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Prezados(as) professores(as),
P
Mãos dadas - Carlos Drummond de Andrade
ensar sobre o papel do gestor escolar, do diretor de escola, requer relacionar alguns dos fenô-
menos do presente. Baseando-se na premissa de que as mudanças são naturais, necessárias e
a cada vez mais rápidas, a globalização, a globalização da cultura, a ressignificação dos Estados
e seu ambiente institucional, os processos de individualização e fragmentação social e cultural,
a expansão e a proliferação dos meios de comunicação de massa e o aumento vertiginoso das
novas tecnologias da informação, torna-se necessário reconfigurar o papel da escola e do gestor
escolar. Precisamos nos compreender inseridos em uma nova formação histórica, enfrentando
um processo de transição para outra ordem, no sentido (contínuo) de algo novo e diferente. E
este novo está influenciando também nossa maneira de olhar o mundo e de pensar, porque a
subjetividade, o imaginário e a sensibilidade dialogam com contextos históricos, suas práticas,
seus ritmos, experiências, artefatos culturais e perspectivas.
Neste presente, compreendendo o contexto de construção da escola, da educação, é
solicitado pelos governantes da rede estadual de ensino do estado de São Paulo, o seguinte
perfil de diretor de escola:
Como dirigente e coordenador do processo educativo no âmbito da escola,
compete ao diretor promover ações direcionadas à coerência e à consistência de
uma proposta pedagógica centrada na formação integral do aluno. Tendo como
objetivo a melhoria do desempenho da escola, cabe ao diretor, mediante processos
de pesquisa e formação continuada em serviço, assegurar o desenvolvimento de
competências e habilidades dos profissionais que trabalham sob sua coordenação,
nas diversas dimensões da gestão escolar participativa: pedagógica, de pessoas, de
recursos físicos e financeiros e de resultados educacionais do ensino e aprendizagem.
Como dirigente da unidade escolar, cabe-lhe uma atuação orientada pela concepção
de gestão democrática e participativa, o que requer compreensão do contexto em que
a educação é construída e a promoção de ações no sentido de assegurar o direito à
educação para todos os alunos e expressar uma visão articuladora e integradora dos
vários setores: pedagógico, curricular, administrativo, de serviços e das relações com
a comunidade. Compete, portanto, ao Diretor de Escola uma atuação com vistas à
educação de qualidade, ou seja, centrada na organização e desenvolvimento de ensi-
no que promovam a aprendizagem significativa e a formação integral do
aluno para o exercício da cidadania e para o mundo do trabalho.
Nas contradições que engendram as mudanças, este profissional deverá
ter como princípio a gestão democrática e participativa, como referência do
exercício do direito e da cidadania, expressos, por exemplo, nas ações dos jovens
que ocuparam escolas nos anos de 2015 e 2016, compreendidos e apoiados
pelas famílias, comunidades, gestores e professores.
Dialeticamente, contrapondo a visão de senso comum de que as escolas
públicas não cumprem com o seu papel formador, que tudo o que acontece
em seu interior é de péssima qualidade e que gestores, professores e alunos são
desanimados ou desinteressados. O movimento de ocupação deu visibilidade
para a ação da escola pública que forma, ainda que com dificuldades, pessoas
comprometidas e conscientes das transformações sociais, em busca de uma
melhor qualidade na educação e na vida.
Jovens que se articulam pelas diferentes redes sociais, utilizando mídias e
tecnologias alternativas e atuais, se mobilizam, e tornaram suas reivindicações
públicas e engendraram ações e reflexões sobre a educação. Ocuparam escolas
e espaços nas mídias, nas análises das pessoas, na formação cidadã.
Acreditando neste papel formador e transformador da escola, denunciando
e combatendo o que precisa ser mudado, melhorado, este sindicato, APEOESP,
se coloca como parceiro, na construção intrínseca da ação educativa da escola,
inclusive quanto ao importante e essencial papel formativo, porque acredita
que o sindicato, ao lado da escola, é também espaço de construção do sujeito
coletivo e, ao mesmo tempo, de sua manifestação!
Neste sentido, a APEOESP organiza e disponibiliza para seus filiados este
caderno de estudos do material solicitado para o concurso de diretores de escola,
continuando a parceria com estes educadores, que olharão a educação de um
novo espaço, de um local diferente e reafirmando que o compromisso com a
construção com escolas públicas de boa qualidade é nossa maior meta e que a
formação de nossos filiados é um dos caminhos.
Bons estudos! Que este material ajude a passar no concurso, mas, sobre-
tudo, a ser um bom diretor, democrático, competente e transparente.
Planejamento estratégico
MURICI, Izabela Lanna; CHAVES, Neuza Maria Dias. Gestão para resultados na
educação. 2 ed. São Paulo: FALCONI Editora, 2016. ..................................................pág 108
Instituto de Co-responsabilidade pela Educação. Modelo de Gestão: Tecnologia
Empresarial Sócioeducacional (TESE): uma nova escola para a juventude brasileira:
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ACÚRCIO, Marina Rodrigues Borges (Coord.). A gestão da escola. Porto Alegre:
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ALONSO, Myrtes. A gestão/administração educacional no contexto da atualidade.
In: VIEIRA, Alexandre Thomas et al (org.). Gestão Educacional e Tecnologia.
São Paulo: Avercamp. 2003........................................................................................pág 138
Foco em qualidade e resultados
CASTRO, Maria Helena Guimarães de. Sistemas nacionais de avaliação
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FERNANDES, Maria Estrela Araújo. PROGESTÃO: Como desenvolver a avaliação
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Secretários de Educação, 2009...................................................................................pág 144
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RIBEIRO, Vanda Mendes; GUSMÃO, Joana Buarque de. Uma análise
de problemas detectados e soluções propostas por comunidades escolares
com base no Indique. Estudos em Avaliação Educacional, São Paulo, v. 22, n. 50,
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Gestão pedagógica
COLL, César. Comunidades de aprendizagem e educação escolar................................pág 154
LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da aprendizagem escolar. 22ª edição. São
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MIZUKAMI, Maria da Graça Nicoletti. Ensino: as abordagens do processo.
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SENNA, Sylvia Regina Carmo Magalhães; DESSEN, Maria Auxiliadora. Contribuições
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ZABALA, Antoni; ARNAU, Laia. Como aprender e ensinar competências.
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FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. Saberes necessários à prática educativa.
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Gestão de Pessoas
MORAN, José Manuel; MASETTO, Marcos T.; BEHRENS, Marilda. Novas tecnologias
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TRIGO, João Ribeiro; COSTA Jorge Adelino. Liderança nas organizações educativas:
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ALMEIDA, Maria Elizabeth B. de; SILVA, Maria da Graça Moreira da. Currículo,
tecnologia e cultura digital: espaços e tempos de web currículo. Revista
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Princípios que
orientam a ação
do direitor
AZANHA, José Mário Pires. Democratização do ensino: vicissitudes
da ideia no ensino paulista. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 30,
nº 2, p. 335-344, mai/ago 2004. Disponível em: http://www.scielo.
br/pdf/ep/v30n2/v30n2a12
Reconhecendo que o termo “democracia” pode
Resenha elaborada por prestar a todo tipo de propaganda ideológica, o
Luci Ana Santos da Cunha. autor afirma há muita dificuldade em esclarecer a
Possui Pedagogia e Mestrado pela Faculdade noção derivada de ensino democrático. Para con-
de Educação da USP. Supervisora Escolar tornar esse obstáculo, distingue entre a propaganda
da PMSP. e a ação democratizadora, atendo-se ao exame da
Princípios que orientam a ação do direitor
a todos. Indica ainda que ampliar as matrículas e uma medida política e não uma simples questão
instituir uma prática educativa especial poderiam técnico-pedagógica. A ampliação de oportunidades
ser conjugados, mas historicamente, pelo menos decorre de uma intenção política e é nesses termos
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no caso de São Paulo, estas possibilidades têm se que deve ser examinada. “Não se democratiza o
jan/2017 apresentado como opções que se excluem. ensino, reservando-o para uns poucos sob pretex-
tos pedagógicos. A democratização da educação em pesquisas empíricas — apenas obscurece o
é irrealizável intramuros, na cidadela pedagógica; significado político dos argumentos em jogo.”
ela é um processo exterior à escola, que toma a Quanto a isto o autor declara que o rebaixamen-
educação como uma variável social e não como to da qualidade do ensino, decorrente da sua am-
simples variável pedagógica”. pliação, somente ocorre por referência a uma classe
Equívoco 2: mais grave, porque é mais sutil: social privilegiada, porque, “nesta esfera, como
supor que a avaliação da qualidade do ensino seja em outras, os móveis egoístas de alguns setores da
feita a partir de considerações exclusivamente população (as classes conservadoras e uma parcela
pedagógicas, como se o alegado rebaixamento das classes médias) tendem a prevalecer sobre as
pudesse ser aferido numa perspectiva meramente necessidades essenciais da sociedade brasileira”.
técnica. ”Contudo, essa suposição é ilusória e Concluindo, o autor destaca que: “E é nesse
apenas disfarça interesses de uma classe sob uma esforço para continuar a prevalecer que se lamenta
perspectiva técnico-pedagógica. Esta — ainda que a queda de qualidade de ensino, mistificando, cons-
sinceramente invocada e mesmo quando baseada ciente ou inconscientemente, uma questão política
formato de sociedade que não existe mais. Aponta materialização das coisas e parte da ideia de cons-
com isso para um possível paradoxo. cientizar as pessoas para as consequências dos
seus pequenos atos diários que tem um impacto
3. Educação: responsabilidade ambiental global irreversível. Para isso propõe-se
social e identidade uma cidade que ofereça condições de mudança
comunitária (Joan Subirats) social de costumes, que vão desde a mobilidade
Trata do projeto de cidade de Barcelona e urbana até o uso de produtos de higiene pessoal.
propõe quatro abordagens de escola. A Escola A reflexão sobre o bem-estar humano e os avanços
Comunitária, a Escola Bairro, a Escola Utilitária tecnológicos compõem a reflexão sugerida para a
e a Escola Identitária. sobrevivência no planeta.
Pondera a autora que, quando é analisado o bi- Todos eles são constituídos por pequenos re-
nômio dentro/fora, observa-se que, recentemente, latos que, juntos, formam o painel que retrata a
os projetos da esfera não governamental, apresen- educação na América Latina. Essa arquitetura do
tados com o objetivo de estimular uma melhoria livro dificulta as sínteses dos conteúdos. Por essa
das condições de ensino, têm se aproximado da razão, a leitura dos textos é, sem dúvida, necessária
chamada educação formal - ou de Estado - ocu- para que se possa ter uma visão consistente das
pando espaços nas secretarias de educação, que análises de Rosa María Torres acerca da temática
possibilitam a aplicação de propostas capazes de que se propôs tratar.
abrir caminhos, de provocar readapções da escola,
as mães e alguns pais ao lado de líderes populares esta não assume o clássico papel de capacitadora
e especialistas. No geral, são personagens leves, de professores. Ao contrário, coloca-se a serviço
simples, escondidas no anonimato mas que, pela deles, com o propósito de ajudá-los a recuperar e
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criatividade e seriedade com que se empenham sistematizar seus saberes a fim de torná-los mais
jan/2017 em suas tarefas, elevam-se aos olhos do leitor, eficientes nas atividades de ensinar seus alunos.
Além dessa experiência brasileira, Torres se refe- fato de ali se discutirem mais diretamente alguns
re ainda à “escola itinerante”, projeto denominado problemas do mundo da educação.
“Sementinha”, desenvolvido em Vitória, no ES, e Em “Mais do mesmo: um sistema escolar que
destinado a crianças de quatro a seis anos. se estica”, por exemplo, a autora critica a ideia -
Nessa experiência, não há um espaço fixo para ultimamente em voga - segundo a qual quanto
a aprendizagem. mais tempo o aluno passa na escola, melhor será
Crianças e coordenadores fazem do pró- seu aprendizado. Para a autora, ocorre, nesse ra-
prio bairro espaço de aprendizagem... ciocínio, uma falácia tão grande quanto naquele
Por isso, “Sementinha” é conhecida que defende o predomínio da quantidade do con-
como “a escola debaixo do pé de manga”. teúdo programático sobre a qualidade com que é
(p.233) desenvolvido.
Outros textos possuem títulos que, a princípio,
e. Itinerário V – Proposições parecem supérfluos jogos de palavras, mas que,
Os treze relatos desse tópico teriam, em prin- na verdade, propõem elementos para reflexão
Apresentação do livro
Resenha elaborada por Fábio
O livro está organizado da seguinte maneira:
Cristiano de Moraes
o primeiro texto reproduz o artigo “As Teorias da
Graduado em Filosofia pela PUC-SP Educação e o Problema da Marginalidade na Amé-
Doutorado em Filosofia da Educação pela PUC-SP rica Latina” publicado originalmente em Cadernos
de Pesquisa, nº 42, agosto/82, da Fundação Carlos
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deve ser corrigida. A educação neste contexto progressivamente uma crescente decepção. A re-
emerge como um instrumento de correção dessas ferida escola, além de não conseguir realizar seu
distorções. Ela, de algum modo, promove a coesão desiderato de universalização ainda teve de curvar-
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da sociedade e garante a integração de todos os -se ante o fato de que nem todos os bem-sucedidos
jan/2017 indivíduos no corpo social. Neste grupo estão as se ajustavam ao tipo de sociedade que se queria
consolidar. Começaram, então, a se avolumar as individuais. Eis a “grande descoberta”: os homens
críticas e todo o sistema fica sob suspensão. são essencialmente diferentes; não se repetem;
2.2 A Pedagogia Nova cada indivíduo é único. Marginalizados são os
“anormais”, isto é, os desajustados e inadaptados
As críticas à pedagogia tradicional formuladas
de todos os matizes. Mas a “anormalidade” não
a partir do final do século XIX foram, aos poucos,
é algo, em si, negativo; ela é, simplesmente, uma
dando origem a uma outra teoria da educação.
diferença. A educação, como fator de equalização
Toma corpo, então, um amplo movimento de re-
forma, cuja expressão mais típica ficou conhecida social, será um instrumento de correção da mar-
sob o nome de “escolanovismo”. ginalidade na medida em que cumprir a função de
ajustar, de adaptar os indivíduos à sociedade, incu-
Segundo essa nova teoria, o marginalizado já
tindo neles o sentimento de aceitação dos demais e
não é, propriamente, o ignorante, mas o rejeitado.
pelos demais. A educação será um instrumento de
É interessante notar que alguns dos principais
correção da marginalidade na medida em que con-
representantes da pedagogia nova se converte-
tribui para a constituição de uma sociedade cujos
ou como núcleos raros, muito bem equipados e pretende-se a objetivação do trabalho pedagógico.
circunscritos a pequenos grupos de elite. Buscou-se planejar a educação de modo a dotá-la
de uma organização racional capaz de minimizar
2.3. A Pedagogia Tecnicista 27
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as interferências subjetivas que pudessem pôr em
Ao findar a primeira metade do século XX, risco sua eficiência. Para tanto, era mister opera- jan/2017
cionalizar os objetivos e, pelo menos em certos teorias uma cabal percepção da dependência da
aspectos, mecanizar o processo. Por isso: educação em relação à sociedade. É importante
Na pedagogia tecnicista, o elemento principal destacar que a análise, que estas teorias pedagó-
passa a ser a organização racional dos meios, ocu- gicas que desenvolvem, chegam invariavelmente
pando o professor e o aluno posição secundária, à conclusão de que a função própria da educação
relegados que são à condição de executores de um consiste na reprodução da sociedade em que ela se
processo cuja concepção, planejamento, coordena- insere, bem merecem a denominação de “teorias
ção e controle ficam a cargo de especialistas supos- crítico-reprodutivistas”.
tamente habilitados, neutros, objetivos, imparciais. Tais teorias contam com um razoável número
Compreende-se, então, que para a pedagogia de representantes e manifestam-se em diferentes
tecnicista o marginalizado será o incompetente (no versões, em que pesem esse fato, as teorias que tive-
sentido técnico da palavra), isto é, o ineficiente e ram maior repercussão e que alcançaram um maior
improdutivo. A educação contribuirá para superar nível de elaboração são as seguintes: a) “teoria
o problema da marginalidade na medida em que do sistema de ensino como violência simbólica”;
Princípios que orientam a ação do direitor
formar indivíduos eficientes, isto é, aptos a dar b) “teoria da escola como aparelho ideológico de
sua parcela de contribuição para o aumento da Estado (AIE)”; c) “teoria da escola dualista”.
produtividade da sociedade.
3.1. Teoria do Sistema de Ensino como
Atenção, do ponto de vista pedagógico, Violência Simbólica
conclui-se que, se para a pedagogia tradicional a
Esta teoria está desenvolvida na obra A Repro-
questão central é aprender e para a pedagogia nova,
dução: elementos para uma teoria do sistema de
aprender a aprender, para a pedagogia tecnicista o
ensino, de P. Bourdieu e J. C. Passeron (1975). A
que importa é aprender a fazer.
obra é constituída de dois livros. O arcabouço do
A pedagogia tecnicista, ao ensaiar transpor para livro I constitui, mais do que uma sociologia da
a escola a forma de funcionamento do sistema fa- educação, porque não se trata de uma análise da
bril, perdeu de vista a especificidade da educação, educação como fato social, mas da explicitação
ignorando que a articulação entre escola e processo das condições lógicas de possibilidade de toda e
produtivo se dá de modo indireto. Além disso, qualquer educação para toda e qualquer sociedade
a pedagogia tecnicista cruzou com as condições de toda e qualquer época ou lugar.
tradicionais predominantes nas escolas e com a
Por que violência simbólica? Toda e qualquer
influência da pedagogia nova. Nessas condições,
sociedade se estrutura como um sistema de relações
a pedagogia tecnicista acabou por contribuir para
de força material entre grupos ou classes. Sobre
aumentar o caos no campo educativo. Com isso,
a base da força material e sob sua determinação,
o problema da marginalidade só tendeu a se agra-
erige-se um sistema de relações de força simbólica
var: o conteúdo do ensino tornou-se ainda mais
rarefeito e a relativa ampliação das vagas tornou-se cujo papel é reforçar, por dissimulação, as relações
irrelevante em face dos altos índices de evasão e de força material.
repetência. O reforço da violência material se dá pela sua
conversão ao plano simbólico em que se produz e
3. AS TEORIAS CRÍTICO- reproduz o reconhecimento da dominação e de sua
REPRODUTIVISTAS legitimidade pelo desconhecimento (dissimulação)
Essas teorias educacionais trabalhadas até agora de seu caráter de violência explícita. Assim, à vio-
são chamadas de “teorias não-criticas”, porque lência material (dominação econômica) exercida
consideram apenas a ação da educação sobre a pelos grupos ou classes dominantes sobre os gru-
sociedade e desconhecem as determinações sociais pos ou classes dominadas corresponde a violência
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A contradição principal existe brutalmente As teorias não-críticas têm uma forma de or-
fora da escola sob a forma de uma luta que ganização e funcionamento da escola decorrente
opõe a burguesia ao proletariado: ela se trava de uma proposta pedagógica veiculada pela teoria;
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nas relações de produção, que são relações já as teorias crítico-reprodutivas não contêm uma
jan/2017 de exploração. Como aparelho ideológico de proposta pedagógica. Elas empenham-se tão-so-
mente em explicar o mecanismo de funcionamento a educação compensatória uma teoria educacional
da escola tal como está constituída. Em relação à seja no sentido de uma interpretação do fenômeno
questão da marginalidade: as teorias não-críticas educativo que acarreta determinada proposta peda-
pretendem ingenuamente resolver o problema gógica (como é o caso das teorias não-críticas), seja
da marginalidade por meio da escola sem jamais no sentido de explicitar os mecanismos que regem
conseguir êxito, as teorias crítico-reprodutivistas a organização e funcionamento da educação expli-
explicam a razão do suposto fracasso. Segundo a cando, em consequência, as suas funções (como
concepção crítico-reprodutivista, o aparente fra- é o caso das teorias crítico-reprodutivistas), seja,
casso é, na verdade, o êxito da escola. ainda, no sentido de um esforço para equacionar,
O problema permanece em aberto. E pode ser pela via da compreensão teórica, a questão prática
recolocado nos seguintes termos: é possível encarar da contribuição específica da educação no processo
a escola como uma realidade histórica, isto é, sus- de transformação estrutural da sociedade (como
cetível de ser transformada intencionalmente pela será o caso de uma teoria crítica da educação).
ação humana? Retenhamos da concepção crítico-
palavra sequer sobre “teoria da educação compen- não eram considerados seres humanos. Durante
satória”. Entretanto, devo dizer que não considero a Idade Média concepção essencialista passa pela
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1 Essa teoria da curvatura da vara foi enunciada por Lênin ao ser criticado por assumir posições extremistas e radicais. Lênin responde o
seguinte: “quando a vara está torta, ela fica curva de um lado e se você quiser endireitá-la, não basta colocá-la na posição correta. É
preciso curvá-la para o lado oposto”. jan/2017
perspectiva teológica da criação divina: ao serem do processo político, e, participando do processo
criados os homens segundo uma essência predeter- político, eles consolidariam a ordem democrática,
minada, também já seus destinos eram definidos democracia burguesa, é óbvio, mas o papel polí-
previamente. A diferenciação da sociedade entre tico da escola estava aí muito claro. A escola era
senhores e servos já estava marcada pela própria proposta como condição para a consolidação da
concepção que se tinha da essência humana. Então, ordem democrática.
a essência humana justificava as diferenças. Na
época moderna a burguesia, classe em ascensão, vai
2. A MUDANÇA DE INTERESSES
advogar a filosofia da essência como um suporte Ocorre que a história vai evoluindo, e a parti-
para a defesa da igualdade dos homens como um cipação política das massas entra em contradição
todo e é justamente a partir daí que ela aciona as com os interesses da própria burguesia. Então,
críticas à nobreza e ao clero. Sobre essa base da para a burguesia defender seus interesses, ela não
igualdade dos homens, de todos os homens, é que tem outra saída senão negar a história, passando
se funda então a liberdade, e é sobre, justamente, a a reagir contra o movimento da história. É nesse
Princípios que orientam a ação do direitor
liberdade que se vai postular a reforma da socieda- momento que a escola tradicional, a pedagogia da
de. Lembrem-se, de passagem, de Rousseau, que essência, já não vai servir e a burguesia vai propor
defendia que tudo é bom enquanto sai do autor das a pedagogia da existência. Com base neste tipo de
coisas. Tudo degenera quando passa às mãos dos pedagogia, considera-se que os homens não são es-
homens. As desigualdades (vejam o Discurso sobre sencialmente iguais; os homens são essencialmente
a Origem da Desigualdade entre os Homens) são diferentes, e nós temos que respeitar as diferenças
geradas pela sociedade. É nesse sentido, então, que entre os homens. Nesse contexto, a pedagogia da
a burguesia vai reformar a sociedade, substituindo essência não deixa de ter um papel revolucionário,
uma sociedade com base num suposto direito pois, ao defender a igualdade essencial entre os ho-
natural por uma sociedade contratual. mens, continua sendo uma bandeira que caminha
na direção da eliminação daqueles privilégios que
Vejam como é que se tece todo o raciocínio.
impedem a realização de parcela considerável dos
Os homens são essencialmente livres; essa liber-
homens. Nesse momento, a classe revolucionária é
dade funda-se na igualdade natural, ou melhor, outra: não é mais a burguesia, é exatamente aquela
essencial dos homens, e se eles são livres, então classe que a burguesia explora.
podem dispor de sua liberdade, e na relação com
os outros homens, mediante contrato, fazer ou não 3. A FALSA CRENÇA DA ESCOLA NOVA
concessões. É sobre essa base da sociedade con- A segunda tese eu enunciei da seguinte forma:
tratual que as relações de produção vão se alterar: “do caráter científico do método tradicional, e
do trabalhador servo, vinculado à terra, para o do caráter pseudocientífico dos métodos novos”.
trabalhador não mais vinculado à terra, mas livre Nós poderíamos nos lembrar, já diretamente, do
para vender a sua força de trabalho e ele a vende movimento da Escola Nova, que pintou o método
mediante contrato. Então, quem possui os meios tradicional como um método pré-científico, como
de produção é livre para aceitar ou não a oferta de um método dogmático e como um método me-
mão-de-obra, e vice-versa, quem possui a força de dieval. Basta nós nos lembrarmos, por exemplo,
trabalho é livre para vendê-la ou não, para vendê-la de Kilpatrick, Educação para uma Civilização em
a este ou aquele, para vender a quem quiser. Esse Mudança, em que caracteriza a civilização, que
é o fundamento jurídico da sociedade burguesa. foi se construindo com base no surgimento da
No entanto, é sobre essa base de igualdade que vai ciência moderna a partir do Renascimento, como
se estruturar a pedagogia da essência e, assim que sendo a civilização em mudança. Nesse sentido, os
a burguesia se torna a classe dominante, ela vai, métodos tradicionais são remetidos para a Idade
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a partir de meados do século XIX, estruturar os Média, e, portanto, para um caráter pré-científico,
sistemas nacionais de ensino e vai advogar a esco- e mesmo anticientífico ou seja, dogmático. Ora,
larização para todos. Escolarizar todos os homens no entanto, essa crença que a Escola Nova propa-
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era condição para converter os servos em cidadãos, ga é uma crença totalmente falsa. Com efeito, o
jan/2017 era condição para que esses cidadãos participassem chamado ensino tradicional não é pré-científico e
muito menos medieval. Esse ensino tradicional, Isso posto, é possível dizer que a Escola Nova
que predomina ainda hoje nas escolas, constituiu- acabou por dissolver a diferença entre pesquisa e
-se após a Revolução Industrial e implantou-se ensino, sem se dar conta de que, assim fazendo, ao
nos chamados sistemas nacionais de ensino, con- mesmo tempo que o ensino era empobrecido invia-
figurando amplas redes oficiais, criadas a partir bilizava-se também a pesquisa. O ensino não é um
de meados do século XIX, no momento em que, processo de pesquisa. Querer transformá-lo num
consolidado o poder burguês, aciona-se a escola processo de pesquisa é artificializá-lo. Daí o meu
redentora da humanidade, universal, gratuita e prefixo pseudo ao científico dos métodos novos.
obrigatória como um instrumento de consolidação Creio que está demonstrada a minha segunda tese,
da ordem democrática. isto é, o caráter científico do método tradicional
Esse ensino dito tradicional estruturou-se por e o caráter pseudocientífico dos métodos novos.
meio de um método pedagógico, que é o método
5. A ESCOLA NOVA NÃO É
expositivo, que todos conhecem, todos passaram
por ele, e muitos estão passando ainda, cuja ma-
DEMOCRÁTICA
privilegiam-se os métodos de transmissão dos e sem os quais ela não terá vez, não terá chance
conhecimentos já obtidos. de participar da sociedade.
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2 Vale lembrar: I) do caráter revolucionário da pedagogia da essência e do caráter reacionário da pedagogia da existência; II) do caráter
científico do método tradicional, e do caráter pseudocientífico dos métodos novos. 33
jan/2017
É nesse sentido que quando mais se falou em passou a significar ser escolanovista. E aqueles
democracia no interior da escola (na escola nova), movimentos sociais, de origem, por exemplo,
menos democrática ela foi (porque ela foi um anarquista, socialista, marxista, que conclamavam
privilégio para poucos), e quando menos se falou o povo a se organizar e reivindicar a criação de
em democracia (pedagogia tradicional), mais ela escolas para os trabalhadores, perderam a vez, e
esteve articulada com a construção de uma ordem todos os progressistas em educação tenderam a
democrática (porque atingia a todos, indiscrimi- endossar o credo escolanovista. Bem, eu poderia
nadamente). me estender, puxar o fio da história, de 1930 até
agora, mas vamos fazer um corte, e vou tomar a
6. ESCOLA NOVA: A HEGEMONIA DA reforma de 1971 como uma outra indicação prática
CLASSE DOMINANTE da tese aposta atrás.
Passemos às consequências, tomemos dois mo- O que fez a Lei n. 5.692? Tomemos, por exem-
mentos para ilustrar: o primeiro momento seria plo, o princípio de flexibilidade, que é a chave
em torno da década de 1930 e o segundo seria na da lei, que é a grande descoberta dessa lei, a sua
Princípios que orientam a ação do direitor
correntes filosóficas, também não se perde de vista a sociedade contemplando ao mesmo tempo suas
a existência de diferentes nuanças pedagógicas no diferentes aspira¬ções, capacidades e possibilida-
bojo do que denominamos “concepção ‘humanista’ des. Com isso, a importância da transmissão de
moderna de filosofia da educação”. Em outros ter- conhecimentos foi secundarizada e subordinada
mos: as expressões “pedagogia nova” e “pedagogia a uma pedagogia das diferenças, centrada nos
da existência” equivalem-se sob a condição de não métodos e processos: a pedagogia da existência
reduzir a primeira à pedagogia escolanovista e a ou pedagogia nova.
segunda, à pedagogia existencialista.
Para além da pedagogia tradicional ou nova, uma
2. PARA ALÉM DAS PEDAGOGIAS DA pedagogia verdadeiramente revolucionária centra-se
na igualdade essencial entre os homens, deve enten-
ESSÊNCIA E DA EXISTÊNCIA
der essa a igualdade em termos reais e não apenas
Nas pedagogias da essência e da existência está
formais. Busca converter-se, articulando-se com as
ausente a perspectiva historicizadora. Falta-lhes a
forças emergentes da sociedade, em instrumento
consciência dos condicionantes histórico-sociais da
a serviço da instauração de uma sociedade iguali-
educação. São, pois, ingênuas e não críticas já que é
tária. Para isso, a pedagogia revolucionária, longe
próprio da consciência crítica saber-se condiciona-
de secundarizar os conhecimentos descuidando de
da, determinada objetivamente, materialmente, ao
sua transmissão, considera a difusão de conteúdos
passo que a consciência ingênua é aquela que não
vivos e atualizados, uma das tarefas primordiais do
se sabe condicionada, mas, ao contrário, acredita-se
processo educativo em geral e da escola em parti-
superior aos fatos, imaginando-se mesmo capaz de
cular. Em suma: a pedagogia revolucionária não vê
determiná-los e alterá-los por si mesma.
necessidade de negar a essência para admitir o cará-
Foi destacado que o caráter revolucionário da ter dinâmico da realidade como o faz a pedagogia
pedagogia da essência centra-se na defesa intran- da existência, inspirada na concepção “humanista”
sigente da igualdade essencial entre os homens. É moderna de filosofia da educação. Também não vê
preciso insistir em que tal posição tinha um caráter necessidade de negar o movimento para captar a
revolucionário na fase de constituição do poder essência do processo histórico como o faz a pedago-
burguês e não o deixa de ter agora, preciso, no en- gia da essência inspirada na concepção “humanista”
tando, acrescentar que seu conteúdo revolucioná- tradicional de filosofia da educação. A pedagogia
rio é histórico, isto é, modifica-se historicamente. revolucionária é crítica. E, por ser crítica, sabe-se
O acesso das camadas trabalhadoras à escola condicionada. Longe de entender a educação como
Nº 10 • Abril/99
implica a pressão no sentido de que a igualdade determinante principal das transformações sociais,
formal (todos são iguais perante a lei), se trans- reconhece ser ela elemento secundário e determi-
forme em igualdade real (todos têm possibilidade nado. Entretanto, longe de pensar, como o faz a
36
36
de acesso aos bens essências à existência). Para concepção crítico reprodutivista, que a educação
jan/2017 igualdade real tomar corpo é importante a trans- é determinada unidirecionalmente pela estrutura
social dissolvendo-se a sua especificidade, entende com os interesses populares novos mecanismos
que a educa¬ção se relaciona dialeticamente com de recomposição de hegemonia são acionados: os
a sociedade. Nesse sentido, ainda que elemento meios de comunicação de massa e as tecnologias de
determinado, não deixa de influenciar o elemento ensino. Passa-se, então, a minimizar a importância
determinante. Ainda que secundário, nem por isso da escola e a se falar em educação permanente,
deixa de ser instrumento importante e por vezes educação informal etc. No limite, chega-se mesmo
decisivo no processo de transformação da sociedade. a defender a destruição da escola. Quem defende a
A pedagogia revolucionária situa-se além das desescolarização são os já escolarizados, para eles a
pedagogias da essência e da existência. Supera-as, escola não tem mais importância uma vez que eles
incorporando suas críticas recíprocas numa pro- já se beneficiaram dela. Os ainda não escolarizados,
posta radicalmente nova. O cerne dessa novidade estes estão interessados na escolarização e não na
radical consiste na superação da crença na auto- desescolarização.
nomia ou na dependência absolutas da educação Uma pedagogia articulada com os interesses
em face das condições sociais vigentes. populares valorizará, pois, a escola; portanto,
Esse fenômeno histórico do surgimento da- e alunos em relação a essa prática comum, o
quilo que chamei de “Escola Nova Popular” põe professor assim como os alunos podem se posi-
em evidência que a questão escolar na sociedade cionar diferentemente enquanto agentes sociais
37
37
capitalista é objeto de disputa, quando surgem diferenciados. E do ponto de vista pedagógico
propostas de renovação pedagógica articuladas há uma diferença essencial que não pode ser jan/2017
perdida de vista: o professor, de um lado, e
os alunos, de outro, encontram-se em níveis
diferentes de compreensão (conhecimento e
experiência) da prática social. Enquanto o pro-
fessor tem uma compreensão que poderíamos
denominar de “síntese precária”, a compreensão
dos alunos é de caráter sincrético.
2. O segundo passo é a Problematização.
Trata-se de detectar que questões precisam ser
resolvidas no âmbito da prática social e, em
Moraes, 2016
consequência, que conhecimento é necessário
dominar. A compreensão da prática social passa por uma
alteração qualitativa. Consequentemente, a prática
3. O terceiro passo pode ser chamado de instru-
social referida no ponto de partida (primeiro pas-
Princípios que orientam a ação do direitor
de sua validade (ou não-validade) levando-os a ção pedagógica, anula-se, em consequência, a sua
se engajarem (ou não) na mesma luta. importância política.
2. Em segundo lugar, cabe considerar que existe Tese 1:
40
jan/2017 40 também uma relação externa entre educação
Não existe identidade entre educação e política.
COROLÁRIO3: educação e política são fenô- na forma de autonomia relativa e dependência
menos inseparáveis, porém efetivamente distintos recíproca.
entre si. Tese 9:
Tese 2: As sociedades de classe caracterizam-se pelo pri-
Toda prática educativa contém inevitavelmen- mado da política, o que determina a subordinação
te uma dimensão política. real da educação à prática política.
Tese 3: Tese 10:
Toda prática política contém, por sua vez, Superada a sociedade de classes, cessa o primado
inevitavelmente uma dimensão educativa. da política e, em consequência, a subordinação
OBS: As teses 2 e 3 decorrem necessariamente da educação.
da inseparabilidade entre educação e política afir- OBS: Nas sociedades de classes a subordinação
mada no corolário da tese 1. real da educação reduz sua margem de autonomia,
Tese 4: mas não a exclui. As teses 9 e 10 apontam para
contra a Escola Nova”. Daí a pertinência dessa nifesto”, divulgado em março de 1932, foi uma
discussão ao ensejo da realização do colóquio come- resposta objetivada àquela solicitação. Porém,
morativo dos 70 anos do “Manifesto dos Pioneiros o texto provocou o rompimento entre o grupo
da Educação Nova”. Para tratar do tema proposto, o dos renovadores e o grupo católico que decidiu
texto foi construído em cinco tópicos. No primeiro, se retirar da ABE e fundar, em 1933, sua própria
enuncio, de forma breve, qual é, para mim, a temá- associação materializada na Confederação Católica
tica central do “Manifesto dos Pioneiros da Educa- Brasileira de Educação, que realizou em 1934 o I
ção Nova”. No segundo tópico, indico que o livro Congresso Nacional Católico de Educação.
Escola e democracia surgiu num contexto marcado,
cinquenta anos depois, por uma motivação comum 2. O CONTEXTO EM QUE SURGIU
àquela que conduziu ao lançamento do “Manifesto ESCOLA E DEMOCRACIA
de 1932”: a defesa da escola pública. No terceiro A segunda metade da década de 1970 foi palco
tópico, abordo a leitura da referida polêmica feita de um amplo processo de reorganização do campo
por Clarice Nunes. O quarto tópico, denominado educacional:
“Paschoal Lemme no ‘Manifesto’: um estranho no
em 1977 surge Associação Nacional de Pós-
ninho dos pioneiros?”, discute a leitura feita por
Graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd);
Zaia Brandão. Finalmente, no tópico quinto, “A
Escola Nova exercitando a ‘teoria da curvatura da em 1978 nasce Centro de Estudos Educação e
vara’”, procuro esclarecer a diferença entre a abor- Sociedade (Cedes);
dagem polêmica e a abordagem historiográfica, eixo em 1979 é criada a Associação Nacional de
articulador de todo o texto. Educação (Ande).
A partir de 1980 a Associação Nacional de
1. A TEMÁTICA CENTRAL DO
Educação, que, juntamente com a ANPEd e o
“MANIFESTO DOS PIONEIROS DA Cedes, organizou a série das Conferências Bra-
EDUCAÇÃO NOVA sileiras de Educação, as CBEs. Ressalte-se que, à
No “Manifesto” a ideia central que sempre semelhança do “Manifesto de 1932”, o vetor dessa
vem à tona é a de que se trata de um documento mobilização do final da década de 1970 era tam-
de política educacional em que, mais do que a bém a reorganização da educação pública, como o
defesa da Escola Nova, está em causa a defesa da ilustra o “Decálogo em defesa do ensino público”
escola pública. O “Manifesto” emerge como uma editado em 1982 no número 5 da revista da Ande
proposta de construção de um amplo e abrangente por Guiomar Namo de Mello sob o pseudônimo
Nº 10 • Abril/99
entre eles e as definições; enquanto estas são con- termos, considerando que, com a predominância
sideradas esclarecedoras, aqueles são estimulantes, da Escola Tradicional, a vara foi entortada para
tendo por função unificar as ideias e atitudes dos o lado das matérias, a Escola Nova, exercitando
movimentos educacionais. Do mesmo modo que a “teoria da curvatura da vara”, buscou curvar a
os slogans religiosos e políticos, os slogans educa- vara para o lado da criança. Ao fazê-lo, entretanto,
cionais resultam de espírito partidário. Resumindo por aquele mecanismo descrito por Scheffler se-
as considerações Scheffler é necessária uma crítica gundo o qual os slogans passam a ser defendidos
dos slogans tanto pelo aspecto literal quanto pelo como afirmações literais, o enunciado difundiu-se
aspecto prático, devendo as doutrinas originárias como se fosse a pura expressão de uma verdade
ser objeto de uma avaliação independente. pedagógica. Eis por que afirmei, anteriormente,
À luz dessa análise, considero relevante registrar que a Escola Nova se tem utilizado amplamente
que a crítica que formulei ao ideário escolanovista da “teoria da curvatura da vara”, considerando-a,
por meio da “teoria da curvatura da vara” incidiu diferentemente do uso feito por mim, como um
sobre as versões popularizadas, isto é, como se dispositivo instaurador da própria verdade.
disse, sobre o modo como esse ideário se fixou na Concluindo, espero, pela discussão que procurei
cabeça dos professores. fazer do tema relativo à controvérsia instaurada
Após esses esclarecimentos, Scheffler passa a com a introdução da metáfora da “teoria da cur-
analisar detidamente os slogans “ensinamos crian- vatura da vara” e dos usos que dela se fizeram na
ças, não matérias” e “não pode haver ensino sem pesquisa historiográfica, ter contribuído, ao esta-
aprendizado”, os quais se inserem no processo de belecer a distinção entre os planos da polêmica e da
difusão da Escola Nova. Para efeitos desta minha historiografia, para o debate em torno do legado
exposição me limitarei a uma breve referência ao educacional dos Pioneiros.
enunciado “ensinamos crianças, não matérias”. O Espero, enfim, ter contribuído na busca da supera-
que queremos dizer com essa expressão? Do ponto ção dos equívocos interpretativos que a circulação dos
de vista gramatical, ela não se sustenta, uma vez nossos trabalhos acaba inevitavelmente por provocar.
que o verbo “ensinar” é bitransitivo, comportando, Foi tão-somente o espírito de somar esforços no
pois, tanto o objeto direto como o indireto. Na fortalecimento de nossa área de investigação que me
verdade, não é possível, gramaticalmente, dizer que moveu a enfrentar esse debate, rompendo o silêncio
se ensina nada a alguém, nem que se ensina algo a em torno das interpretações produzidas no âmbito
ninguém. De fato, a ação de ensinar implica que da historiografia da educação
Nº 10 • Abril/99
44
jan/2017 44
Gestão
democrática
e participativa
ABRAMOVAY, Miriam (Coord.). Juventudes na Escola, sentidos e
buscas: Por que frequentam? Brasília-DF: Flacso - Brasil, OEI, MEC,
2015.
da escola, de seus professores e gestores, o que urbanização que trouxe a necessidade do acesso
merece reflexão e cuidado e deve ser abordado e ao ensino básico o que acabou levando muitas
construído na relação escola-família. crianças para as escolas particulares. 49
A relação entre aluno, professor e família ne- Já na década de 1990, destaca-se a dimensão da 49
jan/2017
necessidade de planos políticos pedagógicos, o inves- porém ainda muito restrito apenas a um grupo de
timento em formação de professores e a solicitação pais, normalmente não se expandindo e por isso
de maior autonomia para a escola e para os alunos. não considerando os interesses de todos.
Até hoje esses são temas discutidos e abordados na No “Interagir para melhorar os indicadores
área, porém o processo de democratização do ensino, educacionais” tem-se o acompanhamento das
o acesso e a permanência na escola aparecem como famílias pelas ações que ocorrem dentro da es-
pontos focais do momento considerado “atual” pelos cola e dependem de valores construídos, como a
autores, o da publicação da obra (2009). consciência do que é tratado e o acesso e direito à
As famílias, desde a década de 1980, vêm educação. O acompanhamento escolar pelos pais
apresentando diversos formatos que hoje são en- muitas vezes fica apenas concentrado no desem-
tendidos como características de extrema impor- penho e na nota dos alunos. O IDEB, algumas
tância para a formação do indivíduo, que devem ONGs e incentivos estão mudando esse quadro
ser levados em consideração e trabalhados na sua em algumas escolas para uma participação efetiva
relação com a escola. das famílias na escola.
Em relação a legislação aparecem fortemente Em dezoito experiências foi possível “Incluir o
o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) aluno e seu contexto” como propõe a publicação.
e a LDB como formativas para as características A compreensão da realidade, o contexto e a indi-
e conteúdo da escola. O Ministério Público, o vidualidade do aluno é levada em consideração
Conselho Tutelar e o Estatuto da Criança e do para sua integração com o ambiente escolar. Por
Gestão democrática e participativa
Adolescente sustentam o que se espera da relação fim fica como relevante e marcante o fato de que
escola-família. pais, professores e gestores devem construir um
Em busca de ações que promovessem a integra- caminho juntos para a integração.
ção escola-família, poucas foram encontradas. As A proposição de políticas públicas que con-
encontradas foram pontuais e de pouco impacto, templem a relação escola-família é um caminho
como o dia da família, festas escolares etc. Por possível para que a integração aconteça e os alu-
isso a pesquisa se propôs a aprofundar a busca e nos possam ter um acesso cada vez mais pleno à
encontrou algumas propostas de integração. Elas educação. Conhecer as famílias, seus espaços e
foram separadas em quatro grupos: “Educar as características é fundamental para essa construção,
famílias”, “Abrir a escola para participação fami- onde professores, pais e alunos compõem a per-
liar”, “Interagir com a família para melhorar os cepção de um aluno que é mais próximo do real.
indicadores educacionais”, “Incluir o aluno e seu Somente a partir daí será possível o olhar empático
contexto”. Os grupos e os resultados demonstra- e a compreensão de algumas posturas facilmente
ram os diferentes níveis de integração e apontaram identificadas quando contextualizadas.
possibilidades de vários caminhos a serem esco- As políticas apoiadas pelas Secretarias são as
lhidos e percorridos pelos gestores na integração que conseguiram maiores resultados. O acompa-
com as famílias dos alunos e no enfrentamento aos nhamento, assim como o diálogo entre os dife-
desafios encontrados. rentes setores sociais (exemplo: assistência social
Sobre “Educar as famílias” há de se dizer que e educação) é indispensável para o conhecimento
é a mais habitual tentativa de integração. Trata-se do perfil de um aluno, especialmente os que têm
de reuniões de pais, pequenos eventos, debates e mais problemas. Há diversos caminhos para a
algumas vezes parte de um pressuposto perigoso, construção de políticas públicas, desde iniciativas
de que os pais são responsáveis pela falta de inte- de educadores, expressões da própria comunidade,
gração entre a escola e a família e que são pouco ou mesmo proposição das Secretarias Municipais.
participativos no ambiente escolar.
Nº 10 • Abril/99
atingir objetivos mais elevados. As ostras, escreve propostas para que possam ser repensadas velhas
ele na página 14, em sua linguagem simbólica, questões que, no entanto, se mantém atuais.
são animais de corpo mole, sem cérebro, que não Capítulo 1. O que as palavras conflito e vio-
pensam. Dedicam-se simplesmente a viver. Mas lência significam para você?
– prossegue –, se, por acidente, um fragmento ou
Capítulo 2. Que fatores externos e internos
uma areia pontuda burla a guarda da ostra e entra
podem gerar manifestações de violência nas
na sua carne mole... vai-se a tranqüilidade e a os-
escolas?
tra passa a sofrer. Em compensação, produz uma
pérola, que não tem aresta nem ponta; que, por- Capítulo 3. Como cultivar uma escola segura
tanto, não a machuca e põe fim a seu sofrimento. e cidadã?
Conclui-se, assim, que dos conflitos podem nascer Capítulo 4. Como interromper as violências
muitas coisas bonitas (p.14-15). quando elas se fazem presentes e como restaurar
2. A participação dos educadores que elabora- os danos?
ram a obra se inicia de maneira mais efetiva com Capítulo 5. Por que alianças e parcerias au-
um texto dirigido aos gestores da escola. Sob os mentam o poder da escola de aprender e crescer
cativantes títulos Uma palavrinha com quem lidera com os conflitos?
a escola e O poder de agir para transformar, pro- 3.2. Todos os capítulos seguem o mesmo
curam mostrar que, graças a uma administração esquema, apresentando cinco subcapítulos que
eficiente dos conflitos, é possível afastar a escola receberam títulos bastante sugestivos:
do clima de intranquilidade que hoje a domina H
istória da vida real. O nome do tópico revela
e transformá-la em um lugar agradável de ser seu objetivo: expor uma situação real que visa
frequentado. oferecer subsídio para a reflexão a ser proposta.
Mas, para tanto, é necessário averiguar não só Contribuição da teoria. Da mesma forma, o
a influência de fatores externos na geração dos nome Contribuição da teoria já revela o propó-
problemas como também a responsabilidade que sito do item: fazer uso de dados de pesquisas
Nº 10 • Abril/99
cabe a cada um dos participantes da comunidade e análises que permitam ver os desafios do
escolar no aparecimento de tais problemas. Por cotidiano sob outra ótica.
52 essa razão eles escrevem, na página 20:
52
Caixa de ferramentas apresenta um conjunto
jan/2017 Sem subestimar os fatores externos, este de estratégias – articuladas com pesquisas re-
centes – que podem ser selecionadas, recriadas como a causadora da hostilidade a desequilibra o
e propostas aos grupos para que se atinja um ambiente escolar como qualquer outro.
determinado objetivo. 3.3.3. Colocadas as bases para tratar da temá-
Baú de brinquedos oferece sugestões lúdicas, tica da obra, os educadores partem para sugerir
em múltiplas linguagens, possíveis de serem em- novos caminhos, capazes de resolver as questões
pregadas para facilitar a dissolução de conflitos. ligadas aos conflitos. Como cultivar uma escola
Refletir para agir – no tópico, são apresentadas segura e cidadã? aponta alguns aspectos que pre-
perguntas que procuram levar o leitor a aliar cisam fazer parte do cotidiano escolar para que
suas experiências ao conteúdo tratado anterior- se atinja o equilíbrio desejado e que se ofereça
mente a fim de que possam ser tomadas decisões à comunidade escolar condições estimuladoras
e colocadas em prática as propostas focalizadas. para o processo ensino-aprendizagem. Para tanto,
O nome do tópico denuncia a influência teórica sugere-se:
da obra. Escrevem os autores: fortalecer o vínculo entre os atores desse pro-
‘Não há palavra verdadeira que não seja cesso, ou seja: alunos, professores, gestores,
práxis’, afirma Paulo Freire, definindo prá- família, sociedade;
xis como ‘reflexão e ação verdadeiramente estimular a participação dos alunos, da equipe
transformadora da realidade, fonte de co- escolar e da comunidade nas iniciativas esco-
nhecimento reflexivo e criação’ (Pedagogia lares;
do oprimido. 1975. pp. 91 e 108). desenvolver competências e habilidades para
de violência nas escolas? Eles procuram vincular e revela, como sugere a questão, quão importante
razões socioeconômicas e político-organizacionais é estabelecer relações da escola com a sociedade,
à violência que hoje se verifica na sociedade brasi- evitar seu isolamento, aumentando, dessa forma,
53
53
leira e que atinge as escolas. Aponta-se a ruptura as condições para solucionar problemas e instalar
do diálogo, que desestabiliza as relações afetivas, um clima de colaboração, aprimorando, assim, as jan/2017
condições de desenvolver um eficiente trabalho 3.4.2. As Caixas de ferramentas propõem tarefas
de aprendizagem. que podem ser realizadas para que respostas dadas
3.4. Conforme se registrou anteriormente, cada a situações-problema se tornem mais eficientes.
capítulo consta cinco partes. Sugerem-se, para tanto, pesquisas sobre a realida-
3.4.1 Naquela chamada Histórias da vida real, de das escolas; elaboração de entrevistas; oficinas;
são apresentados fatos presentes no cotidiano, conferências; identificação de parceiros capazes de
mas que merecem considerações especiais, pois colaborar com a consecução dos objetivos da equipe.
oferecem subsídios para uma reflexão. Todas as Os autores ressaltam, com frequência, a neces-
situações caracterizam-se por serem conflitantes sidade de manter a tranquilidade, o espírito obje-
e podem fazer parte de vários tipos de cenário. tivo - ou a popular “cabeça fria” - para solucionar
A do primeiro capítulo, por exemplo, deno- adequadamente os reveses que surgem.
minada “Panela de pressão”, focaliza o momento 3.4.3. A expressão Baú de brinquedos foi
tensionado de uma escola comum em que os con- retirada de uma visão de mundo defendida por
flitos, ainda que encobertos, existem e não foram Rubem Alves. Esclarecem os autores na página
solucionados. 23: Como diz Rubem Alves (2007), as pessoas
Outros episódios, entretanto, afastam-se dos precisam de “ferramentas” e de “brinquedos”
espaços tidos como “normais” e focalizam locais para se humanizar.
mais complexos, localizados ora na favela do Ale- Nesse tópico, são sugeridas obras formuladas
mão, no Rio de Janeiro; ora em uma comunidade em múltiplas linguagens e capazes de complemen-
Gestão democrática e participativa
No quinto capítulo, está sugerido – entre outras 3.4.4. Refletir para agir é a última secção dos
atividades – um estudo sobre o Código Penal a capítulos e ratifica a proposta a que os autores
afim de poder construir um embasamento mais retomam inúmeras vezes durante o livro segundo
54
54
sólido para discutir os problemas de lugares mais a qual é preciso pensar, analisar as situações antes
jan/2017 conflituosos. de agir e, constantemente,
rever a adequação do currículo ao público a que nhos que ele mesmo poderia trilhar para tornar
as informações se destinam; mais agradável o ambiente em que ele trabalha.
lembrar que uma política de punição é extre- 3.5. No final do livro, após as rápidas con-
mamente ineficaz; clusões e a relação de referências bibliográficas,
pensar nas estratégias que podem ser usadas encontram-se sugestões de leitura vinculadas ao
para transformar uma cultura de punição em tema desenvolvido pela equipe de educadores bra-
uma cultura de interações construtivas; sileiros e holandeses que elaborou esse simpático
autoavaliar-se. Conflitos na escola: modos de transformar. Dicas
Desafia-se também o leitor a pensar em cami- para refletir e exemplos de como.
EDUCAÇÃO, JUVENTUDE
E VIOLÊNCIA
Com o objetivo de analisar as perceptivas da
juventude em relação a escola e a violência, o
Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Rio
de Janeiro solicitou uma pesquisa com o tema:
“O jovem, a sociedade e a ética (2006)”, onde
recolheu a opinião de jovens entre 14 e 18 anos.
Esta pesquisa mostrou que:
O jovem identifica na violência o maior pro-
blema da sociedade atual, superando, inclusive,
o desemprego;
A escola ocupa o segundo lugar entre as insti-
tuições importantes para o desenho do futuro
da juventude, perdendo apenas para a família;
Professores e escolas são as duas “instituições”
Nº 10 • Abril/99
que encabeçam a lista de confiança com altos
níveis percentuais;
55
55
Os jovens, diferentes do que diz o senso comum,
solicitam os limites próprios à juventude, jul- jan/2017
gando assim que disciplinas rígidas, junto com a ordem e o conflito são resultados de interação
criatividade e diálogo, fazem parte da boa escola. entre os seres humanos e o que sustenta e garante
A análise dos resultados desta pesquisa deixa a democracia.
claro que o jovem ainda crê na educação como Nesta perspectiva, entende-se que o conflito é
alternativa e na escola como instrumento de mo- algo inevitável, e não se deve omitir seus motivos,
bilidade social e de diferenciação para o futuro. até porque ele possui inúmeras vantagens como:
Ajuda a regular as relações sociais;
O CONFLITO E O Ensina a ver o mundo pela perspectiva do outro;
CONFLITO ESCOLAR Permite o reconhecimento das diferenças, que
A concepção de conflito pode surgir de va- não são ameaças, mas resultado natural de uma
riadas definições, como: opiniões divergentes ou situação em que há recursos escassos;
maneiras de ver ou interpretar algo; diferença de Ajuda a definir as identidades das partes que
interesses, de desejos e de aspirações; dificuldade defendem suas posições;
de comunicação, de assertividade das pessoas, de Permite perceber que o outro possui uma per-
condições para estabelecer o diálogo. cepção diferente;
Já o conflito escolar possui fatores provenien- Raciocina as estratégias de competência e de
tes de ações próprias dos sistemas escolares ou cooperação;
oriundos das relações que envolvem os atores da
Ensina que a controvérsia é uma oportunidade
comunidade mais ampla. Nesta perspectiva, tínha-
Gestão democrática e participativa
demais;
4. A capacitação em resolver conflitos reduz o
estresse; 57
5. Possibilidade de aplicar as novas técnicas em 57
jan/2017
COLARES, Maria Lília Imbiriba Souza (org.) et al. Gestão escolar:
enfrentando os desafios cotidianos em escolas públicas. Curitiba:
Editora CRV, 2009.
Apresentação
Resenha elaborada por
Os organizadores informam que os capítulos do
Juliana Manso Presto
livro referem-se a um conjunto de textos resultantes
Pedagoga com Especialização em “Ética, valores de TCCs de estudantes da Especialização em Ges-
e cidadania na escola” tão Escolar, modalidade EAD, vinculada ao Pro-
Coordenadora Pedagógica – PMSP grama Nacional Escola de Gestores da Educação
Professora - Cursinhos Preparatórios Básica MEC/SEB (parceria com a SEDUC/RO e
UNDIME/RO), bem como textos elaborados por
professores-pesquisadores vinculados a Fundação
Universidade Federal de Rondônia/UNIR, tendo
como diferencial a abordagem que procura articu-
lar as reflexões teóricas com as situações concretas,
e como este encontro deve ser proveitoso em prol
Gestão democrática e participativa
Inicialmente o assunto foi sobre as atividades co- preparar para ajudar os pais, de forma convidativa,
tidianas dos alunos e a necessidade de envolvimento buscando canais efetivos de comunicação e promo-
64 vendo atividades específicas de sua comunidade.
64
nos processos de aprendizagem de seus filhos. No
jan/2017 primeiro dia os pais relataram quanto às suas expe- Ao concluírem, os autores afirmam que a famí-
lia e a escola formam uma equipe, sendo funda- bem como elevar o nível da qualidade educativa.
mental estabelecer diálogo que tenham os mesmos O processo de investigação contou com reuniões,
princípios e critérios, bem como a mesma direção conversas informais, aplicação de questionário e
em relação aos objetivos que desejam atingir, para análise de alguns dados dos resultados de anos
que as dificuldades sejam aos poucos superadas em anteriores, com a direção, corpo técnico, adminis-
prol da aprendizagem dos alunos. trativo, professores e alunos para a identificação
das situações problemas e formulação das hipóteses
Capítulo 8 - Melhoria da qualidade que foram trabalhadas neste projeto.
educativa na escola estadual de Após as análises, obtiveram o seguinte diag-
ensino fundamental Samaritana - nóstico: a falta de participação e acompanhamento
dos pais na vida escolar de seus filhos, sendo que,
Carlson José Lima de Sousa, Lúcia
solucionado este, os outros (evasão, dificuldades
de Fátima Xavier González, Rosa de aprendizagem, problemas disciplinares) seriam,
Martins Costa Pereira possivelmente, minimizados.
A reconstrução do PPP refere-se ao planejamen- A prioridade escolhida foi: sensibilizar os pais
to de intervenções responsáveis e conscientes em ou responsáveis a participar de todos os aconteci-
benefício da coletividade, atendendo às dimensões mentos da escola, atestando a eles sua importância
políticas e pedagógicas que lhe são inerentes. Os e mostrando que a escola se preocupa com eles e
autores notaram que o PPP da escola em que deseja assumir a responsabilidade de buscar ca-
atuam precisava de análise e reformulação, pois a
escola e, em seguida, com a equipe administrativo- lização: reuniões por série, palestras para a família,
-pedagógica da escola, sendo mencionada a von- semana do meio ambiente, mutirão da limpeza
tade de desenvolver ações para incentivar alunos, (continuação), reunião geral com a comunidade,
65
65
professores e comunidade escolar de forma geral, festa junina, elaboração de instrumentais de acom-
para a melhoria dos serviços oferecidos na escola, panhamento dos pais. jan/2017
Os autores concluem, após a experiência, que da escola e contribuir para o trabalho na temática.
o PPP possui a função de romper o isolamento Foi realizada uma pesquisa bibliográfica sobre o
dos diferentes segmentos da escola, buscando pela tema em questão, seguida de uma investigação
participação coletiva e afetiva de pais, funcionários de como estava o trabalho na escola sendo vista a
e comunidade, não só na sua reelaboração, mas na necessidade de maior ênfase. Após isso foram re-
observação crítica do cotidiano escolar. alizadas entrevistas com o corpo docente, discente
e técnico da escola para obtenção de dados sobre
Capítulo 9 - A diversidade étnico- o tema trabalhado.
racial na escola: convivendo sem Passada essa etapa, foram planejadas atividades,
preconceito - Maria de Fátima numa abordagem interdisciplinar e significativa,
que contemplassem a diversidade étnico-racial, o
Castro de Oliveira Molina, Ilse
preconceito e a desigualdade, de forma a atingir os
Kuns Drum alunos e toda comunidade escolar, sensibilizando
Os autores falam do desafio de educar com quanto ao reconhecimento das origens e valoriza-
foco na diversidade por exigir a combinação de ção dessas, bem como a necessidade de se cultivar
sensibilidade, conhecimento e disposição para valores étnicos de respeito às diferenças. As estra-
articular os vínculos entre educação e diversidade, tégias foram: palestras proferidas por educadores
tendo as reflexões e as reivindicações ao direito às e especialistas na área, uso de documentários sobre
diferenças norteadoras de práticas voltadas a uma o tema, debates em que os alunos manifestavam
educação inclusiva. Apontam ainda a necessidade
Gestão democrática e participativa
zendo que o PPP é político, pelo compromisso com o trabalho dos educadores, como aconteceu em 2009
a formação do cidadão para um tipo de sociedade, nessas escolas, em prol de um projeto coletivo.
e pedagógico, por definir as ações educativas e as Na conclusão, as autoras retomam a questão
características necessárias às escolas para cumprirem da indisciplina dizendo que escolas precisam de-
seu propósito, sua intencionalidade. senvolver políticas internas para lidar de forma
Outra consideração diz respeito à constituição preventiva com a indisciplina, afirmando quanto à
do PPP, quanto às experiências já existentes, à inten- necessidade de programas de formação de profes-
ção atual e as propositivas, pois “o PPP compreende sores voltados para essa discussão nas rotinas das
o ‘coração da escola’, um instrumento que engloba escolas. Além disso, embora seja difícil e complexo
o conhecimento que o passado oferta, a vitalidade lidar com a indisciplina, atentam para que o pro-
pertinente ao presente e o anseio da remodelação fessor não desista e nem se acomode. No que se
suscetível no futuro próximo” (p.144), bem como refere ao papel do diretor, afirmam que é preciso
a necessária sensibilização e organização coletiva da um novo papel de diretor, libertando-o de suas
comunidade escolar para elaborá-lo. marcas de autoritarismo e redefinindo seu perfil,
desenvolvendo características de coordenador,
As autoras então refletiram sobre o processo de
colaborador e de educador.
construção do PPP/2008 de duas escolas. Observa-
ram que, embora tenha sido feito convite aos pais
pelo Conselho Escolar, apenas um grupo de profes-
Capítulo 12 - As NTIC na escola
sores acabou elaborando em dias de planejamento pública: desafios para a gestão
antes do ano letivo, assim se questionou quais escolar - Tania Suely Azevedo,
formas poderiam existir para envolver toda a comu- Brasileiro, Anselmo Alencar Colares
nidade escolar para o revistar do PPP. As sugestões Os autores consideram que as tecnologias,
foram: mais diálogo, mais reuniões e participação de quando aplicadas à educação, podem contribuir no
todos, tendo no primeiro dia de aula, por exemplo, desenvolvimento das potencialidades humanas e
as boas vindas e as apresentações, aprofundando na formação e transformação de crianças e jovens
Nº 10 • Abril/99
para uma fala sobre gestão democrática. em cidadãos críticos, autônomos, solidários e
Depois houve uma reunião do CE e da gestora competentes na sociedade atual.
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da escola com a presença de toda comunidade escolar O reconhecimento da potencialidade das tecno-
jan/2017 para falar da importância da contribuição de todos logias favorece a incorporação de diferentes recursos
(computador, Internet, TV e vídeo etc.) na escola e por níveis de escolaridade) como interessante
na prática pedagógica e a outras atividades escolares ferramenta disponível a todos. Citam ainda a
nas situações em que possam trazer contribuições importância de alguns recursos tecnológicos para
significativas, de forma a contribuir para a melhoria o atendimento ao público da Educação Especial.
dos processos de gestão e das aprendizagens. O papel do professor frente às tecnologias
Para a inserção de tecnologias de informação e configura-se como “guia dos/as alunos/as para
comunicação na escola não basta apenas adquirir facilitar-lhes o uso de recursos e ferramentas vir-
equipamentos e softwares, mas sim mobilizar tuais que necessitam para explorar e elaborar os
a escola como um todo, por meio de formação novos conhecimentos e habilidades mediadas pelas
continuada, envolvendo suas lideranças, especial- tecnologias; ele/a passa a atuar como gestor/a dos
mente os/as gestores/as, para que sejam agregadas recursos de aprendizagem e a destacar seu papel
efetivamente ao fazer desses profissionais. de orientador desse processo” (p. 164).
A rede de Internet, por exemplo, pode ser um Nesta perspectiva, o trabalho da escola passa a
espaço privilegiado de comunicação e de divulga- ser interdisciplinar; utilizando a informática como
ção da informação que pode viabilizar este suporte ferramenta de trabalho e a rede Internet como
tecnológico, facilitando a comunicação entre toda canal de comunicação, explorando-a como espaço
a comunidade escolar. Entretanto, “não basta ape- cooperativo e de formação e percebendo-a como
nas informar quais atividades/ações a escola está espaço de trabalho, daí a importância da formação
desenvolvendo; precisa também criar espaços de co- continuada e em serviço dos docentes.
um Programa de formação continuada a distância que visam garantir a qualidade de ensino tais como: a
como o aqui estudado. Talvez, o grande desafio da relação escola-comunidade; a democratização do aces-
formação de professores na modalidade a distância em so e permanência do aluno na escola; um padrão de
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nosso país não seja somente as disparidades regionais qualidade do ensino para todos; a autonomia dentro
jan/2017 (regiões excluídas do acesso à energia elétrica) e sim dos limites legais e no cumprimento de sua função
social; a organização curricular e o princípio da valo- manifestações da aprendizagem a fim de proceder a
rização dos profissionais que se dedicam à educação. uma ação educativa que aperfeiçoe os percursos indi-
O planejamento é considerado um ato político- viduais”. Cita-se ainda a LDB-96 no que tange a
-pedagógico porque está repleto de intencionalida- avaliação - “contínua e cumulativa do desempenho
des. O docente, a partir de um diagnóstico inicial do aluno com prevalência dos aspectos qualitativos
e da relação com PPP da escola, deve pensar em sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do
suas ações, diante da seleção de conteúdos, de mé- período sobre os de eventuais provas finais” (p.191).
todos e técnicas de ensino, bem como em formas Nesta perspectiva, cabe o destaque de que o
de avaliar os processos educativos. professor deve utilizar diversas produções escolares
A autora menciona que o planejamento do- dos alunos para o acompanhamento da aprendi-
cente, articulado com a proposta pedagógica da zagem (não apenas a prova final, por ex.), sendo
escola, precisa observar os seguintes aspectos: necessário pensar na diversificação das atividades,
Identificação, Ementa da disciplina/atividades, de acordo com as necessidades e possibilidades de
Objetivos de Ensino, Conteúdos, Metodologia, cada aluno. Além disso, deve registrar as observa-
Recursos de Ensino e Avaliação. ções que faz e compreendê-las como uma atividade
Afirma-se que a avaliação para ser uma ação de pesquisa e de levantamento de dados, pois
reflexiva, de fato, exige do docente novas atitudes, revelam os saberes dos alunos. Uma estratégia in-
o qual passa a ser investigador do aprender de seus teressante de documentar esse processo de registro
alunos e realiza adaptações a fim de atender as ne- apontado pela autora diz respeito aos portfólios.
de apoio, pais e comunidade local. Nessas ações, A lei máxima do nosso sistema educacional
todos procuram alternativas para promover ino- reflete um processo e um projeto político para a
vações no cotidiano escolar. educação brasileira. É chamada de Lei de Diretri-
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacio- zes e Bases da Educação Nacional (nº 9.394/96)
nal (LDB), de nº 9.394/96, não só reconhece os es- porque estabelece: as diretrizes que definem os
tabelecimentos de ensino como espaços legítimos princípios, as finalidades, as intenções e os objeti-
para elaboração do seu projeto pedagógico como, vos da educação brasileira. A lei explicita também
também, assegura a participação dos profissionais as bases referentes aos níveis e às modalidades
da educação no desenvolvimento dessa tarefa. de ensino, aos processos de decisão, às formas
de gestão e às competências e responsabilidades
O objetivo geral definido para o módulo é o
relativas à manutenção e ao desenvolvimento do
de promover a construção coletiva do projeto
ensino no país.
pedagógico, articulando-o às várias formas de
Na LDB, destacam-se três grandes eixos di-
planejamento do trabalho da escola.
retamente relacionados à construção do projeto
pedagógico:
UNIDADE 1. POR QUE CONSTRUIR
O eixo da flexibilidade: vincula-se à autonomia,
COLETIVAMENTE O PROJETO possibilitando à escola organizar o seu próprio
PEDAGÓGICO? trabalho pedagógico.
INTRODUÇÃO O eixo da avaliação: reforça um aspecto im-
O trabalho da escola torna-se muito mais pro- portante a ser observado nos vários níveis do
dutivo e agradável quando há diálogo entre os ensino público (artigo 9º, inciso VI).
vários segmentos que dela fazem parte. Essa forma O eixo da liberdade: expressa-se no âmbito do
de trabalhar é muito importante para a discussão pluralismo de ideias e de concepções pedagó-
realizada ao longo desse Módulo, por ser funda- gicas (artigo 3º, inciso III) e da proposta de
gestão democrática do ensino público (artigo
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jan/2017 76
Esses princípios precisam ser percebidos e ana- Mas será que ampliar o acesso basta? Ou a es-
lisados de forma interligada, por serem interdepen- cola precisa, ao discutir o seu projeto pedagógico,
dentes. É interessante que possam ser relacionados avançar nessa reflexão? Na verdade, as pesquisas
à realidade da escola, identificando como têm sido educacionais mais recentes têm indicado que o
discutidos, compreendidos e desenvolvidos pelos nosso grande problema não é mais o crescimento
vários segmentos. do número de matrículas, mas fundamentalmente,
Um primeiro princípio a ser considerado na a permanência bem-sucedida do aluno em uma
construção do projeto Pedagógico refere-se à escola de qualidade. A finalidade maior do projeto
relação escola-comunidade local. Há diferenças pedagógico é assegurar o sucesso da aprendizagem
na qualidade do trabalho de escolas que contam de todos os alunos da escola.
com a participação da comunidade e de outras que À medida que procura se democratizar, a escola
planejam, executam e avaliam suas ações sem levar coloca em discussão a prática que desenvolve,
em consideração essa participação. Por exemplo: fato que se relaciona a um quarto princípio que
pesquisas têm demonstrado que, normalmente, precisa ser discutido na construção do seu projeto
o desempenho dos alunos é melhor em escolas pedagógico – a autonomia. Essa autonomia pode
nas quais os pais participam da vida escolar e são ser entendida como a capacidade de governar-se, e
constantemente informados do rendimento escolar dirigir-se, dentro de certos limites, definidos pelas
dos seus filhos. legislações e pelos órgãos do sistema educacional,
Na medida em que a relação escola-comunidade ajudando os diversos atores a estabelecer, com
que um número considerável de alunos que ingres- na-se a um outro: o da organização curricular
sam na escola não tem conseguido nela permanecer que a escola deseja adotar, visando assegurar uma
com êxito. Esse quadro existe apesar de os dados aprendizagem voltada para as necessidades e o
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dos últimos censos escolares atestarem uma grande sucesso do aluno. Assim, o currículo precisa ser
expansão de matrículas. visto como o eixo central da discussão na escola, jan/2017
de forma que o conhecimento possa ser percebido Cada um desses princípios, discutidos a partir
e construído a partir da integração das diversas da realidade da escola, pode contribuir para a
áreas do saber humano e não de maneira isolada elaboração do projeto pedagógico, estimulando
e fragmentada. os vários segmentos que a compõem a contribuir
A valorização dos profissionais da educação significativamente para a busca da melhoria da
constitui outro princípio importante em nossa dis- qualidade do ensino que oferece.
cussão. Assim, o projeto pedagógico precisa reco-
nhecer que a qualidade de ensino está intimamente UNIDADE 3. COMO CONSTRUIR
relacionada à valorização do magistério, na defesa COLETIVAMENTE O PROJETO
de uma adequada formação dos seus profissionais PEDAGÓGICO?
em dois níveis: a formação inicial, destinada a
oferecer ao futuro profissional da educação as INTRODUÇÃO
condições básicas ao seu ingresso na profissão e Cada escola possui um universo de diferenças
uma visão geral de sua atuação no magistério; e a que resultam das ações dos seus atores, sendo pos-
formação continuada, voltada para os professores sível discutir o processo de construção do projeto
em exercício, visando ajudar no aperfeiçoamento pedagógico com base em três grandes movimentos
de sua própria prática. bastante interligados. Esses movimentos devem ser
entendidos como movimentos que, relacionados e
Embora a prática seja importante para o estudo
interdependentes entre si, necessitam ser avaliados
da escola e, consequentemente, para as propostas
Gestão democrática e participativa
permanentemente.
de inovação do seu contexto, a teoria também é
muito importante para a escola avaliar as dimen- Tendo isso em mente, cada escola precisa
sões e os princípios que orientarão a construção olhar para si mesma, refletir sobre suas práticas e,
do seu projeto pedagógico. A prática, quando é autônoma e coletivamente, construir seu próprio
bem fundamentada pela teoria, pode levar os vá- projeto pedagógico.
rios segmentos a alterarem sua ação para melhor, Os objetivos específicos dessa unidade são:
tornando-se mais consistente e inovadora. Identificar os três grandes movimentos de
As dimensões pedagógica, administrativa, fi- construção do projeto pedagógico.
nanceira e jurídica do projeto pedagógico precisam Estruturar os grandes movimentos de elabora-
ser vistas naquilo que a escola já é e no sentido de ção do projeto pedagógico.
apontar possibilidades de se transformar, contando Propor mecanismos de organização e partici-
com o trabalho coletivo dos seus segmentos. Essas pação dos segmentos da escola na elaboração
dimensões devem ser analisadas considerando-se do projeto pedagógico.
sua interdependência, uma vez que elas interferem
Reconhecer a importância do processo de ava-
umas nas outras.
liação em todos os movimentos de construção
Por sua vez, a discussão sobre os princípios do projeto pedagógico.
precisa ser feita com os vários segmentos da esco-
la, de forma que o seu trabalho tenha um sentido METODOLOGIA E MOVIMENTOS
compartilhado por todos, tornando a prática DE CONSTRUÇÃO DO PROJETO
escolar mais eficaz. PEDAGÓGICO
Conforme as necessidades e características da
Esses princípios gerais que orientam a constru-
escola, o seu processo de construção seguirá uma
ção do projeto pedagógico: relação escola-comuni-
dinâmica própria, de forma que os movimentos
dade, democratização do acesso e da permanência
analisados nesta Unidade visam contribuir para
do aluno na escola com sucesso, gestão democráti-
sua sistematização. Porém, observe a síntese desses
Nº 10 • Abril/99
último, com maior grau de detalhamento, tem social da escola pública, de sua missão, de seus
sido largamente utilizado nas regiões Nordestes, objetivos e áreas estratégicas que precisam ser
Norte e Centro-Oeste, abrangidas pelo MEC/ mais desenvolvidas, de modo que os planos de
Fundescola. Embora com nomes distintos, todos ação a serem implementados assegurem o sucesso
esses instrumentos buscam garantir os princípios da escola.
de autonomia da escola e de gestão democrática, O que é a missão? A missão define o que é a
tendo como referencial o projeto pedagógico, escola hoje, seu propósito e como pretende atuar
assegurando-lhe maior concretude. no seu dia a dia. Sintetiza a identidade da escola, a
Veja, no quadro a seguir, como os movimentos sua função social orientando a tomada de decisão
de elaboração do projeto pedagógico e o processo e garantindo a unidade da ação e o comprome-
de planejamento se integram em um mesmo mo- timento de todos na ação pedagógica. A missão
vimento, que é o da construção permanente da deve ser objetiva, sucinta, clara, informando o que
identidade da escola, visando a melhoria qualitativa a escola é e o que está fazendo.
dos seus resultados: O que são os objetivos estratégicos? Os ob-
jetivos estratégicos são as situações que a escola
pretende atingir num dado período de tempo.
Indicam áreas, ou dimensões, nas quais a escola
concentrará suas preocupações, seus esforços e
suas ações refletindo as prioridades decorrentes da
escola que se quer, e que vamos construir.
Dessa forma, para a definição dos objetivos
estratégicos, é preciso que haja por parte dos
gestores, do conselho ou colegiado escolar e da
comunidade escolar a aceitação da missão da escola
que foi sendo construída ao longo do primeiro e
Nº 10 • Abril/99
O que são metas? Metas explicitam os resul- Relação entre projeto pedagógico e
Muitas vezes há situações em que se inicia um pro- nas escolas a situação na qual o aluno, ao chegar
jeto pedagógico com uma proposta ótima, as pessoas atrasado, é penalizado. O professor pode fechar a
concordam com as ideias, mas o trabalho se perde, porta da sala de aula e não permitir a entrada do
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não tem sucesso e não conseguimos dizer o porquê. aluno, o que ocasiona uma série de conflitos devido
jan/2017 Muitos aspectos poderiam ser analisados, como a à desigual aplicação das normas.
À medida que o projeto pedagógico se define por Que deve ser socializado? Que de fato é socia-
uma concepção disciplinar mais preventiva, teremos lizado?
um regimento escolar menos preso às penalidades e Que deve ser privilegiado? Que de fato é pri-
mais direcionado para os direitos e deveres. vilegiado?
Enfim, o regimento escolar deve apresentar um Que deve ser avaliado? Que de fato é avaliado?
conjunto de orientações que perpassam diferentes
Muitas vezes a escola reduz o currículo a uma
áreas, garantindo o cumprimento de preceitos legais,
lista de conteúdos mínimos a serem transmitidos
diretrizes e resguardando espaços de autonomia e
de acordo com uma organização disciplinar, ou
responsabilidade próprios da escola, tendo o cuidado
por meio de uma grade curricular, sem analisar
para que o conteúdo do regimento e sua aplicação não
detidamente as questões apresentadas.
sejam contraditórios ao projeto pedagógico.
À medida que o currículo definido é colocado
Relação entre projeto pedagógico em prática, devemos levar em conta não apenas a
e prática pedagógica interpretação que o professor faz do currículo, sua
Ao longo das unidades, foi verificada a capaci- concepção pedagógica, mas também as maneiras
dade do projeto pedagógico de orientar o planeja- como realiza o trabalho em sala de aula, suas con-
mento das ações, a organização do trabalho escolar dições de trabalho e as relações interpessoais que
e a própria prática pedagógica. É a visão de futuro se estabelecem.
da escola e a definição de sua missão que apontam É importante identificar e compreender que a
para a inovação da prática pedagógica.
Desde o início deste Módulo, foi enfatizado que futuramente, reverter em políticas sociais.
o processo de elaboração do projeto pedagógico Redistributivas. Pretendem arrecadar impostos
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visa tornar a equipe escolar capaz de constituir uma do segmento social que possui maior renda em
jan/2017 proposta de ação que seja, de fato, significativa benefício dos segmentos desfavorecidos.
Redistributivas às avessas. Promovem a arre- escolar. A construção coletiva do projeto pedagógi-
cadação de impostos que acabam por beneficiar co permite que recuperemos o propósito de nossas
apenas o segmento social que já possui benefícios. ações, que muitas vezes se esvaem no ativismo
Além disso, é necessário observar que as polí- do cotidiano escolar, perdendo a sua dimensão
ticas públicas, os projetos pedagógicos e a prática pedagógica.
profissional cotidiana estão carregados de valores A participação e a construção de uma educação
que vivenciamos em nossa sociedade. Valores de que tenha a cara da nossa realidade e dos nossos
uma cultura que está presente no cotidiano esco- sonhos não é apenas resultado de leis que criam
lar e passa a ser percebida e compreendida como novas formas de funcionamento e de organi-
natural. E é preciso ainda lembrar que a cultura zação da educação. É fruto também do nosso
não é algo externo a nós, pois antes de tudo é pele, compromisso com um projeto de sociedade e de
é nosso olhar, nosso sentir e pensar, ou seja, nos educação e de nossa ação concreta no dia a dia,
constitui como pessoas. na escola e no contexto das políticas educacio-
É necessário que relacionemos as práticas coti- nais. A qualidade dessa participação é resultado
dianas da escola com os tipos de políticas públicas da nossa capacidade de refletir a realidade local e
para que possamos perceber como, muitas vezes, global e de analisar o texto e o contexto das leis
ocorre manutenção de certos valores e interesses no educacionais.
nosso dia a dia escolar, assim como na dimensão É importante seu envolvimento e sua participa-
mais ampla da sociedade. O objetivo desta ativi- ção nas discussões e na implementação de projetos
com um modelo de planejamento que se paute que considere a organização do trabalho escolar,
pelo questionamento da própria ação, da prática. e sua prática pedagógica, de modo a desenvolver
O projeto pedagógico como referência da organi- planos de ação que possibilitem, de fato, a me-
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zação do trabalho escolar, direcionando as normas lhoria da qualidade do ensino e os resultados da
de funcionamento da escola, ou seja, o regimento aprendizagem dos alunos. jan/2017
Nossa pergunta inicial “por que construir namento da escola e deve ser assumido como
coletivamente o projeto pedagógico?”, sempre uma conquista do coletivo da escola, como um
terá de ser feita para que não se torne um mero instrumento de luta e de organização. Portanto,
cumprimento de tarefa, parte do cotidiano escolar, a construção do projeto pedagógico depende
da prática pedagógica. do papel ativo dos diversos atores envolvidos no
O projeto pedagógico representa o funcio- contexto escolar.
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Nº 10 • Abril/99
respostas valendo-se de alguns cenários vivenciados do conceito de gênero e refletindo ainda sobre as
em escolas de educação básica que exemplificam relações de poder-saber que envolvem os sujeitos e
dilemas inerentes ao acolhimento da diversidade, a formação de suas identidades sexuais e de gênero.
problematizando-os com o objetivo de refletir
No oitavo capítulo, “Diversidade cultural na
sobre eles e tendo os conselhos escolares como
espaços privilegiados rumo a soluções para as escola: existe equidade sem respeito às diferen-
questões e os conflitos referentes ao acolhimento ças?”, Renata Maria Moschen Nascente, Maria
da diversidade em cada unidade escolar. Cristina Luiz Ferrarini e Michele Peruchi de Brito
discutem a perspectiva do multiculturalismo e a
Multiculturalidade na criação de um portal
importância do conselho escolar nessa relação no
para a integração e formação de conselheiros
âmbito da escola.
escolares em todo o Brasil é o tema do quarto ca-
pítulo, desenvolvido pela equipe Cibelle Amorim A segunda parte do livro, Conselhos escolares
Martins, Maria Iracema Pinho de Sousa, Francis- e democratização: funcionamento, participação,
co Herbert Lima Vasconcelos, Márcia Costa Silva formação e trabalho coletivo, é inaugurada pelo
Costa e Aleksandra Previtalli Furquim Pereira, da nono capítulo, que versa sobre os conselhos esco-
Universidade Federal do Ceará. Os autores refle- lares no município de São Carlos/SP e a questão
tiram a respeito do desafio de criar um material da participação dos conselheiros, de autoria de
didático para um curso que teria como público- Renata Pieini Ramos e Celso Luiz Aparecido Conti.
-alvo conselheiros escolares de diferentes partes Baseados em uma pesquisa de mestrado, os autores
do Brasil, devendo, assim, não apenas considerar desenvolveram uma reflexão acerca da participação
mas também ter como eixo norteador a inserção nos conselhos escolares, concebidos como um ins-
de tais conselheiros no universo da cultura digital, trumento de gestão democrática das escolas.
sempre com muito respeito à diversidade cultural O décimo capítulo, por sua vez, escrito por Ju-
existente. liana Carolina Barcelli, Viviane Wellichan e Rúbia
O tema do quinto capítulo, de autoria de An- Nathália Parra, fala a respeito de indicadores de
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derson de Lima e Walkiria Gonçalves Reganhan, funcionamento dos conselhos escolares de quatro
são diversidade, conselho escolar e inclusão do estados brasileiros e discute, por meio das inves-
aluno com deficiência. Propõe-se uma reflexão que tigações realizadas durante o curso de extensão
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envolve as relações entre a inclusão do deficiente na Formação Continuada a Distância em Conselhos
jan/2017 escola pública e o papel do conselho escolar como Escolares, oferecido em 2011 pelo Departamento
de Educação da Universidade Federal de São Carlos Silva, Maria Cecília Luiz e Ana Lucia Calbaiser da
(DEd/UFSCar) em parceria com a Secretaria de Silva. Eles examinam alguns aspectos presentes na
Educação Básica do Ministério da Educação (SEB/ formação continuada em conselhos escolares e de
MEC), como a gestão democrática vem sendo de- conselheiros municipais de educação no contexto
senvolvida pelos conselhos escolares de municípios de dois cursos – ambos oferecidos por meio de
de quatro estados brasileiros, a saber, São Paulo, convênio firmado entre a UFSCar e a Secretaria de
Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Educação Básica do Ministério da Educação (SEB/
Débora Cristina Fonseca, no capítulo 11, dis- MEC) –, que foram o Pró-conselho: Programa Na-
corre sobre conselho de controle social, conselho cional de Capacitação de Conselheiros Municipais
escolar e trabalho coletivo e contextualiza esses de Educação e o PNFCE: Programa Nacional de
conselhos como pano de fundo no processo de Fortalecimento dos Conselhos Escolares.
descentralização e municipalização dos serviços
públicos, assegurando o cumprimento do mandato Parte I – Inclusão e diversidade
constitucional de participação da comunidade. nos conselhos escolares: cultura,
Assim, ela retoma brevemente o histórico desses gênero, necessidades especiais e
conselhos, a fim de compreender o cenário atual
direitos humanos
e a diversidade de possibilidades de participação
no controle e de efetivação de políticas públicas, e Capítulo 1: Conselhos escolares e
discute um caminho possível de trabalho coletivo a valorização da diversidade: uma
A nova forma de organização dos conselhos es- quando voltado para as massas, tende, frequen-
colares, decorrente da concepção de gestão demo- temente, a tornar-se catarse coletiva, passando a
crática, é, ainda, incipiente e encontra obstáculos ter a forma de populismo. Quando proferido para
em práticas tradicionais que consideram o conselho autoridades, significa a demonstração de adesão ao
como órgão assessor de atividades recreativas e modelo político adotado e constitui uma espécie
financeiras da escola. Essa concepção assistencia- de propaganda pessoal de quem o faz. O discurso
lista em nada contribui para a constituição da vida democrático pode remeter, assim, à necessidade
escolar como um espaço de respeito às diferenças, de reconhecimento dos agentes escolares, quer
porque atua, precisamente, no sentido contrário: por parte do coletivo da escola, quer por parte das
ao estabelecer que a participação de todos seja limi- autoridades superiores. Corresponde, portanto, a
tada à esfera do trabalho, não consolida um espaço uma espécie de marketing pessoal constituído do
de decisões e permite que poucos continuem tendo consenso representado pela opinião geral. Isso
o privilégio de determinar o destino dos demais. significa que é preciso distinguir o discurso demo-
Estabelecida como um dos princípios da edu- crático, que visa a atender à opinião pública, da
cação pública pela Constituição de 1988 (Brasil, ideia de democracia, como processo que instaura
2006) e pela LDB – Lei de Diretrizes e Bases da a livre e autônoma participação coletiva.
Educação (Brasil, 2013a), a gestão democrática A maneira como a opinião pública se constitui
é associada, na legislação educacional (artigo 14 pode ser concebida atualmente como resultado
de Brasil, 2013a), à participação dos profissionais da circulação dessas opiniões pelos meios de co-
da educação na elaboração do projeto político- municação amplificados pelas novas tecnologias.
-pedagógico da escola e às comunidades escolares e A sociedade em que vivemos é homogeneizante
local, organizada em conselhos escolares ou órgãos e burocratizada, em um mundo cujas fronteiras e
equivalentes. espaços se contraem com a aceleração da capaci-
A participação da comunidade na gestão da dade de comunicação e informação. À medida que
aumenta o contato entre uma quantidade cada vez
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e de acordo com a multiplicidade de fontes que A cultura pode ser definida como o conjunto
mudam contínua e aceleradamente. Esse caráter de conhecimentos acumulados, comportamentos,
alterdirigido da sociedade contemporânea permite instituições, crenças, costumes em uma determina-
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compreender o entusiasmo manifestado pela de- da organização social, constituindo um patrimônio
mocracia entre os agentes educacionais. dessa sociedade. Frequentemente, o conceito de jan/2017
cultura é associado ao adjetivo culto, que, no mun- própria que a individualiza, isto é, a faz única e
do ocidental, assume a significação de civilizado. se assenta em um determinado tempo e espaço.
Concebida como civilização, a cultura expres- Nesse sentido, conseguimos compreender por
saria a consciência que a sociedade ocidental tem que cada grupo de seres humanos, em diferentes
de sua superioridade sobre as demais, significando épocas e lugares, atribui significados diversos a
que se julga superior às sociedades que apresen- coisas e passagens da vida aparentemente seme-
tam costumes ou instituições distintas, antigas ou lhantes. A cultura estabelece a própria ação do
contemporâneas, sem o mesmo padrão de desen- homem, que se constitui como ser coletivamente
volvimento tecnológico e de comportamento. e se realiza como ser humano ao fazer do próprio
Por isso, esclarecer e definir o que é cultura deve viver uma arte.
ter lugar importante na vida escolar. Hoje, ao falar Cada cultura deve ser, portanto, considerada
em culturas, no plural, tendo como referência a uma experiência única, irredutível a qualquer
cultura negra, a gay, a baiana e a indígena, por outra. Cada sociedade possui seu próprio sistema
exemplo, muitas vezes não se leva em consideração cultural, constituído em um tempo e espaço que
o reconhecimento, no sentido de dar o mesmo lhe são próprios.
valor a essas diferentes expressões culturais. Em toda essa diversidade há uma característi-
Em geral, ao tratar de tais culturas, nem sempre ca humana: a sua capacidade de se constituir de
se pretende atribuir o mesmo status que se confere forma diferente, em tempos diferentes e espaços
à cultura ocidental, cujo intuito é o de excelência. diferentes, de enfrentar a diversidade de problemas
Gestão democrática e participativa
Ao contrário, essas culturas acabam recebendo uma e obstáculos impostos pelos eventos históricos
“concessão dada”, mas são vistas como exóticas ou de maneira variada e própria em um processo
folclóricas. Esta é a fonte de todo o preconceito: a contínuo de reinventar-se e superar-se. Não há
certeza da própria superioridade e a incapacidade trajetórias culturais que não sejam únicas, e a di-
de lidar com toda e qualquer manifestação cultural versidade de experiências e de sentidos atribuídos
que pareça diferente da sua. à própria vida é o maior testemunho da vocação
humana para a diversidade.
É dessa maneira que, em geral, a cultura ociden-
Colocada dessa maneira, a diversidade cultural
tal lida com o estranho, com o diferente, recusan-
não é uma coleção de culturas em diferentes está-
do-lhe atribuir dignidade, e infantiliza e descreve
gios transitórios que está a caminho da civilização
o outro como inapto para a vida civilizada (aos
ou da apresentação de experimentos civilizatórios
moldes ocidentais). Mais do que não reconhecer
malsucedidos, mas da própria manifestação da
o diferente, há a recusa da sua existência, ou seja,
liberdade humana, a qual, longe de uma trajetó-
o outro, o estranho, é demonizado, perseguido,
ria determinada, inventa-se e constitui-se, a cada
enxotado e excluído. No entanto, o que a cultura
instante, em diversos espaços, dando origem a
ocidental (que se considera única) mais tem feito
situações específicas em sua história coletiva.
para lidar com o estranho é transformá-lo naqui-
lo que ela considera adequado, disciplinando-o, Os conceitos de diversidade
conformando-o, atribuindo-lhe a sua própria e de diferença
forma e anulando, assim, a sua existência cultural. A possibilidade de o ser humano perceber a si
O antropólogo Clifford Geertz (1989) conside- mesmo como humano, como parte da humanida-
ra a cultura como um sistema simbólico, porque se de, deriva da possibilidade de reconhecer-se nos
constitui em teias de signos e significados criados outros e de reconhecer os outros em si mesmo. Isso
pelos próprios homens, Ela constituiu um dos só se realiza por meio da alteridade, da aceitação
mais importantes aspectos da condição humana, e da percepção dos valores do outro no que tange
aos seus.
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culturais é tentar moldá-la a nossa própria seme- cultura, acaba reduzindo-o a um estereótipo. O
lhança. Lembrando que não se trata de tolerar ou estereótipo consiste na generalização da cultura
de apiedar-se, mas de considerar o outro simples- do outro quando, em geral, são características
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mente como outro, diferente, porém com o mesmo tidas como negativas, que resultam na sua de-
direito de existência que nós. preciação, reduzindo o seu valor e essas mesmas jan/2017
características. Preconceitos e estereótipos estão das ideias, a discriminação está no da ação, ou seja,
ligados, e é comum encontrar a manifestação de trata-se de uma atitude. A superação das discrimi-
um preconceito por meio de alguma piada baseada nações implica a elaboração de políticas públicas
em um estereótipo. específicas e articuladas.
A diversidade e a cultura escolar Os movimentos sociais, feministas, LGBT,
negros e indígenas têm evidenciado o quanto as
O direito às diferenças se constitui da desna-
discriminações se dão de formas combinadas e
turalização das desigualdades, que devem deixar
sobrepostas, refletindo um modelo social e eco-
de ser percebidas como uma perversão às leis da
nômico que nega direitos e considera inferiores
natureza e passar a ser enxergadas como uma cons-
mulheres, gays, lésbicas, transexuais, travestis,
tituição legítima da vida social. Essa compreensão
exige uma concepção transdisciplinar, algo que negros, indígenas.
não rotule, que passe por cima dos estereótipos Durante muito tempo, a escola foi encarada
e estigmatizações, que separe cada segmento em como local onde deveria prevalecer a homogenei-
um campo disciplinar próprio e que recolha, nas dade cultural. Questões como direitos individuais,
diferentes ciências, o saber necessário para compre- diferenças étnicas, culturais, sociais ou de gênero
ender a correlação entre as formas de discriminação não eram objeto de atenção. Tendendo a ignorar
e estabelecer jeitos para sua superação, construindo as diferenças, a cultura escolar se estabeleceu por
maneiras igualmente transdisciplinares de promo- meio de um jogo de pressupostos preconceituosos
ver a igualdade. jamais explicitamente enunciados, mas carregados
Gestão democrática e participativa
É possível compreender o importante papel de violência simbólica, cujo resultado era incutir
da educação e da escola tanto na constituição dos em toda a comunidade escolar práticas sociais
preconceitos e na reprodução de práticas sociais impregnadas de preconceitos.
preconceituosas quanto na luta pela superação des- Ignorando as diferenças, a escola tornou-se
ses preconceitos. O predomínio de livros didáticos um dos sustentáculos da propagação dos precon-
e paradidáticos nos quais a figura da mulher é au- ceitos. Nos conteúdos escolares, encontravam-se
sente ou caracterizada como menos qualificada que subjacentes padrões identitários de etnia, cultura
o homem contribui para uma imagem de inferio- ou gênero, que excluíam (e ainda excluem) aqueles
ridade feminina, por um lado, e de superioridade que não se encontravam na concepção cultural
masculina, por outro. A escolha das cores, o rosa e ocidental tradicional. O espaço escolar sempre foi
o azul, os papéis representados nas brincadeiras, a elemento essencial dos processos sociais de estig-
ausência das crianças negras nas salas de nível mais matização e discriminação, que devem e podem
avançado vão, entre outras questões, demarcando ser combatidos em benefício de um ambiente
e referendando as posições machistas e racistas que mais respeitoso com relação à diversidade e aos
persistem em nossa sociedade. direitos humanos.
A escola abriga em seu interior todas as diferen- A concepção adotada aqui se baseia no prin-
tes formas de diversidade, quer sejam de origem cípio de que a possibilidade de criação de um
social, sexual, étnico-racial, cultural ou de gênero. espaço escolar plural passa pelo direito de todos,
Questões de gênero, religião, raça/etnia ou em suas diferenças, serem reconhecidos como
orientação sexual direcionam práticas preconcei- iguais. A diversidade é um dos aspectos funda-
tuosas e discriminatórias da sociedade contem- mentais da atual concepção de direitos humanos.
porânea. A escola democrática deve educar para E ser diferente constitui um direito de todos os
a valorização da diversidade e formar indivíduos seres humanos.
capazes de exercer a cidadania com dignidade e A escola é um espaço de saber-poder. Trata-se de
poder dar conta dessa responsabilidade ao prevenir,
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O direito à educação está presente na legislação conquista que se deu de modo gradual, conforme
brasileira, como na Lei de Diretrizes e Bases da as necessidades de cada época e por indivíduos
Educação Nacional e na Constituição Federal. A e grupos que buscavam melhores condições de
observação de tais documentos oferece meios de vida. Em três principais momentos históricos,
compreensão acerca da estruturação da educação, abordaram-se questões dos direitos humanos:
caracterizada pela gratuidade, qualidade, oferta B
ill of Rights ou Declaração de Direitos (Ingla-
regular e garantia de permanência. Dessa forma, terra, 1689), que promoveram a divisão entre
destaca-se a presença dos conselhos de escola como poderes, proporcionando, ainda que de forma
órgãos atuantes na promoção do direito à educação indireta, a proteção de direitos fundamentais;
a todos os envolvidos nos ambientes educacionais.
Declaração de Direitos da Virgínia (Estados
Nessa perspectiva, é fundamental utilizar o Unidos, 1776), tendo sido o primeiro docu-
espaço de tal colegiado para pensar ações que vi- mento a reconhecer a existência de direitos
sam a efetivar essa educação em direitos humanos pertencentes a todos os seres humanos, pois
dentro do espaço escolar, bem como para discutir compreendia o ser humano como livre e com
questões relacionadas à diversidade cultural (gê- seus direitos assegurados;
nero, raça/etnia, religião, orientação sexual, entre
Declaração dos Direitos do Homem e do Ci-
outros). Assim, nota-se que o conselho de escola é
dadão da Revolução Francesa (França, 1789),
um espaço muito importante para a consolidação
primeiro documento da França divulgando as
desse princípio educativo, que busca garantir que
ideias da Revolução Francesa, que tinha como
as diferenças e potencialidades dos indivíduos
sejam respeitadas. lema liberdade, igualdade e fraternidade.
A diversidade e o papel do
esclarece, em seu artigo 1o, a presença da educação Conselho de Escola
tanto na vida familiar quanto nas instituições e As diferenças são naturais e, portanto, não
102 movimentos promovidos pela sociedade.
102
devem ser negadas. Gomes (2013) assevera que a
jan/2017 Art. 1º – A educação abrange os processos for- diversidade não diz respeito apenas ao que pode
ser observado a olho nu, pois, no momento em A diversidade dentro do contexto pedagógico
que passamos a considerá-la a partir de uma visão não é algo simples, exigindo que se reconheçam
cultural e política, surgem dois aspectos, a saber, as diferenças e se estabeleçam padrões de respeito,
os empiricamente observáveis e as diferenças o que garante direitos sociais e éticos. Para que
construídas historicamente, por meio das relações ocorram avanços em práticas educacionais capazes
sociais e de poder. De acordo com a autora, quando de compreender tal diversidade, é preciso romper
falamos de diversidade, devemos não somente ter com o conceito de padronização que vigora no
o reconhecimento do outro, mas também pensar campo educacional. A educação para a diversidade
a relação estabelecida entre os demais, vistos como consiste em explorar as diferenças, agindo como
diferentes diante do nosso grupo. um grupo e adotando práticas que considerem as
Consideramos as semelhanças e diferenças partin- diferenças naturais.
do de uma comparação. Tal comparação, por sua vez, Reconhecer as diferenças não é algo fácil, trata-
é feita de um padrão próximo a nossa visão de mundo, -se de um desafio, pois nos obriga a repensar nossas
que pode ser de comportamento, classe social ou ações e valores. Dentro da escola, não é diferente.
gênero, entre outros. Assumir a diversidade cultural Assim, o melhor caminho para o estabelecimen-
significa muito mais do que um elogio às diferenças. to da valorização e do respeito à diversidade no
Representa não somente fazer uma reflexão mais espaço escolar são o diálogo e a participação,
densa sobre as particularidades dos grupos sociais proporcionando trocas de experiência e práticas
mas também implementar políticas públicas, alterar educacionais democráticas.
dado social composto ao longo da história, e O conselho escolar como órgão articulador en-
Gomes (2013) ainda diz que, para refletir sobre tre escola, comunidade e outras instituições sociais
a diversidade no âmbito educacional, é necessário também precisa levar essa discussão para “além
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reconhecer, aceitar e respeitar as diferenças, enfim, dos muros da escola”, isto é, deve-se articular com
colocá-las no centro do processo educativo. o Ministério Público, com o Conselho Tutelar e jan/2017
com o Conselho da Criança e do Adolescente, de desses direitos possui relação direta com a atuação
maneira que, juntos, elaborem projetos, discussões dos conselhos escolares – colegiado que promove
e espaços que objetivem trabalhar. a construção coletiva de espaços democráticos e
A educação em direitos humanos busca difundir participativos.
a diversidade sociocultural para além da escola. Tal A garantia dos direitos humanos é fruto de um
ação seria muito positiva, pois estaria contribuindo processo gradual sócio-histórico-cultural, constru-
para a construção de uma sociedade mais justa, ído através das lutas dos movimentos sociais. Tais
igualitária e respeitadora das diferenças sociais, direitos são universais, destinados à preservação do
culturais, financeiras, entre outras. ser humano, ou seja, os direitos humanos cabem a
O conselho de escola é um órgão privilegiado para todo e qualquer ser humano, de forma que tenha
a consolidação de um princípio educativo que garanta dignidade e possa ser respeitado integralmente.
que os sujeitos sejam respeitados em suas diferenças e Nesse sentido, todas as pessoas têm direito a ter
potencialidades, já que, conforme Brasil (2013b), tal seus direitos e a ser respeitadas.
órgão participa diretamente da construção e recons- Em face desse estudo, entendemos que a pro-
trução do projeto político-pedagógico da escola e, moção de uma educação pautada pelos direitos
portanto, pode intervir a fim de que sejam incluídas humanos na escola deve ser um compromisso
temáticas relativas a gênero, raça, religião, orientação de todos os sujeitos envolvidos no processo edu-
sexual e etnia nesse documento. cacional, juntamente com o conselho de escola.
É fundamental que haja um conselho escolar Esta união – escola e órgão colegiado – possibi-
Gestão democrática e participativa
exercendo ativamente esse importante papel, haja lita a elaboração de ações que visam determinar
vista que, quanto maior a participação de tal co- esse ideal educativo, bem como contribui para a
legiado nessa questão, maiores as chances de “for- garantia de que os sujeitos sejam respeitados em
marmos crianças e adolescentes em um ambiente suas diferenças.
escolar acolhedor, não violento, que respeite as
diferenças, estimulando atitudes de tolerância e Referências bibliográficas
de paz” (Dias, 2008, p. 6). Basilio, D. R. Direito à educação: um direito essencial ao
exercício da cidadania. Sua proteção à luz da teoria dos
Considerações finais direitos fundamentais e da Constituição Federal Brasileira
Por meio das discussões promovidas neste ca- de 1988. 2009. 140 f. Dissertação (Mestrado em Direi-
pítulo, buscamos fortalecer os conselhos escolares to) – Faculdade de Direito, Universidade de São Paulo,
para que promova a garantia do direito à diversi- São Paulo, 2009.
dade dentro das instituições de ensino. Ademais, Bobbio, N. A era dos direitos. Rio de Janeiro: Campus, 1992.
destacamos a importância de um debate sobre os Brasil. Plano nacional de educação em direitos humanos.
direitos humanos, inseridos em diversos campos, a Brasília: SEDH/MEC, 2003.
saber, o político, o econômico. A escola, como ins- Candau, M. V. Sociedade multicultural e educação: tensões e
tituição educativa responsável por definir práticas desafios. In: ______. (Org.). Cultura(s) e educação: entre
o crítico e o pós-crítico. Rio de Janeiro: DP&A, 2005.
pedagógicas, necessita compreender as diferenças
Conti, C.; Silva, F. C. Conselho escolar: alguns pressupostos
e indicar formas mais democráticas de convivência.
teóricos. In: Luiz, M. C. (Org.). Conselho escolar: algu-
O reconhecimento da diversidade consiste no mas concepções e propostas de ação. São Paulo: Xamã,
rompimento com muitas práticas padronizadas e 2010. p. 59-70.
historicamente constituídas no ambiente escolar; Costa, M. V. Currículo e pedagogia em tempo de proliferação
desse modo, trata-se de algo sobremaneira traba- da diferença. In: Encontro Nacional de Didática e Prática
lhoso. O melhor caminho para o estabelecimento de Ensino, 14., 2008, Porto Alegre. Anais... Porto Alegre:
PUCRS, 2008.
do respeito às diferenças no contexto escolar são
o diálogo e a educação em direitos humanos, bus- Dias, A. A. A escola como espaço de socialização da cultura
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jan/2017
Anotações:
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Planejamento
estratégico
MURICI, Izabela Lanna; CHAVES, Neuza Maria Dias. Gestão para
resultados na educação. 2 ed. São Paulo: FALCONI Editora, 2016.
O conhecimento sobre os problemas da educa-
Resenha elaborada por ção não é novo e nos últimos anos tem vindo à tona
Marcia Regina Vital com mais frequência a cada vez que os resul-
Doutora em Psicologia Escolar e tados das avaliações são divulgados, deixando
Desenvolvimento Humano sempre uma pergunta: por que as melhorias ainda
Mestre em Distúrbios do Desenvolvimento são tímidas, esparsas e tão distantes dos países
Graduada em Administração de Empresas desenvolvidos?
O problema crônico do baixo desempenho não
se resolve com boa vontade, discursos indignados
e ações isoladas. Tal problema poderia ser revertido
por meio de uma política nacional abrangente e
com uma gestão sistematizada.
A educação é um patrimônio de riqueza in-
calculável, que impacta gerações e repercute por
décadas na saúde, na política, na segurança, na
economia e na qualidade de vida de um povo. Para
que a educação não seja um tesouro que a cada dia
fica mais soterrado, é urgente deter o discurso e ir
para a ação, agindo de forma organizada sobre as
causas e utilizando o método de gestão em todos
os seus níveis.
Planejamento estratégico
e resultados.
As responsabilidades e atribuições têm por
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objetivo contribuir para uma visão sistêmica do
jan/2017 segmento educacional, destacando as responsa-
bilidades e atribuições de cada elo, mostrando a modeladores dos padrões de comportamento de
inter-relação entre eles, de forma que todos estejam todas as pessoas envolvidas com a função da edu-
focados no aluno. Em síntese, todos os elos, ao cação. São os valores que referenciam as decisões
cumprir as suas responsabilidades, agregam valor e as escolhas. A gestão começa pelos valores e se
à cadeia e desempenham sua função até chegar ao sustenta neles.
aluno. Resultados de qualidade são obtidos quando Para que a escola pratique os valores em todos
cada parte do sistema exerce sua função, ou seja, os seus momentos e consiga que os alunos os
cumpre suas atribuições por meio da execução de levem para fora da sala de aula, é preciso que eles
processos e atividades que agreguem valor. os entendam profundamente e saibam como se
Com relação aos fatores críticos. a pergunta é: aplicam nas suas vidas.
por que algumas escolas que existem no mesmo Em relação ao conhecimento técnico, refere-se
meio de desigualdades social e submetidas às aos conhecimentos específicos que o profissional
mesmas influências socioeconômicas conseguem de vê ter para exercer determinada função. Nas
ter um desempenho superior? escolas diz respeito aos conteúdos das disciplinas,
Várias são as causas quando o problema é dinâmica de aula, planejamento, avaliação, orien-
complexo, mas três fatores críticos têm influência tação pedagógica, processos administrativos, entre
determinante sobre o sucesso dos resultados: outros. É esse conhecimento que permite que a
liderança, conhecimento técnico dos processos e rotina se realize. Os gestores devem dominar desde
método de gestão. Qualquer que seja a organiza- o currículo básico até o processo de prestação de
ção, a liderança é o principal deles. contas, ou seja, as atribuições da sua função.
A liderança na área educacional tem a função Para resolver os problemas da educação, melho-
de obter resultados por meio das pessoas e com rando os resultados e sustentando-os para obter
base em valores. São líderes aos secretários da edu- novos patamares, não bastam boas intenções. É
cação, os gestores regionais, diretores de escolas, preciso método, sendo que método é o caminho
os coordenadores, os professores e todos aqueles para atingir a meta.
que têm a responsabilidade de mobilizar pessoas A gestão da educação requer conhecimento e
Planejamento estratégico
para produzir os resultados de uma educação de domínio do sistema escolar. Segundo o biólogo
qualidade. austríaco Bertalanffy, sistema é um conjunto de
As necessidades atuais da sociedade exigem uma partes interligadas e interdependentes com obje-
liderança que transcenda a tradicional competên- tivo comum para cumprir determinada função.
cia administrativa e passe pelo conhecimento no A função de um sistema de gestão é entregar
método de gestão, pela atitude com a equipe, pelo resultados.
exemplo de coerência entre discurso e ação e nos Considerando esse conceito, o sistema de
valores demonstrados. gestão da educação tem como função melhorar e
Para desenvolver estas competências nos líderes manter resultados educacionais a partir das metas
da rede, pode ser estruturado um programa de definidas. Tomando como referência a rede edu-
formação de líderes. Sugere-se que esse programa cacional, o sistema de gestão pode ser entendido
trabalhe as dimensões da liderança de uma forma em 3 dimensões, organizadas no tempo:
prática e de fácil aplicabilidade. Dimensão plurianual da gestão: essa dimen-
Tem-se observado uma grande melhoria nos são representa o direcionamento de melhoria
resultados e no ambiente das escolas, quando a do sistema, focando os esforços e os recursos
direção exerce a liderança, deixando claras as metas, no aprendizado efetivo do aluno, reduzindo o
apoiando os professores e cobrando firmemente os grau de incerteza e ampliando as chances de
resultados. A melhoria no nível de liderança é rele-
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Planejamento estratégico
4) Moral: diz respeito à satisfação das pessoas desempenho e se comprometam com os resultados.
na realização das suas funções. A análise do fenômeno tem por conceito a
5) Segurança: diz respeito às condições do análise do fenômeno consiste na avaliação das
ambiente que podem gerar preocupação na comu- características do problema (resultado) e seu
nidade escolar e desfocar sua atenção dos objetivos desdobramento em problemas menores e mais
do ensino. fáceis de serem atacados, convergindo os esforços
b) Analisar os dados do problema: a análise dos para a melhoria do resultado. O objetivo é gerar
dados de um problema tem como objetivo promo- conhecimento sobre as características do problema
ver um entendimento amplo do resultado que se para direcionar a análise das causas naquelas com
quer melhorar. Para isso, são realizadas avaliações maior impacto no resultado.
do histórico (comportamento ao longo do tempo) Alguns passos são necessários para analisar
e comparações com bons resultados (benchmark). o fenômeno: levantar dados e fatos disponíveis
Benchmarking é o processo de identificação/com- sobre o problema; estratificar os dados por nível
paração com melhores resultados e práticas que, de ensino, ano de ensino, disciplina, entre outros,
após analisados e adaptados, conduzirão a um de- tentando identificar aspectos específicos do proble-
sempenho superior. A identificação de benchmarks ma; priorizar o problema (problemas menores de
(referências) auxilia na identificação de lacunas e maior impacto) para realizar a análise de processo
definição das metas. Lacuna é a diferença entre o (identificar causas do problema).
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mentais das pessoas que atuam no processo, po- zadas no tempo e atribuídas aos responsáveis por
dendo ser o diretor, o orientador, o professor, etc. fazê-las acontecer conforme previsto. Sua efetivi-
Método: maneira como é realizado o trabalho. dade depende da qualidade da análise e de uma
Diz respeito aos procedimentos utilizados nos liderança forte na execução e no monitoramento
diversos processos da escola, garantindo que as das ações.
funções sejam adequadamente cumpridas pelos O plano de ação tem por objetivo eliminar
responsáveis. as causas que foram priorizadas na análise do
Materiais: são os materiais didáticos e todos processo ou guiar a condução de um projeto ou
aqueles utilizados para dar suporte ao ensino. um programa da escola. Qualquer que seja o ins-
trumento, a função é viabilizar as metas da escola.
Meio ambiente: condições ambientais tais como
iluminação, layout do ambiente, temperatura e A técnica utilizada para fazer o plano de ação é
outras que influenciam o aprendizado. o 5W2H (O quê, Quem, Quando, Onde, Por que,
Como, Quanto custa a ação). Recomendamos que,
Equipamentos: são os dispositivos utilizados
antes de preencher o instrumento, seja feita uma
como suporte às aulas e necessários para o
revisão das causas priorizadas deixando-as visíveis,
funcionamento adequado da escola.
para que todos se atenham ao foco.
Medidas: referem-se às mensurações que devem
Para aprovar o plano de ação, recomenda-se que
ser feitas para sinalizar que os processos estão
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Planejamento estratégico
A implementação das ações é o que possibilita direção, coordenação e/ou funcionários).
à escola alcançar as metas estabelecidas. Caso elas As ações corretivas a partir de desvios de resul-
não sejam implementadas no tempo planejado, tado consistem no tratamento do desvio negativo
haverá desperdício de tempo e conhecimento de resultado frente a meta (resultado abaixo da
dos profissionais da escola no planejamento de meta). A cada bimestre e ao final do ano, a escola
melhoria. deve analisar seus resultados frente as metas, identi-
A verificação dos resultados é realizada nos ficando possíveis desvios para ações corretivas. Para
indicadores finalísticos, por exemplo, aprovação assegurar a efetividade das ações corretivas adotadas
(rendimento na etapa) e potencial abandono. Na em função da análise do desvio negativo, é preciso
análise dos resultados é feita a verificação da efe- que elas sejam incorporadas ao plano de ação.
tividade das ações propostas nos planos. O PDCA é um método dinâmico, que inicia
Uma vez que as ações do plano foram efetivas, com um problema e, ao solucioná-lo, já se deve
e o resultado foi satisfatório, é necessário tomar a ter em vista uma nova melhoria. A filosofia que
decisão de padronizar as ações, transformando-as o sustenta é denominada de melhoria contínua,
em procedimentos da escola. A padronização con- devido a essas interações entre os seus ciclos.
siste no processo de estabelecer, utilizar e avaliar A sigla SDCA significa originalmente Standard
padrões quanto ao seu cumprimento, adequação (padrão), Do (executar conforme o padrão), Check
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procedimentos (meios) para execução dos trabalhos plina, precisa ter uma atuação sistêmica atuando
de tal maneira que cada um tenha condições de para o melhor resultado global da escola. Como o
assumir a responsabilidade pelos resultados do seu resultado acontece na sala de aula, além do conhe-
trabalho. Assim sendo, o padrão é o planejamento cimento técnico, os professores precisam utilizar as
do trabalho a ser executado por cada responsável. técnicas de gestão aqui apresentadas para auxiliá-los
A etapa de desenvolvimento inclui a divulgação a monitorar e interferir quando necessário no pro-
dos padrões e a formação dos responsáveis, sua cesso sob sua responsabilidade. É no dia a dia que o
execução e gerenciamento. Elaborados os padrões, professor consegue verificar as várias situações que
é preciso divulgá-los e habilitar os responsáveis podem afetar negativamente os resultados.
para sua correta realização. Para que uma pessoa Para a gestão do ambiente da escola é preciso
responda pelo bom resultado de uma atividade formar os hábitos de todos da escola para evitar o
crítica, é necessário conhecer, entender e saber desperdício dos recursos e fazer com que eles sejam
aplicar o padrão a ela relacionado. Um padrão só alocados de forma efetiva. Quando a escola assume
cumprirá sua função se os responsáveis pelas ati- o seu ambiente, ela consegue desenvolver nos alunos
vidades críticas dos processos o utilizarem como o sentimento de inclusão, a vontade de tomar conta
orientação do trabalho. da escola e permanecer nela. A gestão do ambiente
No que se refere à gestão dos padrões tem o costuma receber o nome de Programa 5S ou 5 Sensos.
objetivo de garantir que os compromissos assumi- Embora esse programa seja amplamente utilizado,
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dos sejam respeitados por todos e, assim, a escola ele será aqui detalhado de forma direcionada para a
possa funcionar de forma estável, evitando o gasto escola e apresentado em 5 sensos: utilização, orde-
114 de tempo com solução de problemas recorrentes. nação, limpeza, saúde/padronização e autodisciplina.
jan/2017 114 Na etapa de verificação, os resultados dos indi- O 5S tem algumas premissas que devem ser
observadas para a sua implantação. Quanto mais humanos, financeiros, tempo, entre outros). Para isso,
aderente o programa às premissas maiores os resul- todos os envolvidos com a escola devem ser formados
tados. Premissas para implantação do Programa 5S: para saber aplicá-lo, conforme a sua utilidade.
Deve ser prático: não acontece por discurso; é 2º. Senso de Ordenação: é a definição de um
preciso fazer. local para todos os itens que foram considerados
Tem que ser simples de forma que todos possam úteis, definindo critérios para serem acessados e re-
entender como praticá-lo e assim proceder. postos facilmente. O princípio que o define é “um
lugar para cada coisa e cada coisa em seu lugar”.
Tem que ser praticado por todos: o envolvimen-
to e comprometimento de todos é vital para o 3º. Senso de Limpeza: significa promover a
sucesso do programa. educação para limpar e manter limpos o ambiente e
os objetos necessários ao funcionamento da escola.
Tem que ter o patrocínio do (a) diretor (a) da
É preciso praticar esse senso e ensinar os alunos
escola.
a gostar do ambiente, aprendendo a não sujar e a
Tem que ser envolvente – as pessoas participam evitar as fontes de sujeira.
por adesão, e não por obrigação.
4º. Senso de Saúde/Padronização: esse senso
Determinação: o entusiasmo é rápido, mas a contempla a saúde física, mental e social. Também
falta dele também. exige a prática constante dos 3 primeiros sensos.
Deve ser conduzido por pessoas persistentes Os novos hábitos poderão ser consolidados por
até se tornar um hábito. meio da padronização.
O programa é simples, mas deve ser praticado 5º. Senso de Autodisciplina: é considerado o
com método. Para implementar o Programa 5S hábito que foi formado a partir da repetição disci-
na escola com sucesso, é importante preparar um plinada dos demais sensos. Caracteriza-se também
grupo que liderará a sua implementação. Principais pelo exercício da melhoria contínua praticado de
atividades dessa etapa: Criar um grupo repre- forma participativa.
sentativo de alunos, pais, equipe diretiva, professo- A partir da avaliação inicial e da elaboração do
res e funcionários para implementar o programa; plano de implementação do programa, sugerimos
Planejamento estratégico
Estudar com o grupo os conceitos básicos do que sejam realizadas avaliações intermediárias (ex.:
programa (5 sensos e ferramentas); Planejar todas bimestrais) para que seja analisado o avanço do
as etapas do programa e apresentar para a direção, resultado (atendimento às evidências do padrão
selecionando as 3 pessoas que farão os diagnósticos ambiental do Programa 5S), a execução das ações
periódicos do ambiente (avaliações). propostas e definição de novas ações no caso de
Realizar a 1ª avaliação do ambiente (diagnós- um item não ter melhorado com o plano de ação.
tico): é nesta etapa que a situação atual da escola Conforme abordado anteriormente, a gestão
é identificada por meio de uma avaliação dos di- para resultados deve contemplar o PDCA – gestão
versos ambientes da escola segundo os 5 sensos e para melhorias e o SDCA – gestão das rotinas, que
orientações da rede. O primeiro passo é elaborar a mantêm o bom funcionamento da escola.
ferramenta de avaliação. Após a conclusão da avalia- Uma das dimensões de resultado da escola
ção pelo grupo, a equipe de implementação deverá é o nível de satisfação das necessidades dos en-
consolidar os resultados, identificando o patamar de volvidos (moral). Pessoas satisfeitas produzem e
atendimento às evidências que a escola se encontra. mantêm melhores resultados. Para isso, os fatores
Elaborar plano de implantação do programa: motivacionais devem ser medidos e gerenciados
o plano de implantação deve conter ações de co- sistematicamente.
municação/divulgação/reforço do programa e con- Para a gestão do clima temos adotado como
ceitos para a escola, bem como ações de melhoria
Nº 10 • Abril/99
desvios;
reduzir o grau de risco de insucesso de um projeto
ou alguma melhoria que se queira implementar. Realizar acompanhamento das ações dos pla-
O objetivo é identificar as barreiras do ambiente e nos de ação (comunicação, fatores restritivos e
elaborar estratégias para facilitar a implementação impulsionadores e de treinamento);
da mudança proposta, comprometendo efetiva- Avaliar percepção dos envolvidos em relação ao
mente as pessoas para obter resultados duradouros desenvolvimento da mudança.
e integrá-los ao sistema de gestão da escola e/ou Institucionalização:
Secretaria da Educação. Etapas importantes para Reconhecer conquistas parciais e finais obtidas;
a gestão da mudança na escola:
Definir novos padrões operacionais;
Diagnóstico da situação atual e definição da
Elaborar plano de capacitação nos novos pa-
mudança a ser implementada:
drões;
Definir claramente o tipo de mudança que será
Definir a sistemática de diagnóstico de cumpri-
implementada;
mento dos padrões (cronograma, instrumentos,
Definir equipe de implementação da mudança etc.).
(coordenação do processo);
Com uma boa gestão na escola, os resultados
Preparar a equipe envolvida por meio de Team são medidos, suas causas analisadas, e ações correti-
Building (formação de equipe: atribuições,
Nº 10 • Abril/99
Planejamento estratégico
escola e sobre os quais nem sempre o gestor tem
autonomia para a aplicação.
Que o gestor tem que ter liderança é sabido
por todos, mas só isso não basta para que a escola
cumpra a sua missão de ensinar. Para atingir este
objetivo se faz necessário pôr a disposição dos
gestores e sua equipe um conjunto de ferramentas
gerenciais que permitam dirigir a escola de for-
ma estruturada. Quais são estas ferramentas? O
texto com base na TEO (Tecnologia Empresarial
Odebrecht) aponta caminhos para a organização
escolar para se obter resultados positivos. A TEO
serviu de matriz para a elaboração da TESE (Tec-
nologia Empresarial Sócioeducacional) que foi
desenhada para levar os conceitos gerenciais para
o ambiente escolar e permitir ao Gestor atingir os
seus objetivos de maneira estruturada e previsível.
Nº 10 • Abril/99
Planejamento estratégico
o avanço da educação e cultura do seu entorno,
Indicadores envolver-se em projetos de inclusão social e prestar
Estratégias maior colaboração à formação moral da sociedade
Macroestrutura em que está inserido.
Papéis e Responsabilidades Indicadores: devem ser claros, objetivos e
Premissas: As premissas são pontos de partida mensuráveis.
para se chegar a uma conclusão. Se as premissas Estratégias: “A arte de aplicar os meios dis-
são falsas, mesmo que o raciocínio seja correto, a poníveis com vista à consecução de objetivos
conclusão ou resultado tende a ser falso, incorreto, específicos”.
inesperado. Macroestrutura: Não é um organograma ho-
Na elaboração das premissas deve-se observar o rizontal. Abrange os parceiros internos e externos,
protagonismo Juvenil – jovem personagem prin- a comunidade e os investidores representados pelo
cipal de uma atividade ou projeto voltado para a Conselho Gestor que, entre outras atribuições, têm
solução de problemas reais. a responsabilidade de re-ratificar o Plano de Ação.
Formação Continuada: Diante da complexida- Papéis e Responsabilidades: Com a definição
de do papel do professor e da velocidade com que de papéis e responsabilidades, cria-se um ambiente
as inovações acontecem, os professores necessitam colaborativo com menos gargalos para a execução
familiarizar-se com os avanços da tecnologia da de tarefas.
Nº 10 • Abril/99
informação e comunicação, aprender o que ensinar Todos estas etapas já foram aplicadas no Cen-
e como ensinar. tro de Ensino de Tempo Integral de Pernambuco
119
119
Atitude Empresarial – a escola deve pensar e, segundo o autor, os resultados foram bons e a
como uma empresa. escola, como projeto-piloto, pode ser referência jan/2017
para outras unidades e caminhos para a formação Enfoque
do Jovem do Ensino Médio. Posturas
Alinhamento
Módulo III:
Diretrizes
A operacionalização
Resultados Pactuados ou Combinados
Programa de Ação: Gestor e demais educado-
Organização e Comunicação
res elaboram seus Programas de Ação detalhando
as ações a ser desenvolvidas pelos docentes e não Orçamento
docentes. Fatores Críticos X Apoio
O Plano de Ação segue o seguinte roteiro: Substitutos
Introdução Execução, acompanhamento e avaliação:
Definição do Negócio Relatório – deve ser o mais sucinto possível.
Filosofia para Condução do Negócio Exemplos podem ser visto na escola que esta
Domínio proposta foi implantada.
gestor
Mestra em História e Filosofia da Educação
As grandes e contínuas transformações sociais,
Licenciada em Pedagogia
científicas e tecnológicas passaram a exigir um
novo modelo de escola e, consequentemente, um
novo perfil de dirigente com formação e conhe-
cimentos específicos para o cargo e a função de
diretor-gestor.
Não se trata apenas de uma questão semântica,
mas uma mudança radical de postura, um novo
enforque de organização, um novo paradigma de
encaminhamento das questões escolares, ancorado
nos princípios de participação, de autonomia, de
autocontrole e de responsabilidade.
Assim como a essência da gestão é fazer a institui-
ção operar com eficiência, a eficácia da gestão depende
em grande parte do exercício efetivo da liderança.
O diretor-gestor imprime em suas ações, espe-
cialmente nas reuniões que coordena, Três carac-
Nº 10 • Abril/99
Planejamento estratégico
revisto a cada ano e reformulado naquilo que for
sáveis ao bom desempenho da instituição.
necessário. Dessa forma, garante-se a identidade
da instituição e a sua conexão com a realidade da
comunidade a que serve, pois a tradição que não CAPÍTULO I: GESTÃO ESCOLAR:
é renovada morre por si mesma. UM GUIA DO DIRETOR EM DEZ
Para melhor organizar o seu trabalho e a sua LIÇÕES
escola, a direção pode começar agrupando e PEDRO FARIA BORGES
classificando os desafios nas três dimensões que,
LIÇÃO 1: A ESCOLA COMO SISTEMA
entrelaçadas, constituem o espaço escolar:
A direção de uma escola, por menor que esta
1. Dimensão administrativa e humana.
seja, não é uma função apenas pedagógica. Tanto o
2. Dimensão sociopolítica e cultural. professor quanto o diretor têm uma função admi-
3. Dimensão pedagógica. nistrativa muito importante, mas, enquanto aquele
Uma boa estratégia para renovar a escola pode administra a sala de aula, este se responsabiliza
ser a organização de TIMES ou GRUPOS DE pela escola como um todo. O diretor é professor
TRABALHO (GT) temporários, para repensar a de professores, ele cuida de um sistema bem mais
escola, em tarefas determinadas como por exem- complexo, com vários subsistemas –partes inter-
plo: levantar as necessidades de manutenção e -relacionadas que constituem a escola.
atualização do patrimônio escolar.
Nº 10 • Abril/99
Planejamento estratégico
A capacidade de planejar o seu futuro, definindo cunho social.
as suas metas, organizando sistematicamente os manutenção e expansão de serviços: identifi-
recursos e os esforços necessários para realizá-las e car as oportunidades de expansão de serviços,
medindo os resultados em confronto com as expec- capitalizando sobre competências, necessidades
tativas é uma estratégia que nenhuma escola pode e espaços.
ignorar ou desprezar, sem correr o risco de perder
o rumo e não ter futuro. A falta de um projeto EVENTOS NA ESCOLA – POR QUE
dificulta e, às vezes até impede o crescimento de REALIZAR EVENTOS?
uma escola. Uma organização sem visão de futuro Celebrar é um verbo que se conjuga em todas as
perde tempo, energia e dinheiro. culturas. Celebrar é uma atividade humana. A cele-
Uma organização precisa deixar claros os se- bração de eventos, além de satisfazer uma necessidade
guintes pontos: Qual é o seu propósito, qual é a humana, oferece a escola oportunidades preciosas.
sua finalidade ou a sua missão, qual a sua visão, os Não é suficiente gastar tempo fazendo eventos;
seus sonhos e quais as estratégias que utilizará para é necessário que também se gastem tempo para
realizar os seus ideais e dar conta de seus propósitos. definir o que fazer. Essa definição deve considerar
Dar rumo à escola é a maior responsabilidade o potencial educativo de cada atividade. Os ganhos
do diretor. Essa responsabilidade pode ser com- educativos é que devem nortear as escolhas, os
demais ganhos devem ser subprodutos.
Nº 10 • Abril/99
Planejamento estratégico
sinergia e melhorando os resultados.
Dar sustentação ao trabalho de realização dos UM DIA DA SEMANA, UM HORÁRIO. As
objetivos da escola. reuniões de rotina devem ser realizadas sempre
num mesmo local, num mesmo dia da semana ou
Propiciar embasamento teórico para as mudan-
do mês e num mesmo horário.
ças necessárias nos processos de aprendizagem
e de ensino.
RELAÇÕES
Sistematizar o processo de educação e treina-
mento na escola, tornando-o relevante e efetivo LIÇÃO 8: A ALIANÇA
para as pessoas e para a instituição. COM O PROFESSOR
As escolas que querem ser reconhecidas como Qualquer realização, numa escola, depende da
referência para as demais, pela excelência do seu contribuição das pessoas; na maioria das vezes,
trabalho educacional, precisam ter um processo depende da participação do professor.
sistemático de educação e treinamento, precisam O conhecimento é a moeda mais importante
abrir espaço para que seus professores e funcioná- da atualidade, e o educador é o banqueiro dessa
rios possam conversar, possam aprender em grupo. moeda.
Não se pode esperar que haja aprendizado É preciso assegurar qualidade de vida ao profes-
em grupo, se os participantes de uma equipe sor, e isto tem a ver com salário digno, ambiente
não conhecem nem mesmo as técnicas dos
Nº 10 • Abril/99
transformado. A sua autoridade decorre não do enfrente com sucesso as dificuldades, os problemas
cargo que ocupa ou da função que exerce, mas de do dia a dia. O diretor, neste momento, deve ter as
sua postura pessoal. Quanto menor o poder de características de um empresário: criar esperança e
coação das instituições, maior deve ser o poder gerar estímulo no grupo.
pessoal daqueles que as representam. Cada etapa de desenvolvimento de uma escola
A escola hoje tem necessidade de falar menos tem exigências específicas, e o bom diretor em uma
e ouvir mais. Precisa ser menos presunçosa, mais fase pode ser o diretor incompetente de uma outra.
humilde, aprender também, e não apenas ensinar. O diretor é o maior responsável pelos resulta-
Democratizar as relações e o caminho. dos da escola. Ele deve ter olhos para o todo da
Os ambientes democráticos favorecem (não instituição; não pode estar o tempo todo olhan-
garantem) a unidade, pois consideram-se as con- do para o próprio umbigo. Ele deve conhecer as
tribuições singulares, trabalham-se os conflitos, características dos seus subordinados e ter lucidez
valoriza-se a participação, busca-se o consenso. para definir as prioridades.
Na parceria se estabelece uma relação entre Os resultados de uma organização são obtidos
iguais, entre pares. Havendo subordinação, sub- por meio de processos executados por pessoas.
missão, é impossível falar de parceria. A palavra processo é a chave para a mudança.
A experiência mostra que as escolas que estão O processo de mudança é complexo. O conheci-
Nº 10 • Abril/99
melhorando são aquelas em que há uma partici- mento, apesar de necessário, não é suficiente para
pação efetiva dos pais, apoiando, cobrando nas mudar uma pessoa. Na escola, as mudanças mais
horas certas e de maneira competente, assumindo significativas são sempre aquelas que decorrem da
126
126
responsabilidades e reconhecendo e aplaudindo mudança de pensar das pessoas, principalmente
jan/2017 os acertos. dos professores.
As dificuldades existem, e ignorá-las é dificultar plenitude como pessoa, propuseram e delinearam
ainda mais qualquer processo de mudança. Um quatro pilares do conhecimento que devem orien-
líder precisa ser construtivo, paciente, buscar a tar a educação do presente, são eles:
participação de todos, evitar surpresas, trabalhar I. Aprender a ser
com as lideranças informais, estabelecer nexos en- II. Aprender a aprender (ou conhecer)
tre o que está sendo feito e o que deverá ser feito
III. Aprender a fazer
e tratar as pessoas com dignidade.
IV. Aprender a conviver
O diretor é responsável por indicar por quê,
onde, quando e como as energias devem ser gastas. Os profissionais da escola, de modo geral, já
Em muitas escolas, há desperdício de recursos e conhecem esses pilares da educação. Agora as dis-
gastos desnecessários de energia, porque não existe cussões e a prática devem conduzir a sua inserção
foco para as ações. e ao seu dimensionamento na sala de aula, no dia
a dia da escola, associando-o às Diretrizes e aos
As metas da escola, a sua situação específica no
Parâmetros Curriculares.
momento e a disponibilidade de recurso são os
parâmetros para a definição de prioridades. APRENDER A SER
Ser como? Ser feliz, ser sensível, ser cidadão,
CAPÍTULO II: LEI DE DIRETRIZES E ser sonhadora, ser completo…
BASES NO COTIDIANO ESCOLAR É angustiante observar como as escolas de edu-
ALBERTINA MARIA ROCHA SALAZAR cação básica, de modo geral, ignoram totalmente
Este trabalho nasceu da sistematização, da refle- as diferenças entre os alunos. E o aluno não é
xão e da organização de atividades desenvolvidas identificado, não é visto, não é conhecido.
ao longo dos últimos anos em escolas públicas e Na LDB, art. 26, ao tratar das propostas cur-
privadas, em Secretarias Municipais de Educação, riculares dos ensino fundamental e médio, ficou
em debates e análises sobre a educação brasileira definido que elas devem te uma Base Nacional
e a lei que estabeleceu suas diretrizes e bases em Comum, complementada pelos sistemas de ensi-
1996, a Lei Federal nº 9394/96. no e, por uma parte diversificada, para cobrir as
Planejamento estratégico
características regionais e locais, da sociedade, da
DIRETRIZES, PARÂMETROS E PILARES DA cultura, da economia e da clientela. Posteriormen-
EDUCAÇÃO: OPERACIONALIZADOS NAS te, nos pareceres delimitados das Diretrizes Cur-
SALAS DE AULA riculares Nacionais (DCN), o Conselho Nacional
A LDB contém normas gerais, de âmbito nacio- de Educação explicitou que a parte diversificada
nal, revestindo-se de características de flexibilidade poderia ter até 25% da carga horária anual ou total,
e garantindo aos sistemas de ensino espaço para de cada período letivo, 200 horas anuais ou 600
exercitarem a sua autonomia como sistemas. Essa au- horas pelo curso ou grau.
tonomia também garante às escolas ampla liberdade Aí está a grande oportunidade de proporcionar
para definirem seus projetos político-pedagógicos. aos jovens e crianças ocasiões de descoberta, de
As mudanças dependem muito mais da von- identificação, de experimentação e do atendimento
tade, do querer e do agir do educador, do que da aos seus dons especiais.
força da Lei, mesmo sendo de Diretrizes e Bases. O limiar deste novo século indica claramente
O sentido da educação não se altera por decreto. que a sociedade precisará e muito da diversidade
A retomada diária, com os educadores, do teor dos de talentos e de personalidades. Portanto, não dá
documentos da Unesco, dos quais o Brasil é signatá- mais para a escola fingir que essa tarefa não é sua e
rio, definidos nas últimas décadas, sobre a educação de que os alunos são iguais quando uniformizados.
para o século XXI, ajuda, sem dúvida, todos os en-
Nº 10 • Abril/99
Planejamento estratégico
sociedade que se busca. Definidas essas que o grupo assuma o projeto como seu.
crenças, têm-se o perfil institucional,
explicitam-se a visão e o seu compromisso. ROMPENDO RESISTÊNCIAS: TODA A
ESCOLA COMO OBJETO DE ANÁLISE E
2.3 Contexto Operacional – é a parte que
DE AVALIAÇÃO
representa a tomada de posições, com o
desencadear do processo de operacionali- A avaliação é o tema mais abordado pelos edu-
zação sempre seguido de reflexão. Deve-se cadores nas últimas décadas. Muito questionada
prever metodologia de trabalho com ação por pais, professores, alunos e educadores, ela
individual, grupo com cinco a sete elemen- permanece reforçada pelos próprios envolvidos. A
tos e plenário. avaliação classificatória é tida como a forma de se
obter e de garantir um ensino de qualidade. Apesar
3. Programação – é a etapa que encerra o conjun-
de se reconhecerem os aspectos criticados, a escola
to de ações a serem executadas para diminuir
mantém o processo classificatório, por temer que
a distância entre o que foi diagnosticado e a
as famílias retirem os seus filhos, levando-os para
realidade pretendida.
instituições conservadoras e que apertam, vistas
3.1 Metas – as metas são traçadas e consti- como as que são competentes e que educam, que
tuem o resultado mais relevante que se promovem no vestibular.
espera alcançar.
PAIS, FAMÍLIAS, ESCOLA… E O PROCES-
Nº 10 • Abril/99
- Corpo docente
SO DE AVALIAÇÃO
- Corpo discente
Conteúdos novos, programas e métodos de
- Pais 129
129
ensinar, de alfabetização, ou teorias diferenciadas
- Comunidade ligadas ao construtivismo, confundem e assustam jan/2017
os pais. Contudo, o processo de avaliar é fami- em que se delimitam, de antemão, as competên-
liar, é conhecido e os deixa tranquilos, pois a sua cias que serão alcançadas a partir dos conteúdos
dinâmica ainda é a mesma dos últimos 20 anos, abordados no contexto de projetos.
em que na sua época era assim, quando eles ainda A avaliação formativa das competências fornece
eram alunos. à escola dados mais precisos sobre o que os alu-
Aos pais parece justo e válido o processo de sele- nos realmente sabem fazer, o que leva também a
ção e de classificação que a avaliação traz embutido, identificar os professores mais e menos eficientes.
uma vez que a vida, no século XXI, é cada vez mais Dentro dessa nova proposta, o aluno vivencia
competitiva e o mercado de trabalho mais e mais uma nova forma de aprender e de trabalhar. Na
seletivo, reservando espaço apenas para os bons. avaliação formativa, o aluno vai percebendo que
Assim, ao afastar-se do processo clássico e acei- o objetivo da análise efetuada é promover a sua
to: dia de prova, um aluno atrás do outro, turmas aprendizagem, inclusive mudando as estratégias e
separadas, aulas suspensas, semana de prova… as os meios. Daí ele poderá dizer que não sabe, pois
famílias se assustam. os professores buscarão corrigir as deficiências.
Junto com os demais temas, a avaliação será ob- Os trabalhos desde que sejam discutidos e
jeto de discussões temáticas, como parte das metas analisado em conjunto por alunos e professores,
a serem implementadas durante todo o tempo, nos são os melhores instrumentos para avaliar o de-
trabalhos, com os eixos básicos do projeto: pais, senvolvimento e a aprendizagem.
comunidade, equipe e alunos. Essas atividades devolvem ao professor a tarefa
de planejar, de fazer prospecções, de definir aonde
A SALA DE AULA, A AVALIACAO quer chegar, de estabelecer uma prática de ensi-
INDIVIDUALIZADA E FORMATIVA, nar e de avaliar, levando em conta as diferenças,
AS NOTAS respeitando-as e tratando-as como um estágio de
A avaliação é considerada formativa quando há desenvolvimento.
uma visão individualizada, quando ajuda o aluno a
aprender e a se desenvolver, quando há regulação e A AVALIAÇÃO NA LDB – DA AVALIAÇÃO
TRADICIONAL A UMA PRÁTICA DE
Planejamento estratégico
Planejamento estratégico
DESEMPENHO DA EQUIPE
NO ENSINO MÉDIO – MUDANÇAS DE Para os educadores, há uma necessidade que é
CONCEPÇÃO, DE ESTRUTURA E DE um desafio: implantar modelos de avaliação que
AVALIAÇÃO incluam os professores, a escola e o seu projeto,
No contexto da LDB, na busca de se oferecer introduzindo-se a participação coletiva dos envol-
aos jovens um ensino mais adequado ao mundo vidos, não só na discussão e na implementação,
do trabalho, é no ensino médio, última etapa da mas também, e principalmente, na avaliação do
educação básica, que são registradas as mais sig- trabalho contextualizado no projeto da escola.
nificativas mudanças de concepção. Um dos princípios básicos da avaliação é o da
O que se busca é um ensino médio bem dife- não- indiferença e sim o da inclusão no processo.
rente do que se tem visto ao longo das últimas Nesse sentido, os professores entenderão que a
décadas, definido pelo vestibular, até então a única avaliação só se reveste de valor se for usada para
e obrigatória forma de ingresso no nível superior. interferir na realidade, na busca dos resultados
A base dessa nova concepção é ter uma diversifi- desejados e definidos no projeto pedagógico da
cação no processo, para chegar a resultados comuns, escola do qual todos participam, sentindo-se res-
constituídos por um conjunto de conhecimentos, ponsáveis pelos resultados.
manifestos sob a forma de competências e habilidades, No projeto político-pedagógico também deve
indispensáveis, necessárias e minímas para todos os estar previamente decidido o que se espera da
Nº 10 • Abril/99
dora, com a intervenção do professor na busca da do aluno que teve a oportunidade de agir sobre o
aprendizagem. Cumulativa é usada no sentido de objeto da informação revestida de sentido, garante-
se registrar sempre a observação do desempenho -lhe o interesse e a afetividade e constituir-se-á em
do aluno, os seus avanços, a sua caminhada e as competências que se manifestam em habilidades,
suas dificuldades, e não o acúmulo de pontos, visíveis sob a forma do saber-fazer.
como é a prática comum. Ao desenvolver competências, não se deixa de
O atendimento às diferenças individuais e às transmitir conhecimentos – a quase totalidade das
capacidades do aluno e ao seu ritmo está legislado, ações humanas exige algum ou muitos conheci-
na observação do rendimento escolar, quando a mentos, para ser executada. Ações mais comple-
LDB trata de três possibilidades: xas e abstratas requerem mais conhecimentos e
De se acelerar os estudos, no caso de alunos
a constituição de competências, que exige mais
com atraso escolar. tempo, vem com novas posturas dos professores
De se avançar nos cursos e séries mediante
e da escola.
verificação do aprendizado. Competência é, portanto, a capacidade de mo-
De acontecer o aproveitamento de estudos
bilizar, de articular, de usar e de colocar em ação
concluídos com êxito. os conhecimentos necessários para o desempenho
eficiente e eficaz, conforme a situação escolar ou
CONTEÚDOS VERSUS COMPETÊNCIAS: de trabalho.
Nº 10 • Abril/99
Planejamento estratégico
organograma da escola para, depois, descrevê-lo e
papel da escola do século XXI, do terceiro milênio
colocá-lo no regimento sob o título: Organização
e da pessoa que lhe cabe formar.
Administrativa.
Como deverá ser a criança, o jovem e o profis-
Redigido e estruturado na forma de lei, o re-
sional egressos da escola brasileira, básica ou de
gimento escolar deverá responder com segurança,
ensino superior?
clareza e simplicidade, em cada artigo, que integra
as seções, as seguintes questões: Este perfil se encontra expresso como compe-
tências e habilidades e, como se verifica nos artigos
O que? Onde? Por quem? Por quê? Para que?
32 e 36 da LDB, o esperado e o necessário do
Como? Quando?
aluno egresso da educação básica são:
Os títulos seguintes abordam questões que vêm
ENSINO FUNDAMENTAL- competências
sendo formuladas, como as demais, de forma me-
esperadas:
cânica e destituída de sentido e que, se discutidos
com alunos e equipe são excelente oportunidade desenvolvimento da capacidade de aprender,
de se converter o regimento escolar em documento tendo como meios básicos o pleno domínio da
que expresse a alma da escola. São os aspectos refe- leitura, da escrita e do cálculo.
rentes aos direitos e deveres dos alunos e do pessoal Compreensão do ambiente natural e social, do
da instituição que constituirão novos títulos. sistema político, da tecnologia, das artes e dos
valores em que se fundamenta a sociedade.
Nº 10 • Abril/99
Diante das exigências trazidas pelas grandes A matéria prima são as pessoas (educandos),
transformações sociais e pela revolução da qualida- crenças, informações, valores, normas, conheci-
134
134
de nas empresas, o sistema educacional está sendo mento bruto, tecnologias, competências e habilida-
jan/2017 intensamente solicitado a também transformar-se. des exigidas pela sociedade, cultura e o mercado de
trabalho; esta matéria prima submetida a um pro- claramente que o produto pessoa educada seja
cesso por operadores ( e por operadores entende a dotado, no mínimo, dos seguintes atributos:
família, a escola e o aluno) gera um produto - este alta competência em leitura e escrita, capacidade
produto é a pessoa educada - o produto (pessoa) é de trabalhar o conhecimento, pensamento e
entregue ao cliente que é a própria sociedade por raciocínio estatístico, criatividade, habilidade
meio de um intermediário que é o mercado de de cálculo, senso crítico...
trabalho ( é por meio do trabalho que a pessoa se Clientes: usuário final (a sociedade além do pró-
torna efetivamente cidadão, como também passa prio indivíduo), intermediário (o mercado de
a ser um integrante útil e produtivo da sociedade). trabalho) e consertadores (em tese, é o mesmo
Um sistema produtivo centrado no cliente (=
que se vê acontecer a uma pessoa mal-educada:
sociedade) busca-se identificar onde houve problemas ao
Em qualquer tipo de sistema não se fabrica longo do processo e ela é encaminhada ao es-
um produto por fabricar, mas para atender as pecialista adequado).
necessidades e expectativas de alguém: o cliente. Em síntese, a sociedade só sobrevive com o
Sabe-se que hoje em dia os sistemas produtivos trabalho das pessoas. O sistema educacional fun-
mais efetivos são “centrados no cliente”. Já foi o ciona como um formador de bons quadros para a
tempo em que o cliente era “apenas um detalhe” sociedade (que é o usuário final do produto pessoa
ou “um estorvo”. Essa busca de transposição para educada). A formação de bons cidadãos nada mais
a área educacional dos elementos genéricos pro- é que uma forma de garantir a continuidade e a
posto pela Gestão de Qualidade oferece respostas melhoria permanente da sociedade, a partir da
claras para perguntas como: por que, para que e garantia que se passa a ter de que tais cidadãos são
para quem educar? capazes de produzirem um trabalho de qualidade,
Se for, efetivamente, um sistema produtivo seja qual for o aspecto.
como outro qualquer e se quiser “perpetuar-se nos Compreendendo o papel dos operadores
negócios”, o sistema educacional deverá estruturar- Na construção de pessoas educadas, cada um
-se no modelo centrado no cliente, ou seja, ter os dos operadores (família, escola, aluno) tem um
Planejamento estratégico
mesmos elementos e ser capaz de explicitá-los de papel singular e bem delimitado. Muitas vezes,
forma concreta e simples. É o que se faz a seguir: os papéis têm sido invertidos, o que compromete
Missão: dotar o indivíduo das condições neces-
a qualidade do produto que se deseja construir.
sárias para conquistar a sua realização pessoal Compreender bem os papéis e levar os demais
e profissional e garantir a sobrevivência e a operadores a sua compreensão é uma tarefa vital
melhoria contínua da sociedade, pelo forne- da liderança educacional.
cimento sistemático de pessoas educadas em No processo educacional, cabe ao operador da
nível excelente. família: dar ao educando educação informal; dar
Matéria Prima: pessoas, informações, crenças,
suporte econômico; dar suporte afetivo.
tecnologias, políticas, planos e estratégias (= No papel da escola, compete: propiciar ao edu-
dotar as pessoas de um instrumental consti- cando a educação formal, centrada em um ensino
tuído, primordialmente, de conhecimento e de qualidade; propiciar um ambiente favorável à
valores é a síntese do trabalho educacional). aprendizagem; conscientizar os demais operadores
Processo: processo educativo, operado conjun-
quanto aos seus papéis, apoiando-os na superação
tamente por família, escola e aluno, por meio de suas deficiências; complementar seletivamente
de metodologia(s) específica(s), com o suporte a educação familiar.
dos organismos sociais e da influência dos con- Cabe ao operador aluno: buscar a aprendizagem
dicionantes oficiais e culturais.
Nº 10 • Abril/99
Planejamento estratégico
dizagem -A (ACT): tente obstinadamente encontrar
É necessário reconhecer o estudo como um você mesmo respostas para as suas dúvidas; consul-
trabalho: o trabalho de preparar-se para o trabalho te livros e cadernos revisando o que foi ensinado;
e para a cidadania, que como todo e qualquer tra- solicite ao professor oportunidade de participar
balho deve ser feito com competência e responsa- de atividades de reforço; analise com a ajuda das
bilidade. É hora dos educadores e pais repensarem ferramentas da Gestão de Qualidade, os erros co-
a permissividade com que as crianças e os jovens metidos durante a etapa; reveja a matéria, sozinho
vêm sendo educados, nas últimas duas décadas. ou com ajuda, de modo a não levar dúvidas para
Não há sociedade que se sustente se as gerações a frente.
que vão ser responsáveis pela sua continuidade e Transformando famílias em co-operadores do
segurança se julgarem possuidoras apenas de direi- processo educacional
tos e se forem poupados, desnecessariamente, das Como envolver a família no processo educacio-
obrigações que deveriam assumir, por exemplo, na nal? Uma sugestão é patrocinar um seminário para
vida familiar e comunitária. pais de alunos, com duração aproximada de 10 ho-
Aprende-se que, na tarefa educacional, o aluno ras com um tema como “Educação de qualidade”.
deve ser a força de trabalho. Como convencê-lo Sugere-se, a seguir, uma sequência de informações
a assumir esse trabalhoso papel? Para que alguém que podem ser dadas aos pais nesta ocasião, com o
Nº 10 • Abril/99
se disponha a colocar energia em alguma tarefa é objetivo de dar-lhes uma visão mais adequada da
preciso que esteja mobilizado por um motivo que questão. Por exemplo, na 1ª parte apresentar con-
seja significativo para ele. É preciso transformar, ceitos relacionados a educação para o século XXI,
137
137
em síntese, desenvolver um trabalho que vise depois os conceitos básicos da Gestão da Quali-
basicamente a transformar o aluno num partici- dade e, por último, “compreendendo os papéis” jan/2017
dando ênfase tanto a discussão do significado do importante, mas nem de longe suficiente; e a
trabalho educacional quanto ao indelegável papel segunda, e a mais importante, sem dúvida, é o
que cada um dos operadores tem nele. “envolvimento de todos”.
Palavras Finais
É a mudança de paradigma quanto ao significa-
Sintonizar a escola com os novos tempos. do e as responsabilidades pelo trabalho educacional
O que será isto de fato? São duas coisas basi- que deve ser objeto das preocupações e dos esfor-
camente: a primeira é aplicar ao sistema edu- ços de todos os líderes educacionais, nos próximos
cacional as melhores práticas de administração, anos. O sonho é que um dia o estudante seja um
utilizadas por empresas vencedoras em todo o ser absolutamente ativo, que exija da família, da
mundo. Os princípios e as ferramentas da Ges- escola e se si mesmo que cada um desempenhe o
tão de Qualidade são um bom exemplo, muito seu papel no mais alto nível de qualidade.
Planejamento estratégico
cativas se mostram impermeáveis às modificações, com a comunidade em que está inserida;
limitando-se a reproduzir o modelo vigente de considera as diversas formas de um indivíduo se
sociedade; a preservar o patrimônio cultural e a desenvolver, concebendo o aprendizado como
preparar os estudantes para os níveis mais altos fruto de uma elaboração pessoal;
da pirâmide educacional, acreditando que a escola
desenvolve uma gestão baseada na horizonta-
constitui a única via de acesso ao conhecimento e
lidade e não na hierarquia.
de ascensão social (p.26).
Nessa concepção de escola, o professor deve
Entretanto, sustenta a pesquisadora, as de-
ser visto como um investigador, como alguém
mandas atuais se mostram incompatíveis com
que mobiliza energias, que é tão aprendiz quanto
esse direcionamento conservador e centralizado
seus alunos.
da administração, pois o que se observa hoje é
Nas páginas 35/36, a autora elenca dezessete
uma tendência à descentralização, à pulverização
atitudes esperadas dos agentes educacionais que
dos centros decisórios, refletindo um esforço de
estariam na liderança desse novo paradigma. Entre
agilizar as resoluções, aproximando-as dos locais
elas, podem ser citadas:
em que os fatos ocorrem.
a promoção de mudanças estruturais que flexi-
Para se adequarem à contemporaneidade, os
bilizem a unidade de ensino;
modos de gerir as unidades de ensino devem se
tornar mais flexíveis, mais compatíveis com as dife- a preocupação com a montagem de um currí-
Nº 10 • Abril/99
rentes situações, revelando, ao mesmo tempo, mais culo adequado às necessidades dos alunos;
autonomia das instituições e de seus participantes. o estímulo a uma aprendizagem ativa e à par-
ticipação em projetos; 139
139
Assim, os modos de viver, de interagir da so-
ciedade atual exigem outros tipos de habilidades a definição de uma política de ação que revele jan/2017
compromisso com os resultados do trabalho [...] é fundamental o desenvolvimento de
desenvolvido; uma consciência crítica coletiva dos gestores
a criação de conselhos consultivos que favore- educacionais em diferentes níveis, no sentido de
çam a participação da comunidade na escola; trabalharem juntos e de forma organizada para o
encaminhamento de novas e profundas mudanças
a execução de um projeto pedagógico elaborado
nas escolas e nos processos educativos que lhes
com a participação de todos os agentes envol-
competem. (p.37)
vidos na unidade escolar;
As poucas páginas do artigo de Alonso não
a constituição de parcerias com outras insti-
trazem, como se pode concluir, contribuições ino-
tuições;
vadoras aos profissionais que já atuam no campo
a realização de ações que visem captar recursos educacional. Reforça, entretanto, pontos que esses
que possibilitem a execução de propostas. mesmos profissionais devem ter sempre presentes
Myrtes Alonso conclui a exposição de suas se quiserem desenvolver um trabalho de qualidade,
ideias afirmando que: no mínimo, mediana.
Planejamento estratégico
Nº 10 • Abril/99
140
jan/2017 140
Foco em
qualidade e
resultados
CASTRO, Maria Helena Guimarães de. Sistemas nacionais
de avaliação e de informações educacionais. São Paulo em
Perspectiva, São Paulo, v. 14, n. 1, p. 121-128, 2000. Disponível em:
\< http://www.scielo.br/pdf/spp/v14n1/9809.pdf\
I Professora do Departamento de Ciência Polí-
Resenha elaborada por Vanda tica da UNICAMP, Maria Helena G. de Castro era
Bartalini Baruffaldi também, na época em que esse artigo foi publicado
Doutora em Linguística e Semiótica pela (2.000), a presidente do Instituto Nacional de Pesqui-
Universidade de São Paulo. sas Educacionais, o INEP. Esta última circunstância
Professora das Faculdades Integradas Campos colaborou para que o trabalho em análise apresentasse
Salles. o perfil que possui: o reflexo da voz oficial.
Coordenadora de cursos de graduação e pós- Para justificar seu papel de agente de órgão do
graduação em Letras. governo, Castro enfatiza a importância que tem
a implantação de reformas educacionais em
um país federativo, cujos sistemas de ensino
caracterizam-se por extrema descentrali-
zação político-institucional como o Brasil
(p.121).
Foco em qualidade e resultados
Considerações finais
Nº 10 • Abril/99
Duas correntes:
1. meritocrática ou para controle voltada para
a identificação de mérito. É usada para estabelecer
a classificações, rankings. Ex: Exame Nacional de
Ensino Médio (ENEM).
2. para transformação e aperfeiçoamento –
considerada um instrumento para construir uma
escola e um sistema de ensino com qualidade.
Pode se tornar um instrumento para aprimorar a
gestão pedagógica e administrativa da escola dos
sistemas educacionais.
Princípios básicos
Avaliação institucional é um processo global,
contínuo e sistemático, competente e legítimo,
participativo que pode envolver agentes internos
e externos na formulação de subsídios para a me-
lhoria de qualidade da instituição escolar.
Participação – não se dá num dado momento
Nº 10 • Abril/99
O SISTEMA NACIONAL DE
AVALIAÇÃO DE EDUCAÇÃO
BÁSICA – SAEB
O tópico em tela trata, de início, da adoção da
metodologia de avaliação denominada Teoria de
Resposta ao Item – TRI, que permitiu a obtenção
Nº 10 • Abril/99
8ª série e 13% dos alunos da 3ª série do EM ainda tantos problemas, verifica-se, principalmente, mau
não estão no nível adequado para a 4ª série. Na 8ª ensino e má qualidade do professor.
série, o porcentual de alunos no nível recomendado
(275) é de cerca de 20%, enquanto a 3ª série do MOVIMENTAÇÃO
EM apenas 24,5% estão no nível 300. E FLUXO ESCOLAR
Em Matemática, o quadro de desempenho dos Inicialmente, é realizada a seguinte indagação
alunos é pior, pois na 4ª série do EF menos de 24% para desenvolver o presente tópico: que correções
dos alunos alcançaram o nível adequado para esta série, foram feitas pelo governo brasileiro na educa-
em 2007, enquanto na 8ª série e na 3ª série do EM ção no ano de 1995 e qual a sua importância?
Somente cerca de 14% e 10% dos alunos, respectiva- Aponta-se que a definição correta de taxa de
mente, atingiram o nível adequado para a sua série. aprovação é a razão entre o número de aprovados
Esses resultados são contundentes e revelam e a matrícula inicial e não entre o número de apro-
que o país tem que adotar medidas urgentes para vados e a matrícula final (número de aprovados
melhorar a educação escolar oferecida a suas crian- + número de reprovados). Nesta definição, as
ças e jovens, sob pena de ter mais gerações perdidas taxas de aprovação são muito menores e fica mais
e fora do mundo do conhecimento e da tecnologia. evidente a ineficácia do sistema educacional.
A Tabela 3* mostra esse indicador de qualidade A Tabela 4* quantifica essa afirmação para as
para cada série/disciplina definida a partir de 2005, séries iniciais dos dois segmentos do EF e para a
com metas parciais para 2007 e 2009. 1ª série do EM, que estão entre os piores casos.
Conclui-se que com a existência do Saeb, o É chocante observar que, em 2005, as taxas de
Brasil acumulou um impressionante conjunto de aprovação corretas correspondem a somente cerca
dados que vêm dando origem a numerosos estudos de 75% na 1ª série do EF, 72% na 5ª série do EF e
64% na 1ª série do EM, enquanto as taxas erradas
Nº 10 • Abril/99
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Gestão
pedagógica
COLL, César. Comunidades de aprendizagem e educação escolar.
Disponível em: \<http://www.crmariocovas.sp.gov.br/ent_a.
php?t=011\> Acesso em: 07 out. 2016.
Introdução
Resenha elaborada por
O sistema de educação escolar atual apresenta
Antônia Maria Nakayama
certas carências e limitações para satisfazer às ne-
Graduada em Pedagogia pela PUC-SP cessidades educativas do conjunto da população.
Mestrado em Psicologia Escolar pelo IPUSP As Comunidades de Aprendizagem (CA), como
Doutorado em Didática pela FEUSP conjunto de experiências propostas, inovações que
vem surgindo nos últimos dez anos, representam
uma trama conceitual e grande potencial trans-
formador e proporcionam uma plataforma útil e
apropriada para empreender uma revisão em pro-
fundidade dos atuais sistemas de educação escolar.
Gestão pedagógica
Quando revisamos a literatura sobre o assunto,
Os sistemas educativos nacionais têm enfati- nos deparamos com uma grande variedade de
zado a concepção de que a educação inicial das coisas que se denominam como Comunidades de
pessoas é a que determina o futuro e sua história Aprendizagem. Identifiquei basicamente quatro
pessoal e profissional. Vamos inaugurar uma tipos distintos de CAs. É uma classificação que
época em que teremos que pensar que a educação serve para exemplificar a heterogeneidade de ex-
escolar é apenas uma das práticas sociais de que periências, mas peço que não a tomem como uma
nos utilizamos para favorecer os processos de de- classificação definitiva.
senvolvimento e socialização das novas gerações. As propostas de Comunidades de Aprendiza-
É preciso, então, perceber que a responsabi- gem identificadas são: a organização dos alunos
lidade da educação e da formação destas novas em classe como Comunidades de Aprendizagem;
gerações já não correspondem só e em exclusivo as experiências, propostas e interações dirigidas ao
à escola e aos professores, como profissionais de conjunto da escola, numa tentativa de organizar o
Nº 10 • Abril/99
educação, mas ao conjunto da sociedade e da funcionamento desse centro educativo como uma
comunidade. Insisto que isso não quer dizer que Comunidade de Aprendizagem; as Comunidades
a responsabilidade da escola cessa, mas que ela se- de Aprendizagem territoriais que são bairros ou
155
155
gue tendo uma nova responsabilidade. Teremos o regiões que têm uma comunidade de interesses
compromisso e a corresponsabilidade de diferentes e que se põem de acordo sobre o que fazer para jan/2017
atingir esses objetivos, mediante ações que têm um processo de desenvolvimento e resolução. São
como eixo integrador a aprendizagem; e ainda as também propostas que postulam um enfoque in-
comunidades Virtuais de Aprendizagem, grupos terdisciplinar, experiências que privilegiam sempre
que se utilizam das novas tecnologias de comuni- a profundidade frente a extensão. São experiências,
cação para criar espaços de aprendizagem. portanto, que exigem um manejo do tempo para
Mas para o que nos interessa a argumentação adequá-lo aos propósitos.
que estou seguindo, esta classificação vai servir, As Comunidades de Aprendizado em sala de
porque cada um desses tipos de comunidade nos aula recorrem a muitos princípios clássicos da
proporciona uma compreensão sobre como é teoria construtivista, numa linha que poderia ser
possível caminhar de maneira diferente em alguns denominada de aprendizagem dialógica, quando
aspectos da organização e do funcionamento dos se pensa que a aprendizagem se dá num marco de
sistemas educativos atuais, quando se aborda essa negociação do significado e de diálogo entre os
questão de uma maneira ampla. Cada um desses membros de um coletivo. Neste modelo, o papel
modelos nos diz coisas diferentes sobre aspectos da do professor é ensinar e trabalhar com os alunos
educação escolar atual que teríamos que modificar as atividades necessárias para construir um diálogo
para alcançar essa visão ampla da educação. construtivo.
Comunidades de aprendizagem em sala de aula E, finalmente, estas Comunidades de Aprendi-
A abordagem fundamental deste tipo de CA zagem em sala de aula recorrem constantemente a
refere-se a como se pode exercer a influência equipamentos e à participação externa, por parte
educativa, de como se pode ensinar sem recorrer dos pais, de agentes da comunidade e de profis-
a modelos expositivos mais tradicionais, enfati- sionais que sistematicamente vão à sala de aula,
zando a construção coletiva do conhecimento, no atuando como instrumentos para a alocação da
sentido de que o aluno, quando aprende, é porque informação pelos alunos. Uma última característica
aprende em um processo coletivo de construção, de é que são experiências que postulam altos níveis de
aquisição de capacidade, de conteúdo e atividades. diálogo e de comunicação em sala de aula.
A ênfase está sempre no aprendizado do grupo.
A segunda característica é que os membros de Comunidades escolares
um grupo tenham conhecimentos, experiências, de aprendizagem
motivações, capacidades e interesses diferentes, A maior parte das experiências propostas e
sendo essa uma das condições favoráveis para que inovações também fazem parte das tentativas de
se crie o conhecimento coletivo.
Gestão pedagógica
Gestão pedagógica
âmbito local. Comunidades de Aprendizagem, inseridas em
Os recursos educativos, econômicos, serviços, centros educativos que funcionam como Comu-
equipamentos, normalmente são mal aproveitados nidades de Aprendizagem, por sua vez inseridos
e seriam muito úteis se utilizados em atividades em redes de aprendizagem comunitária. Esse é
educativas, em parceria com os órgãos de edu- o grande desafio, para que cheguemos à grande
cação, saúde, justiça e outros de âmbito local, transformação do sistema de educação escolar tal
estadual e federal, para desenvolver pontos con- como o conhecemos.
cretos de atuação, contando com os recursos, os O segundo e último obstáculo tem a ver com
equipamentos desse território. o contexto de ensino das Comunidades de Apren-
Há dois objetivos básicos na consecução da dizagem, de como os alunos e professores podem
CA. Um deles é o geográfico. Quanto menor o se comprometer com processos de co-construção
território, mais rápido se sentirá a ação da comu- do conhecimento, mantendo ao mesmo tempo a
nidade de aprendizagem e maior o compromisso capacidade de influir de maneira sistemática nas
Nº 10 • Abril/99
e a corresponsabilidade por parte dos diferentes linhas que marcam os objetivos e propósitos do
agentes sociais. Já o objetivo funcional pressupõe currículo escolar. É através desse processo de co-
que os agentes desse território compartilhem obje- -construção que nós professores conseguimos,
157
157
tivos e ideias, dando importância à aprendizagem quando conseguimos, ajudar nossos alunos a
ao longo da vida, como princípio organizativo aprender e seguir aprendendo. jan/2017
LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da aprendizagem escolar:
estudos e proposições. 22ª edição. São Paulo: Cortez Editora, 2011
Avaliação escolar
Resenha realizada por
O entendimento de avaliar é extremamente
Marcia Regina Vital
relevante para o aprendizado. De acordo com
Doutora em Psicologia Escolar e Cipriano Luckesi a avaliação é um julgamento de
Desenvolvimento Humano - Instituto de valor sobre manifestações relevantes da realidade,
Psicologia da tendo em vista uma tomada de decisão. A avaliação
Universidade de São Paulo é um instrumento no qual deva haver por parte
Mestre em Distúrbios do Desenvolvimento - dos profissionais uma tomada de posição quanto
Universidade Mackenzie; ao objeto avaliado.
Graduada em Pedagogia - Faculdades Capital Essa avaliação de valor tem uma conotação
qualitativa, marcando o objeto avaliado no sentido
de um ideal preestabelecido, este objeto será relati-
vamente bem-aceito tanto quanto for satisfatório
bem como menos satisfatório, tendo em vista um
padrão idealizado a ser seguido. O julgamento
deverá estar de acordo com as necessidades reais
do que se espera do objeto a ser avaliado.
O juízo de valor está sujeito à especificidade
ao que se destina determinada área de conheci-
mento. Ao avaliar numa tomada de decisão esse
julgamento de valor se mostra de não indiferença
em relação ao objeto avaliado, no que diz respeito
ao processo da aprendizagem. A avaliação como
tomada de decisão, coloca o professor numa
situação de detentor do saber e poder avaliativo
autoritário. Esta avaliação classificatória, longe
Gestão pedagógica
Gestão pedagógica
A avaliação, ao contrário, manifesta-se como um nado projeto. Tanto os exames como a avaliação
ato dinâmico que qualifica e subsidia o reencami- são práticas subsidiárias de determinados projetos
nhamento da ação, possibilitando consequências de ação: de projetos pedagógicos. Nossos currícu-
no sentido da construção dos resultados que se de- los postos em prática são tradicionais. Daí que a
sejam. “O erro não é fonte de castigo, mas suporte aferição da aprendizagem, nesse contexto, termina
para o crescimento”, como afirma Luckesi (2002). sendo tradicional, por mais que se diga que se está
É por meio do erro do aluno, que o educador praticando a avaliação.
vai identificar o que o aluno já sabe e o que pode Para a prática de avaliar necessitamos de um
vir, a saber, sobre o conteúdo em estudo e recons- currículo centrado no desenvolvimento, na cons-
truir o conhecimento a partir dele. trução, na experiência da igualdade e da demo-
A escola hoje ainda não avalia a aprendizagem cracia. As novas concepções acerca de avaliação
do educando, mas sim examina. Os exames, em (verificar o que o aluno aprendeu, e não o que
primeiro lugar, são pontuais, o que significa que ainda falta aprender, valorizar a conquista do
aluno, avaliá-lo em relação a ele próprio e não em
Nº 10 • Abril/99
Gestão pedagógica
processo de ensino.
Para Mizukami o fenômeno educativo é hu-
mano, histórico e multidimensional: ¨Nele estão
presentes tanto a dimensão humana quanto a
técnica, a cognitiva, a emocional, sócio política e
cultural” (p. 1)
Ao organizar sua exposição, utiliza-se de 5
abordagens: tradicional, comportamentalista,
humanista , cognitivista e sociocultural. Não
inclui a abordagem escolanovista, por considerar
que seus pressupostos estão contemplados nestas
outras abordagens.
Nº 10 • Abril/99
161
161
jan/2017
Tradicional Behaviorista Humanista Cognitivista Sócio Cultural
9.Professor-Aluno
- Relação vertical, -O professor tem a - O professor é - Livre cooperação - É horizontal e
professor responsabilidade de uma personalidade dos alunos entre não imposta, -
detém o poder planejar e desenvolver única que assume si e não apenas consciência ingênua
decisório quanto o sistema de ensino- a função de entre professor e deve ser superada.
a metodologia, aprendizagem: facilitador da aluno. - O professor
conteúdo e controlar os passos, aprendizagem. -Professor: procurará
avaliação, - os percursos, como - O relacionamento provocar desmistificar e
professor = detém um engenheiro entre professor e desequilíbrios e questionar com
os conteúdos e os comportamental. aluno é sempre fazer desafios, o aluno a cultura
meios de expressão pessoal e único. orientando dominante,
e conduz os alunos, Deve haver uma o aluno para valorizando a
transmitindo compreensão que tenha linguagem e a
conhecimentos. empática e o autocontrole e cultura deste,
- O professor é o apreço (aceitação e autonomia. Deve criando condições
agente e o aluno é confiança). assumir o papel para que cada um
o ouvinte. - O aluno deve de investigador, deles analise seu
responsabilizar-se pesquisador, conteúdo e produza
pelos objetivos orientador. cultura.
referentes à Coordenador. - Professor e
aprendizagem. Aluno: aluno buscam
(um ser que se sujeito ativo, conjuntamente
autodesenvolve). independente. a superação da
consciência ingênua.
10.Metodologia
- Transmissão do -Aplicação da - As estratégias Não existe - Características
patrimônio cultural, tecnologia instrucionais são um modelo básicas: ser ativo,
por modelos. educacional e secundárias. pedagógico dialógico e crítico:
- Baseada na aula estratégias de ensino. - Deve-se estimular piagetiano, mas criar um conteúdo
expositiva, com - Individualização do a curiosidade sim uma teoria do programático
conteúdo pronto, ensino: especificação e o interesse conhecimento. próprio.
aluno ouvinte de objetivos, dos alunos, que -Implicações -Dialógica e
Gestão pedagógica
alunos). Ambiente
desafiador,
problematizador.
162
162
Método ativo.
jan/2017
Tradicional Behaviorista Humanista Cognitivista Sócio Cultural
11. Avaliação
- Realizada - Constatar o que o - Encontra-se - A avaliação - Autoavaliação e/
visando a exatidão aluno já aprendeu, se um desprezo deverá ser ou avaliação mútua
da reprodução jáatingiu os objetivos por qualquer realizada a partir e permanente da
do conteúdo propostos. padronização de parâmetros prática educativa,
trabalhado na aula. - Processo:no de produtos de extraídos da por professor e
Mede a quantidade início(pré- aprendizagem e própria teoria aluno.
e exatidão das testagem), no competências. e implicará em
informações que decorrer do processo - Crianças e adultos verificar se o aluno
o aluno consegue (reorganização) e no aprendem o que adquiriu noções,
reproduzir. final (conhecer se desejam aprender . conservações,
- Exame: fim em si os comportamentos - Autoavaliação realizou operações,
mesmo. desejados foram (com critérios, só estabeleceu
Notas: na adquiridos). o indivíduo pode relações, etc.
sociedade, conhecer a sua - O controle do
demonstração de experiência). aproveitamento
patrimônio cultural. deve ser apoiado
em múltiplos
critérios,
considerando
a assimilação e
a aplicação do
conhecimento.
12. Considerações Finais
-O ensino -Educação, ensino- - Ênfase ao sujeito, - O conhecimento - Esta abordagem
tradicional prioriza aprendizagem e a autorrealização e progride mediante concebe a
a disciplina instrução estão o vir-a-ser contínuo a formação de educação, sempre
intelectual e os a serviço da que é característico estruturas . Tudo como um ato
conhecimentos transmissão cultural da vida humana. o que se aprende político e o
abstratos. das instâncias O subjetivo deve é assimilado por conhecimento como
-Escola tem missão de poder, pela ser levado em uma estrutura transformação
unificadora. -Os modelagem consideração já existente e contínua.
Gestão pedagógica
programas são experimental do e ocupa lugar provoca uma
rígidos e coercitivos. comportamento. primordial (crítica reestruturação.
-Concepção estática -Conhecimento ao controle do
de conhecimento. programado, comportamento
controlado. humano e a
ditadura social).
Principais representantes
- Dürkheim, Skinner, Popham, Carl Rogers, Jean Piaget, Vigotsky, Paulo
Chartier, Snyders. Gerlach e Briggs, Alexander Neill, Jerome Bruner, Freire, Álvaro Vieira
Glaser, Papay, Erich Fromm. Henry Wallon. Pinto.
Madsen.
Tradicional Comportamentalista Humanista Cognitivista Sócio Cultural
Nº 10 • Abril/99
Mizukami esclarece que as teorias não são das unidades educativas. Indica a necessária arti-
as únicas fontes de respostas possíveis e finaliza culação entre teoria e prática (práxis pedagógica)
atentando para a necessária ação-reflexão grupal, nos cursos de formação de professores (vivências,
163
163
que poderão de fato levar a compreensão e trans- análises, confrontos e articulações entre as diferen-
formação dos impasses e problemas cotidianos tes abordagens). jan/2017
SENNA, Sylvia Regina Carmo Magalhães; DESSEN, Maria Auxiliadora.
Contribuições das teorias do desenvolvimento humano para a
concepção contemporânea da adolescência . Psicologia: Teoria e
Prática. Brasília, v. 28, nº 1, p.101-108, jan/mar.
Esse artigo, que visa contribuir para uma com-
Resenha elaborada por preensão mais atualizada da adolescência, como
Antonia Maria Nakayama período de vida caracterizado por intensa exploração
Graduada em Psicologia pela PUC-SP e múltiplas oportunidades, que variam em função
Mestrado em Psicologia Escolar pelo IPUSP dos diferentes contextos sociais e culturais, adota um
Doutorado em Didática pela FEUSP paradigma sistêmico, priorizando as inter-relações dos
recursos individuais e contextuais que promovem as
trajetórias de desenvolvimento positivo.
As autoras de início descrevem a história do
percurso científico da adolescência no século XX,
identificando duas fases importantes na abordagem
do tema, para depois enfatizar a visão do desen-
volvimento positivo.
O PERCURSO DO ESTUDO
CIENTÍFICO NA ADOLESCÊNCIA
NO SÉCULO XX
A primeira fase do estudo científico na adoles-
cência ocorreu do início do século XX até os anos
1970, sendo caracterizada por estudos descritivos
e não teóricos. O estudo marcante dessa fase é o
livro Adolescência, de Stanley Hall, publicado em
Gestão pedagógica
Gestão pedagógica
do para sua exploração pessoal, tendem a ter um
sentido mais forte de si mesmo e um sentimento Esta fase dos estudos científicos sobre a adoles-
de independência e controle. cência teve início na década de 1970, na medida
O terceiro grupo de teorias de desenvolvimento em que as pesquisas empíricas se tornavam des-
é reconhecido por preconizar que o comporta- vinculadas dos modelos teóricos clássicos e que
mento do adolescente é moldado, até certo ponto, novos modelos e questões sobre desenvolvimento
pelo ambiente social imediato (pais e pares) e pelo humano no curso de vida.
ambiente social amplo (cultura). Na busca por Estes modelos refletiam uma visão contextua-
examinar a universalidade da ideia de turbulên- lista, que enfatiza o indivíduo e o ambiente na sua
cia, Margaret Mead, representante dessa teoria, dinâmica de relações bidirecionais, bem como o
relaciona a rebeldia da puberdade (fase universal) papel do tempo e do espaço no desenvolvimento
contra a autoridade dos pais ao idealismo do jo- humano. As interações pessoa-contexto passam a
vem, dependendo do estilo de vida e da cultura na ser vistas como um fenômeno do desenvolvimento
qual ele está inserido. psicológico que implica considerar:
Nº 10 • Abril/99
Jean Piaget influencia um quarto grupo de teo- (a) a pessoa em constante desenvolvimento, de-
rias da adolescência, dando destaque aos processos vido ao fluxo de contínuas mudanças nas relações
que ela estabelece com o ambiente; 165
165
cognitivos do desenvolvimento, ao afirmar que os
comportamentos adolescentes que geram preocu- (b) o desenvolvimento humano caracterizado jan/2017
pelo grande potencial para mudança sistemática níveis: macro (da sociedade e da ordem social), das
(plasticidade), em qualquer ponto no curso de estruturas intermediárias (comunidades e vizinhança)
vida; e e do mundo proximal (escola e família). Isto é, os
(c) o significado do desenvolvimento humano indivíduos adquirem significados próprios do seu
inserido no contexto socio-histórico em que ele contexto histórico e das experiências de outros e,
acontece. como agentes ativos de mudança, influenciam seu
Naquela época, um grupo de estudiosos do de- próprio desenvolvimento, fazendo escolhas baseadas
senvolvimento se reuniu com o apoio do Carolina nessas experiências – disposições, conhecimentos e
Consortium on Human Development (CCHD, crenças, que afetam suas perspectivas, expectativas e
1996), com o intuito de organizar uma síntese das adaptações subsequentes.
diferentes disciplinas e teorias sociais, psicológicas Nessa perspectiva valoriza-se a interdependên-
e biocomportamentais, que servisse para orientar cia de trajetórias, onde a trajetória individual está
as pesquisas em diversos níveis da organização hu- envolvida na dinâmica de caminhos múltiplos
mana. Seus participantes propuseram um modelo e inter-relacionados, formando uma matriz de
abrangente denominado ciência do desenvolvi- relações sociais ao longo do tempo. Assim, cada
mento, em que desenvolvimento se refere a um geração pode tomar decisões e promover eventos
fenômeno multifacetado, composto pelo conjunto no curso de vida das outras, havendo uma inter-
de processos de mudanças progressivas, estruturais dependência entre vidas, e também, entre níveis,
e organizacionais, ocorridos nas interações entre como por exemplo, entre trabalho e família, casa-
pessoas e sistemas biológicos, dentro de grupos mento e parentalidade, trabalho e lazer.
sociais e ambientes, no decorrer do tempo. Nesta direção, para as autoras, a teoria do curso
O desenvolvimento passou a ser visto como de vida postula a articulação de conceitos do de-
epigenético e probabilístico, na medida em que os senvolvimento, ultrapassando modelos mais tradi-
fatores biológicos contextuais foram considerados cionais, lineares, unidimensionais, unidirecionais e
reciprocamente interativos, havendo novas possibi- unifuncionais de crescimento e maturação biológica
lidades geradas a cada etapa pela articulação entre do indivíduo. Ao adotar uma visão holística, essa
o contexto e o processo. Para os autores dessa te- teoria prescreve o desenvolvimento entre ganhos e
oria o desenvolvimento ocorre por meio de forças perdas, sendo que as potencialidades são expressas
complementares internas e externas, denominadas por meio da plasticidade intraindividual, isto é,
de co-ação, havendo o sentido bidirecional que do grau de maleabilidade presente nos indivíduos.
busca adaptar e manter o equilíbrio e a harmonia Assim, as trajetórias observadas na mudança in-
Gestão pedagógica
do sistema diante de situações novas ou adversas. traindividual variam no tempo e no espaço, como
A teoria sistêmica foi fundamental para a compre- consequência dessa plasticidade, com o desenvol-
ensão das questões da investigação sobre o desenvol- vimento exercendo um papel regulador, que tanto
vimento humano, enfatizando a relação mútua entre facilita como impede oportunidades de mudança.
os sistemas e entre os componentes de um sistema, Esta visão contemporânea do desenvolvimento,
bem como sua evolução em padrões de tempo. presente a partir da segunda fase dos estudos cientí-
ficos da adolescência, contribuiu não somente para
A TEORIA DO CURSO DE VIDA a compreensão da atual concepção de adolescência,
A perspectiva do curso de vida propõe a identifi- mas também para a adoção de metodologias mais
cação dos estágios de vida (infância, adolescência, fase apropriadas para responder questões desse precio-
adulta e velhice) nos seus aspectos temporais, contex- so período de vida do ser humano.
tuais e processuais, como forma de compreender as
mudanças ocorridas no desenvolvimento humano. O MODELO (BIO)ECOLÓGICO DE
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Gestão pedagógica
e produtor do seu desenvolvimento que ocorre las mudanças e estabilidades sucessivas, que ocorrem
na interação com o contexto (C). O contexto é não somente nas características individuais, mas,
definido por uma hierarquia de sistemas interde- sobretudo, nas transformações histórico-culturais,
pendentes – micro, meso, exo e macrossistemas sociais, políticas e econômicas, atribuídas à época
– e é composto pelas atividades, papéis e relações em que ela é vivida. Algumas dessas transições são
interpessoais presentes, por exemplo, nas suas esperadas ou normativas (namoro, entrada em novo
famílias, nos grupos de amigos, na vizinhança, na ciclo escolar), enquanto outras são imprevistas ou
comunidade, e nas instituições educacionais e de não-normativas (guerras mundiais, queda do muro
saúde, sociais e políticas. de Berlim, atentado às Torres Gêmeas).
A família continua a ser considerada o principal Por essas características, o modelo auxilia a
microssistema do desenvolvimento, pois nela acon- investigação da forma como os adolescentes estão
tecem as interações mais diretas e as experiências situados em seus contextos específicos, como esses
mais significativas para a pessoa. Reconhecida na sua contextos influenciam o curso do seu desenvolvi-
Nº 10 • Abril/99
complexidade, a família é responsável por conduzir o mento e, ao mesmo tempo, como os adolescentes
adolescente à compreensão de conceitos e valores bá- influenciam esses contextos direta ou indiretamen-
sicos, ao engajamento na realização de tarefas e papéis te, permitindo avanços no sentido de ultrapassar
167
167
sociais cada vez mais diversificados e complexos, e ao a visão inicial de adolescência como um período
desenvolvimento de competências sociais. de turbulência e instabilidade, para incorporar jan/2017
uma visão mais positiva do desenvolvimento do mas, deficiências ou fraquezas dos indivíduos e
adolescente. dos contextos.
As ações propostas reforçam as diferenças inte-
TENDÊNCIAS ATUAIS: A VISÃO DO rindividuais (diversidade de raça, etnia, classe social
DESENVOLVIMENTO POSITIVO e gênero) e intraindividuais (como aquelas esperadas
A chegada do século XXI foi marcada por um pelas transições da puberdade), bem como a centra-
contexto de rápidas mudanças que estimularam o lidade do contexto e das relações bidirecionais entre
interesse conjunto de pesquisadores, políticos e os diferentes níveis ecológicos do desenvolvimento.
profissionais para a condução de pesquisas voltadas Nesse continuum entre a geração e a aplica-
para questões sociais e para a aplicação e utiliza- ção do conhecimento, atualmente, são propostas
ção dos resultados em direção ao progresso da pesquisas que envolvam contextos naturais,
sociedade, sendo que o foco científico no discurso ecologicamente válidos, e a avaliação de inter-
coletivo orientado para a “falta”, começou a ser venções e programas, por meio da construção
paulatinamente substituído por uma mentalidade e do uso de delineamentos e instrumentos
mais positiva, associada ao desenvolvimento de sensíveis ao desenvolvimento e aos contextos,
recursos do indivíduo e do ecossistema. tal qual apontado pelos teóricos, na segunda
Chega-se ao consenso de que a promoção do metade do século XX.
desenvolvimento positivo do jovem vai exigir, pri- A ênfase dada aos aspectos relacionais, à plasti-
meiramente, a identificação de seus recursos pesso- cidade e à diversidade, à metodologia longitudinal
ais – talentos, energias e interesses construtivos e, e à aplicação das teorias do desenvolvimento, que
depois, a elaboração de programas específicos de foram cristalizados e integrados na segunda fase
estimulação desses talentos. De acordo com Lerner dos estudos científicos do desenvolvimento do
(2004), o sucesso desses programas depende de adolescente, vem se expandindo gradualmente,
três fatores preponderantes: tanto qualitativa como quantitativamente. Nesses
(a) uma relação positiva e sustentável com estudos, o desafio se traduz na integração de diver-
adultos; sos conhecimentos a respeito de uma só pessoa (no
(b) atividades dirigidas ao desenvolvimento de caso, o adolescente), sobre as mudanças biológicas
suas habilidades; e na puberdade, o desenvolvimento do cérebro, as
(c) a participação do jovem em todas as decisões influências genéticas, ritmos de sono, saúde física,
e vertentes do programa. transições sociais, influências religiosas, educacio-
nais e culturais, típicas desta fase.
Gestão pedagógica
Gestão pedagógica
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dial reformar o modelo tradicional de ensinar, ou
seja, a reformulação dos currículos, a disposição
das disciplinas em "metadisciplinas" (os saberes
científicos não podem e/ou não devem estar de-
sarticulados da abordagem educacional e muito
menos da realidade vivida pelo aluno e/ou profes-
sor) e suas concepções sobre ensino-aprendizagem.
Trata-se de educar para a "formação integral”
do ser, ou melhor, as competências têm como base
preparar o aluno na sua totalidade física, emocio-
nal, cognitiva e social (Rizzo, 1996); para que o
mesmo possa agir de forma segura, dinâmica, efi-
caz e ética nos mais variados ambientes e situações
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concepção da preexistência do mundo das ideias breve revisão bibliográfica, no âmbito profissional,
sobre o mundo real (saber pelo saber). Entretanto, e estabelecem as seguintes conclusões: primeiro, as
nos países de tradição calvinista (raiz filosófica competências estão relacionadas ao exercício eficaz
aristotélica) existe a valorização da aplicabilidade das tarefas e atividades com máxima excelência.
do conhecimento no cotidiano usual. Em segundo, as características necessárias para a
No sistema educacional, a concepção propedêu- realização das tarefas, dependem, basicamente, das
tica e seletiva valoriza a trajetória de superação de especificidades de uma função ou do desempenho
'etapas sucessivas' atreladas cada uma delas a uma técnico para aplicar conhecimentos, habilidades e
'etapa superior', ou seja, o ensino infantil prepara atitudes num contexto real.
o aluno para o ensino fundamental que, por sua Antoni Zabala e Laia Arnau (2010) observam
vez, tem como finalidade a preparação para o en- que boa parte das concepções desenvolvidas
sino médio e, finalmente, para a preparação para sobre competência, no âmbito profissional,
o ensino superior. também perpassam a área educacional, no en-
Nº 10 • Abril/99
Concluindo, a escola reduziu o ensino e a apren- tanto, especificam com maior detalhe a forma
dizagem à transmissão dos saberes necessários e a aplicação dessas competências na educação.
para que o aluno ingresse na universidade. Nesta Como por exemplo, no quadro das dimensões
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concepção, o ensino ficou reduzido apenas à apren- semânticas sobre competência, apresentadas pelos
jan/2017 dizagem dos conhecimentos distribuídos entre as autores, pág. 35: 1) Conselho Europeu (2001),
"a competência permite realizar ações, por meio Antoni Zabala e Laia Arnau (2010) explicam
de conhecimentos, habilidades e características os processos necessários para uma atuação ser
individuais"; 2) Eurydice-CIDE (2002), "permi- considerada eficaz e competente. É um processo
tem participar, de modo eficaz, na vida política"; complexo, que envolve múltiplos recursos cog-
3) Projeto DeSeCo (OCDE, 2002), "habilidade nitivos (mentais), bem como a utilização dos
para cumprir com êxito exigências complexas, por conteúdos factuais, conceituais, procedimentais e
meio de pré-requisitos sociais, habilidades práti- atitudinais. Primeiramente, é preciso realizar uma
cas, conhecimentos, motivações, valores, atitudes análise da tarefa e/ou situação, a partir dos vários
e comportamentos"; 4) Currículo Básico (AA. pontos de vista. Depois, escolher as impressões
VV., 2005), "capacidade para se enfrentar tarefas mais relevantes sobre o contexto analisado. Com
simples ou complexas com garantias de êxito, em base nas informações obtidas, identificar os pro-
um contexto determinado, por meio de operações blemas a serem enfrentados e, sequencialmente
mentais sobre um objeto do conhecimento para a selecionar um esquema de atuação, denominado
obtenção de um determinado fim"; 5) Conselho por Perrenoud (2001) como “esquemas operató-
Catalunha (2004), "para resolver problemas di- rios ou operacionais”. A forma de atuação deve
versos da vida real, por meio de conhecimentos, ser flexível e estratégica, adequando-a, ao contexto
habilidades e atitudes de caráter transversal; 6) real. Advertem também que não se deve transferir
Monereo (2005), "domínio para resolução de a aprendizagem do atual contexto para uma nova
problemas, em determinado âmbito ou cenário realidade, porque nenhuma situação é exatamente
da atividade humana, por meio de amplo reper- igual a anterior. E, por último, aplicar os conteúdos
tório de estratégias; e, por último, 7) Perrenoud factuais, conceituais, procedimentais e atitudinais
(2001), "aptidão para enfrentar, de modo eficaz, de forma inter-relacionada, para uma intervenção
uma família de situações análogas, mobilizando competente e eficaz sobre a realidade.
a consciência e de maneira rápida, pertinente e Ressaltam, por último, a necessidade de fre-
criativa, por meio de múltiplos recursos cogni- quentemente avaliar as circunstâncias e pessoas,
tivos: saberes, capacidades, microcompetências, uma vez que alguns indivíduos não sabem integrar
informações, valores, atitudes, esquemas de per- o saber (conhecimento), o fazer (procedimentos)
cepções, de avaliação e de raciocínio." e o ser (atitudes) de forma a resolver uma tarefa
Como Antoni Zabala e Laia Arnau (2010) ou situação. Talvez pelo fato de algumas pessoas
compreendem a definição competência? As com- não conseguirem transpor tais competências
petências constituem-se numa tríade composta para a vida prática, Antoni Zabala e Laia Arnau
Gestão pedagógica
nas áreas: do ser, do saber e do fazer. No entanto, (2010) afirmam que as pessoas, de um modo
afirmam os autores (2010, pág. 36), transpor a geral, não são competentes, mas demonstram
teoria para a prática e/ou vice-versa requer um em cada tarefa ou situação, um menor ou maior
grande desafio no campo educacional "de maneira grau de competência.
que qualquer conteúdo de aprendizagem ou é con- No capítulo 3: “A competência sempre
ceitual (saber), ou é procedimental (saber fazer), envolve conhecimentos inter-relacionados a
ou é atitudinal (ser)". habilidades e atitudes”, Antoni Zabala e Laia
Resumidamente, competências para Antoni Arnau (2010) propõem uma análise entre a
Zabala e Laia Arnau (2010) são ações eficazes para escola tradicional e a escola ativa. Ressaltam a
o enfrentamento dos problemas sob os diferentes impossibilidade de afirmar que o domínio das
espectros da vida, para isso se necessita estar aberto competências aconteça em detrimento do conhe-
e solucioná-los com comprometimento (atitude). cimento . Ao contrário, a escolha por um ensino
Além disso, é necessário mobilizar integralmente, baseado em competências é uma possibilidade
Nº 10 • Abril/99
em nossos alunos, os componentes atitudinais da religação entre o que foi desligado, ou seja,
(ser), procedimentais (saber fazer) e conceituais a teoria e a prática. É possível considerar que
(saber) para que possam realizar intervenções efi- o descrédito do ensino tradicional, baseado na
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cazes nos mais variados contextos da vida: pessoal, memorização, levou à desvalorização dos saberes
profissional e social. (conhecimentos). Nesta concepção, acredita-se jan/2017
que a compreensão só é possível quando o aluno No capítulo 4: “O objetivo da educação
recorda, reconstrói ou elabora o saber mediante por competência é o pleno desenvolvimento
atividades que exigem grande atividade mental da pessoa”, Antoni Zabala e Laia Arnau (2010)
e abstração. explicam que a educação por competência é
O embate entre o ensino tradicional e as baseada no desenvolvimento integral da perso-
novas correntes pedagógicas surgiu ao longo do nalidade ou seja, aspectos físicos, emocionais,
século XX. A escola tradicional, infelizmente, por cognitivos e sociais, e, consequentemente, para
visão simplista e estereotipada, ficou reduzida ao todas as áreas da vida. Em outras palavras, o
ensino que utiliza a técnica expositiva; ênfase no conhecimento não deve ser ensinado de forma
livro didático para o desenvolvimento das aulas; funcional e/ou dissociado do cotidiano ou vida
hipervalorização do saber transmissível e enciclo- prática do aluno.
pédico; avaliação quantitativa; importância ao Nos documentos ou declarações sobre educa-
peso da disciplina, bem como a memorização, ção, é comum a defesa sobre o conceito de for-
como forma de aprendizagem dos conhecimentos mação integral; no entanto, observamos que esse
distribuídos em disciplinas geralmente desconecta- ideal ainda está longe de ser alcançado, quando
das entre elas próprias e a realidade do aluno. Por avaliamos o formato dos currículos, disciplinas
outro lado, as correntes mais progressivas, entre e conteúdos desenvolvidos nas escolas. Ainda
elas o ensino ativo, por visão puerocêntrica, fica- verificamos uma escola seletiva e propedêutica,
ram diminuída à valorização dos procedimentos, que prepara o aluno para a “formação integral na
técnicas e habilidades advindas dos alunos. Na vida acadêmica”.
perspectiva da escola ativa, ocorreu a hipervalori-
No período da revolução burguesa, ocorreu
zação dos conteúdos procedimentais (saber-fazer),
um acesso maior da educação para a população
e o menosprezo dos conteúdos conceituais (saber):
(burguesia e pequena burguesia), mas a prioridade
a hegemonia do princípio da ação.
ainda era a escolha das disciplinas tradicionais e
Segundo Antoni Zabala e Laia Arnau (2010),
dos conteúdos, voltada para aqueles que queriam
as atividades de memorização foram abandona-
chegar às universidades. O ensino foi ampliado
das, porém não está em jogo o memorizar ou
para um maior número de alunos, mas a falta de
não memorizar, mas quando, de qual forma, e
possibilidade financeira para custear a própria for-
por que as atividades de memorização devem ser
mação acabou gerando duas trajetórias escolares:
retomadas, principalmente para maior sistemati-
uma curta, destinada à maior parte da população,
zação do ensino dos procedimentos e introdução
e outra longa, para aqueles que poderiam almejar
Gestão pedagógica
apoio do conhecimento teórico. Para a superação que ser totalmente reformulado. A universidade
da dicotomia entre a teoria e a prática, ações de necessita formar universitários muito bem prepa-
ordem atitudinal, necessitam ser reativadas, na rados, com boa formação em todos os setores, es-
174
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pessoa do aluno, para o avanço do seu processo de pecialidades e níveis diferenciados de desempenho
jan/2017 aprendizagem e conhecimento científico. para atender às necessidades do mercado vigente:
sinergia no trabalho em equipe, domínio técnico, institucionais sobre qual é o papel fundamental
flexibilidade, aprender a aprender etc. da educação, é consenso o pleno desenvolvimento
Antoni Zabala e Laia Arnau (2010) lançam da personalidade em todas as suas habilidades e
a seguinte pergunta: “Afinal, qual é o papel da esferas da realidade cotidiana. No entanto, ressal-
educação e quais são as competências a serem tam os estudiosos, faz-se necessário identificar as
ensinadas na escola”? Para isso, recorrem à revisão competências necessárias para serem trabalhadas
das mais importantes declarações dos diversos na escola, desmembrá-las nos projetos curriculares,
órgãos internacionais. Observam que boa parte para posteriormente introduzi-las no trabalho em
dos documentos estudados acredita que a edu- sala de aula, uma vez que são genéricas e abstratas.
cação tem como estrutura básica a formação do Antoni Zabala e Laia Arnau (2010) consideram
cidadão, o desenvolvimento da personalidade e fundamentais quatro declarações institucionais,
todas as suas capacidades, principalmente aquelas que compõem a concepção de formação integral
relacionadas aos valores e à ética. Dessa forma, o do homem, apresentadas no quadro 5.1, pág. 77:
sistema educacional é compreendido, também, primeiro, o documento realizado por Delors para
como um conjunto interconectado dos diversos UNESCO (1996): saber conhecer, saber fazer,
agentes educacionais, ou seja, da educação for- saber ser e saber conviver; segundo, o Projeto
mal (escola), educação informal e educação não- DeSeCo (OCDE, 2002): interação num grupo
-formal, cada qual com sua área de atuação, seus socialmente heterogêneo, ser autônomo e utilizar
limites e responsabilidades. ferramentas; terceiro, no Currículo Basco (AA.
VV., 2005): pensar e aprender, comunicar-se,
Atualmente, a escola ainda não contempla a for-
conviver, autenticidade e empreendorismo, e,
mação integral do sujeito, e Antoni Zabala e Laia
quarto, Monereo (2005): buscar informações e
Arnau (2010) questionam se existe a necessidade
aprender, comunicar-se, colaborar com os outros
de se construir uma nova estrutura escolar, uma
e participação na vida pública.
vez que esta parece ser o ambiente mais propício
para o desenvolvimento global da pessoa. Mas uma Os estudiosos Antoni Zabala e Laia Arnau
questão fundamental a ser discutida é o papel da (2010) também indicam quatro dimensões que a
família e da escola na formação integral dos alunos. escola necessita garantir. A primeira dimensão, ser
competente no âmbito social: o aluno deverá ser
Durante muitos anos, o papel da escola ficou
competente para participar ativamente do processo
concentrado no ensino, nas disciplinas, nos con-
de transformação social, em busca de um mundo
teúdos acadêmicos, pré-acadêmicos, e às famílias
melhor, na sustentabilidade das relações e do pla-
Gestão pedagógica
coube ensinar os comportamentos e atitudes neces-
neta, de forma democrática. A segunda dimensão,
sários para a vida cotidiana, tais como: o respeito,
ser competente no âmbito interpessoal, exige do
a tolerância, a solidariedade, a compaixão, etc. Na aluno competência para assumir a responsabilidade
verdade, ambos, escola e família, são corresponsá- por seus próprios atos, assim como com as demais
veis pela educação das crianças e jovens em todas pessoas desenvolver a personalidade ética e sensível,
as suas potencialidades. No entanto, cabe ressaltar na busca da justiça e igualdade para todos; a terceira
que nem sempre as famílias são capazes de educar dimensão, ser competente no âmbito pessoal: diante
seus filhos para a cidadania, o que é imprescindível do mundo globalizado e incerto, formar alunos
para a convivência social. Antoni Zabala e Laia para o desenvolvimento da autonomia intelectual,
Arnau (2010) defendem a ideia que cabe à escola cidadania, capacidade crítica, responsabilidade,
suprir os conteúdos que não correspondem à tra- flexibilidade e criatividade, numa perspectiva crítica
dição escolar, e garantir os valores humanos que da realidade externa, analisando-a e interpretando-
não foram aprendidos na esfera familiar. -a, pelo crivo do seu próprio autoconhecimento e
Nº 10 • Abril/99
No capítulo 5: “As competências escolares autoconceito sobre a vida. A quarta dimensão, ser
devem abarcar o âmbito social, interpesso- competente no âmbito profissional: com a abertura
al, pessoal e profissional”, como explicado dos mercados, o avanço da tecnologia, as incerte-
175
175
anteriormente por Antoni Zabala e Laia Arnau zas econômicas e no mundo do trabalho, o aluno
(2010), na revisão realizada sobre as declarações deverá ser capaz de desempenhar uma atividade jan/2017
profissional, de maneira eficaz, tendo em vista as trabalho com as competências nas quatro dimen-
variáveis do mundo globalizado, buscando sempre sões: capacidade de adaptabilidade, ser justo, desen-
formação permanente, ampliação dos conhecimen- volvimento da autoestima e autoconceito, através do
tos e habilidades, para o exercício de sua função autoconhecimento, entre outras virtudes humanas.
profissional e pessoal. No capítulo 6: “A aprendizagem das com-
A próxima etapa, explicam Antoni Zabala e Laia petências é sempre funcional”, Antoni Zabala
Arnau (2010), é extrair das declarações institucio- e Laia Arnau (2010) defendem que o ensino das
nais e das quatro dimensões explicadas acima quais competências está longe da aprendizagem realizada
são as habilidades, os conhecimentos e as atitudes de forma mecânica e funcional, porque partem do
que os alunos necessitam desenvolver para serem pressuposto de que a aprendizagem de uma com-
capazes de agir competentemente, e, que irão cor- petência precisa ter um significado, fazer sentido
responder aos conteúdos de aprendizagem na sala e estar integrada aos componentes conceituais,
de aula. Os estudiosos ressaltam que existe uma procedimentais e atitudinais.
tendência de sobrecarregar o conteúdo curricular, "As competências são constructos completos,
acrescentando mais conteúdos de aprendizagem. eminentemente de caráter processual, com aplica-
Esse é um grande equívoco quando introduzimos o ções infinitas em função dos múltiplos contextos
ensino das competências. Também é preciso distin- e diferentes realidades, e consequentemente, de
guir quais são os conteúdos básicos imprescindíveis, difícil análise a partir de sua globalidade" (2010,
que necessitam ser enfatizados e trabalhados. pág.93). É preciso entender que dispomos de inú-
Por último, Antoni Zabala e Laia Arnau (2010 meras aprendizagens: superficiais, memorizadas ou
pág. 85 e 86) fazem uma intersecção entre as profundas, que podem ser significativas ou não.
competências gerais e as competências específicas, Antoni Zabala e Laia Arnau (2010) explicam que a
relacionadas diretamente aos conteúdos de ensino, "memorização compreensiva" (a lembrança daquilo
na sala de aula. O que é necessário saber? O que que se compreendeu) é interessante quando a sua
é necessário saber fazer? Como se deve ser? Nos utilização complementa a análise e/ou interpreta-
três parágrafos abaixo, os autores explicam como ção das situações lançadas pela escola ou na vida.
devem se concretizar as propostas. Em outras palavras, as competências compre-
Na implementação dos conteúdos conceituais: endem sempre uma ação eficaz, um nível elevado
no âmbito social, derivarão de múltiplos saberes de relevância, na busca pela resolução de proble-
científicos, especificamente das ciências sociais, mas, conflitos e situações do cotidiano do aluno.
Gestão pedagógica
história, geografia e ciências da natureza; no âmbito Antoni Zabala e Laia Arnau (2010) ressaltam
pessoal, o trabalho transdisciplinar, especificamente que diferentes linhas teóricas contribuíram para
com as áreas da psicologia, psicologia social, filoso- o entendimento e análise de como ocorrem os
fia e sociolinguística; no âmbito pessoal, o trabalho processos de aprendizagem no ser humano.
transdisciplinar com as áreas: saúde, psicomotor Dessa forma, pode-se tentar encontrar bases
e psicologia / no âmbito profissional, o trabalho mais sólidas para a implementação do ensino das
transdisciplinar aos conhecimentos básicos para o competências na educação. A estrutura cognosci-
desenvolvimento acadêmico e profissional. tiva é constituída por uma rede de conexões e/ou
Na implementação dos conteúdos procedi- "esquemas de conhecimento" (representações que
mentais: capacidade de análise, organização, um indivíduo tem sobre determinado objeto do
interpretação da informação, autonomia, apren- conhecimento ou realidade) que formam a base
dizagem, planejamento, organização e resolução dos "conhecimentos prévios".
das tarefas e conflitos inter-relacionados com o Toda aprendizagem ocorre a partir dos "esque-
âmbito social, interpessoal e profissional: trabalho
Nº 10 • Abril/99
Gestão pedagógica
nitiva possibilita à pessoa a consciência de como comportamentais, como por exemplo: quero?
ela aprende. Neste sentido, a pessoa pode planejar posso? devo fazer tal coisa?
suas estratégias de aprendizagem em situações Por último, Antoni Zabala e Laia Arnau
variadas: analisar, identificar, aplicar, executar e (2010), diante dos princípios gerais da aprendiza-
transferir seus conhecimentos para a aprendizagem gem, de suas características e tipologias, afirmam
de competências. que as sequências de aprendizagem devem ser em-
Todos os princípios que discorremos até agora pregadas tanto nos procedimentos gerais, quanto
são medidas importantes para que se aprendam nos específicos:
as competências: conceituais, procedimentais e 1) interpretação do objeto de estudo na sua com-
atitudinais. Antoni Zabala e Laia Arnau (2010, plexidade;
pág 100 e 101) revisam as características básicas
2) identificação e resolução do problema de forma
de aprendizagem das competências, agora em
eficiente;
formato de tipologia:
3) distinguir a informação relevante para a solu-
Nº 10 • Abril/99
O primeiro critério está relacionado ao “significa- tradicional, ou seja, o ensino formal é calcado no
do”, uma vez que o ensino tradicional foi baseado saber acadêmico, enciclopédico e desligado da sua
em torno de disciplinas isoladas e conhecimentos função no mundo (cálculos, tabelas, conceitos, fór-
segmentados. Para ensinar, é fundamental consi- mulas, etc.), enquanto o ensino das competências
derar a influência do conhecimento prévio de cada prima pela organização da aula, dos conteúdos
aluno sobre os novos conteúdos de aprendizagem, e dos conhecimentos, a partir do pensamento
até adequá-los ao seu nível de desenvolvimento complexo.
proximal, como também incentivar atitudes po- Capítulo 8: “As disciplinas são suficientes
sitivas frente ao novo conhecimento; o segundo para aprender competências”. Antoni Zabala
critério, relacionado à 'complexidade', considera e Laia Arnau (2010) enfatizam que o ensino
a importância da disciplina, desde que exista das competências precisa estar alicerçado numa
sua aplicabilidade na realidade, mas os autores abordagem educacional que considere o caráter
sinalizam a importância do desenvolvimento do “metadisciplinar”, ou seja, em que não se dividam
pensamento complexo.
Nº 10 • Abril/99
Gestão pedagógica
ciplinares, interdisciplinares e metadisciplinares) condutas morais com base em princípios éticos
em torno das matérias tradicionais, desde que se (competências procedimentais e atitudinais). Esses
corrijam as anomalias desse procedimento e, por componentes de caráter metadisciplinar pertencem
último, é preciso lembrar que os componentes à chamada "área comum", ou seja, pertencem a
correspondentes ao campo metadisciplinar não todas áreas de ensino e devem ser garantidas na
podem ser situados em nenhuma das áreas propos- estrutura curricular e no planejamento da aula.
tas, porque não dependem de nenhuma disciplina. Os procedimentos são aprendidos na prática, mas
Capítulo 9 – “O núcleo comum: resposta ao é fundamental que o educador conheça como funcio-
ensino de competências”. Como já mencionado nam e os passos que os constituem. O mesmo deve
por Antoni Zabala e Laia Arnau (2010), a forma ocorrer em relação à aprendizagem de uma atitude
tradicional de organização dos conteúdos de ensi- positiva. Para isso, são necessários critérios de autono-
no, em segmentos desarticulados entre si, nasceu mia moral, com a certeza de que não seja uma simples
a ideia de que todos os novos conteúdos devem maneira de desenvolver a “moralina” (moral de senso
passar pelo início de uma nova matéria. comum) ou jeito de obter aprovação do grupo.
Nº 10 • Abril/99
Para ensinar competências, a escola deve ter cla- Para que aconteça reflexão sistemática sobre
reza das competências que deseja trabalhar, como os conteúdos procedimentais e atitudinais, prati-
179
179
também fixar critérios adequados que permitam ve- cados em sala de aula com os alunos e/ou entre os
rificar quais os conteúdos de ensino mais relevantes, professores (das mais variadas disciplinas), faz-se jan/2017
necessário existir tempo e espaço garantidos pela sistema de organização dos conteúdos (discipli-
organização curricular e planejamento prévio. Pen- nar, interdisciplinar, globalizador etc.);
sar como o aluno pode desenvolver sua capacidade materiais curriculares (livro didático, compu-
de autonomia intelectual e assumir a responsabi- tador, fichas etc.);
lidade pelos seus atos, afinal vivências e reflexões
procedimentos de avaliação (formativa, autoa-
atitudinais servem para a vida toda e não um curto
valiação, sancionadora etc.)
espaço de tempo, de uma determinada disciplina.
As sequências didáticas (sequências de ativi-
Nesta perspectiva, é impossível o domínio de
dades de ensino-aprendizagem), explicam Antoni
qualquer procedimento sem a análise crítica sobre
Zabala e Laia Arnau (2010, pág. 147-148), “são
suas características e fases que o constituem. Pe-
a maneira de encadear e articular as diferentes
riodicamente, os alunos e professores necessitam
atividades ao longo de uma unidade didática”. Os
estudar, conhecer, fundamentar os procedimentos
autores elucidam que independentemente da se-
gerais, específicos e comuns, e repensar um con-
quência didática escolhida (descobertas, estudo de
junto de atitudes pertinentes à sala de aula e para
caso, projetos etc.) devem conter as seguintes fases:
vida. Essa reflexão deverá ser baseada no estabeleci-
mento claro dos objetivos e conteúdos de todos os estabelecimento compartilhado dos objetivos
níveis de ensino e das aprendizagens que devem ser da unidade e das atividades;
praticadas na área ou eixo comum, o que implica identificação dos problemas da realidade, expli-
na implementação de uma metodologia comum citando a necessidade de aplicar a competência
em todas as áreas do conhecimento. ao objeto de estudo;
Capítulo 10 – “Os métodos para o ensino explicitação do esquema de atuação correspon-
das competências devem ter um enfoque globa- dente à competência, formas de ação;
lizador”. Antoni Zabala e Laia Arnau (2010) elu- identificação do procedimento conceitual, atitu-
cidam que não existe uma metodologia específica dinal ou procedimental; habilidades e atitudes
para o ensino das competências, mas a possibilida- que devem ser alcançadas para agir de forma
de de utilizar múltiplas estratégias metodológicas eficaz e integral;
com enfoque globalizador.
revisão do conhecimento disponível para pla-
Pode-se afirmar que o método transmissivo nejar a aprendizagem, ou seja, nos conteúdos
tradicional, baseado na sequência exposição/estu- factuais: atividades de memorização; nos con-
do/exercício/prova, gerou a busca por inúmeras ceituais: atividades para compreensão e aplica-
metodologias alternativas, porém, é importante
Gestão pedagógica
Gestão pedagógica
lógica das matérias, cuja apresentação esteja pró- Para isso, utilizam instrumentos avaliativos (pro-
xima à realidade dos alunos". vas sistemáticas e periódicas) e estratégias para o
Segundo Antoni Zabala e Laia Arnau (2010), reconhecer jovens que estão mais preparados para
no enfoque globalizador cada professor seguirá o o ingresso no ensino superior. Nessa perspectiva,
mesmo esquema de atuar na área em que leciona: pode-se afirmar que a prioridade é o bom desem-
situação da realidade; proposição de questões; penho dos alunos diante dos conhecimentos e a
instrumentos e recursos disciplinares; formali- entrada para o mundo acadêmico.
zação dos critérios científicos da disciplina para Antoni Zabala e Laia Arnau (2010) entendem
aplicabilidade em outras situações e o domínio que esse tipo de avaliação (prova padronizada)
dos conceitos e habilidades aprendidos. Existem averigua, principalmente, o grau de retenção,
inúmeros métodos globalizantes, mas a diferença quase mecânico, baseado na memorização dos
está na intencionalidade do trabalho que deve ser conhecimentos aprendidos e que geralmente são
praticado e suas fases respeitadas. esquecidos após o período das provas. Assim,
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A metodologia globalizante permite a apren- podemos inferir que essa forma de avaliar diminui
dizagem do pensamento complexo e, simultane- o valor do ensino ao bom rendimento nas provas.
amente, a implementação do processo ensino- Portanto, o modelo seletivo tradicional tende a não
181
181
-aprendizagem num contexto real, criativo e considerar tudo o que foi trabalhado em sala de
significativo, tanto para o aluno quanto para o aula, em prol da nota esperada. Do ponto de vista jan/2017
educacional, cabe observar que a nota acaba sendo sobre o domínio do conhecimento estipulado pelo
um elemento motivacional para o aluno estudar, indicador de obtenção da competência e que possa
o que é um grande equívoco. servir também para resolver as questões lançadas
No processo de avaliação por competências, o pela situação-problema. E, por último, cada ati-
professor promove uma série de exercícios ou simu- vidade avaliativa poderá servir para um ou mais
lações próximas ao contexto real, para verificar como indicadores de sucesso.
o aluno utiliza seus esquemas de conhecimento e Em relação aos conteúdos fatuais, podemos
atua de forma eficaz ou não, diante dos problemas recorrer à estratégia da pergunta oral ou escrita
propostos, tendo como ponto de partida o pensa- para avaliarmos o grau de aprendizagem. Nos
mento complexo. Ao lançar situações-problemas, conteúdos conceituais, pode-se avaliar o nível
por meio de textos científicos ou jornalísticos, estu- de aprendizagem desses conteúdos através das
do de casos reais, tragédias, acontecimentos sociais, atividades de resolução de conflitos ou problemas
entre outras metodologias alternativas, o professor com base nos conceitos aprendidos. No que se
averigua o nível de aprendizagem dos conteúdos refere aos procedimentos, podemos aplicar ativi-
de ensino, das competências e o grau de eficácia na dades abertas para verificar o grau de funciona-
resolução dos problemas, observando o esquema lidade que elas têm para os alunos. Para avaliar
de atuação do aluno. as atitudes, atividades como debates, excursões,
colônias de férias e manifestações dentro ou fora
As situações-problema também auxiliam o
da aula com a intenção de averiguar a conduta
professor na obtenção de informações sobre as
interpessoal de cada aluno diante de situações de
dificuldades de aprendizagens e como o aluno
impasse e conflito.
reage diante de determinadas competências. É im-
prescindível conhecer essas dificuldades para que o Finalizando, o ensino das competências e seus
professor possa traçar estratégias de aprendizagem processos avaliativos são constructos complexos,
mais específicas e apropriadas e saiba escolher o porém possíveis de aplicabilidade eficaz no contex-
esquema de atuação mais apropriado para que o to educacional, uma vez que o projeto curricular e
aluno resolva o desafio. a criação de espaços para sua reflexão são impres-
cindíveis para o sucesso da nova abordagem em
Segundo Antoni Zabala e Laia Arnau (2010,
todos os níveis de ensino escolar.
pág. 175), "a característica diferencial das ativida-
des de avaliação das competências consiste em que No epílogo, Antoni Zabala e Laia Arnau
(2010) reforçam as ideias já tratadas no decor-
todas elas são parte de um conjunto bem definido
rer de todo o livro, enfatizando que o ensino
Gestão pedagógica
Gestão pedagógica
Princípios norteadores
Igualdade de condições – ampliação de aten-
dimento e alcance de qualidade.
Qualidade – para todos garantia do ingresso e
permanência dos que nela ingressam.
Gestão Democrática – Abrange as dimensões
pedagógicas, administrativa e financeira. Tem
em vista a socialização do poder.
Liberdade – associado à ideia de autonomia.
Regras e orientações criadas sem indisposições
externas.
Valorização do Magistério e continuada – a
Nº 10 • Abril/99
O tempo escolar – a escola deve reformular o seu Hoje: exigem-se outras respostas na qualidade
tempo, estabelecendo períodos de estudo e reflexão. dos serviços educacionais, considerando a capa-
cidade de cada pessoa, tomando-o como sujeito
O processo de decisão – deve haver mecanis-
pensante, reflexivo.
mos que estimulem a participação de todos.
Deve-se considerar a escola em sua relação com
As relações de trabalho – devem ser calcadas
o social e político e a subjetividade da construção
na solidariedade, reciprocidade e participação
dos conhecimentos e valores. Isto requer posicio-
coletiva, favorecendo o diálogo.
namento filosófico.
A avaliação – é um ato dinâmico e imprime
Também é impossível separar teoria e prática
uma direção às ações dos educadores e educandos.
administrativa de uma teoria e prática pedagógica.
Envolve três momentos: - a descrição e problema-
O comportamento administrativo manifesta seu
tização da realidade escolar, a compreensão crítica
alcance pedagógico.
da realidade descrita e problematizada e a propo-
sição de alternativas de ação (criação coletiva). Conceitos relevantes:
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A avaliação não pode ser instrumento de exclu- Meio e fins no processo decisório
são dos alunos provenientes das classes trabalhado- A administração é articuladora dos meios para
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184
ras. Deve favorecer o desenvolvimento da capaci- atingir os fins desejados e definidos. A organização
jan/2017 dade do aluno de apropriar-se de conhecimentos escolar democrática exige participação, práticas co-
letivas e individuais, baseada em decisões tomadas não devem mais aceitar determinações impostas
e assumidas pelo coletivo. Exige também da equipe de “cima para baixo” e que as decisões devem ser
diretiva liderança e vontade firme para coordenar tomadas na escola.
o processo decisório. Todavia um clima de frustração está presente
na escola ao se constatar o não realizado. Diversas
Agentes organizacionais
justificativas são dadas. Muitos educadores não
Os recursos são os demais componentes – mate-
alteram o seu fazer. Há educadores com posturas
riais, ideias... que a organização produz. A expressão
marcadas pelo ativismo, burocratismo... Poucos são
“ recursos humanos” é inadequada para as pessoas.
os que possuem a competência técnica e política.
Conflito organizacional Questão – Por que os discursos críticos e ino-
Nas organizações há visões, valores, necessida- vadores dos textos e documentos não traduzem o
des diferentes. O administrador é um administra- vivido na escola?
dor de conflitos. A resposta não é simples. É necessário estar
Os conflitos podem gerar socialização e co- atento ao cotidiano da escola, como espaço, in-
nhecimento, quando inseridos num contexto clusive do simbólico e do imaginário.
metodológico adequado. Segundo autores, como por exemplo Kosik,
Implementação do Projeto Político a escola é acusada pelo trabalho alienado de seus
Pedagógico profissionais. Nesta visão, a vida cotidiana passa a
ser um espaço de mediocridade, com valores como
A educação é compromisso ético dos brasileiros
para com os brasileiros. individualismo, a competição.
Gestão pedagógica
mal – a “paralisia pragmática”, a certeza absoluta.
e na construção de sua identidade exige: rompi-
mento com estruturas organizacionais fragmen- Mas os fatos ocorrem de maneira dinâmica.
tadas; definição clara de princípios e diretrizes Por ex: o conceito de família mudou, aluno é
contextualizadas; conhecimento da realidade outro, os professores mudaram. A escola precisa
escolar; análise e avaliação diagnóstica para criar “atualizar-se”.
soluções, planejamento participativo; atualização O descompasso entre o dito e o feito
constante dos profissionais da escola; coordenação
Estamos entre dois blocos paradigmáticos:
administrativo-pedagógica competente.
conservador e emergente. O empobrecedor é
Paradigma – Relações de poder entendermos o horizonte do conhecimento como
algo finito, acabado.
– Projeto Político-Pedagógico:
Na escola, de um lado temos os educadores que
dimensões indissociáveis do fazer
consideram o conhecimento como transmissão de
educativo. Lucia Maria Gonçalves um saber pronto e na outra extremidade os que
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ou a hegemonia ou a contra-hegemonia.
Autonomia da escola pública.
A classe dominante ao expressar seus interesses
Um foque operacional - Carmen
particulares em termos universais passa a ser he-
gemônica. A hegemonia domina pela persuasão e Moreira de Castro Neves
não pela força. A classe subalterna reconhece na Há uma íntima vinculação entre o Projeto Po-
classe dirigente o seu direito de dirigir e legitimar lítico Pedagógico e autonomia.
a dominação. Autonomia é um valor inerente ao ser humano:
O bloco histórico realiza-se quando um grupo o homem nasceu para ser livre, autônomo.
social impõe-se sobre os demais. A primeira dimensão de autonomia refere-se
à democracia. A autonomia da escola é um exer-
Um mergulho na escola pública cício de democratização de um espaço público: é
de séries iniciais delegar ao diretor e aos demais agentes pedagó-
Realizou-se uma pesquisa a respeito das rela- gicos a possibilidade de dar respostas ao cidadão
ções de poder no cotidiano de uma escola pública
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Gestão pedagógica
Político-Pedagógico – etapas
-aprendizagem – possibilidade de definir con- 1.análise da situação - levantar indicadores
teúdos, introduzir métodos novos, programas. pessoais e escolares dos alunos e sobre a equipe
adoção de critérios próprios de organização pedagógica; indicadores sobre as condições mate-
da vida escolar. Diz respeito a medidas como riais e financeiras; examinar o entorno da escola e
estabelecer números de dias letivos, calendário possibilidades de parcerias.
anual, horário, atividades extracurriculares,
2.definição dos objetivos – discutir os objeti-
oferecer merenda, material didático e outros.
vos nacionais, acrescentando outros que atendam
pessoal docente – qualidade do trabalho do à realidade da escola.
pessoal docente em relação com os resultados
3.escolha das estratégias – identificar pontos
pedagógicos da escola. Deve-se investigar a
fortes e fracos da escola, quais podem ser melho-
infra-estrutura de apoio à sala de aula, pos-
rados; estabelecer prioridades.
sibilidade de aquisição de material extra para
atividades. 4. elaboração do cronograma e definição dos
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espaços necessários
acordos e parcerias de cooperação técnica-
-assessoria e cooperação técnica para melhoria 5. coordenação entre os profissionais
da ação educativa. 6. implementação 187
O eixo financeiro associa-se à autonomia na 7. acompanhamento e avaliação. 187
jan/2017
Em suma, o Projeto Pedagógico da voz à escola 1. mudanças na estrutura político-administrativa.
e é a concretização de sua identidade, de suas ra- Mudanças nos órgãos centrais para que deixem
cionalidades interna e externa e consequentemente, as atitudes prepotentes de quem detém o mono-
de sua autonomia. pólio do poder.
A autonomia da escola: um Valorização da gestão descentralizada e democrática.
conceito operacional A autonomia exige desburocratização e transpa-
1. A primeira ideia é a de possibilidade, rência. Exige também a definição das três esferas
que tem a ver com viabilidade. A possibilidade do poder público: União, estados e municípios.
fundamenta-se na afirmação de que a autonomia 2. mudanças nos padrões de financiamento
é uma forma de delegação que se liga à temática e investimento.
da liberdade, da democracia do pluralismo. Reconhecer a autonomia da escola é fortalecê-
A autonomia pode ser conquistada. A autono- -la, dotá-la de boa infra-estrutura: o magistério
mia pode ser também outorgada. deve se tornar atraente.
2. A segunda ideia é a de capacidade, que está 3. mudanças no compromisso ético-profis-
relacionada à dimensão técnica. sional dos agentes envolvidos.
3. Em terceiro lugar, a ideia de elaborar e A autonomia valoriza esses agentes, remune-
implementar. ração inclusive.
A elaboração de um bom projeto é um trabalho 4. mudanças na qualidade dos resultados
participativo, democrático, responsável, compe- educacionais. Relacionam-se com a identidade e o
tente e solidário. Projeto Político-Pedagógico da escola: sua missão,
4. O quarto elemento é a idéia de relevância para resultados e a clientela a que serve.
a comunidade, que reforça a categoria da racionali- 5. mudanças na relação Estado-cidadão.
dade externa. A educação é relevante quando respeita
Num sistema centralizado, a escola ouve e obe-
a cultura do educando e com base nela é capaz de
situá-lo num horizonte maior, que amplie sua visão dece ao superior, o que vem de cima e, em geral,
de mundo e lhe forneça conhecimentos que lhe pos- apenas ouve os usuários. Autônoma, ela ouve, age,
sibilitam influir nos problemas e nas soluções de sua responde pelo que faz, presta conta aos alunos.
coletividade, enriquecendo sua própria cultura. Considerações finais
5. A quinta ideia – o Projeto Político-Peda- Há muito que fazer e mudar. O Brasil precisa
gógico deve ser relevante à sociedade. A socie-
Gestão pedagógica
Gestão pedagógica
temática a ser trabalhada pelo planejamento parti-
cipativo. Organiza informações, promove análise A intencionalidade política
e sínteses. do projeto político
Os problemas evidenciados devem ser organi- As intenções manifestas não são expectativas
zados em núcleos problemáticos. de um ser isolado, mas de uma comunidade. A
Quanto aos procedimentos da passagem das in- escola justifica sua existência ao traçar sua proposta
tenções ao plano, das informações às ações educa- pedagógica no consenso dos nela interessados e
tivas, devem ser pautados pela utopia, trabalhando por ela solidariamente responsáveis.
educadores e educandos, pais e mães a síntese do -Qual é o cidadão que a escola pretende formar?
poder da criar, de ser solidário, da democracia, da Essa intencionalidade ético-política deve se tornar
possibilidade de liberdade. efetiva e eficaz na estrutura organizacional da escola,
na dinâmica curricular, na especificação dos conte-
Escola, Aprendizagem e údos, na gestão democrática, nas metodologias, na
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medida que os alunos aprendem. trabalho à escola. Assim o professor não percebe a
função social e política do ato de ensinar.
Ao domínio do conhecimento-habilidades
técnicas, o professor deverá acrescentar compe- É necessário analisar o modelo de escola que
tência comunicativa própria. E ainda a paixão temos.
pelo homem. _Qual é a filosofia_ presente nos documentos
Currículos, programas, metodologias, técnicas – escolares? Que relação essa filosofia estabelece com
tudo são pretextos para as relações que se estabelecem as formas de organização presentes na escola?
entre seres humanos que se respeitam e se admiram. Essas reflexões e a construção de um Projeto
Político Pedagógico significam um longo e perma-
Projeto Político Pedagógico da nente processo de ação-reflexão-ação.
escola: desafio à organização Conhecimento e cultura articulados
dos educadores – Anna Rosa F.
Santiago na práxis escolar
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Gestão pedagógica
5º série. como: pesquisa de campo, registros, gráficos,
- até 1980 – alto índice de reprovação e evasão análises, envolvendo todas as disciplinas.
escolar O grupo escolheu as oficinas pedagógicas.
Gestão pedagógica
Curiosidade ingênua Criticidade Curiosidade crítica Medo coragem
(inquietação A prática docente contribui para que os
indagadora) alunos superem a insegurança.
Gestão pedagógica
de comparar, de avaliar, de decidir, entre o que
O grupo – uma das tarefas do educador pro-
se fala e o que se faz. E a presença do educador é
gressista é ser sensível à leitura do grupo.
política – uma presença de opções, de análises, de
A culpa – O poder ideológico dominante in-
não falhar à verdade de ser um testemunho.
culca nos dominados a responsabilidade por sua
situação. Daí, a tarefa do educador progressista é 3.3. Ensinar exige compreender que
também ajudar o educando a ler o mundo para a educação é uma forma de
superar essa “culpa indevida”. intervenção no mundo.
educação . ensino/ aprendizagem de conteúdos
2.9. Ensinar exige curiosidade intervenção no . reprodutora/ desmascaradora da
Sem curiosidade nem aprendo e nem ensino. mundo ideologia dominante
Curiosidade domesticada memorização seres humanos determinados intervenção no mundo
Curiosidade epistemológica conhecimento e livres
O exercício da curiosidade convoca a imagina- Interesses dominantes imobilização
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Gestão pedagógica
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jan/2017
Anotações:
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Gestão
de processos
administrativos
LIBÂNEO, José Carlos. Organização e gestão da escola: teoria e
prática. 6ª edição. São Paulo: Heccus, 2013.
APRESENTAÇÃO
Resenha elaborada por
O livro do professor José Carlos Libâneo foi
Antonia Maria Nakayama
organizado a partir do material de suas aulas ofe-
Graduada em Psicologia pela PUC-SP recidas junto à faculdade de Educação da Univer-
Mestrado em Psicologia Escolar pelo IPUSP sidade Federal de Goiás, na disciplina Organização
Doutorado em Didática pela FEUSP do trabalho pedagógico. Reúne escritos acerca da
estrutura e da organização das escolas e das con-
dições de exercício profissional dos professores.
O livro tem como função, segundo o autor,
contribuir para o enfrentamento das importantes
decisões com as quais os educadores se deparam
no cotidiano escolar principalmente da escola
pública, onde estão matriculados os filhos das
Gestão de processos administrativos
troles contábeis.
ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DA ESCOLA
Para Libâneo considerar a escola como ENFRENTANDO A MUDANÇA
201
201
local de aprendizagem da profissão de professor Mudança significa transformação, altera-
significa entender que nesse local o professor de- ção de uma situação, passagem de um estado a jan/2017
outro. Os educadores enfrentam profundas mu- formação, afetando a produção, circulação e
danças no campo econômico, político, cultural, consumo da cultura.
geográfico e educacional. M udanças nos processos de produção, na
Libâneo observa que o ensino tem sido afetado organização do trabalho, nas formas de orga-
por vários fatores como a mudança do currículo, nização dos trabalha, dores, nas qualificações
a organização da escola e a introdução de novos profissionais.
recursos didáticos e essas alterações provocam tam- Alterações nas concepções de Estado e das suas
bém mudanças na identidade do professor, represen- funções, prevalecendo o modelo neoliberal de
tado pelo conjunto de conhecimentos, habilidades, diminuição do papel do Estado e fortalecimento
atitudes e valores que definem seu trabalho. das leis do mercado.
O desenvolvimento da atitude crítico-reflexiva é Mudanças nos paradigmas da ciência e do
uma forma eficaz de aprender a enfrentar as mudan- conheci, mento, influindo na pesquisa, na
ças, de modo a associar o próprio fazer e o processo produção de conhecimentos, nos processos de
de pensar. A ação e a reflexão atuam simultaneamen- ensino e aprendizagem.
te, porque elas estão entrelaçadas e os dirigentes da
escola precisam apoiar os professores a partir da Agravamento da exclusão social, aumento da
reflexão sobre a prática, a examinar suas opiniões distancia social e econômica entre incluídos e
atuais e os valores que as sustentam, a colaborar na excluídos dos novos processos de produção e
Gestão de processos administrativos
modificação dessas opiniões e valores tendo como das novas formas de conhecimento.
referencia as necessidades dos alunos e da sociedade Dentre esses aspectos, serão destacados alguns
e os processos de ensino e aprendizagem. que tocam mais de perto a escola e o
trabalho dos professores.
CAPÍTULO II. UMA ESCOLA
AS MUDANÇAS NA ECONOMIA: NOVO
PARA NOVOS TEMPOS PARADIGMA PRODUTIVO
As instituições escolares vêm sendo pressiona-
As mudanças na economia, expressas em novas
das a repensar seu papel diante das transformações
formas de produção baseadas nas novas tecnolo-
que caracterizam o acelerado processo de integra-
gias e no capitalismo financeiro, no processo de
ção e reestruturação capitalista mundial. De fato, o
globalização, que amplia as fusões entre empresas
novo paradigma econômico, os avanços científicos
transnacionais e amplia-se a circulação do capital
e tecnológicos, a reestruturação do sistema de
financeiro. O modelo econômico, conhecido por
produção e as mudanças no mundo do conheci-
neoliberalismo, ter trazido consequências bastante
mento afetam a organização do trabalho e o perfil
prejudiciais às políticas sociais dos países e o em-
dos trabalhadores, repercutindo na qualificação
pobrecimento da população.
profissional e, por consequência, nos sistemas de
ensino e nas escolas. Essas mudanças atingem o sistema educacional,
Destacam-se os seguintes aspectos: exigindo-se dele a adequação aos interesses do mer-
cado e investimentos na formação de profissionais
Notáveis avanços tecnológicos na microele-
mais preparados para as modificações do processo
trônica, na informática, nas telecomunicações,
de produção e requerem trabalhadores com mais co-
na automação industrial, na biotecnologia,
nhecimento cultura e preparo técnico. Sendo assim,
na engenharia genética, entre outros setores,
o usufruto ou a falta da educação básica (incluindo
caracterizando urna revolução tecnológica sem
novas habilidades cognitivas e competências sociais)
precedentes.
passa a ser determinante da condição de inclusão ou
Globalização da sociedade, internacionalização exclusão social, porque o mercado de trabalho não
do capital e dos mercados, reestruturação do
Nº 10 • Abril/99
processos decisórios existentes na sociedade civil. currículo centrado na formação geral e continuada
de sujeitos pensantes e críticos, na preparação para
A CRISE ÉTICA uma sociedade técnica/científica/informacional, na
203
203
No campo da ética, o mundo contemporâneo formação para a cidadania crítico-participativa e
convive com uma crise de valores, predominando na formação ética. jan/2017
A ESCOLA NECESSÁRIA PARA síntese, no exercício de seu papel na construção da
OS NOVOS TEMPOS democracia social e política, são propostos cinco
A escola necessária para fazer frente a essas objetivos:
realidades é a que provê formação cultural e cien- promover o desenvolvimento de capacidades
tífica, que possibilita o contato dos alunos com a cognitivas, operativas e sociais dos alunos (pro-
cultura, aquela cultura provida pela ciência, pela cessos mentais, estratégias de aprendizagem,
técnica, pela linguagem, pela estética, pela ética. competências do pensar, pensamento crítico),
Especialmente, uma escola de qualidade é aquela por meio dos conteúdos escolares.
que inclui, uma escola contra a exclusão econômi- promover as condições para o fortalecimento
ca, política, cultural, pedagógica. da subjetividade e da identidade cultural dos
A escola cumpre funções que não são providas alunos, incluindo o desenvolvimento da criati-
por nenhuma outra instância, ou a de prover for- vidade, da sensibilidade, da imaginação.
mação geral básica -capacidade de ler, escrever, for- preparar para o trabalho e para a sociedade
mação científica, estética e ética, desenvolvimento tecnológica e comunicacional, implicando pre-
de capacidades cognitivas e operativas. Por outro paração tecnológica (saber tomar decisões, fazer
lado, a escola precisa ser repensada, porque ela análises globalizantes, interpretar informações
não detém o monopólio do saber, pois a educação de toda natureza, ter atitude de pesquisa, saber
acontece em muitos lugares, por meio de várias trabalhar junto etc.);
Gestão de processos administrativos
agências como a família, os meios de comunicação, formar para a cidadania crítica, isto é, formar um
as empresas, os clubes, as academias de ginástica, cidadão-trabalhador capaz de interferir criticamen-
os sindicatos. te na realidade para transformá-la e não apenas
A escola de hoje não pode se limitar a passar formar para integrar o mercado de trabalho.
informação sobre as matérias, a transmitir o conhe- desenvolver a formação para valores éticos, isto é,
cimento do livro didático. Ela é urna síntese entre formação de qualidades morais, traços de caráter,
a cultura experienciada que acontece na cidade, na atitudes, convicções humanistas e humanitárias.
rua, nas praças, nos pontos de encontro, nos meios
Em relação ao primeiro objetivo, o que está
de comunicação, na família, no trabalho etc., e a
em questão é uma formação que ajude o aluno a
cultura formal que é o domínio dos conhecimen-
transformar-se num sujeito pensante, de modo que
tos, das habilidades de pensamento.
aprenda a utilizar seu potencial de pensamento na
Na escola, pelos conhecimentos e pelo desen- construção e reconstrução de conceitos, habilida-
volvimento das competências cognitivas, torna-se des, atitudes, valores.
possível analisar e criticar a informação. Os alunos
O segundo objetivo visa a assegurar a ligação
vão aprendendo a buscar a informação (na TV, no
entre os aspectos cognitivos, social e afetivo da
rádio, no jornal, no livro didático, nos vídeos, no
formação. O ensino implica lidar com os sentimen-
computador, etc.) mas, também, os instrumen-
tos, respeitar as individualidades, compreender o
tos conceituais para analisarem essa informação
mundo cultural dos alunos e ajudá-los a se cons-
criticamente e darem-lhe um significado pessoal
truírem como sujeitos, a aumentar sua autoestima,
e social. A escola fará, assim, a síntese entre a cul-
sua autoconfiança, o respeito consigo mesmos.
tura formal (dos conhecimentos sistematizados)
e a cultura experienciada. Por isso, é necessário O terceiro objetivo propõe que a escola con-
que proporcione não só o domínio de linguagens temporânea atenda às demandas produtivas e de
para a busca da informação, mas também para a emprego, ou seja, promova a inserção competente
criação da informação. Ou seja, a escola precisa e crítica no mundo do trabalho, incluindo a prepa-
articular sua capacidade de receber e interpretar ração para o mundo tecnológico e comunicacional
e para as complexas condições de exercício profis-
Nº 10 • Abril/99
vertente das "sociedades sustentáveis" que, sem de vida baseada mais na relação com a natureza e
negar os avanços técnicos e o desenvolvimento as pessoas do que com os objetos.
ambiental, questiona o modelo de progresso
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL
destruidor da natureza.
A educação intercultural se projeta num currí-
Essas quatro correntes enfatizam diferentes
culo intercultural assentada no princípio pedagógi-
concepções e formas de fazer educação ambiental
co mais amplo: o acolhimento da diversidade, isto
e, do ponto de vista pedagógico, não se excluem.
é, o reconhecimento dos outros como sujeitos de
A educação ambiental contribui na formação
humana: sua individualidade, portadores de uma identidade
cultural própria. Acolher a diversidade é a primei-
levando os alunos a refletirem sobre as questões
ra referência para a luta pelos direitos humanos.
do ambiente no sentido de que as relações do ser
A presença da diversidade humana na sociedade
humano com a natureza e com as pessoas assegu-
resulta na transversalidade de culturas, no sentido
rem uma qualidade de vida no futuro, diferente
de que toda cultura é plural. Uma prática, um
do atual modelo economicista de progresso;
comportamento intercultural, significa reconhecer
educando as crianças e jovens para proteger, o pluralismo cultural, aceitar a presença de várias
conservar e preservar espécies, o ecossistema e culturas e desenvolver hábitos mentais e atitude de
o planeta como um todo; abertura e diálogo com essas culturas.
ensinando a promover o autoconhecimento, o De fato, professores e alunos convivem com
conhecimento do universo, a integração com uma pluralidade crescente de pessoas e grupos
a natureza; sociais. pela intensificação da migração decorrente
introduzindo a ética da valorização e do respeito do aumento das desigualdades, da pobreza, da
à diversidade das culturas, às diferenças entre as falta de terra. Com isso, as crianças nas escolas
pessoas, pois os seres humanos estão incluídos convivem com pessoas diferentes, às vezes com
no conceito de natureza; culturas e costumes diferentes, diferentes etnias e
empenhando os alunos no fortalecimento da diferentes linguagens.
democracia, da cidadania, das formas comu-
Nº 10 • Abril/99
A profissionalização refere-se às condições feita à luz da teoria, para que possa ter segurança
ideais que garantam o exercício profissional de de experimentar novas formas de atuação, novas
qualidade, ou seja, a formação inicial e a forma- estratégias de ensino. Assim se transforma em um
208
208
ção continuada, nas quais o professor aprende e pesquisador, a caminho de construir sua autono-
jan/2017 desenvolve competências, habilidades e atitudes mia profissional, enriquecendo-se de conhecimen-
tos e praticas e aprendendo a resolver problemas, lhoria profissional na educação inicial e continuada
inclusive os imprevistos. como requisitos essenciais para a profissionalização.
É preciso desenvolver a capacidade de dar res-
postas criativas conforme cada situação, construindo CAPÍTULO V. OS CONCEITOS
estratégias e procedimentos adequados e, para que DE ORGANIZAÇÃO, GESTÃO,
isso ocorra o trabalho em equipe cria uma cultura PARTICIPAÇÃO E CULTURA
organizacional em que os professores pensam jun- ORGANIZACIONAL
tos, e assumem responsabilidades coletivamente.
A expressão “organização escolar” é frequente-
Nos últimos anos vários estudos vêm pesquisan- mente identificada com “administração escolar”,
do os saberes – conhecimentos teóricos e práticos termo que caracteriza os princípios e procedi-
requeridos para o exercício profissional, e as compe- mentos referentes a ação e planejar o trabalho da
tências – como qualidades, capacidades, habilidades escola, racionalizar o uso de recursos (materiais,
e atitudes relacionadas com esses conhecimentos financeiros, intelectuais), coordenar e controlar o
teóricos e práticos e que permitem a um profissional trabalho das pessoas.
exercer adequadamente sua profissão.
ORGANIZAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO
A partir dos estudos de diversos autores Libâ-
neo apresenta as qualidades e capacidades exigidas A maioria dos autores que estudam as tarefas
de administrar, gerir, organizar, dirigir, tomar de-
N PRINCIPIO SIGNIFICADO
1. Autonomia das escolas e da Significa o poder de decisão da instituição sobre seus objetivos e formas
comunidade educativa. de organização, podendo gerir seus recursos, com a equipe corresponsável
pelo êxito. Requer a aplicação criadora das diretrizes gerais que recebe dos
níveis superiores da administração do ensino.
2. Relação orgânica entre a Sob a supervisão do diretor a equipe escolar formula o plano ou projeto
direção e a participação dos pedagógico, toma decisões por meio da discussão com a comunidade
membros da equipe escolar. escolar mais ampla e aprova o documento que orienta suas ações.
3. Envolvimento da comunida- O vínculo com a comunidade educativa permite a elaboração conjunta do
de no processo escolar projeto pedagógico, a prática de decisão coletiva que leva a possibilidade
de participação em outras instâncias decisórias e dão respaldo a busca de
soluções no poder legislativo.
4. Planejamento das tarefas O plano de ação da escola ou projeto pedagógico discutido e analisado
publicamente pela equipe escolar torna-se o instrumento unificador das
atividades escolares, convergindo na sua execução o interesse e o esforço
Nº 10 • Abril/99
valores, ou seja institui uma cultura organizacional. decisões e cumprimento das ações necessárias para
Nesse sentido, sintetiza os interesses, desejos e seu alcance, com respeito a direção do processo.
216
216
propostas dos educadores que respondem a essas Unidade teórico-metodológica no trabalho
jan/2017 perguntas: pedagógico. Definição dos objetivos comuns,
assegurados pela coordenação e articulado pelos de avaliação e as orientações didáticas.
professores. Libâneo apresenta a sugestão de um roteiro
Sistema explícito e transparente de acom- para formulação do projeto pedagógico-curricular:
panhamento e avaliação do projeto e das 1. Contextualização e caracterização da escola
atividades da escola. Põe em evidência os
1.1 Aspectos sociais, econômicos, culturais, ge-
êxitos, resultados e também as dificuldades ográficos
surgidas na implantação e execução dos planos,
1.2 Condições físicas e materiais
confrontando o que foi decidido com o que
está sendo feito. 1.3 Caracterização dos elementos humanos
1.4 Breve história da escola (como surgiu, como
A IMPORTÂNCIA DO PROJETO NA
vem funcionando, administração, gestão, partici-
ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DA ESCOLA
pação dos professores, visão que os alunos tem da
A ação de planejar representa o processo de escola, pais, escola, comunidade).
previsão de objetivos, metas, ações e procedimen-
2. Concepção de educação e de práticas escolares
tos, concretizando-se no plano, o documento mais
abrangente, subdividido em programas, detalha- 2.1 Concepção de escola e de perfil de formação
dos em projetos. dos alunos
Sendo assim, pode resultar em diferentes con- 2.2 Princípios norteadores da ação pedagógica-
intenção é dar uma base nacional comum à educa- a pesquisa do aluno e o clima psicológico e
ção, como as propostas curriculares dos estados e social da escola.
municípios, os parâmetros curriculares nacionais Currículo construtivista. Diretamente associado
divulgados pelo Ministério da Educação. às ideias de Jean Piaget tem como ideia chave o
O currículo real é o currículo que acontece dentro papel ativo do sujeito no processo de aprendi-
da sala de aula com os professores e alunos a cada dia zagem e as atividades devem corresponder ao
em decorrência de um projeto pedagógico e dos pla- desenvolvimento intelectual dos alunos. o papel
nos de ensino. Constituído pela prática de ensino do do professor é o de organizador e facilitador da
professor e o que está sendo aprendido pelos alunos, aprendizagem visando assegurar a interação do
sendo assim uma contextualização dos conteúdos e aluno com os objetos de conhecimento. O constru-
o que efetivamente se passa em sala de aula. tivismo tem influenciado as chamadas ciências da
O currículo oculto. Uma característica deste cognição, entre elas a neurofisiologia, a linguística,
currículo é sua flexibilidade, pois os professores a neurociência e a inteligência artificial. Com base
podem fazer alterações a fim de que seus alunos teórica apoiada no russo Lev Vygotsky, a vertente
aprendam mais.to diz respeito àquelas aprendiza- interacionista de orientação histórico-cultural
gens que fogem ao controle da própria escola e supõe que o sujeito se relaciona com outros sujei-
do professor, passando quase despercebidas, mas tos e com objetos em meio cultural. a educação
que possui uma força formadora muito intensa. É tem o papel de promover o desenvolvimento das
tudo que o aluno aprende no meio social escolar Funções psicológicas superiores.
e que interfere significativamente no aprendizado Currículo sócio-crítico (ou histórico-social).
do mesmo, como cultura, religião, entre outros. Essa abordagem tem duas correntes. Uma que
Este termo “oculto” usado para especificar esse dá enfatiza as questões políticas do processo
currículo é usado porque ele não é prescrito, não de formação, outras colocam a relação peda-
aparece no planejamento, embora seja um impor- gógica como mediação da formação política.
tante fator de aprendizagem. Essas abordagens convergem na concepção
do ensino como compreensão da realidade
CONCEPÇÕES DE ORGANIZAÇÃO
Nº 10 • Abril/99
plando as dimensões dos conteúdos: conheci- equipes das escolas possam realizar as adequações
mentos, procedimentos e valores. necessárias para que o significado da aprendizagem
seleção e organização das disciplinas que seja garantido.
compõem o currículo, com a definição de OS PCN E A ORGANIZAÇÃO
temas, metodologia, procedimentos e formas CURRICULAR
de avaliação.
A organização do conhecimento escolar em
explicitação das formas de participação dos áreas, os respectivos conteúdos e o tratamento
alunos no planejamento do currículo e nas transversal de questões sociais constituem os
instâncias de organização e gestão. elementos básicos da organização curricular, in-
concepções e procedimentos de avaliação da tegrando conhecimentos de diferentes disciplinas.
escola, do currículo, dos professores e da apren- Os temas transversais referem-se a questões
dizagem dos alunos. que interferem na vida dos alunos, como a ética,
Os planos de ensino são elaborados pelos pro- saúde, meio ambiente, orientação sexual e plura-
fessores em consonância com a proposta curricular lidade cultural. A transversalidade pressupõe um
da escola. Algumas recomendações: tratamento integrado das áreas e uma vivência
o plano de ensino compreende os objetivos, os no âmbito da organização da escola e dos valores
conteúdos, as competências, o desenvolvimento trabalhados em sala de aula.
metodológico e a avaliação. Os PCN estão organizados em ciclos de dois
o plano deve conter uma justificativa do papel anos, sendo o primeiro referente aos dois primeiros
da disciplina no currículo de formação geral, anos do ensino fundamental, o segundo refere-se aos
explicitando a interface com outras disciplinas. terceiros e quartos anos e, assim, sucessivamente.
cada disciplina define seus objetivos, conteú-
dos, competências em relação aos objetivos e CAPÍTULO IX. ORGANIZAÇÃO
conteúdos. GERAL DO TRABALHO
Nº 10 • Abril/99
o planejamento curricular coletivo deve as- A organização incide diretamente na eficiência
segurar, dentro da concepção e o formato de e na eficácia do processo de ensino e aprendiza-
currículos escolhidos, a articulação vertical e gem, na medida em que garante as condições de
220
220
horizontal entre as áreas e as disciplinas do funcionamento da escola e uma ação unificada da
jan/2017 currículo. equipe escolar.
As várias atividades da escola podem ser agru- O exercício da direção e da coordenação depende
padas em quatro áreas de ação: de fatores tais como: a autoridade, que se trata do
A organização da vida escolar. Refere-se a exercício de um poder delegado a alguém para dirigir
criação de condições da correta distribuição de e coordenar medidas tomadas coletivamente; a res-
tarefas, organização do espaço físico, clima de ponsabilidade é uma exigência inerente da autoridade;
trabalho, relações humanas satisfatórias, sistema a decisão como capacidade de selecionar diante de
participativo de tomada de decisões, condições várias alternativas, a decisão mais adequada; a disci-
de higiene e limpeza, que concorrem para o plina implica compatibilizar a conduta individual com
desenvolvimento escolar dos alunos. as normas, regulamentos, interesse da vida social e
escolar; a iniciativa, como capacidade crítica e criativa
A organização do processo de ensino e apren-
de encontrar soluções aos problemas.
dizagem. Para a organização do trabalho em sala
de aula é necessário que haja o planejamento das O diretor da escola tem como funções: supervi-
aulas, a busca do envolvimento dos alunos, o sionar e responder pelas atividades administrativas
desenvolvimento de habilidades e capacidades e pedagógicas da escola, bem como com as ativida-
intelectuais e o trabalho independente. des com os pais; assegurar as condições e meios de
manutenção de um ambiente de trabalho favorável;
A organização das atividades de apoio
promover a integração e articulação entre a escola
técnico-administrativo. As atividades admi-
e a comunidade próxima; organizar e coordenar
nistrativas abrangem a secretaria, os serviços
para que os professores possam compreendê-las e O estudo de Abdalla pode contribuir para que
encontrarem novas formas de enfrentá-las. a escola repense sua cultura, abrindo espaço para
222
222
A formação em serviço ganha nova dimensão e possibilidades de mudança, em que as necessidades
jan/2017 os sistemas de ensino precisam assegurar condições subjetivas possam ser trazidas à tona, podendo
produzir novo caminho na profissionalidade dos cação para todos, realizada nos anos 1993-94,
professores. que prevê: reforma institucional com redefinição
das responsabilidades do MEC; d novos padrões
CAPÍTULO XII. AVALIAÇÃO DE der gestão e a ampliação do acesso, conteúdos
SISTEMAS ESCOLARES E DE curriculares básicos e padrões de aprendizagem a
ESCOLAS nível nacional, formação de professores, ensino à
distancia, sistema de avaliação das escolas e padrões
Até a alguns anos atrás a prática da avaliação era
de qualidade para o livro didático.
uma atividade da escola, dirigida ao desempenho
escolar dos estudantes, porém, atualmente, a prá- A avaliação global das escolas é feita pelo Mi-
tica de avaliação institucional tem sido frequente. nistério da Educação e pelo Instituto Nacional
de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP) e
Na avaliação dos sistemas de ensino a avaliação
compreende:
tem como objetivo fazer um diagnóstico amplo
do sistema escolar visando reorientar a política SAEB – Sistema Nacional de Avaliação da Edu-
educacional, a gestão do sistema e a pesquisa. cação Básica. Realizada a cada dois anos por meio
de amostragem do ensino fundamental e médio.
A avaliação dos alunos realizada pelos profes-
sores é realizada com base nos processos de ensino ENC – Exame Nacional de Cursos. Criado em
realizados em sala de aula e, nesse processo, tam- 1996 para avaliar os cursos de graduação, com
caráter obrigatório aos formandos.
cados, com maior flexibilidade profissional para com o projeto pedagógico e com o currículo, es-
atender as novas demandas do mercado de trabalho. tratégias que podem assegurar bons resultados de
rendimento escolar. 223
223
No Brasil, a reforma ensaiou seus primeiros
passos na formulação do Plano Decenal de Edu- Uma proposta pedagógica progressista pode jan/2017
assumir a avaliação dos estabelecimentos escola- nal dos professores e especialistas, os resultados
res por meio dos resultados do aprendizado dos do rendimento escolar dos alunos) em função da
alunos, a descentralização das escolas, favorecendo responsabilidade sociais da escola.
a identificação de necessidades locais, o envolvi- Se os testes e outras formas de aferição do ren-
mento dos professores e pais, a ênfase no desenvol- dimento escolar forem bem elaborados, é possível
vimento das capacidades básicas de aprendizado. detectar problemas e dificuldades no ensino das
AVALIAÇÃO EDUCACIONAL – matérias de forma que a escola e os professores to-
ENTRE A AVALIAÇÃO DE SISTEMAS mem providencias para saná-los. mas todo cuidado
EDUCACIONAIS E AS AVALIAÇÕES DO é pouco para que os resultados não sejam tomados
PROFESSOR NA SALA DE AULA como único parâmetro de análise da escola.
Embora os problemas envolvidos na avaliação ASPECTOS A SEREM AVALIADOS NO
educacional sejam muitos, é importante a implan- ÂMBITO DA ORGANIZAÇÃO ESCOLAR
tação de programas de avaliação dos sistemas edu- A avaliação pode incidir sobre as seguintes
cacionais. Esses programas utilizam testes padroni- variáveis:
zados visando ao maior controle da qualidade do
dados estatísticos sobre a população escolar-
ensino, inclusive para tentar diagnosticar disparida-
-reprovações, abandono escolar, situação so-
des de rendimento entre alunos que não podem ser
cioeconômica dos pais
Gestão de processos administrativos
225
225
jan/2017
Anotações:
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Gestão de
pessoas
MORAN, José Manuel; MASETTO, Marcos T.; BEHRENS, Marilda.
Novas tecnologias e mediação pedagógica. 21. ed. rev. e atual.
Campinas: Papirus, 2013.
Dos autores
Resumo elaborado por
Jose Manuel Moran
Fábio Cristiano de Moraes.
Possui graduação em Filosofia pela Faculdade
Graduado em Filosofia Nossa Senhora Medianeira (1971), mestrado
Mestrado em Filosofia pela Universidade de São (1982) e doutorado em Ciências da Comunicação
Paulo pela Universidade de São Paulo (1987). Foi pro-
Doutorado em Filosofia pela Universidade de fessor de Novas Tecnologias na Universidade de
São Paulo
São Paulo (aposentado). Professor, Pesquisador,
Conferencista e Orientador de Projetos Educa-
cionais Inovadores com metodologias ativas nas
modalidades presencial e a distância.
Marcos Tarciso Masetto
Possui graduação em Licenciatura em Filosofia
pela Faculdade Anchieta de São Paulo (1970),
mestrado em Educação (Psicologia da Educação)
pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
(1975) e doutorado em Educação (Psicologia da
Educação) pela Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo (1981). É professor titular da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo. Tem experiên-
cia na área de Educação, com ênfase em Formação
Pedagógica de Professores Universitários, atuando
principalmente nos seguintes temas: currículo,
ensino superior, formação de professores, apren-
Gestão de pessoas
Gestão de pessoas
em sala de aula e, como isso, traçar algumas consi-
característica fundamental para o uso em educa-
derações fundamentais, sem as quais as tecnologias
ção tanto da tecnologia convencional, quanto das
prestarão um desfavor à educação. E quais são os chamadas novas tecnologias. Seu ensaio tem título
seus pontos críticos? de “Mediação pedagógica e o uso da tecnologia”.
1. A discussão sobre a qualidade da educação;
2. A construção do conhecimento na sociedade Parte I. Ensino e Aprendizagem
de informação; inovadores com tecnologias
3. As novas concepções do processo de ensino- audiovisuais e telemáticas
-aprendizagem colaborativo;
José Manuel Moran
4. A revisão e a atualização do papel e das funções
do professor; Para onde estamos caminhando
5. A formação profissional do professor; no ensino?
Nº 10 • Abril/99
6. A compreensão e a utilização das novas tecnologias A primeira realidade que se nos apresenta é a
1 Telemática é o conjunto de tecnologias da informação e da comunicação resultante da junção entre os recursos das telecomunicações
229
229
(telefonia, satélite, cabo, fibras ópticas etc.) e da informática (computadores, periféricos, softwares e sistemas de redes), que possibilitou
o processamento, a compressão, o armazenamento e a comunicação de grandes quantidades de dados (nos formatos texto, imagem e
som), em curto prazo de tempo, entre usuários localizados em qualquer ponto do Planeta. jan/2017
característica mais proeminente da sociedade do sé- o ensino, visto que a primeira (a educação) pres-
culo 21: a mudança. Todas as estruturas, processos supõe o segundo (o ensino), mas não o inverso.
e valores que foram consagrados no decorrer dos Educar é uma forma de transformar a vida
séculos passados, têm se transformado. A educa- em um processo de permanente aprendizagem.
ção, nesse contexto, tem sido pressionada para que Ensinar, distintamente, é um processo social, na
mude em novas formas de ensino-aprendizagem. A medida em que está inserido em cada cultura com
maneira milenar de ensinar já não mais se justifica, suas normas, tradições e leis; mas também é um
neste ambiente novo. processo profundamente pessoal, já que cada um
A mudança da educação abre um novo mercado de nós desenvolve um estilo, uma forma própria de
que tem atraído grandes grupos econômicos dis- aprender. Além disso, “ensinar depende também de
postos a investir neste nicho de comércio. Para estes um aluno querer aprender e estar apto a aprender
investidores, o caminho de transformação do ensino em determinado nível (depende da maturidade,
está na esteira das tecnologias telemática de alta velo- da motivação da competência adquirida)” (p.13).
cidade. Pretende-se conectar os alunos, os professores O ensino desta forma entendido, é possível
e a administração. Objetivo é ter cada classe conectada dizer que, em alguns poucos casos, nós temos
à internet e cada aluno com o notebook. Por isso, os alguns cursos, faculdade e universidades com áreas
investidores que estão entrando no campo educacio- de relativa excelência no ensino, mas o conjunto
nal, vendo nele meio de ganhar dinheiro, investem das instituições de ensino está muito distante do
pesadamente no ensino a distância. conceito de qualidade. Isto porque o ensino de
Este movimento – já presente em grande parte qualidade envolve muitas variáveis: ele pressupõe,
de nosso país – assume a premissa segundo a qual de um lado, uma organização inovadora, aberta
a tecnologia poderá resolver os problemas na educa- e dinâmica com projetos pedagógicos coerentes
ção, que a forma anterior de ensinar não podia fazê- e participativos; uma infraestrutura adequada,
-lo. Esquecem, porém, que: “se ensinar dependesse atualizada, confortável e tecnologias acessíveis,
rápidas e inovadoras; a isso se deve somar um
só de tecnologias já teríamos achado as melhores
corpo docente bem preparado intelectual e emo-
soluções há muito tempo. Elas (as tecnologias) são
cionalmente, bem remunerado motivado e com
importantes, mas não resolvem as questões de fun-
boas condições profissionais. Por fim soma-se essas
do. Ensinar e aprender são os desafios maiores que
duas condições uma terceira, é preciso ter alunos
enfrentamos em todas as épocas e particularmente
motivados e preparados intelectual e emocional-
agora em que estamos pressionados pela transição
mente, com capacidade de interagir em grupo e
do modelo de gestão industrial para o da informa-
que não veja no ensino apenas o diploma.
ção e do conhecimento". (p.12).
Como se percebe, a partir destas exigências,
Os desafios de ensinar e educar com qualidade
ensino de qualidade envolve variáveis que no fim
Com certa dose de ignorância, apregoa-se a das contas encontra barreira no seu financiamento,
necessidade de se ter um ensino de qualidade, com efeito escreve Moran: “o ensino de qualidade é
quando na verdade se deveria empreender todos muito caro, pode ser pago por poucos ou tem que
os esforços para ter uma educação de qualidade. ser amplamente subsidiado e patrocinado” (p.14).
Por falta de referência teórica, confunde-se ensi- Tem-se, de modo geral, um ensino muito mais
no com educação. Estes conceitos, contudo, são problemático – por questões econômicas – da ma-
radicalmente diferentes. Diz o autor: “no ensino ravilha anunciada pelas instituições. Há muito mais
organiza-se uma série de atividades didáticas para marketing do que ensino real. Num quadro mais
ajudar os alunos a compreender áreas específicas geral, “temos muitos alunos que ainda valorizam
do conhecimento […]. Na educação o foco, além mais o diploma do que o aprender, que fazem o
Nº 10 • Abril/99
de ensinar, e ajudar a integrar ensino e vida, co- mínimo (em geral) para serem aprovados” (p.15);
nhecimento e ética, reflexão e ação, a ter uma visão ao lado destes encontram-se instituições que, na
de totalidade” (p.12). Tomando tal distinção por sua maior parte, estão voltadas “para o lucro fácil,
230
230
Moran, numa cognição sumária, é possível perce- aproveitando a grande demanda existente” (p.15).
jan/2017 ber que educação é infinitamente mais ampla que O desafio maior, como se percebe, é o de caminhar
para o ensino e a educação de qualidade. Educação O processamento da informação se dá de três
que engloba um ensino de qualidade é aquela que formas, segundo o nosso objetivo e o nosso univer-
integra todas as dimensões do ser humano. so cultural. A mais habitual delas é o processamen-
As dificuldades para mudar educação to lógico-sequencial, que se expressa na linguagem
falada e na escrita, em que vamos construindo
A mudança da Educação depende, em primeiro
o sentido aos poucos, em sequência espacial ou
lugar, de termos educadores maduros intelectual e
temporal, dentro de um código relativamente de-
emocionalmente, pessoas curiosas, entusiasmadas,
finido que é o da língua, com maior liberdade na
abertas, que saibam motivar e dialogar. Pessoas
fala e na escrita pessoal ou coloquial. Em outros
com as quais valha a pena entrar em contato,
momentos, processamos a informação de forma
porque deste saímos enriquecidos. O educador
hipertextual, contando histórias, relatando situa-
autêntico é humilde e confiante. Mostra o que
ções que se interconectam, ampliam-se, que nos
sabe e, ao mesmo tempo, está atendo ao que não
leva a novos significados importantes inesperados.
sabe, ao novo. Os grandes educadores atraem não
É a comunicação “linkada”. A leitura hipertextual
só pelas suas ideias, mas pelo seu pessoal. Dentro
é feita como que em “ondas”, em que uma leva à
ou fora de aula chamam atenção. Há sempre algo
outra, acrescentando novas significações. Embora
de surpreendente neles. São diferentes não apenas
a construção seja lógica e coerente, ela não segue,
no que dizem, mas nas relações que estabelecem,
contudo, uma trilha previsível sequencial, mas vai
na sua forma de olhar ou de comunicar. Em sín-
se ramificando em diversas trilhas possíveis. Por
tese, os bons professores são diferentes na sua
fim, a terceira forma de processamento de infor-
forma de agir. Tais educadores são, na verdade,
mação é chamada de multimídica. É a forma de
um poço inesgotável de descobertas. A mudança,
processar informações que junta pedaço de textos
em segundo lugar, não se fará apenas de bons
de várias linguagens superpostas simultaneamente,
professores. Ao lado deste, é necessário nós termos
compondo um mosaico impressionante que se co-
bons administradores, diretores e coordenadores
nectam todas as partes. Neste caso, a leitura é cada
mais abertos, que entendam todas as dimensões
vez menos sequencial. As conexões são tantas que
que estão envolvidas no processo pedagógico,
o mais importante é a visão ou leitura em flash, no
que não limite a sua visão apenas as dimensões
conjunto, uma leitura rápida, que cria significações
empresariais ligadas ao lucro. Junto dos professo-
provisórias, dando uma interpretação rápida para o
res e administradores escolares, o terceiro ator de
todo, e que vai se completando como as próximas
mudança é o aluno. Alunos curiosos e motivados
telas, através do fio condutor da narrativa subjeti-
facilitam enormemente o processo, estimulam as
va: dos interesses de cada um, das suas formas de
melhores qualidades dos professores, tornam-se
perceber, sentir e relacionar-se.
interlocutores lúcidos e parceiros de caminhada
do professor. Todas as vezes que os alunos estão Convive-se com essas diferentes formas de
motivados, eles aprendem melhor, avançam mais processamento da informação e elas serão usadas
e ajudam o professor avançar. dependendo da bagagem cultural, da idade e dos
objetivos pretendidos de cada pessoa. Por exem-
Em síntese: a mudança na educação passa em
plo, se estivermos concentrados em objetivos
primeiro lugar pela formação docente; em segundo
específicos muito determinados, predominará
lugar, pelos gestores escolares; e por fim pelo corpo
provavelmente o processamento sequencial; agora,
docente. Como é fácil perceber numa cognição
se trabalhamos com pesquisa, projetos de médio
sumária, as dificuldades para mudar educação são
prazo, interessa-nos o processamento hipertextual,
gigantescas.
em razões das suas muitas conexões, divergências
A construção do conhecimento na e convergências; por fim, se é o caso de termos de
sociedade da informação dar respostas imediatas e situarmo-nos rapidamen-
Nº 10 • Abril/99
Pelo ato de conhecer compreende o autor: "co- te, precisaremos do processamento multimídico.
nhecer significa compreender todas as dimensões Ocorre que, na sociedade da informação, a
231
231
da realidade, captar e expressar essa totalidade de pessoa não dispõe de tempo suficiente para dar res-
forma cada vez mais ampla e integral” (p.18) postas às demandas. A velocidade característica da jan/2017
sociedade do século 21 cria um grupo de pessoas Além disso, a aprendizagem tem dois movi-
que apreciam a instantaneidade com a qual correm mentos importantes: “aprendemos com interagi-
as informações e a e a facilidade de obtê-las. As mos com os outros e o mundo e depois, quando
crianças e principalmente nos jovens, desta socie- interiorizamos, quando nós nos voltamos para
dade, habituado com esta a rapidez de trânsito, não dentro, fazendo nossa própria síntese nosso reen-
apreciam a demora, a reflexão, a depuração. Com contro do mundo exterior com nossa elaboração
essas palavras sintetiza o autor: “cada vez são mais pessoal” (p.23).
difundidas as formas de informação multimídia Aprendermos mais quando conseguimos juntar
ou hipertextual e menos é a lógico sequencial. As todos os fatores: quando temos interesse sobre o
crianças e os jovens estão totalmente sincroniza- assunto, quando nossa motivação é clara, quando
dos com a multimídia e quando lidam com texto desenvolvemos hábitos que facilitam o processo de
fazem-no mais facilmente com o texto conectado aprendizagem, e quando sentimos prazer no que
através de links, de palavra-chave, o hipertexto. estudamos e na forma de estudar. “[…] aprende-
Por isso o livro se torna uma opção inicial menos mos realmente quando conseguimos transformar
atraente; está competindo com outras formas mais nossas vidas em um processo permanente, pacien-
próximas da sensibilidade deles, da sua forma mais te, confiante e afetuoso de aprendizagem” (p.24).
imediata de compreensão” (p. 21). A implicação
Conhecimento pela comunicação e pela inte-
lógica desta situação é que nós nos tornamos cada
vez mais dependentes do sensorial. Isso é interes- riorização
sante, mas poucos partem do sensorial para voos O conhecimento se dá fundamentalmente no
mais ricos, abertos, inovadores. A maior parte das processo de interação. Isso implica em dizer que
pessoas se deixam seduzir pelo atrativo do poder o conhecimento depende em absoluto da comu-
tocar, sentir, ver e ouvir. Nesse sentido, uma das nicação, ou seja, conhecer é entrar em contato
principais tarefas da Educação é ajudar a desen- com o outro, com o diferente. Não há, portanto,
volver tanto o conhecimento de resposta imediata, conhecimento que se dê no isolamento, pois
multimídico, como também o de longo prazo, o conhecer é relacionar, integrar, contextualizar,
lógico sequencial, assevera Moran: “muitos dados, em uma palavra, fazer nosso o que vem de fora.
muitas informações não significam necessariamen- O conhecimento efetivo só se dá à medida que
te mais e melhor conhecimento. O conhecimento deixamos a superfície e penetramos nas realidades
torna-se produtivo se o integramos em uma visão mais interiores, mais profunda. Deste modo, o co-
ética pessoal, transformando em sabedoria, em nhecimento acontece no rico processo de interação
saber pensar para agir melhor” (p.22) do externo com o interno.
Caminhos que facilitam a aprendizagem Conseguimos compreender melhor o mundo
O grande desafio do educador é ajudar seu e os outros, equilibrando os processos de intera-
aluno a selecionar as informações importantes e ção e de interiorização. Pelo primeiro conceito
dar seu devido significado e valor, a partir de um (interação) devemos compreender o contato que
referencial maior de interpretação. Apenas quan- estabelecemos com tudo o que nos rodeia; só
do o aluno consegue referenciar as informações poderemos compreender aquilo que nos rodeia se
dentro de um contexto mais profundo é que de formos capazes de interiorizá-los no processo de
fato ocorreu a aprendizagem. Se aprende melhor síntese pessoal, reelaboração de tudo que captamos
quando se vivencia, experimenta e sente. Aprendi- por meio da interação. Hoje temos muitas chances
zagem, portanto, se relaciona com a capacidade de de interagir, de encontrar muitas informações. Sem
selecionar, estabelecer vínculos, laços, entre aquilo dúvida, hoje temos mais informações disponíveis
que estava solto, caótico e disperso integrando-o ao nosso alcance do que qualquer um dos grandes
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em um novo contexto, dando-lhe significado e pensadores da história o tiveram. Por outro lado, a
encontrando-lhe um novo sentido. Desta forma grande quantidade de interação que temos não se
entendida, aprendizagem passa pelo equilíbrio traduz efetivamente em conhecimento, na medida
232
232
e integração das dimensões sensorial, racional, em que falta o segundo momento para o conheci-
jan/2017 emocional, o ético, o pessoal e o social. mento, a saber: a interiorização. Este é, como fica
claro, o desafio do docente. Os professores da so- 5 encontrar o estilo pessoal de dar aula, por meio
ciedade da informação não são mais responsáveis, do qual nos sentimos confortáveis e consigamos
absolutamente, de oferecer a seus alunos uma gama realizar melhor os objetivos.
vasta de informação, ao contrário, eles já as têm. Por isso, “[…] ensinar e aprender exige hoje
O docente deste século tem como desafio ajudar muito mais flexibilidade espaço-temporal, pessoal e
o aluno a interiorizar tais informações. Quanto de grupo, menos conteúdos fixos e processos mais
mais e melhor interiorizarmos tanto mais e melhor abertos de pesquisa e de comunicação” (p. 29).
interagiremos, “interagiremos melhor se souber- É fato que aquisição de informações, de dados,
mos também interiorizar, se encontramos formas tem dependido cada vez menos dos professores.
mais ricas de compreensão, que proporcionarão Em razão do avanço em especial da internet, e das
novos momentos de interação. Se equilibrar os TICs, os alunos têm acesso de forma muito mais
interagir e o interiorizar conseguiremos avançar rápida, muito mais atraente e na sua linguagem
mais, compreender melhor o que nos rodeia, o qualquer informação que ele queira, ou que o pro-
que somos; conseguiremos levar às outras novas fessor tenha para lhe transmitir. Neste contexto,
sínteses e não seremos só papagaios, repetidores o papel do professor (e seu principal papel, para
do que ouvimos” (p. 25). ser mais claro) é ajudar o aluno a interpretar esses
Podemos modificar a forma de ensinar dados – e o oceano de informações que recebe –,
Não está mais no campo da discussão a certeza a relaciona-los e contextualiza-los.
de que a educação precisa se encontrar novamente Em síntese, a modificação na forma de ensinar
com a sua identidade, saber quais as suas caracterís- passa pela compreensão de uma nova identidade
ticas específicas e o seu papel no mundo moderno. do docente: menos transmissor de informações,
Em outras palavras, se torna urgente que educação mais auxiliador na compreensão, o que implica, di-
repense a sua atuação na sociedade da informação. retamente, estar ao lado do aluno incentivando-o.
A forma com a qual hoje administramos as escolas O docente como orientador/mediador de
cria grande dificuldade para ensinar, porque mante- aprendizagem.
mos, no nível organizacional e interpessoal, formas O professor, na sociedade da informação e
de gerenciamento autoritários. Avançaremos mais comunicação (no ambiente das TICs), deve se
se soubermos adaptar os programas previstos às tornar um orientador/gestor setorial do processo
necessidades dos alunos, criando conexões com o de aprendizagem, integrando de forma equilibrada
cotidiano, com o inesperado, se transformarmos a a orientação intelectual, a emocional e a gerencial.
sala de aula em uma comunidade de investigação.
Orientador/mediador intelectual: informa, ajuda
1.
Se torna urgente, na modificação da forma de
a escolher as informações mais importantes, dá
ensinar, aprendermos a equilibrar planejamento
auxílio aos alunos para que as compreendam, as
e criatividade, organização e adaptação a cada avaliem – conceitual e eticamente – e as reelaborem
situação, acertar os imprevistos, a gerenciar o que adaptando-as aos seus contextos pessoais;
podemos prever e a incorporar o novo, o inespe-
Orientador/mediador emocional: motiva, in-
2.
rado. Planejamento aberto, que prevê, que está
centiva, estimula, organiza os limites, com equi-
pronto para mudança, para sugestões, adaptações.
líbrio, credibilidade, autenticidade e empatia;
A flexibilidade permite adaptar as diferenças in-
dividuais às exigências educacionais. Colaboram Orientador/mediador gerencial e comunicacio-
3.
para flexibilidade: nal: organiza grupos, atividades de pesquisa,
ritmos, interações. Organiza o processo de
1 Traçar linhas de ação pedagógica maiores que
avaliação. O professor atua como orientador
norteiam as ações individuais sem sufocá-lo;
como comunicacional e tecnológico; ajuda a
2 respeitar os estilos de dar aula que dão certo; desenvolver todas as formas de expressão, de
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234
234
2 O Sinestésico tem a ver com aquele que é “sensorial”, ou seja, aquele que é capaz de fundir, ou misturar, diferentes sentidos humanos.
Exemplos de sinestesia: algumas pessoas sinestésicas conseguem ouvir um movimento visual (audição + visão), conseguem sentir cheiro ou
jan/2017 gosto de uma imagem visual (olfato ou paladar + visão), outros ainda conseguem visualizar cores ao ouvir uma música (visão + audição).
introduzir um novo assunto e despertar no aluno dizem as cenas? Quais suas consequências e
a curiosidade em Pesquisar mais sobre o tema. aplicações?
3. Vídeo como ilustração. O vídeo pode ser usado 4. Análise funcional: antes da exibição escolher
para mostrar o que se discutir em sala de aula, algumas funções ou tarefas para que os alu-
para compor o cenário desconhecido dos alu- nos as cumpram durante a exibição. Ao fim,
nos. O vídeo com ministração é uma maneira socializar as anotações na lousa.
de trazer para sala de aula realidades distantes 5. Análise da linguagem: se perguntar I) história
e não vividas pelo educando. contada? II) como é contada essa história?
4. Vídeo como simulação. O vídeo pode simular III) que ideias passa claramente o filme? IV)
experiências de química que seriam perigosas qual sua ideologia?
em laboratório exige muito tempo de curso. 6. Completar o vídeo: exibição filme até deter-
É uma forma mais sofisticada de ilustrar um minado ponto e pede para que os alunos criem
conceito. Um vídeo pode por exemplo, mostrar um final da história. Depois compare a his-
o crescimento acelerado de uma planta de uma tória real do filme com a criada pelos alunos.
árvore em poucos segundos.
7. Modificar o vídeo: os alunos procuram víde-
5. Vídeo como conteúdo de ensino. Vídeo que os e outros materiais audiovisuais sobre um
mostra determinado assunto de forma direta ou determinado assunto. Modificam, adaptam,
indireta, no primeiro caso quando informa sobre editam, narram. Criam um novo material
um tema específico orientando sua interpretação; adaptado a sua realidade a sua sensibilidade.
no segundo caso quando aborda um tema permi-
8. Vídeo produção. Produz-se um vídeo a partir
tindo múltiplos enfoques interdisciplinares.
de pesquisas de jornal, revista, entrevista com
6. Vídeo como produção. É usado todas as vezes que pessoas.
no lugar de consumidor da produção o professor e
9. Vídeo dramatização: conta-se uma história
sua sala passam a ser produtores dos vídeos. Esses
no vídeo.
podem ser usados em diversos contextos, podem
ser, também, material para avaliação. 10. Comparar versões: procurar ver os pontos
7. Vídeo espelho. Permitimos nos vermos na convergentes e divergentes de narrativas,
tela para corrigirmos eventuais cacoetes. Além versões, adaptações de uma mesma obra para
disso o vídeo espelho serve para analisar um do texto escrito para o cinema.
grupo e os papéis e cada um para acompanhar O computador e internet:
o comportamento do ponto de vista participa- propostas metodológicas
tivo para incentivar os mais retraídos e pedir
Os computadores, e tanto mais os celulares/
aos que falam muitos para que dê mais espaço
smartphone, tornaram-se o meio mais poderoso
aos colegas.
de comunicação e informação que comunidade
Algumas dinâmicas de análise da televisão e já produziu. Com internet podemos modificar
do vídeo mais facilmente a forma de ensinar e aprender
1. Análise em conjunto: o professor exibe as cenas tanto nos cursos presenciais quanto no a dis-
mais importantes e as comenta/discute junto tância. São muitos e variados os caminhos que
com os alunos, com base no que estes destacam internet nos apresenta. O professor, que precisa
ou pergunta. É uma conversa sobre o vídeo. se aproximar e estabelecer um elo de empatia
2. Análise globalizante: abordar como os alunos, com seu aluno, pode usar uma página de inter-
depois da exibição, essas quatros questões: net pessoal na qual além de se apresentar pode
I) aspectos positivos do vídeo? II) aspectos disponibilizar neste meio cursos, canais e links
negativos? III) principais ideias que o vídeo com os seus alunos.
Nº 10 • Abril/99
passa? IV) o que eles mudariam no vídeo? “Hoje temos acesso a programas que facilitam
3. Leitura concentrada: recolher uma ou duas a criação de ambientes virtuais, colocam alunos e
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235
cenas marcantes e revê-las uma ou mais vezes professores juntos na internet [ambientes nos quais]
e perguntar o que chama mais atenção? O que professor pode disponibilizar o seu curso, atividades jan/2017
dos alunos, participar de pesquisa em grupo, discutir precisa ter como projeto político a procura de
assuntos nos fóruns ou chats”. (P. 46). formas de diminuir a distância que separa os que
O professor pode usar a ferramenta simples da podem e os que não podem pagar pelo acesso à
internet para melhorar sua interação presencial informação. Deste ponto de vista, a sociedade
virtual com todos os alunos, tais como: precisa voltar suas atenções às escolas públicas e às
1. Lista eletrônica/fórum. comunidades carentes, uma vez que são estas que
devem ter o acesso garantido à informação, para
Aulas pesquisas. É possível transformar uma
2.
não ficarem condenadas à segregação definitiva,
parte da aula em processos contínuos de in-
ou ter um “ensino de quinta classe” (sic).
formação, comunicação e pesquisa. Nas aulas
pesquisas, os professores e os alunos procuram Conseguida a disseminação da tecnologia em
novas informações, cercam com problema, todas as classes, o nível seguinte será o de auxiliar
desenvolvem uma experiência, avançam em os professores na utilização pedagógica da internet
campo desconhecido. O professor motiva, dá os e dos programas multimídicos. É preciso ensiná-lo a
primeiros passos para sensibilizar o aluno para fazer pesquisa. O corpo docente precisa ser educado
o valor do que vai ser feito, para a importância tecnologicamente, em todas as formas de pesquisas.
da participação do aluno no processo. Aluno A internet nas escolas pode ser utilizada para o
motivado e com participação ativa avança mais, trabalho com uma classe ou um projeto voluntário,
facilita todo trabalho do professor. O papel do que envolva, portanto, pessoas fora da escola. A
professor agora é o de gerenciador do processo internet permite, também, que a escola integre seu
de aprendizagem, é o coordenador de todo o projeto com vários outros colégios, outras cidades
andamento adequado, o gestor das diferenças ou, ainda quem sabe, outros países. Nesse sentido,
e convergências. Em síntese “os grandes temas a internet permite a presença da interdisciplinari-
da matéria são coordenados pelo professor, dade ao criar condições para integrar professores,
iniciados pelo professor, motivados pelo pro- escolas e sistemas de ensino.
fessor, mas pesquisados pelos alunos, às vezes Questões que a internet coloca ao professor
todos simultaneamente – ora em grupo, ora Diante de tantas possibilidades que a internet
individualmente” (p.29). oferece aos professores em sala de aula é neces-
3. Construção cooperativa. A internet favorece sário que se acendam algumas luzes amarelas. A
a construção cooperativa, trabalho conjunto navegação é sedutora e pode ser substituída pelo
entre professores e alunos, próximos física ou árduo trabalho de interpretação das informações:
virtualmente. É possível fazer a construção “Os alunos tendem a dispersar-se diante de tantas
coletiva de uma página na internet para sala de conexões possíveis, de endereços dentro de outros
aula, na qual os alunos postem seus trabalhos. endereços, de imagens e textos que se sucedem
Em relação professor, o seu papel muda pois ininterruptamente. [Os alunos] colocam os dados
são repensadas na produção coletiva os limites em sequência mais do que em confronto” (52).
de espaço tempo e comunicação. Espaço de Isso se deve, parece claro, em razão do deslum-
trocas aumenta quando saímos da sala de aula bramento diante de tantas possibilidades que a
física para a aula virtual; a troca de informações internet lhe oferece. É muito mais fácil navegar
amplia-se para os sete dias da semana, e não descobrindo novas coisas do que as analisar e as
mais um dia da aula. comparar com aquelas que já sabemos. É o pro-
Preparar os professores para utilização do com- fessor que deve dirigir a pesquisa e análise dos
putador e da internet. dados, sem deixar que seus alunos se dispersem
O primeiro desafio é se dar conta da necessi- durante o caminho.
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dade de que haja sala de aula (não laboratórios) Se bem conduzido pelo professor, a internet
conectada à internet; salas de aulas preparadas e pode ajudar a desenvolver a intuição, a flexibilidade
adequadas à pesquisa. É preciso, nente sentido, mental, a adaptação, ritmos diferentes de aprendi-
236
236
que professor e aluno tenham facilidade no acesso zagem e cooperativa, a pesquisa em grupo e a troca
jan/2017 à rede. Para uma escola do século 21, a sociedade de resultados. A interação bem-sucedida aumenta
a aprendizagem. Na internet desenvolvemos, além ser feitas virtualmente, todas as outras podem.
disso, novas formas de comunicação, em especial a Contudo, com a tecnologia até mesmo o conceito
escrita, na medida em que na internet escrevemos presencial se alterará. Presencial poderá ser uma
de forma mais aberta, hipertextual, conectada, videoconferência.
multilinguística, aproximando texto e imagem, Alguns caminhos para integrar as tecnologias
“[…] outro resultado comum à maior parte dos no ensino inovador
projetos na internet confirma a riqueza de intera- É fato que na sociedade informatizada do século
ções que surgem, os contatos virtuais, a amizade, 21, estamos reaprendendo a nos comunicar. Isso
as trocas constantes com outros colegas, tanto por quer dizer que devemos também reaprender a
parte do professor como de alunos. Os contatos ensinar, já que o ensino se faz na comunicação, no
virtuais transformam-se, o quanto possível, em diálogo entre professor e alunos. Uma das formas
presenciais” (p. 54). de ensinar de forma diferente é chegar ao aluno por
Mudanças no ensino presencial com tecnologias todos os caminhos possíveis, experiência, imagem,
Está em curso, ainda que não explicitamente, som, dramatizações, simulações. “Ensinar não
uma profunda revolução na educação por conta é só falar, mas se comunicar, com credibilidade,
dos avanços da tecnologia. É possível vislumbrar falando de algo que conhecemos e vivenciamos e
e não a longo prazo o momento em que “haverá que contribua para que todos avancemos no grau
uma integração profunda entre a sociedade e a es- de compreensão do que existe” (62).
cola, entre aprendizagem e a vida. A aula não é um
espaço determinado; tempo espaços contínuos de Parte II: Projetos de
aprendizagem. Os cursos serão híbridos no estilo aprendizagem colaborativa num
na presença das tecnologias nos requisitos" (p. paradigma emergente
56). Cada vez mais nós nos distanciamos do mo- Marilda Aparecida Behrens
delo no qual a aula se limita dentro de um tempo
No século 21, a humanidade se transformou
determinado e o espaço ilimitado. As tecnologias
como nunca, a partir do que ficou conhecido
transformam o ensino presencial integrando todos
como o advento da sociedade do conhecimento e
os tempos e lugares. O ensino será híbrido.
a globalização. Nesse novo contexto, a educação
Quando vale a pena encontraremos na sala de ganhou escala planetária, mundial, isto é, a educa-
aula? ção foi globalizada. A sociedade industrial dá lugar
A tecnologia trará a flexibilidade dos espaços a sociedade do conhecimento, a qual está voltada
e tempos na educação, assim, como regra ampla: para a produção intelectual com o uso intensivo
“podemos encontrar-nos fisicamente no começo e de tecnologias.
no fim do novo tema de um assunto importante. Esse processo de mudança paradigmática atinge
No início, para colocar esse tema dentro de um todas as instituições e, como não deveria deixar de
contexto maior, para motivar os alunos, para que ser, atinge a escola e os diversos níveis de ensino.
percebam o que vamos pesquisar para organizar O advento dessas mudanças exige da população
como vamos pesquisá-lo. [...] os alunos voltam a uma aprendizagem constante.
sala de aula um tempo depois para apresentar seus O mundo que foi construído a partir das ideias
resultados” (p. 57). newtoniana-cartesiano – isto é, a posição mecani-
Equilibrar o presencial e o virtual cista e reducionista do conhecimento que levou
É fundamental fazer a síntese dos dois mo- a sua fragmentação – vem sendo superado pelo
dos de comunicação, valorizando o que há de paradigma da sociedade do conhecimento, que
melhor e cada um deles: estar juntos fisicamente propõe a integração do saber. Em suma, trata-se
de reconectar o conhecimento que foi fragmentado
Nº 10 • Abril/99
vida toda. A proposição manifestada por Delors especialmente, graças à educação que recebe na
apresenta para educação uma aprendizagem ao juventude, para elaborar pensamentos autôno-
longo de toda vida assentada em quatro pilares: mos e críticos e para formular os seus próprios
239
239
i) Aprender a Conhecer, ii) Aprender a Fazer; juízos de valor, de modo a poder decidir. Por
iii) aprender a viver juntos; e iv) Aprender a Ser. isso, mesmo como agir nas diferentes circuns- jan/2017
tâncias da vida, cabe à escola tornar possível abordagem progressista e do ensino com pesquisa.
o desenvolvimento desses quatro pilares. Os Esses três instrumentalizados pelo uso inovador
profissionais preparados para o século 21 da tecnologia. A conjunção, a interconexão o
deverão ser criativos, críticos, autônomos, inter-relacionamento da teia formada por estas
questionadores, participativo e, principalmen- abordagens possibilitam a aproximação e referen-
te, transformadores da realidade social. ciais significativas para a prática pedagógica. A
dimensão e alcance da aliança dependem da opção
Paradigma emergente e do aprofundamento teórico-prático que cada
na prática pedagógica docente tiver o entusiasmo e arrojo de construir.
Um paradigma inovador que vem atender os O ensino com pesquisa: defende-se apren-
I.
pressupostos necessários às exigências da socie- dizagem baseada na pesquisa para a produção
dade do conhecimento tem sido denominado de do conhecimento, superando a reprodução, a
paradigma emergente. Por esse conceito, deve-se cópia e a imitação referenciada no pensamento
entender a busca da visão de totalidade, o enfoque de outro. Busca-se defender a pesquisa como
da aprendizagem e o desafio de superação da re- princípio educativo e não apenas como princípio
produção para a produção de conhecimento. Em científico. A concepção do ensino com pesquisa
outros termos, é uma ação pedagógica que leva tem como pressuposto básico o processo de
a produção de conhecimento com autonomia, produção do conhecimento. O aprendiz que é
com criatividade, com criticidade e com espírito movido pela dúvida encontrará prazer na desco-
investigativo, de tal modo a usar o conhecimento berta, na criação e na pesquisa. Nesse processo
numa nova interpretação da realidade no lugar de de aprender a aprender, o professor deve intervir
aceitar passivamente as interpretações já dadas. propondo situações que levem o aluno acessar
Aprendizagem colaborativa precisa ter como o conhecimento para refletir sobre ele e discuti-
referência uma prática pedagógica, a partir da -lo, ao contrário das lineares que vem sendo
perspectiva do paradigma emergente, tal como apresentadas. Em síntese, o procedimento pro-
acabamos de indicar no último parágrafo. Para posto (ensino com pesquisa), leva a uma prática
alicerçar uma prática pedagógica compatível pedagógica que alia ações que levem o aluno
com as mudanças paradigmática da ciência num a problematizar, observar, comparar, acessar,
paradigma emergente acredita-se que isso só é criticar, sistematizar, produzir conhecimento e
possível com uma aliança de abordagens pedagó- se posicionar diante da realidade.
gicas, formando uma verdadeira teia que integre: Abordagem Progressista: Ela tem como pres-
II.
i) da visão holística; ii) a abordagem progressista suposto básico a busca pela transformação social.
e iii) o ensino com pesquisa. Soma-se a estes três Os professores progressistas, como intelectuais
elementos, a tecnologia. transformadores, promovem processos de mu-
Esta aliança ou teia proposta a partir das três dança manifestando-se contra as injustiças so-
abordagens permitem uma prática pedagógica ciais, as atitudes antiéticas e as injustiças políticas
competente que dê conta dos desafios da sociedade e econômicas. No processo de diálogo, instigam
moderna, a qual exige uma inter-relação às aborda- seus alunos a buscar soluções que permitam ao
gens para sua compreensão. As teias de abordagens homem uma melhor qualidade de vida. Essa vi-
só se efetivarão com a instrumentalização de uma são política do professor leva ao cumprimento de
tecnologia inovadora servindo como instrumento tornar possível uma aprendizagem significativa,
o computador e a rede de informações. Estes apa- reflexiva, crítica e transformadora na construção
recem como suportes relevantes na proposição de da cidadania. A abordagem progressista, como
uma ação docente inovadora. se vê, torna-se o pilar da ética democrática que
envolve processos de companheirismo, solidarie-
Nº 10 • Abril/99
crítico e de atividades criativas. O recurso por ção de conhecimento crítico e criativo. Os recursos
si só não garante a inovação, mas depende de informática não são o fim da aprendizagem,
de um projeto bem arquitetado, alimentado mas meios que podem instigar novas metodologias
241
241
pelos professores e alunos que são usuários. que levem o aluno “a aprender a aprender” com
O computador é a ferramenta auxiliar no interesse, com criatividade, com autonomia. jan/2017
O paradigma emergente e aprendizagem e não receitas prontas e acabadas, optou-se por
colaborativa baseada em projetos descrever algumas possibilidades do que pode vir
Atendendo à proposição de aliança entre a a ser desenvolvido em cada fase do projeto peda-
abordagem progressista, o ensino com pesquisa e gógico de aprendizagem. Os projetos criados pelos
a visão holística, denominada ‘paradigma emergen- professores não precisam se apresentar nesta ordem
te’, o professor preocupado com uma ação docente nem contemplar todas as fases. A criação depende
colaborativa dos seus alunos pode propor a me- da Autonomia e da competência do docente.
todologia de aprendizagem baseada em projeto. Projetos de aprendizagem colaborativa
Com a intenção de apresentar uma proposta de num paradigma emergente
ensino baseada em projetos no paradigma emer- A aprendizagem baseada em projetos demanda
gente que leve a uma aprendizagem significativa, um ensino que provoque ações colaborativas num
não se pretende apresentar um esquema fechado. A paradigma emergente instrumentalizado pela tecno-
perspectiva é auxiliar o docente a buscar novos pa- logia inovadora. As fases ou passos propostos não são
radigmas metodológicos com a visão de que cada estanques nem precisam ser ordenados desta maneira
docente pode analisar, refletir e criar seu próprio que estão apresentados. Cabe aos profissionais profes-
projeto. Com o intuito de apresentar sugestões sores analisar e propor seu próprio projeto.
o aluno nos seus olhos. Quando feedback é possam retornar a sua docência com novo ânimo
dado no processo de educação a distância, é e com novas propostas para serem implementadas,
fundamental que o professor tome extremo propiciando melhores condições de aprendizagem
246
246
cuidado com a redação. É imprescindível para nossos alunos e maior gratificação para nós
jan/2017 sempre contextualizar a mensagem na situação em nosso trabalho docente.
TRIGO, João Ribeiro; COSTA Jorge Adelino. Liderança nas
organizações educativas: a direcção por valores. Revista Ensaio:
Avaliação e Políticas Públicas em Educação. Rio de Janeiro,v. 16,
n. 61, p. 561-582, out./dez. 2008. Disponível em : <www.scielo.br/
pdf/ensaio/v16n61/v16n61a05.pdf> Acesso em 20/11/2016.
interior das escolas, como por exemplo: falta legitimidade ética dos valores embebidos na visão
de investimento na formação dos educadores e na respectiva articulação, e a moralidade dos pro-
e/ou de recursos materiais importantes para o cessos de escolha e acção que líderes e seguidores
248
248
desenvolvimento do trabalho pedagógico rea- abraçam e prosseguem" (Rego & Cunha, 2004,
jan/2017 lizado em sala de aula. pág. 239).
Nas organizações escolares, segundo Sergio- complexas, organizações aprendentes, entre
vanni (2004), faz-se necessário uma liderança outras. Entretanto, Estevão (2002) centra sua
específica que respeite o bem comum da coleti- atenção no conceito metafórico de organizações
vidade: pais, equipe de apoio educativo, profes- polifônicas, ou seja, calcado na dialogicidade;
sores, alunos etc. Sergiovanni (2004), defende através do diálogo todos comunicam suas ne-
os valores morais para o fortalecimento dos cessidades. Nesta perspectiva, acredita-se que
vínculos entre comunidade e escola, em torno liderar é promover o diálogo sobre valores.
de um objetivo maior, ou melhor, da busca pelo Vicente (2004) afirma que numa "escola para a
atendimento das necessidades de todos os envol- qualidade", um líder foca na valorização, inova-
vidos no processo educativo; compreendendo a ção, integração de informações entre todos, e,
escola como organização diferenciada das demais principalmente, mobiliza o comprometimento
organizações que ainda agem de forma distante eu/outro/organização.
e racional diante das pessoas. Ao revisar as teo- Por fim, Fullan (2003) reforça que a escola
rias das lideranças relacionadas à escola, Fullan tem muito a aprender com as outras organiza-
(2003) acrescenta a importância do diálogo como ções formais no quesito liderança, uma vez que
forma de consolidar os relacionamentos saudáveis conhecimentos devem ser compartilhados para
em busca do fortalecimento dos valores morais, resolução dos problemas de ensino-aprendizagem
para a garantia da eficácia no trabalho e do clima numa sociedade rápida e incerta.
relacional positivo. Bolivar (2003) complementa
Apesar do modelo Direçção por Valores (DpV)
as ideias de Fullan (2003) ao reforçar o papel da
ter sido desenvolvido para o universo das empre-
liderança para a promoção do compartilhamento
sas, os estudiosos João Ribeiro Trigo e Jorge Ade-
de informações, capacidade de perceber as expec-
lino Costa acreditam na eficácia dessa concepção
tativas do grupo, na identificação e solução dos
nas escolas.
problemas, bem como no desenvolvimento de
ações morais que estejam comprometidos com a O quarto eixo temático: A Direcção por Valores
organização educativa. tem como objetivo central definir para o leitor o
modelo DpV e sua aplicabilidade na organização
Marzano (2005) acrescenta que o líder deve
desenvolver a competência interpessoal para me- escolar. Em 1997, a abordagem DpV nas organiza-
lhoria dos relacionamentos, ou melhor, o fator ções foi defendida, simultaneamente, na Espanha,
humano como prioridade. Barroso (1996) enxerga por Salvador Garcia e Dolan e, nos EUA, por Ken
que a escola é um espaço para construção social e Blanchard, Michael O'Connor e Jim Ballard.
os métodos positivistas e racionais desenvolvidos Garcia (2002) explica que trabalhar nas or-
nas outras organizações sociais devem ser aban- ganizações com o modelo de DpV é uma forma
donadas. Costa (2002) afirma que a liderança diferente de liderar, uma vez que a estratégia básica
deve ser pedagógica, ou seja, atenta para os meios é o diálogo aberto e democrático alicerçado nos
que atendam às ações educativas, como também valores, nas pessoas e no compartilhamento dos
constituírem-se eles próprios como objetos das conhecimentos, informações, sucessos e insuces-
ações pedagógicas. sos, através da dialogicidade (diálogo).
Fátima Sanchez (2002) defende a concepção A Psicologia Social contribuiu muito para o
da "liderança colegial" nas organizações educa- avanço da DpV nas organizações. Na abordagem
tivas. Trata-se do desenvolvimento do diálogo organizacional DpV, Garcia e Dolan (1997) ex-
ético baseado em valores que diluem os relacio- plicam que a cultura da empresa é redefinida, a
namentos de competitividade e racionalidade partir da efetivação dos compromissos firmados
entre os educadores e que promove valores coletivamente através de novos projetos; das
Nº 10 • Abril/99
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jan/2017
ALMEIDA, Maria Elizabeth B. de; SILVA, Maria da Graça Moreira da.
Currículo, tecnologia e cultura digital: espaços e tempos de web
currículo. Revista e-Curriculum, São Paulo, v. 7, n. 1, p. 1-19, abr.
2011.
Das autoras
Resenha elaborada por
Maria Elizabeth Bianconcini Trindade
Fábio Cristiano de Moraes
Morato Pinto de Almeida
Graduado em Filosofia Professora associada da Pontifícia Universi-
Mestrado em Filosofia pela Universidade de São dade Católica de São Paulo (PUC-SP), Doutora
Paulo em Educação (Currículo) pela PUC-SP (2000)
Doutorado em Filosofia pela Universidade de com mestrado em Educação (Currículo) pela
São Paulo PUC-SP (1996), graduação em Matemática
pela Universidade Estadual Paulista Júlio de
Mesquita Filho (1973). Atualmente é membro
do Comitê Assessor da área de Educação do
Conselho Nacional de Desenvolvimento Cien-
tífico e Tecnológico (CNPq), pesquisadora
produtividade do CNPq, consultora ad hoc da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nível Superior (CAPES), líder do grupo de
pesquisa Formação de educadores com suporte
em meio digital, certificado desde o ano 2003.
Tem experiência em Educação e Tecnologias,
com pesquisas e publicações sobre os seguintes
temas: educação a distância, tecnologia de in-
formação e comunicação (TIC) e formação de
professores, currículo e tecnologias, letramento
digital, web currículo.
passam a se imbricar de tal modo que as interfe- uma ecologia cognitiva, “uma rede na qual, neu-
rências mútuas levam a ressignificar o currículo rônios, módulos cognitivos, humanos, instituições
e a tecnologia, e então começamos a criar um de ensino, línguas, sistemas de escrita, livros e
253
253
novo verbete - web currículo, cuja construção computadores interconectam, transformam e tra-
analisamos neste artigo. duzem as representações” (LÉVY, 1993, p.135). jan/2017
A efetiva participação da escola nessa eco- é garantia de resultados satisfatórios na melhoria da
logia implica em promover a formação de aprendizagem e no desenvolvimento do currículo e,
educadores que possam se apropriar da cultura muitas vezes, o uso das TDIC se restringe a ativida-
digital e das propriedades intrínsecas das TDIC. des pontuais sem uma real integração ao currículo
Além dos educadores, é preciso criar condições (VALENTE; ALMEIDA, F., 1997; ALMEIDA,
para que a escola como um todo tome parte da 2008). É importante salientar que a formação do
cultura digital e, portanto, se articule com a professor para o uso das TDIC é referência para
comunidade global. sua prática pedagógica e assim a concepção emba-
Para compreender o porquê, para que, com sadora e as práticas desenvolvidas no processo de
quem, quando e como se integrar com a cultura formação se constituem como inspiração para que
digital por meio do uso das TDIC, é importan- ele possa incorporar as TDIC ao desenvolvimento
te assumir uma posição crítica, questionadora do currículo. Logo, a problemática da integração
e reflexiva diante da tecnologia, que expresse o das TDIC na educação precisa levar em conta a for-
processo de criação do ser humano, com todas as mação de professores em articulação com o trabalho
suas ambiguidades. pedagógico e com o currículo, que é reconfigurado
no ato pedagógico pelos modos de representação
A formação de professores inter-relaciona as dife-
e produção de conhecimentos propiciados pelas
rentes dimensões envolvidas no seu uso, que são:
TDIC. Evidencia-se assim a constituição de um
Dimensão crítica humanizadora: representa
I) currículo que é reconstruído por meio da web e
uma opção política ancorada em valores e demais propriedades inerentes às TDIC, o que
compromissos éticos que relacionam a teo- denominamos de web currículo.
ria com a prática, a formação de educadores
com o fazer pedagógico e o pensar sobre o 3. Web currículo.
fazer, o currículo com a experiência e com a Integrar as TDIC com o currículo significa que
emancipação humana. essas tecnologias passam a compor o currículo,
Tecnológica: corresponde ao domínio das
II) que as engloba aos seus demais componentes e
tecnologias e suas linguagens de tal modo assim se trata de buscar a integração transversal
que o professor explore seus recursos e fun- das competências no domínio das TDIC com o
cionalidades. currículo, pois este é o orientador das ações de
Pedagógica: se refere ao acompanhamento de
III) uso das tecnologias. Logo, precisamos esclarecer
processo de aprendizagem do aluno, a busca de o que entendemos por currículo, cujo conceito é
compreender sua história e universo de conhe- polissêmico. Entendemos o currículo como uma
cimentos, valores, crenças e modo de ser, estar construção social (Goodson, 2001) que se de-
e interagir com o mundo mediatizado pelos senvolve na ação, em determinado tempo, lugar
instrumentos culturais presentes em sua vida. e contexto, com o uso de instrumentos culturais
presentes nas práticas sociais. Nossa compreensão
IV) D idática: se refere ao conhecimento do
de currículo alinha-se com a perspectiva sócio-
professor em sua área de atuação e às com-
-cutural no sentido de acentuar a tensão existente
petências relacionadas aos conhecimentos
no processo curricular entre dois focos: o conhe-
globalizantes.
cimento escolar e a cultura.
A integração das TDIC ao currículo demanda,
A integração das TDIC na educação (Sánchez,
dessa forma, que os agentes da educação (professor,
2002) pode ocorrer em três níveis:
aluno, gestor e comunidade) façam a leitura crítica
do mundo digital, o interprete e “lancem sobre ele 1º nível trata de aprender sobre as TDIC;
suas palavras” (ALMEIDA, 2009). Mas “a leitura 2º nível se refere ao uso no âmbito de alguma
atividade pedagógica, mas sem uma intencionali-
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A análise dos dados do I Web Currículo e do reconfigurado no ato pedagógico pelos modos
II Web Currículo indica a evolução dos debates de representação e produção de conhecimentos
entre os pesquisadores e a emergência da tríade: propiciados pelas TDIC.
Formação de Professores –tecnologias - Currículo Pode-se identificar, também, pela análise dos
nos temas em estudo. temas debatidos nos dois seminários que as tec-
nologias estão rompendo com o isolamento em
Considerações finais
laboratórios e começam a ser integradas às ativi-
A análise das palavras-chave das comunicações dades de sala de aula e a outros espaços da escola
orais no I e II Seminários Web Currículo apontou ou fora dela. Corrobora-se a constituição de um
que a tríade Tecnologias-Currículo-Formação de currículo que é reconstruído por meio da web e
Professores tem tomado a cena quando objetiva o demais propriedades inerentes às TDIC, o que
debate a respeito da integração de tecnologias em denominamos de web currículo.
práticas educativas. Evidencia-se, portanto, a relevância da conti-
Essa análise reitera, como mencionado ini- nuidade das pesquisas sobre a constituição do web
cialmente no artigo, a importância e relevância currículo na prática social de educadores e estu-
da formação de professores em articulação com dantes envolvidos com a construção do currículo
o trabalho pedagógico e com o currículo, que é experienciado que se desenvolve na cultura digital.
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jan/2017 256
Anotações:
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Expediente
DIRETORIA DA APEOESP – TRIÊNIO 2014/2017
DIRETORIA EXECUTIVA:
Presidenta: Maria Izabel Azevedo Noronha; Vice-Presidente: Fábio Santos de Mora-
es; Secretário Geral: Leandro Alves Oliveira; Secretário Geral Adjunto: Fábio Santos
Silva; Secretário de Finanças: Luiz Gonzaga José; Secretária de Finanças Adjunta:
Maria Sufaneide Rodrigues; Secretário de Administração: Odimar Silva; Secretária de
Administração Adjunta: Maria José Carvalho Cunha; Secretária de Patrimônio: Miguel
Noel Meirelles; Secretária de Patrimônio Adjunta: Tereza Cristina Moreira da Silva;
Secretária de Assuntos Educacionais e Culturais: Francisca Pereira da Rocha Seixas;
Secretário de Assuntos Educacionais e Culturais Adjunto: Richard Araújo; Secretário de
Comunicações: Roberto Guido; Secretário de Comunicações Adjunto: Silvio de Souza;
Secretário de Formação: Zenaide Honório; Secretário de Formação Adjunto: Paulo
José das Neves; Secretário de Legislação e Defesa dos Associados: Francisco de Assis
Ferreira; Secretária de Legislação e Defesa dos Associados Adjunta: Solange A. Benedeti
Penha; Secretário de Política Sindical: Moacyr Américo da Silva; Secretária de Política
Sindical Adjunta: Ozani Martiniano de Souza; Secretária de Políticas Sociais: Rita de
Cássia Cardoso; Secretário de Políticas Sociais Adjunto: Ezio Expedito Ferreira Lima;
Secretária para Assuntos de Aposentados: Ana Lúcia Santos Cugler; Secretária para
Assuntos de Aposentados Adjunta: Fátima da Silva Fernandes; Secretária para Assun-
tos da Mulher: Suely Fátima de Oliveira; Secretária para Assuntos da Mulher Adjunta:
Diretores Responsáveis Eliana Nunes dos Santos; Secretária para Assuntos Municipais: Nilcea Fleury Victorino;
Zenaide Honório Secretária para Assuntos Municipais Adjunta: Mara Cristina de Almeida; Secretária
Secretária de Formação Geral de Organização: Cilene Maria Obici; Secretária de Organização para a Capital:
Silvana Soares de Assis; Secretário de Organização para a Grande São Paulo: Stenio
Paulo José das Neves Matheus de Morais Lima; Secretária de Organização para o Interior: Jorge Leonardo Paz;
Secretário de Formação Adjunto Secretária de Organização para o Interior: Paula Cristina Oliveira Penha; Secretário
Conselho Editorial de Organização para o Interior: Sergio Martins da Cunha; Secretária de Organização
Maria Izabel Azevedo Noronha para o Interior: Sonia Maria Maciel.
Fábio Santos de Moraes
Roberto Guido Diretoria Estadual
Sílvio de Souza Ademar de Assis Camelo; Alfredo Andrade da Silva; Altair de Oliveira Gomes; Ana Lucia
Leandro Alves Oliveira Ferreira; Anatalina Lourenço da Silva; Andre Luis F. da Silva; André Sapanos de Carvalho;
Fábio Santos Silva Andressa de Sousa R. Mesko; Antonio Carlos Amado Ferreira; Antonio Gandini Junior;
Rita de Cássia Cardoso Antonio Jovem de Jesus Filho; Ariovaldo de Camargo; Ary Neves da Silva; Benedita Lúcia
Ezio Expedito F. Lima da Silva; Benedito Jesus Dos Santos Chagas; Carlos Alberto Rezende Lopes; Carmen
Luiz Gonzaga José Luiza Urquiza; Claudelício dos Reis; Claudia Cristina Alves de Souza; Clodoaldo Rocha
Maria Sufaneide Rodrigues de Oliveira; Danilo Giaconetti Paris; Decio Alves da Silva; Dorival Aparecido da Silva;
Francisco de Assis Ferreira Douglas Martins Izzo; Edna Azevedo Fernandes; Eduardo Martins Rosa; Elizeu Pedro
Solange A. Benedeti Penha Ribeiro; Emanuel Duarte; Fabiana Ribeiro da Silva; Fabio Henrique Granados Sardi-
nha; Flaudio Azevedo Limas; Floripes Ingracia Borioli Godinho; Fransergio Noronha De
Coordenação da equipe de resenhistas Oliveira; Idenilde de Almeida Conceicao; Jesse Pereira Felipe; João Luis Dias Zafalão;
Professora Mestra Luci Ana Santos da Cunha
Joaquim Soares da Silva Neto; Joel Fernando Cângane; José de Jesus Costa; Josefa Gomes
Jornalista responsável da Silva; José Francisco da Silva; José Reinaldo de Matos Lima; Jovina Maria da Silva;
Luis Brandino Jucinaldo Souza Azevedo; Julio Cesar Rodrigues Brasil; Juvenal de Aguiar Penteado Neto;
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