento militar da China,
particularmente sua posição assertiva e as atividades de
Já em janeiro de 2018, o secretário geral do Partido
construção de ilhas no Mar da China Meridional, haja
Comunista do Vietnã, Nguyen Phu Trong, e o secretário
vista que a influência estratégica sobre essa rota comercial
de Defesa dos EUA, Jim Mattis, anunciaram que o porta-
global, que liga o Nordeste da Ásia ao Oriente Médio e
aviões nuclear USS “Carl Vinson” visitará o porto de Da
à Europa, é o principal motivador de conflitos na região.

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ÁRTICO & ANTÁRTICA


A entrada da Colômbia nas negociações antárticas
Gabriele Hernández

A Armada Nacional da Colômbia anunciou, no início da base, o país passará a vigorar como membro consultivo,
de 2018, seus planos efetivos para a construção da cuja prerrogativa é ter voz ativa na tomada de decisões no
primeira estação antártica nacional. Denominada “Almirante sexto continente.
Padilla”, a base contará com o apoio logístico e operacional A data estimada para a construção da estação é
das Fuerzas Armadas Colombianas, em especial de sua de cinco a dez anos. Atualmente, o país realiza sua IV
Expedição Científica Antártica a bordo do navio “ARC 20
Marinha, funcionando inicialmente como uma base de
de Julio”, embarcação equipada para operações científicas
verão e com planos de ser adaptada para o funcionamento
e militares. A presença permanente do país na região
também durante o inverno. Está prevista para ser construída contará com uma aliança estratégica com os governos do
próxima à região do Estreito de Gerlache, no lado ocidental Chile e dos Estados Unidos e seus respectivos programas
da Península Antártica – a porção com maior concentração antárticos.
de estações no continente. A entrada efetiva da Colômbia como membro
O Programa Antártico Colombiano (PAC) não é consultivo do Tratado pode significar também uma nova
novidade no cenário internacional: a adesão do país ao adesão à Reunião de Administradores de Programas
Tratado se deu em 1989, garantindo à Colômbia apenas Antárticos Latino-americanos (RAPAL), que já conta
uma posição de membro não-consultivo convidado às com Argentina, Brasil, Chile, Equador, Peru e Uruguai;
reuniões em prol da Antártica, sem poder de voto. Durante além da possibilidade de se desdobrar em mais uma
a última década, o PAC participou, ao lado de diversos bem-sucedida aliança brasileira com países vizinhos que
países, em expedições e visitas técnicas às estações dividem interesses em comum na Antártica.
antárticas, bem como na transferência de conhecimento
com países amigos, inclusive o Brasil. Com a instalação

TEMAS ESPECIAIS

Veículos não tripulados e o futuro da guerra no ambiente marítimo


Felipe Medeiros

E m 30 de janeiro, a Agência de Pesquisa do Departamento a partir de navios com convoos menores, como patrulhas e
de Defesa dos EUA (DARPA, sigla em inglês), anunciou corvetas. Cresce, também, a oferta de veículos submarinos
que havia concluído a sua etapa no desenvolvimento do não tripulados, impulsionada pelas possiblidades que
oferecem também no mercado de exploração offshore. O
"Sea Hunter", um veículo de superfície não tripulado (USV,
que chama a atenção no caso específico do "Sea Hunter",
sigla em inglês). O "Sea Hunter" é um USV de 40 metros
todavia, é o fato de seu emprego se dar do lado mais
de comprimento e 140 toneladas de deslocamento com “intenso” do espectro das operações navais, ao contrário
autonomia operacional anunciada de 70 dias. O exemplar de UAVs, tipicamente usados em missões de inteligência,
da DARPA é, na verdade, um protótipo cuja finalização vigilância e reconhecimento.
está agora a cargo da Marinha norte-americana. Quando Ainda que um veículo como o "Sea Hunter" possa
concluído, o "Sea Hunter" estará equipado com sensores estar além das capacidades técnicas e financeiras atuais
e material para guerra antissubmarino e operações de do Brasil, convém que a Marinha observe com atenção
desminagem. o desenvolvimento de USVs, particularmente em suas
Ainda que a embarcação não seja comissionada antes capacidades para guerra anti-minas. A Força de Minagem
de 2019, o "Sea Hunter" é mais um sinal de uma tendência e Varredura encontra-se em avançado estágio de desgaste,
aparentemente irreversível: a da presença cada vez necessitando de uma modernização que lhe devolva a
maior de veículos não tripulados em todas as dimensões capacidade operacional plena. É possível que USVs,
do ambiente marítimo. Veículos aéreos não tripulados adquiridos internacionalmente ou desenvolvidos no
(UAVs, na sigla em inglês) tendem a se tornar cada vez Brasil, operando a partir de navios-patrulha, ofereçam tal
mais presentes à medida que avançam os métodos de capacidade a uma relação custo-benefício superior àquela
recuperação dessas aeronaves, viabilizando sua operação de outras opções.

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ARTIGOS SELECIONADOS E NOTÍCIAS DE DEFESA

• POLITICO MAGAZINE • CLIMATE CHANGE


The War America Isn’t Fighting LNG tanker crosses Arctic in winter
without icebreaker escort
• GEOPOLITICAL FUTURES
A Short History of the Islamic State • ASIAN REVIEW
US and China project 'sharp power' in
• COUNCIL ON FOREIGN RELATIONS the Indian Ocean
A Venezuelan Refugee Crisis
• DW
• EURONEWS Munich Security Conference – the end
Explained: Italy’s general election and of diplomacy?
why it's important for Europe
• USNI NEWS
• PROJECT SYNDICATE SOUTHCOM Tidd Wants More
What Does the US Want in Syria? Surveillance, Coast Guard Cutters to
Stem Illegal Trafficking

• THE HINDU
Old friends: on India-Iran bilateral ties

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REFERÊNCIAS

• Mudanças constitucionais no Equador trazem à tona • A “Lista Putin” e seus impactos na corrida eleitoral
tensões políticas russa
CHARLEAUX, João Paulo. A derrota que interrompeu os planos de MCKENZIE, Sheena; GAOUETTE, Nicole; BORAK, Donna. The full 'Putin
Rafael Correa no Equador. Nexo Jornal. São Paulo, 05 fev. 2018. list' of Russian oligarchs and political figures released by the US Treasury.
ALÓ, Ilana. Democracia: Da promessa teórica e dogmática à experiência Cnn, [s.i], v. 3, n. 1, p.1-3, jan. 2018. . Acesso em: 30 jan. 2018
do poder no Equador. Tese (Mestrado em Direito Constitucional) - SCANNELL, Kara; SHORTELL, David; STRACQUALURSI, Veronica.
Faculdade de Direito, Universidade Federal Fluminense. Niterói, 2013. Mueller indicts 13 Russian nationals over 2016 election interference. Cnn,
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Acesso em 17 Fev 2018. TOKYO TALKS. 06 fev. 2018. Acesso em: 15 fev. 2018.

• Impasses entre China e EUA na América Latina


• Rex Tillerson na América Latina ESCOBAR, Pepe. China’s ‘New Silk Roads’ reach Latin America. Asia
COHEN, Luc. Tillerson raises spectre of US Sanctions on Venezuelan oil. Times, 2018. Acesso em: 18 fev. 2018.
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WOODY, Christopher. Rex Tillerson is talking about drastic action against to U.S. in Latin America. Acesso em: 18 fev. 2018.
one of the world's biggest oil producers — again. Business Insider. 5 de
fev de 2018. • Para quem vai a medalha de ouro?
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Saudi Arabia ‘rejects Israeli offer to supply Iron Dome’. The Times of
Israel, May 23, 2015. Acesso no dia 26 de janeiro de 2018.

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