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CENTRO DE EDUCAÇÃO
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO, POLÍTICA E SOCIEDADE
CURSO DE GEOGRAFIA
VITÓRIA – ES
2017
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO
CENTRO DE EDUCAÇÃO
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO, POLÍTICA E SOCIEDADE
CURSO DE GEOGRAFIA
VITÓRIA – ES
2017
BRUNO LIMA DOS SANTOS
KAREN DA SILVA ARAUJO SANTOS
MÔNICA DOS SANTOS ROCHA
SARITA PRATI MARIN
BANCA EXAMINADORA
________________________________________
Prof. Dr. Soler Gonzalez
________________________________________
Prof.ª Drª. Kiusam Regina de Oliveira
________________________________________
Prof. Dr. Marcos Antonio de Oliva Gomes
AGRADECIMENTOS
The main objective of this paper is to establish the links between everyday school
life, pedagogical practices and LGBT + bodies. From the inhabited environment
we present contextualization and problematizations concerning this theme, as
reflections, nomenclatures and terms that involve group LGBT+, as possibilities
and pedagogical potentialities that we consider to be relevant to the formative
processes. The specific objectives of this research are composed by the analysis
of educational processes, through oral narratives and bibliographic sources,
involving problems that cross daily school and school geography teaching.
Regarding this, we start from the methodological approach of bringing and
problematizing the narratives that the lesbian, gay, bisexual, transsexual and
transvestite have in this heteronormative inhabited environment that is the
scholarly daily life, the geographic contents and their relations with other spaces,
such as, families, daily life, geographic spaces and territories that these people
pass through, and which are also considered as areas of education and
resistances to prejudices, thinking of these interlacings as potentialities that
embrace the critical formation of teachers and their pedagogical practices in the
Geography teaching. The constitution of Brazilian society arises from processes
in which the most prominent figures are - white, heteronormative and heterosexist,
religious (Christianity) and highly patriarchal. Consequently, the act of stressing
the sensitivity and daily resistance in these individuals is the feeling of exclusion.
The research also covers possible escape routes through pedagogical practices,
curricular documents and the tensions that this theme has been suffering in
society from conservative forces. It presents and problematizes how these bodies
act by reterritorialization everyday school life, the Geography teaching and the
teachers formation, searching for representativeness, the affirmation of life and its
gender identity and sexual orientation.
1. INTRODUÇÃO........................................................................................... 08
2. REFLEXÕES ACERCA DA ATUALIDADE E O EMPREGO CORRETO
DOS TERMOS E NOMENCLATURAS ...................................................... 12
2.1 Contextualização da atual sociedade ............................................... 12
2.2 Desmistificando conceitos e nomenclaturas em contrapartida ao
preconceito ................................................................................................ 18
3. DISCENTES LGBT+: ESSES CORPOS PERTENCEM A ESCOLA? SUAS
HISTÓRIAS O QUE PRODUZEM? ........................................................... 29
3.1 O que o migrar produz na minha história de vida? ........................... 29
3.3 A esfera das Práticas Pedagógicas ao corpo discente LGBT+ ......... 34
3.3 O que as DCNs, BNCC, DNEDH e a LDB nos dizem sobre a esfera
discente dentro do grupo de minoria dos LGBT+? ............................ 42
4. DOCENTES E SUAS FORMAÇÕES SÃO IMPORTANTES PARA
SOCIEDADE ATUAL? ............................................................................... 53
4.1 Como as práticas pedagógicas possibilitam a vida e existência? ..... 54
4.2 Se não houver permissão, o professor tem que se calar diante dessa
temática? ........................................................................................... 56
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................... 62
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................... 65
1. INTRODUÇÃO
O presente trabalho deseja problematizar, com os cotidianos escolares, questões
ligadas aos processos educacionais e sua relação com os corpos LGBT+,
sabendo que a sociedade brasileira foi e é constituída por processos onde as
figuras de destaque são - em sua maioria - brancas, hetoronormativas e
hetorossexitas, cristãs e patriarcais.
Diante disto, a partir dos cotidianos escolares, reunimos narrativas e histórias que
os corpos lésbicos, gays, bissexuais, transsexuais e travestis têm desses espaços
habitados por eles e as contribuições políticas e pedagógicas que suas narrativas
e experiências trazem para pensarmos a formação docente, as relações
cotidianas e o ensino de Geografia.
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de como se reinventam perante as forças externas que marginalizam seus corpos
nos cotidianos escolares.
O convite veio por intermédio da abertura a vida da pessoa, quando ela se sentiu
pertencente a esse grupo, e como ela reagiu a essa força conservadora que a
oprime, e esse convite a conversa abre espaço para a compreensão do que é a
escola e os cotidianos escolares para estes corpos.
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Louro, Inês Barbosa de Oliveira, Marco Antonio Oliva Gomes, Paulo Freire, Peter
Kevin Spink e Tomaz Tadeu da Silva.
A pesquisa abrange também as rotas de fuga que são traçadas com as práticas
pedagógicas e como se efetivam essas fugas, criando outras geografias e modos
de resistências.
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2. REFLEXÕES ACERCA DA ATUALIDADE E O EMPREGO
CORRETO DOS TERMOS E NOMENCLATURAS
A justiça brasileira tem lidado com esse grupo, dito como minoria, mas que
segundo dados não é mais minoria, porém, ainda não existe uma legislação
específica para os homossexuais. O que há, segundo fonte do site Catraca Livre,
são apenas decisões do Poder Judiciário que outorgam direitos aos mesmos, mas
que podem ser protestados, por não constarem na Constituição Federal, gerando
uma insegurança jurídica, tendo em vista que essas decisões podem divergir de
juiz para juiz.
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a. Nenhum estabelecimento pode recusar a atender uma pessoa
baseado em preconceito (art. 39 do Código de Defesa do
Consumidor);
b. Casamento homoafetivo: Cartórios de todo o Brasil não podem
recusar a celebração de casamentos civis de casais do mesmo sexo
ou deixar de converter em casamento a união estável homoafetiva
(Resolução 175 do Conselho Nacional de Justiça);
c. Adoção de crianças por casais homoafetivos: "preenchidas as
condições para a adoção, não se discute mais a respeito de qualquer
impedimento em decorrência da orientação sexual dos
pretendentes." (Ação Direta de Inconstitucionalidade 4277/Arguição
de Descumprimento de Preceito Fundamental 132),
d. União Homoafetiva é entidade familiar (Ação Direta de
Inconstitucionalidade 4277/Arguição de Descomprimento de Preceito
Fundamental 132),
e. O campo de "nome social" deve existir em todos os Boletins de
Ocorrência do país (Resolução 11, De 18 de Dezembro De 2014,
promulgada pela Secretaria Nacional de Direitos Humanos),
f. Os benefícios previdenciários de pensão por morte e auxílio-reclusão
também valem para casais homossexuais (art. 30 da Instrução
Normativa do INSS nº 20, de 10 de outubro de 2007),
g. Transexuais e travestis podem usar seu nome social em todos os
órgãos públicos, autarquias e empresas estatais federais. Essa
medida vale para funcionários e também usuários. (Decreto
Nº 8.727, de 28 de Abril de 2016),
h. A constituição federal tem como objetivo promover o bem de todos,
sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer
outras formas de discriminação (art. 3º da Constituição Federal).
(BARROSO, 2017)
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Figura 01 - Nome social no CPF.
Fonte: Portal G1 notícias.
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Em contraste aos avanços da igualdade de direitos na área de identidade do
gênero, como o nome social, em determinados espaços notou-se, os retrocessos
com repercussões nacionais, tendo como exemplo a cura gay, a escola sem
partido e o kit gay.
O projeto salienta aos estudantes sobre seus direitos de não serem doutrinados
por seus professores, tão quanto informar e educar os/as professores/as sobre os
limites éticos e jurídicos da sua liberdade de ensinar.
Para complementar a análise crítica acerca do Escola sem Partido, foi criado
também a ideia de um kit anti-homofobia, lançado em 2004 pelo Governo Federal,
via Programa Brasil sem Homofobia, que tinha o objetivo de erradicar a violência
e o preconceito contra os mesmos e parte desse projeto destacaria a formação de
educadores para lidar com diversas situações relacionadas a sexualidade no
ambiente escolar, e, o material foi duramente criticado pela sociedade
conservadora e tradicional e teve a sua distribuição interrompida.
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Segundo Santos (2012), o preconceito às pessoas contrárias aos padrões
impostos é gritante. Esses materiais que compunham o kit não foram distribuídos
pelos órgãos governamentais responsáveis, segundo a ameaça de atos
rebelionários, organizados pelas bancadas evangélica e católica do Congresso.
Outro ponto deste viés, caracterizado por diversas opiniões é a decisão liminar, do
Juiz Federal da 14ª Vara do Distrito Federal, Waldemar Cláudio de Carvalho, que
autorizou a terapia de reversão sexual ou reorientação sexual, conhecida como
“cura gay”, prática que havia sido proibida pelo Conselho Federal de Psicologia
desde 1999.
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sofridas pelos indivíduos, inclusive considerada uma tortura psíquica. Na figura 02
temos uma manchete que busca evidenciar o que foi abordado.
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sociais, na internet e em outros espaços educativos, dentre eles, as bibliotecas
que adotam o restrito acesso à informação nos computadores.
A figura 03, evidencia que a intolerância pode ser traduzida e revertida por
sexualização, possibilitando assim notícias que se vinculam de maneira
tendenciosa, reforçando a ideia do que seria “certo e errado”, pois ao se
depararem com obras de artes que fogem do tradicional e “bonito de se ver”,
movimentos contrários surgem para desvincular todo um ato cultural e político
dessa temática.
Como podemos perceber, ainda temos muito o que mudar em prol de uma
sociedade que aprenda a conviver com a diversidade e a diferença. Mas, também
não pode se negar que pautas que anos atrás, eram verdadeiros Tabus hoje
estão um pouco mais em evidência.
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2.2 Desmistificando Conceitos e Nomenclaturas em contrapartida ao
preconceito
Para entendermos alguns aspectos, abaixo estão listados alguns termos e seus
conceitos baseados no Caderno de Propostas da 3ª Conferência Nacional de
Políticas Públicas de Direitos Humanos de LGBT e no Glossário LGBTI, da Rede
Ex Aequo (Associação de jovens LGBTI e Apoiantes), salvo alguns termos cujo
conceito está descrito em plataformas online identificadas de acordo. Assim
obtemos as seguintes determinações:
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● Bissexuais: São indivíduos que se relacionam sexual e/ou afetivamente
com qualquer dos sexos. Alguns assumem as facetas de sua sexualidade
abertamente, enquanto outros vivem sua conduta sexual de forma fechada.
● Cisgênero: Pessoa cuja identidade de gênero corresponde àquela que lhe
foi atribuída à nascença.
● Drag: Diz respeito à adaptação de roupas e de papéis que
tradicionalmente estão relacionados com um sexo diferente do seu. O
objetivo é o jogo, o entretenimento ou o erotismo. Os homens que adotam
elementos convencionais da mulher denominam-se Drag Queens e as
mulheres que adotam elementos convencionais do homem denominam-se
Drag Kings. Esta palavra não deve ser confundida com a palavra
crossdresser. Outras palavras comuns para Drag em Portugal são
transformista ou travesti.
● Drag Queen: Homem que se veste com roupas femininas de forma satírica
e extravagante para o exercício da profissão em shows e outros eventos.
Uma drag queen não deixa de ser um tipo de “transformista”, pois o uso
das roupas está ligado a questões artísticas – a diferença é que a
produção necessariamente focaliza o humor, o exagero.
● Empoderamento: Conceito empregado na área de gênero e
desenvolvimento e pela pedagogia feminista, a partir do reconhecimento de
que o poder é fonte de opressão em seu abuso e de emancipação em seu
uso. Refere-se ao processo de esclarecimento, conscientização,
mobilização e organização coletiva para mudar a posição subordinada de
um indivíduo ou grupo – no caso das mulheres, a posição subordinada de
gênero. Envolve tanto uma dimensão individual quanto uma dimensão
coletiva: o desenvolvimento da autossuficiência e de habilidades de fazer
coisas, definir as próprias agendas de mudança social, organizar-se
coletivamente e colocar demandas ao Estado. Implica, assim, tanto
controle da própria vida (ganhar voz, mobilidade, presença pública) quanto
controle sobre as estruturas de poder para transformá-las em favor de si e
de seu grupo. O empoderamento dos sujeitos dominados requer, portanto,
o aprendizado crítico sobre a cultura do poder, suas relações e formas, a
fim de ampliar sua participação social, intelectual e política. A Conferência
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Mundial de Mulheres de Beijing, em 1995, apontou a necessidade de se
estudarem as conexões entre educação e empoderamento.
● Feminicídio: De acordo com o Relatório Final da Comissão Parlamentar
Mista de Inquérito sobre Violência contra a Mulher (2013), é a instância
última de controle da mulher pelo homem: o controle da vida e da morte.
Ele se expressa como afirmação irrestrita de posse, igualando a mulher a
um objeto, quando cometido por parceiro ou ex-parceiro; como subjugação
da intimidade e da sexualidade da mulher, por meio da violência sexual
associada ao assassinato; como destruição da identidade da mulher, pela
mutilação ou desfiguração de seu corpo; como aviltamento da dignidade da
mulher, submetendo-a a tortura ou a tratamento cruel ou degradante.”
● Feminino/a: Termo criado para descrever as características físicas,
emocionais e sociais convencionalmente atribuídas e impostas às
mulheres.
● Gay: 1) diz-se de um homem que se sente atraído fisicamente,
emocionalmente e psicologicamente por um outro homem. 2) usado por
vezes como sinônimo de homossexual. Em inglês o termo gay engloba
quer o homem homossexual quer a mulher homossexual.
● Gays: São indivíduos que, além de se relacionarem afetiva e sexualmente
com pessoas do mesmo sexo ou do mesmo gênero, tem um estilo de vida
de acordo com essa sua preferência, vivendo abertamente sua
sexualidade.
● Gênero: 1) Sistema de classificação que atribui qualidades de
masculinidade e de feminilidade aos corpos do homem e da mulher. As
características de gênero são muitas vezes arbitrárias e podem mudar quer
ao longo do tempo quer de cultura para cultura. 2) Muitas vezes confunde-
se o conceito de gênero com o conceito de sexo biológico. Separar os
conceitos é bastante útil para compreender os diferentes comportamentos
e também para a compreensão de fatores que dizem respeito ao desejo
sexual e à expressão de gênero ou identidade. 3) Conceito formulado nos
anos 1970 com profunda influência do movimento feminista. Foi criado
para distinguir a dimensão biológica da dimensão social, baseando-se no
raciocínio de que há machos e fêmeas na espécie humana, no entanto, a
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maneira de ser homem e de ser mulher é realizada pela cultura. Assim,
gênero significa que homens e mulheres são produtos da realidade social e
não decorrência da anatomia de seus corpos.
● Gênero (expressão de) – Diz respeito aos maneirismos, forma de vestir,
forma de apresentação, aspeto físico, gostos e atitudes de uma pessoa.
● Gênero (identidade de): Identificação pessoal, subjetiva e
autonomamente determinada que cada indivíduo tem relativamente ao seu
gênero. Pode, ou não, estar de acordo com o gênero associado ao sexo
que lhe foi atribuído à nascença
● Heterofobia: Consiste nas reações de medo e de ódio tidas por pessoas
homossexuais em relação a pessoas heterossexuais.
● Heterossexual: Pessoa que se sente atraída física, emocional e
psicologicamente por pessoas de sexo diferente do seu.
● Heteronormatividade: Expressão utilizada para descrever ou identificar
uma suposta norma social relacionada ao comportamento padronizado
heterossexual.
● Heterossexismo: 1) Atitude condizente com a ideia de que a
heterossexualidade é a única forma sadia de orientação sexual. O termo é
utilizado na mesma acepção que caracteriza as palavras racismo e
sexismo. Heterossexualidade compulsória: Consiste na exigência de que
todos os sujeitos sejam heterossexuais, isto é, se apresenta como única
forma considerada normal de vivência da sexualidade. Essa ordem
social/sexual se estrutura através do dualismo heterossexualidade versus
homossexualidade, sendo que a heterossexualidade é naturalizada e se
torna compulsória. Isso ocorre, por exemplo, quando buscamos as causas
da homossexualidade. 2) é o pressuposto social de que todos/as são
heterossexuais e que a heterossexualidade é de alguma forma superior à
homossexualidade. Heterossexismo é um termo mais abrangente que a
homofobia, já que este último remete imediatamente para a noção de fobia.
O heterossexismo está presente em frases como: “ela enlouquece
qualquer homem” ou “ele é o marido de sonho para todas as mulheres”,
frases que partem do pressuposto de que a heterossexualidade é a única
orientação que existe ou que importa.
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● Homoafetivo: Adjetivo utilizado para descrever a complexidade e a
multiplicidade de relações afetivas e/ou sexuais entre pessoas do mesmo
sexo/ gênero. Este termo não é sinônimo de homoerótico e homossexual,
pois conota também os aspectos emocionais e afetivos envolvidos na
relação amorosa entre pessoas do mesmo sexo/gênero. É um termo muito
utilizado no mundo do Direito. Não é usado para descrever pessoas, mas
sim as relações entre as pessoas do mesmo sexo/gênero.
● Homofobia: 1) Termo usado pela primeira vez pelo psicólogo George
Weinberg (1972) no livro de sua autoria intitulado A Sociedade e o
Homossexual Saudável, em que se refere à homofobia como sendo medo
irrealista ou irracional ou como uma aversão à homossexualidade e/ou a
pessoas homossexuais. A homofobia é uma doença social que se tem
vindo a prolongar devido aos estereótipos negativos e aos conceitos
errados associados geralmente à homossexualidade. A homofobia pode
levar ao ódio, à discriminação e à violência contra homossexuais e
bissexuais. 2) A homofobia pode ser definida como o medo, a aversão, ou
o ódio irracional aos homossexuais, e, por extensão, a todos os que
manifestem orientação sexual ou identidade de gênero diferente dos
padrões heteronormativos. Consiste em um problema social e político dos
mais graves, mas que varia de intensidade e frequência, de sociedade para
sociedade. Esse conceito ganhou o domínio público, no ativismo, na
academia e também na mídia, ainda que seja pouco preciso para
descrever o largo espectro de fenômenos aos quais se refere.
● Homossexual: Pessoa que se sente atraída fisicamente, emocionalmente
e psicologicamente por uma pessoa do mesmo sexo.
● Homossexuais: São aqueles indivíduos que têm orientação sexual e
afetiva por pessoas do mesmo sexo ou do mesmo gênero.
● Homossexualidade: A homossexualidade é a atração afetiva e sexual por
uma pessoa do mesmo sexo. Da mesma forma que a heterossexualidade
(atração por uma pessoa do sexo oposto) não tem explicação, a
homossexualidade também não tem. Depende da orientação sexual de
cada pessoa. Por esse motivo, a Classificação Internacional de Doenças
(CID) não inclui a homossexualidade como doença desde 1993.
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● Homossexualismo: Termo incorreto e preconceituoso devido ao sufixo
“ismo”, que denota doença, anormalidade. O termo substitutivo é
homossexualidade, que se refere da forma correta à orientação sexual do
indivíduo, indicando “modo de ser”.
● Identidade de gênero: É uma experiência interna e individual do gênero
de cada pessoa, que pode ou não corresponder ao sexo atribuído no
nascimento, incluindo o senso pessoal do corpo (que pode envolver, por
livre escolha, modificação da aparência ou função corporal por meios
médicos, cirúrgicos e outros) e outras expressões de gênero, inclusive
vestimenta, modo de falar e maneirismos. Identidade de gênero é a
percepção que uma pessoa tem de si como sendo do gênero masculino,
feminino ou de alguma combinação dos dois, independente de sexo
biológico. Trata-se da convicção íntima de uma pessoa de ser do gênero
masculino (homem) ou do gênero feminino (mulher).
● Identidade sexual: É o conjunto de características sexuais que
diferenciam cada pessoa das demais e que se expressam pelas
preferências sexuais, sentimentos ou atitudes em relação ao sexo. A
identidade sexual é o sentimento de masculinidade ou feminilidade que
acompanha a pessoa ao longo da vida. Nem sempre está de acordo com o
sexo biológico ou com a genitália da pessoa.
● Intersexual/intersexo: 1) Indivíduo que tem órgãos genitais/reprodutores
(internos e/ou externos) masculinos e femininos, em simultâneo, ou
cromossomas que não são nem XX nem XY. De acordo com a Intersexed
Society da América do Norte em cada 2.000 bebés que nascem um é
intersexo (aproximadamente). 2) É o termo geral adotado para se referir a
uma variedade de condições (genéticas e/ou somáticas) com que uma
pessoa nasce, apresentando uma anatomia reprodutiva e sexual que não
se ajusta às definições típicas do feminino ou do masculino.
● Lésbica: 1) Mulher que se sente atraída fisicamente, emocionalmente e
psicologicamente por uma outra mulher. 2) Terminologia utilizada para
designar a homossexualidade feminina.
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● Lesbofobia: Palavra criada para representar a rejeição e/ou aversão às
lésbicas. A expressão está mais relacionada às ações políticas
diferenciadas do movimento LGBT.
● Masculino/a: Termo criado para descrever as características físicas,
emocionais e sociais convencionalmente atribuídas e impostas aos
homens.
● Movimento Gay (também conhecido por movimento GLBT ou LGBT):
É o esforço ao longo da história para obter compreensão e tratamento igual
para gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros. É usado frequentemente
para designar as lutas contra a discriminação, pelos direitos legais e
também as associações que levam a cabo essas lutas.
● Orientação Sexual: Atração física, sexual, emocional e/ou psicológica de
um indivíduo a um sexo em particular. É definida pela Associação
Psicológica Americana como um dos quatro componentes da sexualidade
e distingue-se pela atração emocional, romântica, sexual ou atração afetiva
por indivíduos de um determinado sexo.
● Patriarcado: Sistema social baseado na autoridade masculina nos
domínios público e privado. Envolve o estado, a economia, a cultura, a
comunicação, a família, a educação, a sexualidade. Também denominado
de “sexismo sistêmico institucionalizado”, o patriarcado é sustentado
ideologicamente pela heterossexualidade compulsória, violência masculina,
socialização de papéis de gênero, e modos de organização da vida e do
trabalho em que os homens dominam as mulheres, econômica, sexual e
culturalmente, a partir do lar. Portanto, exclui as mulheres de posições de
poder/autoridade/privilégio, exceto quando a serviço do sistema. Segundo
as feministas marxistas, o patriarcado e o capitalismo se apoiam
mutuamente já que a mulher é explorada tanto como trabalhadora
assalariada quanto como dona de casa, ao sustentar o trabalhador com o
trabalho doméstico gratuito. A Sociologia do Gênero explica que nas
sociedades industriais as mulheres são socializadas para assumirem uma
personalidade feminina e uma identidade de gênero específica; são
relegadas ao âmbito privado do lar e excluídas das atividades públicas; são
alocadas a atividades produtivas restritas, inferiores, mal pagas e
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degradantes; e são submetidas a ideologias estereotipadas que as definem
como fracas e emocionalmente dependentes do homem. O conceito de
patriarcado foi criticado por seu caráter monolítico e por apontar o homem
como inimigo. Todavia, os estudos da masculinidade retomaram o
conceito.
● Queer: Termo que diz respeito à forma como algumas pessoas expressam
a sexualidade ou a identidade de género. Por vezes é usado como
sinónimo da comunidade LGBT. Note-se que por detrás deste termo está
geralmente um elevado nível de ativismo político dentro da comunidade
LGBT. Refira-se ainda que está associada a este termo uma teoria –
Teoria Queer – que se desenvolveu nos anos 80 nos Estados Unidos com
a publicação do livro Gender Trouble de Judith Butler.
● “Sair do Armário”: Assumir publicamente sua orientação sexual e/ou
identidade de gênero.
● Sexismo: Conjunto de estereótipos quanto a aparência, atos, habilidades,
emoções e papel apropriado na sociedade de acordo com o sexo. Apesar
de o homem também ser estereotipado, o sexismo reflete com maior
frequência preconceitos contra o sexo feminino. A mulher geralmente é
apresentada como vítima indefesa, mãe ou sedutora, e o homem, como
“machão”, poderoso e/ou conquistador. .
● Sexual (identidade): A auto definição do comportamento sexual. Etiquetas
como assexual, heterossexual, homossexual, gay, lésbica, bissexual,
pansexual, queer, indeciso entre outros.
● Sexualidade: Refere-se às elaborações culturais sobre os prazeres e os
intercâmbios sociais e corporais que compreendem desde o erotismo, o
desejo e o afeto, até noções relativas à saúde, à reprodução, ao uso de
tecnologias e ao exercício do poder na sociedade. As definições atuais da
sexualidade abarcam, nas ciências sociais, significados, ideias, desejos,
sensações, emoções, experiências, condutas, proibições, modelos e
fantasias que são configurados de modos diversos em diferentes contextos
sociais e períodos históricos. Trata-se, portanto, de um conceito dinâmico
que vai evolucionando e que está sujeito a diversos usos, múltiplas e
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contraditórias interpretações e que se encontra sujeito a debates e a
disputas políticas.
● Sexo Biológico: Sistema de classificação tendo como base características
geno ou fenotípicas de um indivíduo. Os indivíduos podem ser
classificados, geralmente, como sendo do sexo masculino ou feminino.
Existem diversos fatores que contribuem para a classificação do sexo
biológico de uma pessoa: cromossomos (XY, XX, ou outras combinações),
genitais (estruturas reprodutivas externas), gónadas (presença de
testículos ou ovários), hormonas (testosterona, estrogênios), entre outros.
● Teoria Queer: Teoria que surge na década de 1990, onde Tomaz Tadeu
em seu livro Documentos de Identidade, apresenta um panorama amplo
contendo as discussões sobre a identidade homossexual (“queer”, termo
de difícil tradução para o português, é um dos sinônimos para
“homossexual”, em inglês, podendo significar também “estranho”). Esta
teoria propõe a desconstrução das identidades sexuais via discurso. Os/as
teóricos/as queer, no contexto do movimento queer, contestam a
naturalização ou a essencialização de qualquer noção de identidade,
criticando as normas e os dispositivos de normatização e normalização
identitária e denunciando que o discurso de atribuição identitária posiciona,
julga e regula os sujeitos. Contra as categorias de orientação sexual, a
teoria queer defende, por exemplo, que não há simplesmente identidades
hétero, homo ou bissexual, mas práticas sexuais conduzidas por sujeitos
sem identidades fixas. Segundo tal perspectiva, todas as pessoas
apresentam múltiplas identidades e o potencial para a variabilidade do
desejo sexual. A perspectiva queer, coloca-se portanto, como uma postura
problematizadora das chamadas “políticas de identidade”, que foram
cruciais para as lutas de grupos oprimidos (como negros, mulheres, gays e
lésbicas), os quais encontraram na afirmação de suas identidades um
importante instrumento para a criação e o fortalecimento do senso de
pertencimento a uma comunidade discriminada e para a reivindicação de
seus direitos. A teoria queer recebeu diversas críticas em função de sua
ênfase (considerada excessiva) nos discursos e de seu relativo
desinteresse nos movimentos sociais. bell hooks lembra que é fácil
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renunciar a uma identidade quando se tem uma, lembrando a importância
das políticas de identidade. A perspectiva feminista queer considera
interseccionalidade entre gênero, sexualidade, cor, raça, etnia, classe
social, etc., e, por isso, insiste na necessidade de construções teóricas e
políticas que assegurem um engajamento crítico para o enfrentamento
político dos quadros de opressão. Alguns consideram que a teoria queer,
ao privilegiar discursos, deixa em segundo plano o concreto, a sexualidade
encarnada, a subjetividade corporificada, levando à produção de discursos
vazios de significado social e político e produzindo esvaziamento do
espaço público. Críticas feministas acusam a teorização queer de
restringir-se à experiência gay, invisibilizando a experiência lésbica. Outras
críticas, ainda, apontam que o queer tornou-se um tipo de não-identidade
da moda, transgressora das fronteiras da heterossexualidade normal,
portanto (e paradoxalmente) ela mesmo uma identidade.
● Transfobia: 1) Ódio, medo ou repulsa irracionais e injustificados por
pessoas trans. 2) Palavra criada para representar a rejeição e/ou aversão
às transexuais. A expressão está mais relacionada às ações políticas
diferenciadas do movimento LGBT.
● Transgénero: 1) Termo abrangente que inclui qualquer pessoa que, por
qualquer razão, não se identifica com o género associado ao sexo que lhe
foi atribuído à nascença. Pode, ou não, fazer algum tipo de transição. 2)
Terminologia utilizada que engloba tanto as travestis quanto as
transexuais. É um homem no sentido fisiológico, mas se relaciona com o
mundo como mulher.
● Transsexual: Termo médico, que data de 1850, criado para referir as
pessoas que desejam que o seu sexo biológico corresponda à sua
identidade de género, mudando assim o seu corpo através de hormonas
e/ou cirurgias. Refere-se a indivíduos que não se identificam com o género
associado ao sexo que lhes foi atribuído à nascença. Frequentemente
descrevem sentir disforia de género e fazem algum tipo de transição com o
objetivo de aliviar essa disforia.
● Transexuais: São pessoas que não aceitam o sexo que ostentam
anatomicamente. Sendo o fato psicológico predominante na
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transexualidade, o indivíduo identifica-se com o sexo oposto, embora
dotado de genitália externa e interna de um único sexo.
● Travesti: 1) Pessoa que se veste com roupas do sexo oposto por prazer
ou diversão. Um travesti não é necessariamente um homossexual. Em
Portugal, o termo é usado para designar drag queens ou crossdressers,
indiferentemente. 2) Pessoa que nasce do sexo masculino ou feminino,
mas que tem sua identidade de gênero oposta ao seu sexo biológico,
assumindo papéis de gênero diferentes daquele imposto pela sociedade.
Muitas travestis modificam seus corpos por meio de hormonioterapias,
aplicações de silicone e/ou cirurgias plásticas, porém, vale ressaltar que
isso não é regra para todas (definição adotada pela Conferência Nacional
LGBT em 2008). Diferentemente das transexuais, as travestis não desejam
realizar a cirurgia de redesignação sexual (mudança de órgão genital).
Utiliza-se o artigo definido feminino “A” para falar da Travesti (aquela que
possui seios, corpo, vestimentas, cabelos, e formas femininas). É incorreto
usar o artigo masculino, por exemplo, “O“ travesti Maria, pois está se
referindo a uma pessoa do gênero feminino. Definição fornecida pela
Articulação Nacional de Travestis e Transexuais – ANTRA.
Com essas novas leituras do espaço espera que a partir do acesso a informação,
os termos sejam socialmente empregados da maneira correta, para que não haja
a falta de respeito para com o próximo.
28
3. DISCENTES LGBT+: ESSES CORPOS PERTENCEM A
ESCOLA? SUAS HISTÓRIAS O QUE PRODUZEM?
Assim, também acontece com os estudantes que são LGBT+, pois suas
experiências, em certos pontos, se tornam diferenciadas dos demais estudantes,
já que a escola e os cotidianos escolares, ao estar inserida numa sociedade, que
carrega boa parte dos estigmas sociais do que se entende como “certo e errado”,
perpassa enquanto instituição, tais regras normativas, como por exemplo: padrão
de beleza, os papéis que socialmente são atribuídos a figura masculina e
feminina, e também, os padrões heterossexistas de comportamento sexual.
29
Letícia: - [...] Eu depois de todos esses anos do Ensino Fundamental I, conclui
esse primeiro ciclo e tive que mudar de escola, indo para uma escola que tinha o
Ensino Fundamental II e sucessivamente para o Ensino Médio. [...]
Bernardo: - [...] Com a chegada do fim do Ensino Fundamental, tenho que mudar
de escola novamente tive que procurar a minha atual escola que é de Ensino
médio. [...]
As narrativas abaixo nos fazem pensar o que ambos esperam desses novos
ambientes:
Letícia: - [...] Meus dois primeiros anos, foram bem tranquilos já que até então não
havia visto nenhuma manifestação de preconceito aos LGBT+ e também não me
lembro se havia até esse momento indivíduos assumidos ou pessoas que eram
tachadas como tal. Já quando eu chego a 7ª série e encontro uma nova estudante
que estava na minha sala, eu mudei a minha percepção de amor. [...]
30
Bianca: - [...] Após isso eu utilizo minhas redes sociais - facebook, twitter, entre
outras - para desabafar e relatar minha indignação com o caso que comigo,
mesmo sabendo que nada mudaria nessa escola onde eu estava, já que era meu
último ano ali e que no ano seguinte eu deveria ir para uma nova escola. [...]
Tracy: - [...] Depois que eu terminei a 8ª série e meus pais vendo o que estava
acontecendo decidem mudar junto comigo para uma outra cidade e por isso a
gente veio morar na Região da Grande Vitória (ES), já que aqui, mesmo sabendo
que também poderia ser díficil eu sentia que as coisas poderiam ser diferentes.[...]
Esses dois processos que foram evidenciados, criam reações em cima destes
corpos já que eles ocupam e habitam o espaço/território, e, partir disso, as
formações pré-concebidas, suas leituras de mundo dialogam com a escola e seus
cotidianos, isso fica evidenciado na fala de Oliveira (2007).
Leticia: - [...] Quando eu percebi que minha noção de amor ou gostar de pessoas
mudou foi aí que as coisas começaram a ficar boas, pois eu estava gostando de
alguém, mas ao mesmo tempo amedrontadora já que por ter presenciado
agressões no passado comecei a achar que isso ia acontecer comigo. A partir
desse momento começo a me perguntar como e por quê estava gostando de uma
31
menina? Nesse meio tempo nós começamos a nos aproximar. E isso se torna
muito importante para mim já que aí eu me afirmo lésbica mesmo que dentro do
armário. [...]
Gabriel: - [...] Mesmo eu tendo me descoberto e me aceitado gay ainda tive que
manter isso meio que escondido, pois enquanto espectador eu presenciei um
agressão a outro LGBT+ e isso foi muito significativo. [...]
Gael: - [...] Depois quando o ano acaba e eu vou para 6ª série, eu começo a ser
alvo de comentários acerca da minha sexualidade, pois quase todos os meninos
da minha sala estavam na fase da “paquera” e eu ainda não tinha “perdido o BV”
e por isso passo a ser chamado de “viadinho”, “bicha” e dentro outros e isso
começou a me deixar com dúvidas para saber se eu realmente era gay, tempo
depois isso quase chegando no Ensino Médio eu aceito que sim sou gay. [...]
Bernardo: - [...] Nesse processo de mudança de uma escola para outra e com
várias outras coisas acontecendo na minha vida pessoal, isso tudo é o que
possibilita a minha descoberta de mim mesmo, admitindo a minha
bissexualidade.[...]
Tracy: - [...] A minha trajetória de vida enquanto mulher trans começa muito cedo,
mas só lá na 7ª série eu entendo que realmente não era um menino, mas sim
uma menina, só que a 4 anos atrás não sabia o que fazer, sendo que meu corpo
32
tinha os traços e trejeitos que dialogavam com a minha identidade de gênero, mas
não sabia o que fazer para me projetar para a sociedade. [...]
Essa busca por diversidade é o que vai tornar os corpos dos estudantes LGBT+,
juntamente com suas história de vidas e formações pré-concebidas de todo um
meio, gerando assim, ambientes de resistência, para que suas vidas sejam
asseguradas durante o processo de escolarização e nos cotidianos escolares.
Tracy: - [...] Mesmo que eu ainda esteja no 2º ano do Ensino Médio, quero muito
fazer um curso de ensino superior, penso ainda mais alto quero que ele seja na
Universidade Federal do Espírito Santo e no curso de Direito ser a primeira
Estudante Transsexual do Curso e isso eu tenho muito que agradecer as/os
minhas/meus professoras/es, pois muitos deles hoje me compreendem e torcem
por mim o fato delas/es acreditarem também permite que eu acredite que sou
muito capaz.[...]
33
Dessa maneira, ao entender a formação de um sujeito como um processo
contínuo e infindável, se possibilita para que mais projeções, como a anterior,
sejam produzidas em cotidianos escolares, como diz OLIVEIRA.
34
bell hooks (2013) realça a diferença entre a educação como prática de liberdade,
e a educação que só trabalha para reforçar a dominação. Cuja prática docente
atualiza o aluno, reforça a importância da participação, convocando-o ativamente
a agregar dentre os espaços construídos, que o espaço da sala de aula seja um
um local de transgressão. Onde tratar de conteúdos através de práticas dentro do
ambiente da escola com a finalidade de que nenhuma diferença, seja de gênero,
sexualidade ou etnia seja quesito para diferença no contexto do socializar.
Como apresentar modos de vivenciar esse cotidiano escolar, sem que haja
traumas na premissa básica de aceitação no meio, ou mesmo reafirmação de
práticas de resistência? Por estes equívocos/indagações a escola e seu cotidiano
criam nesses indivíduos, uma desintegração social, um desestímulo para dar
continuidade a sua trajetória.
35
No ano passado quando estava no 2º ano, comecei a ver que a escola estava
tomando o rumo para se tornar mais representativa, pois havia um professor de
Sociologia assumidamente homossexual que tinha dentro das suas falas lições de
empoderamento para as minorias e aí o meu irmão que é um ano mais novo vem
estudar na mesma escola que eu, ele também é gay, logo quando ele chega ele é
agredido fisicamente e isso me envolveu diretamente já que era o meu irmão,
nisso eu tive que tomar partido e me assumir na família e tudo mais, depois disso
a escola por meio deste professor me possibilitou novas experiências e
descobertas e isso sem dúvida foi o melhor ano para se estar na escola, porque
eu fazia parte dela, eu queria estar ali.
Além da influência de uma religião que reforça esses traços perante uma
sociedade que nada questiona, tudo aceita. Em contrapartida, ao se observar a
dinâmica dos oprimidos para “ocupar e resistir”, dá-se - de certa maneira - um
território sobre relações de poder alternativas, colaborativas e conjuntivas.
Ela considera que todas levam para a sala de aula um conhecimento que vem da
experiência, e esta deva ser apresentada como um modo de conhecer que
coexiste com outras formas de conhecimento, sem hierarquias. Cabendo ao
36
educador não permanecer em vícios, estar sempre solicito a ideias que os alunos
são capazes de elencar.
37
Na perspectiva do humano, do viver: tudo que não é visto, consequentemente é
esquecido, deixado de lado. Em contrapartida a isso, o evento cultural
apresentado na escola evidencia os personagens que se encontram às margens,
sem o enfoque, sem a luz e o texto principal de uma peça de teatro. O
protagonista possui referências de representatividade - transformando-a em uma
antidisciplina. Manifesto em que a representatividade deve se manter além do
âmbito escolar, ou seja, a partir dessas discussões/conversas na escola que elas
possam ser redirecionadas de formas direta e indiretamente para a nossa
sociedade como um todo. Que sejam levadas para fora dos muros das escolas e
protagonizem a história de cada marginalizado, desde que seja de seu juízo.
[...] Logo depois que eu saí da minha escola do Ensino Fundamental eu já sabia
que eu era gay e diante disto não aceitaria mais passar por situações de
preconceito e discriminação, então quando eu chego na minha atual escola
decido me posicionar e me autodeclarar homossexual, prometi que isso me
fortaleceria e com isso eu esperava fortalecer meus iguais, só que isso não
aconteceu, pois logo de cara na primeira semana eu me deparo com uma cena de
agressão e bullying com um outro garoto que eu acredito que também era LGBT+,
isso me causou uma revolta muito grande e acabei partindo para cima dos
verdadeiros agressores e isso tornou-se uma briga coletiva. Nisso de me envolver
com essa briga fomos todos parar na coordenação da escola para explicar o que
havia acontecido então comecei falando que os agressores estavam batendo no
outro menino a troco de nada e fui severamente interrompido pela coordenadora e
38
ai no fim das contas todos nós pegamos suspensão só que eu tomei 5 dias de
suspensão e quem estava de fato batendo pegaram apenas 3 dias. Isso me
revoltou muito mais do que o fato da agressão ter sido com outro LGBT+, ai eu
peguei e fui para o refeitório da escola subi em cima de uma das mesas e
comecei a gritar pra todo mundo ouvir EU SOU GAY E A ESCOLA É
HOMOFÓBICA, tinha muita gente sem entender nada do que estava acontecendo
e outras pessoas começaram a gritar “tô nem aí”, “você deveria ter apanhado
mais para ser homem” ai chamaram meus pais na escola para contarem o que
havia acontecido. [...]
Após isso percebe-se que a escola e os cotidianos escolares, mais uma vez,
cumprem com um papel opressor que se perpetua por anos na sociedade, mas
isso não o deixa menos motivado para ser reconhecido enquanto um corpo que
pertence aquele espaço/lugar. Em outra de suas narrativas, Gael relata um
relacionamento que se desenvolveu com sua professora de Língua Portuguesa,
veja a seguir:
bell hooks (2013) salienta que a experiência é criada a partir da dor, da luta e da
exposição de algumas feridas e serve para guiar as jornadas teóricas. Com isso,
bell hooks desconstrói o conceito de voz privilegiada da autoridade. A
territorialização do espaço escolar exerce seu poder, a partir do momento da
representatividade do comportamento, como um engajamento contra o
39
estereótipo perfeito do homem branco contra quaisquer minorias sedentas por
representatividade.
No caso específico da sua relação com o professor de Geografia ela conta que
ele por vezes se abstém de assuntos como esse, pois como ele mesmo diz
“prefiro me manter neutro para não causar intrigas entre vocês”, ela afirma que
esse posicionamento só contribui para criar na escola um espaço de exclusão e
não de inclusão e afirmação. Realçando a influência de poderes dentro do
ambiente escolar, uma vez que a transposição de ideias e preconceitos.
40
sonhos, utopias, ideais. Daí a sua politicidade, qualidade que tem
a prática educativa de ser política, de não poder ser neutra.”
(FREIRE, 1996)
[...] Mesmo que por vezes eu tive que me sujeitar a algumas situações, como ter
abandonado a escola por mais de três anos, ouvir também da minha família que
eu também não seria ninguém digno, hoje depois de tudo no EJA (Educação de
Jovens e Adultos) foi onde eu me reencontrei e criei expectativas e sonhos para
41
minha vida, exemplo disso é o fato de eu querer ser Professora de Sociologia,
para tentar mudar o ambiente escolar que eu estiver presente, realizar com meus
alunos que passarem por situações que eu passei aquilo que nenhuma outra
pessoa foi capaz de fazer. [...]
Trazendo aspectos educacionais deste novo ciclo, na qual a mesma se insere, ela
faz apontamentos que são de extrema relevância, ela traz que por se tratar de
EJA a seguridade da efetivação das disciplinas não ocorre, deixando assim a
mercê temáticas como esta da pesquisa. Isto submete as relações críticas-sociais
do ensino a uma relação conteudista, não conscientizando os cidadãos para
serem mais compreensivos e tolerantes, para não criar situações como as que
aconteceram com essa estudante.
3.3 O que as DCNs, BNCC, DNEDH e a LDB nos dizem sobre a esfera
discente dentro do grupo de minoria dos LGBT+?
42
entende as regras ditadas por essa sociedade, é violado, não garantindo a
possibilidade de se expressar livremente.
A Base Nacional Comum Curricular - BNCC, que se diz construída com base nos
princípios de equidade e igualdade, e com as inúmeras ressalvas que lhe são
atribuídas, reconhece a pluralidade e diversidade presente nas escolas e afirma
que a experiência escolar deve ser “acessível, eficaz e a agradável a todos, sem
exceção, independentemente de aparência, etnia, religião, sexo ou quaisquer
outros atributos, garantindo que todos possam aprender (BRASIL, 2017, p. 11)”.
43
É garantido por lei e cabe também ao Estado criar políticas públicas que
perpassam as variadas formas de expressão e evidencie a multiplicidades
presentes na escola, ao invés de criar um ambiente de repressão e controle. Para
Gomes (2016), as normas tradicionais nas quais a escola está pautada, dificulta a
negociação contemporânea com os variados corpos e seus complexos cotidianos,
é o que a acontece muitas vezes, e também a invisibilidade dos conflitos,
atribuída a um falso bem-estar no ambiente escolar.
Os problemas presentes nos cotidianos escolares, como a intolerância, o
machismo, as fobias relacionadas com as perseguições às minorias,
acabam ajudando a produzir um discurso que busca configurar as
escolas com espaços-tempos contraditórios, muitas vezes por não
conseguirem lidar de maneira problematizadora com tais conflitos
(GOMES, 2016, p. 218)
[...] Lembro que quando eu estava na pré-escola para primeira série, tinha uma
professora que sempre usa falas do tipo “não anda rebolando”, “para de brincar
com as meninas, vai brincar com os meninos”, “Ah! Mas você não pode fazer isso
só as meninas que podem” e sempre que vinha “elogios” era falas como “nossa
sua letra é muito bonita para ser de menino”, ou seja, a todo momento eu era
visto como uma garota e é como se isso fosse ruim. [...]
44
Com isso, observa-se não somente a repressão num estágio onde o ser infante e
a própria infância do sujeito. Ele lembra que não entendia o porquê desta
professora o tratar assim, uma vez que nas ocasiões narradas, ainda não tinha as
noções de sexualidade e gênero. Gomes (2016) considera a escola, como um dos
espaçostempos que atua na formação dos indivíduos, tanto no sentido do
profissional, quanto no desenvolvimento e na constituição de sujeitos críticos e
sociais. Por isso também se constitui como um espaçotempo de conflitos de
gênero, de diversidade cultural, étnica, racial, sexual, entre outros, em que o
estudante permanece durante um longo período de suas vidas. (GOMES, 2016, p.
217)
45
com deficiência, as populações do campo, os de diferentes orientações sexuais,
os sujeitos albergados, aqueles em situação de rua, em privação de liberdade”.
(BRASIL, 2013, p. 16)
Giroux (apud SILVA, 2011, p. 55) vai buscar no conceito de resistência, novas
alternativas de análise do currículo e educação. Ele sugere que a ações humanas
que interferem no currículo e na escola, lutem contra os desígnios das classes
dominantes, o que ele denomina de uma pedagogia da possibilidade.
46
Isso fez que ele mantivesse em segredo quem ele realmente era, e os processos
de homofobia foram cada vez mais existentes em sua vida escolar. O mesmo
mantinha em segredo essas experiências homofóbicas, já que a escola nunca
realizou nenhuma ação para punir ou repudiar as agressões que aconteciam.
Gael se viu num dilema: contar para a família suas experiências homofóbicas
vividas nos cotidianos escolares, e expor assim sua sexualidade, ou, se manter
no silêncio. Diante dessa situação, conviveu no silêncio até o fim do ensino
fundamental na 8ª série, já que não havia percebido uma representatividade, uma
fonte de combate a essa opressão.
A narrativa do Gael assim como dos demais estudantes não condizem com o que
está nos documentos curriculares, como é o caso das Diretrizes Nacionais para a
Educação em Direitos Humanos, que abarca uma série de concepções e práticas,
que promovem a defesa da vida e orienta que todos atores, do ambiente escolar,
façam parte desse processo (BRASIL , 2013, p. 516). Assim descreve o texto:
Cabe a nós perguntar, como que, com tantos documentos e até leis que se
opõem à discriminação, ainda temos tantos relatos como os do Gael, Bianca,
Gabriel e Bernardo? Onde estão as pessoas de deveriam se opor e repreender
essas práticas? De que adianta uma pilha de papéis e palavras, se na prática, nos
cotidianos escolares, eles não são utilizados?
47
Para a estudante Leticia, todas as belas e bem escritas citações dos documentos
que vimos até o momento, não a impediram de sofrer, durante anos, por um
sentimento que ela não escolheu ter, um sentimento que só diz respeito a ela e a
sua companheira.
Bianca narra uma situação desagradável, que foi gerada a partir do preconceito à
diversidade sexual, ainda no ensino fundamental, para ser mais exato, na 8ª série.
Ela relembra que foi alvo de piadas e chacotas, pois ao criar uma conta numa
rede social (Twitter), acreditava ter a liberdade de falar ou publicar o que
quisesse, (o que de fato deveria ser garantido, já que a liberdade de expressão é
um direito). Foi quando ela se deparou com um perfil que tinha um teor mais
voltado para o público LGBT e começou a interagir com o mesmo.
48
Relacionado a essa temática Gomes (2016) salienta-nos sobre o boom
tecnológico que vivemos, por meios das mídias sociais, mas, esses mesmos
mecanismos, são usados para crimes de ódio que se proliferam nas redes
sociais, envolvendo grupos minoritários das mais variadas formas, como
homofobia, a violência contra mulheres e as questões religiosas, que se replicam
nos espaçostempos das escolas. Por isso o autor afirma:
Nos anos seguintes e até o presente momento, Bianca ela vem levantando a
bandeira da equiparidade, para que nenhum dos seus iguais sofram, com a
discriminação, seja ela racial, de gênero e sexualidade, econômica e dentre
outras. A partir da construção de projetos com suas professoras de História e
Artes, tentam dar a escola, uma característica de acolhimento e não de exclusão.
Para nossa outra colaboradora Tracy, o processo de reeducar sua família não foi
tão difícil, já que aos poucos ela foi tratando a diferenciação, entre quem ela é, e
do que ela gosta (entende a frase anterior como diferenciação entre orientação
sexual e identidade de gênero). Ao se tratar da escola, das suas amizades, dos
professores e de todas as outras coisas, foram muito mais difíceis tratar essas
49
questões, já que para todos, ela era uma pessoa do gênero masculino e gay.
Esse processo aconteceu dentro da sua escola de Ensino Fundamental, já que
até o 9º ano.
Para Silva (2011) num primeiro momento, o significado do termo queer, que
possui uma definição ambígua – depreciativa e positiva - em relação à
homossexualidade. Passando por discussões sintéticas acerca de gênero e
identidade, o autor ressalta que a teoria queer estende a hipótese da construção
social para o domínio da sexualidade, e que a identidade sexual é uma
construção social e cultural. O autor evidencia que:
Seus pais e familiares, vendo que sua trajetória naquele determinado espaço,
possivelmente seria extremamente árdua e difícil, decidem-se mudar para a
região metropolitana do Espírito Santo. Com isso Tracy chega a uma nova escola,
e, inicialmente ela pensa em esperar um ano para conhecer e mapear as novas
rotinas e as novas pessoas.
Ela inicia o 1º ano do Ensino Médio na rede particular de ensino, mas sua
experiência ali foi muito traumática, pois ela, por vezes, foi rechaçada pela
instituição ao usar o banheiro que condiz com sua identidade de gênero. Foi
agredida verbalmente por outros estudantes da escola, e sabia que tudo isso
ficaria impune, então, ela pede para a família a colocar em outra escola. Nesse
momento, muito antes do fim do 1º trimestre, ela retorna para a rede pública de
ensino. Nas palavras de Deleuze (apud GOMES, 2016, p.230), o que nos
incomoda e continua incomodando na educação:
50
[...] são as inúmeras tentativas de controle sobre o corpo que pulsa, de
formas de aprisionamento das ações que ousam romper com a inércia,
com as superfícies estriadas da escola, colocando em análise o atual
modelo de educação pautado por uma lógica que privilegia uma dada
hegemonia do pensamento e de comportamento. (apud GOMES, 2016,
p.230)
Mesmo com esse controle exagerado, ainda assim, existem aqueles considerados
rebeldes, inconformistas, insanos, infames, que no cotidiano da vida se
reinventam, com ou sem nossa permissão, e são essas vidas que pulsam nas
escolas rasurando clichês, do certo e do errado, do que pode ou não pode. Só
assim “vamos nos dar conta da importância de colocar em análise,
sistematicamente, os múltiplos processos que se constituem como
agenciamentos que produzem clichês sobre as sexualidades vividas nos
cotidianos escolares (GOMES, 2016, p. 230)”.
Hoje, cursando o 2º ano, ao ser reconhecida de fato como mulher, Tracy percebe
que as práticas dos professores tendem a mudar, pois querem garantir a sua
permanência. Para exemplificar, ela classifica que as matérias de humanas
(Geografia, História, Língua Portuguesa, Sociologia e Filosofia) tem como papel
mediar as novas esferas de diálogos.
Neste sentido faz-se necessário pensar em uma visão de currículo muito além
das propostas oficiais, para “entender que o cotidiano escolar aparece como um
espaço-tempo privilegiado de produção curricular” (OLIVEIRA apud GOMES
2016, p. 226). Ainda para esta autora:
51
O entendimento ampliado a respeito das múltiplas e complexas
realidades das escolas reais, com seus alunos, alunas, professores e
professoras e problemas reais, exige que enfrentemos o desafio de
mergulhar nestes cotidianos, buscando neles mais do que as marcas das
normas estabelecidas no e percebidas do alto, que definem o formato
das prescrições curriculares. É preciso buscar outras marcas, da vida
cotidiana, das opções tecidas nos acasos e situações que compõem a
história de vida dos sujeitos pedagógicos que, em processos reais de
interação, dão vida e corpo as propostas curriculares (OLIVEIRA apud
GOMES, 2016, p. 231)
52
4. DOCENTES E SUAS FORMAÇÕES SÃO IMPORTANTES PARA
SOCIEDADE ATUAL?
53
4.1 Como as práticas pedagógicas possibilitam a vida e existência?
54
De acordo com a obra Pedagogia do Oprimido, é na inconclusão do ser, que se
sabe como tal, que se funda a educação como processo permanente, é a prática
do debate, da conversa em roda, onde o argumento toma o lugar do achismo, e
compreende que uma realidade pode ser composta de várias verdades, e não
apenas uma conclusão rápida e imprecisa sem o conhecer. E uma das práticas
educadoras comuns é o convite à voz de quem está à margem, para que se
possa então debater as noções de respeito e equiparidade dentro dos âmbitos
legais, como por exemplo, a Constituição.
55
4.2 Se não houver permissão, o professor tem que se calar diante dessa
temática?
Por parte dos professores e das escolas, por vezes é difícil se posicionar e fugir
das normas instituídas pelos regulamentos, “seja pelo peso das restrições legais,
políticas ou sociais, seja pela herança de uma sociedade patriarcal, sexista,
etnocêntrica e regida por duros padrões culturais religiosos e heteronormativos”
(GOMES, 2016).
A LGBTfobia existe, é presente na maior parte das escolas, que pelo fato do País
estar passando por momentos delicados de retrocesso como um todo, e isso vai
agravar mais ainda as situações referentes a essa opressão, pois as novas
configurações do público atual havia uma “certa heterogeneidade” quando se trata
desse tema, e assim vemos ele disseminados de diversas formas.”
Ele relata ainda um caso que ele presenciou, segundo ele ocorreu pelo corpo
pedagógico da seguinte maneira:
Essas pessoas que compõem a equipe pedagógica, que por vezes são de
religiões mais conservadoras, tradicionais acabam contribuindo para a adesão de
um discurso de ódio, aconteceu foi uma tentativa de boicote, pois por se tratar de
assuntos um pouco mais progressistas. E nessa tentativa queriam transformar a
atividade que estava sendo desenvolvida em outra abordagem/viés, nisso depois
de feita a atividade e ela estando exposta, uma determinada coordenadora
arrancou dos murais tal exposição.
56
Ele diz ao se lembrar da sua vida escolar que “por vezes essas coisas aconteciam
comigo e eu não tinha a quem recorrer dentro a escola, isso me deixava muito
mal, isso me gerava o sentimento de exclusão e não pertencimento à escola”.
57
grupal, e leva a conhecer as razões dos conflitos que se escondem por
trás dos preconceitos e discriminações que alimentam as desigualdades
sociais, étnico-raciais, de gênero e diversidade sexual, das pessoas com
deficiência e outras, (BRASIL, 2013, p. 115)
Silva (2011, p.88) elenca que mais importante que criar um currículo que ensine
tolerância e respeito, é mostrar os processos pelos quais as diferenças são
produzidas através de relações de assimetria e desigualdade. Então, para
legitimar cada vez mais essas discussões e debates, é necessário que haja um
aprofundamento, para que não as coloquem em amarras disciplinares, mas,
tratando-as pedagogicamente como transversais e que façam parte do viver
cotidiano, e que elas sejam integradas de maneira efetiva dentro do âmbito
científico-escolar.
No que tange aos currículos, a BNCC fornece algumas ações que devem ser
contempladas nos currículos, mas afirma que tais práticas só serão
implementadas dependendo do contexto local, municipal e estadual em que o
sistema ou rede de ensino está inserida, devendo se adequar a realidade dos
alunos. A BNCC trata a questão de gênero e sexualidade como tema
contemporâneo e que deve considerar como habilidades de todos os
componentes curriculares de forma contextualizada:
58
A BNCC criou dez competências gerais que representam um “chamamento à
responsabilidade que envolve a ciência e a ética”. A 9º competência assim afirma:
59
As escolas, assim como outras instituições sociais, têm como principal função a
garantia do respeito aos Direitos Humanos. Ainda dentro das Diretrizes
Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, a formulação de um Projeto político-
pedagógico nas unidades escolares deve considerar:
Nosso colaborador cita que existe uma lei que respalda a “criminalização da
homofobia” e isso impede que os estudantes e os professores “ataquem”
demonstrando diretamente o seus preconceitos. Quando os casos de intolerância
ocorrem, são porque a situação chegou a um ponto, em que as coisas ficaram
mais sérias, quando então tais fatos estão expostos abertamente, a escola age de
acordo com estatuto estadual.
60
partes ativas dessa construção. A experiência dos alunos seria a pedra-chave
para definição dos “temas significativos”, ou “temas geradores”. Caberia então,
antes da elaboração das práticas pedagógicas suas reformulações a partir das
experiências dos educandos, no universo existencial de cada um. (SILVA, 2011)
61
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
62
Políticas Públicas de Direitos Humanos de LGBT e no Glossário LGBTI da Rede
Ex Aequo (Associação de jovens LGBTI e Apoiantes).
63
cultura. Deixamos então, algumas reflexões: que geografias os corpos LGBT+ nos
contam?
64
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Disponível em:
<https://brasil.elpais.com/brasil/2017/09/21/opinion/1506025854_128074.html>.
Acesso em: 27 nov 2017.
65
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática
educativa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996.
LIS, Laís. Receita autoriza uso de nome social também no CPF, G1, Brasília, 20
jul 2017. Disponível em: <https://g1.globo.com/economia/noticia/receita-autoriza-
uso-de-nome-social-tambem-no-cpf.ghtml>. Acesso em 02 dez de 2017.
66
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DE OLHO NA CI, Paraíba, 04 maios 2015. Disponível em:
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2017.
RAMON, Janaina de Santana. Cura Gay: apertem os cintos, o bom senso sumiu!
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TABORDA, Dênia Francisca. A homossexualidade é uma doença? Cura gay?
Entenda a polêmica. Disponível em:
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VASSALLO, Luiz . Juiz libera cura gay por psicólogos. Disponível em:
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68