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Os séculos II e III são um tempo de grande atividade missionária. A expan- são é geográfica: no
fim do século Il, Tertulianodeclara, orgulhosamente, que há cristãos no mundo inteiro. O
Evangelho percorreu o Oriente mediterrâneo muito depressa, o Ocidente um pouco mais
tarde. Depois dos grandes centros , orientais, são fundadas Igrejas, em Roma desde o século I,
na Gália e na Afri- ca no século IL No século IV, os armênios, os godos, os etíopes são por sua
vez evangelizados ... Depois de ter sido, primeiramente, uma religião das cidades, o
cristianismo ganha os meios rurais. A exemplo de um São Martinho na Gália, no século IV, as
povoações rurais são evangelizadas e, pouco a pouco, se tomarão "paróquias". Cada vezmais, a
Igreja do fim da Antiguidade e da Idade Média estrutura a vida cotidiana, o tempo, a paisagem
... Entretanto, desde o início do século Ill, Orígenes fazia notar que a quali, clade dos fiéis não
aume11tava com a sua quantidade! O cristianismo já conhe- ce os problemas de uma religião
de massa, que aumentarão no século IV
Portanto, nos séculos II e Ill, surge uma organização notável para a catequese dos adultos que
vêm pedir o batismo. O curso pede vários anos para permitir a instrução, a reflexão e a
aprovação, porque a vida cristã é exigente, e pode levar ao martírio. A expansão é também
social e cultural. Depois da inculturação grega (que remonta às origens, pois todo o Novo
Testamento é escrito em grego), a inculturação latina começa no fim do século Il, sobretudo
com Tertuliano. Nessa época, dìfundem-se novas traduções da Bíblia.
Há também uma expansão social do cristianismo, que desde o século Il entra nos meios cultos.
Estes meios têm suas questões específicas, suas crí- ticas também, e exigem um apostolado
mais erudito. Eis por que, na segun, da metade do século Il, floresce um gênero literário
particular: as apologias, palavra grega que significa "defesa". Essas obras querem defender o
cristia- nismo ao mesmo tempo contra as perseguições do poder e contra os ataques
dos intelectuais pagãos, e por isso aceitam o confronto, por vezes tentam mesmo a síntese,
entre o cristianismo e a filosofia grega. Nós as encontra, .~tir remos no capítulo 3. <le 'Um
tempo de provações que Quanto mais se espalha, mais o cristianismo chama a atenção. No
impé- ,, .a rio romano, é necessário que uma religião seja autorizada (religio licita) para :10,
poder ser praticada. O judaísmo o era, o cristianismo não o é: a partir do momento em que ele
se distingue claramente do judaísmo, não goza mais da proteção jurídica de sua religião,mãe. E
nesse momento então que os cristãos sofrem perseguições: desde o / século I de maneira
pontual, com a perseguição de Nero, em Roma, depois até o início do século IV, com mais
amplitude, mas por períodos, alternando com épocas de paz quando a nova religião prospera.
Constantino fará parar as perseguições, convertendo,se ao cristianismo (ver mais adiante).
Os cisv1as Por causa da questão da penitência a conceder ou não aos renegados nascem
cismas de maior ou menor amplitude lo, cal. A cada vez se manifesta a tentação de uma Igreja
"per, feita", sem manchas humanas, que não tem necessidade de perdão... O problema se
apresenta um pouco em toda parte, e vai dividir duramente os cristãos. Assim, aparecem o
cisma novaciano, em Roma, no século Ill; o cisma donatista, na Africa, a partir do século IV (vi,
rulento até a época de Agostinho, persiste até o século VII); o cisma meleciano, no Egito, no
século IV. Entre essas Igre- jas e a "grande Igreja" (a expressão designa sempre a Igreja ,
majoritária, diante dos heréticos ou dos cismáticos), são feí- ras perguntas de reconhecimento
de ministérios e de sacra, mentos (ver, a propósito do batismo, o cap. 6).
Outras divisões Não são somente os cismas que dividem a Igreja. Os debates doutrinais
manifestam desvios psicológicos internos, que começam a ser chamados de heresias, a partir
do século Il: contendas sobre Cristo (simples homem, pro, feta, Deus com aparência
humana,homem com uma natureza especial, trans, formada pelo Deus Verbo?) ou sobre a
Trindade (os três são distintos? são ,I Ene.es quecxlit.. Oterm. ~ sem dúv iguais?).Nos capítulos
seguintes, trataremos de todasessasheresias,queforam a principal causa do desenvolvimento
da teologia e dos primeiros dogmas.
tinha u1ncorpo verdadeiro. Todoo AntigoTestamento, ins, pirado pelo Demiurgo, deve ser
rejeitado. O monarquianismo (fim dos séculos Il e Ill; outros nomes: modalismo, sabelianismo):
Deus é unipessoal, a distinção dos três não é da ordem do ser mas da função, ou dos tempos
da história da salvação. O arianismo (século IV): Cristo (como Verbo preexistente) não é iguala
Deus, ele é a primeira e a mais nobredascriaturas. O pelagianismo (século V): o homem pode
se salvar por suas obras, sua natureza não está estragada pelo pecado de Adão e a graça não é
uma condição preliminar a todo ato bom. O nestorianismo (século V e seguinte): Cristo é um
sujeito humano e um sujeito divino que permanecem distintos, unidos em uma "pessoa", que
é a conjunção dos dois. O monofisismo (século V e seguinte): em Cristo, o Verbo diviniza
ohumano; não podemos falar de uma "natureza hu, mana" de Cristo. Não há em Cristo um
"homem Jesus" que pode dizer: eu.
constantiniana: uma reviravolta histórica No século IV, pela primeira vez um imperador se
declara pessoalmente cristão! EConstantino: desde a sua vitória sobre o seu
conccrrenteMaxêncio, cm Roma, ele publica com Licínio (co,imperador pelo Oriente), em 313, ,
um rescrito pondo fim às perseguições, que chamamos de Edito de Milão. Desde este
momento, o cristianismo é favorecido pelo poder. O próprio Constantino fazconstruir grandes
basílicas para o culto, em Constantinopla - cidade que ele funda no Bósforo, nos anos 330,
para ser a capital cristã do império do Oriente-, em Roma (São João de Latrão, São Pedro, São
Paulo), em Tiro, em Jerusalém (o Santo Sepulcro) ... Os cristãos de então, mal recuperados da
grande perseguição de Diocleciano, ficam maravilhados com essa nova era