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Hidráulica

Natália Michelan

Cristiano Dorça Ferreira


© 2017 by Universidade de Uberaba

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reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico
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da Universidade de Uberaba.

Universidade de Uberaba

Reitor
Marcelo Palmério

Pró-Reitor de Educação a Distância


Fernando César Marra e Silva

Coordenação de Graduação a Distância


Sílvia Denise dos Santos Bisinotto

Editoração e Arte
Produção de Materiais Didáticos-Uniube

Revisão textual
Márcia Regina Pires

Diagramação
Josiane Sueli do Nascimento

Projeto da capa
Agência Experimental Portfólio

Edição
Universidade de Uberaba
Av. Nenê Sabino, 1801 – Bairro Universitário

Catalogação elaborada pelo Setor de Referência da Biblioteca Central UNIUBE

Michelan, Natália.
M582h Hidráulica / Natália Michelan, Cristiano Dorça Ferreira. – Uberaba : Universidade de
Uberaba, 2017.
172 p. : il.

Programa de Educação a Distância – Universidade de Uberaba.


ISBN 978-85-7777-642-9

1. Hidráulica. 2. Escoamento. I. Ferreira, Cristiano Dorça. II.


Universidade de Uberaba. Programa de Educação a Distância. III.
Título.

CDD 627
Sobre os autores
Natália Michelan

Mestre em Engenharia Civil e graduada em Ciências Biológicas pela


Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp).

Cristiano Dorça Ferreira

Mestre em Engenharia Civil pela Universidade Estadual de Campinas


(UNICAMP). Especialista em Geoprocessamento pela Universidade
Estadual de Campinas (UNICAMP). Graduado em Engenharia Civil
pela mesma universidade. Professor dos cursos de Engenharia Civil e
Engenharia Ambiental da Universidade de Uberaba (Uniube) e do Centro
de Ensino Superior de Uberaba (CESUBE). Gerente de Desenvolvimento
e Projetos do Centro Operacional de Desenvolvimento e Saneamento de
Uberaba (CODAU).
Sumário
Apresentação.............................................................................................................. VII

Capítulo 1 Escoamento Permanente em dutos, perdas de carga:


distribuída e localizada.......................................................... 1
1.1 Classificação dos escoamentos............................................................................... 2
1.1.1 Escoamento permanente em dutos.............................................................. 10
1.1.2 Perda de carga ............................................................................................. 16
1.2 Considerações finais..............................................................................................18

Capítulo 2 Sistema de tubulações........................................................ 21


2.1 Condutos equivalentes...........................................................................................22
2.1.1 Distribuição em marcha................................................................................26
2.1.2 Redes de distribuição de Água.....................................................................28
2.2 Considerações finais..............................................................................................34

Capítulo 3 Estações elevatórias........................................................... 37


3.1 Objetivo básico....................................................................................................... 39
3.1.1 Componentes do sistema ............................................................................39
3.1.2 Altura de elevação..........................................................................................40
3.1.3 Potência ......................................................................................................43
3.1.4 Exercício resolvido.........................................................................................43
3.2 Dimensionamento das tubulações......................................................................... 44
3.2.1 Fórmula de Bresse........................................................................................ 44
3.2.2 Exercício resolvido........................................................................................ 46
3.3 Relações de semelhança....................................................................................... 46
3.3.1 Exercícios resolvidos ................................................................................... 47
3.4 Curvas características............................................................................................ 49
3.4.1 Curvas da bomba.......................................................................................... 49
3.4.2 Curvas do sistema........................................................................................ 51
3.4.3 Curvas de associação de bombas e do sistema de associação................. 53
3.4.4 Exercícios resolvidos.................................................................................... 54
3.5 Escolha da bomba.................................................................................................. 64
3.5.1 Exercício resolvido ...................................................................................... 67
3.6 Cavitação ............................................................................................................... 70
3.6.1 Definição .......................................................................................................70
3.6.2 N.P.S.H – Net Positive Suction Head............................................................71
3.6.3 Pressão atmosférica e pressão de vapor......................................................74
3.6.4 Exercício resolvido ........................................................................................75

Capítulo 4 Vertedores, orifícios e comportas....................................... 77


4.1 Vertedores............................................................................................................... 78
4.1.1 Orifícios......................................................................................................... 86
4.1.2 Comportas..................................................................................................... 92
4.2 Considerações finais...............................................................................................93

Capítulo 5 Escoamento permanente uniforme e dimensionamento


de canais............................................................................. 95
5.1 Escoamento Permanente Uniforme........................................................................96
5.1.1 Principais formas geométricas...................................................................... 97
5.1.2 Dimensionamento de Canais...................................................................... 109
5.2 Considerações finais............................................................................................ 112

Capítulo 6 Energia específica..............................................................115


6.1 Energia Específica................................................................................................ 116
6.2 Considerações finais.............................................................................................124

Capítulo 7 Ressalto Hidráulico........................................................... 127


7.1 Ressalto hidráulico................................................................................................ 128
7.2 Considerações finais............................................................................................ 138

Capítulo 8 Escoamento permanente gradualmente variado em


canais................................................................................. 141
8.1 Escoamento permanente gradualmente variado em canais............................... 142
8.2 Considerações Finais........................................................................................... 161
Apresentação
Prezado(a) aluno(a).

Hidráulica (do grego hydro, água e aulos, tubo, condução) significa


etimologicamente “condução de água”. Sendo assim, hidráulica é o
estudo do conjunto de técnicas relativas ao transporte de líquidos, em
geral, e da água, em particular, em repouso ou mesmo em movimento.
Entendemos que esse estudo é importante para sua formação
profissional, por isso, neste livro, contemplaremos essa temática, a partir
de quatro capítulos, descritos a seguir.

O primeiro capítulo, intitulado Escoamento permanente em dutos,


perdas de carga: distribuída e localizada, discorre sobre o escoamento
permanente de líquidos em dutos e as perdas de cargas durante o
escoamento. Esse tema é importante para as aplicações práticas que
utilizam fluidos.

Os condutos equivalentes e as redes de distribuição de água são tema


do segundo capítulo, intitulado Sistemas de tubulação. Esse estudo
é relevante, no sentido de que o fornecimento de água exerce total
influência no desenvolvimento das cidades, e isso depende de melhorias
progressivas em relação à distribuição desse líquido.

O terceiro capítulo enfoca os conceitos fundamentais das estações


elevatórias, os cálculos necessários da potência dos motores, o
dimensionamento de tubulações envolvidas no sistema de recalque e
o estudo do fenômeno da cavitação. Tais assuntos são imprescindíveis
aos projetos de instalações hidráulicas.
VIII UNIUBE

Vertedores, orifícios e compostas é o título do quarto capítulo. Por meio


dele, você estudará o escoamento em vertedores, orifícios e comportas.
Este é um assunto de grande importância por sua aplicação em diversas
estruturas hidráulicas.

Nas atividades em engenharia que envolvem o uso de recursos


hídricos, normalmente se encontram canais abertos de diferentes
formas e tamanhos. O quinto capítulo deste livro expõe o escoamento
permanente uniforme da água, fato que está relacionado ao escoamento
em canais, ou condutos livres, sendo assim, esse tema será abordado
concomitantemente ao dimensionamento de canais.

Os sextos e os sétimos capítulos abordam dois campos do escoamento


em condutos livres, os quais denominam-se energia específica e ressalto
hidráulico. O oitavo capítulo discorre acerca do escoamento permanente
gradualmente variado em canais, ou seja, parâmetros hidráulicos que
variam progressivamente ao longo da corrente de um canal.

Acreditamos que o estudo desses capítulos de forma integrada


oportunizará a você uma melhor compreensão acerca da hidráulica.

Bons estudos!
Capítulo
Escoamento permanente
em dutos, perdas de carga:
1
distribuída e localizada

Natália Michelan

Introdução
A água não se distribui uniformemente no tempo e no espaço.
Grandes massas ocorrem distantes dos centros populacionais
ou, quando próximas, podem se apresentar impróprias para o
consumo (SILVESTRE, 1979).

A responsabilidade do controle e da distribuição das águas cabe,


normalmente, aos governos e às comunidades, mas os aspectos
técnicos dessas atividades enquadram-se nas atribuições do
engenheiro civil.

Sabendo-se deste fato, Hidráulica (do grego hydor, água, e aulos,


tubo, condução) significa etimologicamente “condução de água”.
Portanto, hidráulica é o estudo do conjunto de técnicas ligadas
ao transporte de líquidos, em geral, e da água, em particular, em
repouso ou mesmo em movimento.

O estudo da Hidráulica envolve os conceitos de hidrostática e


hidrodinâmica. A hidrostática está relacionada com o estudo das
condições de equilíbrio dos líquidos em repouso, e a hidrodinâmica
trata dos líquidos em movimento.

Quando se trata do estudo de Hidráulica, devemos ter em mente


alguns conceitos básicos, como os tipos de escoamento.
2 UNIUBE

Objetivos
• Compreender a definição de escoamento e suas classificações.
• Compreender a especificidade do escoamento permanente
em dutos e suas equações básicas.
• Compreender os fatores adversos que ocorrem em um
escoamento, como as perdas de carga.

Esquema
1.1 Classificação dos escoamentos
1.1.1 Escoamento permanente em dutos
1.1.2 Perda de carga distribuída
1.2 Considerações finais

1.1 Classificação dos escoamentos

A transferência de líquidos em condutos é geralmente usada quando


se quer transportar grandes volumes de determinado produto a longas
distâncias (ASSUMPÇÃO, 2009). O escoamento define-se pelo processo
de movimentação das moléculas de um fluido, umas em relação às outras
e aos limites impostos. Sendo assim, podemos classificá-los de acordo
com alguns pontos importantes:

• Quanto à pressão no conduto:


a. Forçado

A pressão interna é diferente da pressão atmosférica. O conduto é


totalmente fechado e o fluido ocupa toda a seção transversal do conduto,
escoando sob pressão (Figura 1 – d). O movimento do fluido pode efetuar-
se em um ou outro sentido do conduto. São exemplos: tubulações de recalque
UNIUBE 3

e sucção de bombas, tubulações de redes de abastecimento de água,


tubulações de ar comprimido em empresas, gases em hospitais, dentre outros.

b. Livre

O conduto pode ser aberto ou fechado e apresenta uma superfície livre


onde reina a pressão atmosférica, porém, quando fechado, a seção
transversal funciona parcialmente cheia, e o movimento do fluido se faz
sempre no sentido decrescente das cotas topográficas (Figura 1 - a, b e
c). São exemplo: canais fluviais, rios naturais, canaletas, calhas, drenos,
interceptores de esgoto, dentre outros.

Figura 1: Esquema de escoamentos Livres e Forçado.


Fonte: Adaptado de Azevedo Netto, (1998).

• Quanto à trajetória das partículas:

a. Laminar

A estrutura do escoamento é caracterizada pelo suave movimento do fluido


em camadas ou lâminas que não se misturam (Figura 2 - a), em geral, esse
escoamento ocorre em baixas velocidades e ou em fluidos muito viscosos.
A força da viscosidade predomina sobre a força de inércia.

b. Turbulento

A estrutura do escoamento caracteriza-se pelo movimento caótico das


partículas que se superpõem ao movimento médio (Figura 2 - b). Existem
4 UNIUBE

partículas em sentido contrário ao escoamento, partículas em sentido


transversal ao escoamento, partículas mais lentas, mais rápidas, ou
seja, movem-se em trajetória irregulares, ocupando diversas posições
na seção reta ao longo do escoamento. A força de inércia predomina
sobre a força de viscosidade.

Figura 2: Esquema de fluxos de escoamentos laminar e turbulento.


Fonte: Picolo, Rühler e Rampinelli (2014).

Osborne Reynolds publicou um estudo acerca do comportamento do


escoamento dos fluidos e verificou que esse comportamento depende
da viscosidade e da velocidade do fluido, da rugosidade e do diâmetro
da tubulação. A denominação Número de Reynolds (Re) foi atribuída
pela equação abaixo:

Em que:

é a massa específica (kg/m³), é a velocidade média do escoamento


(M/s), é a dimensão geométrica característica (m), é a viscosidade
dinâmica (kg/m⋅s) e é a viscosidade cinemática (m²/s).

O valor de é aplicado em relação ao tipo de conduto, sendo que,


no conduto livre consideramos o raio hidráulico e em conduto forçado
o diâmetro, e também em relação ao fluxo de escoamento, no qual são
definidos os números de Reynolds, conforme mostra a Tabela1:
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Tabela 1: Número de Reynolds


Condutos Livres Forçados
Rh – raio hidráulico D – diâmetro
Laminar <500 <2300
Transição 500 a 1000 2300 a 4000
Turbulento >1000 >4000
Fonte: Caracterização... (2016).

• Quanto à variação no tempo:


a. Permanente

As propriedades e características hidráulicas do escoamento não variam


com o tempo. Há, portanto, constância das características do escoamento no
tempo, em uma seção definida, as grandezas físicas de interesse não variam
com o decorrer do tempo, em um ponto previamente escolhido do fluido,
assim sendo, a relação destas grandezas, temos que são iguais a zero:

Em que:

é a massa específica (kg/m³), é a pressão (N/m2) e é a velocidade


média do escoamento (m/s).

b. Variável

O escoamento apresenta variações das características e propriedades


com o tempo, portanto, as grandezas físicas em relação ao tempo são
diferentes de zero:

Em que:
é a massa específica (kg/m³), é a pressão (N/m2) e é a velocidade
média do escoamento (m/s).
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• Quanto à trajetória do escoamento:

a. Uniforme

A velocidade é constante em módulo, direção e sentido, em todos os


pontos do escoamento, ou seja, não há mudança na magnitude e direção
das grandezas físicas ao longo do escoamento. Exemplo: em condutos
de seção constante, grande extensão e declividade zero, a altura da
lâmina d’água é sempre constante.

Em que:

é o vetor velocidade (cm/s) e é um deslocamento em qualquer


direção.

b. Variado

A velocidade varia ao longo do escoamento. Exemplo: condutos com


vários diâmetros, canais com seções diferenciadas e declividades
variadas.

Em que:

é o vetor velocidade (cm/s) e é um deslocamento em qualquer


direção.

• Quanto ao número de dimensões envolvidas

Todos os escoamentos são tridimensionais, porém, por meio de


simplificações, podemos considerá-los:
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a. Unidimensionais

As variações das grandezas (pressão, velocidade, massa específica


etc.) na direção transversal ao escoamento são desprezíveis (Figura 3)
ou podem ser tomados seus valores médios, são funções exclusivas de
somente uma coordenada de espaço e de tempo. Exemplo: escoamento
em condutos forçados.

Figura 3: Escoamento Unidimensional.


Fonte: Introdução... (2016).

b. Bidimensionais

As variações das grandezas podem ser expressas em função de duas


coordenadas apenas, ou seja, num plano paralelo ao do escoamento
(Figura 4), não havendo variação do escoamento na direção normal aos
planos. Exemplo: escoamento sobre vertedores ou asas de aviões.

Figura 4: Escoamento Bidimensional.


Fonte: Introdução... (2016).
8 UNIUBE

c. Tridimensionais

Escoamentos tridimensionais dependem de três coordenadas espaciais (x,


y e z) requeridas na especificação do campo, conforme mostra a Figura 5.
Exigem para sua análise métodos matemáticos complexos, por exemplo,
um rio.

Figura 5: Escoamento Tridimensional.


Fonte: Introdução... (2016).

• Quanto à velocidade angular das partículas:

a. Rotacionais

Quando as partículas do líquido, numa certa região, possuem rotação


em relação a um eixo qualquer, ou seja, o movimento de rotação das
partículas do fluido será diferente de zero:

b. Irrotacionais

Quando as partículas do líquido não possuem rotação, o movimento de


rotação das partículas do fluido será igualado a zero:

Tomamos como exemplo uma pequena circunferência leve, colocada


sobre a superfície livre de um escoamento, a circunferência faz
movimentos giratórios ou não.

• Quanto à variação da massa específica do fluido:


a. Incompressíveis
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O escoamento para o qual a variação da massa específica é desprezível,


o que acontece com a maioria dos líquidos, com exceção do fenômeno
da cavitação.

b. Compressíveis

As variações da massa específica não são desprezíveis, é o que


acontece com a maioria dos gases.

• Quanto à viscosidade:

a. Viscosos

Todos os escoamentos são viscosos, e os efeitos da viscosidade não


podem ser desprezados, pois o fluido apresenta uma resistência ao
deslizamento, o que provoca a perda de energia.

b. Não viscosos

Consideramos um fluido não viscoso o fluido ideal, ou seja, de


viscosidade nula.

• Quanto à posição onde ocorrem:

a. Internos

Completamente limitados por superfícies sólidas, temos como exemplo


o escoamento em condutos, onde deve-se levar em conta as perdas de
energia, quedas de pressão e cavitação.

b. Externos

Ocorrem no entorno de corpos imersos em fluidos ilimitados, no qual os


campos de velocidade, sustentação e arrasto são as grandezas mais
importantes deste tipo de escoamento.
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1.1.1 Escoamento permanente em dutos

Quando as propriedades do fluido em um ponto do campo não mudam


com o tempo, o escoamento é denominado escoamento em regime
permanente. Neste tipo de escoamento, as propriedades podem variar
de ponto para ponto no campo, mas devem permanecer constantes em
relação ao tempo para um dado ponto qualquer (ANDRADE, 2016).

• Equação da continuidade
A equação da continuidade é a equação da conservação da massa
(Figura 6) expressa para fluidos incompressíveis (massa específica
constante), ou seja, a massa que entra é igual à massa que sai, conforme
mostra a Figura 6.

Figura 6: Lei da conservação da massa.


Fonte: Equações... (2016).

Em um tubo de corrente de dimensões finitas, a quantidade de fluido com


massa específica que passa pela seção , com velocidade média
, na unidade de tempo é:

Por analogia, na seção 2, tem-se:

Em se tratando de regime permanente, a massa contida no interior do


tubo é invariável, logo:
UNIUBE 11

Esta é a equação da conservação da massa. Tratando-se de líquidos,


que são praticamente incompressíveis, é igual a . Então:

ou

A equação da continuidade mostra que, no regime permanente, o volume de


líquido que, na unidade de tempo, atravessa todas as seções da corrente é
sempre o mesmo, ou seja, se a velocidade média no ponto 2 ( ) é menor que a
velocidade média no ponto 1 ( ), para uma vazão constante, obrigatoriamente
a área do escoamento deve aumentar, isto é, > , então > ,
conforme mostra a Figura 7.

Figura 7: Equação da continuidade.


Fonte: Equações... (2016).

Consideremos a água que sai de uma torneira e se move para baixo,


na direção vertical. Por efeito da interação gravitacional, o módulo da
velocidade de escoamento da água aumenta, enquanto ela se afasta
da torneira, num referencial fixo no solo. Então, pela equação da
continuidade, à medida que o módulo da velocidade aumenta, a área da
seção reta do jato de água diminui (GEF, 2016).

• Equação da Energia de Bernoulli


Aplicando-se a equação de Euler (equações gerais do movimento) aos
líquidos em movimento permanente, sob a ação da força gravitacional
e em dois pontos de uma tubulação, tem-se, segundo a 1ª Lei da
Termodinâmica, que:
12 UNIUBE

Ou seja:

Em que:

- carga de posição, carga altimétrica, deve obrigatoriamente estar


relacionada a um referencial ou DATUM;

- carga de pressão, carga piezométrica;

→ carga de velocidade, carga cinética ou taquicarga;

→ energia adicionada ou trabalho realizado (se utilizamos a energia


disponível do sistema, ou seja, retirando energia do sistema, o sinal é
positivo, trata-se de uma turbina; se cedemos energia ao sistema, ou
seja, adicionando energia ao sistema, o sinal é negativo, trata-se de uma
bomba).

→ perda de carga.

Energia perdida em forma de calor não contribui para o movimento do


fluido, que é o que importa em Hidráulica.

Em obras prontas, é facilmente calculado em função dos valores


tabelados para os equipamentos e acessórios que fazem parte da rede
hidráulica e as variáveis do processo são medidas (vazão, comprimentos
etc.). Prever é o grande desafio da Hidráulica! Estes estudos foram
facilitados após a definição de camada limite feita por Ludwig Prandtl em
1904. Em que o , que é o coeficiente de energia cinética ou de Coriolis,
é um fator de correção pelo fato de utilizarmos a velocidade média no
UNIUBE 13

lugar da velocidade real (função do diâmetro). O fator não é uma


constante, decresce com crescimento da velocidade, então, este aparece
na expressão da energia cinética, para representar a relação que existe,
para uma dada seção, entre a energia real e energia que se obteria
considerando uma distribuição uniforme de velocidades.

Sendo:

= componente vertical da velocidade;

= Diferencia de área correspondente a velocidade;

= Velocidade média;

= Área total;

para condutos forçados com escoamento laminar , para escoamento


turbulento ; e, para condutos livres . Para
fins didáticos, adotaremos .

Para a análise das energias associadas ao fluido , adotamos o


sistema de referência DATUM.

a. Energia potencial → estado de energia do sistema devido a


sua posição em relação ao DATUM.

b. Energia de pressão → corresponde ao trabalho potencial das


forças de pressão que atuam no fluido.
14 UNIUBE

c. Energia cinética → estado de energia do sistema, determinado pelo


movimento do fluido.

Somando-se as energias descritas, temos:

Se dividirmos todos os termos pelo peso do fluido

é a carga do sistema, isto é, a energia por unidade de peso do fluido


e sua unidade tem dimensão de comprimento (m, in, ft). Na equação de
Bernoulli, todos os termos têm dimensão de comprimento, pois ela é uma
equação homogênea.

Em condutos forçados, conforme mostra a Figura 8:

Figura 8: Plano de carga em condutos forçados.


Fonte: Equações... (2016).

Em condutos livres, conforme a Figura 9:


UNIUBE 15

Figura 9: Plano de carga em condutos livres.


Fonte: Equações... (2016).

Em que: LPE – Linha Piezométrica Efetiva , LCE – Linha


cinética efetiva , PCE – Plano de Carga Efetivo .

Quando a velocidade do escoamento é zero, isto é, o fluido está parado e


não há bomba ou turbina no sistema, a Energia cinética é zero ;
não há perda de carga e não há energia adicionada ou trabalho
realizado , assim, a equação de Bernoulli passa a ser:

Porém, se considerarmos o fluido como ideal e não há bomba


ou turbina no sistema, não há perda de carga , não há energia
adicionada ou trabalho realizado , a equação de Bernoulli
passa a ser:
16 UNIUBE

1.1.2 Perda de Carga

A perda de carga é a diminuição de energia que o fluido sofre ao longo do


percurso, até seu destino final. Ela é fruto do atrito entre as camadas de
fluido, quando o escoamento é laminar, e fruto das singularidades, como
estrangulamentos (orifícios de válvulas) e curvas. Por outro lado, quando
o escoamento é turbulento, essa energia se perde pelo movimento
desordenado do fluido na tubulação (BARBOSA, 2016).

• Perda de Carga Distribuída


O escoamento de um fluido numa tubulação é acompanhado de perda
contínua de carga de energia de pressão devido ao atrito das partículas
do fluido e à rugosidade das paredes internas da tubulação. Esta perda
de carga é chamada de distribuída e simbolizada por hf.

Logo, ao calcular a carga entre a entrada e a saída de


um trecho longo e reto, pode-se observar uma queda da mesma.

Para condições de escoamento, a equação da energia entre as seções


de entrada e saída fica:

A diferença de pressão pode ser obtida pela equação manométrica:

Para a determinação do hf, pode-se empregar também a seguinte


expressão empírica:

Em que: é o coeficiente da perda de carga distribuída; é o


comprimento do trecho e é o diâmetro hidráulico da tubulação.

• Perda de Carga Localizada


UNIUBE 17

O escoamento em uma tubulação pode exigir a passagem do fluido


através de vários acessórios, curvas ou mudanças súbitas de área.
Perdas de carga são encontradas, sobretudo, devido à separação do
escoamento (LOUREIRO, 2016).

As perdas de carga localizadas tradicionalmente são calculadas de duas


formas:

Em que: o coeficiente de perda K deve ser determinado


experimentalmente para cada situação, ou:

Em que: é o comprimento equivalente de um tubo reto.

Uma entrada mal projetada de um tubo pode causar uma perda localizada
considerável. Se a entrada tiver cantos vivos, a separação do escoamento
ocorre nas quinas e uma “veia contraída” é formada. Já em uma saída
não é possível melhorar o coeficiente de perda de carga localizada, pois
a energia cinética é completamente dissipada quando o escoamento
descarrega de um duto para um grande reservatório ou câmara,
entretanto a adição de um difusor pode reduzi-la consideravelmente
(LOUREIRO, 2016).

As perdas de carga causadas por variação de área podem ser reduzidas


com a instalação de bocais ou ainda com difusores entre as duas seções
de tubo reto.

Quanto às perdas causadas por válvulas e acessórios, em geral, podem ser


expressas em termos de um comprimento equivalente ao de um tubo reto.
18 UNIUBE

1.2 Considerações finais

Esta primeira parte do estudo de Hidráulica é baseada no entendimento


de escoamentos de fluidos, assunto estudado enfaticamente em Mecânica
dos Fluidos, de extrema importância para as aplicações práticas nas
Engenharias que utilizam fluidos como: água, gases, dentre outros.

Em se tratando de escoamentos, situações adversas podem ocorrer,


como é o caso das perdas de carga, que terá aplicação prática, além da
disciplina de Hidráulica, em Instalações Hidráulicas e Sanitárias, e estas
perdas de cargas apresentam especificidades, ou seja, detalhes que
necessitam de estudos mais aprofundados.

SAIBA MAIS

PORTO, Rodrigo de Melo. Hidráulica básica. 4 ed. São Carlos: EESC-USP,


2006. 520 p.

Referências

ANDRADE, Alan Sulato. Máquinas hidráulicas. UFP. Disponível em: <http://www.


madeira.ufpr.br/disciplinasalan/AT087-Aula04.pdf>. Acesso em: 07 jan. 2016.

ASSUMPÇÃO, Alexandre Hastenreiter. Modelagem em regime permanente


de escoamento em dutos com abertura de coluna líquida. 2009. 126 f.
Dissertação (Mestrado) - Curso de Ciências em Engenharia Mecânica,
Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2009.

BARBOSA, João Paulo. Hidráulica aplicada: escoamento de fluidos em


condutos livres – canais. UNINASSAU. Disponível em: <https://www.passeidireto.
com/arquivo/10818654/escoamento-em-condutos-livres/2>. Acesso
em: 07 jan. 2016.
UNIUBE 19

INTRODUÇÃO aos fluidos em movimento. Fenômenos de transporte. Disponível


em: <http://slideplayer.com.br/slide/350762/>. Acesso em: 07 jan. 2016.

PORTO, Rodrigo de Melo. Hidráulica básica. 4. ed. São Carlos:


EESC-USP, 2006. 520 p.

SILVESTRE, Paschoal. Hidráulica geral. 1. ed. Rio de Janeiro: Livros


Técnicos e Científicos Editora S. A., 1979. 316 p.
Capítulo
Sistema de tubulações
2

Natália Michelan

Introdução
Tubulações vão de um canto a outro transportando uma vazão
constante, por um só tubo, ou por dois, ou até mesmo por mais
tubos menores instalados, de diâmetro menor, ou maiores, fazendo
que chegue mais ou menos água em cada sistema de tubulações.
Os condutos equivalentes a outro sistema ou a uma tubulação
simples são capazes de conduzir uma mesma vazão com a
mesma perda de carga total, ou seja, com a mesma energia.

Porém, nem sempre a vazão de entrada em uma tubulação é igual


à vazão de saída, ocorrendo o que se denomina de distribuição em
marcha, ou seja, existem diversas derivações ao longo desse percurso,
onde a água vai sendo consumida e de cada um desses pontos para
jusante a vazão é menor que a anterior (NETTO et al., 1998).

Para o abastecimento de água de uma cidade, há uma infinidade


de sistemas que conduz água para os pontos de consumo (prédio,
indústrias etc.). Esses sistemas são formados por um conjunto
de tubulações e peças especiais dispostas convenientemente de
forma a garantir o bom atendimento dos pontos de consumo.

Em projetos, as divisões das redes de distribuições nem sempre


ocorrem ou são suficientemente claras, mas podem facilitar
22 UNIUBE

a manutenção e operação do sistema, minimizar problemas,


permitindo ainda realizar novas ligações facilmente com a
tubulação em carga.

Objetivos
• Compreender o escoamento de água em condutos
equivalentes em série e em paralelo.
• Compreender a distribuição de água por meio de condutos
derivados em marcha.
• Compreender a classificação dos sistemas de distribuição de
água, bem como as maneiras de dimensionamento.

Esquema
2.1 Condutos equivalentes:
2.1.1 Distribuição em marcha
2.1.2 Redes de distribuição de água
2.3 Considerações finais

2.1 Condutos equivalentes

Um conduto é equivalente a outro ou a outros quando escoa a mesma


vazão sob a mesma perda de carga total. Pode-se ter uma gama de
condutos equivalentes, porém apresentaremos aqui os mais importantes,
são eles: os condutos equivalentes simples, os em série e os em
paralelo. Para a medição da perda de carga, utilizaremos a expressão
de Hazen-Williams:
UNIUBE 23

Que pode ser transformada em:

Ela é usada para tubos com diâmetros acima de 50mm, em que:

é a vazão (m³/s); diâmetro (m); perda de carga unitária (m/m);


coeficiente que depende da natureza do material empregado na
fabricação dos tubos e das condições de suas paredes internas.

Além desta, a fórmula de Darcy-Weisbach vem sendo cada vez mais


usada para a medição da perda de carga:

Ela serve para todos os diâmetros, para qualquer material e para qualquer
fluido, desde que seja determinado corretamente o valor do coeficiente
de atrito .

• Tubulações Simples
A comparação de tubulações simples leva sempre a um dos seguintes
casos:

a. Tubulações de mesmo diâmetro e coeficientes de rugosidade


diferentes. Para a fórmula de Hazen-Williams:

Para Darcy-Weisbach, para aplicar a fórmula em dois condutos:


24 UNIUBE

a. Para tubulações com o mesmo coeficiente de rugosidade,


mas com diâmetros e comprimentos diferentes, adotamos:

Em que: na fórmula de Hazen-Williams, e , e na fórmula


de Darcy-Weisbach, e .

Esta análise e das demais situações dos condutos apresentam uma


contribuição de caráter prático, que permite a rápida transformação de
um sistema complexo de tubulações em um conduto equivalente de
diâmetro pré-determinado.

• Condutos em série
As perdas de cargas se somam para uma mesma vazão, assim, ao
observarmos a Figura 1, temos condutos em série, que são constituídos
por trechos de tubulações ( )com diâmetros diferentes ( ).

Figura 1: Esquema de condutos em série.


Fonte: Guedes, (2015).

Em que: Q é a vazão, e pelos trechos do conduto circula a mesma vazão


e os comprimentos podem não ser iguais, sendo: a perda de carga
contínua no trecho de comprimento e diâmetro , consequentemente,
o mesmo em e , assim temos que:
UNIUBE 25

Desprezando-se as perdas de carga acidentais, a linha de carga


piezométrica pode ser representada continuamente. Desta forma, quanto
menor o diâmetro, maior a perda de carga (para uma mesma) e maior
também a inclinação da linha piezométrica. Assim, para a solução deste
problema, devemos substituir a tubulação por um conduto único, de único
diâmetro de comprimento e diâmetro , ou seja:

Simplificadamente temos que:

Se utilizarmos a fórmula de Hazen-Willians, teríamos multiplicando o


coeficiente .

• Condutos em paralelo
Este sistema é mais complexo que o sistema em série, pois é composto
de vários condutos que têm em comum as extremidades iniciais e finais,
conforme mostra a Figura 2. Sendo que a vazão inicial se divide entre
os entroncamentos, de acordo com suas características e, no final,
reencontram-se e voltam a assumir o mesmo valor.

Figura 2: Esquema de condutos em paralelo.


Fonte: Guedes, (2015).
26 UNIUBE

É possível substituir os condutos paralelos por um único equivalente, o


que é vantajoso, pois apresentarão a mesma vazão sob a mesma perda
de carga total. Obtendo a vazão e/ou a variação de altura:

Ou seja, quanto à perda de carga total, apresenta-se a mesma para cada


conduto. Assim, havendo um conduto de diâmetro e comprimento
capaz de transportar a vazão sob a perda de carga total , obtemos
a seguinte igualdade:

Se os comprimentos foram iguais, não se aplica na fórmula o .

2.1.1 Distribuição em marcha

Consiste no momento em que a água é distribuída por meio de várias


derivações dos condutos, temos como exemplos os sistemas de
abastecimento público de água e os sistemas de irrigação. Nestas
situações, é difícil determinar as vazões e as perdas de carga entre duas
derivações sucessivas, pois apresentam número elevado de derivações,
seu funcionamento é intermitente, o escoamento não permanente,
apresentando variações graduais.

Isto deve-se ao fato de a vazão consumida em um percurso ser feita de


modo uniforme ao longo da linha de distribuição, Figura 3.

Figura 3: Esquema de distribuição em marcha.


Fonte: Vazão... (2016).
UNIUBE 27

A vazão que é distribuída no sistema ( ) é definida por:

Em que: consiste na vazão distribuída, é a vazão montante e


a vazão montante, todas em m³/s.

Para fins de projeto de engenharia, admite-se que, havendo distribuição


em marcha, esta será uniforme em cada trecho elementar do conduto,
sendo a vazão unitária distribuída no trecho (m³/s.m = vazão volumétrica
por metro de tubulação):

Para o cálculo das vazões a montante e a jusante, temos:

A perda de carga diminui ao longo do percurso, assim, para o cálculo


da perda de carga ( ), deverá ser usada uma vazão fictícia
ou equivalente, isto é, uma vazão constante que, percorrendo toda a
extensão do conduto, produz a mesma perda de carga verificada ao
longo do percurso quando acontece a distribuição em marcha.

Adota-se , pois, se usarmos a vazão de montante, , a perda de


carga será superdimensionada, já que nos pontos a jusante estaremos
usando para o cálculo uma vazão muito maior do que a que realmente
percorre o conduto, e se usarmos a vazão de jusante, , a perda de
carga será subdimensionada, já que nos pontos a montante estaremos
usando para o cálculo uma vazão muito menor do que a que realmente
percorre o conduto.

Sendo assim, temos que:


28 UNIUBE

2.1.2 Redes de distribuição de água

As redes de distribuição de água são um conjunto de tubulações,


acessórios, reservatórios, bombas etc., que tem por finalidade atender,
dentro de condições sanitárias, de pressão e de vazão convenientes, a
cada um dos diversos pontos de consumo de uma cidade ou setor de
abastecimento.

As redes de distribuição são compostas por condutos principais ou


troncos, que apresentam diâmetros maiores e abastecem os condutos
secundários, que, por sua vez, apresentam diâmetros menores e
abastecem os pontos de consumo.

Denominam-se nó todos os pontos de derivação de vazão e os pontos de


mudança de diâmetro dos condutos. Já os trechos são tubulações entre
dois nós, e o final de rede ou extremidade morta, onde não há vazão
( ), chamamos de ponta seca.

Existem essencialmente dois tipos de redes de distribuição em condutos


forçados: as redes ramificadas e as redes malhadas.

• Redes Ramificadas
Nas redes ramificadas, Figura 4, a circulação da água nos condutos tem
sentido único, e o sentido da vazão é conhecido em qualquer ponto.
Funcionam a partir de uma tubulação tronco, que pode ser alimentada
por gravidade ou por bombeamento, e a água é distribuída diretamente
para os condutos secundários.

Figura 4: Esquema de rede ramificada.


Fonte: Captação... (2016).
UNIUBE 29

Seu grande inconveniente está no fato de que todo o abastecimento


fica sujeito ao funcionamento de uma única canalização principal. Uma
interrupção acidental em um conduto mestre prejudica sensivelmente as
áreas situadas a jusante de onde ocorreu o acidente.

Pode ser classificada como espinha de peixe, mostrada na Figura 5, nas


quais os condutos principais derivam de um conduto central e se dispõem
de modo que lembram a espinha do animal.

Figura 5: Rede ramificada com traçado em espinha de peixe.


Fonte: Reservatórios... (2016).

Outra modalidade é a de grelha (Figura 6), em que os condutos principais são


paralelos, tendo uma de suas extremidades ligada a outro conduto principal.

Figura 6: Rede ramificada com traçado em grelha.


Fonte: Reservatórios... (2016).

Calcula-se a vazão por metro linear de conduto, por meio da seguinte


expressão:
30 UNIUBE

Em que: é a vazão de distribuição em marcha em L/s, por metro de


conduto, consiste na população de projeto a ser abastecida, é o
coeficiente de reforço (depende de vários fatores), é o comprimento
total da rede (m), a cota per capita (L/dia).

Em projetos, emprega-se um roteiro de cálculo que obedece a uma


sequência lógica de preenchimento, em que se determinam todos os
elementos da rede (Tabela 1).

Tabela 1: Dimensionamento das redes ramificadas


Coluna Operação

Número do trecho. Cada trecho deve ser numerado


01
de acordo com uma sequência racional.

02 Nome do logradouro (real de planta ou simbólico).

03 Extensão do trecho (m), medido na planta.

Vazão de jusante, (L/s). Na extremidade final,


04
na extremidade de um trecho qualquer, .

05 Vazão em marcha, (L/s).

06 Vazão de montante, (L/s).

07 Vazão fictícia, (L/s).

08 Diâmetro,

09 Velocidade média, (m/s).

10 Cotas piezométricas de montante (m).


11 Perda de carga total, no trecho (m).
Cotas piezométricas de jusante (valores da coluna
12
11 subtraindo os valores da coluna 10).

13 Cotas do terreno a montante (m).


UNIUBE 31

14 Cotas do terreno a jusante (m).

Pressões disponíveis a montante (valores da coluna


15
13 subtraindo os valores da coluna 10).

Pressões disponíveis a jusante (valores da coluna


16
14 subtraindo os valores da coluna 12).

17 Observações diversas
Fonte: Adaptada de Silvestre, 1979.

• Redes Malhadas
Nas redes malhadas (Figura 7), os condutos formam circuitos, anéis ou
malhas, geralmente, apresentam maior eficiência do que a ramificada,
pois permitem a reversibilidade do sentido de circulação das vazões da
água, ou seja, pode efetuar-se em ambos os sentidos dos condutos,
em função da demanda. Podem ser alimentadas por gravidade ou por
bombeamento e apresentam maior flexibilidade para manutenção e com
mínima interrupção no fornecimento de água, pois o escoamento se
mantém por outros caminhos.

Figura 7: Esquema de uma rede malhada com quatro anéis ou malhas.


Fonte: Reservatórios... (2016).

A vazão de distribuição refere-se à área a ser servida pela rede:

Em que: é a vazão de distribuição L/s, e é a área abrangida pela


rede em Ha.
32 UNIUBE

Para o dimensionamento das redes malhadas, entre os nós, estas


redes são calculadas pelo método conhecido como Hardy-Cross, que
consiste em um processo de tentativas diretas em que os valores são
arbitrados previamente para as vazões. O encontro dos erros é muito
rápida, geralmente, após três tentativas obtemos precisão satisfatória,
outra vantagem é que podemos reduzir a rede de condutos aos seus
valores principais. O método deve obedecer dois princípios para o ajuste
das vazões:

a. Continuidade, em que será aplicada aos nós a soma das


vazões afluentes (que chegam ao nó), sendo esta igual à soma
das vazões que deixam o nó, conforme mostra a Figura 8.

Figura 8: Princípio da continuidade em um nó de uma rede malhada.


Fonte: Redes... (2016).

b. Conservação de energia, na qual é aplicada aos anéis a soma


das perdas de carga nos condutos que formam o anel é zero,
atribui-se à perda de carga a mesma direção da vazão e con-
venciona-se o sentido horário como positivo (Figura 9).

Figura 9: Princípio da conservação da energia em um anel de uma rede malhada.


Fonte: Redes... (2016).
UNIUBE 33

Retomando-se o processo Hardy-Cross, temos:

• primeiramente, faz-se uma estimativa inicial para as vazões e seus


sentidos em todo o anel;
• na sequência, dimensionam-se os diâmetros de cada trecho;
• calculam-se as perdas de carga correspondentes, utilizando-se das
equações adequadas, e verifica-se o princípio de conservação de
energia ( );

• se , a estimativa inicial das vazões e seus sentidos pode


ser considerada correta, passa-se ao preenchimento global da tabela
2;

• se , corrigem-se as vazões em , em que “ ” é o


expoente de “ ” da equação de perda de carga utilizada.

Em redes malhadas mais complexas, onde existe mais de um anel a ser


equilibrado, o procedimento deve ser feito simultaneamente para todos os
anéis existentes. Existirão trechos que pertencem a dois ou mais anéis,
conforme se pode observar na Figura 10, o trecho AC (REDES..., 2016).

Figura 10: Redes malhadas com mais de um anel.


Fonte: Redes... (2016).
34 UNIUBE

De acordo com as estimativas, as vazões têm os sentidos indicados na


Figura. Desta forma, o trecho AC no anel 1 tem sinal positivo, e o mesmo
trecho no anel 2 tem sinal negativo.

Nestes trechos, as vazões devem ser corrigidas pelos dois obtidos


segundo as seguintes equações:

Quando realizada a correção, os valores das duas vazões devem


continuar iguais, alterando-se apenas os sinais, pois, na prática, não é
possível se ter, no mesmo trecho, dois valores de vazão.

Tabela 2: Tabela para dimensionamento de redes de distribuição de água


Cota Carga de
Cota do
piezo- pressão
Vazão (m³/s) terreno
métrica distribuída
Trecho L D ∆h z(m)
(z+p/γ) p/γ (m)
(M-J) (m) (m) (m)
Jusante Distribuída Montante Fictícia

M J M J M J
QJ QD=q.L QM=QJ+QD QF

Fonte: Grifos do autor.

2.2 Considerações finais

O fornecimento de água exerce total influência no desenvolvimento das


cidades. Devido às melhorias progressivas da distribuição de água,
seu consumo tem aumentado e consequentemente as instalações de
tubulações para sua condução.

Assim, o estudo do dimensionamento das tubulações e das diferentes


maneiras de condução de água, dentre outros tópicos vistos nesta
UNIUBE 35

unidade, devem ser objetos de estudos mais aprofundados e práticos,


pois eles vão além do papel.

SAIBA MAIS

NETTO, J. M. D. A. et al. Manual de hidráulica. 8. ed. São Paulo: Edgard


Blücher LTDA, 1998. 670 p.

Referências

CAPTAÇÃO de águas superficiais. Disponível em: <http://pt.slideshare.net/


mackenzista2/aula-captao-adutorasrev>. Acesso em: 07 jan. 2016.

GUEDES, Hugo Alexandre Soares. Hidráulica. Pelotas:


Universidade Federal de Pelotas, 2015. 230 p.

NETTO, José Martiniano de Azevedo. et al. Manual de hidráulica. 8. ed.


São Paulo: Edgard Blücher LTDA., 1998. 670 p.

REDES de Distribuição de Água. Disponível em: <https://www.passeidireto.com/


arquivo/1922522/redes-de-distribuicao-de-agua>. Acesso em: 07 jan. 2016.

RESERVATÓRIOS e Redes de Distribuição de Água. Saneamento urbano.


UFOP. Disponível em: <Disponível em: http://www.em.ufop.br/deciv/
departamento/~anibal/Aula%2010%20-%20Reservacao%20e%20redes%20
de%20distribuicao%20de%20agua.pdf>. Acesso em: 07 jan. 2016.

SILVESTRE, Paschoal. Hidráulica geral. 1. ed. Rio de Janeiro: Livros


Técnicos e Científicos Editora S. A., 1979. 316 p.

VAZÃO em Marcha. Distribuição de vazão em marcha. Disponível em: <https://


www.passeidireto.com/arquivo/1922467/distribuicao-de-vazao-em-marcha>.
Acesso em: 07 jan. 2016. p. 2.
Capítulo Estações elevatórias
3

Cristiano Dorça Ferreira

Introdução
No capítulo anterior, vimos a importância da hidráulica como
ciência que estuda o movimento dos líquidos e suas interferências.
Aprendemos, também, a dimensionar as redes de distribuição que
funcionam em gravidade e sob o regime de conduto forçado.

Muitos projetos não conseguem conduzir a água até o objetivo


final, apenas por gravidade, por estar localizado em postos mais
altos que o inicial ou devido à grande quantidade de energia
perdida durante a sua condução. Nesses casos, é necessária
a utilização de equipamentos conhecidos como bombas, para
solucionar o problema.

O dimensionamento das bombas merece um estudo especial


e detalhado. Assim, este capítulo está focado nos conceitos
fundamentais das estações elevatórias, nos cálculos necessários
da potência de motores e o dimensionamento de tubulações
utilizadas nas instalações.

Objetivos
Ao término dos estudos propostos, você estará apto(a) a:

• identificar os conceitos básicos de estações elevatórias;


38 UNIUBE

• calcular a potência dos motores;


• dimensionar a tubulação de recalque e sucção;
• usar método para a escolha da bomba;
• analisar a existência do fenômeno da cavitação nas
instalações de bombeamento.

Esquema

3.1 Objetivo básico


3.1.1 Componentes do sistema
3.1.2 Altura de elevação
3.1.3 Potência
3.1.4 Exercício resolvido
3.2 Dimensionamento das tubulações
3.2.1 Fórmula de Bresse
3.2.2 Exercício resolvido
3.3 Relações de semelhança
3.3.1 Exercícios resolvidos
3.4 Curvas características
3.4.1 Curvas da bomba
3.4.2 Curvas do sistema
3.4.3 Curvas de associação de bombas e do sistema de
associação
3.4.4 Exercícios resolvidos
3.5 Escolha da bomba
3.5.1 Exercício resolvido
3.6 Cavitação
3.6.1 Definição
3.6.2 N.P.S.H – Net Positive Suction Head
3.6.3 Pressão atmosférica e pressão de vapor
3.6.4 Exercício resolvido
UNIUBE 39

3.1 Objetivo básico

Os sistemas elevatórios são de grande importância para as instalações


hidráulicas. Toda situação em que um fluido não possui carga suficiente
para chegar ao local desejado exige a instalação de um sistema
elevatório para adicionar carga ao fluido e este ter condições de chegar
ao local desejado.

3.1.1 Componentes do sistema

O sistema elevatório é composto por bomba, motor elétrico, instalação


elétrica, abrigo da instalação e tubulação. Todos esses componentes
trabalham em conjunto, portanto o dimensionamento não é individual
e, sim, coletivo. Por esse motivo, torna-se um pouco mais complexo e
merece ser mais bem estudado.

Veja, a seguir, a ilustração (Figura 1) da estação elevatória de água bruta


da cidade de Uberaba-MG.

Figura 1: Estação elevatória de água bruta do Centro Operacional de


Desenvolvimento e Saneamento de Uberaba – CODAU.
Foto: CODAU (2011).
40 UNIUBE

O ponto de captação se encontra a cerca de 120m abaixo da Estação de


Tratamento de Água da cidade, necessitando, portanto, do auxílio das
bombas para a água atravessar este desnível. O abrigo tem, em seu
interior, bombas, motores elétricos, painéis elétricos e as conexões que
são interligadas com a tubulação. Observe, na Figura 1, que temos várias
bombas com os seus motores elétricos e as conexões.

3.1.2 Altura de elevação

A altura de elevação é a somatória do desnível geométrico do sistema


mais a somatória das perdas de carga no sistema. A seguir, temos a
definição dos componentes da altura de elevação:

• altura de sucção (Hs): é a distância vertical do nível mínimo do líqui-


do em relação ao centro da bomba. Esta altura pode ser positiva se
a bomba estiver instalada acima do nível do líquido, e negativa se a
bomba estiver instalada abaixo do nível do líquido;
• altura de recalque (Hr): é a distância vertical, entre o nível máximo
do líquido em relação ao centro da bomba, quando a alimentação é
feita pelo fundo do reservatório de chegada, e, pelo ponto mais alto
do sistema, quando a chegada é pela parte superior do reservatório;
• altura geométrica (Hg): é a somatória da altura de recalque (Hr)
e da altura de sucção (Hs), sendo que o sinal deve ser levado em
consideração;
• altura manométrica de sucção (Hms): é a somatória da altura de
sucção, mais a perda de carga no sistema do ponto da captação
até a chegada à bomba;
• altura manométrica de recalque (Hmr): é a somatória da altura de
recalque, mais a perda de carga no sistema do ponto da bomba até
o ponto de final do sistema.

Nas Figuras 2 e 3, a seguir, são representadas todas as definições


citadas anteriormente. Sendo que, na Figura 2, a bomba está afogada
e, na Figura 3, a bomba não está afogada.
UNIUBE 41

Observe a Figura 2:

Figura 2: Esquema dos dados para o dimensionamento de uma bomba, com a bomba
abaixo do nível de água da sucção.

Observe a Figura 3:

Figura 3: Esquema dos dados para o dimensionamento de uma bomba localizada acima do
nível de água da sucção.
42 UNIUBE

Para ilustrar o que foi dito anteriormente, vamos adotar, como exemplo,
a Figura 4, a seguir:

Figura 4: Exemplo de situação que utiliza bomba para atingir o reservatório


elevado.
Foto: CODAU (2011).

Nesse processo da Figura 4, a água para abastecimento público chega


até o reservatório metálico apoiado sobre o solo. Uma estação elevatória,
localizada sobre o solo, transporta a água do reservatório metálico até o
reservatório elevado. Portanto, temos:

• a altura de sucção será a distância entre o nível de água do


reservatório apoiado até o eixo da bomba;
• a altura de recalque será a distância entre o eixo da bomba até o
nível de água do reservatório elevado;
• a altura geométrica será a diferença entre o nível do reservatório
metálico apoiado e o nível do reservatório elevado;
• a altura manométrica de sucção será a altura de sucção mais a
somatória das perdas de cargas, devido ao sistema que se inicia no
reservatório metálico apoiado e vai até a bomba;
• a altura manométrica de recalque será a somatória da altura de
recalque mais a perda de carga do sistema da bomba até a chegada
no reservatório elevado.
UNIUBE 43

SINTETIZANDO...

A altura manométrica é a somatória do desnível geométrico entre o ponto


de sucção e o ponto final do sistema, mais a somatória das perdas de
carga da água nesse caminho.

3.1.3 Potência

O sistema de bombeamento deverá ter condições de introduzir carga


suficiente no sistema, para vencer a somatória da altura geométrica
e mais a perda de carga do sistema em funcionamento. Esta carga é
fornecida por meio de um motor elétrico, que tem sua potência calculada
da seguinte maneira:

γ.Q.HMan
P=
75.η

em que:

γ = Peso específico do líquido que está sendo recalcado (no caso da


água e esgoto 1000 kgf / m³);
Q = Vazão ou descarga em m³/s;
Hman = Altura manométrica (m);
η = rendimento do conjunto.

3.1.4 Exercício resolvido

Vejamos, a seguir, um exercício resolvido no qual abordamos um sistema


de bombeamento.

Uma estação elevatória transporta 50 l/s de água a um desnível geométrico


de 20 m. Considere que, no total do sistema, aconteça uma perda de carga
de 5m em toda a tubulação e que o rendimento do sistema seja de 74%;
determine a potência da bomba necessária para funcionar este sistema.
44 UNIUBE

Dados:
γ = 1000 kgf / m³
Q = 0,050 m³/s
Hman = 20+5 = 25m
η = 74% (motor)

Com os dados levantados, a potência do motor é:

1000.0,05.25
P= =30,03cv
75.0,74

AGORA É A SUA VEZ

Uma estação elevatória transporta 65 l/s de água a um desnível geométrico


de 18m. Considere que, no total do sistema, aconteça uma perda de carga
de 5m em toda a tubulação e o rendimento do conjunto seja de 65%;
determine a potência da bomba necessária para funcionar este sistema.

3.2 Dimensionamento das tubulações

3.2.1 Fórmula de Bresse

Um sistema de bombeamento é formado por uma bomba, mais a


tubulação. O dimensionamento deste sistema é um conjunto das duas
partes que trabalham juntas. Se a tubulação for dimensionada com um
diâmetro maior, consequentemente, a perda de carga no sistema será
menor e a bomba necessária para o dimensionamento será de potência
menor; o custo da instalação será maior e o custo da bomba e do
consumo de energia será menor.

Caso o sistema seja dimensionado com uma tubulação com o diâmetro


menor, consequentemente, a perda de carga no sistema será maior e
será necessária uma bomba com a potência maior. O custo da tubulação
UNIUBE 45

será menor, mas, em compensação, o custo da bomba e do consumo de


energia será maior. Portanto, deve-se determinar um diâmetro ideal que
apresente o melhor custo e benefício, ou seja, que leve em consideração
o custo da instalação e do funcionamento do sistema. Este diâmetro será
denominado de diâmetro econômico. Veja, a seguir, a representação
gráfica da fórmula de Bresse (Figura 5).

Figura 5: Representação gráfica da fórmula de Bresse.

Para determinar o diâmetro econômico, utiliza-se a fórmula de Bresse.

D = Kx Q

em que :
D = Diâmetro da tubulação de recalque (m);
Q = Vazão em m³/s;
K = Coeficiente que depende do peso específico do líquido, regime de
trabalho e rendimento do conjunto elevatório, da natureza do material
da tubulação.

Para o dimensionamento do sistema de recalque, com funcionamento


diferente de 24 h por dia, foi proposta a seguinte fórmula:

D = 1,3 X 0,25 Q
46 UNIUBE

X = número de horas de funcionamento de bombeamento por dia /24

Sempre que se partir de um valor médio de K, a solução obtida será


aproximada. Tratando-se de pequenas instalações, a fórmula de Bresse
pode levar a um diâmetro aceitável. Para o caso de grandes instalações,
uma pesquisa econômica, na qual sejam investigados os diâmetros mais
próximos inferiores e superiores, é importante para determinar os custos
relativos à instalação considerada.

Para o dimensionamento da linha de sucção, adota-se um


diâmetro comercial superior ao calculado para a linha de
recalque.

3.2.2 Exercício resolvido

Vejamos a resolução do seguinte problema.

Um sistema recalcará uma vazão de 40l/s de água. Sabendo que o


coeficiente de Bresse é igual a 1,1, determine o diâmetro de sucção e
recalque mais econômicos.

D= 1,1. 0,04= 0,22

O diâmetro comercial superior ao valor encontrado na fórmula de Bresse


é de 250 mm que será o diâmetro de recalque. E o diâmetro da sucção
será de 300 mm.

3.3 Relações de semelhança

Para compreendermos o funcionamento de uma bomba mediante


alterações, pautaremo-nos em Azevedo Netto (1998, p.274) que discorre:
Os efeitos de alterações introduzidas nas condições
de funcionamento de uma bomba não devem ser
instalados exclusivamente com base na expressão que
UNIUBE 47

permite determinar a sua potência. É indispensável o


exame das curvas das características que indicam a
variação do rendimento.
As alterações de altura manométrica real de uma
bomba centrífuga trazem as seguintes consequências:

• aumentando-se a altura manométrica, a capa-


cidade Q (vazão) e a potência absorvida dimi-
nuem;
• reduzindo-se a altura manométrica, a descarga
Q e a potência absorvida elevam-se.

Vejamos, a seguir, as equações para o desenvolvimento dos cálculos de


vazão – Q, altura – H e potência – P.

Q1 rpm1
=
Q2 rpm2

H1 (rpm1 ) 2
=
H2 (rpm 2 ) 2

P1 (rpm1 )3
=
P2 (rpm 2 )3

3.3.1 Exercícios resolvidos

1) Uma bomba centrífuga está funcionando com uma rotação por minuto
de 2500 com 30 HP de potência, uma vazão de 60l/s e uma altura
manométrica igual a 37m.

Se a velocidade da bomba passar a ser de 2.000 rpm, quais alterações


de vazão, altura manométrica e potência sofrerá o sistema?
48 UNIUBE

Q1 rpm1 60 2.500 60x2.000


= → = → Q2= → Q2=48l/s
Q2 rpm2 Q2 2.000 2.500

H1 (rpm1 ) 2 37 (2.500) 2 37x(2.000) 2


= → = → H2= → H2=23,68m
H2 (rpm 2 ) 2 H2 (2.000) 2 (2.500) 2

P1 (rpm1 )3 30 (2.500)3 30x(2.000)3


= → = → P2= → P2=15,36HP
P2 (rpm 2 )3 P2 (2.000)3 (2.500)3

2) Uma bomba centrífuga está funcionando com uma rotação por minuto
de 1500 com 40 HP de potência, uma vazão de 40l/s e uma altura
manométrica igual a 40m.

Se a velocidade da bomba passar a ser de 2000 rpm, quais as alterações


de vazão, altura manométrica e potência sofrerá o sistema?

Q1 rpm1 40 1.500 40x2.000


= → = → Q2= → Q2=53,33l/s
Q2 rpm2 Q2 2.000 1.500

H1 (rpm1 ) 2 40 (1.500) 2 40x(2.000) 2


= → = → H2= → H2=71,11m
H2 (rpm 2 ) 2 H2 (2.000) 2 (1.500) 2

P1 (rpm1 )3 40 (1.500)3 40x(2.000)3


= → = → P2= → P2= 94,82HP
P2 (rpm 2 )3 P2 (2.000)3 (1.500)3

AGORA É A SUA VEZ

Uma bomba centrífuga está funcionando com uma rotação por minuto
de 3.000 com 40 HP de potência, uma vazão de 70 l/s e uma altura
manométrica igual a 57 m.

Se a velocidade da bomba passar a ser de 2.200 rpm, quais as alterações


de vazão, altura manométrica e potência sofrerá o sistema?
UNIUBE 49

3.4 Curvas características

Para o dimensionamento de uma bomba, é fundamental, primeiramente,


conhecer a definição de curva do sistema e curva da bomba, que são
descritas, a seguir.

3.4.1 Curvas da bomba

Para cada bomba, o fabricante faz um teste de funcionamento do seu


produto para verificar qual será a altura manométrica que renderá a uma
determinada bomba, para uma determinada vazão. Na medida em que a
vazão aumenta, a altura manométrica é reduzida. O gráfico da bomba é
descendente na medida em que aumenta a vazão.

Para pequena vazão, a bomba trabalha com a máxima altura manométrica.


Na medida em que a vazão aumenta, cai a altura manométrica. Existe
um ponto que é definido como ponto de máxima eficiência para a bomba,
que compreende o ponto de seu melhor funcionamento, levando em
consideração a vazão a ser transportada e a altura manométrica. (Figura 6).

3.4.1.1 Curvas de bombas associadas em paralelo

Veja a Figura 6:

Figura 6: Estação elevatória de água tratada do CODAU.


Foto: CODAU (2011).
50 UNIUBE

Quando duas bombas estão associadas em paralelo para um mesmo


sistema de recalque, é necessário gerar um curva correspondente
com as duas bombas funcionando em paralelo. Nesse caso, para cada
valor correspondente à altura manométrica, soma-se a vazão das duas
bombas em funcionamento, tendo-se, consequentemente, uma curva
correspondente às duas bombas no sistema, como é apresentado na
Figura 6.

3.4.1.2 Curvas de bombas associadas em série

No caso das curvas de bombas associadas em série, para cada valor


correspondente de vazão da bomba em funcionamento, soma-se a altura
manométrica de cada uma. Será gerada uma curva que corresponde às
associações das bombas em série, conforme apresentado, a seguir, na
Figura 7.

Figura 7: Representação gráfica de associação de bomba em paralelo.


UNIUBE 51

2.4.2 Curvas do sistema

As curvas do sistema são representadas por um gráfico em que, na


abcissa, registra-se a vazão e, na ordenada, a altura manométrica. Como
foi definida anteriormente, a altura manométrica é a somatória da altura
geométrica mais a perda de cargas. Para cada valor da vazão em um
determinado sistema, é gerada uma perda de carga.

Na medida em que se aumenta a vazão, a perda de carga no sistema


também aumenta e, consequentemente, aumenta a altura manométrica.
Portanto, a curva do sistema será sempre uma curva ascendente,
conforme apresentada, na Figura 8, a seguir:

Figura 8: Representação gráfica de associação de bomba em série.

3.4.2.1 Curva do sistema para tubulação em série

Observe a Figura 9, a seguir:


52 UNIUBE

Figura 9: Curva de associação de tubulação em série.

Caso o sistema seja formado por duas ou mais tubulações em série (ou
seja, em sequência) com diâmetros diferentes, será necessário calcular a
altura manométrica para cada tubulação independente. A curva caracte-
rística de cada tubulação deve ser lançada no mesmo gráfico, com
ambas iniciando na mesma origem das ordenadas. A curva do sistema
será a somatória da perda de carga, em cada trecho da tubulação mais
a altura geométrica do sistema, conforme apresentado na Figura 9.

3.4.2.2 Curva do sistema para tubulação em paralelo

Observe a Figura 10, a seguir:

Figura 10: Associação de duas tubulações iguais.


UNIUBE 53

Caso o sistema seja formado por tubulação em paralelo, a curva


característica do sistema será para cada altura manométrica
correspondente no sistema à somatória da vazão para cada tubulação,
conforme apresentado na Figura 10.

Explicando de outra forma, na determinação da curva do sistema em


paralelo que corresponde ao sistema com duas tubulações instaladas
em paralelo, cada sistema irá recalcar a água para a mesma altura
manométrica e, como são duas linhas, a vazão será o dobro. Portanto,
para cada valor da altura manométrica dobra-se o valor da vazão. O
resultado da curva é apresentado no gráfico anterior.

3.4.3 Curvas de associação de bombas e do sistema de associação

Um sistema de recalque é composto por:

• tubulações que podem estar associadas em série, em paralelo, ou


individuais;
• conjuntos de bombas que podem estar associados em série, em
paralelo ou individuais.

Esse sistema trabalha com as duas partes e em conjunto.

Portanto, o funcionamento das partes tem que ser coincidente, por isso,
para determinar a vazão com que a bomba e a tubulação irão funcionar,
deve-se, em um mesmo gráfico, traçar as duas curvas. Ambas irão cruzar
em um ponto que será chamado ponto de funcionamento do sistema,
como pode ser visto, na Figura 11, a seguir.
54 UNIUBE

Figura 11: Representação gráfica do ponto de funcionamento do sistema.

3.4.4 Exercícios resolvidos

3.4.4.1 Exercício resolvido 1

Para o sistema representado na Figura 12 e especificado a seguir,


determine a curva do sistema, sendo a tubulação de ferro galvanizado
(C=120), diâmetro de 200 mm e a somatória dos comprimentos equiva-
lentes das peças corresponde a 18 m. A tubulação tem um comprimento
real de 200 m. O desnível geométrico do reservatório 1 para o reserva-
tório 2 é de 10 m.

Determine o ponto de funcionamento do sistema, considerando duas


bombas trabalhando em paralelo com as seguintes características
(Tabela 1).

Tabela 1: Dados da bomba


UNIUBE 55

Na Tabela 1, são apresentados os dados da bomba e, na Figura 12, a


seguir, é apresentado como as duas bombas estão instaladas, sendo
que as duas são iguais.

Figura 12: Representação do sistema do Exercício resolvido 1.

Resolução:

Segue a Tabela 2, com os cálculos da tubulação com a linha de recalque:

Tabela 2: Cálculo da curva do sistema em paralelo

Para a montagem do gráfico, é necessário o valor da altura manométrica


e da vazão correspondente. Como já foi dito, a altura manométrica é a
somatória da altura geométrica com a somatória de perda de carga. Na
Tabela 2, foi calculada, na segunda linha, a perda de carga para cada
respectiva vazão. Na terceira linha, calculamos a altura manométrica do
56 UNIUBE

sistema, ou seja, somamos o valor encontrado na segunda linha, para


cada vazão, com o desnível geométrico, que corresponde a 10m.

Observe a Figura 13:

Figura 13: Gráfico da curva do sistema

Observe a Figura 14:

Figura 14: Gráfico da bomba.


UNIUBE 57

Observe a Figura 15:

Figura 15: Determinação da altura manométrica e vazão de funcionamento do sistema.

O ponto do gráfico no qual as duas linhas se cruzam é chamado de ponto


de funcionamento do sistema.

3.4.4.2 Exercício resolvido 2

Para o sistema representado na Figura 16 e especificado a seguir,


determine a curva do sistema, considerando a tubulação de PVC (C=140).
A tubulação é dividida em duas partes, sendo uma parte na horizontal e
outra parte na vertical, sendo que as duas estão interligadas em série. A
tubulação na horizontal é de diâmetro de 250 mm, com comprimento real
de 160 m e comprimento equivalente das peças correspondente a 15 m.
A tubulação na vertical é de diâmetro de 200 mm, com um comprimento
real de 280 m e as peças correspondem a um comprimento equivalente
de 12 m. O desnível geométrico do reservatório 1 para o reservatório 2
é de 12 m.
58 UNIUBE

Determine o ponto de funcionamento do sistema, considerando duas


bombas, trabalhando em série, com as seguintes características. Na
Tabela 3 constam os dados da bomba e na Tabela 4, a resolução do
problema.

Observe a Figura 16:

Figura 16: Representação do sistema do exercício resolvido 2.

Tabela 3: Dados da Bomba

Q (l/min) 2000 4000 6000 6500 7000 8000 10000


Dados da bomba
25 25 24,5 23 22,5 22 20,5
(m)

Resposta: Perda de carga no trecho I.

Resolução:
UNIUBE 59

Tabela 4: Resolução do problema

Observe a Figura 17, que contém a curva do sistema das bombas com
associação em série.

Figura 17: Curva do sistema com a associação em série das bombas.


60 UNIUBE

Na Figura 18, constam duas curvas, uma da bomba individual e outra da


associação em série. Note que as vazões bombeadas são as mesmas
(eixo x), mas a pressão dobrou (eixo y).

Figura 18: Curva da bomba associada em série.

Observe a Figura 19. Estão dispostas duas curvas, uma da bomba em


série e outra do sistema (curva de tubulação).

Figura 19: Curva do sistema para bomba em série.


UNIUBE 61

3.4.4.3 Exercício resolvido 3

Para o sistema representado na Figura 20 e especificado a seguir,


determine a curva do sistema, sendo que a tubulação tem o coeficiente
de Hazzen-Williams C=120.

A tubulação é dividida em duas partes: em uma parte na horizontal e outra


parte na vertical, sendo que as duas estão interligadas em série. A tubula-
ção na horizontal é de diâmetro de 150 mm, com comprimento real de
100 m e comprimento equivalente das peças correspondente a 12 m. A
tubulação na vertical é de diâmetro de 150 mm, com um comprimento real
de 80 m e as peças correspondem a um comprimento equivalente de 9 m.
O desnível geométrico do reservatório 1 para o reservatório 2 é de 12 m.

Determine o ponto de funcionamento do sistema, considerando duas


bombas de modelos diferentes, trabalhando em série, com as seguintes
características (Tabela 5).

Tabela 5: Dados de duas bombas instaladas no sistema

Dados da bomba 1 (m) 25 25 24,5 23 22,5 22 20,5 17


Dados da bomba 2 (m) 30 30 29,5 27,8 27,3 26,7 24 21

Na Tabela 5, constam os dados das duas bombas instaladas no sistema.

Figura 20: Representação do sistema do exercício resolvido 3.


62 UNIUBE

Na Tabela 6, a seguir, consta, passo a passo, como determinar o ponto


de funcionamento de um sistema de duas bombas em série e duas linhas
de tubulação em série.

Primeiramente, é determinada a altura manométrica do trecho I e do


trecho II. Depois, são determinados os valores para traçar a curva do
sistema, considerando o mesmo em série. Também, são calculados os
valores para determinar a curva das duas bombas em série.

Tabela 6: Passo a passo para a determinação do funcionamento de um sistema de duas


bombas em série e de duas linhas de tubulação em série

Observe a Figura 21. Nela, constam as curvas de perda de carga das


tubulações nos trechos I e II e da curva correspondente à associação
em série.
UNIUBE 63

Figura 21: Curva do sistema associado em série.

Na Figura 22, estão dispostas as curvas das duas bombas


individualmente e a curva da associação em série.

Figura 22: Gráfico das duas bombas associadas em série.

Observe a Figura 23. Nela, constam as duas curvas, uma do sistema e


outra das bombas em associação em série.
64 UNIUBE

Figura 23: Curva do sistema associada com a curva das duas bombas em série.

3.5 Escolha da bomba

Para melhor explicar como procede o modelo de escolha de uma bomba,


vamos apresentar, a seguir, um exemplo para facilitar a compreensão.

O exemplo está representado na Figura 24, a seguir, e será um sistema


para recalcar uma vazão de 40 l/s de água limpa de um reservatório até
outro. A tubulação utilizada no sistema é em PVC. A extensão de 1300 m
inclui a extensão da tubulação e as perdas de cargas localizadas.

Figura 24: Esquema da Instalação que será utilizado para exemplificar a


escolha da bomba.
UNIUBE 65

A seguir, descreveremos os passos para a escolha da bomba.

1) Trace a curva do sistema no qual deseja a implantação da estação


elevatória, de acordo com o objetivo que se espera atingir. Nesse
caso, será utilizada a fórmula de Hazzen-Williams.

Veja a Tabela 7:

Tabela 7: Passo a passo para a escolha da bomba

Q (l/s) 0 10 20 30 40 50 60 70

Perda de carga da
0 0,75 2,70 5,71 9,72 14,69 20,58 27,37
tubulação

Altura manométrica do
37 37,75 39,70 42,71 46,72 51,69 57,58 64,37
sistema (m)

Na Tabela 7, constam os valores da perda de carga e o valor da altura


manométrica para cada vazão correspondente. A altura manométrica
corresponde à soma da perda de carga mais o desnível geométrico.

Observe a Figura 25:

Figura 25: Curva do sistema.


66 UNIUBE

2) De acordo com o líquido que será transportado, a vazão e a altura


manométrica, o modelo a ser utilizado é escolhido no catálogo
do fabricante. Sendo assim, com os dados da curva do sistema,
é escolhido o modelo da bomba mais adequado para a estação
elevatória.

3) O Modelo 65-160 da narca Imbil, com rotação de 3500 rpm, tem


várias opções de acordo com o tamanho do rotor conforme a figura
abaixo. A escolha deve se basear no maior rendimento, de maneira
que tenha um menor consumo de energia. Portanto, deve-se
escolher a bomba de maneira que intercepte a curva do sistema
no ponto de maior rendimento. Nesse exemplo, o rotor escolhido
será o de diâmetro de 172.

4) Com a bomba determinada, traça-se um gráfico da curva do


sistema com a curva da bomba (Figura 26).
UNIUBE 67

Figura 26: Curva do sistema com a curva da Bomba.

5) O sistema funcionará com uma vazão de 45 l/s, e conseguirá


recalcar uma altura manométrica de 48,6 m e com um rendimento
acima de 81,5 %. Caso o ponto de funcionamento atenda
satisfatoriamente os itens mencionados anteriormente, estará
definido o modelo da bomba que será utilizado. Caso contrário, o
processo deve ser iniciado novamente a partir do item 3.

3.5.1 Exercício resolvido

O sistema, representado na Figura 27, e especificado a seguir, deverá


recalcar uma vazão de 10 l/s de água limpa de um reservatório até outro,
conforme o esquema. A tubulação utilizada no sistema é em PVC. A
extensão de 300 m inclui a extensão da tubulação e as perdas de carga
localizadas. Determine qual das bombas propostas é mais adequada
para esta instalação.
68 UNIUBE

Figura 27: Representação do Sistema do Exercício resolvido.

A seguir, é apresentado o gráfico de vários modelos de bombas e um


desses modelos é mais adequado para o sistema apresentado (Figura 28).

Figura 28: Representação gráfica de vários modelos de bomba, sendo um deles adequado para
o projeto.

Primeiramente, será construída a curva na tubulação para, posteriormente,


traçar o gráfico.

Observe a Tabela 8:
UNIUBE 69

Tabela 8: Tabela do sistema

Veja que, a partir da curva do sistema especificada a seguir, com as


opções para a escolha da bomba, verifica-se que a melhor solução é a
bomba de rotor de D=200. Pois, de todas as opções, é a que representa
o ponto de funcionamento do sistema com o maior rendimento, e, ainda,
no ponto de funcionamento, a vazão é superior à demanda.

Observe a Figura 29, onde consta a curva do sistema.

Figura 29: Curva do sistema (exercício)

Observe a Figura 30. Nela constam as duas curvas, uma do sistema e


a outra da bomba.
70 UNIUBE

Figura 30: Curva do sistema e curva da bomba.

3.6 Cavitação

Um fenômeno que merece grande atenção em relação ao funcionamento


de uma estação elevatória de água é a cavitação. Quando acontece a
cavitação em uma estação elevatória, ela acarreta queda de rendimento
na instalação, ruídos e vibrações na bomba podendo até chegar ao
colapso dos equipamentos.

3.6.1 Definição

O fenômeno cavitação está relacionado com a pressão de vapor do líquido


que está sendo recalcado. Quando um líquido, em escoamento, passa
por uma região de baixa pressão, que pode atingir a sua pressão de
vapor, há a transição do estado líquido para o estado de vapor do fluído
que está sendo transportado. As bolhas formadas no interior do líquido
são arrastadas juntamente com o fluído e atravessam regiões em que a
pressão volta a ser maior que a pressão de vapor.

As bolhas formadas, ao entrarem na região de maior pressão, acabam


estourando. Esse processo é rápido, e o estouro das bolhas ocorre com as
partes da bomba em funcionamento ou com as paredes dos equipamentos.
UNIUBE 71

No primeiro caso, causam a vibração do rotor da bomba e, no segundo


caso, ocorre inúmeros choques de bolhas com as paredes dos
equipamentos, causando um fenômeno de erosão com estas superfícies.

IMPORTANTE!

Para evitar que este fenômeno ocorra, a instalação deverá ser


dimensionada, de maneira que a pressão em toda a instalação seja
sempre maior que a pressão de vapor do líquido que está sendo
recalcado. Por isso, quando for dimensionar uma instalação elevatória,
é muito importante conhecer a temperatura que estará o líquido que será
recalcado. Pois a pressão de vapor do líquido oscila de acordo com a
temperatura.

Em relação a esses aspectos, Coiado (1995, p. 2) discorre que:

Em geral, o ponto mais crítico ocorre na entrada do


rotor da bomba. A queda de pressão, desde a superfície
do poço de sucção até a entrada da bomba, depende
da vazão, do diâmetro, do comprimento virtual da
tubulação, da rugosidade do material e principalmente
da altura estática de sucção, distância vertical do eixo
da bomba até o nível d´água do poço. Estes são os
elementos susceptíveis de mudanças, por parte do
projetista, para sanar os danosos efeitos da cavitação.

3.6.2 N.P.S.H – Net Positive Suction Head

3.6.2.1 N.P.S.H Disponível

N.P.S.H Disponível é a energia disponível do líquido, no início do


processo, ou seja, é a energia do líquido, na maioria das vezes, a água,
na entrada da tubulação de sucção na bomba, acima da pressão de
vapor do líquido.
72 UNIUBE

Então, explicando melhor, N.P.S.H disponível é a carga (energia) em


pressão absoluta disponível na entrada de sucção de uma bomba
hidráulica. Em qualquer seção transversal de um circuito hidráulico, o
NPSH mostra a diferença entre a pressão atual de um líquido em uma
tubulação e a pressão de vapor do líquido, a uma dada temperatura.

Observe a Figura 31, que representa a altura de sucção de uma bomba.

Figura 31: Representação da altura de sucção.

P2 V22 Pv
N .P.S .H .d = + − − EqI
γ 2g γ
Pv
= Pressão_Vapor_Líquido
γ
UNIUBE 73

Aplicando a equação de Bernoulli, entre o nível d´água no poço de suc-


ção e o eixo da bomba, mantido constante e a entrada da bomba, temos:

P1 V12 P2 V22
+ 2 + Z1 = + 2 + Z 2 + ∆Hs
γP1 V 2g γ V
P 2g
+ 1 + Z1 = 2 + 2 + Z 2 + ∆Hs
onde
γ 2: g γ 2g
P1 P
onde :
= atm _(Pr essão _ Atmosférica _ Local )
(Pressão_Atmosférica_Local)
γP1 Pγatm
= _(Pr essão _ Atmosférica _ Local )
Vγ12 γ
=0
V21g2
=0
Z21g= 0
Z12 = 0Z _( Altura _ estática _ Sucção)
ZHs
∆ _( Somatória _ Perdas _ c arg a _ sucção _ bomba )
2 = Z _( Altura _ estática _ Sucção)

Substituindo _ Tem_ −Perdas


∆Hs _( Somatória se _ ccarga
arg a _ sucção _ bomba )
Substituindo
Patm _ Tem
P − se
V2
− Z − ∆Hs= 2 + 22 − EqII
Pγatm γ V
P 2g
− Z − ∆Hs= 2 + 2 − EqII
γ γ 2g

Substituindo as equações I em II, tem-se:

Patm Pv
N .P.S .=
H .d − Z − ∆Hs −
γ γ
Patm − Pv
N .=
P.S .H .d − Z − ∆Hs − EqIII
γ

3.6.2.2 N.P.S.H Requerido

O N.P.S.H requerido é específico da bomba, pois representa a perda de


carga que a água sofrerá para atravessar toda a bomba. Este dado é
fornecido pelo fabricante, pois é um dado muito específico da bomba e
não tem como ser calculado.

O fabricante geralmente fornece um gráfico de N.P.S.H por vazão, no


qual o engenheiro responsável pelo dimensionamento terá condições
de levantar o dado.
74 UNIUBE

IMPORTANTE!

Para que o fenônemo da cavitação não ocorra, é necessário que a


seguinte condição seja atendida:

N.P.S.Hd > N.P.S.Hr.

Pode-se calcular o valor da altura máxima de sucção, de maneira que


não ocorra o fenômeno da cavitação. Esta condição limite será atingida
quando o N.P.S.Hd = N.P.S.Hr.

Patm Pv
N .P.S .=
H .d − Z − ∆Hs −
γ γ

N .P.S .H .r = N .P.S .H .d

Patm Pv
N .P.S=
.H .r − Z − ∆Hs −
γ γ

Patm Pv
Zmáx
= − ∆Hs − − N .P.S .H .r
γ γ

3.6.3 Pressão atmosférica e pressão de vapor

O fenômeno da cavitação traz prejuízos para as bombas. A ocorrência


deste fenômeno depende da pressão de vapor do líquido. Como a
pressão do líquido é fixa para cada tipo e não está sujeita a alterações,
a única variável é a cota de instalação da bomba em relação ao nível
d´água. Portanto, para evitar a cavitação, o projetista deve determinar a
máxima cota que uma bomba possa ser instalada.
UNIUBE 75

A pressão de vapor da água, para cada temperatura, apresenta um valor


diferente.

A pressão atmosférica pode ser calculada de acordo com a seguinte


equação para regiões com até 2000 m de altitude. O resultado desta
equação é fornecido em m.c.a.

Patm 760 − 0, 081h


= 13, 6( )
ϒ 1000

Em que:
h: altitude

3.6.4 Exercício resolvido

Determine a máxima cota em que deve ser instalada uma bomba, para
recalcar 8 m³/h de água à temperatura de 20ºC. Estime a perda de carga
na sucção em 0,29 m.

Dados :

Nível d´água do reservatório de sucção = 380,00 m;


pressão atmosférica do local = 9,60 m.c.a;
Pv/ϒ = 0,24 m.c.a. e curva do NPSHr.

Figura 32: NPSHr do Equipamento.


76 UNIUBE

Resolução:
Patm Pv
N .P.S .=
H .d − Z − ∆Hs −
γ γ
N .P.S .H .d= 9, 60 − Z − 0, 29 − 0, 24
N .P.S .H
= .d 9, 07 − Z
N .P.S .H .r = 3mca
N .P.S .H .d > N .P.S .H .r
9, 07 − Z > 3, 0
Z < 6, 07 m

A máxima cota que a bomba pode ser instalada, em relação à bomba,


sem que ocorra o fenômeno da cavitação, é de 6,07 m.

Resumo

Neste capítulo, foi exposto como é feita a escolha mais eficiente de uma
bomba. Vimos que a escolha da bomba depende também de como o
sistema irá funcionar. Mostramos como é determinada a vazão e a altura
manométrica do sistema, associando a bomba com o sistema.

Referências

AZEVEDO NETTO, José Martiniano. Manual de hidráulica. 8. ed. São


Paulo: Edgar Bliicher LTDA, 1998.

VIANNA, Marcos Rocha. Instalações hidráulicas prediais. 3. ed. Belo


Horizonte: Ed-abes, 2004.

MACYNTIRE, Archibald Joseph. Instalações hidráulicas. 3. ed. Rio de


Janeiro: LTC, 1996.

COIADO, Evaldo Miranda - Escoamento em Condutos Forçados. Notas de Aula.


EC – 617. Hidráulica Geral II. Universidade Estadual de Campinas. Faculdade de
Engenharia Civil. Departamento de Hidráulica e Saneamento, Campinas – SP, 1995.
Capítulo
Vertedores, orifícios
e comportas
4

Natália Michelan

Introdução
Serão analisados, nesta unidade, alguns tipos de escoamentos
de escala e as características distintas dos escoamentos em
canais tratados até agora. O estudo dos escoamentos através
de vertedores, orifícios e comportas se faz com base no fato de
que, na maioria dos casos, não se dispensa o acompanhamento
de resultados experimentais, na forma de coeficientes corretivos.
Os conhecimentos acerca do escoamento aplicam-se em diversas
áreas da hidráulica, como projetos de irrigação, eclusas para
navegação fluvial, bacias de detenção para controle de cheias
urbanas, estações de tratamento de água, medição de vazão
de efluentes industriais e de cursos d’água em sistemas de
abastecimento, projetos hidroelétricos etc.

Objetivos
• Compreender a definição de escoamento e suas
classificações.
• Compreender a especificidade do escoamento permanente
em dutos e suas equações básicas.
• Compreender os fatores adversos que ocorrem em um
escoamento, como as perdas de carga.
78 UNIUBE

Esquema
4.1 Classificação dos escoamentos
4.1.1 Orifícios
4.1.2 Comportas
4.2 Considerações finais

4.1 Vertedores

Vertedores são estruturas hidráulicas utilizadas para medir indiretamente


a vazão em condutos livres por meio de uma abertura (entalhe) feita no
alto de uma parede por onde a água escoa livremente, apresentando,
portanto, a superfície sujeita à pressão atmosférica (GUEDES, 2015).
São utilizados na medição de vazão de pequenos cursos d’água canais
ou nascentes, geralmente inferiores a 300L/s.

A representação esquemática mostra as partes componentes de um vertedor:

Figura 1: Vista transversal de um vertedor.


Fonte: Guedes, (2015).

De acordo com a características dos projetos, os vertedores mais usuais


possuem formas de seção transversal retangular, triangular, trapezoidal e
circular. Ressalta-se que na Figura 1 está apresentado um vertedor retangular.
UNIUBE 79

Deve-se levar em conta, na classificação dos vertedores, a espessura


(natureza) da parede (e), pois podem apresentar uma parede delgada
(e < 2/3 H), cuja espessura (e) não seja suficiente para que sobre ela
se estabeleça o paralelismo entre as linhas de corrente; ou uma parede
espessa (e > 2/3 H), em que a espessura (e) da parede do vertedor seja
suficiente para que sobre ela se estabeleça o paralelismo entre as linhas
de corrente (Figura 2).

Figura 2: Vista longitudinal do escoamento da água sobre a soleira do vertedor.


Fonte: Guedes, 2015.

Outro fator a ser considerado é o comprimento da soleira (L), que pode


ser um vertedor sem contração lateral (L = B), em que o escoamento não
apresenta contração ao passar pela soleira do vertedor, se mantendo
constante antes e depois de passar pela estrutura hidráulica (Figuras
3a, 3b), ou pode ser classificado como vertedor com contração lateral
(L < B), nesse caso a linha de corrente se deprime ao passar pela
soleira do vertedor, podendo-se ter uma (Figuras 3c, 3d) ou ainda, duas
contrações laterais (Figuras 3e, 3f).
80 UNIUBE

Figura 3: Vertedor: (a) sem contração lateral; (b) vista de cima sem contração lateral; (c) com
uma contração lateral; d) vista de cima com uma contração lateral – linha de corrente deprimida
(lado direito); (e) duas contrações laterais; e (f) vista de cima com duas contrações laterais – linha
de corrente deprimida (lado direito e esquerdo).
Fonte: Guedes, (2015).

A inclinação da face de montante é denominada pelo lado da estrutura


do vertedor que está em contato com a água, conforme apresentada na
Figura 4, a seguir.
UNIUBE 81

Figura 4: Face de montante: (a) na vertical; (b) inclinado a montante; e (c) inclinado a jusante.
Fonte: Guedes, (2014).

A relação entre o nível da água a jusante (P’) e a altura do vertedor


(P) pode funcionar de duas diferentes formas. Quando operado em
condições de descarga livre, o escoamento acontece livremente a jusante
da parede do vertedor, onde atua a pressão atmosférica (Figura 5a).
Esta é a situação que mais tem sido estudada e a mais prática para a
medição da vazão, devendo por isso ser observada quando na instalação
do vertedor (GUEDES, 2015).

A situação do vertedor afogado (Figura 5a) deve ser evitada na prática,


pois há poucos estudos sobre ela, sendo difícil medir a carga hidráulica
H para o cálculo da vazão. Além disso, o escoamento não cai livremente
a jusante do vertedor.

Figura 5: (a) Vertedor operado em condições de descarga livre (P > P’); (b) Vertedor afogado
(P < P’)
Fonte: Guedes, (2015).
82 UNIUBE

Para equação geral da vazão, consideraremos um vertedor de parede


delgada e de seção geométrica qualquer (retangular, triangular, circular
etc.), desde que seja regular, ou seja, que possa ser dividida em duas
partes iguais. Na Figura 6, está apresentada uma vista longitudinal e
frontal do escoamento, destacando a seção de vertedor.

Figura 6: Vista longitudinal e frontal do escoamento, destacando a seção do vertedor.


Fonte: Guedes, 2015.

Se o escoamento permanente, considerando a seção (1), localiza-se


ligeiramente a jusante da crista do vertedor (onde a pressão é nula) e
empregando a equação de Bernoulli entre as seções (0) e (1), para a
linha de corrente genérica AB, com referência em A, tem-se:

Para todas as situações em que o escoamento for tratado como ideal, a


velocidade será sempre ideal ou teórica (Vth), pela mesma razão, quando
se trata da vazão, ela também será ideal ou teórica (Qth), obtemos assim:

E,
UNIUBE 83

Se introduzido um coeficiente (CQ), determinado experimentalmente,


o qual inclui o efeito dos fenômenos desprezados às condições de
escoamento real sobre um vertedor de parede delgada, a expressão
geral para a vazão (Q) é dada por:

Em que: o coeficiente CQ é denominado de coeficiente de vazão ou de


descarga. Lembrando que esta equação só é aplicada aos casos em que
o eixo y divide o vertedor em duas partes iguais, que são os casos mais
comuns na prática.

• Vertedor retangular
Em um vertedor retangular, o x (metade da soleira L) é constante para
qualquer valor de y, podendo-se escrever:

Conforme mostra a Figura 7 a seguir:

Figura 7: Vertedor retangular sem contrações laterais.


Fonte: Guedes, (2015).
84 UNIUBE

Aplicando-se x na equação da vazão, chega-se na equação válida para


vertedor retangular de parede delgada, sem contrações laterais:

Em que: o valor de CQ (coeficiente de descarga) obteve, por meio de


estudos experimentais, o valor de CQ para vertedor retangular sem
contração lateral igual a 0,6224.

Realizando as substituições na fórmula, tem-se:

Em que: Q = vazão (m³s-1); L = comprimento da soleira (m); e H = altura


de lamina (m).

E, em vertedores retangulares que apresentam parede espessa,


adotamos o coeficiente 1,55 ao invés de 1,838.

• Vertedor triangular

O vertedor triangular de parede delgada (Figura 8) normalmente


apresenta um entalhe em forma de um triângulo isósceles, uma vez que
o eixo das ordenadas (y) divide a seção em duas partes iguais.

Figura 8: Vertedor triangular.


Fonte: Guedes, (2015).
UNIUBE 85

Então, para a medição de vazão, temos simplificadamente:

Em que: Q = vazão (m³s-1) e H = altura da lâmina vertente (m).

OBS.: Para pequenas vazões, o vertedor triangular é mais preciso que


o retangular (aumenta o valor de H a ser lido quando comparado com
o retangular), entretanto, para maiores vazões, ele passa a ser menos
preciso, pois qualquer erro de leitura da altura de lâmina vertente (H) é
afetado pelo expoente 5/2.

• Vertedor trapezoidal
O vertedor trapezoidal (Figura 9) é menos utilizado do que os vertedores
retangular e triangular. Pode ser usado para medição de vazão em canais,
sendo o vertedor CIPOLLETTI o mais empregado. Esse vertedor apresenta
taludes de 1:4 (1 na horizontal para 4 na vertical) para compensar o efeito
da contração lateral da lâmina ao escoar por sobre a crista.

Figura 9: Vertedor trapezoidal de CIPOLLETTI.


Fonte: Guedes, (2015).

Por razões de simplicidade, a vazão pode ser calculada como a soma


das vazões que passam pelo vertedor retangular e pelos vertedores
triangulares, ou seja:
86 UNIUBE

OBS: a) O ideal é calibrar o vertedor no local (quando sua instalação é


definitiva) para obtenção do coeficiente de vazão (CQ).

b) O vertedor de parede delgada é empregado exclusivamente como


medidor de vazão e o de parede espessa faz parte, geralmente, de
uma estrutura hidráulica (vertedor de barragem, por exemplo), podendo
também ser usado como medidor de vazão.

4.1.1 Orifícios

Orifícios são aberturas de perímetro fechado (geralmente de forma


geométrica conhecida) localizadas nas paredes ou no fundo de
reservatórios, tanques, canais ou canalizações, sendo posicionadas
abaixo da superfície livre do líquido (GUEDES, 2015). Os orifícios
possuem a finalidade de medição de vazão, sendo utilizados, também,
para a determinação do tempo de esvaziamento de reservatórios e para
o cálculo do alcance de jatos.

São classificados quanto a sua forma geométrica, podendo ser


retangulares, circulares, triangulares etc.

Quando tratamos das dimensões relativas, estas podem ser consideradas


pequenas, pois são assim definidas quando suas dimensões forem muito
menores que a profundidade (h) em que se encontram. Na prática, d ≤
h/3 ou grande, quando d > h/3, em que d = altura do orifício, e h = altura
relativa ao centro de gravidade do orifício (Figura 10).
UNIUBE 87

Figura 10: Esquema de orifício instalado em r


eservatório de parede vertical.
Fonte: Guedes, (2015).

As paredes dos orifícios podem ser consideradas delgadas (e < d), nas
quais, a veia líquida toca apenas a face interna da parede do reservatório,
ou seja, o líquido toca o perímetro da abertura segundo uma linha (Figura
11a); ou de parede espessa (e ≥ d), quando a veia líquida toca quase
toda a parede do reservatório (Figura 11b), neste caso os orifícios de
parede espessa funcionam como bocais.

Figura 11: Orifícios de parede delgada (a) e espessa (b).


Fonte: Guedes, (2015).
88 UNIUBE

Quando a parede é horizontal e h < 3.d, ocorre o chamado vórtice, o qual


afeta o coeficiente de descarga (CQ).

Os escoamentos em um orifício podem ser classificados como livre ou


afogado (Figura 12):

Figura 12: Orifícios com escoamento livre (a) e afogado (b).


Fonte: Guedes, 2015.

Uma seção contraída, mostrada na Figura 13, é aquela seção do


orifício na qual observa-se uma mudança nas linhas de corrente do jato
d’água ao passar pelo orifício. Segundo Guedes (2015), diz-se que a
contração é incompleta quando a água não se aproxima livremente do
orifício de todas as direções, o que ocorre quando o mesmo não está
suficientemente afastado das paredes e do fundo. A experiência mostra
que, para haver contração completa, o orifício deve estar afastado das
paredes laterais e do fundo, ao menos, 3 vezes a sua menor dimensão.
Como a contração da veia líquida diminui a seção útil de escoamento, a
descarga aumenta quando a contração é incompleta.

As partículas fluidas escoam para o orifício vindas de todas as direções


em trajetórias curvilíneas. Ao atravessarem a seção do orifício continuam
a se moverem em trajetórias curvilíneas (as partículas não podem mudar
bruscamente de direção, devido à inércia das partículas, obrigando o jato
a contrair-se um pouco além do orifício, onde as linhas de corrente são
paralelas e retilíneas) (GUEDES, 2015).
UNIUBE 89

Figura 13: Seção contraída do jato de água que escoa pelo orifício.
Fonte: Guedes, (2015).

• Vazão em orifícios afogados

Nesse caso, admite-se que todas as partículas que atravessam o orifício


têm a mesma velocidade e que os níveis da água são constantes nos
dois reservatórios. Assim, obtemos que:

Em que: Q é a vazão volumétrica para orifícios afogados de pequenas


dimensões localizados em reservatórios de parede delgada. Na prática,
pode-se tomar o valor de CQ como: CQ = CV . CC = 0,985 x 0,62 = 0,61.

• Vazão em orifícios com escoamento livre

Nesse caso h1 = 0 e h0 = h, então, podemos calcular usando a seguinte


fórmula:

Em iguais condições de altura de lâmina d’água acima do orifício (h ou


h0 - h1), CQ é um pouco maior para escoamento livre. Em casos práticos,
podem ser adotados os mesmos valores para CQ.
90 UNIUBE

• Vazão em orifícios livres de grandes dimensões

Nesse caso, não se pode mais admitir que todas as partículas possuam
a mesma velocidade, devido ao grande valor d (Figura 14). O estudo é
feito considerando-se o grande orifício dividido em um grande número
de pequenas faixas horizontais de alturas infinitamente pequenas, onde
pode ser aplicada a equação deduzida para orifícios pequenos.

Figura 14: Orifícios livres de grandes dimensões em paredes delgadas.


Fonte: Guedes, (2015).

Para o caso de orifícios com seção retangular (x = L):

Sendo que, se h0 = 0, o orifício deixa de funcionar como tal e passa a


ser um vertedor.
UNIUBE 91

Para o caso de orifícios com seção triangular, Figura 15:

Figura 15: Seção transversal triangular com orifício.


Fonte: Guedes, 2015.

Temos a vazão, como sendo:

• Vazão em orifícios de contração incompleta

Quando o orifício é de contração incompleta, a vazão é calculada pela


mesma fórmula que para orifício de contração completa, ou seja:

Em que: o coeficiente CQ’ (coeficiente de vazão para contração incompleta)


está relacionado com o coeficiente de vazão para contração completa (CQ)
pela seguinte expressão, obtida experimentalmente por Bidone:
92 UNIUBE

Em que: K = relação entre o perímetro da parte não contraída do orifício


e o perímetro total do orifício.

4.1.2 Comportas

Comportas são os equipamentos que permitem o controle da vazão


da água em reservatórios, represas e válvulas. Sua aplicação é bem
variada no campo da engenharia hidráulica. Esse tipo de equipamento
é geralmente utilizado para proteger e auxiliar na manutenção de
equipamentos, também pode ser utilizado para o controle do nível
d’água e limpeza dos reservatórios, instalações de tomadas d’água e
regularização de vazões.

As comportas são basicamente formadas por três elementos principais:


tabuleiro, peças fixas e mecanismo de manobra.

As ações que se fazem sentir em comportas são, essencialmente, de


dois tipos: hidrostáticas e hidrodinâmicas. As investigações a respeito
das comportas se dão nesses dois campos, segundo Fernandes, Sousa
e Gonçalves (2013), no que respeita ao primeiro tipo, a informação
detalhada é de relativa fácil obtenção, o mesmo não acontece com
o segundo tipo em que, por vezes, os conhecimentos são ainda
insuficientes, no que se refere a ações variáveis com o tempo que,
presentemente, a investigação se desenvolve, com o objetivo de analisar
as ações dinâmicas em comportas, especialmente nos casos em que
a sua forma de fixação, em relação às restantes estruturas hidráulicas
pode influenciar o seu comportamento relativo ao escoamento. As
ações, susceptíveis de causar problemas de instabilidade nas referidas
estruturas, se devem, normalmente, a oscilações dos escoamentos e
surgem em variadas situações.
UNIUBE 93

Para o dimensionamento das comportas, os projetos obedecem


a peculiaridades e características de cada marca comercial e são
elaborados de acordo com as normas da ABNT, especialmente no diz
respeito a juntas e gabaritos, a uma altura máxima da coluna de 10 m.c.a
= 1 kgf/cm2  = 0,1 Mpa (FERNANDES; SOUSA; GONÇALVES, 2013).

4.2 Considerações finais

Os assuntos aqui abordados fazem parte de uma gama de conhecimento


teóricos da Hidráulica. Nessa perspectiva, suas aplicações práticas
são fundamentais ao entendimento dos acontecimentos físicos dos
escoamentos em canais, uma vez que estes são aplicados no cotidiano,
nos mais diversos projetos e lugares.

SAIBA MAIS

NETTO, J. M. D. A. et al. Manual de hidráulica. 8. ed. São Paulo: Edgard


Blücher LTDA, 1998. 670 p.

Referências

FERNANDES, Felipe Moysés; SOUSA, Renato Lourenço Rodrigues;


GONÇALVES, Thiago dos Santos. Hidrometria – condutos livres – vertedores
– comportas. 1. ed. Catalão-GO: Universidade Federal de Goiás, 2013.

GUEDES, Hugo Alexandre Soares. Hidráulica. Pelotas: Universidade Federal


de Pelotas, 2015.

AZEVEDO NETTO, José Martiniano de. et al. Manual de hidráulica. 8. ed.


São Paulo: Edgard Blücher LTDA., 1998.
Capítulo
Escoamento
permanente uniforme e
5
dimensionamento de canais

Natália Michelan

Introdução
Um escoamento em canal aberto é caracterizado pela existência
de uma superfície livre. Esta superfície é na realidade uma
interface entre dois fluidos sendo que o fluido acima da
superfície livre possui pressão praticamente constante e as
forças de cisalhamento na interface são praticamente nulas. Em
engenharia civil, as aplicações mais comuns estão relacionadas
ao escoamento de água em contato com o ar atmosférico
(ESCOAMENTO, 2016).

Todo o equacionamento apresentado refere-se a escoamentos


em regime uniforme e permanente, isso é válido quando as
características hidráulicas (h, Q e V) são constantes no tempo
(regime permanente) e ao longo do percurso (regime uniforme),
com o escoamento ocorrendo em condutos livres, nos quais parte
do perímetro molhado mantém-se em contato com a atmosfera
(DAAE, 2016).

Nas atividades em engenharia que envolvem o uso de recursos


hídricos, normalmente se encontram canais abertos de diferentes
formas e tamanhos. Como exemplos de canais abertos podem ser
citados os escoamentos em rios e riachos, em canais de irrigação,
esgotos domésticos e industriais, canais de água pluviais, canais de
96 UNIUBE

navegação, etc. Fica claro que o tamanho, a forma e a rugosidade


das superfícies variam acentuadamente, porém o escoamento em
todos os canais abertos são governados pelas mesmas leis gerais
da Mecânica dos Fluidos (ESCOAMENTO, 2016).

Para o dimensionamento de canais, foram utilizadas técnicas


consagradas, empregadas usualmente nos projetos de drenagem
urbana, mantendo-se o mesmo enfoque, vamos analisar alguns
casos como forma de apresentar os conceitos básicos de
hidráulica de canais.

Objetivos
• Compreender o que consiste o escoamento permanente
uniforme.
• Compreender os canais e os diferentes tipos de canais.
• Compreender os fatores que envolvem o dimensionamento
de canais.

Esquema
5.1 Escoamento permanente uniforme
5.1.1 Principais formas geométricas
5.1.2 Dimensionamento de canais
5.2 Considerações finais

5.1 Escoamento permanente uniforme

O escoamento da água que está em superfícies que estão sujeitas à


pressão atmosférica é denominado canal. Temos diversos elementos
geométricos nas diferentes seções dos canais, podendo ser prismáticos
e não prismáticos. Os canais artificiais são normalmente prismáticos,
podendo ter seção transversal retangular, trapezoidal, triangular, circular
UNIUBE 97

ou combinações destas formas. Os canais naturais normalmente


possuem seções transversais variáveis e, consequentemente são canais
não prismáticos. Devemos conhecê-los para, assim, estudar como
ocorrerá o escoamento da água.

5.1.1 Principais formas geométricas

As formas das seções transversais dos canais são muito variáveis.


Dentre elas, utilizam-se seções abertas (semicirculares, retangulares,
trapezoidais, triangulares), ou fechadas (circulares, ovais, elípticas,
ferradura, etc.), conforme o tipo de obra e a natureza das paredes ou do
seu revestimento (NEVES, 1979 apud DIÓGENES, 2011).

Conforme Neves (1979 apud Diógenes 2011), nas formas abertas, as


seções semicirculares são usadas em calhas metálicas ou de madeira, ou
em canais de concreto, e as triangulares, em geral, somente em canais
de pequenas dimensões. As formas retangulares podem ser usadas
somente para canais abertos em rochas, ou executados com paredes
de alvenaria, concreto ou de madeira e as formas trapezoidais são muito
utilizadas para canais abertos em terreno natural, dependendo o ângulo
dos taludes da natureza do mesmo.

• Seção transversal
Os elementos geométricos da seção transversal dos canais, expostos a
seguir, estão representados na Figura 1.

Profundidade de escoamento (y): é a distância vertical entre o ponto mais


baixo da seção e a superfície livre. No regime de escoamento uniforme,
y = yn (profundidade normal) e no regime de escoamento crítico, y = yc
(profundidade crítica).

Seção molhada (A): é toda seção perpendicular molhada pela água.


98 UNIUBE

Perímetro molhado (P): é o comprimento da linha de contorno molhada


pela água.

Raio hidráulico (R): é a relação entre a área molhada e o perímetro


molhado.

Profundidade média ou profundidade hidráulica (ym): é a relação entre a


área molhada.

(A) é a largura da superfície líquida (B).

Talude (z): é a tangente do ângulo (α) de inclinação das paredes do canal.

Figura 1: Elementos geométricos da seção transversal dos canais.


Fonte: Guedes, (2015).

• Seção longitudinal
Os elementos geométricos da seção longitudinal dos canais, expostos a
seguir, estão representados na Figura 2.

Declividade de fundo (I): é a tangente do ângulo de inclinação do fundo


do canal (I = tg ).

Declividade de superfície (J): é a tangente do ângulo de inclinação da


superfície livre da água (J = tgλ).
UNIUBE 99

Figura 2: Elementos geométricos da seção longitudinal dos canais.


Fonte: Guedes, 2015.

Escoamento em regime fluvial permanente e uniforme

Este tipo de escoamento só ocorre em canais prismáticos de grande


comprimento, ou seja, canais que apresentam a mesma seção transversal
(com as mesmas dimensões), a mesma declividade de fundo ao longo de
seu comprimento, além da mesma rugosidade das paredes. Nesse caso,
a superfície da água, a linha de energia e o fundo do canal apresentam
a mesma declividade (I = J).

Quando a declividade (I) é forte (I > Ic), o escoamento permanente


uniforme supercrítico só é atingido após passar por um trecho
denominado zona de transição (onde o escoamento é não uniforme ou
variado), cujo comprimento dependerá principalmente das resistências
oferecidas ao escoamento, observa-se na Figura 3.

Figura 3: Perfil longitudinal para um escoamento supercrítico (yn < yc).


Fonte: Guedes, (2015).
100 UNIUBE

Quando a declividade (I) é fraca, o escoamento permanente uniforme


subcrítico é atingido logo após a seção A do escoamento. Havendo
queda na extremidade final do canal, o escoamento deixa de ser uniforme
passando a não uniforme ou variado, observa-se na Figura 4.

Figura 4: Perfil longitudinal para um escoamento subcrítico (yn > yc).


Fonte: Guedes, (2015).

Para os casos em que a declividade (I) é crítica, o escoamento se realiza


em regime permanente uniforme crítico em toda a sua extensão, como
observa-se na Figura 5. Essa situação é instável e dificilmente ocorre
em canais prismáticos, pode ocorrer em trechos ou seções dos canais
projetados especificamente para determinados fins como a medição de
vazão, por exemplo.

Figura 5: Perfil longitudinal para um escoamento crítico (yn = yc).


Fonte: Guedes, (2015).
UNIUBE 101

Pela ação da gravidade, nos canais de declividade fraca (Figura 4),


a velocidade cresce a partir da seção (A) para jusante e cresceria
indefinidamente na ausência do atrito entre o fundo e as paredes do
canal com o líquido. O atrito, entretanto, dá origem à força de atrito ou
tangencial que se opõe ao escoamento; essa força é proporcional ao
quadrado da velocidade. É de se esperar, portanto, que a velocidade ao
atingir certo valor estabeleça um equilíbrio entre as forças de atrito e a
gravitacional; daí para frente, o escoamento é dito uniforme.

Havendo uma queda, uma mudança de seção, uma mudança de


declividade (o que provoca uma variação na velocidade), o escoamento
deixa novamente de ser uniforme, passando a não uniforme.

Equações utilizadas no dimensionamento de canais operando em


regime permanente e uniforme

• Equação de Chézy

Em que: C – coeficiente de Chézy, pode ser calculado pelas equações


de Bazin ou de Manning.

Equação de Bazin Equação de Manning

Em que: n - coeficiente de Manning,


Em que: - coeficiente de Bazin, pode ser obtido na literatura.
pode ser obtido na literatura.

Para a vazão, após aplicada na equação de Chézy, a equação de


Manning se escreve:
102 UNIUBE

Os coeficientes C, n e são grandezas dimensionais, pois dependem


dos valores numéricos do sistema de unidades adotado, por exemplo,
o coeficiente C depende do fator de atrito f, que é função do número de
Reynolds e da rugosidade da parede.

Separando-se as variáveis supostamente conhecidas (n, Q, I) da equação


de Manning, obtemos:

Nesta equação válida para qualquer seção, o segundo membro depende


somente da geometria da seção do canal. Apresenta-se, a seguir, a
adequação da referida equação para as seções: circulares, trapezoidais,
retangulares e triangulares.

Conhecendo e , podemos obter a seguinte

expressão para seções circulares:

Em que o ângulo θ pode ser calculado por:

Já para a seção trapezoidal, primeiramente, determinamos a largura do


fundo (b), que, supondo-se supõem-se que sejam conhecidos n, Q, I, z e
yn. Sendo, e , substituindo obtemos:
UNIUBE 103

Para canais retangulares, basta usar a curva construída para z = 0.

Posteriormente, determinamos a profundidade normal (yn), supondo-se


conhecidos agora: n, Q, I, z e b, obtemos que:

Para casos de canais retangulares, basta usar a curva construída para


z = 0.

Por fim, na seção triangular, supondo-se conhecidos n, Q, I e z, em que


a incógnita do problema é a profundidade normal (yn), sabendo-se que
e , substituindo obtemos:

• Cálculo das seções transversais usuais

Após escolhida uma determinada forma geométrica, existe mais de


uma combinação entre os elementos da seção que satisfaz a fórmula
de Manning. Deste modo, o cálculo de canais em regime uniforme é
predominantemente um problema geométrico. Na Tabela 1, estão
apresentadas as equações para o cálculo das seções transversais usuais
de canais.
104 UNIUBE

Tabela 1: Equações para canais de seção transversal usual

Fonte: Adaptada de Guedes (2015).

Para obtermos seções de máxima eficiência quanto a sua vazão, nos


baseamos na seguinte equação:

Uma maior vazão (Q) poderá ser conseguida aumentando-se a área (A),
o que implica em maiores custos; aumentando-se a declividade de fundo
(I), o que implica em perigo de erosão além de perda de altura, para
terrenos com baixa declividade; e diminuindo-se a rugosidade (n), o que
implica em paredes e fundo do canal revestidos, aumentando os custos.

A solução viável é o aumento do raio hidráulico (R), mantendo-se as


outras grandezas constantes, ou seja: para uma mesma área, uma
UNIUBE 105

mesma declividade de fundo e a mesma rugosidade (n), uma maior


vazão é conseguida com um aumento do raio hidráulico (R). Como R
= A/P, e já que A deverá ser mantida constante, o perímetro molhado
deverá ser diminuído. Quando o perímetro molhado for mínimo, R será
máximo e Q também (Tabela 2).

Tabela 2: Equações para canais de máxima vazão também chamados de: canais de mínimo
perímetro molhado, canais de seção econômica, canais de máxima eficiência, canais de mínimo
custo

Fonte: Adaptada de Guedes (2015).

No dimensionamento dos canais, devemos levar em consideração


certas limitações impostas pela qualidade da água transportada e pela
natureza das paredes e do fundo do canal. Assim, a velocidade média
V do escoamento deve enquadrar-se em certo intervalo: Vmín < V < Vmáx.

Segundo Guedes (2015), determina-se a velocidade mínima (Vmín)


permissível, tendo em vista o material sólido em suspensão transportado
pela água. É definida como sendo a velocidade abaixo da qual o material
sólido contido na água decanta, produzindo assoreamento no leito do
canal. A velocidade máxima (Vmáx) permissível é determinada tendo em
106 UNIUBE

em vista a natureza das paredes do canal. É definida como sendo a


velocidade acima da qual ocorre erosão das paredes e do fundo do canal.
O controle da velocidade, no dimensionamento das seções dos canais,
pode ser feito atuando na declividade de fundo (para evitar grandes
velocidades); e nas dimensões da seção transversal ou na sua forma
(para evitar pequenas velocidades).

Assim, por exemplo, podem-se evitar velocidades excessivas, fazendo


variar a declividade de fundo com a formação de degraus (Figura 6a) ou
construção de muros de fixação do fundo (Figura 6b) (GUEDES, 2015).

Figura 6: Variação da declividade com a formação de degraus (a) e muros de fixação do


fundo (b).
Fonte: Guedes (2015).

A necessidade de evitar pequenas velocidades ocorre, geralmente, em


canais com grande descarga sólida (caso dos coletores de esgotos
sanitários) ou em canais submetidos a grandes variações de vazões (caso
dos canais de retificação dos cursos de água naturais) (GUEDES, 2015).

No caso de canais submetidos a grandes variações de vazão no decorrer


do ano, a seção do canal deve ser dimensionada para suportar a vazão
de cheia ou vazão de enchente. Nos períodos de seca, a velocidade
pode se tornar inferior à mínima permitida (GUEDES, 2015). Consegue-
se contornar este inconveniente adotando formas de seção especiais
(seções compostas) como:
UNIUBE 107

Figura 7: Seções transversais compostas para canais com grandes variações de vazão.
Fonte: Guedes, (2015).

Outra limitação prática que deve ser levada em consideração, na


definição da forma da seção do canal, principalmente no caso das
seções trapezoidais, é a inclinação das paredes laterais. Esta inclinação
depende, principalmente, da natureza das paredes.

• Velocidade máxima e vazão máxima em canais circulares fechados


Segundo Porto (2004), os canais com seções transversais circulares
são os mais empregados na maioria das obras em que são necessárias
seções fechadas, por exemplo, os coletores de esgotos, as galerias de
águas pluviais e as linhas adutoras. Estes condutos fechados podem ter
cobertura plana, simplesmente uma laje de cobertura, ou cobertura em
formato especial.

A diferença entre os pontos máximos pode ser contatada a partir do


emprego das fórmulas de Manning, chegando em:

Para n, D e Io constantes, a vazão e a velocidade só dependem do ângulo


θ e, portanto, de yo; derivando estas equações em relação a θ e igualando
a zero, chega-se a:
108 UNIUBE

- V = Vmáx, quando θ = 257°, que corresponde a yo= 0,81D

- Q = Qmáx, quando θ = 302,5°, que corresponde a yo= 0,94D

A partir de yn = 0,95D, pequenos acréscimos em yn ocasionam


pequenos acréscimos na área molhada e maiores acréscimos no
perímetro molhado, o que diminui o raio hidráulico (R), diminuindo
consequentemente a vazão (Q).

• Relação dos Elementos Hidráulicos da seção circular


Em projetos de sistema de esgoto, por exemplo, as tubulações trabalham
parcialmente cheias; é interessante conhecer os elementos hidráulicos
e geométricos para várias alturas d’água. Também é necessário saber,
para uma determinada lâmina d’água, qual é a relação entre a vazão que
está escoando e aquela que escoaria se a seção fosse plena.

As relações entre o raio hidráulico, a velocidade e a vazão em uma


determinada lâmina e na seção plena são obtidas a partir das expressões:

Podemos relacionar as velocidades e as vazões pela fórmula de Manning,


em que Vp e Qp são, respectivamente, a velocidade e a vazão na seção,
assim, obtemos:
UNIUBE 109

Como para a seção plena de um conduto circular tem-se e


, assim obtemos as seguintes equações:

5.1.2 Dimensionamento de canais

Quando a água escoa em um canal e se observa que a seção transversal,


a profundidade de água e a velocidade não variam de um ponto para
outro, o escoamento é dito uniforme (SILVA, 2014). No escoamento
uniforme em canais, a equação da continuidade de Chézy-Manning
permite o cálculo da vazão escoada, quando se conhece os demais
elementos. Aplicando, tem-se:

Em que: Q é a vazão, produto da área transversal da seção de


escoamento pela velocidade média da água.

Normalmente n e S são parâmetros definidos e conhecidos. Quando se


conhece as dimensões do canal, o cálculo da vazão é explícito. Porém,
quando se deseja conhecer ou dimensionar a base e altura de um canal,
tendo-se a vazão de projeto, a solução fica não explícita e deve ser obtida
por métodos numéricos, ábacos, tabelas ou tentativas.
110 UNIUBE

• Método das tentativas


Consiste em assumir valores para os parâmetros que definem a área
e o raio hidráulico de um canal e, em seguida, aplicar a equação de
Manning e a equação da continuidade, para calcular qual será a vazão
com os valores assumidos. A relação entre os valores assumidos para os
parâmetros geométricos do canal pode variar ou permanecer constante.
É necessário comparar a vazão calculada com a vazão conhecida,
caso não sejam idênticas, repetir os cálculos até encontrar dois valores
idênticos para vazão. Para facilitar os cálculos, recomenda-se utilizar o
seguinte tipo de quadro:

• Utilizando as fórmulas de seção econômica

No caso de seções econômicas, a solução é explícita mesmo quando se


deseja conhecer os valores de y e b, pois as equações de área molhada
e raio hidráulico são funções somente de y. Substituindo as equações
de área e raio hidráulico, para canais trapezoidais, na equação de
Chézy-Manning:

Sendo que se conhece:


UNIUBE 111

• Taludes e velocidades recomendadas


A velocidade em uma seção transversal de um canal é calculada pela
equação de Chézy-Manning, porém seu valor pode ser restringido
por limitações da qualidade da água e da resistência dos taludes.
Velocidades muito grandes podem provocar erosão no leito e no fundo
do canal, destruindo-o. Velocidades muito baixas podem possibilitar a
sedimentação de partículas em suspensão, obstruindo o canal.

As tabelas 3,4 e 5 a seguir apresentam limites de velocidade e de


inclinação dos taludes em função da natureza da parede.

Tabela 3: Velocidades média e máxima em um canal, em função da natureza da parede


Velocidade (m.s-1)
Natureza da parede do canal
Média Máxima
Areia muito fina 0,23 0,23
Areia solta – média 0,30 0,30
Areia grossa 0,46 0,46
Terreno arenoso comum 0,61 0,61
Terreno silto-argiloso 0,76 0,76
Terreno de aluvião 0,84 0,84
Terreno argiloso compacto 0,91 0,91
Terreno argiloso duro 1,22 1,22
Cascalho grosso, pedregulho 1,52 1,52
Rochas sedimentares moles 1,83 1,83
Alvenaria 2,44 2,44
Rochas compactas 3,05 3,05
Concreto 4,00 4,00
Fonte: Carvalho; Silva (2008).

Tabela 4: Velocidades mínimas em um canal a fim de evitar sedimentação


Tipo de suspensão na água Velocidade (m.s-1)
Água com suspensão fina 0,30
Água transportando areia 0,45
Águas residuárias - esgotos 0,60
Fonte: Carvalho; Silva (2008).
112 UNIUBE

Tabela 5: Inclinação dos taludes dos canais


Natureza da parede do canal m
Canais em terra sem revestimento 2,5 a 5,0
Canais em saibro 2,0
Cascalho roliço 1,75
Terra compacta sem revestimento 1,50
Terra muito compacta – rocha 1,25
Rocha estratificada 0,50
Rocha compacta 0,0
Fonte: Carvalho; Silva (2008).

5.2 Considerações finais

Uma importante característica da hidráulica dos canais, além da


superfície livre, é a deformidade desta. Em canais, a veia líquida
tem liberdade de se modificar para que seja mantido o equilíbrio
dinâmico. Dessa forma, a deformidade da superfície livre dá origem
a fenômenos desconhecidos nos condutos forçados, como o res-
salto hidráulico.

SAIBA MAIS

PORTO, Rodrigo de Melo. Hidráulica básica. 4. ed. São Carlos: EESC-USP,


2006.

Referências

CARVALHO, Daniel Fonseca de; SILVA, Leonardo Duarte Batista Da.


Fundamentos de hidráulica. 1. ed. Rio de Janeiro: Universidade Federal
Rural do Rio de Janeiro, 2008.
UNIUBE 113

DAAE. Hidráulica de canais, travessias e barramentos. Disponível em:


<http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:UU3gTzF
cB3YJ:ftp://ftp.ifes.edu.br/Cursos/Geomatica/Geraldo/InfraEstrutura/
ProjetoGeometrico/HidrologiaeHidraulica/DrenagemeBarragens02.
pdf+&cd=1&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br>. Acesso em: 15 jan. 2016.

DIÓGENES, Daianne Fernandes. Escoamento uniforme em condutos


livres. 51 f. Universidade Federal Rural do Semi-Árido – UFERSA, 2011.

ESCOAMENTO Uniforme em Canais. Disponível em: <http://www.


feg.unesp.br/~mzanardi/ESCOAMENTOS%20UNIFORMES%20
EM%20CANAIS.pdf>. Acesso em: 15 jan. 2016.

GUEDES, Hugo Alexandre Soares. Hidráulica. Pelotas:


Universidade Federal de Pelotas, 2015.

PORTO, Rodrigo de Melo. Hidráulica básica. 4. ed. São Carlos:


EESC-USP, 2006.

SILVA, Gilberto Queiroz. Lições de hidráulica geral: Parte II - Escoamento


Livre. Ouro Preto: Universidade Federal de Ouro Preto, 2014.
Capítulo Energia específica
6

Natália Michelan

Introdução
A energia específica é medida a partir do fundo do canal, somando
a carga altimétrica, piezométrica e cinética. Muitos fenômenos que
ocorrem em canais podem ser analisados utilizando-se o princípio
da energia.

Este conceito simples é extremamente importante para estudar


problemas de escoamentos através de singularidades em canais,
como alteração da cota de fundo, alargamentos e estreitamentos,
dentre outros (PORTO, 2006).

Objetivos
• Compreender no que consiste a energia específica.
• Entender os tipos de escoamento que envolvem a aplicação
da energia específica.

Esquema
6.1 Energia específica
6.2 Considerações finais
116 UNIUBE

6.1 Energia específica

Muitos fenômenos que ocorrem em canais podem ser analisados


utilizando-se o princípio da energia.

Usamos como base a carga média, ou seja, a energia total por unidade
de peso, em uma certa seção de um canal, mostrada na Figura 1, onde
a distribuição de pressão hidrostática é dada por:

Em que: α é um coeficiente para corrigir a desigual distribuição de


velocidade, e utilizaremos α = 1.

Figura 1: Seção transversal de um canal.


Fonte: Soares (2011).
UNIUBE 117

A linha piezométrica é o ponto geométrico das extremidades dos


segmentos (z+y), que coincide com a superfície livre e sua declividade,
chamamos de gradiente hidráulico. Quando somados , para
cada seção vertical, obtermos a linha de carga ou linha de energia. A
declividade desta linha denomina-se gradiente de energia.

Assim, a energia específica define-se pela quantidade de energia por unidade


de líquido, medida a partir do fundo do canal, sendo representada por:

Tendo em vista a grande variedade de formas das seções dos canais,


é útil, para os estudos gerais, definir a profundidade média, ym, de uma
seção de área A e largura superficial B, assim:

A energia específica em uma seção transversal de qualquer conduto


livre não se altera se multiplicarmos e dividirmos a segunda parcela do
segundo membro pela profundidade média, ou seja:

Em que: a expressão é conhecida como fator cinético do


escoamento e sua raiz quadrada denomina-se número de Froude. Desse
modo, a energia específica pode ser:

Ou ainda, podemos substituir por .


118 UNIUBE

Este número de Froude desempenha papel importante no estudo dos


canais, permitindo definir regimes de escoamento dinamicamente
semelhantes.

• Energia específica nos regimes de escoamentos

Ao considerarmos a seção de área A de um canal que funcione em


regime permanente, sua velocidade média será dada por:

Assim, sendo a vazão constante e a área da seção função da


profundidade ( ), a energia específica dependerá apenas de y
e, então, obtemos a equação energia específica como sendo:

Esta expressão nos permite estudar a variação da energia específica em


função da profundidade, considerando uma vazão constante. Verificamos
que a variação de E com y é linear e está representada pela reta da
energia potencial (E1), bissetriz dos eixos coordenados (Figura 2a).

(a) (b) (c)


Figura 2: Eixos ortogonais.
Fonte: Soares (2011).
UNIUBE 119

Ao analisarmos a Figura, sabemos que A aumenta ou diminui com y,


e se y tender para 0, o mesmo acontecerá com A. Mas a velocidade
média tenderá para o infinito para satisfazer a equação da continuidade
( ), assim, a energia cinética será infinitamente grande. Se
y tender para o infinito, o valor da área das seções do canal terá a mesma
tendência, enquanto a velocidade e a energia cinética tenderão para 0.
Então, se y variar, e a vazão permanecer constante, teremos a curva E2
(Figura 2b), denominada curva da energia cinética, que mostra como
varia a energia cinética com a profundidade da água no canal. Se, para
cada valor da profundidade, somarmos os correspondentes valores da
energia potencial e da energia cinética, obteremos a curva da energia
específica (E) (Figura 2c).

Assim, podemos concluir que existe um valor mínimo Ec da energia


específica correspondendo ao valor yc da profundidade, no qual
chamamos de Ec de energia crítica e yc profundidade crítica. Ainda, para
dado valor E’>Ec da energia específica, existem dois valores (yi e ys) da
profundidade, ou seja, para E’>Ec existem dois regimes de escoamento
o qual chamamos de regimes recíprocos.

O escoamento que ocorre com profundidade ys chama-se escoamento


subcrítico, já o que corresponde a yi recebe o nome de escoamento
supercrítico. E, por fim, o escoamento que corresponde à profundidade
yc chama-se escoamento em regime crítico.

Para melhor compreensão de como E varia com y, imaginemos um canal


de seção e vazão constantes com declividade variável, conforme mostra
a Figura 3:
120 UNIUBE

Figura 3: Canal com declividade variável.


Fonte: Soares (2011).

Aumentando-se a declividade do canal, o valor de y diminui e vice-versa.


Em consequência, a ocorrência de um dos regimes fica condicionada à
declividade do canal.

Para I = Ic = declividade crítica, o regime é crítico.

Para I < Ic, o regime é subcrítico.

Para I > Ic, o regime é supercrítico.

Podemos então expressar o fator crítico cinético pelo dobro do quociente


da energia cinética pela energia potencial, possuídas pela unidade de
peso do líquido, escoando a uma profundidade y, equacionando:

• Escoamento crítico

O escoamento crítico é definido como o estágio em que a energia


específica é mínima para uma dada vazão ou estágio em que a vazão é
máxima para uma dada energia específica. Neste caso em que a energia
específica é mínima, para obtermos a equação característica do regime
crítico, basta igualar a 0 a derivada em relação a y:
UNIUBE 121

Logo,

Em que: , obtemos a equação característica:

Sendo e , chegamos a:

Assim, no regime crítico, o fator cinético e o número de Froude são iguais


à unidade .

O escoamento em regime crítico é instável, porque a menor mudança


da energia específica provoca uma sensível alteração da profundidade
da água no canal, sendo assim, a carga cinética é igual à metade da
profundidade média. Podemos escrever:

Se o canal for retangular, , a vazão será e a área da seção


será por metro de largura do canal, então a equação será escrita:
122 UNIUBE

• Regime crítico

Igualando as expressões e , temos:

Assim, quando , a expressão anterior se reduz a eo

regime é crítico. Para , temos e o regime é subcrítico

(lento). Para , temos , e o regime é supercrítico (rápido),

portanto, o número de Froude passa a ser o parâmetro adimensional


importante na identificação do tipo de escoamento que está ocorrendo.
Considerando como medida da energia potencial e como carga
cinética, ambas grandezas referidas à mesma seção, podemos afirmar,
tendo em vista as expressões acima, o seguinte:

• no regime crítico, há equilíbrio entre as energias cinética e potencial;


• no regime subcrítico, a energia potencial é maior do que a cinética;
• no regime supercrítico, há prevalência da energia cinética sobre a
potencial.

Outro parâmetro importante a ser analisado é a declividade crítica


Ic. Este parâmetro também pode ser usado como indicador do tipo
do escoamento que está se processando, pela comparação com a
declividade de fundo, pois ao analisarmos a Figura 4, vemos que
quando, em um canal, o regime de escoamento muda de supercrítico
para subcrítico, ou vice-versa, a profundidade passa pelo valor crítico, por
exemplo, o aumento brusco da declividade de subcrítica para supercrítica
(Figura 4a) e as entradas dos canais de grandes declividades (Figura 4b).
UNIUBE 123

(a) (b)
Figura 4: Entrada de canais de grande declividade
Fonte: Escoamento (2016).

Em (a), a profundidade crítica ocorre na mudança de declividade e no (b)


ocorre nas proximidades da entrada do canal.

As seções em que se verificam mudanças de regime denominam-se


por seções de controle, porque definem a profundidade do escoamento
a montante. Desde que sejam conhecidas as dimensões da seção de
controle, podemos obter a vazão do canal por meio da equação
. Esta é uma importante característica do regime crítico aplicada à certa
categoria de medidores.

Outro exemplo de ocorrência da profundidade crítica é o da livre (degrau


– Figura 5) em canal de pequena declividade.

Figura 5: Degrau
Fonte: Escoamento (2016b).

Neste caso, como o atrito produz certa diminuição de carga, a


profundidade e, consequentemente, a energia específica, na seção do
124 UNIUBE

degrau, são menores do que na seção imediatamente a montante. Como


a profundidade crítica ocorre na seção de menor energia específica,
esta profundidade deve estabelecer-se, na seção do degrau, porém, não
acontece na realidade, pois, na seção da queda, o escoamento afasta-se
do movimento paralelo.

A mudança do regime de supercrítico para subcrítico pode não se dar de


maneira gradual e contínua como nos casos anteriores, pois a passagem
acontece bruscamente e com grande turbulência, formando o ressalto
hidráulico, assunto que estudaremos profundamente na próxima unidade.
Verifica-se a elevação brusca da lâmina líquida, sendo difícil definirmos
a posição da profundidade crítica.

(a) Ressalto Hidráulico (b) Ressalto Hidráulico em comportas


Figura 6: Ressalto Hidráulico.
Fonte: Escoamento (2016b).

O ressalto da Figura 6a ocorre quando a declividade do fundo do canal


passa de supercrítica a subcrítica, já a Figura 6b mostra o ressalto em
canal de pequena declividade, recebendo a descarga de uma comporta
de fundo, sendo a velocidade de saída da água, sob a comporta, maior
do que a velocidade crítica.

6.2 Considerações finais

Os canais uniformes e o escoamento uniforme não existem na natureza


(condições apenas se aproximam do movimento uniforme). Essas
condições de semelhança apenas acontecem a partir de uma certa
UNIUBE 125

distância da seção inicial e também deixam de existir a uma certa


distância da seção final (nas extremidades a profundidade e a velocidade
são variáveis).

Em canais relativamente curtos, não podem prevalecer as condições


de uniformidade. Em coletores de esgotos, concebidos como canais
de escoamento uniforme, ocorrem condições de remanso e ressaltos
de água onde o movimento se afasta da uniformidade. Nos canais com
escoamento uniforme, o regime poderá se alterar, passando a variado
em consequência de mudanças de declividade, variação de seção e
obstáculos.

SAIBA MAIS

SILVESTRE, Paschoal. Hidráulica geral. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e


Científicos Editora S. A., 1979. 316 p.

Referências

ESCOAMENTO Livre – Canais. Escoamento Crítico e Número de Froude. Disponível


em: <http://slideplayer.com.br/slide/6616320/#>. Acesso em: 20 jan. 2016.

PORTO, Rodrigo de Melo. Hidráulica básica. 4. ed. São Carlos:


EESC-USP, 2006.

SILVESTRE, Paschoal. Hidráulica geral. 1. ed. Rio de Janeiro: Livros


Técnicos e Científicos Editora S. A., 1979.
Capítulo Ressalto hidráulico
7

Natália Michelan

Introdução

O ressalto hidráulico é um dos fenômenos importantes no campo


da hidráulica, possui uma gama bastante ampla de aplicações
sendo a principal delas sua utilização como um dissipador de
energia. Além dessa aplicação, é ainda utilizado em medidores
de vazão tipo calha, na melhoria da mistura de produtos químicos
no tratamento de águas e esgotos, para intensificar a mistura
de gases em processos químicos, na aeração de escoamentos
poluídos com produtos biodegradáveis etc (BARROSO, 2015).

Como estudamos na unidade anterior sobre escoamentos críticos,


o ressalto hidráulico baseia-se na análise destes escoamentos
críticos, ou seja, ocorre o forçamento de mudança do escoamento
supercrítico a se tornar subcrítico numa seção a jusante. Esta
transição pode ser forçada pela existência de vertedores,
obstáculos, transições de inclinações de fundo etc. A mudança
brusca de profundidade que normalmente ocorre é acompanhada
de uma considerável perda de energia.
128 UNIUBE

Objetivos
• Compreender a definição de ressalto hidráulico.
• Compreender a relação com o número de Froude e seu
dimensionamento.
• Compreender os diferentes tipos de ressalto hidráulico.

Esquema
7.1 Ressalto hidráulico
7.2 Considerações finais

7.1 Ressalto hidráulico

O ressalto hidráulico é um fenômeno que ocorre na transição de um


escoamento torrencial ou supercrítico para um escoamento fluvial
ou regime subcrítico. Este fenômeno é caracterizado pela elevação
acentuada no nível da água em uma reduzida distância, com elevada
turbulência e grande perda de energia (BARROSO, 2015).

• Número de Froude e os tipos de ressalto hidráulico

Sendo o ressalto hidráulico um fenômeno que ocorre em superfície


livre, o efeito das forças gravitacionais é importante e, desta maneira,
o escoamento pode ser caracterizado principalmente pelo número de
Froude.
UNIUBE 129

O número de Froude representa a relação adimensional entre esforços


inerciais e gravitacionais:

Em que: V é a velocidade média do escoamento; c é a celeridade da


onda de gravidade (função da altura do escoamento).

Existem essencialmente cinco formas de ressalto que podem ocorrer em


canais de fundo horizontal. Cada uma destas formas foi classificada de
acordo com o valor do número de Froude, relativo ao regime supercrítico
da corrente afluente.

O número de Froude na seção de entrada do ressalto (Fr1) é geralmente


utilizado na caracterização do escoamento. Conforme estudamos, nesta
seção, o número de Froude é sempre maior que a unidade (Fr1>1), pois
trata-se de um escoamento supercrítico. Se o número de Froude for
menor que a unidade (Fr1<1), o escoamento será subcrítico, ou ainda se o
número de Froude for igual a unidade (Fr1=1) o escoamento é classificado
como crítico, ou seja, não há formação de ressalto hidráulico.

Assim temos que:

- Para números de Froude entre 1,2 e 1,7, teremos um ressalto ondulado,


onde a profundidade do fluxo de entrada está pouco abaixo da altura
crítica, e a transição entre altura rápida e lenta é gradual, manifestando-
se apenas como uma superfície agitada. Quando próximo do limite,
pequenos rolos aparecem sobre a superfície, tornando-se mais intensos
com o aumento do número. Não se considera o fenômeno como ressalto
propriamente dito, mas sim a formação de ondas que se propagam para
jusante. Apresenta dissipação de energia muito pequena, o ressalto não
é empregado como dissipador, mostrado na Figura 1.
130 UNIUBE

Figura 1: Ressalto ondulado.


Fonte: Zanardi (2016).

- Para números de Froude entre 1,7 e 2,5, o pré-ressalto ou ressalto


fraco, mesmo com o aparecimento do rolo, temos que a superfície
d’água mantém-se relativamente suave como, mostrado na Figura 2. A
velocidade é relativamente uniforme e a dissipação de energia é baixa.
Assim, não se considera como ressalto propriamente dito, pois pouca
energia é dissipada. Uma série de pequenos vórtices é formada sob a
superfície livre na região do ressalto, e a região a jusante do ressalto
permanece aproximadamente uniforme e lisa.

Figura 2: Pré-ressalto.
Fonte: Zanardi (2016).

- Para números de Froude entre 2,5 e 4,5, o escoamento toma forma


de um ressalto oscilante. O jato de entrada age de forma intermitente,
oscilando entre a superfície e o fundo do canal, sem uma periodicidade
definida. Essa forma de ressalto gera ondas que se propagam muito além
do fim da bacia de dissipação. O ressalto é considerado de transição, pois
não se desenvolve plenamente (ALVES, 2008). Nesta faixa, o ressalto
UNIUBE 131

tem a tendência de se deslocar para jusante, não guardando posição


junto à fonte geradora. O ressalto apresenta uma superfície livre com
ondulações e ocorre a formação de ondas que podem se propagar para
jusante sobre longas distâncias.

Figura 3: Ressalto oscilante.


Fonte: Zanardi (2016).

- Para números de Froude entre 4,5 e 10, o ressalto estável é bem controlado
(menor sensibilidade aos níveis a montante), mantendo maior parte da
turbulência dentro de si, sendo a superfície d’água a jusante relativamente
calma (Figura 4). Dentro dessa faixa, ocorrem os ressaltos com a melhor
performance, com taxas de dissipação entre 45% e 70% da energia total a
montante (ALVES, 2008) do ressalto ao longo de sua extensão.

Figura 4: Ressalto estável.


Fonte: Zanardi (2016).

- Para números de Froude acima de 10, o ressalto nesta faixa é


designado forte (Figura 5), em que a superfície d’água torna-se bastante
agitada, com a turbulência tornando-se gradualmente mais ativa, gerando
fortes ondas a jusante do ressalto. As taxas de dissipação podem atingir
132 UNIUBE

85%. Assim, o ressalto não se apresenta como dissipador de energia


porque há o risco de ocorrência de erosões significativas em função da
elevada turbulência.

Figura 5: Ressalto forte.


Fonte: Zanardi (2016).

Devemos observar que os intervalos do número de Froude mencionados


não constituem limites rígidos e, por isto, conforme as condições locais,
podem ser excedidos.

• Alturas conjugadas do ressalto hidráulico

O ressalto hidráulico, em trecho horizontal de canal de seção retangular, é o


mais comumente usado, devido as características de escoamento do fluido
que apresenta. As alturas conjugadas são as dimensões que caracterizam
mais fundamentalmente o ressalto hidráulico, sendo respectivamente,
altura de lâmina de água mais a montante (y1, altura conjugada rápida) e
a altura de lâmina d’água a jusante (y2, altura conjugada lenta) do ressalto,
alturas estas observadas na Figura 6. Apesar do ressalto hidráulico ser
um fenômeno dinâmico, é possível determinar de forma simplificada estas
dimensões em termos de valores médios.
UNIUBE 133

Figura 6: Ressalto hidráulico.


Fonte: Moraes (2016).

Consideremos certa massa de água que se desloca no ressalto, em


certo intervalo de tempo, a massa de água considerada passará a
outra posição adiante, assim haverá um aumento da seção molhada e,
consequentemente, diminuição da velocidade, pois trata-se de movimento
permanente. Isto equivale a dizer que houve diminuição da quantidade
de movimento da massa líquida em questão.

Assim, podemos determinar as alturas conjugadas através da equação


de conservação da quantidade de movimento entre as seções de entrada
e saída consideradas do ressalto:

Resolvendo em relação a y1 e y2, temos:


134 UNIUBE

As duas últimas equações podem ser transformadas introduzindo


nelas o número de Froude e o coeficiente cinético de escoamento,
e, posteriormente, a partir das suposições de pressão hidrostática,
distribuição de velocidades uniformes, seção do canal retangular, fundo
horizontal plano, escoamento permanente e desprezando-se a tensão de
cisalhamento junto ao fundo do canal, chegamos à equação da relação
entre as alturas conjugadas:

A perda de energia no ressalto pode então ser calculada por meio da


equação da conservação da energia. Assim obtemos:

Simplificada:

A eficiência do ressalto como dissipador é definida como:

• Altura e comprimento do ressalto hidráulico


Considerando-se em um canal retangular que, a altura do ressalto
hidráulico pode ser definida por:
UNIUBE 135

O comprimento do ressalto é difícil de ser medido, em virtude das


incertezas que cercam a exata fixação de suas seções inicial e final.
Porém, é um parâmetro importante de projeto, pois ele afeta o tamanho
da bacia de dissipação onde ocorre o ressalto.

A seção de fim do ressalto pode ser definida como a seção onde a superfície
livre é essencialmente horizontal, a turbulência de superfície é largamente
diminuída, o escoamento é completamente desaerado e as condições de
escoamento gradualmente variadas reaparecem (ALVES, 2008).

Vários autores estabeleceram fórmulas para determinar o comprimento


do ressalto hidráulico, entre as quais citamos as mais simples:

Experimentalmente foi mostrado que o comprimento normalizado é uma


função do número de Froude na seção a montante do ressalto. Para
Fr > 5, este comprimento é quase constante e da ordem de 6,1. Dados
experimentais mostram que uma boa aproximação é, portanto:

• Ressalto hidráulico em canais com inclinação acentuada


Quando o ressalto ocorre em um canal com inclinação acentuada,
mostrado na Figura 7, deve-se considerar o componente da força peso
na direção do escoamento além do cos ϴ no cálculo das pressões
estáticas. Voltando à equação (1), e calculando o peso do líquido no
ressalto como sendo:

Em que: K é um coeficiente que leva em consideração a curvatura do


ressalto e o terno em cos ϴ.
136 UNIUBE

Figura 7: Ressalto em canal com inclinação acentuada.


Fonte: Zanardi (2016).

Obtém-se assim:

Esta equação só pode ser resolvida se o termo (K Lj) for conhecido, o


que normalmente só se consegue através de medidas experimentais.

Os resultados de estudos experimentais permitiram determinar que


a profundidade alcançada após o ressalto em um canal com grande
inclinação pode ser relacionada àquela para canais com inclinação suave
através da expressão:

Em que: a função é mostrada na Figura 8 a seguir:


UNIUBE 137

Figura 8: Função.
Fonte: Zanardi (2016).

O comprimento do ressalto também foi relacionado à inclinação do canal,


sendo que, na faixa 4,5 ≤ F1 ≤ 13, ele pode ser aproximado por:

Após a determinação das profundidades a montante e a jusante do


ressalto, a perda de energia pode ser calculada através de:

• Formas de controlar o ressalto hidráulico

Os escoamentos supercríticos podem conter energia excessiva, sendo


necessário dispor meios para dissipá-la, evitando danos não previstos.

O fluido, acima de determinadas velocidades, provoca um desgaste


rápido das estruturas através da abrasão, erosão e impacto. Essas forças
138 UNIUBE

hidrodinâmicas aparecem nos descarregadores de grandes estruturas


como barragens, adutoras, drenagem etc.

Há várias estruturas que dissipam energia, mas a escolha se dá em


função de uma série de fatores de projeto, principalmente custo
e eficiência, podendo-se destacar: desnível; vazão específica;
características geológicas; números de Froude; relação entre a curva da
altura conjugada do ressalto e a curva chave do rio ou conduto.

Para dissipar a energia, os tipos mais frequentes de estruturas são: bacias


de dissipação devido ao ressalto hidráulico, bacias de dissipação devido
ao rolo, bacias de dissipação devido ao impacto e macrorrugosidades.

Podemos elencar algumas, como anteparos e/ou soleira espessa, a


elevação ou rebaixamento do fundo, blocos, bacias de dissipação e
vertedores.

7.2 Considerações Finais

O engenheiro deve sempre ter a preocupação de saber onde irá ocorrer


essa dissipação de energia. Por exemplo, em vertedores de usinas
hidrelétricas, é desejável se reduzir a energia do escoamento de água
que está sendo devolvida ao rio, para diminuir os danos ao leito deste rio.
Porém, esta dissipação não pode ocorrer junto à descarga da barragem,
pois existirá o risco de danos a sua estrutura.

Desta forma, devem ser projetadas bacias de dissipação para este


fim. No projeto de canais para transporte em regime supercrítico, o
engenheiro deve estar atento para se evitar que o escoamento se torne
subcrítico prematuramente, pois isso pode causar a degradação das
paredes do canal. Em escoamento em canais formados por tubos, como
UNIUBE 139

ocorre em redes de esgoto e águas pluviais, a ocorrência de ressalto


pode tornar o escoamento livre em um escoamento forçado, causando
a diminuição do fluxo e consequente alagamento a montante.

SAIBA MAIS

PORTO, Rodrigo de Melo. Hidráulica básica. 4 ed. São Carlos: EESC-USP,


2006. 520 p.

Referências

ALVES, Alexandre Augusto Mees. Caracterização das solicitações hidrodinâmicas


em bacias de dissipação por ressalto hidráulico com baixo número de
Froude. 2008. 157 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Recursos Hídricos
e Saneamento Ambiental, Universidade Federal do Rio Grande do
Sul, Porto Alegre, 2008.

BARROSO, Ciro Parente. Ressalto hidráulico. Disponível em: <https://


prezi.com/vjweslysq4sf/ressalto-hidraulico/>. Acesso em: 20 jan. 2016.

MORAES, Alisson G. Hidráulica II: Ressalto Hidráulico. Disponível


em: <http://www.ebah.com.br/content/ABAAAgNG8AL/hidraulica2-hidr-
ulica-ii-aula-12-ressalto-hidr-ulico>. Acesso em: 20 jan. 2016.

PORTO, Rodrigo de Melo. Hidráulica básica. 4. ed. São Carlos:


EESC-USP, 2006. 520 p.

ZANARDI, Maurício Araújo. Ressalto hidráulico. Disponível em: <http://www.feg.


unesp.br/~mzanardi/EXP_RESSALTO_HIDR%C1ULICO.pdf>. Acesso
em: 20 jan. 2016.
Capítulo Escoamento permanente
8 gradualmente variado
em canais

Natália Michelan

Introdução
Um escoamento é definido como gradualmente variado quando os
seus parâmetros hidráulicos variam progressivamente ao longo da
corrente. Quando as características variam bruscamente, diz-se
que o escoamento é bruscamente variado, é o que acontece nos
ressaltos hidráulicos, visto na unidade anterior. Como exemplos,
podem ser citados a elevação do nível a montante de barragens
e vertedores, e o escoamento produzido por um aumento súbito
da inclinação do canal, com isso, forma-se uma nova linha d’água
originada a montante da barragem. Dependendo da característica
do canal, da vazão e das condições de extremidades, a diferença
da elevação pode ser positiva ou negativa, ficando a curva abaixo
ou acima do nível normal.

De maneira geral, o escoamento permanente gradualmente


variado em canais se estende a distâncias consideráveis
da singularidade que lhe deu origem, fato comprovado pelo
escoamento bruscamente variado que se manifesta em trecho
curto do canal.
142 UNIUBE

Objetivos
• Compreender a definição de escoamento permanente
gradualmente variado em canais.
• Entender a equação diferencial para o escoamento
permanente gradualmente variado em canais.
• Compreender os diferentes perfis das superfícies líquidas
dos canais.
• Compreender no que consiste uma seção de controle.
• Entender os cálculos utilizados para o escoamento
permanente gradualmente variado.

Esquema
8.1 Escoamento permanente gradualmente variado em canais
8.2 Considerações finais

8.1 Escoamento permanente gradualmente variado em canais

Um escoamento de regime permanente gradualmente variado em um


canal é aquele em que a elevação da superfície da água varia de forma
suave e contínua ao longo do canal.

Este tipo de escoamento resulta geralmente das mudanças na geometria


do canal, como a alteração do declive, a mudança na forma da seção
reta e a ocorrência de obstrução.
UNIUBE 143

Podemos observar na Figura 1, um perfil onde são mostrados vários


tipos de escoamento. Assim, o curso de água no canal tem escoamento
uniforme no início e está representado pelas letras UF. Antes de chegar
à queda livre, tem-se escoamento uniforme gradualmente variado,
representado pelas letras GVF. Após a queda, tem-se um ressalto
hidráulico representado pelas letras RVF. Depois volta a ter escoamento
uniforme gradualmente variado (GVF), e novamente torna-se escoamento
uniforme (UF).

Figura 1: Escoamento uniforme gradualmente variado em queda livre, seguido


por ressalto hidráulico e escoamento uniforme gradualmente variado.
Fonte: Escoamento (2016).

O escoamento é gradualmente variado quando as profundidades variam


gradual e lentamente ao longo do canal, assim, as grandezas referentes
ao escoamento em cada seção não se modificam com o tempo, e as
distribuições de pressões são consideradas hidrostáticas. As fórmulas do
escoamento uniforme podem ser aplicadas com aproximação satisfatória.

O escoamento gradualmente variado pode ser acelerado (Figura 2a) nos


trechos iniciais dos condutos com seção constante e depois uniforme,
ou podem ser retardados (Figura 2b) a montante de obstáculos que se
opõem ao escoamento.
144 UNIUBE

(a)

(b)
Figura 2: Escoamento gradualmente variado em canais.
Fonte: Adaptado de Escoamento (2016).

No movimento uniforme gradualmente variado, a altura y e a velocidade


V variam muito vagarosamente, e a superfície livre é considerada
estável. Sendo assim, o gradiente hidráulico é variável, obrigando a sua
determinação ao longo do escoamento: Q1 = Q2; V1 ≠ V2; y1 ≠ y2.

A construção de uma barragem em um canal de fraca declividade


provoca uma sobre-elevação do nível d’água que pode ser sentida a
quilômetros da barragem, a montante, surgindo uma nova linha d’água,
que é chamada de curva de remanso. Sendo y a altura d’água em uma
seção qualquer de um escoamento variado e y0, a altura d’água no
escoamento uniforme, a diferença y-y0 é chamada de remanso.

Pode-se exemplificar a importância de se conhecer e saber calcular a curva


de remanso criada por um barramento, ou seja, a elevação do nível d’água
ocasionada por uma barragem irá provocar a inundação de terrenos ribeirinhos
UNIUBE 145

que deverão ser desapropriados pela companhia executora ou proprietária


da obra (ESCOAMENTO..., 2016).

Como a velocidade varia ao longo do canal, consequentemente as


inclinações do fundo do canal, da superfície da água e da linha de
energia não terão mais o mesmo valor como no escoamento uni-
forme. O tipo de análise mostrada adiante não é adequado quando
se têm curvaturas acentuadas.

• Equação diferencial do escoamento permanente gradualmente


variado em canais

As duas hipóteses básicas envolvidas na análise de escoamentos


gradualmente variados são a distribuição de pressão em qualquer seção,
que é assumida como sendo hidrostática, e a resistência ao escoamento
em qualquer profundidade, isto é, a inclinação da linha de energia é dada
pela equação para regime uniforme (por exemplo, equação de Manning),
que é dada por (ZANARDI, 2016):

Considerando o esquema seguinte (Figura 3), a aplicação da equação


da conservação da energia no volume de controle indicado resultará em:
146 UNIUBE

Figura 3: Elementos do escoamento gradualmente variado.


Fonte: Zanardi (2016).

Em que: são as perdas entre a seção de entrada e saída do canal


Segundo expõe o trabalho de Zanardi (2016), expandindo o termo de
energia cinética do segundo membro da equação, desconsiderando os
termos de menor ordem, e lembrando que com e
que sendo a inclinação da linha de energia no intervalo ,
obtém-se:

Ou:

Pode-se ainda escrever esta equação em termos da energia específica.


Da definição de energia específica tem-se:
UNIUBE 147

Como a velocidade no canal não é constante, é mais vantajoso se utilizar


a vazão como parâmetro da equação.

Assim, o termo de energia cinética terá a forma:

Como , temos:

Voltando à equação da conservação da energia:

• Classificação dos perfis das superfícies líquidas

O objetivo principal do estudo dos canais que funcionam em regime


permanente gradualmente variado consiste em determinar a forma do
perfil da superfície líquida.

Em um dado canal, quando se têm Q, n e So fixados, pode-se calcular


dois parâmetros que serão utilizados para caracterizar o canal. O primeiro
destes parâmetros é a profundidade normal, ou seja, a profundidade que
existiria no canal se o escoamento fosse uniforme. Esta profundidade
pode ser calculada utilizando-se a fórmula de Manning. O segundo
parâmetro é a profundidade crítica, ou seja, a profundidade do
escoamento uniforme se o escoamento estivesse na condição crítica
(ZANARDI, 2016). Esta profundidade pode ser calculada através de:
148 UNIUBE

Com esta profundidade crítica e a fórmula de Manning, pode-se então


determinar a inclinação crítica do canal, que seria a inclinação que o
canal deveria ter para que, com a vazão e o coeficiente de rugosidade
dados, o escoamento uniforme fosse um escoamento crítico (ZANARDI,
2016). Desta forma:

Assim, os canais podem então ser classificados de acordo com a Tabela 1.

Tabela 1: Classificação dos escoamentos


Categoria Símbolo Característica Comentários
Escoamento subcrítico com
Inclinação Fraca M yn > yc
profundidade normal
Escoamento supercrítico com
Inclinação Forte S yn < yc
profundidade normal
Inclinação Escoamento crítico com pro-
C yn = yc
Crítica fundidade normal
Leito Horizontal H So = 0 Não pode existir escoamento uniforme
Inclinação
A So < 0 Não pode existir escoamento uniforme
Adversa

Fonte: Zanardi (2016).

De acordo com a categoria do canal e a região de escoamento, os


perfis da superfície da água terão formas características. O aumento
ou diminuição da profundidade da água na direção de escoamento
dependerá do sinal, positivo ou negativo, do termo na equação da
conservação da energia.

Os vários escoamentos gradualmente variados possíveis estão


mostrados na Tabela 2, onde são esquematizadas as linhas de superfície
da água de acordo com o tipo de canal (com declividade fraca, forte, crítica,
UNIUBE 149

horizontal ou adversa), e tipo de escoamento (subcrítico, crítico ou


supercrítico). Por exemplo, se tivermos um canal com declividade fraca,
se em determinado ponto do escoamento for subcrítico com profundidade
maior que yn, a superfície da água terá um perfil M1. Se o escoamento
for subcrítico, porém com profundidade menor que yn, ter-se-á um perfil
do tipo M2 onde o escoamento acelera até as condições críticas. Se o
escoamento for supercrítico, a superfície livre terá a forma M3, onde o
escoamento tende a alcançar a profundidade crítica.

Tabela 9: Perfis das superfícies dos escoamentos gradualmente variados

Inclinação suave, So < Sc

Inclinação forte, So > Sc

Inclinação crítica, So = Sc
150 UNIUBE

Inclinação crítica, So = Sc

Inclinação adversa, So < 0

Fonte: Adaptado de Zanardi (2016).

As propriedades das curvas de remanso podem ser descritas como


segue:

• Perfis das curvas tipo M (“mild”, inclinação suave)

O perfil mais comum é o perfil M1 (Figura 4), que é uma condição de


escoamento subcrítico. O perfil M1, pode ser resultado de obstruções
ao fluxo, causadas por vertedores, barragens, estruturas de controle etc.
Normalmente, o perfil M1 se estende por vários quilômetros a montante
antes de atingir a profundidade normal.

Figura 4: Perfil do tipo M1.


Fonte: Zanardi (2016).
UNIUBE 151

Perfis do tipo M2 (Figura 5) ocorrem em quedas súbitas no leito do canal,


em transições com reduções de largura e em saída de canais para um
grande reservatório.

Figura 5: Perfil do tipo M2.


Fonte: Zanardi (2016).

Quando um escoamento supercrítico entra em um canal com inclinação


fraca, ocorrerá o perfil M3. Um exemplo deste perfil está mostrado na
Figura 6, na qual se tem o escoamento na saída de uma comporta para
um canal com inclinação fraca. A curva M3 normalmente é seguida por
um escoamento rapidamente variado e normalmente se tem um ressalto
hidráulico a jusante.

Figura 6: Perfil do tipo M3


Fonte: Zanardi (2016).
152 UNIUBE

• Perfis das curvas tipo S (“steep”, inclinação forte)

O perfil S1 (Figura 7) é produzido quando o escoamento em um canal com


declividade forte termina em uma região de estagnação profunda criada
por uma obstrução, tais como um vertedor ou uma barragem. No início da
curva, o escoamento variou entre um escoamento uniforme supercrítico
para um escoamento subcrítico através de um ressalto hidráulico.

Figura 7: Perfil do tipo S1


Fonte: Zanardi (2016).

Os perfis do tipo S2 (Figura 8) ocorrem na região de entrada de


canais com inclinação forte ligados a um reservatório. Vão aparecer
também quando se tem uma variação na inclinação do canal, desde
que a inclinação seja suave a montante e forte a jusante. São perfis
normalmente de comprimento pequeno.

Figura 8: Perfil do tipo S2


Fonte: Zanardi (2016).
UNIUBE 153

Curvas com perfis S3 (Figura 9) acontecem em comportas com canal de


saída com inclinação forte e quando a inclinação do fundo do canal passa
de um valor mais acentuado para um valor menos acentuado, porém as
duas inclinações são fortes.

Figura 9: Perfil do tipo S3


Fonte: Zanardi (2016).

• Perfis das curvas tipo C (“critical”, inclinação crítica)

Os perfis do tipo C1 e C3 são muito raros e altamente instáveis.

• Perfis das curvas tipo H (Inclinação horizontal)


154 UNIUBE

Os perfis H2 e H3 (Figura 10) são similares aos perfis M2 e M3, uma vez
que o leito horizontal é o limite inferior de um canal com inclinação fraca.
A diferença básica é que o perfil H2 tende a uma assimptota horizontal
e obviamente não existe um escoamento uniforme neste tipo de canal.

Figura 10: Perfil do tipo H.


Fonte: Zanardi (2016).

• Perfis das curvas tipo A (“adverse”, inclinação adversa)

Inclinações adversas são raras e as curvas A2 e A3 (Figura 11) são


similares àquelas dos perfis do tipo H, e estes perfis são muito curtos.

Figura 11: Perfil para canais com inclinação adversa.


Fonte: Zanardi (2016).

• Seções de controle

Uma seção de controle é definida como sendo aquela em que existe uma
relação conhecida entre a profundidade e a vazão de um canal.
UNIUBE 155

Vertedores e comportas são exemplos típicos de estruturas que


determinam seções de controle. Qualquer escoamento gradualmente
variado terá no mínimo uma seção de controle (ZANARDI, 2016).

Alguns tipos de seção de controle estão mostrados na Figura 13. Deve-se


notar que escoamentos subcríticos possuem seções de controle a jusante
enquanto que nos escoamentos supercríticos as seções de controle se
encontram a montante (ZANARDI, 2016).

Figura 12: Seções de controle em escoamentos gradualmente variados.


Fonte: Zanardi (2016b).
156 UNIUBE

Ao analisarmos a Figura 13, podemos perceber que, nos casos (a) e (b),
as seções de controle das curvas M1 são aquelas a montante do vertedor
e da comporta. Nos casos (b) e (d), o controle das curvas M3 e S3 está
nas veias contraídas. No caso (c), para o escoamento subcrítico, apesar
da vazão ser controlada pelo nível do reservatório, a entrada do canal
não é uma seção de controle, porque a profundidade na entrada do canal
será menor que a altura do reservatório devido às perdas na entrada.
A verdadeira seção de controle estará a jusante e será a condição de
escoamento crítico na queda. Quando se tem uma queda brusca, devido
à curvatura das linhas de corrente, a profundidade crítica ocorrerá não
na queda, mas aproximadamente a uma distância aproximada de 4 yc a
montante da queda. Como este valor normalmente é pequeno, costuma-
se adotar que o escoamento crítico ocorra na queda (ZANARDI, 2016).

Por outro lado, para um reservatório descarregando em um canal com


inclinação forte, a seção de controle fica na entrada do canal (caso e), e
nesta seção se terá escoamento crítico (ZANARDI, 2016).

Para um canal com inclinação suave (caso f), descarregando em um


reservatório grande com nível variável, temos quatro situações a serem
destacadas:

- na situação 1, o nível da superfície é maior que yn, e isso causa um


afogamento do canal produzindo uma curva do tipo M1 com seção de
controle em B;

- na situação 2, o nível é menor que yn e maior que yc, e a superfície


passa a seguir uma curva do tipo M2 com seção de controle no nível do
reservatório;

- na situação 3, o nível do reservatório é yc, e o controle continua sendo


este nível;
UNIUBE 157

- na situação 4, o nível do reservatório está abaixo de yc e, como a


superfície da água não pode estar em uma profundidade inferior a yc, o
controle será a profundidade yc na saída do canal e ocorrerá uma queda
hidráulica no final do canal (ZANARDI, 2016).

• Cálculo de escoamento permanente gradualmente variado

Quase todas as aplicações em engenharia hidráulica, em se tratando


de escoamentos com superfícies livres, envolvem perfis gradualmente
variados. Problemas típicos sobre este assunto envolvem determinação
do efeito da colocação de estruturas que interferem no escoamento do
fluido, cálculo de área de inundação devido à construção de barragens
e vertedores, estimativa de área de alagamento pelo aumento do nível
do escoamento por aumento de vazão etc.

A determinação do perfil da superfície livre do escoamento depende da


integração da equação da conservação da energia no canal. Como já
mostrado anteriormente, esta equação pode ser escrita de várias formas,
sendo as mais comuns as mostradas a seguir.

Ou,

A integração desta equação pode ser realizada por integração direta, por
técnicas de integração numérica e por métodos gráficos.

A integração direta não é simples, pois se trata de uma equação


diferencial ordinária não linear de primeira ordem, e pode ser realizada
somente quando se consideram condições bastante restritas. Na literatura,
158 UNIUBE

existem algumas soluções em forma de tabelas para canais com


geometria retangular, trapezoidal e circular. Estas soluções, entretanto,
não serão apresentadas neste texto.

A integração gráfica foi muito popular numa época em que os recursos


computacionais eram bastante limitados. Desta forma, existem um grande
número de métodos, cada qual com suas vantagens e desvantagens,
porém que estão francamente em desuso.

As soluções numéricas são as mais utilizadas atualmente. O número


de métodos de integração é bastante grande e esta equação pode ser
resolvida utilizando a maioria dos métodos para a solução dos chamados
problemas de valor inicial.

• “Direct-Step Method”

Alguns métodos mais simples podem ser utilizados para se obterem


estimativas da forma da superfície, pois, as equações anteriores não
admitem uma solução explícita e deve-se lançar mão de métodos de
integração numérica, manualmente ou através do uso de planilhas
eletrônicas. Entre estes métodos, vamos delinear a seguir um dos
métodos mais simples, o chamado de “Direct-Step Method”, que
utilizando a equação da energia e um esquema de diferenças finitas,
permite o levantamento da linha d’água em um canal de seção e
declividade constantes, para uma dada vazão. Este método é o método
mais simples e é adequado para o cálculo do escoamento em canais
prismáticos. Considere a equação:

Em forma de diferenças finitas, tem-se:


UNIUBE 159

Em que: é o valor médio da inclinação da linha de energia no intervalo .

A aplicação da equação anterior a um trecho de um canal de comprimento


entre duas seções consecutivas 1 e 2 pode ser feita com as equações a
seguir, lembrando que a distância para se ter uma variação na energia
específica de um valor será:

ou

Onde: E2 e E1 são as energias específicas nas seções consideradas e


a declividade da linha de energia calculada pela fórmula de
Manning, na seção do trecho à qual corresponde uma altura d’água média.

Tomando como base o escoamento esquematizado na Figura 14, divide-


se o canal em várias partes (N) em que se consideram conhecidas as
profundidades e se determina a distância entre estas seções.

Figura 14: Esquema para aplicação do método numérico.


Fonte: Zanardi (2016).

Assim:
160 UNIUBE

E,

Com estas três equações, é possível se determinar, de maneira


sequencial, a partir de uma profundidade conhecida (por exemplo,
um ponto de controle), o perfil aproximado da superfície da água,
porém, segundo Porto (2006), se as diferenças das alturas d’água
nas extremidades do trecho for muito pequena, ambos os métodos de
cálculo produzem praticamente o mesmo valor de . Se, no entanto,
esta diferença não for pequena, os valores de determinados pela altura
d’água média do trecho e pela média das declividades da linha de energia
são diferentes e naturalmente afetam o valor de .

O “Direct-Step Method” tem como desvantagens o fato de a altura d’água


y não poder ser determinada para uma localização x predeterminada e ser
inconveniente para aplicação em canais não prismáticos (PORTO, 2006).

• “Standard-Step Method”

Outro método bastante utilizado em escoamentos em canais é o chamado


“Standard-Step Method”. Neste método, a variável fixada é o valor da
distância x. A equação da conservação da energia na forma discretizada
pode ser escrita na forma:

Em que: se refere a um valor médio no intervalo .O


procedimento de cálculo segue os seguintes passos:

1. Assume-se um valor para a profundidade y na seção de


cálculo.
UNIUBE 161

2. Calcula-se a energia específica correspondente.

3. Calcula-se o valor de S.

4. Calcula-se a energia específica utilizando a equação


discretizada com o valor de adotado.

5. Comparam-se os valores da energia específica calculados


nos passos 2 e 4.

6. O processo deve ser repetido até que se encontre um valor


de profundidade para qual estes dois valores sejam aproxi-
madamente iguais dentro de um critério de convergência
estabelecido.

7. Os passos de 1 a 6 são realizados para cada seção.

Este método pode ser também aplicado a canais naturais. Os


escoamentos nestes tipos de canais são mais complexos devido a vários
fatores, pois as vazões são geralmente mais variáveis e difíceis de se
quantificar, o valor do coeficiente de Manning é muito mais difícil de se
obter e menos preciso, as formas das seções transversais variam de
seção para seção, e também estas formas são conhecidas em somente
algumas posições. Comercialmente estão disponíveis vários programas
computacionais baseados em diversos modelos matemáticos, aplicados
aos casos de escoamento permanente gradualmente variado em canais.

8.2 Considerações finais

Encerramos nosso estudo de Hidráulica com o escoamento permanente


gradualmente variado em canais, em que as profundidades variam,
gradual e lentamente, ao longo de uma canal. Fazendo uma analogia com
o processo de aprendizagem, espero que tenha atingido as profundezas
162 UNIUBE

no que tange à hidráulica e que os conhecimentos obtidos acerca dela


façam diferença em sua vida de forma gradual.

SAIBA MAIS

PORTO, Rodrigo de Melo. Hidráulica básica. 4 ed. São Carlos: EESC-USP,


2006. 520 p.

Algumas das principais atribuições da Hidráulica é o planejamento e


a execução de obras ligadas aos diversos usos dos recursos hídricos,
atendendo às necessidades básicas da população e possibilitando
melhorias na saúde pública e também nas atividades econômicas. O
conhecimento a respeito desse assunto faz parte da formação básica
do Engenheiro Civil.

Devemos nos atentar ao fato de que a Hidráulica pode ser dividida em


teoria e prática. A Hidráulica teórica também é conhecida na física como
Mecânica dos Fluidos, e a Hidráulica Prática ou Hidráulica Aplicada é,
normalmente, também intitulada de Hidrotécnica. Dentre as aplicações
da Hidráulica, destacam-se as máquinas hidráulicas (bombas), as
grandes obras de saneamento, obras hidráulicas fluviais ou marítimas,
as construções de usinas hidrelétricas, diques, quebra-mares, portos,
vias navegáveis, emissários submarinos, estações de tratamento de
água e de esgotos etc.

Assim, nos dedicamos aqui a estudar o comportamento dos líquidos em


movimento, ou seja, os conhecimentos das leis que regem o transporte,
a conversão de energia, a regulagem e o controle do fluido agindo sobre
suas variáveis.
UNIUBE 163

Pesquisas têm mostrado que a hidráulica vem se destacando e ganhando


cada vez mais espaço. O engenheiro civil, na área da construção civil,
planeja o sistema de abastecimento de água e o de esgoto dos prédios,
determinando os materiais mais adequados, como encanamentos e
tubulações.

Esperamos que este material tenha servido de apoio na construção do


seu conhecimento acerca das duas especialidades da hidráulica, por
meio de textos que abrangeram os principais assuntos enfocados nas
diversas estruturas curriculares das escolas de engenharia.

Referências

ESCOAMENTO Permanente Gradualmente Variado. Disponível em:


<https://civilsemestre5.files.wordpress.com/2014/06/escoamento-
permanente-gradualmente-variado.pdf>. Acesso em: 20 jan. 2016.

PORTO, Rodrigo de Melo. Hidráulica básica. 4. ed. São Carlos:


EESC-USP, 2006. 520 p.

ZANARDI, Maurício Araújo. Escoamento gradualmente variado. Disponível


em: <http://www.feg.unesp.br/~mzanardi/Escoamento%20Gradualmente
%20Variado.pdf>. Acesso em: 20 jan. 2016.

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