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Pensamento, Linguagem e

Desenvolvimento Humano
Material Teórico
Desenvolvimento humano e as práticas educativas

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Ms. Pascoal Fernando Ferrari

Revisão Textual:
Profª. Esp. Vera Lídia de Sá Cicaroni
Desenvolvimento humano
Unidade e as práticas educativas

• Desenvolvimento humano e as práticas


educativas

• A criança e a escola

• Os métodos de alfabetização no Brasil

• As hipóteses de escrita da criança

• A educação e o letramento

• Alfabetização versus letramento

• A alfabetização de adultos

• Considerações Finais

Nesta unidade, estudaremos o desenvolvimento humano e


as práticas educativas na escola brasileira. Iniciaremos nossos
estudos a partir da aquisição da linguagem pela criança e seu
Objetivo de
aprendizado

desdobramento na escola.
Em seguida faremos uma reflexão, tendo como foco a alfabetização
e o letramento. Assim, destacaremos e discutiremos os métodos
de alfabetização mais empregados nas escolas brasileiras durante
o percurso de sua história. Para tanto, apropriar-nos-emos das
ideias de Jean Piaget, Emília Ferreiro e dos educadores brasileiros
Paulo Freire e Magda Soares.

Quanto às atividades propostas na unidade, é importante que você realize todas com afinco
e determinação. Teste seus conhecimentos respondendo às questões sugeridas, observe o
que você já sabe e o que precisa, ainda, saber e amplie seus conhecimentos lendo o material
complementar sugerido.

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Unidade: Desenvolvimento humano e as práticas educativas

Contextualização
Para o momento de contextualização, sugerimos a leitura da entrevista que tem como fonte o
jornal Folha de São Paulo e que está publicada no site do jornal virtual Lance, do Laboratório
de Neuropsicolinguística Cognitiva Experimental da Universidade de São Paulo (USP).
A entrevista é concedida pelos Professores Telma Weisz e Fernando Capovilla e tem como
título Construtivismo x Método Fônico. A entrevista foi motivada pela decisão do Ministério da
Educação de rever os métodos de alfabetização. Na entrevista, Weisz defende o construtivismo,
enquanto Capovilla defende o método Fônico para alfabetizar, e, assim, abrem um debate entre
as duas abordagens.
A entrevista encontra-se no seguinte endereço eletrônico: http://www.ip.usp.br/lance/jornal.html

Para Pensar
Leia a entrevista com atenção e depois reflita sobre seu próprio processo de alfabetização. Você
foi alfabetizado(a) através de uma cartilha? Em caso afirmativo, qual o nome da cartilha? Você
lembra o método pelo qual foi alfabetizado? Se fosse alfabetizar alguém, qual método usaria?
Justifique suas respostas.

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Desenvolvimento humano e as práticas educativas
Nesta unidade iremos conhecer e investigar as práticas educativas nos anos iniciais da educação.
Trataremos das hipóteses de alfabetização durante o desenvolvimento da escrita e também
conceituaremos o termo letramento no processo de alfabetização da criança. Apresentaremos o
contexto da alfabetização e sua importância, contemplando o letramento como uma ferramenta
importante dentro do processo de alfabetização, no sentido de construção da identidade de um
indivíduo que saiba utilizar socialmente a leitura e a escrita. Neste contexto, abordaremos os
métodos de alfabetização e as dificuldades dos professores para trabalhar com a alfabetização.
Dentro desse pressuposto, as concepções acerca da alfabetização estão diretamente ligadas
às necessidades sociais, bem como o avanço do conhecimento exigido por cada época. As
investigações sobre a alfabetização mostram-nos uma abordagem, passando de um enfoque
mecanicista para um enfoque cognitivista e cultural.
A concepção do sujeito, dentro de uma abordagem tradicional, mostra-nos o educador
como impositor de conceitos rígidos e fechados, processo em que ele é o detentor de todo o
conhecimento, enquanto o aprendiz apenas o recebe (depósito), sem nenhuma possibilidade de
participação concreta no processo de alfabetização.
Essa visão mecanicista do sujeito na alfabetização é pautada na crença de que, para cada
som da fala, há uma letra e, para cada palavra, um conjunto de letras. Sob essa forma de
pensar, o ato de alfabetizar assumia que a simples transposição de códigos (oral e escrito) seria
o bastante para habilitar o sujeito a construir e interpretar mensagens, através da codificação
(escrita) e da decodificação (leitura).
Para compreendermos esse processo, recorremos ao que denominamos aquisição da
linguagem e da comunicação, que se desenvolvem segundo etapas de ordem constante,
ainda que o ritmo de progressão possa variar de um sujeito para outro, respeitando os limites
individuais ou momentâneos de cada um.
É falando e ouvindo que as crianças conseguem segmentar e aprender as palavras que lhes
interessam, e isso muito antes de serem capazes de empregá-las em frases. As primeiras palavras
das crianças reúnem, sob uma mesma denominação, vários objetivos e situações que interessam
aos que fazem parte de sua experiência.
A criança pode usar uma onomatopeia clássica, como “bruuuu”, para designar o carro que
passa pela rua ou qualquer meio de transporte que apareça em sua frente, pessoas ou animais
que se movimentam na rua, brinquedos que se movimentam como também manifestar o
desejo de andar de carro.
Essas palavras iniciais têm um forte caráter imitativo e não têm um significado fixo. Como
vimos na unidade anterior,a criança pensa, inicialmente, por imagens e são as imagens que
marcam a significação que ela atribui às palavras. A aquisição da linguagem verbal, que implica
o uso de palavras, tem início, em geral, entre os 12 e 24 meses de idade.
Entretanto, antes do aparecimento das primeiras palavras, observa-se o desenvolvimento
de um complexo sistema de comunicação não verbal, com intencionalidade cada vez mais
definida e que envolve a expressividade corporal, os movimentos, gestos, olhares, nuances nas
vocalizações, choro e assim por diante.

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Unidade: Desenvolvimento humano e as práticas educativas

Mesmo antes de adquirir a linguagem verbal, o bebê já possui uma experiência de


comunicação. O desenvolvimento dessas habilidades pode ser acompanhado ao longo
do seu crescimento, servindo, também, de indicativo da formação de uma boa ou má
competência comunicativa.
Podemos apontar uma série de fatores que determinam um bom desenvolvimento da
comunicação infantil, como as condições físicas ou orgânicas, a integridade do sistema
nervoso e da audição.
Ainda, é preciso salientar a importância do seguinte aspecto: ter o que comunicar. Isso significa
que quem comunica quer transmitir uma mensagem, ou seja, utilizar a fala para demonstrar
seus desejos, experiências, conhecimentos, valores e sentimentos.
Dessa forma, estamos considerando a formação de conteúdos mentais e, nesse aspecto, tem
um papel fundamental a própria constituição da inteligência. Não basta ter algo em mente que
possa ser comunicado; há que se ter um desejo de transmitir alguma coisa para alguém, de
forma sistemática para que o outro entenda.
Ter uma forma para comunicar, possuir algo para ser expresso e querer fazer com que isso
chegue até alguém depende, fundamentalmente, de estar de posse de um meio ou forma que
permita a comunicação.

Para Pensar
Ter um interlocutor é fundamental para a completude do processo comunicacional. De que adiantaria
ter algo para dizer, um desejo de dizer e uma forma para fazê-lo, caso não houvesse alguém para
ouvir ou interagir? Estamos frente à importância do papel do outro, não só como nosso ouvinte, mas
também como aquele que nos fornece o instrumental simbólico a ser usado na comunicação.

Podemos dizer que a formação dos conteúdos mentais ou de nossa linguagem interior está
diretamente ligada ao desenvolvimento cognitivo. Alterações nesse aspecto podem interferir na
aquisição da linguagem, predominantemente em termos semânticos e de compreensão.

A criança e a escola
Chega a hora de a criança ir à escola e ampliar os seus contatos com os valores sociais.
Após o período de desenvolvimento da linguagem, entre os 4 e 6 anos, chega o momento
da alfabetização, a hora de ir para a escola para entrar no processo de aquisição da leitura
e da escrita.
No Brasil, em meados dos anos 80, chega uma nova teoria causando grande impacto e
revolucionando o ensino da língua nas séries iniciais do Ensino Fundamental, ao mesmo
tempo provocando uma revisão no tratamento dado ao ensino e à aprendizagem em outras

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áreas do conhecimento. Essa investigação evidencia a atividade construtiva do aluno sobre
a língua escrita, objeto de conhecimento reconhecidamente escolar, mostrando a presença
importante dos conhecimentos específicos sobre a escrita que a criança já tem e que, embora
não coincidam com os dos adultos, têm sentido para ela. Veja como Freire trata a questão
da alfabetização:

[...] Aprender a ler, alfabetizar-se é, antes de mais nada, aprender a ler o


mundo, compreender o seu contexto, não numa manipulação mecânica
de palavras, mas numa relação dinâmica que vincula linguagem e
realidade Freire (2001,p. 8).

A escola consolida-se como lugar institucionalizado para o preparo das novas gerações. A
universalização da escola assume um papel de instrumento da modernização e do progresso
para “esclarecer as massas iletradas”. A leitura e a escrita tornam-se fundamentos da escola
obrigatórios e objeto de ensino e aprendizagem.
A passagem da criança para o mundo da cultura letrada instaura novas formas de relação
dos sujeitos entre si, com a natureza e com a história; um mundo novo que instaura novos
modos e conteúdos de pensar, sentir, querer e agir.
Os documentos oficiais da Federação brasileira também nos ajudam a pensar o papel da
escola, quando esta se defronta com a questão da alfabetização e do letramento, principalmente
nos anos iniciais do Ensino Fundamental I. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (1º a 4º
séries) da Língua Portuguesa entendem o letramento como:

Letramento, aqui, é entendido como produto da participação em práticas


sociais que usam a escrita como sistema simbólico e tecnologia. São
práticas discursivas que precisam da escrita para torná-las significativas,
ainda que, às vezes, não envolvam as atividades específicas de ler
ou escrever. Dessa concepção decorre o entendimento de que, nas
sociedades urbanas modernas, não existe grau zero de letramento, pois,
nelas, é impossível não participar, de alguma forma, de algumas dessas
práticas (Brasil, 1997. p.21).

Quando entramos na escola, já possuímos algum grau de letramento. De alguma maneira,


nossa vida cotidiana colocou-nos diante de alguma forma de texto escrito e sabíamos que
ali estava grafado algo. A escola deverá considerar o conhecimento prévio do aluno para
compreender com qual aprendiz está lidando.

Ideias Chave
O contato que o aprendiz teve com a leitura e a escrita na vida pré-escolar deve ser levado em conta
no processo de alfabetização. Inclusive, atualmente, devemos considerar a experiência com as novas
tecnologias que os aprendizes tiveram.

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Unidade: Desenvolvimento humano e as práticas educativas

Os métodos de alfabetização no Brasil


Para contemplar o processo da alfabetização aplicaram-se alguns métodos específicos, que
foram construídos ao longo da nossa história desde o período Colonial brasileiro, como exemplo,
os seguintes métodos:

Método sintético:
Com muitas variantes, de forma geral, desenvolve-se da “parte” para o Bb
...
“todo”, apropriando-se da soletração, que parte do nome das letras, ou da
Ba, Be, Bi
silabação, partindo da emissão de sons das sílabas, sempre em uma ordem
crescente. Como método que valoriza o fônico na alfabetização, parte dos Barriga
sons correspondentes às letras.
Posteriormente, reunidas as letras ou os sons em sílabas ou conhecidas as famílias
silábicas, ensina-se a ler palavras formadas com essas letras e/ou sons e/ou sílabas e, por
fim, ensinam-se frases isoladas ou agrupadas. Em relação à escrita, o método restringe-se
à caligrafia e à ortografia, e seu ensino, à cópia, ditados e formação de frases, enfatizando
o desenho correto das letras.
A partir de 1890, implementou-se a reforma da instrução pública no Estado de São Paulo. A
base da reforma estava nos novos métodos de ensino, em especial no então novo e revolucionário
método analítico para o ensino da leitura.

Método analítico:
De acordo com o método analítico, o ensino da leitura deve ser Barriga
iniciado pelo “todo”, para depois se proceder à análise de suas partes
Bb
constitutivas. Diferentemente dos métodos de marcha sintética até então
.
utilizados, o método analítico, sobre forte influência da pedagogia norte- Ba, Be, Bi ..
americana, baseia-se em princípios didáticos derivados de uma nova
concepção — de caráter biopsicofisiológico — de criança.
Por entender a criança de uma maneira mais global, os níveis gerais e satisfatórios para o
desenvolvimento corporal, orgânico, postural e motor têm atenção especial. Aprender significa
criar novas estruturas psicomotoras que são incorporadas ao cognitivo da criança e essas novas
experiências motoras adquiridas são ajustadas às já estabelecidas.
Em meados da década de 1920, aumentam as resistências dos professores quanto à utilização
do método analítico e começa-se a buscar novas propostas de solução para os problemas do
ensino e aprendizagem iniciais da leitura e da escrita. Neste sentido, a importância do método
de alfabetização passa a ser relativizada, secundária e considerada tradicional.
As cartilhas utilizadas como recurso para alfabetização passam a se basear, predominantemente,
em métodos mistos ou ecléticos (analítico-sintético e vice-versa), com manuais para os professores.
Um exemplo é a cartilha Caminho Suave, que predominou na educação brasileira a partir de
1948, ano de seu lançamento. Também conhecida como uma metodologia de alfabetização
pela imagem, pois associava a letra a uma imagem “a de abelha”.

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Na década de 1980, essa tradição passa a ser questionada em decorrência de novas urgências
políticas e sociais, que se fazem acompanhar de propostas de mudança na educação, a fim de
se enfrentar, particularmente, o fracasso da escola na alfabetização de crianças.

Método Clínico:
Associado à teoria piagetiana, este é um método livre de conversação sobre um tema dirigido
pelo interrogador. É uma técnica experimental que orienta o curso do interrogatório, o qual é
dirigido pelas respostas do sujeito. Seu objetivo é análise do conteúdo do pensamento infantil.
Esse método inclui uma prática que testa hipóteses sobre o funcionamento da inteligência
de um sujeito enquanto este raciocina. Pouco abrangente na questão da alfabetização, mas
amplamente difundido na educação de forma geral.

A Abordagem Construtivista:
Nos anos 1980, é introduzido no Brasil o pensamento construtivista sobre alfabetização,
resultante das pesquisas sobre a psicogênese da língua escrita, desenvolvidas pela pesquisadora
argentina Emília Ferreiro e seus colaboradores. O construtivismo apresenta-se como uma
revolução conceitual sobre a educação, demandando, entre outros aspectos, o abandono das
teorias e práticas tradicionais, desmetodizando o processo de alfabetização e questionando a
necessidade das cartilhas.
No construtivismo, a maneira de construir o saber é muito ampla, incluindo, realmente, as
ideias de descobrir, inventar, redescobrir, criar, sendo que aquilo que se faz é tão importante
quanto o como fazer e o porquê de fazer.
O sujeito tem um papel ativo no processo de aprendizagem, convivendo com textos e
pessoas alfabetizadas, estabelecendo uma ligação cognitiva a partir do que ele já sabe, das suas
hipóteses, das suas necessidades e do que é capaz de problematizar.
No contexto da teoria construtivista de caráter interativo, contamos com a Epistemologia
genética proposta por Jean Piaget, entendendo o pensamento e a inteligência como processos
cognitivos que têm sua base em um organismo biológico.
Para Piaget, é a partir da herança genética que o individuo constrói sua própria evolução
da inteligência, em paralelo com a maturidade e o crescimento biológico; através da
interação com o meio, desenvolve também suas capacidades básicas para a subsistência: a
adaptação e a organização.

Abordagem Histórico-social:
O enfoque histórico-cultural concebido por Vygotsky consiste em considerar o indivíduo
como resultado de um processo histórico e social, em que a linguagem desempenha um papel
essencial. Para Vygotsky, o conhecimento é um processo de interação entre sujeito e o meio.
Esse meio é entendido social e culturalmente.

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Unidade: Desenvolvimento humano e as práticas educativas

Dentro da teoria sócio-histórica, são as condições sociais em que o sujeito está inserido que
mediarão o seu desenvolvimento no processo de aprendizagem, priorizando as interações entre
os próprios alunos e entre eles e o professor. O objetivo, então, é fazer com que os conceitos
espontâneos que as crianças desenvolvem em sua convivência social evoluam para o nível dos
conceitos científicos. Nesse sentido, o educador assume o papel de mediador privilegiado na
formação do conhecimento.
A alfabetização busca a consoante unindo-se à vogal, mas de uma forma construtivista e não
mecânica, como se fazia com as famílias silábicas (modelo tradicional). O objetivo é ampliar
o universo das expressões da criança para facilitar a incorporação da escrita. A ênfase é na
elaboração da fala, da escrita e da leitura como instrumentos simbólicos que repercutem no
desenvolvimento mental.
A criança deve contar com um ponto de partida para realizar suas próprias descobertas. Nesse
sentido, o oferecimento de modelos de texto, por exemplo, é uma estratégia válida – desde que
resulte numa atividade criativa e não cópia mecânica. Trabalhos em pequenos grupos facilitam
o aprendizado, mas cabe ao educador acompanhar individualmente o aluno.

As hipóteses de escrita da criança


Conhecer as hipóteses de escrita da criança é importante para que o professor das séries
iniciais tenha melhor desempenho em seu ofício e compreenda melhor o que o aluno é capaz de
fazer em dado momento de seu desenvolvimento, levando em conta sua maturidade cognitiva.
Observe o quadro a seguir:

Quadro de Evolução Conceitual da Escrita


1º Etapa 2º Etapa 3º Etapa 4º Etapa
Primeiros contatos com Diferencia entre a escrita Modos de diferenciação: Fonetização da escrita.
a escrita. e o desenho. Qualitativo, variedade Períodos:
Confecção de garatujas. A escrita substitui o de letras. • Silábico,
Mistura de letras e desenho. Quantitativo, quanti- • Silábico-alfabético
números. dade de letras. • Alfabético

• Silábico,
• Silábico-alfabético
• Alfabético
O quadro apresenta-nos uma ideia do desenvolvimento da escrita e da leitura da criança.
Inicialmente a criança não atribui valor à escrita; paulatinamente, a criança ira valorar as letras,
sílabas e palavras. A criança, primeiro, cria hipóteses de sua escrita para, em seguida, atribuir-
lhe o significado estabelecido pela sintaxe e gramática adulta e convencional.

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Entrando na 4º etapa, a criança começa o processo de fonetização da escrita. Veja o que
Emília Ferreiro diz sobre esta questão:

A fonetização da escrita se inicia quando as crianças começam a buscar


uma relação entre o que se escreve e os aspectos sonoros da fala. [...] O
período de fonetização da escrita, em caso de línguas como o espanhol,
se manifesta com um primeiro período silábico, seguido por um período
silábico-alfabético, e finalmente as crianças abordam o essencial de uma
escrita alfabética (Ferreiro, 2003, p.85).

Os períodos de aquisição da escrita e leitura da criança é um contexto trazido por Emília


Ferreiro, concebendo a construção do conhecimento da leitura e da escrita, no tempo de cada
aluno, constatando que esse tempo é muito variável e que o aprendizado não é provocado
exclusivamente pela escola. Partindo deste contexto, Emília propõe os períodos de construção
da escrita pela criança. São eles:

Período pré-silábico:
É a fase da pré-escrita. A criança não consegue relacionar as letras com os sons da língua
falada. Não há reconhecimento do valor sonoro. Não há entendimento da ordem das letras.
Neste momento, o aprendiz acredita que, para ler e escrever, precisa de muitas letras, sem
repetição. A criança escreve o que deseja escrever; ela ainda não percebe a forma escrita como
representação da fala.

Sapato OO -

Período silábico:
A criança interpreta a letra à sua maneira, atribuindo valor a sílaba, uma a uma. A letra é como
um símbolo. Ainda há a presença da quantidade de letras, colocando uma letra para cada sílaba.

Sapato AAO – SPT

Período Silábico-alfabético:
A criança mistura a lógica da fase anterior com a identificação de algumas sílabas, escrevendo
ora atribuindo a cada sílaba uma letra, ora representando as unidades sonoras menores, os
fonemas. O modo silábico-alfabético precede a escrita regida pelos fundamentos alfabéticos.

Sapato SAPTO – SAATO

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Unidade: Desenvolvimento humano e as práticas educativas

Período Alfabético:
Neste momento, a criança entende que ler não é apenas adivinhar o que está escrito, que
será preciso reconhecer os fonemas e que, para escrever e ser compreendido em sua escrita,
será necessária uma ordem lógica na colocação das sílabas. Enfim, a criança domina o valor das
letras e das sílabas. Os erros de escrita e leitura ainda permanecem, mas o aprendiz já domina,
mesmo que ainda não de forma plena, os códigos da escrita.

Sapato SABATO– SAPATO

Esses níveis são trabalhados em sala de aula para que o educador possa identificar como
realizará o trabalho de alfabetização de acordo com o nível apresentado pelas crianças. A criança,
agora, passa a ser vista como sujeito que interage com a escrita como objeto de conhecimento.

Importante
Nesse processo de aprendizagem das crianças, devemos considerar, ainda, os saberes sobre os espaços
entre as palavras, sobre quando usar letras maiúscula e minúscula, plurais das palavras, aspas, ponto
e vírgula, tempos verbais, etc. e sobre tantas outras regras da língua, que são complexas de aprender.
Não é uma questão de, simplesmente, decifrar códigos de escrita é também saber usá-los.

A educação e o letramento
Conceituar o termo letramento não é tarefa fácil. Podemos partir do princípio que o indivíduo
letrado é aquele que possui o domínio da leitura e da escrita. Nesse sentido, uma pessoa letrada
é aquela que domina e utiliza com competência a escrita e a leitura em seu meio social, pois, só
assim, o indivíduo se tornará letrado.
Todavia podemos dizer que uma pessoa é letrada mesmo não sendo alfabetizada, desde
que se aproprie das práticas sociais da escrita. Ou seja, podemos entender o letramento como
estado ou condição de quem não sabe ler e escrever, mas cultiva e exerce as práticas sociais
que usam a escrita.
O outro lado da questão é que é possível também que alguém conheça basicamente os
códigos da escrita e da leitura e suas convenções, mas não faça uso desse código em seu
cotidiano. Ou ainda, a pessoa que, embora tenha desenvolvido as habilidades básicas sobre o
ler e escrever, não seja capaz de utilizar a escrita e a leitura em sua vida cotidiana. Essas pessoas
podem ser consideradas analfabetas funcionais: decodificam e codificam os signos escritos, mas
não interpretam plenamente esses signos, dificultando seu uso no cotidiano.
Como podemos notar, é complexo aclarar o que seja letramento. O termo surge a partir da
palavra inglesa literacy e pode significar letrado. Magda Soares pode nos ajudar a pensar na
dificuldade de conceituar o termo.

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Pode-se concluir, então, que há diferentes conceitos de letramento,
conceitos que variam segundo as necessidades e condições sociais
específicas de determinado momento histórico e de determinado estágio
de desenvolvimento. [...] o conceito de letramento envolve um conjunto
de fatores que variam de habilidades e conhecimentos individuais a
práticas sociais e competências funcionais e, ainda, a valores ideológicos
e metas políticas (Soares, 2001, p.80 e 81).

A autora aponta para a complexidade de se tentar conceituar o termo letramento. Certamente


o letramento está vinculado ao uso que fazemos da palavra escrita, como levar um simples
bilhete da escola para casa ou saber que, à nossa frente, está escrita uma lista de coisas que
indica a rotina de nossa sala de aula ou, ainda, saber que, nas placas de trânsito, estão escritas
indicações de como devemos dirigir um carro. Então, não precisamos, exclusivamente, da leitura
e da escrita para sermos letrados.

Trocando Ideias
Quando alfabetizado, espera-se que o aprendiz letrado se torne capaz de interpretar diferentes textos
que circulam na sociedade em que vive. Faz-se necessário, para a escola, um questionamento:
Como a escola pode alfabetizar letrando?
Ensinando a ler e a escrever e inserindo o aprendiz no contexto das práticas sociais da escrita; essa seria
uma das possíveis respostas.

Alfabetização versus letramento


Para que ocorra a alfabetização e o letramento é necessária a interferência de um adulto que leve
a criança a perceber por que e para que é importante ler e escrever. Por outro lado, a criança tem que
entender o uso das tecnologias presentes na escola. Sobre o letramento e as técnicas empregadas na
escola, veja, a seguir, um trecho da entrevista concedida por Magda Soares a um jornal:

Alfabetize letrando sem descuidar da especificidade do processo de


alfabetização, especificidade é ensinar a criança e ela aprender. O aluno
precisa entender a tecnologia da alfabetização. Há convenções que precisam
ser ensinadas e aprendidas, trata-se de um sistema de convenções com
bastante complexidade. O estudante (além de decodificar letras e palavras)
precisa aprender toda uma tecnologia muito complicada: como segurar
o lápis, escrever de cima pra baixo e da esquerda para a direita; escrever
numa linha horizontal, sem subir ou descer. São convenções que os adultos
letrados acham óbvias, mas que são difíceis para as crianças. E no caso dos
professores dos ciclos mais avançados do ensino fundamental, é importante
cuidar do letramento em cada área específica. (Soares, 2003).

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Unidade: Desenvolvimento humano e as práticas educativas

Existem convenções que precisam ser ensinadas sobre nossa língua escrita. Além de
decodificar letras, palavras e sinais, o aprendiz precisa aprender toda técnica presente na escola,
que é muito complicada em seu início: como segurar o lápis, escrever de cima pra baixo e da
esquerda para a direita; escrever numa linha horizontal sem subir ou descer e, ainda, nos dias
atuais, devemos pensar no uso do computador e na internet.
Dois pontos devem ser abordados sobre a questão do letramento. O primeiro é entender que
o letramento não é função apenas do professor de Língua Portuguesa; os professores de todas as
disciplinas escolares são responsáveis por letrar seus aprendizes, cada um em sua especialidade. O
segundo ponto é que se deveria apresentar aos aprendizes diversos portadores de texto. Portador
de texto é tudo que, normalmente, carrega um texto, por exemplo: bulas, jornais, revistas, gibis,
bilhetes, livros, cadernos,etc. O portador de texto é um suporte para o texto. Desse modo, o
professor tem a importante tarefa de propiciar aos seus alunos contato com uma grande diversidade
de texto: textos que sejam interessantes e desafiadores, que, depois de lidos e compreendidos,
possam se revelar como uma conquista capaz de dar autonomia e independência ao aprendiz.
São complexos os conceitos de alfabetização e letramento, todavia é necessário que tratemos os
termos de forma associada. Tentando aclarar a questão, veja o que Magda Soares fala sobre os termos:

ALFABETIZAÇÃO: ação de ensinar/aprender a ler e a escrever.


LETRAMENTO: estado ou condição de quem não apenas sabe ler e
escrever, mas cultiva e exerce as práticas sociais que usam a escrita.
[...] Precisamos de um verbo “letrar” para nomear a ação de levar os
indivíduos ao letramento... Assim, teríamos alfabetizar e letrar como duas
ações distintas, mas não inseparáveis, ao contrário: o ideal seria alfabetizar
letrando, ou seja: ensinar a ler e escrever no contexto das práticas sociais
da leitura e da escrita, de modo que o indivíduo se tornasse, ao mesmo
tempo, alfabetizado e letrado (Soares, 2001, p. 47).

O trecho mostra a importância de se alfabetizar e letrar o aprendiz. Apenas alfabetizar, como


fazem alguns métodos ou práticas de professores, não atende à demanda social da atualidade.
É preciso alfabetizar letrando, como diz a autora. Neste sentido, as ações educativas deveriam
prever, em todo seu percurso, práticas educativas que considerassem o letramento do aprendiz.

A alfabetização de adultos

Fui alfabetizado no chão do quintal de minha casa, à sombra das


mangueiras, com palavras do meu mundo e não do mundo maior dos
meus pais. O chão foi meu quadro-negro; gravetos, o meu giz.
[...] Eunice continuou e aprofundou o trabalho de meus pais. Com ela,
a leitura da palavra, da frase, da sentença jamais significou uma ruptura
com a “leitura” do mundo. Com ela, a leitura da palavra foi a leitura da
“palavramundo”. (Freire, 2001, p.5).

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Paulo Freire mostra-nos a importância da alfabetização estar conectada ao mundo, a um
mundo culturalmente vivido e que se amplia com o uso da leitura e da escrita. Eunice, sua
primeira professora, foi fundamental nesse processo, como os pais de Paulo, que iniciaram seu
processo de alfabetização ainda em casa.
Paulo Freire sugere o termo Palavramundo. A palavra, como representação do mundo, não
pode estar desconectada da realidade. A partir dessa forma de pensar a alfabetização, o autor
faz uma proposição pedagógica para alfabetizar pessoas adultas. Para alfabetizar adultos, Paulo
Freire propõe uma abordagem que consiste em três momentos entrelaçados dentro do diálogo
e da interdisciplinaridade.

O primeiro Momento:
É a investigação temática. Educador e educando buscam, no universo vocabular do aluno e
da sociedade em que ele está inserido, as palavras e temas centrais de sua vivência.

O segundo Momento:
É a tematização. Educador e educando irão buscar o significado social, tomando consciência
do mundo em que vivem, descobrindo novos temas geradores, relacionados com os que foram
inicialmente levantados. É nessa fase que serão elaboradas as fichas para a decomposição das
famílias fonéticas, dando subsídios para a leitura e para a escrita.

O terceiro momento:
É a problematização. É a hora de formar a visão crítica, partindo para a transformação do
aprendiz e do contexto vivido.
O contexto apresentado por Paulo Freire consiste no processo de silabação. A silabação: uma
vez identificada, cada palavra geradora passa a ser estudada através da divisão silábica.
Cada sílaba se desdobra em sua respectiva família silábica, com a mudança da vogal. Por
exemplo, para a palavra “FOME”, as sílabas são: FA-FE-FI-FO-FU, MA-ME-MI-MO-MU. E essas
sílabas transformam-se em outras palavras que estão no cotidiano do aprendiz, ampliando seu
repertório de palavras e sua consciência de mundo.
A discussão sobre erradicar o analfabetismo no Brasil ocorre com mais ênfase na década
de 1930, porém, na década de 1950 se amplia, com a proposta desenvolvida por Paulo Freire
para alfabetizar jovens e adultos. Freire propunha uma educação dialógica que valorizasse a
cultura popular e a utilização de temas geradores. Dentro de um contexto de conscientização,
participação e transformação social e prática social, temos resultados satisfatórios. Freire inovou
não apenas o conteúdo, mas também o método tradicional de alfabetização.
Para Freire, a alfabetização promove a socialização do indivíduo, possibilitando trocas
simbólicas, culturais e sociais; é um fator propulsor do exercício consciente da cidadania e do
desenvolvimento da sociedade como um todo.

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Unidade: Desenvolvimento humano e as práticas educativas

Considerações finais
O contexto apresentado mostrou como podemos contemplar a alfabetização de um indivíduo
dentro da sua prática social, compreendendo a amplitude do processo de alfabetização e das
dificuldades que os professores encontram para conseguir estabelecer esse processo.
Para que possamos compreender a processo de alfabetização, primeiramente devemos
conhecer alguns aspectos importantes. Antes de aprenderem a ler e escrever, as crianças
passam por vários contextos, como, por exemplo, a aquisição da linguagem até os cinco ou
seis anos, estabelecem-se socialmente e, somente após esse processo concretizado, as elas são
encaminhadas para as escolas para serem alfabetizadas.
A alfabetização é um processo que não se resume apenas na aquisição de habilidades
mecânicas do ato de ler, baseadas nas regras gramaticais, mas também na capacidade
do indivíduo de interpretar, compreender, criticar, contextualizar e produzir conhecimento
e, para que esse processo se configure, recorremos ao letramento, que é o sentido mais
ampliado da alfabetização.
Cabe ressaltar que os conceitos apresentados sobre a alfabetização e o letramento mostram
que não podemos deixar de lado as técnicas da alfabetização e trabalhar somente com o
letramento, já que os dois se complementam. Dessa forma, devemos trabalhar com as duas
possibilidades para que possamos chegar ao objetivo de formar um indivíduo que não saiba
apenas ler e escrever, mas que também utilize socialmente a leitura e a escrita, interpretando e
contextualizando, respondendo às demandas sociais de leitura e de escrita.
Muitos educadores sentem dificuldades em realizar um trabalho contemplando a alfabetização
e o letramento. Talvez isso ocorra por falta de conhecimento sobre o assunto ou por terem certa
resistência em conceber outras possibilidades de alfabetização, contando sempre com o mesmo
método, sem levar em consideração a prática social de cada aluno.
Os novos educadores devem conhecer novas metodologias, novos pensamentos educacionais,
novas possibilidades, pois é preciso ter ciência de que, muitas vezes, temos que abrir mão de
fórmulas antigas para contemplar o processo de alfabetização de acordo com as dificuldades
apresentadas por nossos alunos. É preciso destacar a importância de alfabetizar dentro de um
contexto em que a leitura e a escrita tenham sentido para o aluno.

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Material Complementar

Para complementar os estudos do assunto desta unidade e ampliar seus conhecimentos,


sugerimos que você leia o livro (E-book) indicado abaixo.

Explore

SANTOS, Carmi Ferras; MENDONÇA, Márcia (org.). Alfabetização e letramento: conceitos e


relações. 1ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.

O livro encontra-se no seguinte endereço eletrônico:


http://www.ufpe.br/ceel/e-books/Alfabetizacao_letramento_Livro.pdf

O referido E-book é um trabalho realizado conjuntamente pelo Ministério da Educação e


Universidade Federal de Pernambuco, com o objetivo de apresentar, gradualmente e sob vários
pontos de vista, as reflexões a respeito do tema “alfabetização e letramento”.

19
Unidade: Desenvolvimento humano e as práticas educativas

Referências

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: língua


portuguesa /Secretaria de Educação Fundamental. Brasília. 1997.

FERREIRO. E. Com todas as letras. Trad. Maria Zilda Lopes. Ed. 11º. São Paulo: Cortez,
2003.

FREIRE, P. A Importância do Ato de Ler: em três artigos que se completam. 47º ed. São
Paulo: Cortez, 2006.

SOARES M. Letramento: um tema em três gêneros. 2ª ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora,
2001.

__________. O que é letramento. Diário do Grande ABC: Santo André, 2003. Disponível em:
http://www.diarionaescola.com.br/29se08.pdf. Acesso em 10/10/2012.

VYGOTSKY L. A construção do pensamento e da linguagem. Trad. Paulo Bezerra. São


Paulo: Martins Fontes. 2001.

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Anotações

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Tel: (55 11) 3385-3000

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