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Evangelho Integral
Um desafio para a Igreja

Pr. Aguinaldo Castanheira

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A Igreja Evangélica está longe de entender seu papel mais do que importante na
sociedade, que é o de inserir-se no contexto social, cultural e político do seu país. Ela ainda não
se preocupa, na totalidade do seu entendimento, em denunciar a má divisão das riquezas, o
poder nas mãos de poucos – ricos, é claro, e a injustiça social escancarado dentro do seu meio.

Hoje, muitos têm constatado e denunciado as desigualdades e a injustiça, inclusive

setores da Igreja Brasileira. Mas será que ela não está indo para o mesmo caminho que
condena? Os evangélicos não estariam imitando ou reproduzindo dentro das nossas
congregações o modelo de uma sociedade pós – moderna que se preocupa somente consigo
mesma, na base do “um por todos e ninguém por mim?” ou “cada um por si e Deus por todos?”

Se como cristãos não olharmos para as disparidades acontecidas bem perto de nós,
como conseguiremos trabalhar as outras que estão longe? Vemos o mundo crescendo na sua
população e da mesma maneira crescem a fome, a opressão e a violência. Como pode a
Igreja se calar diante desta situação? Se o mundo está em crise de identidade, a igreja está
em crise de caráter.

Não adianta defender a não-permanência da igreja neste mundo, em uma espécie

de teologia da “outra dimensão”, tornando-a um “E.T.” espiritual que não se importa com o que
acontece aqui, nos nossos dias. Quem pensa assim, quer levar o homem apenas uma salvação
“espiritual” – aquela coisa do “fizemos a nossa parte levando a salvação à sua alma”. O resto
ficaria por conta de cada um. Assim, não existe mais uma preocupação com a continuidade do
bem estar da vida humana. Infelizmente, muitos não sabem que a salvação vai bem além disso.
Os ensinos bíblicos demonstram e enfatizam que deve existir também um discipulado social. É
possível levar a salvação através do arroz e do feijão, como tão bem é expresso no lema do
Exército da Salvação: “Sopa, sabão e salvação”.

A realidade vivida em muitas de nossas igrejas mostra um Evangelho faccioso, onde

poucos são lembrados e muitos são os esquecidos. A disparidade é clara, mas pouco vista e,
menos ainda, denunciada. Cristãos estão dentro dos templos cantando cânticos de salvação,
participando apenas de uma parte da realidade bíblica, ouvindo sermões que enfocam uma
realidade inexistente no dia a dia das pessoas em geral e mesmo de muitos crentes, participando
de uma filosofia materialista que dura apenas nos momentos da pregação. Assim, o Evangelho,
que deveria ser integral, torna-se parcial, retido nas quatro paredes do templo. Não se estende
para as ruas, para os lares e bares, para os hospitais e favelas.

Dentro de nossas comunidades, alguns dos piores defeitos mundanos são

reproduzidos. Usamos a mesma maneira mundana para dominar. Os que tem maiores recursos
conquistam os melhores cargos na congregação. Dominam a igreja de tal forma que estabelecem

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um padrão próprio, onde predomina a visão de um “evangelho” com fronteiras denominacionais

e locais.

Será este o caminho?

Mudando os paradigmas da igreja, muda-se sua prática. Exemplo é o conceito

de cura do homem, que tem se tornado em conceito de totalidade. O home é um ser total; então,

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necessita de cura tanto física quanto interior – cura da alma, cura psicológica, cura social. A
igreja precisa saber disto. A falta de preocupação com o estado externo do homem tem levado
inúmeros “salvos” a largarem o Evangelho, porque em muitas situações, o que eles precisam
não era de orações, mas de ajuda, como por exemplo comida e emprego.

Uma evangelização que busca a liberdade tem que se preocupar em perseguir

a justiça. O reconhecimento da injustiça vem primeiramente com a denúncia. Um testemunho
que busca o homem para salvação precisa também ajudá-lo a se levantar neste mundo injusto,
onde somente os mais fortes sobrevivem. Este é o discipulado social que a igreja necessita
retornar.

Jesus, em seus ensinos, mostrava todas as necessidades de mudanças presentes

na vida do indivíduo. Jesus preocupava-se com a qualidade de vida do homem, levando-o
a ajudar outros que também precisavam aprender a viver. Precisamos pregar, mas também
necessitamos olhar para outras necessidades do ser. A igreja precisa voltar a ser denunciadora
das disparidades sociais, estar atenta às necessidades das multidões.

O evangelismo atual tornou-se apenas um modelo de representatividade espiritual,

esquecendo-se das ordenanças bíblicas acerca das boas obras. Ainda precisamos condenar a
miséria, o desemprego, a injustiça e a opressão, acontecidas fora e dentro das igrejas. Pois, se
a igreja abandona o mundo, ela se tornará cada vez mais pagã. O medo do paganismo fez a
igjreja abandonar os preceitos da MISSÃO INTEGRAL, preocupando-se consigo própria e
abandonando a sociedade, entregando-a à influência das religiões que praticam as boas obras.

Timóteo Carriker afirma que a igreja deve sair de suas paredes envolvendo-se com
a missão integral, entendendo o que Jesus enfatiza no Evangelho de seu Reino: “Tive fome, e
me deste de comer; tive sede, e me destes de beber; estive nu e me vestistes. Sendo
estrangeiro, me recolhestes; estando enfermo, ou preso, fostes ver-me.”

O “triunfar” no discurso pastoral não implica que a missão está sendo cumprida
fielmente e que a liberdade está sendo estabelecida.

A realidade não pode mais ser deixada de lado pela teologia pregada nas igrejas;
fazer teologia também é considerar a realidade dos pobres, miseráveis e drogados. Todas estas
situações estão inseridas no contexto da sociedade e, conseqüentemente, nas igrejas, cujos
integrantes são parte da sociedade. O que a igreja tem feito para denunciar e minimizar esta
situação? Pouco – logo, a igreja tem falhado em sua missão.

Nossa esperança é que a igreja evangélica deixe a verdadeira teologia bíblica

espantar o mau agouro da espiritualidade alienada e volte-se para “as bem aventuranças”
da realidade social. Se fizermos isto, o Evangelho chegará aos necessitados por completo,
promovendo a libertação total do homem como um todo: social,
emocional e espiritual.

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