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http://militaryreview.army.mil
Departamento de Defesa
Um militar dá ordens aos subordinados durante treinamento em habilidades de combate, 6 Fev 08.
EDIÇÃO BRASILEIRA
KANSAS
General Robert L. Caslen, Jr.
Comandante, 2 Agora que Estamos Saindo do Iraque, o que
Centro de Armas Combinadas (CAC) Aprendemos?
Coronel Craig A. Collier, Exército dos EUA
Cel John J. Smith
Editor-Chefe da Military Review
Em 19 Ago 10, a última Unidade de combate (4ª Brigada Stryker da 2ª
Divisão de Infantaria) deixou o Iraque, quando a Operação Iraqi Freedom
Redação deu lugar à Operação New Dawn.
Marlys Cook
Editora-Chefe das Edições em Inglês
Maj Sharon Russ 8 O Desafio de Liderar no Ambiente
Gerente de Produção Interagências
Miguel Severo
Editor-Chefe, William J. Davis Jr., Ph.D.
Edições em Línguas Estrangeiras
Maj Kevin Cutright A participação de diversos órgãos federais é indispensável para o
Editor Assistente tratamento da miríade de assuntos decorrentes dos contatos com
estrangeiros durante as operações militares.
Administração
Linda Darnell
Secretária
11 Sistemas Aéreos Não Tripulados:
Qualidade, e não apenas Quantidade
Capitão Kyle Greenberg, Exército dos EUA
Edições Ibero-Americanas
Paula Keller Severo
Assistente de Tradução Em Abr 08, o Secretário de Defesa Robert Gates proferiu uma palestra no
Michael Serravo Air War College (Escola de Guerra Aérea), na Base Aérea de Maxwell, na
Diagramador/Webmaster qual elogiou a introdução de sistemas aéreos não tripulados no arsenal
da Força Aérea.
Edição Hispano-Americana
Albis Thompson 22 Discutindo Grande Estratégia
Tradutora/Editora Capitão-de-Fragata (Reserva) John T. Kuehn, Ph.D.,
http://militaryreview.army.mil
email: leav-milrevweb@conus.army.mil
38 A Vontade Nacional sob a Perspectiva de Ameaça
E. Margaret Phillips
46 A Revolta dos Generais: Um Estudo de Caso sobre a Ética
Profissional
Martin L. Cook, Ph.D.
Uma nova dimensão desse debate surgiu dois anos atrás, com a crítica pública à política do governo e, em
particular, ao Secretário Rumsfeld, por parte de vários oficiais-generais que haviam passado recentemente
para a Reserva.
56 Heurísticas e Vieses no Processo Decisório Militar
Major Blair S. Williams, Exército dos EUA
A descrição metafórica de Carl von Clausewitz sobre a condição da guerra é tão precisa hoje em dia quanto na
época em que foi redigida, no início do século XIX. O Exército enfrenta um ambiente operacional caracterizado
pela volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade.
70 “Desarmando” o Engajamento de Lideranças Importantes
General-de-Brigada Richard C. Nash e
Capitão Eric P. Magistad, Guarda Nacional do Estado de Minnesota
Engajamentos com líderes-chave haviam ajudado os comandantes a avançar na busca de seus objetivos, ao
estabelecerem relações com iraquianos influentes, familiarizados com o complexo “terreno humano” do país.
80 Liderança Nociva: Parte II
Coronel George E. Reed (Reserva), Ph.D., Exército dos EUA, e
Tenente-Coronel Richard A. Olsen (Reserva), D.Min., Exército dos EUA
Pergunte a um grupo de oficiais e graduados se eles já cogitaram deixar a profissão das Armas devido ao
modo pelo qual foram tratados por um superior e, dependendo do tempo de serviço do grupo, algo entre
um terço e 100% deles levantarão a mão para dizer que sim.
ERRATA: Na edição brasileira da Military Review de Novembro-Dezembro de 2010: Página 65 - Onde se lê “O soldado legionário — o milite — não supervalorizava
‘cerrar’ sobre os inimigos…”, leia-se “Os soldados legionários — os milites — não supervalorizavam ‘cerrar’ sobre os inimigos…” Página 69 - Referência no 7:
Onde se lê milite, leia-se milites.
Military Review – Publicada pelo CAC/EUA, Forte Leavenworth, Kansas, bimestralmente em português, espanhol e inglês. Porte pago
em Leavenworth Kansas, 66048-9998, e em outras agências do correio. A correspondência deverá ser endereçada à Military Review,
George W. Casey, Jr. CAC, Forte Leavenworth, Kansas, 66027-1293, EUA. Telefone (913) 684-9338, ou FAX (913) 684-9328; Correio Eletrônico (E-Mail) leav-
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JOYCE E. MORROW Military Review Edição Brasileira (US ISSN 1067-0653) (UPS 009-356)is published bimonthly by the U.S. Army, Combined Arms Center
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Agora que Estamos Saindo do Iraque, o que
Aprendemos?
Coronel Craig A. Collier, Exército dos EUA
O Coronel Craig A. Collier, Exército dos EUA, é o Assistente 101ª Divisão de Infantaria, entre 2005 e 2006, e depois como
Militar para Sistemas de Combate Terrestre do Exército da Comandante do 3º Batalhão, 89º Regimento de Cavalaria,
Diretoria de Teste e Avaliação Operacional, no Gabinete do 4ª Brigada, 10ª Divisão de Montanha, entre 2007 e 2008.
Secretário de Defesa, Pentágono. Serviu em duas missões É bacharel pela Academia Militar dos EUA e mestre pela
no Iraque, primeiro como Subcomandante da 3ª Brigada, Golden Gate University, São Francisco.
Militares embarcam em um C-17 Globemaster III para retornar aos Estados Unidos em 17 Nov 09, na Base de Balad,
Iraque. Os C-17 podem transportar até 77 toneladas e operar em pequenos campos de pouso. Essas aeronaves pertencem à
437ª Ala de Transporte Aéreo, na Base Aérea de Charleston, Carolina do Sul.
Cortesia do autor
O autor e seu intérprete conversam com “xeques” locais no leste de Bagdá, durante a inauguração de um microgerador de
energia, verão de 2008.
A melhor forma de entender boa parte da rotineiramente conduzimos uma APA depois de
violência no Iraque seria pelo prisma de um missões reais durante o desdobramento. É por
chefe da máfia. Tratava-se principalmente de isso que é tão decepcionante que esteja faltando
dinheiro, influência e poder. Os inimigos eram esse tipo de APA em relação às nossas iniciativas
insurgentes quando isso lhes convinha: quando de desenvolvimento econômico no Iraque.
a remuneração era melhor e a recompensa Não sabemos que parcela da nossa assistência
valia o risco. Eles quase sempre se recusavam de desenvolvimento econômico foi efetiva
a resistir e a lutar, preferindo atacar-nos com e quanto se perdeu para a corrupção, ou
explosivos de beira de estrada ou, ocasional quanto financiou a insurgência. Poderíamos
mente, com caçadores. Não seriam dissuadidos ter gastado bem menos dinheiro em projetos
de seu estilo de vida com ofertas de assistência e em serviços essenciais, porque a remoção
econômica. Só estavam interessados em nossos de insurgentes e criminosos do ambiente
projetos e serviços em virtude do dinheiro que levou, por si só, a melhorias drásticas na
extorquiam dos empreiteiros. Como saturamos segurança e no desenvolvimento econômico.
o Iraque com verbas para o desenvolvimento Independentemente da atual popularidade da
econômico com pouca supervisão, proporcio abordagem não letal, precisamos estar dispostos
namos um ambiente lucrativo para a corrupção a examinar detalhadamente a possibilidade de
e para a extorsão. que uma parcela considerável da quantia que
Enquanto não eliminamos os insurgentes que despendemos no Iraque tenha acabado nas mãos
estavam causando a maioria dos problemas, o de insurgentes. Talvez os bilhões de dólares
êxito em outras linhas de esforço foi limitado. que gastamos no desenvolvimento econômico
Como afirmou outro antigo e bem-sucedido naquele país tenham sido, em última análise,
comandante de brigada, é preciso extirpar o contraproducentes. Foram seguramente bem
câncer e não apenas tratar os sintomas. Um menos importantes para o nosso sucesso do que
uso mais efetivo dos US$ 9 milhões gastos o redirecionamento do foco para a eliminação e
pelo 3-89 Regimento de Cavalaria em projetos a captura do inimigo, em 2007-2008.
e microfinanciamentos teria sido empregar Já está mais do que na hora de uma APA
metade do dinheiro para treinar e equipar outro estratégica que identifique o que de fato
grupo de caçadores. O valor que gastássemos em funcionou no Iraque. O discurso dominante
projetos e a quantidade de chá que tomássemos é que um esforço holístico, com ênfase em
com líderes locais seriam irrelevantes, enquanto efeitos não letais, levou ao nosso sucesso
a implacável gangue do bairro permanecesse temporário. O desenvolvimento econômico
à solta. pode ter desempenhado seu papel, mas nossa
Sofremos a maioria das baixas em estradas letalidade foi o fator mais importante.
iraquianas. Não importava se os soldados iam Em última análise, o desgaste importa. Não
fiscalizar um projeto ou invadir um esconderijo devemos nos envergonhar de que operações de
de insurgentes. Na verdade, as operações de combate tradicionais tenham funcionado no
combate eram mais seguras, comparativamente. Iraque. Afinal, envidamos grandes esforços para
Os soldados passavam boa parte do tempo — e assegurar que nossos soldados sejam os mais
corriam riscos consideráveis — cumprindo letais no planeta.MR
missões não letais. Seria interessante saber se o
risco e a despesa valeram o esforço.
O Exército se orgulha de suas autoanálises e
de sua capacidade de se adaptar rapidamente. REFERÊNCIAS
Praticamente todos os oficiais no Exército
1. LONDOÑO, Ernesto. “Was the Iraq War Worth It? A Divided City Tries
assistiram a uma analise pós-ação (APA) to Answer”, The Washington Post, 15 Nov 2009.
brutalmente franca em um de nossos Centros 2. Conversa pessoal do autor com Ten Cel Tim Watson, Comandante do
2º/4º Btl Inf, 2008.
de Adestramento para o Combate. O valor do 3. WEST, Bing. “Counterinsurgency Lessons from Iraq”, Military Review
(Mar-Abr 2009): p. 2.
aprendizado depois de cada missão é parte 4. E-mail pessoal do Ten Cel Dan Barnett, Comandante do 1º/2º Btl Inf
tão integrante da cultura do Exército que (Stryker) (1 Set 2009).
Interagências
William J. Davis Jr., Ph.D.
A PARTICIPAÇÃO DE DIVERSOS
órgãos federais é indispensável para
o tratamento da miríade de assuntos
decorrentes dos contatos com estrangeiros durante
conhecimento das capacidades e das limitações
das Forças Singulares. Trabalhar em um ambiente
interagências não é diferente. Os oficiais precisam
saber qual é a “contribuição” de cada órgão par
ticipante. Em uma organização bem estabelecida,
as operações militares. Muitos militares que
atuam nesse ambiente interagências podem muito como a Força-Tarefa Conjunta Interagências–Sul
bem achar que viajaram a uma terra estrangeira, (Joint Interagency Task Force South), do Comando
onde suas normas culturais são consideradas ina Sul dos EUA, os órgãos compartilham escritórios e
propriadas. No entanto, o ambiente interagências é usam procedimentos que envolvem todos eles, para
uma realidade cultural que eles devem entender e que os participantes possam ter uma visão global e
na qual devem navegar com sucesso, para cumprir determinar como o órgão ao qual pertencem pode
sua missão. Na maioria dos casos, a cultura orga contribuir. Em uma situação ad hoc ou de crise, o
nizacional militar é caracterizada por uma forte diálogo entre os participantes é essencial para que
hierarquia, com quase absoluta adesão às ordens se possa descobrir as capacidades e as limitações
recebidas. De fato, a primeira etapa do processo de cada um deles. Nessas situações, são neces
militar de tomada de decisões é “o recebimento sários um espaço físico compartilhado por todos
da missão”, o que, sem dúvida, está apoiado na os representantes dos vários órgãos (incluindo os
noção de que o quartel-general superior tem o militares) e uma postura aberta e indagadora por
melhor conhecimento da realidade. parte das Forças Armadas. Como um membro
Na cultura interagências, ocorre algo oposto. de estado-maior, se você não toma a iniciativa
Nesse ambiente, não há, em geral, uma cadeia de de se comunicar com outros órgãos, não espere
comando única e distinta. Ele não constitui uma que eles forneçam informações sobre suas capa
organização hierárquica monolítica. É um aglo cidades. Também não espere que eles conheçam
merado de órgãos independentes usando o mesmo as capacidades e as limitações de sua unidade. O
caminho, ao mesmo tempo, mas todos indo para diálogo aberto é a dinâmica mais importante que os
destinos diferentes. Nessa cultura, a maneira de representantes militares e os desses órgãos podem
cumprir a missão é empregar os “seis Cs” — com estabelecer. A compreensão só pode ser adquirida
preender, coordenar, cooperar, concessões (fazer), por meio desse diálogo.
consenso (buscar o) e comunicar-se.
Coordenar
Compreender Geralmente, os militares interpretam “coorde
A Escola de Estado-Maior das Forças Conjuntas nar” como “evitar conflitos”, mas uma definição
(Joint Forces Staff College) realizou uma avaliação do dicionário nos informa que essa palavra sig
de requisitos, em 2002, para determinar as habilida nifica “trabalhar ou agir em conjunto, de forma
des e os conhecimentos necessários para um oficial harmoniosa”. Isso não significa que os órgãos
se tornar eficiente em operações conjuntas. Des ficam fora do caminho dos demais, mas que todos
cobriu que o atributo mais importante era um bom planejam suas ações de forma a maximizar o
William J. Davis Jr., Ph.D., é professor adjunto do Escola de Estado-Maior das Forças Conjuntas e possui os
Departamento de Operações Combinadas, Interagências títulos de Bacharel, pela Harvard University, de Mestre, pela
e Multinacionais da Escola de Comando e Estado-Maior Universidade do Corpo de Fuzileiros Navais, e de Doutor em
do Exército dos EUA, no Forte Lee, Virgínia. Estudou na Liderança Acadêmica, pela Old Dominion University.
efeito de todas as outras ações em andamento. Por frequência ocorre dentro de uma única Força Sin
exemplo: os esforços militares para reconstruir a gular. No passado, a falta de cooperação entre as
assistência médica em Mogadíscio, na Somália, Forças Singulares era tão grande, que o Congresso
no início dos anos 90, concentraram-se no for teve de promulgar a Lei de Reorganização do
necimento de tratamento médico de graça aos Departamento de Defesa de 1986 (Department of
somalis. Contudo, as Forças Armadas falharam ao Defense Reorganization Act of 1986), para obrigá
não planejarem em coordenação com a Agência -las a cooperar suficientemente. Há quem sustente
dos EUA para o Desenvolvimento Internacional a ideia de que um decreto parecido forçaria a
(United States Agency for International Develo- cooperação entre os vários órgãos do governo. No
pment—USAID), que trabalhava para assegurar entanto, até isso acontecer, o sucesso no ambiente
que médicos somalis retornassem a Mogadíscio. interagências exigirá que os representantes dos
Em função dessa falta de coordenação entre as vários órgãos trabalhem entre si, por sua própria
Forças Armadas e a USAID, a população somali iniciativa.
acorreu aos hospitais gratuitos estabelecidos pelos
militares, enquanto os médicos somalis perdiam Fazer Concessões
seus clientes e abandonavam Mogadíscio. Embora “fazer concessões” talvez tenha uma
conotação negativa na cultura militar, a disposição
Cooperar para transigir é essencial para o sucesso no
Segundo o dicionário Webster, cooperar é “agir ambiente interagências. Significa abrir mão de
junto ou em conformidade com outros”. Embora alguns pontos, para se chegar a uma solução
se possa dizer que a cooperação é um valor militar de compromisso. Os militares convivem com a
que se manifesta por toda a cadeia de comando, a necessidade de condescender todos os dias. Por
cooperação que os militares praticam com mais exemplo: a maioria dos comandantes gostaria
O Capitão Kyle Greenberg, do Exército dos EUA, é Oficial missões de Inteligência, Vigilância e Reconhecimento
de Inteligência e serviu como comandante de pelotão para a Divisão Multinacional-Bagdá e para a Divisão
de sistema aéreo não tripulado tático Shadow, no 2º Multinacional-Norte, durante 15 meses. Formou-se pela
Regimento de Cavalaria Stryker. Seu pelotão conduziu Academia Militar dos EUA.
Um RQ-4 Global Hawk em um voo para registrar dados de Inteligência, Vigilância e Reconhecimento. Por causa da sua
ampla área de cobertura, o Global Hawk tornou-se uma útil ferramenta para registrar dados e enviá-los aos combatentes no
terreno.
Minhas observações pessoais nos escalões as mesmas missões dia após dia, da mesma
Divisão e brigada me levaram a crer que as forma que muitos dos sistemas aéreos não
medidas implantadas pelo Departamento, tripulados de escalões superiores, que apoiavam
em resposta às recomendações do GAO, não nossa brigada. Meu pelotão recebia retorno dos
foram eficazes em promover a melhoria do apoiados apenas por meio de comunicações
emprego dos sistemas aéreos não tripulados, diretas e informais entre os comandantes de
do ponto de vista do combatente. Não observei pelotão e os comandantes das tropas terrestres
indicador algum que medisse a efetividade da que haviam solicitado a cobertura. A falta de
cobertura dos sistemas aéreos não tripulados avanço na utilização de sistemas aéreos não
realizada por pelotões de Shadow nem constatei tripulados nos escalões Divisão e brigada me
um processo de feedback imediato e contínuo estimulou a recomendar formas para melhorar
entre as brigadas e batalhões que solicitavam o planejamento e a execução de tais missões.
tal cobertura e os operadores dos sistemas que Embora o Exército vá começar, em breve, a
executavam uma missão específica. retirar Forças do TO no Iraque, as lições a
A realidade era que as missões do meu pelotão serem aprendidas com as operações de sistemas
no Iraque eram, em sua maioria, repetitivas e mal aéreos não tripulados durante esse conflito
sincronizadas com as operações correntes e com podem ajudar consideravelmente as tropas no
a situação de Inteligência. Meu pelotão conduziu Afeganistão e em futuros conflitos assimétricos.
três áreas. Primeiro, devem enfatizar repetidas informações sobre as mesmas áreas de interesse
vezes às suas Segundas seções a importância dia após dia é fazer com que os gestores de
de atualizar constantemente as listas de alvos coleta atualizem as listas de alvos de IVR,
de IVR, para que reflitam a situação corrente, de modo que reflitam a situação corrente de
quanto às operações e à Inteligência. Segundo, operações e de Inteligência. Ao longo de cada
os gestores de coleta devem trabalhar com período de 24 horas, as Divisões e as brigadas
os comandantes dos sistemas aéreos não receberão dados da Inteligência de Sinais,
tripulados, para determinar como simplificar da Inteligência Humana e do indicador de
as listas de alvos, habilitando os batalhões a alvos móveis do sistema de radar conjunto
apresentarem pedidos de cobertura 24 horas para vigilância e ataque de alvos, bem como
antes das missões, de modo que, com exceção relatórios de patrulhas e de outras fontes de
das mudanças de tarefas dinâmicas, possam informações, que exigirão confirmação antes
concluí-las 12 horas depois. Terceiro, os chefes que se tornem Inteligência sobre a qual se
de equipe dos sistemas aéreos não tripulados possa agir. Os sistemas aéreos não tripulados
do Exército e da Força Aérea devem instruir não podem corroborar alguns desses relatórios
os comandantes e os oficiais de estado-maior apenas com recursos de coleta de imagens. Eles
sobre os recursos e as limitações dos sistemas não serão capazes de determinar, por exemplo,
e estabelecer um esquema para receber a o nome do líder de uma célula de insurgentes ou
avaliação pós-ação das Unidades apoiadas, de de identificar o local de um IED instalado uma
modo a melhorar o planejamento e a execução semana antes. Entretanto, um sistema aéreo não
de tais operações. tripulado talvez possa identificar a casa de um
O modo mais efetivo de evitar observar líder de célula, se uma brigada possuir apenas
os mesmos itinerários e de realizar coleta de uma descrição e sua localização geral. Poderá,
Veículo do sistema aéreo não tripulado Shadow é lançado para conduzir uma missão de vigilância, em Bagdá, no Iraque.
Chefe de equipagem do RQ-4 Global Hawk prepara o sistema de aeronave não tripulada para o lançamento por meio do
controlador de teste de veículo (VTC) enquanto revê ordens técnicas.
utilização, e que sejam concluídas 12 horas para aprimorar as listas de alvos, fornecendo
antes, sem considerar as missões que forem melhores informações para os operadores,
redefinidas durante a execução. Embora isso dê e coordenar com comandantes das Forças
menos tempo às Unidades de sistemas aéreos terrestres e com os centros de operações
não tripulados para planejar suas missões, elas táticas durante o planejamento e a execução de
receberão informações mais precisas e atuais. missões. Antes de toda missão em que sistemas
Da mesma forma, os gestores de coleta nos aéreos não tripulados forneçam apoio direto
escalões Corpo de Exército, Divisão e brigada
devem dar a prioridade de cobertura de vídeo
full-motion primeiro às Unidades que estiverem
solicitando apoio para operações terrestres
As seções de Inteligência
e, em seguida, às Unidades que estiverem dos estados-maiores devem
tentando confirmar ou refutar informações
de outras fontes, ou coletar imagens para o utilizar dados de outras
planejamento de futuras missões.
A terceira técnica que as Unidades podem plataformas de coleta para
adotar imediatamente é ensinar aos comandantes desenvolver e atualizar suas
e ao estado-maior entre os escalões pelotão e
brigada as capacidades e as limitações das listas de alvos diariamente.
plataformas dos sistemas aéreos não tripulados
e buscar obter suas observações sobre seu
emprego em proveito desses. O Comandante do às tropas terrestres, eles devem se comunicar
1º Batalhão, do 160º Regimento de Aviação de diretamente com o comandante dessas, visando
Operações Especiais, observou que os soldados a coordenação dos detalhes finais: Quando é
devem entender a importância de todos os necessário manter distância do alvo? Que áreas,
sistemas de armas no campo de batalha, para objetos ou atividades os sistemas aéreos não
melhorar o desempenho no combate de Armas tripulados devem identificar antes da chegada
combinadas6. Para que a tropa e os comandantes das tropas?
compreendam devidamente as capacidades Depois da missão, os chefes de equipe dos
desses sistemas, o treinamento deve ir além de sistemas aéreos não tripulados devem solicitar
briefings insossos sobre “como utilizar sistemas a avaliação do comandante das tropas terrestres
aéreos não tripulados”. É preciso que o chefe em relação à cobertura: “Em que momentos
de equipe forneça constante revisão sobre a o sistema aéreo não tripulado foi audível?”;
capacidade de a Unidade planejar a cobertura “A Unidade terrestre observou diretamente a
e de se comunicar com os operadores, para que partir da transmissão do sistema ou recebeu
se entendam plenamente as possibilidades dos relatórios via rádio dos operadores ou do centro
sistemas aéreos não tripulados. de operações táticas?”. Os chefes de equipe
O Manual de Campanha 3-24 também devem informar a Unidade apoiada se
— C o n t r a i n s u rg ê n c i a ( F M 3 - 2 4 — ela está se comunicando bem com os operadores
Counterinsurgency) enfatiza o vínculo entre a dos sistemas aéreos e sugerir formas de melhorar
coleta de Inteligência e as operações terrestres: a comunicação para missões futuras. Uma
“Sendo a Inteligência e as operações tão adequada análise pós-ação exige comunicação
intimamente ligadas, é importante que os direta entre os chefes de equipe dos sistemas
responsáveis pela coleta de dados tenham aéreos e a Unidade apoiada. Não bastará que esta
ligação direta com os analistas e com os última preencha um formulário impresso ou um
operadores que eles apoiam”7. Os chefes de questionário on-line. A coordenação direta com
equipe de sistemas aéreos não tripulados o comandante da tropa terrestre, imediatamente
devem coordenar diretamente com seções de antes e depois de uma missão, leva apenas
Inteligência e com os comandantes terrestres, alguns minutos e beneficia tanto os operadores
trabalhar com as centrais de Inteligência dos sistemas aéreos quanto as tropas no terreno.
Cortesia do autor
REFERÊNCIAS
1. Discurso para o Air War College, proferido pelo Secretário de Defesa 2006), p. 4-4.
Robert M. Gates, Base Aérea de Maxwell, Alabama: 21 Abr 2008. 6. HAMES, Jacqueline M. “Training, UAVs, Key to Army Aviation in the
2. GOVERNMENT ACCOUNTABILITY OFFICE (GAO), Unmanned Field”, Army News Service, 9 Jan 2009, disponível em: <http://www.army.
Aircraft Systems: DOD Needs to More Effectively Promote Interoperability mil/-news/2009/01/09/15645training-uavs-key-to-army-aviation-in-the-field/>
and Improve Performance Assessments, GAO-06-49 (Washington, DC: 13 Dez (5 Fev 2009).
2005); e, GAO, Unmanned Aircraft Systems: New DOD Programs Can Learn 7. FM 3-24, Counterinsurgency (Washington, DC: GPO, 15 Dez 2006),
from Past Efforts to Craft Better and Less Risky Acquisition Strategies, GAO p. 3-25.
06-447 (Washington, DC: 15 Mar 2006); e GAO, Unmanned Aircraft Systems: 8. SHANE III, Leo. “Pentagon Panel: Military to Face Tough Budget Cuts”,
Federal Actions Needed to Ensure Safety and Expand Their Potential Uses within Stars and Stripes, 19 Nov 2008.
the National Airspace System, GAO-08-511 (Washington, DC: 15 Mai 2008). 9. As afirmações desse parágrafo se baseiam em uma discussão aprofundada
3. GAO, Unmanned Aircraft Systems: Advanced Coordination and Increased com o Cap Shawn Lonergan, oficial encarregado de Inteligência de Sinais do 2º
Visibility Needed to Optimize Capabilities, GAO 07-836 (Washington, DC: 11 Regimento de Cavalaria Stryker, durante o segundo desdobramento no Iraque,
Jul 2007). de Ago 2007 a Nov 2008.
4. Extraído dos comentários do Departamento de Defesa em resposta às 10. DREAZEN, Yochi J. “Pakistan-U.S. Militaries Rebuild Strained
recomendações do GAO em GAO 07-836 (Appendix II to GAO 07-836) e de Alliance”, The Wall Street Journal Europe, (5 Jan 2009).
uma conversa telefônica com Matthew Ullengren, do GAO, em 16 Mar 09. 11. HAMES.
5. Field Manual (FM) 3.04-155: Army Unmanned Aircraft System Operations 12. GATES, Robert. “A Balanced Strategy: Reprogramming the Pentagon
(Washington, DC: U.S. Government Government Printing Office [GPO], 4 Abr for a New Age”, Foreign Affairs (Jan/Fev 2009), p. 36.
O Capitão-de-Fragata (Reserva) John T. Kuehn, Ph.D. é profes- Possui os títulos de Bacharel pela Miami University of Ohio, de
sor adjunto de História Militar e o responsável pelo desenvol- Mestre pela Escola de Estudos Militares Avançados do Exército
vimento de currículo para o Departamento de História Militar dos EUA, e de Ph.D. pela Kansas State University. Serviu como
na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército dos EUA. navegador aéreo na Marinha dos EUA de 1981 a 2004.
limitado 6. Há, também, o tema da “cultura a partir do século XX, eles, provavelmente,
estratégica”, uma expressão frequentemente sempre acreditaram no potencial do poder
execrável, com muitas definições. Eu defino latente que o sistema de governo adotado
cultura estratégica como sendo um conjunto prometia. Eram homens que acreditavam que
de tendências estratégicas predispostas. Tais ideias eram importantes e que um sistema
tendências não equivalem necessariamente atraente de governo democrático e republicano
a uma grande estratégia coesa 7. Os Estados poderia exercer um poder inigualável, por si
Unidos têm apresentado uma cultura estratégica, próprio, quando atrelado aos ricos recursos
mas não uma grande estratégia, ao menos nos da América do Norte. Os objetivos de uma
quatro últimos governos (incluindo o atual) — grande estratégia exclusivamente estadunidense
ou talvez mais — se críticos, como Andrew não são — e nunca foram — sujeitas à
Bacevich, tiverem razão. especulação. O preâmbulo da Constituição
Um bom ponto para começar a buscar uma as relaciona de forma clara: “estabelecer a
grande estratégia coesa é a Constituição dos justiça, assegurar a tranquilidade interna,
Estados Unidos, de onde se pode inferir uma. prover a defesa comum, promover o bem-estar
Embora os formuladores do documento não geral e garantir as bênçãos da liberdade para
pudessem prever os elementos do poder nacional nós e para a nossa posteridade”8. Os redatores
que os Estados Unidos começariam a utilizar do preâmbulo pensaram nos efeitos de longo
O General David H. Petraeus, do Exército dos EUA, Comandante da Força Internacional de Assistência à Segurança,
conferencia com o Ten Cel David Oclander, Comandante do 1º/504º Regimento de Infantaria Paraquedista, da 82ª Divisão
Aeroterrestre, em Kandahar, no Afeganistão (09 Jul 10).
(fossem esses por meio de fortalezas costeiras retornar à sua grande estratégia original, mas
ou de uma frota naval), atuando como uma a eclosão de uma guerra mundial ainda mais
apólice de seguro. Como bem disse George destrutiva e perigosa, em 1939, condenou esse
Washington: “Sem uma força naval decisiva, esforço ao fracasso. As conflitantes ideologias
não podemos fazer nada de definitivo e, com
ela, tudo de honorável e glorioso”11.
Na terra, a situação foi diferente. Aqui Os Estados Unidos têm
o contexto histórico vem tanto da herança
britânica dos Estados Unidos quanto da apresentado uma cultura
filosofia da Era do Iluminismo. As experiências estratégica, mas não uma
dos britânicos com a semiditadura de Oliver
Cromwell e depois com a Revolução Gloriosa grande estratégia, ao menos
que depôs Jaime II deram a eles e a seus
primos coloniais uma profunda desconfiança nos quatro últimos governos
de líderes militares fortes e de exércitos (incluindo o atual) — ou talvez
permanentes. Além disso, as experiências com
os desdobramentos da Guerra dos Sete anos mais...
nas Colônias e, mais tarde, com a Revolução
Americana haviam criado um mito sobre a
eficiência da milícia. Portanto, a Constituição fascista, militarista e totalitária ameaçavam
consagrou o conceito do soldado-civil na culturalmente a estratégia dos EUA e fisicamente
Segunda Emenda, ao mesmo tempo em que punham em perigo o bordo oriental de seu “fosso
limitou a capacidade de organizar um exército oceânico”. Enquanto isso, os japoneses atacavam
regular no artigo I, 8 a seção, 12 o parágrafo, o componente comercial da Porta Aberta e
do documento. A mesma seção também o fosso do Pacífico, em 1941. Com os EUA
continha a cláusula estabelecendo a Marinha e envolvidos na guerra total travada no mundo
a provisão para a guerra comercial no mar, no inteiro, os líderes políticos passaram a contar
11o parágrafo12. Ao longo do tempo, a grande com a força da opinião pública, que os apoiava (e
estratégia chegou a incluir a não intervenção nenhuma Grande Depressão para restringi-los),
militar fora do Hemisfério Ocidental, o livre de modo a substituir a velha grande estratégia
acesso ao comércio e a quaisquer mercados por outra, mais internacionalista. Mesmo
desejados pelos norte-americanos, e o direito de assim, os Estados Unidos talvez tivessem
atuar como o poder hegemônico do hemisfério. retornado à sua grande estratégia básica após
Os dois últimos componentes são conhecidos a Segunda Guerra Mundial, não fosse pelas
como a Política da Porta Aberta e a Doutrina ameaças ideológicas, culturais, econômicas e
Monroe, respectivamente13. A obtenção de uma de segurança nacional representadas pela União
massa de terra de oceano a oceano (ou do mar Soviética e pela expansão do comunismo, depois
ao mar brilhante, como na canção “America the da queda do colonialismo europeu, por todo o
Beautiful”) completou o requisito geográfico mundo. Uma grande estratégia centrada em uma
defensivo exigido por essa estratégia, com um ameaça específica fora do hemisfério — e dentro
tipo de zona “tampão” no sudoeste, ao longo do do contexto de um balanço de poder nuclear
Rio Grande. Essa foi a grande estratégia norte — substituiu a grande estratégia genérica
americana, baseada na Constituição, por quase anteriormente praticada. Os objetivos, listados
150 anos — embora o componente geográfico no preâmbulo da Constituição, não tinham
terrestre só tenha vindo após a Guerra com o mudado. Os meios (os poderes econômico,
México. nuclear e aéreo) tinham. Também tinham
A estratégia mudou, reagindo à implosão mudado as formas — a contenção e a dissuasão14.
da civilização ocidental liderada pela Europa, O fim da Guerra Fria deveria ter levado a
durante a primeira metade do século XX. Após uma revisão da grande estratégia. Os norte
1919, os Estados Unidos se esforçaram para americanos de hoje tendem a sair-se bem na
REFERÊNCIAS
1. BACEVICH, Andrew J. “Obama’s Strategic Blind Spot”, Los Angeles China da Dinastia Ming como exemplo, consulte JOHNSTON, Alastair Iain.
Times, 6 Jul 2009; PETERS, Ralph. “Trapping Ourselves in Afghanistan”, Cultural Realism: Strategic Culture and Grand Strategy in Chinese History
Joint Force Quarterly no. 54 (3d Quarter 2009): p. 6. (Princeton, NJ; Princeton University Press, 1998). Para uma discussão
2. O General Zinni autorizou a citação de seus comentários feitos durante representativa de uma cultura estratégica institucional, consulte BARNETT,
a palestra que ministrou em 11 de agosto de 2009 para a turma 2010-01 da Roger W. Navy Strategic Culture: Why the Navy Thinks Differently (Annapolis,
Escola de Comando e Estado-Maior do Exército dos EUA. MD: Naval Institute Press, 2009).
3. FM 3-0, Operations (Washington, DC: U.S. Government Printing Office) 8. Consulte <www.constitutionfacts.com/index.cfm?section=constitution
passim. A grande estratégia não está relacionada no índice nem é discutida no &page=readTheConstitution.cfm>, acessado em: 10 Jul 09.
capítulo 6. Atualmente, este autor ensina História Militar no curso da Escola 9. “Know Your World Brazil”, Command and General Staff College, 24
de Comando e Estado-Maior do Exército dos EUA e, anteriormente, lecionava Jun 09.
no Departamento de Operações Combinadas, Interagências e Multinacionais 10. Uma crítica contundente do anti-historicismo norte-americano pode ser
onde a estratégia de segurança nacional e a estratégia militar nacional são encontrada em MURRAY, Williamson. “Introduction: Searching for Peace”, em
apresentadas aos oficiais-alunos pela primeira vez. O currículo da Escola de The Making of Peace: Rulers, States, and the Aftermath of War, eds. Williamson
Guerra Naval (Naval War College) está disponível em: <http://www.nwc.navy. Murray e Jim Lacey (New York, Cambridge University Press, 2009), p. 23.
mil/academics/courses/sp/overview.aspx>, acessado em: 10 Jul 09. 11. Consulte <www.history.navy.mil/trivia/trivia02.htm>, acessado em:
4. CLAUSEWITZ, Carl von. On War, versão em inglês de: Peter Paret e 10 Jul 09.
Michael Howard (Princeton, NJ: Princeton University Press, 1986), p. 358. 12. Consulte <www.constitutionfacts.com/index.cfm?section=constitutio
5. LUTTWAK, Edward. Grand Strategy of the Roman Empire from the n&page=readTheConstitution. cfm>, acessado em: 10 Jul 09.
First Century A.D. to the Third (Baltimore, MD: Johns Hopkins University 13. Para uma discussão ultrapassada, mas ainda interessante, sobre a
Press, 1976), passim; para um contraponto, consulte KAGAN, Kimberly. Política da Porta Aberta, consulte BRYSON, Thomas. “Admiral Mark L.
“Refining Roman Grand Strategy”, The Journal of Military History 70, no. Bristol, an Open-Door Diplomat in Turkey”, International Journal of Middle
2 (Abr 2006): p. 333. Para a China, consulte WALDRON, Arthur. The Great East Studies 5 (Set 1974), p. 450-67. A “Porta Aberta” não era um mito. Como
Wall of China: From History to Myth (Cambridge: Cambridge University parte da estratégia e da política nacionais, pode ser encontrada no National
Press, 1990), passim. Archives and Record Administration Record Group 80 General Board 420-2,
6. Por exemplo, BERKOWITZ, Bruce. Strategic Advantage (Washington, CNO “Memorandum in Re Tentative Draft of U.S. Naval Policy”, 4 Mar
DC: Georgetown University Press, 2008). 1922, p. 1.
7. Existem muitos livros úteis (e outros nem tanto) sobre a cultura 14. GADDIS, John Lewis. “Containment: Its Past and Future”,
estratégica. Para uma publicação com uma discussão completa, utilizando a International Security 5 (Spring 1981): p. 74-102.
Implícitos
Keith Leavitt, Ph.D., é professor adjunto da Academia O Major Walter J. Sowden, Exército dos EUA, é subchefe
Militar dos EUA, em West Point, e pesquisador do de logística no Posto do Comando Operacional do
Projeto Implicit. Trabalha atualmente no Center for the 807º Comando de Apoio de Desdobramento Médico em
Army Profession and Ethic. É doutor em Comportamento Seagoville, no Texas. É bacharel em Sociologia pela
Organizacional (Administração) pela Foster School South Dakota State University e mestre em Psicologia
of Business da University of Washington e mestre em Organizacional e Social pela Columbia University.
Administração e Psicologia Social.
essas crenças estão mais fortemente ligadas às Hoje, uma das mais confiáveis é o teste de
atitudes de nossos pais em relação às minorias associação implícita disponível on-line (www.
do que às nossas próprias atitudes6). projectimplicit.com). O site fornece pontuação
Por outro lado, precisamos nos responsabilizar e feedback para ajudar o usuário a entender seus
por nossas decisões e por nosso comportamento próprios pressupostos automáticos, tudo de forma
em situações críticas, especialmente quando anônima. É chamado “Project Implicit” (Projeto
houver implicações morais e éticas. Embora haja Implícito) e é uma organização de pesquisa sem
um número limitado de pesquisas empíricas, fins lucrativos localizada nas Universidades de
que demonstram como esses pressupostos Harvard, Washington e Virgínia.
implícitos podem mudar, a maioria das possíveis
intervenções se concentra em reduzir nossa Monitorar as Próprias Reações
dependência em relação a eles, por meio da Embora situações complexas e intensas se
conscientização. É preciso fazer um esforço para desenrolem rapidamente, o dia a dia nos oferece
considerar a situação antes de agir. várias oportunidades para identificar e corrigir
É possível reduzir o impacto prejudicial pressupostos que possam surgir em situações
dos próprios pressupostos implícitos com as importantes. Por exemplo, se uma interação
seguintes medidas: problemática durante o atendimento ao cliente
●●Conscientizar-se do conteúdo dos próprios levar a um pensamento negativo automático
pressupostos implícitos. sobre a etnia da pessoa, esse momento deve servir
●●Monitorar ativamente as próprias reações como um alerta, assim como uma oportunidade
automáticas a situações e praticar substituí-las de lidar com o surgimento desses pressupostos
por bons julgamentos. automáticos no nosso pensamento. Uma vez
●●Incorporar complexidade ao próprio que reconheçamos nossos próprios pressupostos
modo de pensar, por meio da análise e do automáticos e as tendências comportamentais
questionamento de premissas. deles advindas, podemos nos empenhar em
considerá-las mais a fundo em vez de agir
Conscientizar-se imediatamente. Se acreditarmos implicitamente,
Conscientizar-se dos pressupostos implícitos por exemplo, que os habitantes do Oriente Médio
faz parte do desenvolvimento do autoconheci são mentirosos, é óbvio que isso afetará uma
mento. Por autoconhecimento entende-se ter interação com um afegão ou com um iraquiano.
consciência de si mesmo, incluindo as próprias Podemos ignorar informações valiosas ou
características, sentimentos e comportamentos prejudicar relacionamentos construtivos.
(FM 6-22, Capítulo 8) 7. Nossa
organização valoriza o autoconhe
cimento, segundo a antiga doutrina
Departamento de Defesa, Sgt Paul L. Anstine II, CFN dos EUA.
de liderança e treinamento do
Exército (“Ser, Saber, Fazer”). O
Manual de Campanha 6-22 defende
os 11 princípios de liderança, dos
quais o primeiro é “conhecer-se
e buscar o autoaperfeiçoamento”.
Como, não raro, os pressupos
tos automáticos operam sem que
tenhamos consciência disso, é
quase impossível conhecer nossas
próprias mentes. Felizmente, os
pesquisadores comportamentais
começaram a desenvolver uma
ampla gama de ferramentas para Um iraquiano acena com um pano branco, próximo à Ponte An Nu’maniyah,
identificar “pressupostos ocultos”. no Iraque,durante a Operação Iraqi Freedom.
Um militar fornece segurança durante apreensões de iraquianos, em Bagdá, Iraque, 13 Ago 07.
Questionar os Próprios
sempre intimamente ligadas pode nos levar a
Pressupostos e Crenças
fazer algo errado. Discutir essas questões em suas
Da mesma forma que os gerentes e os alunos de Unidades e obrigar-se a reconhecer e a questionar
Administração, que acreditavam que os “negócios” as próprias pressuposições podem desencadear
eram inerentemente “éticos”, deixaram de utilizar crescimento pessoal e coletivo.MR
qualquer critério pessoal no seu comportamento
profissional, corremos o risco de acreditar que a
nossa missão confere moralidade automática ao REFERÊNCIAS
nosso comportamento. Os campos de batalha e os 1. SMYTH, F.L.; NOSEK, B.A.; GREENWALD, A.G.; BANAJI, M.R.
teatros de operações modernos são inerentemente (2009). “Implicit gender stereotype outperforms scholastic aptitudes in predicting
a science major for women”, documento de trabalho.
complexos e trazem consigo a capacidade de 2. GREENWALD, A.G.; OAKES, M.A.; HOFFMAN, H.G., “Targets of
discrimination: Effects of race on responses to weapon holders”, Journal of
se fazer tanto um grande bem, como um grave Experimental and Social Psychology 39 (2003): p. 399-405.
e irreparável mal. Os valores e a história do 3. CORRELL, J.; PARK, B.; JUDD, C.M.; WITTENBRINK, B.; SADLER,
M.S.; KEESEE, T. “The thin blue line: Police officers and racial bias in the
Exército dos EUA geralmente nos levam a fazer decision to shoot”, Journal of Personality and Social Psychology 92 (2007):
o bem, mas, se começarmos a acreditar que p. 1006-23.
4. REYNOLDS, S.J.; LEAVITT, K.N.; DECELLES, K. (em via de
os nossos esforços são inerentemente éticos, publicação), “Automatic ethics: The effects of implicit assumptions and contextual
corremos o risco de não reconhecer graves cues on moral behavior”, Journal of Applied Psychology.
5. O sargento envolvido neste incidente apontou sua arma para o indivíduo,
perigos morais. Um estudo recente constatou mas sabiamente resistiu ao impulso de atirar. Quando reforços chegaram,
exatamente isto: quando uma tarefa discretamente descobriu-se que o homem era um policial local e sobrinho de um xeque amigo das
Forças da coalizão. Esse estudo de caso consta do site ACPME AKO, disponível
reafirmava a identidade moral dos participantes em: <https://acpme.army.mil>.
(isto é, fortalecia a crença de que eram pessoas 6. O estudo de caso de Michael Hensley consta do site ACPME AKO.
7. FM 6-22, Army Leadership (Washington DC: U.S. Government Printing
moralmente corretas), eles se mostravam menos Office), p. 4-12.
motivados a portar-se bem8. Em suma: Aceitar, 8. SACHDEVA, S.; ILIEV, R.; MEDIN, D.L. “Sinning saints and saintly
sinners: The paradox of moral self-regulation”, Psychological Science 20 (2009):
automaticamente, que “missão” e “moral” estão p. 523-28.
O General-de-Brigada Ajax Porto Pinheiro é o atual Cmt Management Course on Integrated Peace Mission, Mar
da 15ª Bda Inf Mtz, em Cascavel-Paraná. Foi Observador 2009 (Cornwallis, Nova Escócia, Canadá). Foi o Cmt do 12º
Militar no Grupo de Observadores das Nações Unidas para Contingente do Batalhão de Infantaria de Força de Paz por
a América Central, Mai a Dez 1991 (ONUCA) e Observador três meses (Fev, Mar e Abr 2010), tendo retornado ao Brasil
Militar na Missão de Observação das Nações Unidas em antes do término do período de seu contingente, por força de
El Salvador, Jan a Abr 1992 (ONUSAL). Possui o Senior sua Promoção a General-de-Brigada.
O autor, então no posto de Coronel, e o Coronel McAteer, Comandante da 2ª Brigada da 82ª Divisão Aeroterrestre do
Exército dos EUA, em briefing no PC do BRABATT 1, Fev 2010.
para o qual nós havíamos nos preparado, por oito em consequência da quantidade de escombros
meses, havia ruído com o terremoto. Se antes sobre as mesmas. Parte dos sobreviventes
o principal desafio era a garantia da ordem das abandonara suas casas e o contato com as
eleições previstas para fevereiro de 2010, agora lideranças locais não mais existia.
sabíamos que elas não mais ocorreriam e que A Engenharia cumpria sua missão desobstruindo
outras missões inopinadas surgiriam. as ruas e vielas, ao mesmo tempo em que,
Ao analisar os fatores clássicos da decisão, em coordenação com órgãos de assistência
afirmei que quanto à missão, conforme descrito humanitária, enterrava centenas de corpos em
anteriormente, tudo mudara. As forças adversas valas coletivas.
(em combate teriam a denominação de inimigo) Aliado a esse cenário, atores que não estavam
haviam alcançado uma dimensão igual ou maior presentes no Haiti antes do terremoto começavam
do que a que se apresentava no início da missão em a chegar, o que exigia uma nova forma de atuação.
2004. Em torno de 4.500 presidiários estavam soltos Organizações Não Governamentais (ONGs) de
e espalhados pelo país, a maioria se concentrando todo o mundo desembarcavam na capital após o
em Porto Príncipe, armados com o que furtaram da restabelecimento dos voos. Exércitos de países
guarda penitenciária. Desse total, 529 eram conde que não compunham a Missão de Paz para a
nados de alta periculosidade. Sabíamos que estavam Estabilização do Haiti (MINUSTAH) chegavam
retornando para seus antigos redutos nos bairros de em navios e voos diários. Os maiores efetivos
Cité Soleil, Cité Militaire e Bel Air, entre outros. eram oriundos dos Estados Unidos, da França,
Esses bairros constituíam nossa zona de ação. do Canadá e da Itália.
O terreno também havia mudado. Bel Air Tínhamos de nos adaptar ao novo cenário,
estava intransitável. Só com muita dificuldade os para que a tropa brasileira no Haiti permanecesse
blindados conseguiam circular em algumas vias, relevante no momento em que os olhos do mundo
Militares brasileiros realizando a distribuição de alimentos, no cair da noite, em Porto Príncipe, Fev 2010.
Na embalagem com ajuda humanitária, a inscrição “Do nosso Coronel Cysneiros, para os amigos do Haiti”. O Cel
Cysneiros foi um dos integrantes do Brabatt vitimados pelo terremoto de Jan 2010.
Nesses pontos, as tropas norte-americanas nos MINUSTAH estava bem organizada, pode-se
apoiavam na distribuição. Mas tão somente na dizer que o BRABATT 1 atuava como um típico
entrega dos gêneros, pois a segurança sempre foi batalhão em uma brigada no Brasil, em uma
responsabilidade de nossas tropas. estrutura verticalizada. Após o terremoto, esse
Convém frisar a ajuda inconteste dos norte cenário mudou radicalmente. O comando civil e
americanos na reorganização dos sistemas a estrutura militar da missão ficaram seriamente
colapsados do porto e do aeroporto de Porto abalados. Nas semanas seguintes ao terremoto
Príncipe. Essas ações permitiram que os aviões houve uma sequência de desacertos, desencontros
da FAB e os navios da Marinha do Brasil de informação, tudo em função do caos instalado
mantivessem o suporte logístico que permitiam no país. O Quartel General da ONU em Porto
às nossas tropas atuarem.
Os aviões da FAB descarregavam toneladas
de alimentos no aeroporto, diariamente, os quais …o Batalhão Brasileiro
eram transportados por nossas tropas e loteados
na sede do Batalhão. Nossa Seção de Assuntos passou a assumir a iniciativa
Civis (G 9), que havia cadastrado 220 entidades
que prestavam apoio às populações desassistidas de algumas ações que…
(ONGs, creches, hospitais, orfanatos etc.) fazia precisavam de respostas
a entrega dos alimentos, medicamentos, barracas
e água doados pelo Brasil em nossa própria urgentes.
Base. Essa forma de distribuição caracterizava o
segundo processo de distribuição.
O terceiro era conhecido por Operação Papai Príncipe fora destruído, vários civis e militares que
Noel. compunham a cúpula da missão estavam mortos.
Nossos soldados verificaram que, se a partir Entendemos que certas situações precisavam de
das 21 horas distribuíssem gêneros em locais respostas rápidas, as quais, naquele momento,
previamente reconhecidos de sua zona de ação, o não viriam da MINUSTAH, seriamente abalada
resultado seria mais eficaz. Em linhas gerais, essas pela tragédia. Dessa forma, o Batalhão Brasileiro
ações se constituíam em preparar em torno de 300 passou a assumir a iniciativa de algumas ações
cestas básicas com gêneros doados pelo Brasil que até então eram comunicadas ao Estado–Maior
e entregá-los quando os haitianos já estivessem da MINUSTAH e que precisavam de respostas
se preparando para dormir. Evitavam-se assim urgentes.
as grandes aglomerações que se formavam nas Dezenas de ONGs, que antes não atuavam no
distribuições diurnas e assegurava-se maior HAITI ou que tinham participação discreta no
justiça na entrega dos alimentos e água, pois em país, chegavam todos os dias. O Batalhão passou
uma noite só determinado grupo de desabrigados a receber, diariamente, representantes desses
recebia os donativos. Nos dias seguintes outras grupos para organizar comboios de suprimentos,
concentrações de desabrigados eram selecionadas. fazer segurança dos mesmos e realizar gigantescas
Os grupos vizinhos aos locais escolhidos, em operações de distribuição de alimentos, água,
função da escuridão e do avançado da hora, não medicamentos e barracas.
acorriam aos pontos de distribuição. Dessa forma, Houve um momento em que tínhamos
garantir-se-ia uma distribuição mais justa e sem tantas instituições civis cadastradas, que houve
tumultos. Era como se o Papai Noel tivesse trazido necessidade de se fazer uma verificação para
um presente, naquela noite, para aquele grupo de atestar sua idoneidade. Várias deixaram de ser
haitianos. apoiadas por nós por estarem se aproveitando da
situação caótica em que se encontrava o Haiti para
Novos Atores desviar e comercializar as doações.
Até o advento do terremoto, as tropas brasileiras Havia um processo natural de ajuste de
haviam interagido com algumas ONGs e com procedimentos. Certas exigências feitas por
poucas instituições civis. Como a estrutura da algumas ONGs não eram aceitas por nós por
Conclusão
Tínhamos de “recomeçar do zero” e Após o retorno ao Brasil, questionei-me
recapturar os fugitivos. Nosso sistema de sobre quais fatores haviam sido preponderantes
Inteligência funcionou perfeitamente na para o sucesso daquela tropa, a qual havia sido
identificação dos locais de homizio dos submetida inesperadamente a uma situação para
criminosos. A população passou a denunciar a qual não havia se preparado.
Ameaça
E. Margaret Phillips
envolvidos em ataques futuros, que tenham como ataques com uma alteração nos objetivos
alvo a vontade nacional dos EUA. Três variáveis dos EUA, com uma mudança de governo
principais fornecem um enquadramento ou como uma reação aos eventos no campo
para discuti-los aqui: o tempo de duração de batalha. Os adversários podem explorar
das operações, o potencial de envolvimento certas oportunidades para semear e talvez
dos EUA em conflitos persistentes de baixa estimular o questionamento entre a população.
intensidade e o modo pelo qual tanto os Estados Isso é particularmente verdadeiro quando o
Unidos quanto seus adversários podem atuar público questiona moralmente as razões do
sobre a vontade nacional.
Combatentes chechenos cercam um helicóptero russo abatido perto da capital chechena de Grózni, Dez 94.
histórica relativamente curta para ser explorada. Conflitos prolongados e objetivos que
A população dos EUA não está acostumada a mudam constantemente levam a uma questão
constantes conflitos étnicos e nacionalistas, frequentemente levantada sobre o Iraque e o
diferentemente da Rússia — essa afirmação deve Afeganistão. Como se parecerá a “vitória”?
ser entendida considerando-se que os americanos Em seu artigo “Theory of Victory” (A Teoria
nativos [índios] e os afro-descendentes tiveram da Vitória, em tradução livre), J. Boone
de se conformar e conviver com o colonialismo Bartholomees sustenta a noção clausewitziana
e o imperialismo europeus por 500 anos, como de que a “vitória” é alcançada pela quebra da
alguns argumentam. “vontade”, quando os meios da resistência
Na canção dos rebeldes irlandeses “Go são praticamente impossíveis de eliminar —
On Home British Soldiers” (“Vão para Casa especialmente em lugares onde os dispositivos
Soldados Britânicos”, em tradução livre), as explosivos improvisados (IED, na sigla em
letras proclamam: “Por oitocentos anos temos inglês), facilmente adquiridos ou fabricados,
são a principal “arma de influência estratégica”
(um conceito a ser analisado mais adiante)22.
Um jovem clérigo organizou Contudo, o que significa a “vitória” no
contexto da vontade nacional dos EUA?
um exército de guerrilheiros Aceito a afirmação de Bartholomees de que a
noção da vitória é, em última instância, uma
muçulmanos e liderou uma avaliação. Fatos objetivos são importantes,
rebelião contra a Rússia mas a percepção é aquilo que permite que um
dos lados reivindique o sucesso, no final das
imperial por 25 anos. contas23. Nos EUA, sugere Bartholomees, quem
primeiro declara uma vitória ou uma derrota é a
população norte-americana. Em seu título, antes
lutado sem medo contra vocês / E por mais de tudo, é o próprio povo norte-americano quem
oitocentos os enfrentaremos”20. Os sentimentos determina a vitória, o que leva as elites políticas
nessa canção refletem um conflito que dura e militares estadunidenses a também declarar
gerações e que irromperam mais uma vez, em vitória. A isso segue-se o reconhecimento da
2009, com a morte de dois soldados britânicos vitória pelos aliados dos EUA e, por fim, pela
Meios de comunicação militares dos EUA e do Iraque registram a cerimônia de transferência de responsabilidades de uma
base de patrulha, em 04 Jun 10. Militares da 1ª Bda/1ª Div Bld dos EUA transferiram o controle às Forças de Segurança
iraquianas, como parte da retirada faseada da região.
de informações por todo o mundo reduz o tempo elas terão de entender o conflito e o ambiente
de reação e pode apressar resultados. Por isso, operacional para combater esse oponente com
ataques contra as tropas dos EUA irão enfocar a eficácia.
letalidade e a eficácia, a brutalidade e o valor que O adversário pensa globalmente e age
têm, como notícias para a imprensa. Um ataque localmente. Um entendimento estratégico
de IED contra um pelotão dos EUA passa a ser, adequado terá permeado as Forças estadunidenses
no final das contas, estratégico, e não tático35. com êxito, quando considerações sobre o impacto
global de longo prazo estiver influenciando tudo,
Ramificações desde a segurança até as patrulhas, passando
A importância do treinamento e do pelas comunicações internas, externas, e pelas
desenvolvimento de líderes reside no fato de que, interações com o povo local.
hoje, a maioria das comunicações ocorre no nível Os comandantes militares também precisarão
tático entre oficiais e soldados sem a existência identificar suas próprias oportunidades de
de conceitos do nível estratégico36. Todos os informações. Seus adversários estão sendo
comandantes, até o nível tático, precisam ter um igualmente observados e suas ações transmitidas
entendimento amplo e evolutivo do ambiente pela mídia. Seus erros podem virar a opinião
estratégico. Eles têm de possuir a capacidade de pública contra eles no seu próprio país e no
transmitir aos seus soldados, efetivamente, que o exterior. Por exemplo, imagens obtidas por
que eles fazem e a maneira como são vistos têm telefones celulares, que mostravam soldados
consequências duradouras e de longo alcance. guineano cometendo crimes, ajudaram a
Se as unidades táticas são o alvo das armas de fortalecer a determinação da oposição em
um adversário que tenta enviar uma mensagem destituir o líder da junta militar do país37. Em
estratégica ao público interno dos EUA, então tais situações, em que surgem oportunidades
REFERÊNCIAS
1. TRADOC. “Operational Environment: 2009-2025”, Ago 2009, p. 17. 21. “PSNI Step Up Dissident Crackdowns”. BBC News, disponível em:
2. America’s Wars, disponível em: <http://www.history.com/topics/americas <http://news.bbc.co.uk/2/ hi/uk_news/northern_ireland/8263983.stm>, acessado
wars>, acessado em: 21 Jul 10. em: 29 Out 09.
3. BARTHOLOMEES, J. Boone. “Theory of Victory”, Parameters 38, no. 22. MARTIN, James Kennedy. “Dragon’s Claws: The Improvised Explosive
2 (2008): p. 29-30. Device (IED) as a Weapon of Strategic Influence” (MAThesis, Naval Postgraduate
4. RICKS, Thomas. Foreign Policy, disponível em: <http://ricks. School, 2009), i. BARTHOLOMEES, p. 34, p.35.
foreignpolicy.com/posts/2009/09/28/ barno_this_is_the_taliban_strategy>, 23. BARTHOLOMEES, p. 26.
acessado em: 28 Out 2009. 24. Ibid, p. 31.
5. YOUSAFAZAI, Sami e MOREAU, Ron. “The Taliban in Their Own 25. Ibid, p. 32, p. 33.
Words”, Newsweek, 5 Out 09. 26. TRADOC, “Operational Environment”, p. 9.
6. TRADOC, “Operational Environment”, p. 17. 27. USJFCOM, “The Joint Operational Environment 2008”.
7. BAKER, Peter e GLASSER, Susan. Kremlin Rising (New York: Scribner, 28. PAYNE, Kenneth. “Waging Communication War”, Parameters 38, no.2
2005), p. 102. (2008): p. 48.
8. Ibid. 29. BARTHOLOMEES, p. 29-30.
9. Ibid. 30. TRADOC, “Operational Environment”, p. 12.
10. Ibid, p. 112. 31. PAYNE, p. 48.
11. Ibid, p. 113. 32. Ibid.
12. Ibid, p. 116. 33. MARTIN, p. i.
13. Ibid. 3 4 . J O I N T I M P R O V I S E D E X P L O S I V E D E V I C E D E F E AT
14. Ibid, p. 206. ORGANIZATION, “Annual Report”, p. 5.
15. Ibid, p. 166-167. 35. MARTIN, p. i.
16. Ibid, p. 161. 36. PAYNE, p. 48.
17. Ibid, p. 159-160. 37. NOSSITER, Adam. “In a Guinea Seized by Violence, Women Are Prey”,
18. Ibid, p. 176. New York Times, 5 Out 09, disponível em: <www.nytimes.com/2009/10/06/world/
19. Ibid, p. 177-178. africa/06guinea. html?hp>.
20. SHAN-NOS, “Go On Home British Soldiers”, The Songs That Shake the 38. TRADOC, “Operational Environment”, p. 21.
Barley, IML Irish Music Licensing Ltd, 2007.
Martin L. Cook , Ph. D., é professor de Filosofia e Subchefe de Santa Clara University, College of William and Mary, Gustavus
Departamento na Academia da Força Aérea dos EUA. Lecionou Adolphus College e St. John’s College. É mestre e doutor pela
anteriormente nas seguintes instituições: US Army War College, University of Chicago e bacharel pela University of Illinois.
Uma implicação que advém dessa linha de para Forças Armadas concentradas em “combater
raciocínio é que os integrantes da profissão têm e vencer as guerras dos EUA” (o que o então Chefe
a obrigação ética de aplicar os conhecimentos do Estado-Maior do Exército, General Eric Shinseki,
profissionais vigentes da melhor maneira possível, se referiu como sendo “o contrato não negociável do
sempre que enfrentarem desafios operacionais, Exército com o povo norte-americano”).
mantendo, ao mesmo tempo, a capacidade de Foi nesse ambiente que vários escritores
adaptá-los às novas necessidades e exigências advertiram de que a subordinação essencial
operacionais. Como a análise do projeto está das Forças Armadas à liderança civil estava em
ligada à teoria das profissões desenvolvida questão. As análises mais abrangentes e estridentes
por Andrew Abbott, que as vê como estando foram a de Thomas Ricks, em seu romance A
diacronicamente envolvidas em uma luta por Soldier’s Duty (“O Dever de um Soldado”, em
“jurisdição” profissional, esse aspecto da análise tradução livre) — que imaginou os militares
destacou a necessidade de que as profissões “se deixando deliberadamente de cumprir as ordens
adaptem ou morram”, à medida que evoluem em de seus superiores — e a do Professor Richard
concorrência com outros pretendentes às perícias H. Kohn, da Universidade da Carolina do Norte3.
típicas de suas tradicionais áreas de expertise2. Mais recentemente, várias vozes se manifestaram
Do outro lado desse debate, havia a percepção, para argumentar que os conselhos profissionais dos
durante o governo do Presidente Clinton, de que militares não foram considerados pela liderança
muitos militares não o respeitavam pessoalmente civil, no governo Bush4. A preocupação era
e desaprovavam suas decisões de empregar força praticamente oposta àquela que havia sido expressa
militar, particularmente nos Bálcãs. Intervenções nos anos Clinton. A alegação era que, em vez de
como essa forçaram os militares a assumir um papel optar pela insubordinação, a liderança das forças
que muitos na profissão consideravam impróprio militares aceitou os planejamentos de campanha e
Donald Rumsfeld, Secretário de Defesa (à direita), e o General Peter Pace, do Corpo de Fuzileiros Navais, Chefe da Junta de
Chefes de Estado-Maior dos EUA (à esquerda), respondem a perguntas durante uma coletiva de imprensa no Pentágono, 29
Nov 05.
É importante pôr de lado uma série de uma linha divisória que separa a opinião política
questões correlatas que podem nos distrair, da perícia militar propriamente dita, distinção
antes de dar início a uma análise normativa do essa que, segundo Snider, deve ser clara.
assunto. Primeiro, não há dúvida alguma sobre Por fim, antes de passarmos a uma análise
o direito de facto desses oficiais de dizer o que normativa do problema, é importante reconhecer e
quiserem12. De facto porque pode-se argumentar tentar colocar de lado opiniões políticas específicas
que — como recentemente defendeu Richard sobre a guerra no Iraque. Após cinco anos de
Swain — os oficiais transferidos para a Reserva envolvimento dos Estados Unidos no conflito,
estão obrigados às mesmas regras que os oficiais ficou claramente comprovado que quase todos os
da Ativa, uma vez que, tecnicamente, fazem pressupostos nos quais ele se baseou (tanto em
parte das forças militares e delas receberem termos das causas que o justificavam, quanto das
remuneração militar. Contudo, a comunidade previsões sobre qual seria seu resultado) estavam
jurídica nunca esteve inclinada a adotar essa incorretos, deixando aos futuros historiadores a
perspectiva. Como oficiais da Reserva, eles tarefa de determinar em que proporções elas foram
readquirem plenamente as liberdades da Primeira o resultado de autoengano, de duplicidade ou de
Emenda Constitucional [liberdade de expressão simples erro.
— N. do T.], que são necessariamente restringidas Outros, é claro, avaliaram e avaliarão essas
enquanto estão na Ativa. Segundo, a utilização, questões de forma diversa. Embora seja importante
por parte de oficiais-generais da Reserva, de reconhecer que essas opiniões e os sentimentos
seu peso moral e político para tentar influenciar que as acompanham geram divisões profundas
questões políticas já se tornou corriqueiro. Todos na sociedade norte-americana, a finalidade deste
os candidatos presidenciais dos últimos anos artigo não é a crítica ou a defesa de perspectivas
mobilizaram o apoio de oficiais-generais da específicas. Em vez disso, o objetivo é buscar,
Reserva. Pode-se argumentar, sem dúvida, que, mesmo em meio a paixões políticas, ampliar o
se é aceitável que oficiais da Reserva utilizem pensamento normativo sobre o profissionalismo
seu status dessa forma (para apoio político militar, que foi promovido de forma tão proveitosa
partidário generalizado), então deveria ser nos últimos anos.
imensamente mais aceitável que eles criticassem
líderes políticos e políticas formuladas que Rumo a uma Análise Normativa
estejam estritamente concentradas nas áreas de Um modo de tentar abordar um problema
sua perícia militar específica13. segundo seu princípio é formulá-lo como uma situ
Muitos observadores criticaram severamente ação hipotética. É importante, é claro, que ela seja
esses oficiais da Reserva quanto a diversos plausível em termos do mundo real e, além disso,
aspectos. Don Snider, em uma palestra não que ela seja pelo menos uma interpretação possível
publicada, em West Point, argumentou que tal desses eventos, já que essa discussão se origina em
crítica prejudica a confiança dos jovens oficiais, fatos específicos. Por outro lado, a vantagem dessa
que podem pensar: “Ele realmente pensava dessa formulação hipotética é que ela nos permite declarar
forma enquanto eu lutava por ele na Operação o problema como uma questão “em princípio”, em
Iraqi Freedom e, sendo esse o caso, por que ele vez de nos dispersarmos com todos os detalhes das
não renunciou ao cargo, naquela época14?” personalidades e dos eventos específicos.
De forma ainda mais contundente, Snider citou Suponha que você seja um oficial-general
a declaração clássica de Samuel Huntington, que tenha prestado conselhos repetidas vezes à
segundo a qual os militares devem permanecer liderança política sobre a viabilidade dos objetivos
completamente fora de assuntos políticos, operacionais e estratégicos, segundo a ótica militar.
afirmando, ainda, que a revolta dos generais Suponha que seu assessoramento tenha sido bem
“...coloca a profissão do Exército e sua atual claro quanto aos objetivos traçados não poderem
liderança estratégica (tímida demais para se ser alcançados com os meios militares que os
manifestar como nós) sob um foco bastante líderes civis estão dispostos a empregar ou até
negativo”15. Segundo essa avaliação, as críticas mesmo não poderem ser conquistados militarmente
dos oficiais-generais da Reserva estão cruzando (segundo sua avaliação). Evidentemente, é possível
acertadamente, que eles estão sujeitos a serem eles permaneçam pelo menos eticamente
convocados de volta para a Ativa, que recebem obrigados a observar as restrições impostas
remuneração como integrantes da Reserva e que pelo serviço ativo, aceitas com base no
mantêm sua patente. Portanto, ele defende que eles juramento que fizeram e na patente que
estão sujeitos às mesmas restrições que os militares conservam16.
da Ativa. Swain assevera: Embora Swain apresente um bom argumento
É no mínimo uma falsa proposição jurídico, na prática tolera-se muito mais na
afirmar que, ao serem transferidos para a conduta dos oficiais da Reserva do que aquilo
Reserva, os oficiais readquirem plenamente a que está no padrão por ele expresso. Além disso,
condição de civil, no que tange às obrigações se devidamente utilizada, a perícia dos oficiais da
assumidas quando se tornaram oficiais. A Reserva, que têm mais liberdade de falar sobre
transferência para a Reserva não equivale políticas do que quando estavam na Ativa, parece
a um pedido de afastamento. É fato, e não ser, no final das contas, um recurso nacional valioso
uma questão de interpretação, que os oficiais para contribuir para o debate público sobre elas.
da Reserva continuam sendo membros das Privada dessas contribuições, a nação teria apenas a
Forças Armadas por lei e regulamentos... A posição do governo e a opinião comparativamente
menos que peçam o afastamento, como fez não especializada de comentaristas sem experiência
George Washington, é razoável presumir que militar. Qualquer tentativa de transformar o padrão
alto escalão, pode-se esperar uma discussão em tratados, acordos ou garantias internacionais; (ii)
que os participantes sejam francos. Obviamente, é participar de um plano comum ou conspiração para
apropriado expressar-se com franqueza (embora, a realização de qualquer um dos atos mencionados
na prática, seja difícil fazê-lo bem) perante os em (i)”24.
devidos órgãos do Congresso, quando se espera e Embora seja difícil saber precisamente o que
se exige que os líderes apresentem seus pareceres quis dizer o General-de-Divisão da Reserva
militares sem reservas22. Na situação ideal, todos os Greg Newbold, um dos críticos, ao descrever a
participantes deveriam sair desse tipo de discussão Guerra do Iraque como sendo “desnecessária”, é
com a sensação de que expressaram suas opiniões razoável concluir que ele entendia que continuar
— de que foram “ouvidos” pelo escalão adequado participando do planejamento das operações
— e convencidos de que, mesmo que a decisão não significaria que ele participava de um crime de
lhes tenha sido favorável, eles puderam entender e guerra desse tipo. Para fins de análise moral, o
aceitar o raciocínio. analista não precisa determinar se ele concorda
E quando a situação não vai tão bem? Em um ou não com esse parecer, mas apenas (presumindo
artigo, o General-de-Exército da Reserva Richard que essa seja a interpretação correta) se o General
Myers e Dick Kohn afirmam que “não houve Newbold acreditava sinceramente que era esse
‘trégua’ alguma entre os militares e os civis depois o caso. Também é irrelevante o fato de que seja
dos atentados de 11 de Setembro, porque eles nunca improvável que alguém no governo dos EUA
haviam estado em guerra. Havia apenas o atrito e a seja processado por tal crime no atual ambiente
desconfiança (nunca aberta, mas exacerbada pela geopolítico. Pode-se ver, certamente, por que um
abordagem e pelo estilo de Rumsfeld) inerentes oficial que acredita que a situação se aproxima
às relações entre civis e militares nos EUA”23. desse nível estaria, no mínimo, na terceira categoria
Em outras palavras, na sua análise, a situação não de angústia moral de Clifford.
era uma crise nas relações entre civis e militares, Outra situação em que se deve, pelo menos,
mas apenas uma posição um tanto extrema na cogitar expressar a discordância publicamente,
escala normal de tensão inerente ao sistema norte quando apropriado, é o caso em que um oficial
americano.
Claramente, os oficiais-generais que foram a
público expressar sua divergência não enxergavam
a situação dessa forma. Um deles, em uma conversa
privada, chamou-a de “crise constitucional” e
argumentou que só uma situação grave como aquela
poderia tê-lo motivado a romper a moderação que
os oficiais normalmente exercem ao se expressarem
publicamente. Que tipo de discordância poderia
justificar a conclusão de que a situação era tão
extrema, a ponto de colocar a decisão na terceira
categoria de objeção moral de Clifford?
O primeiro desses casos é tão extremo que seria
possível afirmar que ele se enquadra na categoria
de ordem ilegal — embora não seja, segundo a
definição comum de ordem ilegal, uma violação
das regras do Direito na Guerra (jus in bello).
Os julgamentos de Nuremberg distinguiam três
categorias distintas de crimes de guerra. As mais
conhecidas são as violações da lei da guerra e os
crimes contra a humanidade. A terceira categoria,
a dos crimes contra a paz, é definida da seguinte
forma: “(i) planejar, preparar, iniciar ou travar uma
guerra de agressão ou uma guerra em violação a General-de-Divisão Gregory S. Newbold, CFN dos EUA.
REFERÊNCIAS
1. SNIDER, Don M.; MATTHEWS, Lloyd J. (eds.). The Future of the Army de comando. O status profissional de oficiais-generais na Reserva (em especial,
Profession (2d ed.; Boston: McGraw-Hill Custom Publishing, 2005). talvez, os recém-transferidos para a Reserva que deixaram cargos importantes, a
2. ABBOTT, Andrew. The System of Professions: An Essay on the Division partir dos quais eram capazes de observar de perto a política e a sua implantação)
of Expert Labor (Chicago: Univ. of Chicago Press, 1988). é uma importante questão ética profissional. Claramente, a força de suas críticas
3. KOHN, Richard H. “Out of Control: The Crisis in Civil-Military e a sua influência sobre o público, a mídia e o Congresso advêm de sua anterior
Relations”, The National Interest, 35 (Spring 1994), p. 3-17. Consulte também condição de militares.
ULRICH, Marybeth Peterson. “Infusing Normative Civil-Military Relations 12. Até isso é discutível. O Título 10 do Código dos EUA inclui, claramente,
Principles in the Officer Corps”, in The Future of the Army Profession, p. membros do componente da ativa de uma Força que tenham sido transferidos para
655-82. COOK, Martin L. “The Proper Role of Professional Military Advice a Reserva como integrantes plenos dessa Força. Eles não se demitiram, abrindo
in Contemporary Uses of Force”, Parameters, 32 (Winter 2002-03), p. 21-33. mão de sua patente, e permanecem sob a jurisdição do Código Uniforme de
4. A discussão mais detalhada dessa questão consta de DESCH, Michael C. Justiça Militar. Apesar disso, porém, não foi possível localizar precedente algum
“Bush and the Generals”, Foreign Affairs, 86 (May/June 2007) e dos artigos que para disciplinar ou indiciar um oficial na Reserva que tenha criticado políticos,
criticam o trabalho de Desch em “Salute and Disobey?”, na edição de Set-Out as políticas ou as práticas de um modo que seria claramente inaceitável caso
2007 da revista Foreign Affairs, que inclui artigos separados de Richard B. Myers ainda estivessem na Ativa. Além disso, seria muito difícil acionar um individuo
e Richard Kohn (que rejeitam a maioria das alegações de Desch, como sendo específico sem aparentar uma aplicação seletiva da lei, dada o predomínio de
exageradas), Mackubin Thomas Owens (que afirma que houve conivência dos oficiais na Reserva que servem como “consultores da mídia” nas emissoras de
militares com a maioria dos pressupostos falhos do planejamento de campanha do noticiários de 24 horas e, o que talvez seja mais preocupante, que utilizam sua
Iraque) e Lawrence Korb (que defende que o principal problema foi a tendência condição de oficiais na Reserva para endossar candidatos políticos.
do governo Bush de empregar os militares como um acessório de palco para suas 13. Por outro lado, pode-se realmente questionar a sabedoria dos oficiais
políticas, criticando especificamente o General David Petraeus por ter publicado que usam de seu prestígio militar para se manifestar em prol de um lado ou
um artigo opinativo no jornal The Washington Post, no qual apoiava as políticas outro da linha divisória política em relação a assuntos sobre os quais eles não
do Presidente Bush no Iraque, às vésperas das eleições de 2004). Korb e Desch têm perícia alguma. Snider, em um discurso não publicado à Academia Militar
estão certos ao afirmar que a questão mais fundamental é o fato de os militares dos EUA em West Point, tece os seguintes comentários: “A menos que as forças
terem sido manipulados de modo que “apoiar as tropas” pareceu significar, durante singulares possam policiar seus integrantes da Reserva por meio da persuasão
grande parte daquela época, “não criticar a política”. É difícil saber como controlar moral, é provável que o risco dessa crescente deterioração das normas entre civis
isso, quando o Comandante-em-Chefe solicita um “pano de fundo” composto por e militares (Forças Militares não partidárias) seja corrigido, em algum momento,
militares, discurso após discurso. por uma legislação que não será bem recebida pelos militares, nem pelos que
5. Vale notar que o General Myers e Richard Kohn, em sua crítica ao artigo estão na Reserva, nem pelos que estão na Ativa.
de Desch na revista Foreign Affairs, negam veementemente essa alegação. No 14. SNIDER, Don. Mensagem de e-mail para o autor.
máximo, eles asseveram: “...o comandante do Comando Unificado muitas vezes 15. Ibid.
achou que era de mau gosto os questionamentos dos planejamentos pelo Secretário 16. SWAIN, p. 19.
de Defesa Donald Rumsfeld e pelo Chefe da Junta de Chefes de Estado-Maior 17. Citação em CLIFFORD III, George M. “Duty at All Costs”, Naval War
dos EUA. Contudo, no fim, todos os envolvidos apoiaram o planejamento final College Review, p. 60 (Winter 2007), p. 103.
independentemente das divergências vistas ao longo do caminho”. “The Military’s 18. Ibid., p. 106.
Place”, Foreign Affairs, 86 (September/October 2007), p. 147. 19. Vale ressaltar que a categoria ilegal é “fácil” apenas teoricamente. Na
6. ULRICH, Marybeth; COOK, Martin L. “US Civil Military Relations prática, as Forças fazem um trabalho medíocre ao prepararem seus oficiais e praças
Since 9/11: Issues in Ethics and Policy Development”, The Journal of Military para reconhecer ordens ilegais, e menos ainda para criar estruturas para estimular
Ethics (em via de publicação). a desobediência, nesses casos. O livro de Mark Osiel, Obeying Orders: Atrocity,
7.MCMASTER, H. R. Dereliction of Duty: Lyndon Johnson, Robert Military Discipline, and the Law of War (New Brunswick, N.J.: Transaction
McNamara, the Joint Chiefs of Staff, and the Lies that Led to Vietnam (New Publishers, 1999) é uma excelente tentativa de descrever formas pelas quais seria
York: Harper Collins, 1997). possível melhorar isso consideravelmente, ao mesmo tempo em que se mantém
8. “Gen. Anthony Zinni, USMC, (Ret.) Remarks at CDI Board of Directors o devido respeito às necessidades da boa ordem e da disciplina.
Dinner, May 12, 2004”, Center for Defense Information, 22 mai. 2004, 20. CLIFFORD, p. 108.
disponível em: http://www.cdi.org/program/document.cfm?DocumentID=2208. É 21. Ibid.
surpreendente como o livro de McMaster se tornou central a todos os lados desse 22. Um exemplo perfeito da complexidade desse problema, na prática,
debate. Owens, em particular, atribui grande parte da culpa pela atual confusão ocorreu em setembro de 2007, quando, durante o depoimento do Gen Petraeus
nas relações entre civis e militares ao que ele considera ser uma interpretação perante o Comitê do Senado sobre as Forças Armadas, o Senador John Warner
equivocada do livro, que leva, segundo ele alega, “à crença disseminada de que lhe perguntou se a invasão do Iraque havia tornado os EUA um país mais seguro.
os oficiais devem ser defensores de políticas específicas, em vez de simplesmente A resposta cuidadosa do Gen Petraeus se restringiu à melhor forma pela qual se
atuar em seu papel de assessoria tradicional.” “Failure’s Many Fathers”, Foreign poderia enfrentar o problema imediatamente à sua frente, ao tentar administrar
Affairs, 86 (September/October 2007), p. 150. a situação no Iraque. Ele claramente fugiu à questão que o Senador Warner lhe
9. SPIEGEL, Peter; RICHTER, Paul. “Anti-Rumsfeld Chorus Grows”, The fez: se as justificativas estratégicas para ir à guerra no Iraque eram válidas em
Los Angeles Times, 13 abr. 2006. primeiro lugar. A meu ver, ele agiu corretamente, uma vez que a pergunta suscitava
10. Entre esses oficiais estavam o Gen Bda Charles Swannack, que havia sido uma avaliação retrospectiva sobre decisões feitas anos antes de ele ser incumbido
transferido recentemente para a Reserva, deixando o comando da 82ª Divisão da responsabilidade. É uma questão interessante se, ao enfrentar uma pergunta
Aeroterrestre; o Gen Bda John Batiste, ex-comandante da 1ª Divisão de Infantaria do Congresso semelhante a essa, às vésperas de uma operação militar, estaria
no Iraque e antigo assessor do então Subsecretário de Defesa Paul Wolfowitz na dentro do âmbito da competência profissional de um Comandante Combatente
mobilização de meios para as operações; o ex-General e ex-Secretário de Estado Regional oferecer uma avaliação estratégica sobre a prudência do engajamento
Colin Powell; o Gen Div Greg Newbold, Diretor de Operações do Estado-Maior militar iminente considerado pelo governo. Na opinião do autor, sim, estaria.
Conjunto, que foi transferido prematuramente para a Reserva, em grande parte, 23. MYERS; KOHN, p. 147.
por causa da sua oposição à guerra; e o Gen Bda Paul Eaton, encarregado do 24. INTERNATIONAL COMMITTEE OF THE RED CROSS, “Principles
treinamento da nova força militar iraquiana. Além disso, o antigo Comandante of International Law Recognized in the Charter of the Nüremberg Trial and in
do Comando Central, Gen Anthony Zinni, tem sido um duro crítico da guerra the Judgment of the Tribunal, 1950”, disponível em: <http://www.icrc.org/ihl.
desde o início, de mesma forma que o Gen Div William Odom, antigo Chefe da nsf/FULL/390?OpenDocument>.
Agência de Segurança Nacional; e o ex-Comandante do Comando Central, Gen 25. CLIFFORD, p. 120.
Joseph Hoare. Vários oficiais-generais na Reserva clamaram especificamente pelo 26. Ibid., p. 124.
pedido de demissão do Secretário de Defesa Rumsfeld. JAFFE, Greg. 27. COOK, Martin L., “The Moral Role of Professional Military Advice”,
“The Two Star Rebel”, The Wall Street Journal, 13 maio 2006, A1. in The Moral Warrior: Ethics and Service in the U.S. Military (Albany: SUNY
11. Obviamente, como todos os oficiais em questão estão na Reserva, Press, 2004).
tecnicamente eles não se insubordinaram, porque já não fazem parte de uma cadeia 28. Tarasoff v. Regents of the University of California, 17 Cal. 3d 425 (1976).
Militar
Major Blair S. Williams, Exército dos EUA
O autor agradece aos Coronéis (da Reserva) “regras práticas”) com base nas quais eles tomam
Christopher Paparone e Doug Williams e aos decisões e que compreendam como elas podem
Majores Rob Meine e Mike Shekleton por gerar vieses. O caráter institucional do processo
terem revisado este artigo e oferecido valiosas decisório militar (MDMP, na sigla em inglês),
sugestões. a nossa cultura organizacional e os nossos
processos mentais individuais ao tomarmos
Se considerarmos, por um momento, o caráter decisões moldam essas heurísticas e os vieses
subjetivo da guerra — o meio pelo qual a guerra que as acompanham.
precisa ser travada — ela, mais do que nunca, A teoria da “reflexão-na-ação” e as suas
parecerá uma aposta... Logo de início, há uma implicações para a tomada de decisões talvez
interação entre possibilidades, probabilidades, gerem incômodo entre muitos profissionais
sorte e azar, que tudo permeia. De toda a gama de militares. Nossa doutrina consagrada para a
atividades humanas, a guerra mais se assemelha tomada de decisões é o MDMP. O processo
a um jogo de cartas. pressupõe a racionalidade objetiva e se baseia
—–Clausewitz, Da Guerra1. em um modelo linear e organizado em etapas,
que gera uma linha de ação específica, sendo
A DESCRIÇÃO METAFÓRICA DE
Carl von Clausewitz sobre a condição
da guerra é tão precisa hoje em dia
quanto na época em que foi redigida, no início
útil para a análise de problemas que exibam
estabilidade e sejam sustentados por premissas
de “racionalidade técnica”5. Para o Exército,
o MDMP é a abordagem consagrada para
do século XIX. O Exército enfrenta um ambiente a resolução de problemas e a tomada de
operacional caracterizado pela volatilidade, decisões. Esse modelo impassível é cômodo,
incerteza, complexidade e ambiguidade 2. Os porque o conhecemos bem. No entanto, o que
profissionais militares se esforçam para entender fazer quando o inimigo não corresponde aos
esse cenário paradoxal e caótico. O sucesso nossos pressupostos embutidos no processo?
nesse ambiente requer um estilo de tomada de Descobrimos logo no começo, no Iraque, que
decisão emergente, no qual os profissionais nossos adversários não lutavam da forma que
estejam dispostos a adotar o improviso e a esperávamos. Em consequência, sofremos
reflexão3. A teoria da reflexão-na-ação requer um tremendo mal-estar organizacional ao
que os profissionais questionem a estrutura dos buscarmos respostas para a insurgência naquele
pressupostos dentro de seus conhecimentos país. Estávamos presos em uma caverna mental
profissionais militares4. Para que os comandantes criada por nós mesmos e éramos incapazes de
e os oficiais de estado-maior se disponham a escapar das nossas ideias preconcebidas sobre
tentar novas abordagens e a realizar experimentos as operações militares e a tomada de decisões6.
em reação a situações-surpresa, é preciso que Felizmente, alguns começaram a enxergar
analisem de forma crítica as heurísticas (ou as deficiências do processo decisório militar
O Major Blair S. Williams, do Exército dos EUA, é planejador Serviu em várias funções de comando e estado-maior,
das forças conjuntas do Comando Estratégico dos EUA. incluindo missões no Iraque e no Afeganistão, assim como no
É bacharel pela Academia Militar dos EUA, mestre pela posto de professor adjunto de Economia no Departamento de
University of Missouri e doutor pela Harvard University. Ciências Sociais da Academia Militar dos EUA.
tradicional. Ele é inadequado para a análise de nos expõe a vieses cognitivos e, por isso, é
problemas que demonstrem alta volatilidade, importante que se faça uma série de perguntas11.
incerteza, complexidade e ambiguidade. A Que heurísticas utilizamos para reduzir a alta
resposta nascente do Exército, denominada volatilidade, a incerteza, a complexidade e a
Design, parece promissora. Segundo descrito ambiguidade e como elas introduzem vieses
na nova versão do Manual de Campanha 5-0 — inerentes no nosso processo decisório? Como
Processo de Operações (FM 5-0 — Operations esses vieses afetam nossas análises probabilísticas
Process), Design é “uma metodologia para de eventos futuros? Uma vez conscientes dos
a aplicação do pensamento crítico e criativo perigos advindos dessas ferramentas heurísticas,
para entender, visualizar e descrever problemas como melhoramos nossas decisões? Este artigo
complexos e mal estruturados e desenvolver explora essas questões e suas implicações para o
abordagens para resolvê-los”7. Em vez de um futuro do processo decisório militar.
processo universal para resolver todos os tipos
de problemas (MDMP), a abordagem de Design Economia Comportamental
reconhece que os comandantes militares devem A análise de heurísticas e vieses começou com o
primeiro entender a situação e reconhecer que trabalho pioneiro de Daniel Kahneman, ganhador
toda solução será única8. Nessa abordagem, a do prêmio Nobel, e do Professor Amos Tversky.
tarefa mais importante é formular um problema Insatisfeitos com as discrepâncias da Economia
e, então, reformulá-lo quando as condições Clássica em explicar o processo decisório humano,
mudarem9. Kahneman e Tversky desenvolveram os princípios
Essa formulação inclui o improviso e a iniciais de uma disciplina hoje amplamente
experimentação imediata, especialmente ao conhecida como Economia Comportamental12.
enfrentarmos restrições de tempo e espaço Ao contrário dos modelos tradicionais existentes
em nosso ambiente operacional. O Capítulo 6 (como a teoria da utilidade esperada), que
do Manual de Campanha 6-0 — Comando de buscavam descrever o comportamento humano
Missão (FM 6-0 — Mission Command) afirma: como a maximização racional de decisões
“Os métodos para tomar decisões de ajuste se baseadas na relação “custo-benefício”, Kahneman
encaixam em uma sequência que vai do analítico e Tversky ofereceram um marco simples para
ao intuitivo... À medida que fatores subjacentes o comportamento humano observado, baseado
em escolhas em situações de incerteza, risco e
ambiguidade. Propuseram que, ao serem expostos
Ao longo do processo a várias entradas sensoriais, os seres humanos
reduzem a complexidade mediante o uso de
decisório intuitivo, utilizamos heurísticas. No decorrer desses processos mentais
heurísticas mentais para de simplificação do que seria uma quantidade
avassaladora de informações, nós constantemente
reduzir a complexidade introduzimos um viés cognitivo. Ele advém dos
erros inconscientes gerados por nossos métodos de
rapidamente. O emprego simplificação mental. Vale notar que o uso de uma
dessas heurísticas nos expõe heurística nem sempre gera um viés. Ficamos apenas
mais propensos a incorrer em erro. Além disso, esse
a vieses cognitivos... viés não é cultural nem ideológico, ambos os quais
são processos semiconscientes13. Os fenômenos
identificados por Kahneman e Tversky resistiram
levam o método para o extremo intuitivo, a inúmeros testes experimentais e em condições
atinge-se um ponto em que a metodologia [de reais. São considerados fortes, consistentes e
planejamento] deixa de ser aplicável” 10. Ao previsíveis14. Neste artigo, analisaremos três
longo do processo decisório intuitivo, utilizamos heurísticas importantes para o processo decisório
heurísticas mentais para reduzir a complexidade militar: disponibilidade, representatividade e
rapidamente. O emprego dessas heurísticas ancoragem15.
análise de ambos porque a probabilidade real falsa premissa de que o risco sistêmico para o
de futuros ataques não está ligada à experiência mercado imobiliário nacional era minúsculo
pessoal de nenhum dos dois17. contribuíram para a criação de um evento “cisne
Da mesma forma, a fixação constante em negro”22. Taleb escreveu o trecho a seguir antes
um evento ou em uma série de eventos prévios do colapso do mercado de títulos garantidos por
também pode aumentar a disponibilidade18. Os ativos (um elemento importante da atual recessão
oficiais da Marinha provavelmente sofreram um econômica):
aumento temporário em sua análise subjetiva A globalização gera uma fragilidade
do risco de colisão depois dos amplamente interligada, ao mesmo tempo em que
divulgados relatórios sobre a colisão entre o USS reduz a volatilidade e dá a aparência de
Hartford e o USS New Orleans19. A probabilidade estabilidade. Em outras palavras, cria
real de ocorrer um acidente desse tipo não é maior “cisnes negros” devastadores. Nunca,
do que antes, mas os esforços organizacionais antes, vivemos sob a ameaça de um colapso
para evitar ocorrências desse tipo aumentaram em mundial. As instituições financeiras vêm se
função da impressão subjetiva de que as colisões fundindo em um número menor de bancos
passaram a ser, de alguma forma, mais prováveis. enormes. Quase todos os bancos estão inter
Pessoas expostas ao resultado de um evento relacionados. Assim, a ecologia financeira
probabilístico apresentam uma probabilidade se configura por bancos gigantescos e
pós-evento subjetiva bem mais elevada do intimamente ligados — quando um quebra,
que as que não foram. Esse é denominado viés todos quebram. A maior concentração
retrospectivo. que ocorre entre os bancos parece ter o
Ao conjugar o viés retrospectivo com vieses efeito de reduzir a probabilidade de crises
de recuperabilidade, podemos ficar vulneráveis financeiras, mas quando elas acontecem,
a um evento conhecido eufemisticamente como têm escala mundial e impacto mais severo23.
“cisne negro”. Nassim Taleb descreve os cisnes Dada a possibilidade de ocorrerem “cisnes
negros como fatos históricos que surpreenderam negros”, devemos questionar constantemente
a humanidade porque eram considerados nossas memórias disponíveis diante de novas
inexistentes ou extremamente raros. Presumimos situações. Essas memórias estão nos desviando
que todos os cisnes sejam brancos: é como eles do caminho? Elas estão tornando nossas decisões
aparecem na nossa memória disponível20. Por mais ou menos arriscadas? Os nossos inimigos
exemplo, em retrospecto, os atentados de 11 de estão explorando esse fenômeno? Os planejadores
Setembro de 2001 são totalmente concebíveis. militares assim fizeram no passado, buscando a
Por isso, responsabilizamos os vários órgãos vantagem da surpresa.
de Inteligência do governo dos EUA por algo Por exemplo, os britânicos foram mestres em
que sequer era considerado plausível antes do explorar os vieses de recuperabilidade durante
evento. Além disso, os desastres disponíveis a Segunda Guerra Mundial. Empregaram o
mentalmente estabelecem um limite superior em plano COLLECT no norte da África em 1941,
nossa percepção de risco. Muitas das medidas para ofuscar o momento exato da ofensiva do
preventivas de segurança interna se baseiam General Auchinleck (Operação Crusader) contra
em impedir a ocorrência de outro ataque como as Forças de Rommel na Líbia24. Utilizando
os de 11 de Setembro, quando, na verdade, o meios oficiais, oficiosos e simulados, os
próximo atentado pode acontecer em um contexto britânicos indicaram, repetidas vezes, as datas
completamente diferente, que não podemos específicas para o início da operação e, em
imaginar (porque nossas buscas de experiências seguida, cancelaram essas ordens por motivos
passadas são limitadas)21. plausíveis. Essas razões artificiais incluíam
A disponibilidade exerceu um papel na atual a inviabilidade de deslocar rapidamente as
crise financeira mundial. Nossas memórias forças na Síria para que participassem da
coletivas continham duas décadas de condições operação e a impossibilidade de os navios que
de mercado estáveis. A incapacidade de conceber transportavam o apoio logístico chegarem ao
um período de grande retração econômica e a Egito. Os planejadores queriam que Rommel
Dois militares patrulham em busca de um caché de armas nas proximidades do posto avançado de combate de Sangar, na
Província de Zabul, Afeganistão, 27 Jun 10.
Representatividade
A representatividade é a heurística que as
A exposição a experiências pessoas utilizam para analisar a probabilidade de
marcantes no passado gera que um evento, uma pessoa ou um objeto se encaixe
em categorias mais amplas. Para rapidamente
estereótipos difíceis de classificar uma nova ocorrência, nós a analisamos
mentalmente em relação a características de um
desfazer conscientemente. “agrupamento” mais amplo de acontecimentos
anteriores. Se concluirmos que ela “representa”
De fato, podemos nos os traços dessa categoria, nós a colocamos ali,
tornar vítimas do viés de mentalmente. Essa heurística é uma parte normal
do processamento mental, mas também é propensa
confirmação, pelo qual ao erro. A representatividade leva a cinco vieses
potenciais: insensibilidade à probabilidade de
buscamos apenas as resultados anteriores, insensibilidade aos índices
informações que validam a básicos, insensibilidade ao tamanho da amostra,
interpretação errada da chance e interpretação
ligação entre os dois eventos. errada da regressão à média.
Insensibilidade à probabilidade de
resultados anteriores. Considere a seguinte
De fato, podemos nos tornar vítimas do viés de descrição de um oficial subalterno do Exército:
confirmação, pelo qual buscamos apenas as Ele é prudente e atento a detalhes.
informações que validam a ligação entre os Ele segue regras cuidadosamente e é
dois eventos. Talvez ignoremos e descartemos bastante econômico. Ele se veste de forma
dados importantes que possam enfraquecer conservadora e dirige um Ford Focus.
F. Kennedy.
É sempre importante entender o tamanho das
populações que estão sendo comparadas antes
de se tomar uma decisão. Os estereótipos muitas O Presidente John F. Kennedy faz um discurso para a Brigada
vezes surgem inconscientemente e, por isso, é 2506 de Invasão de Cuba, 29 Dez 62, Miami, Flórida.
importante permanecer alerta contra seus efeitos
potencialmente enganadores. A maioria dos cadetes respondeu que estaria
Insensibilidade aos índices básicos. Consi entre 50% e 75% 37. Essa estimativa é alta
dere o seguinte problema apresentado aos cadetes demais. A verdadeira probabilidade é de 25%38.
da Academia Militar dos EUA, em West Point: A probabilidade de detecção de 75%, alcançada
Durante uma patrulha, você observa que há pelo pelotão no treinamento, fornece informações
um homem perto de um monte de lixo à beira individualizadas que estão disponíveis. As
de uma via principal. Em ataques recentes informações individualizadas permitem
com dispositivos explosivos improvisados, na que o tenente acredite que ele se distingue
área, o método mais utilizado para ocultar o individualmente de seus pares graças à sua alta
dispositivo foi escondê-lo no lixo acumulado pontuação no treinamento. Essas informações
na rua (não há, com efeito, coleta de lixo podem levar o tenente a ordenar sua base de dados
regular, devido aos ataques de insurgentes mental com referência no grau de importância por
contra todo e qualquer funcionário público, ele percebido. O alto índice de acerto durante
incluindo os agentes de saneamento). Você o treinamento pode levar a um excesso de
ordena imediatamente que um de seus coman confiança na capacidade real e à insensibilidade
dantes de grupo de combate o apreenda. Com ao índice básico, que indica serem apenas 10%
base nos relatórios do S/2, sabe-se que 90% os verdadeiros insurgentes entre a população. O
da população é composta por civis inocentes e resultado é que é bem mais provável que o tenente
10%, por insurgentes. O S/3 forneceu, recen confunda um civil inocente com um insurgente39.
temente, informações sobre o treinamento em Fora da mente (e do ego) do tenente, o índice
operações de detenção — em 75% das vezes, básico tem, na verdade, um impacto muito maior
o seu pelotão enquadrou a população corre na probabilidade de que o homem detido seja um
tamente em um desses dois tipos, e errou em civil inocente, e não um insurgente40.
somente 25% das vezes. Você rapidamente Insensibilidade ao tamanho da amostra.
interroga o homem. Ele alega ser inocente, Considere o seguinte problema, no Afeganistão:
mas age de forma suspeita. Não há explosivo Suspeita-se da existência de duas rotas
algum no monte de lixo. Qual é a probabili principais de tráfico de drogas ao longo
dade de que você detenha o homem e venha da fronteira entre esse país e o Paquistão.
a descobrir que ele é, de fato, um insurgente Uma pequena aldeia se situa ao longo da
e não um civil? primeira rota suspeita, enquanto uma aldeia
O canhão sem-linha-de-visada autopropulsado XM1203 era um canhão móvel de 155 mm destinado a fornecer melhor
reação e letalidade ao comandante da Unidade de Ação, como parte do projeto de Sistemas de Combate do Futuro do
Exército dos EUA, Yuma, Arizona, 2009.
Resumindo, os alemães ficaram “ancorados”, pode ser que constatemos que a probabilidade
fizeram ajustes insuficientes e tinham intervalos de falha de estágios ou componentes essenciais
de confiança estreitos demais. individuais seja bastante pequena. Contudo,
Vieses na avaliação de eventos conjuntivos à medida que a complexidade e o número de
e disjuntivos. O viés de ancoragem surge em componentes essenciais crescem, constatamos,
nossas avaliações de eventos conjuntivos e matematicamente, que a probabilidade de falha
disjuntivos. Um evento conjuntivo é composto do evento (ou sistema) também aumenta. Aqui,
de uma série de etapas, em que é preciso que também, notamos que as pessoas “ancoram” suas
haja êxito na etapa anterior para que a seguinte avaliações incorretamente. Nesse caso, elas se
possa começar. Embora cada fase individual ancoram nas baixas probabilidades de falha dos
tenha uma alta probabilidade de sucesso, a estágios iniciais. Em consequência, as pessoas
probabilidade de sucesso total do evento pode frequentemente subestimam a probabilidade de
ser baixa em função do grande número de etapas falha do evento. A superestimação do êxito no
que o integram. Infelizmente, os pesquisadores caso de um evento conjuntivo e a subestimação
demonstraram que muitas pessoas não pensam da falha no caso de um evento disjuntivo têm
em termos da probabilidade total do evento (ou implicações para o processo decisório militar.
sistema). Ao contrário, elas ficam ancoradas Por exemplo, os planejadores militares em
nas probabilidades da etapa inicial, deixando de 2002 e 2003 podem ter ser tornado vítimas do viés
ajustar sua análise probabilística. Isso as leva a de eventos conjuntivos durante o planejamento
exagerar a probabilidade de êxito para um evento estratégico para a invasão do Iraque. Para obter
conjuntivo. o êxito no Iraque, era preciso cumprir uma série
Um evento disjuntivo ocorre na análise de de objetivos militares, incluindo:
risco. Quando examinamos sistemas complexos, ●●Eliminar o regime de Saddam Hussein.
REFERÊNCIAS
1. CLAUSEWITZ, Carl von. On War, trad. e ed. Michael Howard e Peter de perceber a verdadeira natureza do mundo por estarem acorrentadas dentro de
Paret (Princeton University Press, 1976), p. 85-86. uma caverna de sua própria criação. Consulte MORGAN, Gareth. “Exploring
2. Os termos específicos “volatilidade, incerteza, complexidade e Plato’s Cave: Organizations as Psychic Prisons”, in Images of Organization
ambiguidade” (volatility, uncertainty, complexity, and ambiguity — VUCA) (Sage, 2006).
ganharam preferência nos currículos das escolas militares para oficiais superiores. 7. Field Manual (FM) 5-0 (Washington, DC: U.S. Government Printing
Para uma história de sua evolução pedagógica, consulte STIEHM, Judith. The Office [GPO]), p. 3-1.
U.S Army War College: Military Education in a Democracy (Temple University 8. Em essência, Design requer uma mente aberta que analise problemas
Press, 2002). por diversos prismas. Não é um processo de engenharia de sistemas com uma
3. Esses conceitos foram criados por Herbert Simon, ganhador do prêmio sequência de etapas semelhante à do MDMP. Requer uma análise intelectual
Nobel, e Charles Lindblom. O conceito de “satisficiência” de Simon e o de mais ampla de um problema. Infelizmente, ensinar muitos em nossa profissão
“muddling through” (“atravessando um lamaçal”) de Lindblom desafiaram a a examinar problemas dessa forma provavelmente enfrentará a resistência
visão técnica-racional reinante (ainda predominante na comunidade de pesquisa institucional. A nossa cultura valoriza os que agem, não os que pensam.
em operações) de que podem ser encontradas soluções de eficiência máxima Executamos de forma decidida, em vez de ponderarmos com cuidado. Os
para problemas inerentemente sociais. Consulte LINDBLOM, Charles E. “The mementos do processo são fáceis de utilizar e requerem pouca reflexão em um
Science of “Muddling Through”, Public Administration Review 19 (1959): ambiente com restrições de tempo. A compreensão e o emprego de Design talvez
p. 79-88, e SIMON, Herbert A. Administrative Behavior, 4th Ed. (Simon and requeiram mais oficiais com formação em Artes Liberais do que em Engenharia.
Schuster, 1997). Teóricos posteriores os aplicaram a empresas (WEICK, Karl E. A adoção de uma metodologia de Design para enfrentar ambientes voláteis,
“Improvisation as a Mindset for Organizational Analysis”, Organization Science incertos, complexos e ambíguos talvez exija a reformulação completa dos
9, no. 5 [1998]: p. 543-55) e a códigos de conhecimento profissional (SCHÖN, currículos obrigatórios da Academia Militar dos EUA em West Point, da Escola
Donald A. Educating the Reflective Practitioner [Jossey-Bass, 1987]). Há uma de Comando e Estado Maior dos EUA e da Escola de Guerra do Exército. Esse
série de trabalhos recentes que aplicam esses conceitos às forças militares: tema é extremamente polêmico (e provocador). 9. Para obter mais informações
SNIDER, Don M.; WATKINS, Gayle L. The Future of the Army Profession, 2nd sobre os efeitos de formulação, consulte GOFFMAN, Erving. Frame Analysis
Ed. (McGraw-Hill, 2005) e PAPARONE, Christopher R.; REED, George. “The (Cambridge: Harvard University Press, 1974).
Reflective Military Practitioner: How Military Professionals Think in Action”, 10. FM 6-0 (Washington, DC: GPO), p. 6-116.
Military Review 88, no. 2 (2008): p. 66-77. 11. Estamos analisando as heurísticas individuais identificadas na Economia
4. Donald A. Schön afirma que se “refletirmos de forma crítica sobre a forma Comportamental, e não as heurísticas sociais (como uma cultura avalia uma
de pensar que nos colocou nessa situação difícil ou nessa oportunidade... podemos situação). O efeito de influências sociais na tomada de decisões é um tema que
reestruturar estratégias de ação, entendimentos de fenômenos e modos de formular está fora do escopo deste trabalho. Contudo, uma fusão de influências individuais
problemas”. Educating the Reflective Practitioner (Jossey-Bass, 1987), p. 28. e sociais é proposta em GRANOVETTER, Mark. “Economic Action and Social
5. A “racionalidade técnica” é a epistemologia positiva que estruturou, em Structure: The Problem of Embeddedness”, The American Journal of Sociology
grande parte, nossa atual visão sobre o conhecimento. Segundo ela, é possível 91, no. 3 (1985), p. 481-510.
reduzir os elementos de um sistema complexo, analisá-los individualmente e, em 12. Consulte KAHNEMAN, Daniel; TVERSKY, Amos. “Judgment
seguida, reconstruí-los, em uma compreensão holística do sistema. A causalidade under Uncertainty: Heuristics and Biases”, Science 185 (1974), p. 1124-31;
simultânea e a endogeneidade dificultam muito esse tipo de análise quando se KAHNEMAN, Daniel; TVERSKY, Amos. “Prospect Theory: An Analysis of
analisam situações sociais. Decision under Risk”, Econometrica 47, no. 2 (1979), p. 263-92; e Choice,
6. Platão utiliza essa metáfora para descrever um grupo de pessoas incapazes Values, and Frames, ed. KAHNEMAN, Daniel; TVERSKY, Amos (New York:
Cambridge University Press, 2000). 33. Consulte CHAPMAN, Loren J.; CHAPMAN, Jean P. “Genesis of popular
13. Esses pressupostos não são essenciais para esta análise de heurísticas but erroneous psychodiagnostic observations”, Journal of Abnormal Psychology
inconscientes na tomada de decisões. De uma perspectiva sociológica, podemos 72 (1967): p. 193-204; CHAPMAN, Loren J.; CHAPMAN, Jean P. “Illusory
ser menos rigorosos quanto a esses pressupostos e analisar a complexa interação correlation as an obstacle to the use of valid psychodiagnostic”, Journal of
das influências organizacionais inconscientes na tomada de decisões. Esse seria Abnormal Psychology 74 (1969); JENNINGS, Dennis L.; AMABILE, Teresa
um tema interessante para futuras pesquisas. M.; ROSS, Lee. “Informal covariation assessment: Data-based versus theory-
14. Apesar dos testes experimentais e no mundo real, a economia based judgments”, in Judgment under Uncertainty: Heuristics and Biases, ed.
comportamental tem seus críticos. Para obter mais informações, consulte KAHNEMAN, Daniel; TVERSKY, Amos (Cambridge, 1982).
MYAGKOV, Mikhail; PLOTT, Charles R. “Exchange Economies and Loss 34. HEUER, Richard J. Psychology of Intelligence Analysis (Center for the
Exposure: Experiments Exploring Prospect Theory and Competitive Equilibria Study of Intelligence, 1999), p. 144-45.
in Market Economics”, American Economic Review 87, no 5 (1997): p. 801-28. 35. JANIS, Irving L. Groupthink: Psychological Studies of Policy Decisions
15. Essas heurísticas e seus respectivos vieses são apresentados em Judgment and Fiascoes, 2d ed. (Boston, MA: Houghton Mifflin, 1982). Meu agradecimento
under Uncertainty: Heuristics and Biases, ed. KAHNEMAN, Daniel; TVERSKY, ao Major Robert Meine, do Exército dos EUA, por suas observações sobre este
Amos (New York: Cambridge University Press, 1982), p. 1-20. artigo. Ele observou que o Exército é particularmente vulnerável aos efeitos
16. O professor Christopher Paparone sugere que é possível designar essas do pensamento grupal, em função da nossa estrutura hierárquica, deferência à
referências como uma busca de metáforas. Para obter mais informações, consulte autoridade e estrutura organizacional.
PAPARONE, Christopher R. “On Metaphors We Are Led By”, Military Review 36. HEUER, Cap. 8. Os militares denominaram esse processo “red teaming”.
88, no 6 (2008): p. 55-64. 37. Esse problema foi uma variação do famoso experimento do táxi, de
17. A menos que se esteja disposto a acreditar na visão supersticiosa de um Kahneman e Tversky, em Judgment under Uncertainty: Heuristics and Biases,
determinado soldado ter o azar de atrair os tiros do inimigo para si. ed. KAHNEMAN, Daniel; TVERSKY, Amos (New York, Cambridge University
18. Kahneman e Tversky escrevem: “A preocupação contínua com o resultado Press, 1982), p. 156-57. É semelhante ao questionário que eu aplicava em meu
pode aumentar sua disponibilidade e, assim, sua probabilidade percebida. As curso sobre Teoria dos Jogos na Academia Militar em West Point.
pessoas se concentram em resultados extremamente desejáveis, como ganhar 38. Matematicamente, esse problema pode ser resolvido por meio da
na loteria, ou em resultados extremamente indesejáveis, como um acidente de inferência bayesiana.
avião. Em consequência, a disponibilidade fornece um mecanismo pelo qual as 39. Alguns talvez achem que o tenente deveria pecar pelo excesso de zelo:
ocorrências de extrema utilidade (ou desutilidade) possam parecer mais prováveis presumir que o homem fosse um insurgente até que se provasse o contrário. Isso
do que realmente são”. Judgment under Uncertainty: Heuristics and Biases, ed. pode salvar a vida de soldados. Contudo, no contexto mais amplo, essa abordagem
KAHNEMAN, Daniel; TVERSKY, Amos (New York: Cambridge University aumentará o apoio do homem inocente (e o de sua família) ao insurgente, sem
Press, 1982), p. 178. dúvida. De fato, ele e seus familiares podem começar a apoiar ativamente a
19. CF, U.S. 5th Fleet, Relações Públicas, “USS Hartford and USS New insurgência ou aderir a ela.
Orleans Arrive in Port Bahrain”, 21 Mar 2009, número de relato: NNS090321 40. Para obter mais informações, consulte BAR-HILLEL, Maya. “The base-
03, disponível em: <http://www.navy.mil/search/display.asp?story_id=43630>. rate fallacy in probability judgments”, Acta Psychologica 44 (1980): p. 211-33;
20. Consulte TALEB, Nassim N. The Black Swan: The Impact of the Highly BAR-HILLEL, Maya. “Studies of Representativeness”, in Judgment under
Improbable (Random House, 2007). uncertainty: Heuristics and biases, ed. KAHNEMAN, Daniel; SLOVIC, Paul;
21. Vemos esse mesmo tipo de fenômeno na venda de apólices de seguro. As TVERSKY, Amos (New York: Cambridge, 1982); e KAHNEMAN; TVERSKY.
pessoas utilizam o último acidente ou desastre como um limite superior para o que “Evidential impact of base rates” in Judgment under Uncertainty: Heuristics
será possível no futuro; portanto, só compram cobertura suficiente para esse nível. and Biases, ed. KAHNEMAN, Daniel; SLOVIC, Paul; TVERSKY, Amos (New
22. A premissa foi de que todas as oscilações do mercado imobiliário seriam York: Cambridge, 1982).
locais. No âmbito nacional (ou sistêmico), os mercados locais nunca entrariam 41. Consulte o exemplo do hospital em KAHNEMAN, Daniel; TVERSKY,
em queda ao mesmo tempo. Na verdade, foi isso que aconteceu. Amos. “Subjective probability: A judgment of representativeness”, Cognitive
23. TALEB, Nassim N., disponível em: <http://www.fooledbyrandomness. Psychology 3 (1972): p. 430-54.
com/imbeciles.htm>. 42. Consulte o exemplo da moeda em KAHNEMAN, Daniel; TVERSKY,
24. Consulte HOLT, Thaddeus. The Deceivers: Allied Military Deception in Amos. “Subjective probability: A judgment of representativeness”, Cognitive
the Second World War (New York: Scribner, 2004), p. 39-40. Psychology 3 (1972): p. 430-54.
25. É preciso ter cuidado ao utilizar exemplos históricos. O estudo da 43. 0,5*0,5*0,5*0,5*0,5*0,5 = 0,015625 ou 1,56%.
história militar potencialmente nos expõe a vieses relacionados à disponibilidade. 44. Meu agradecimento ao Major Nick Ayers, do Exército dos EUA, pela sua
Fazemos esse tipo de leitura justamente para aprender o que funcionou ou não no explicação sobre o treinamento em técnica de tiro de carro de combate.
passado, mas essa fonte de conhecimentos profissionais pode nos atrelar a linhas 45. Judgment under Uncertainty: Heuristics and Biases, ed. KAHNEMAN,
de ação específicas. Se aplicarmos lições do passado que sejam inadequadas aos Daniel; TVERSKY, Amos (New York: Cambridge University Press, 1982), p. 10.
problemas atuais, podemos plantar sementes para o desastre. A história militar é 46. Para obter uma descrição completa, consulte Holt, p. 31-32
útil como base para a compreensão do problema, mas precisamos ter o cuidado 47. Consulte <http://www.globalsecurity.org/military/ops/iraqi_freedom.
de não deixar que ela guie nossas ações de forma indevida. htm>.
26. MAYZNER, Mark S.; TRESSELT, Margaret. “Tables of single-letter 48. Para esse simples exemplo, presumimos a independência de eventos.
and bigram frequency counts for various word-length and letter position Contudo, a maioria desses eventos depende do êxito de outros. Portanto, a análise
combinations”, Psychonomic Monograph Supplements, 1965, no 1, p. 13-32. bayesiana seria mais adequada. O sentido do exemplo é que as pessoas geralmente
27. Embora eu esteja fazendo uma generalização sobre conjuntos de busca não pensam nem em termos da probabilidade independente simples, quanto mais
mentais, é importante reconhecer que alguns tipos de personalidade podem exibir na probabilidade condicional mais complexa.
processos de reflexão paralelos. Podemos encontrar essa capacidade em pessoas 49. 0,75*0,75*0,75*0,75*0,75*0,75 = 0,1779 ou 17,79%.
“criativas”, como pintores, músicos e arquitetos. 50. Consulte <http://www.globalsecurity.org/military/systems/ground/
28. Meu agradecimento ao Professor Christopher Paparone por essa ideia. iaaps.htm>.
Consulte também STONE, Deborah A. Policy Paradox: The Art of Political 51. 0,95*0,95*0,95*0,95*0,95*0,75 = 0,77 = 77%. Para ser equivalente ao
Decision Making, 2d Ed. (New York: W.W. Norton, 2001). carro de combate M1, cada componente do APS precisaria ter um taxa de sucesso
29. Consulte KAHNEMAN, Daniel; TVERSKY, Amos. “Judgment under superior a 95% (a verdadeira resposta é acima de 95,64%).
Uncertainty: Heuristics and Biases”, Science 185 (1974): p. 1124-31. 52. Esse problema é relativamente simples de analisar quando as
30. Consulte FISHEL, John T. “Operation Uphold Democracy: Old Principles, probabilidades envolvem dados objetivos de engenharia . Tornam-se bem mais
New Realities”, Military Review 77, no 4 (1997): p. 22-30, e BAUMANN, Robert difíceis quando se consideram as probabilidades subjetivas encontradas em
F. “Operations Uphold Democracy: Power Under Control”, Military Review 77, situações sociais.
no 4 (1997): p. 13-21. 53. 1-0,77 = 0,23 = 23%
31. Em virtude desse possível viés, talvez queiramos reavaliar a alocação 54. Judgment under Uncertainty: Heuristics and Biases, ed. KAHNEMAN,
de nossos recursos orçamentários. O que contribui mais para a efetividade de Daniel; TVERSKY, Amos (New York: Cambridge University Press, 1982), p. 16.
combate: o dinheiro gasto em sistemas técnicos que aumentam a consciência 55. As técnicas inferenciais bayesianas podem ser ferramentas adequadas
situacional, ou o dinheiro gasto em treinamento realista e árduo? para superar a ancoragem. No entanto, modelá-las e compreendê-las leva tempo.
32. Em termos técnicos, a correlação é a medida de covariância, que é uma 56. FM 3.0, Operations (Washington, DC: GPO, 27 Fev 2008), p. 5-11.
medida da dependência linear entre duas variáveis aleatórias. Ela não implica 57. Consulte PAPARONE, Christopher R.; REED, George. “The Reflective
causalidade. Por exemplo, pessoas portando guarda-chuvas estão positivamente Military Practitioner: How Military Professionals Think in Action”, Military
correlacionadas com a possibilidade de chuva, mas portar guarda-chuvas não Review 88, no. 2 (2008): p. 66-77.
causa a chuva. 58. Ibid., p. 74.
importantes para ele e usar a fase do “bate-papo Segundo o Centro de Lições Aprendidas (Center
inicial” para atingir um objetivo específico. for Army Lessons Learned) do Exército, “as células
Avaliação do Engajamento de
Ambiente Operacional Líder-chave (ELC)
Iniciado pelo Comando
Saída:
(Chefe do Estado-Maior) ELC no Escalão Execução dos ELC
Divisão Avaliação do ELC
Multinacional-5 ELC no Escalão Corpo Observações sobre a área
Reunião para Multinacional-1/Força de responsabilidade e os
Aprovação dos Alvos Multinacional-1 comandantes subordinados
engajamento de informações, o que inclui desde anteriores, eventos significativos da área de interesse
as operações civis-militares até a administração e projeções sobre as eleições parlamentares. Com o
de sensores. O coordenador de efeitos chefia essa tempo, as seguintes informações foram incluídas:
multiplicidade de capacidades e a filosofia que ●●áreas de possível concordância;
orienta sua missão pode ser resumida assim: ●●eventos relevantes nos ambientes de
●●concentre os engajamentos – menos pode informações militar e global;
ser melhor; ●●hipóteses sobre as motivações dos líderes
●●defina a tarefa e o objetivo do engajamento; chave;
●●associe os engajamentos às prioridades da ●●conjecturas sobre como os líderes-chave
Divisão, incorporando-os às operações; e poderiam se comportar e se manifestar em público,
●●seja cauteloso: saiba quem engaja quem. no futuro próximo;
A figura incorporada a este artigo mostra o ciclo ●●temas, mensagens e pontos para discussão;
de decisão usado para sincronizar e incorporar os ●●requisitos de informações; e
engajamentos com líderes-chave nos objetivos e ●●o efeito desejado.
nas “linhas de operações” do comandante. O coordenador de efeitos da Divisão analisava
No escalão Divisão, foi padronizado o o kit de preparação pelo menos dois dias antes do
procedimento de preparar um kit para engajamentos engajamento e implementava quaisquer mudanças
de líderes-chave destinado aos oficiais superiores. que fossem sugeridas. Vinte quatro horas antes
Inicialmente, cada kit continha uma análise da da reunião, o coordenador se encontrava com
estratégia a ser utilizada. Incluía informações o comandante para revisar o kit. A seção de
biográficas e as notas das reuniões anteriores. Às engajamento com líderes-chave fornecia pedidos
vezes incluía anotações tomadas nos engajamentos de informações adicionais. Terminada a reunião
precisa estabelecer sua credibilidade como fonte responder perguntas difíceis, sempre com tom
e projetar uma imagem ao seu público alvo. O profissionalmente diplomático, mesmo quando
oficial superior que atue como comunicador estiver em uma situação desconfortável. As
precisa parecer agradável, competente, confiável notícias se espalham mais rapidamente do que uma
e possuir todo e qualquer atributo que facilite a tempestade de areia através das redes sociais tribais
persuasão7. Obviamente, um objetivo das reuniões e, tão logo você tenha conquistado a confiança
com líderes-chave é fazer com que eles se repitam de seu interlocutor e uma reputação de ser uma
com frequência, aumentando a esfera de influência “pessoa direta”, sua reputação de integridade de
da Divisão. Ao interessar-se pela vida e pelas caráter o precederá aonde for.
motivações dos outros, o comandante pode iniciar Por exemplo, devido ao fato de ainda estarmos
a obtenção do efeito pretendido por meio do operando próximo às cidades, mesmo após o
estabelecimento de uma base que pode levar a uma acordo de 30 de junho, tivemos a impressão de que
rede de relacionamentos. Enfim, um engajamento os líderes influentes da nação anfitriã desconfiavam
de líderes-chave pode influenciar ou informar, de nossas intenções. Eles queriam entender por que
mas sempre deve produzir um efeito e facilitar um as Forças dos EUA ainda estavam por lá. Devido
processo de coleta e um objetivo de informações. ao fato de termos desenvolvido uma relação por
As reuniões dos comandantes das Divisões meio da arte da influência e da “pré-persuasão”,
com líderes-chave se ligam aos engajamentos fomos capazes de desmistificar as questões da
de líderes-chave dos Subcomandantes dessas pauta e remover a névoa de informações que com
Divisões; esses, aos engajamentos de líderes-chave frequência encobre o ambiente operacional.
dos comandantes de Brigada, e assim por diante. Os
dados de apoio de reuniões anteriores também são A Estratégia de Treinamento
usados para esboçar os objetivos futuros da Divisão. Antes do exercício de treinamento para a missão
Os dados de apoio auxiliam no desenvolvimento da Divisão, o Comandante, o Subcomandante e a
da capacidade de questionar do comandante da tropa passaram por um programa de treinamento
Divisão, permitindo-lhe fazer as perguntas certas, voltado para a conscientização cultural geral.
logo que a relação tenha sido estabelecida. Os dados Para a 34a Divisão de Infantaria, o exercício
de apoio também permitem ao Comandante da foi uma prova de fogo, mas o treinamento de
Divisão engajar os indivíduos segundo um formato engajamento com líderes-chave ofereceu pouco
que lhes seja agradável, ao fazer perguntas diretas mais do que a oportunidade de trabalhar com
sobre as coisas de seu interesse. um intérprete. Embora essa experiência seja
A influência envolve alterar opiniões e atitudes valiosa, no nível oficial-general o objetivo dessa
da população por meio do engajamento e, na instrução é desenvolver uma estratégia para
MND-S, buscamos fazer isso pelo estabelecimento transferir as parcerias de um general para o seu
de uma relação de confiança, usando pontos de futuro substituto. Portanto, bem antes de chegar
referência, como família e negócios, ao mesmo ao teatro de operações, é importante considerar
tempo em que éramos mutuamente inquisitivos. a profundidade do sistema de engajamento com
Como já dissemos, escutar atentamente era líderes-chave e como o comandante de Divisão
importante, e o simples reconhecimento do fato pode abordar o processo para viabilizar um
de que as pessoas gostam de falar sobre si próprias efeito. Um comandante precisa de profundidade
e sobre seus interesses encorajou a franqueza e estratégica e de adaptabilidade interpessoal se
ajudou a organizar reuniões futuras com respeito quiser conduzir um engajamento com líderes-chave
e abertura crescentes. que seja “desarmado” e que o ajude a interagir
Dois pontos sobre a organização: não apresse efetivamente e a construir confiança.
o andamento da reunião e não tente moldar o
engajamento para tirar máximo proveito de seu Lições Aprendidas
tempo limitado. Priorize as perguntas e adote Como em qualquer desdobramento de grande
uma abordagem calma e deliberada. Entenda que unidade, expandir o conhecimento institucional é
o engajamento com líderes-chave é uma reunião um imperativo profissional. Embora os exercícios
de comunicação bilateral e prepare-se para de treinamento da missão sejam instrutivos, eles
O Coronel George E. Reed, da Reserva Remunerada O Tenente-Coronel Richard A. Olsen, da Reserva Remunerada
do Exército dos EUA, Ph.D., é professor adjunto do do Exército dos EUA, D.Min., é professor adjunto de Liderança
Departamento de Estudos de Liderança da Escola de Militar na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército dos
Ciências da Liderança e Educação da University of San EUA, no Forte Leavenworth, Estado do Kansas. Atuou, ante
Diego. Serviu durante 27 anos como oficial da Polícia riormente, como oficial administrativo do Comando de Recur
do Exército, ocupando, por 6 anos, o cargo de diretor de sos Humanos, em St. Louis, Estado do Missouri. É bacharel
Estudos de Comando e Liderança no U.S. Army War College. pela Indiana University, mestre em Orientação Psicológica pela
O leitor poderá entrar em contato com o autor pelo e-mail Assemblies of God Graduate School, e doutor em Liderança
george.reed@us.army.mil. pela Biola University. Serviu no Iraque e no Afeganistão.
ARTE: Tom Cheney, The New Yorker, 8 Aug 97, © 2008 The New Yorker Collection from cartoonbank.com. Direitos reservados.
“Então... Há mais alguém que ache que suas necessidades não estejam sendo atendidas?”
teve ótima receptividade entre oficiais superiores um rito de passagem, sem grande conexão com a
mais modernos e entre oficiais intermediários e realidade atual. Ao que parece, a visão do topo da
subalternos, mas houve um interesse bem menor hierarquia organizacional é mais “cor-de-rosa” do
por parte dos oficiais superiores mais antigos, que a dos que estão na base.
que eram justamente os que tinham o poder e a Buscamos pôr à prova essa assertiva e responder
autoridade para impulsionar a mudança na política. a algumas questões básicas sobre a relação que
Os oficiais mais antigos tendiam a achar que o existe entre as experiências com maus líderes, os
problema da liderança destrutiva havia sido bem diversos indicadores de satisfação e a tendência
pior no passado. A maioria dos respondentes da dos oficiais superiores mais modernos em
pesquisa realizada na Escola de Guerra (54,6%) permanecerem nas Forças Armadas. Antes de
afirmou que há menos casos de liderança destrutiva apresentarmos os resultados de algumas pesquisas
hoje em dia do que havia há cinco anos. Podiam de opinião realizadas no CGSC, em 2008,
facilmente relatar casos de abuso nas mãos de discutiremos brevemente alguns trabalhos recentes
superiores, mas costumavam enxergá-los como sobre a liderança nociva.
Bajulando os Superiores e
tradução livre), publicado em 2004: “Qualquer Maltratando os Subordinados
pessoa que não more em uma caverna está exposta O Professor Robert Sutton, de Stanford, explora
rotineiramente, ainda que apenas por meio da o fenômeno em seu livro The No Asshole Rule,
imprensa, a indivíduos que exercem o poder publicado em 2007 [lançado no Brasil com o título
de modo inadequado”3. A autora ofereceu uma Chega de Babaquice — N. do T.]. Ele propõe dois
tipologia útil sobre a má liderança, com designações critérios para determinar se alguém está lidando
como “incompetente”, “rígido”, “destemperado”, com um líder ruim, que ele chama de “babaca”
“insensível”, “corrupto”, “insular” e “perverso”. (asshole):
Evidentemente, há várias formas de ser um mau ●●Depois de falar com o suposto “babaca”, o
líder. Embora tenha reconhecido que é difícil “alvo” se sente oprimido, humilhado, esgotado ou
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Departamento de Defesa
Um militar dá ordens aos subordinados durante treinamento em habilidades de combate, 6 Fev 08.
alternativas apresentadas foram “muito raramente”, resultou em pelo menos duas condenações por corte
“raramente”, “às vezes”, “com frequência” e “com marcial, por crueldade e maus tratos. No caso em
muita frequência”. tela, um grupo de sargentos teria se engajado em
Os 15 comportamentos mais comuns de uma campanha de “abusos verbais, castigos físicos
liderança negativa na lista da Escola de Guerra e zombaria contra outros militares”15. Deu-se início
exibiram notável consistência com as experiências à investigação depois da morte de um recruta, que
dos oficiais-alunos do CGSC. Gritar com os havia sido incorporado à Unidade apenas 10 dias
subordinados vinha em um próximo 16º lugar, antes de cometer suicídio. Em outro caso, uma
na lista da Escola de Guerra. Em todos os casos, Capitão-de-Mar-e-Guerra da Marinha foi desti
as pontuações médias e os desvios padrão da tuída do posto, por crueldade e maus tratos aos
Escola de Guerra eram mais baixos, o que ajuda subordinados16. Segundo a reportagem da revista
a corroborar a ideia de que experiências com a Time, “seu afastamento provocou gritos de alegria
liderança nociva diminuem à medida que aumenta por parte de todos aqueles que haviam servido sob
a patente e que os oficiais mais antigos assistem seu comando, desde o dia em que se formou na
a uma variação menor em estilos de liderança por Academia Naval dos EUA, em 1985”17. Este último
parte de seus superiores. caso é útil, por indicar até que ponto os integrantes
da organização a responsabilizam pelos líderes
Estudos de Caso e Pesquisas de nocivos. Embora uma investigação realizada pela
Opinião como Indicadores Inspetoria Geral da Marinha tenha documentado
Dois casos recentes, extraídos de reportagens vários casos de humilhação, “parecia haver uma
jornalísticas, servem para demonstrar o problema raiva ainda maior dirigida ao escalão superior da
da liderança nociva em detalhes nítidos. O jornal Força, por ter promovido essa oficial a posições de
Army Times relatou um caso de abuso de autori crescente responsabilidade”18. Ambos os casos são
dade por parte de quatro graduados no Iraque, que exemplos extremos, nos quais a cadeia de comando
tenentes-coronéis e coronéis com quem haviam 6-22 — Leadership). Esse estudo conclui que não
tido experiência pessoal e que os classificassem por é esse o caso, o que nos apresenta um problema
porcentagem em quatro categorias descritivas. Em organizacional digno de uma resposta sistêmica.
outras palavras, nós lhes pedimos que indicassem Não extraímos nenhuma conclusão sobre
a porcentagem de tenentes-coronéis e coronéis as causas do comportamento tóxico no âmbito
que se encaixavam em quatro categorias distintas. individual. Isso pertence, com razão, à esfera
Fornecemos descrições que iam desde a mais da psiquiatria e da psicologia, dois dos muitos
favorável até a mais nociva. A boa notícia é que campos nos quais não somos peritos. Estamos mais
a média para a descrição mais favorável foi de preocupados com as ações que uma organização
48,68%. A má notícia é que a média para os líderes deve tomar para monitorar a espécie de liderança
descritos como nocivos foi de 17,87%. Vale notar, que está sendo, de fato, exercida em seu nome e
neste momento, que há um número insuficiente de como ela deve intervir quando aqueles exercendo
estudos transversais sobre o tema para permitir que
se estabeleça o que pode ser considerado um nível
bom ou ruim de liderança nociva. Simplesmente Cumprir a tarefa sem analisar
precisamos nos perguntar se é aceitável que os como ela está sendo cumprida
majores considerem quase 18% dos seus superiores
imediatos como sendo prejudiciais à consecução nunca foi suficiente.
da missão e detentores de um estilo de liderança
tão problemático que eles cogitariam seriamente
a possibilidade de deixar o serviço militar, caso cargos de autoridade não atuarem em conformidade
fossem obrigados a servir sob seu comando mais com seus valores centrais. Devemos reconhecer
uma vez. que, provavelmente, nunca eliminaremos o
problema da liderança nociva, mas talvez possamos
Análise e Avaliação administrá-lo de um jeito melhor.
Assim como ocorre em qualquer pesquisa, nossa Nossa primeira sugestão é uma intervenção
abordagem teve alguns pontos fracos referentes à mais vigorosa para identificar e lidar com
metodologia. Como a taxa de respostas foi baixa e líderes destrutivos. As pesquisas de ambiente
a amostra relativamente pequena, recomendamos organizacional e as avaliações “de 360°” são
que se tenha cautela ao se fazerem generalizações boas ferramentas se devidamente utilizadas,
sobre as constatações em relação ao Exército em mas nosso estudo indica que há espaço para
geral. Só podemos indicar que os dados que temos melhorias quanto ao alcance e ao seu método
são indicativos e representativos de um grupo de emprego. O setor empresarial faz bom uso
pequeno, mas importante, de oficiais superiores do aconselhamento individual (coaching) para
de menor antiguidade. Seria bom que outros modificar o comportamento de executivos,
pesquisadores continuassem análises quantitativas mas essa abordagem recebe pouca atenção nas
com populações maiores. Já estabelecemos que Forças Armadas. As organizações militares
há evidências suficientes para afirmar que a costumam apoiar-se na cadeia de comando para o
quantidade de experiências com líderes nocivos aconselhamento individual e a avaliação, mas essa
diminui à medida que se lida com escalões mais abordagem requer análises mais aprofundadas
altos da hierarquia organizacional. Recomendamos na força modular, em que os organogramas
estudos adicionais, em todos os níveis, para são fluidos e a esfera de controle mais ampla
determinar exatamente o tipo de liderança que (especialmente por avaliadores de escalão
os militares estão vivenciando e, então, utilizar superior). Os chefes têm, de fato, um papel
essas informações para ajudar a melhorar os importante e devem ficar atentos às tendências
programas de desenvolvimento de líderes. A nocivas de seus subordinados. Devem olhar
doutrina sobre liderança do Exército é, em geral, além do cumprimento da missão de curto prazo
bem adequada, e o mundo seria melhor, sem e incluir a saúde e o bem-estar de longo prazo da
dúvida, se todos os líderes praticassem o que prega organização. Cumprir a tarefa sem analisar como
o Manual de Campanha 6-22 — Liderança (FM ela está sendo cumprida nunca foi suficiente.
REFERÊNCIAS
1. REED, George E. “Toxic Leadership”, Military Review (Jul-Ago. 2004): 10. KUSY, Mitchell; HOLLOWAY, Elizabeth. Toxic Workplace: Managing
p. 67-71. Toxic Personalities and Their Systems of Power (San Francisco: Jossey-Bass,
2. BULLIS, Craig; REED, George. “Assessing Leaders to Establish and 2009), p. 10.
Maintain Positive Command Climate”, A Report to the Secretary of the Army 11. BULLIS; REED. “The Impact of Destructive Leadership on Senior
(Fev 2003), p. 1. Military Officers and Civilian Employees”, Armed Forces and Society, 36 (1)
3. KELLERMAN, Barbara. Bad Leadership: What It Is, How It Happens, (Out 2009), p. 5-18.
Why It Matters (Cambridge, MA: Harvard Business School Press, 2004), p. 5. 12. Somente 51% da população da Escola de Guerra afirmou estar seriamente
4. Ibid., p. 243. cogitando sair em função do tratamento recebido de um superior; outra indicação
5. LIPMAN-BLUMEN, Jean. The Allure of Toxic Leaders: Why We Follow de que a permanência esteja ligada ao estilo de liderança.
Destructive Bosses and Corrupt Politicians—and How We Can Survive Them 13. B= -0,015; S.E. = 0,005; Wald 10,275; Sig. = 0,001; Exp (B) =0,985.
(New York: Oxford University Press, 2005), p. 17-18. 14. ASHFORTH, Blake. “Petty Tyranny in Organizations”, Human Relations
6. SUTTON, Robert I. The No Asshole Rule: Building a Civilized Workforce 47 (1997), p. 755-78.
and Surviving One that Isn’t (New York: Warner Business Books, 2007), p. 9. 15. VIVIANO, JoAnne. “Staff Sgt. Convicted of Cruelty in Iraq”, The
7. Marshall Goldsmith, um dos mais renomados consultores executivos do Associated Press, 20 jan. 2010 in Army Times, disponível em: <www.armytimes.
mundo, afirma que os líderes frequentemente enganam a si mesmos sobre as suas com/news/2010/01/ap_army_cruelty_conviction.011810/> (5 Mar 2010).
realizações, status e contribuições. Consulte What Got You Here Won’t Get You Consulte também TAN, Michelle. “4 NCOs Charged With Cruelty Toward
There (New York: Hyperion, 2007), p. 16-17. Soldiers”, 23 Ago 2009 in Army Times, <www.armytimes.com/news/2009/08/
8. SUTTON. army_Soldiers_cruelty_082109> (5 Mar 2010).
9. Esse é o conceito fundamental das teorias de contingência de liderança, 16. THOMPSON, Mark. “The Rise and Fall of a Female Captain
como a Liderança Situacional®, uma teoria bem conhecida proposta pelo Bligh”, Time, 3 Mar 2010, disponível em: <www.time.com/time/nation/
Centro de Estudos sobre Liderança em Escondido, Califórnia. Para obter mais article/0,8599,196902,00.html?xid=rss-topstories> (5 Mar 2010).
informações, consulte HERSEY, Paul; BLANCHARD, Kenneth H.; JOHNSON, 17. Ibid.
Dewey E. Management of Organizational Behavior, 9th ed. (Upper Saddle River, 18. Ibid.
NJ: Pearson, Prentice Hall, 2008). 19. KUSY; HOLLOWAY, p. 10-19.
repleto de realizações.
JANEIRO-FEVEREIRO 2011
EDIÇÃO BRASILEIRA JANEIRO-FEVEREIRO 2011
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Departamento de Defesa
Um militar dá ordens aos subordinados durante treinamento em habilidades de combate, 6 Fev 08.
Profissional
Martin L. Cook, Ph.D. p. 46
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