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Suely Rolnik | Privatarchiv / Arquivo particular
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Se o destino das assim chamadas “revoluções do século 20” foi por nós vivido
como uma traição, é porque ainda mantínhamos a crença de que um dia
existiria esta totalidade que designávamos pelo nome de Revolução, herdeira da
ideia monoteista de paraíso. No entanto, o que está acontecendo – não só na
América Latina, mas também em escala internacional – nos lança em outro nível
de lucidez que inclui um saber ético, distinto de uma consciência moral. Deste
ponto de vista, revela-se que “o que pode a esquerda” choca-se contra seu
próprio limite – o limite do regime antropo-falo-ego-logo-cêntrico da cultura
moderna ocidental, do qual ela mesma faz parte.
O INCONSCIENTE COLONIAL-CAPITALÍSTICO
Você criou, há alguns anos, essa noção de “inconsciente colonial”, e vem desde
então trabalhando com ela. Como você definiria essa noção hoje em dia? E por
que passou a denominá-la “inconsciente colonial-capitalístico”?
Para responder à sua pergunta, tenho que falar de dois tipos de experiência que
fazemos no mundo. A primeira é a experiência imediata, baseada na percepção
que nos permite apreender as formas do mundo segundo em seus contornos
atuais – uma apreensão estruturada segundo a cartografia cultural vigente. Em
outras palavras, quando vejo, escuto ou toco algo, minha experiência já vem
associada ao repertório de representações de que disponho e que, projetado
sobre este algo, lhe atribui um sentido. Este modo de congnição é indispensável
para a existência em sociedade, porém essa é apenas uma entre as múltiplas
experiências outras experiências que a subjetividade faz do mundo e que
operam simultaneamente. Trata-se da experiência do que chamamos de
“sujeito”. Em nossa tradição ocidental, confunde-se “subjetividade” com “sujeito”,
porque nesta política de subjetivação, é apenas esta capacidade a que que
tende a estar ativada. No entanto, a experiência que a subjetividade faz do
mundo é potencialmente muito mais ampla, múltipla e complexa.
A figura de Hannah Arendt me inspira para lidar com a expêriencia tão difícil que
estamos vivendo no planeta, especialmente na América Latina, que é a
realidade que vivo mais diretamente. Quando Arendt esteve presente no
julgamento de Eichmann [Eichmann em Jerusalém: Um estudo sobre a
banalidade del mal], em vez de se colocar na posição de vítima, invadida pelos
sentimentos de ódio e ressentimento, ela conseguiu manter-se em contato com
os afetos do mal-estar, que haviam irrompido em seu corpo pelas forças em
jogo naquela cena, que além do mais a conecatavam com a memória do corpo
de sua experiência mais direta com a violência do nazismo em sua passagem
pelo campo de concentração. Por haver mantido ativo o pensamento, a fim de
decifrar os afetos do nazismo em sua própria subjetividade, afastando os
sentimentos tóxicos causados pelo medo, Arendt conseguiu identificar a origem
do mal justamente na ausência de pensamento. Foi assim que ela salvou a si
mesma do destino nefasto que estes efeitos poderiam ter gerado em sua
subjetividade, que seria precisamente o colapso de sua capacidade de pensar.
Com esta operação, atualizada em sua obra, ela expandiu a possibilidade de
resistirmos ao colapso que a violencia tende a nos causar, especialmente a
violencia de Estado.
Sua atitude, como tantas outras que tenho encontrado no transcurso de minha
existencia, contribui para que eu não me deixe paralizar pela situação que
estamos vivendo. Como comentei no início de nossa conversa, estou, ao
contrário, muito atenta e mobilizada para decifrá-la e, a partir daí, afinar minhas
palavras e as estratégias de ação nos usos que faço delas, seja em textos,
conferências, aulas ou laboratórios. Tenho mantido um diálogo constante com
pessoas e grupos, não só do Brasil, que estão pensando o atual estado de
coisas, e inventando maneiras de enfrentá-lo: são práticas que incidem na
dimensão micropolítica da existência coletiva e que não páram de proliferar.
Elas nos oferecem condições favoráveis para problematizar e ressignificar a
palavra resistência, que ainda pode nos servir para qualificar a força das ações
de desmontagem do intolerável, já que por ora não dispomos de uma palavra
que tenha mais sintonía com o tipo de ativismo que vem sendo praticado.
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