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Paidéia

set-dez. 2010, Vol. 20, No. 47, 421-430

Revisão crítica da literatura


Adolescência e organização de personalidade borderline: caracterização
dos vínculos afetivos1
Aline Bedin Jordão2
Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria-RS, Brasil
Vera Regina Röhnelt Ramires
Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo-RS, Brasil
Resumo: A demanda clínica atual inclui um número significativo de pacientes borderlines. Esse estudo buscou realizar uma
revisão de literatura abrangente e não sistemática sobre os vínculos afetivos de adolescentes com indicadores de personalidade
borderline. Foram consultadas bases de dados nacionais e internacionais, privilegiando-se publicações a partir de 1995, no
referencial psicanalítico. Os estudos encontrados foram discutidos em três grupos: adolescência e cultura contemporânea,
características da organização borderline na adolescência e vínculos afetivos desses adolescentes. Discute-se a importância
dos vínculos de apego inseguro, a questão da psicopatologia materna e o papel das experiências traumáticas na história de
vida desses pacientes.
Palavras-chave: adolescentes, comportamento de apego, distúrbio da personalidade borderline.

Adolescence and borderline personality disorder: characterization of affective bonds


Abstract: Currently, there are a large number of borderline patients in health services. This is a comprehensive and non-
systematic literature review on adolescents’ emotional bonds and borderline personality disorder. National and international
databases were searched, and publications addressing the psychoanalytic theory since 1995 were analyzed. The identified
studies were discussed in three groups: adolescents and contemporary culture; features of borderline organization in
adolescence; and adolescents’ affective ties. The importance of insecure attachment, maternal psychopathology and the role
of traumatic experiences in these patients’ lives are discussed.
Keywords: adolescents, attachment behavior, borderline personality disorder.

Adolescente y transtorno de personalidad limitrofe: caracterización de los


vínculos afectivos
Resumen: Hoy la demanda clinica incluye muchos pacientes borderline. Este estudio realiza una revisión exhaustiva y no
sistemática de la literatura sobre los vínculos emocionales de los adolescentes borderline. Se consultó a las bases de datos
nacionales e internacionales, con preferencia a las publicaciones a partir de 1995, en las referencias psicoanalíticas. Los
estudios se examinaron en tres grupos: los adolescentes y la cultura contemporánea, las características de la organización
borderline en la adolescencia y vínculos emocionales de los adolescentes. Se discute la importancia del apego inseguro, la
psicopatología materna y el papel de las experiencias traumáticas en la historia de la vida.
Palabras clave: adolescente, conducta de apego, trastorno de personalidad limitrofe.

Este artigo apresenta uma revisão de literatura abran- com períodos anteriores em que as psiconeuroses eram pre-
gente e não sistemática sobre o tema dos vínculos afetivos dominantes. Além disso, o interesse pelo tema alicerça-se
estabelecidos entre adolescentes com indicadores de organi- no pressuposto de que o desenvolvimento psicológico acon-
zação de personalidade borderline e seus pais (ou principais tece em uma matriz intersubjetiva e os vínculos familiares
cuidadores). Vários autores, entre eles Green (1977) e Ou- ocupam, portanto, um lugar de destaque neste processo
teiral (1993), referem que a demanda clínica atual inclui um (Berenstein, 2003; Kaës, Faimberg, Enriquez, & Barane,
número significativo de pacientes borderlines, em contraste 1993/2001).
Kernberg (1995) identifica três grandes organizações
estruturais correspondentes à personalidade neurótica, bor-
derline e psicótica. Na organização borderline descreve uma
1
Este trabalho é derivado da Dissertação de Mestrado defendida pela falta constitucional de autonomia primária, baixa tolerância à
primeira autora, sob a orientação da segunda, no Programa de Pós-
graduação em Psicologia Clínica da Universidade do Vale Rio dos Sinos, ansiedade, importante desenvolvimento dos impulsos agres-
São Leopoldo, RS. Este texto foi revisado segundo Acordo Ortográfico da sivos e vivências de uma realidade excessivamente frustran-
Língua Portuguesa (1990), em vigor a partir de 1º de janeiro de 2009. te. Para esse autor, três critérios estruturais, correspondentes
2
Endereço para correspondência:
Aline Bedin Jordão. Clínica de Estudos e Intervenções em Psicologia
à organização intrapsíquica, permitiriam o diagnóstico psi-
(CEIP) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Rua Floriano codinâmico da organização de personalidade borderline: a
Peixoto, 1750. Prédio de Apoio da Universidade Federal de Santa Maria. difusão da identidade, o predomínio de defesas baseadas na
Térreo, sala 01. CEP 97.015-372. Santa Maria-RS, Brasil. E-mail:
alinejor@terra.com.br dissociação e a conservação da prova de realidade.

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Critérios adicionais descritos por Kernberg (1995) in- afetivos e a organização de personalidade borderline foram
cluem manifestações não específicas de fragilidade egóica incluídos, independentemente do ano de sua publicação.
(falta de tolerância à ansiedade, controle de impulsos e capa- Quanto aos artigos, priorizaram-se publicações a partir do
cidade de sublimação), graves perturbações nas relações de ano de 1995.
objeto, e sintomas neuróticos múltiplos e crônicos (fobias, De acordo com o conteúdo abordado, os estudos en-
obsessões e ansiedade). Incluem também uma falta de inte- contrados foram organizados em três tópicos: adolescência
gração do superego com tendências anti-sociais, predomínio e cultura contemporânea, a organização da personalidade
do processo primário e condensação de conflitos edípicos e borderline na adolescência e as características dos vínculos
pré-edípícos. afetivos dos adolescentes com organização de personalida-
Em termos de diagnóstico descritivo, o Manual Diag- de borderline. Esses tópicos compõem as seguintes seções
nóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (American desse artigo.
Psychiatric Association, 1995) aponta nove critérios para O interesse pela adolescência justifica-se pelo fato de
o “Transtorno de Personalidade Borderline”, sendo cinco que, de acordo com a vertente psicanalítica, o adolescente
suficientes para sua identificação. São eles: um padrão de vivencia situações complexas: desidentificações, neoiden-
relacionamentos interpessoais instáveis e intensos; esforços tificações, difusões identitárias, oscilações entre a busca
frenéticos para evitar um abandono real ou imaginado; per- da dependência e a necessidade de estabelecer sua indivi-
turbação da identidade; impulsividade; ameaças suicidas ou duação, confrontação de gerações, dentre outras. Revisitar
comportamento automutilante; instabilidade afetiva; senti- os ideais narcísicos parentais, diferenciar-se e subjetivar-
mentos crônicos de vazio; raiva e dificuldade para controlar se se afiguram como desafios significativos deste proces-
a raiva; e ideação paranóide transitória. so (Calligaris, 2000; Jeammet & Corcos, 2005; Kancyper,
Em contrapartida, Skodol e cols. (2002), embora reco- 1999). A compreensão dos processos característicos desse
nhecendo as vantagens dos critérios descritivos, salientam período pode subsidiar tanto as intervenções no campo da
que outros importantes aspectos da psicopatologia desse clínica psicológica, como ações de prevenção e promoção
transtorno devem ser incluídos. Entre esses, citam a co-mor- da saúde mental dessa população.
bidade com os transtornos do Eixo I e outras desordens do Além disso, considera-se que o período da adolescên-
Eixo II, além da heterogeneidade dentro do diagnóstico e de cia, por si só, já se configura como uma situação-limite, ten-
outras possíveis características da estrutura da personalida- do em vista todos os enfrentamentos necessários e todas as
de. Esses autores apontam ainda, da mesma forma que Gun- reorganizações subjetivas daí decorrentes. Por caracterizar-
derson (2008), as bases genéticas do transtorno como uma se como um período emocionalmente turbulento, marcado
dimensão a ser considerada nos processos subjacentes à falta por ressignificações e movimentações pulsionais intensas,
de regulação do afeto, ao comportamento impulsivo e aos entende-se que das derivações dessas turbulências é que se-
distúrbios interpessoais, característicos do transtorno. rão definidas as características mais fixas e estáveis da per-
A importância dos distúrbios nos vínculos afetivos da sonalidade (Baird, Veague, & Rabbitt, 2005).
organização de personalidade borderline foi salientada por Jeammet e Corcos (2005), nesse sentido, referem que
diversos autores, como se verá mais adiante. Agrawal, Gun- quanto mais a dependência é evitada e intolerável, social e
derson, Holmes e Lyons-Ruth (2004), em um artigo de re- subjetivamente, mais ela terá que ser expressa em sua for-
visão, demonstraram que muitos estudos concluíram que há ma mais “crua”, mediante os sintomas dos adolescentes
uma forte associação entre apego inseguro e organização de de hoje. Afirmam, ainda, que o terreno psíquico (com suas
personalidade borderline. Isto, para os autores, constituiria representações simbólicas e afetivas) perde para as dimen-
uma direção para futuras pesquisas. sões do campo sensorial e perceptivo nas manifestações da
Nessa linha, essa revisão de literatura foi realizada com adolescência. Assim, as relações de dependência associam-
o objetivo de analisar o tópico dos vínculos afetivos de ado- se com a predominância das “patologias do agir”, tais como
lescentes com indicadores de personalidade borderline. A li- as toxicomanias, o alcoolismo, as condutas autodestrutivas,
teratura revisada insere-se no campo da teoria psicanalítica, o uso abusivo de medicamentos, os transtornos alimentares
em especial no que diz respeito à psicodinâmica dos ado- (anorexia e bulimia) e as demais manifestações borderline.
lescentes com organização borderline e suas famílias, bem A capacidade reflexiva e a possibilidade de simboliza-
como as vicissitudes dos seus vínculos afetivos, em parti- ção aparecem como essenciais no processo adolescente. Dar
cular os de apego. Buscou-se livros e artigos, sendo que as sentido às vivências e nomear as turbulências e mudanças
bases de dados consultadas foram PsycInfo, BVS, SciELO, experimentadas permite uma reestruturação psíquica satisfa-
PEPSIC e Academic Search Premier. Os descritores utiliza- tória �����������������������������������������������������
(Fonagy & Target, 2004; Graña, 2007; Leivi, 1995; Le-
dos para a busca de artigos foram: “organização de persona- visky, 2002; Savietto, 2007; Savietto & Cardoso, 2006). Em
lidade borderline”, “adolescente borderline”, “adolescência se tratando dos adolescentes com organização borderline,
e personalidade borderline”, “vínculos familiares e adoles- toda esta dinâmica revela-se ainda mais intensificada. Adqui-
cência” e “vínculos afetivos e organização borderline”. Os re relevância, portanto, a dimensão da história de vida des-
livros considerados relevantes para análise dos vínculos tes adolescentes, geralmente marcadas por funcionamentos

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Jordão, A. B., & Ramires, V. R. R. (2010). Adolescência borderline: vínculos afetivos.

familiares bastante comprometidos, denotando um contexto precariedade dos mecanismos de simbolização (Figueiredo,
instável, caótico, inseguro. Assim, experiências traumáticas, 2003; Fonagy & Target, 2004; Levisky, 2002; Savietto &
negligências, abusos, violências das mais diversas ordens Cardoso, 2006).
têm sido apontadas como precursores do desenvolvimento Nessa vertente, Roudinesco (2003) salientou a ‘desor-
de uma organização de personalidade borderline na adoles- dem’ em algumas dinâmicas familiares no cenário atual, em
cência (Bradley & Westen, 2005; Carvalho, 2004; Figueire- que a hierarquia parece não ter mais sentido, já que o po-
do, 2003; Reich & Zanarini, 2001; Russ, Heim, & Westen, der se encontra descentralizado, caracterizando uma família
2003; Villa & Cardoso, 2004) e justificam o interesse desse “fraterna”, igualitária. Como conseqüência, aparece o enfra-
estudo. quecimento das referências parentais e a diluição dos limites
e das regras, o que, muitas vezes, se traduz em desamparo,
Adolescência e cultura contemporânea sobre-excitação e tendência a descargas afetivas na adoles-
cência (Savietto, 2007).
Para além das questões intrapsíquicas e intersubjeti- Pode-se associar estas situações com as manifestações
vas, fundamentais para a constituição de uma personalidade borderline, tendo em vista que nos adolescentes com este
saudável, a literatura também discute a influência da cultura funcionamento a vivência afetiva apresenta-se desorgani-
contemporânea neste processo e suas interferências nas vi- zada, com vinculações afetivas comprometidas, senso de
vências da adolescência. O tempo contemporâneo é marcado identidade fragilizado e dinâmicas familiares marcadas por
pelo instantâneo, pela superficialidade e pelo imediatismo apegos do tipo inseguro. Além disso, as atuações (acting
que (des)estrutura as relações (Cardoso, 2005; Figueiredo, out) aparecem em relevo, podendo-se associar à insufici-
2003; Justo, 2005). ência na rede de apoio e na sustentação afetiva percebida
Soma-se a isso a questão de que, culturalmente, ser por estes adolescentes para o desenvolvimento de seu self
adolescente é um ideal e a mídia contribui significativamen- (Bradley & Westen, 2005; Fonagy & Target, 2000; Graña,
te para a representação deste ideal: ser jovem, transgredir, 2007; Levy, 2005). Quando tais características contextuais
não ter limites, estar “fora da lei” (Calligaris,
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2000; Saviet- estarão associadas à organização de personalidade border-
to, 2007). Assim,
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as barreiras intergeracionais cada vez di- line na adolescência? Essa possibilidade é apresentada nos
minuem mais, o que deixa o adolescente em uma situação estudos discutidos a seguir.
de desamparo, sem uma figura de adulto para se identificar
(Jeammet & Corcos, 2005). Kehl (2003), discutindo o fe- Adolescência e organização de personalidade
nômeno de “teenagização da cultura ocidental” e das mu- borderline
danças nas configurações familiares, refere que o abandono
das crianças e adolescentes de hoje ocorre quando os adultos Há muitas controvérsias no que se refere às definições
responsáveis não sustentam sua diferença diante deles, não de “condições psicopatológicas” no período da adolescên-
lhes conferindo um lugar. Tal situação resulta na fragilidade cia, já que é muito sutil a barreira que separa o “normal”
da transmissão de parâmetros éticos para as novas gerações. e o “patológico” neste momento evolutivo. O adolescente
Com efeito, o “fenômeno borderline” articula-se ao está ainda em processo de formação de sua personalidade,
contexto da atualidade, tendo em vista este mal-estar con- bastante atravessado pelo contexto em que se encontra – por-
temporâneo, marcado por uma cultura cada vez mais com- tanto torna-se difícil falar em “estrutura” ou “transtorno de
petitiva, individualista e narcísica. Como conseqüência, personalidade”.
aparece o “desenraizamento” do ser humano e o aumento Enquanto alguns autores são categóricos em caracteri-
de seu desamparo. O adolescente borderline, assim, busca zar transtornos de personalidade na infância e adolescência
um lugar de acolhimento cada vez mais difícil de encontrar (Kernberg, 1990, 2003), outros, como Giovachinni (1993),
(Cardoso, 2005; Figueiredo, 2003; Hegenberg, 2000). Todos Masterson (1993) e Outeiral (1993) definem as situações
estes fatores, somados à proliferação da violência nos mais patológicas na adolescência como “estados” ou “organiza-
diversos âmbitos (urbano, familiar, institucional), à crise de ções”. Nesta mesma linha, Bergeret (1996/1998) postula as
valores éticos e às novas configurações familiares não po- anestruturações.
dem ser desprezados quanto às suas implicações em termos A questão da possibilidade diagnóstica da persona-
de sofrimento psíquico e repercussões nos vínculos afetivos lidade borderline na adolescência (e suas manifestações)
durante a adolescência (Birman, 2005; Levisky, 2002; Rou- tem sido o foco de alguns estudos (Bleiberg, 1994; Bradley,
dinesco, 2003; Savietto, 2007; Savietto & Cardoso, 2006). Zittel, & Westen, 2005; Chabrol, Chouicha, Montovany, &
Diante desse panorama, os pais encontram-se “des- Callahan, 2001; Chabrol e cols., 2004; Crick, Murray-Close,
mapeados” e, conseqüentemente, os filhos “desamparados” & Woods, 2005; Paris, 2005). Essas pesquisas sugerem que
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Savietto, 2007; Savietto & Cardoso,
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2006). Como repercus- se deve considerar seriamente o diagnóstico de personalida-
são, aparece o acréscimo das manifestações psicopatológi- de borderline na adolescência sempre que os pacientes apre-
cas entre os adolescentes, expressas por meio do registro do sentarem as características clássicas desta desordem.
ato (atuações) e da convocação do corpo, o que supõe uma

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Os sintomas mais freqüentes encontrados nestes ado- mostra-se fundamental nos adolescentes com esta organi-
lescentes, segundo a pesquisa de Chabrol e cols. (2001), fo- zação de personalidade (Agrawal e cols., 2004; Bradley &
ram ideação paranóide ou sintomas dissociativos (97,1%), Westen, 2005; Kernberg, 2003; Westen, Muderrisoglu,
instabilidade afetiva (88,6%), sentimento intenso de rai- Shedler, Fowler, & Koren, 1997).
va (85,6%), comportamentos autodestrutivos ou suicidas A questão do senso de identidade dos adolescentes
(82,9%), esforços imensos para evitar o abandono (77%), borderline é explorada em vários estudos (Bradley & Wes-
impulsividade (65,7%), relacionamentos instáveis e inten- ten, 2005; Bradley, Zittel e cols., 2005; Fonagy & Target,
sos (62,9%), distúrbio da identidade (60%), e o sentimento 2000; Kernberg, 1995). Os autores afirmam que a falta de
de vazio (57,1%). Dessa forma, apesar do continuum entre uma identidade integrada é uma característica essencial na
normalidade e patologia na adolescência, a personalidade organização borderline de personalidade, repercutindo na
borderline parece representar uma situação específica nes- experiência subjetiva de vazio crônico e percepções de si
te período (Bradley, Jenei, & Westen, 2005; Crick e cols., e dos outros contraditórias, empobrecidas e superficiais. O
2005; Kernberg, 2003; Paris, 2005). self é visto como inadequado, não-louvável e indigno pelos
No que remete à concepção psicodinâmica da organiza- adolescentes borderline. Além disso, estes adolescentes refe-
ção de personalidade borderline na infância e adolescência, os rem se sentir como um estranho, inferiorizados, impotentes,
autores tendem a ter um consenso sobre este funcionamento enxergando-se como permanentemente danificados, fragili-
psíquico e sobre suas vicissitudes. Assim, pensa-se em uma zados, “do mal”. Disso decorre a sensibilidade à rejeição, o
personalidade marcada por fragilidades nas vinculações afe- temor à solidão e o conflito entre uma desesperada necessi-
tivas, uso de defesas primitivas, dificuldades acentuadas no dade de conexão com os outros (para regular seus afetos e
processo de individuação, difusão de identidade (falta de in- seus medos) e os sentimentos de raiva e ódio, decorrentes
tegração do conceito de self e de outros significativos) e nível de sensações de rejeição, incompreensão ou vitimização por
de operações defensivas primitivas (centradas no mecanismo parte destes adolescentes (Bradley e cols., 2005; Bradley &
de clivagem e identificação projetiva). Soma-se a isso a falta Westen, 2005; Gunderson, 1996; Putnam & Silk, 2005).
constitucional de autonomia primária, a baixa tolerância à Kernberg (1995) levanta o questionamento relativo às
ansiedade, o excessivo desenvolvimento de impulsos agres- dificuldades em diferenciar os graus normais e patológicos
sivos e a vivência de uma realidade que produz excesso de de difusão de identidade na adolescência. O autor conclui
frustração nestes adolescentes (Baird e cols., 2005; Bradley que a diferença está na “capacidade do adolescente não-bor-
& Westen, 2005; Cardoso, 2005; Graña, 2007; Kernberg, derline de experenciar a culpa e preocupação, de estabelecer
1995; Kernberg, Selzer, Koenigsberg, Carr, & Appelbaum, relações interpessoais duradouras e não-exploradoras (...) e
1991; Levy, 2005; Maranga, 2002). de avaliar realisticamente e em profundidade as pessoas” (p.
Destacam-se, ainda as dificuldades nos relacionamen- 53). Assim, os sujeitos borderline, no final da adolescência,
tos interpessoais (acentuadamente conturbados e instáveis), se diferenciam por não realizarem as tarefas desenvolvimen-
as angústias de cunho depressivo (depressão narcísica) e um tais típicas dessa etapa, especialmente a consolidação de um
funcionamento marcadamente impulsivo e atuador. A intole- senso de identidade do ego, a afirmação da identidade se-
rância à frustração, a precariedade na capacidade sublimató- xual, o afrouxamento dos laços com as figuras parentais e a
ria, a falta de constância objetal e as falhas narcísicas estão superação da regência pelo superego infantil.
presentes nesta dinâmica, acarretando graves perturbações Diante da complexidade dos aspectos representacionais
na construção identitária e nas relações de objeto (deno- e das vicissitudes da constituição psíquica dos adolescentes
tando uma indiscriminação self-objeto). A tênue integração borderline, constata-se a importância da compreensão de
do superego também é um fator relevante, resultando em suas experiências e história familiar, além das relações exis-
tendências anti-sociais e predomínio do processo primário tentes entre as características das vinculações afetivas entre
(Agrawal e cols., 2004; Bradley & Westen, 2005; Bradley e pais e filhos e os padrões de apego estabelecidos e a sua saú-
cols., 2005; Cardoso, 2005; Carvalho, 2004; Diguer e cols., de mental e/ou psicopatologia. Os estudos identificados nes-
2004; Figueiredo, 2003; Kernberg, 2003; Outeiral, 1993; Vaz sa categoria são apresentados a seguir.
& Santos, 2006; Villa & Cardoso, 2004; Westen, Ludolph,
Lerner, Ruffins, & Wiss, 1990; Zilberleib, 2006). Os vínculos afetivos dos adolescentes com
Além disso, estão presentes dificuldades em reconhe- organização de personalidade borderline
cer, diferenciar e integrar emoções, assim como representa-
ções fragmentadas e malevolentes de si e dos outros, além de A história familiar e os vínculos afetivos ocupam um
características comportamentais – suicídio e auto-agressão, lugar de destaque na psicodinâmica dos adolescentes bor-
uso de substâncias, bulimia. Tais situações trazem, como derline. A literatura tem enfatizado os antecedentes desen-
conseqüências, confusões de pensamentos e sentimentos, volvimentais dessa organização de personalidade, discutindo
dificuldades com os limites, fronteiras frágeis, fluidas e di- o papel das experiências traumáticas, como abuso sexual e
ficuldades em manter relações íntimas e duradouras com físico, história de prolongadas separações precoces e perdas
as pessoas. Nesse sentido, a gestão das tormentas afetivas parentais (como divórcio, doenças, viagens), exposição a

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Jordão, A. B., & Ramires, V. R. R. (2010). Adolescência borderline: vínculos afetivos.

atitudes parentais dominadoras, frias afetivamente e sádicas, Target, Gergely, Allen, & Bateman, 2003). Segundo eles, a
marcadas por negligência emocional, superproteção e con- diminuição da capacidade reflexiva destes pacientes dá-se
trole excessivo. Nessa senda, aparece um contexto familiar em função dos padrões de apego inseguro em seus vínculos
instável e caótico, marcado por ansiedade de separação, ne- parentais, a partir de vivências de relações objetais primárias
gação da autonomia dos filhos e um modelo de comunicação comprometidas (em especial na fragilidade da função espe-
baseado em atuações (em detrimento das palavras). Geral- cular que deveria ter sido exercida pelos cuidadores). Dessa
mente, trata-se de interações afetivas patológicas (diádicas, forma, os “maus-tratos” sofridos por estes pacientes impe-
narcísicas, superprotetoras e/ou negligentes), relacionadas a dem a “mentalização” já que se torna perigoso reconhecer a
padrões de apego inseguro (Agrawal e cols., 2004; Bradley intenção dos pais, pois isso faz com que se sintam sem valor,
& Westen, 2005; Cardoso, 2005; Fruzzetti, ��������������
Shenk, & Hoff- não dignos de amor. Assim, acabam tornando-se hipervigi-
man, 2005; Graña, 2007; Hegenberg, 2000; Kernberg, 2003; lantes em relação aos outros, tentando adaptar-se a eles, mas
Levy, 2005; Maranga, 2002; Outeiral, 1993; Zanarini e cols., sem conseguir apreender seus próprios estados mentais.
1997). No que se refere à associação da organização borderli-
As pesquisas sobre o funcionamento dos adolescentes ne com um contexto de relações familiares comprometidas,
borderline e suas famílias têm privilegiado o uso de métodos algumas pesquisas discutiram o papel das funções maternas
quantitativos. Trata-se, predominantemente, de trabalhos in- e paternas nas manifestações deste sofrimento. A transmis-
ternacionais. É freqüente o uso de questionários para a com- são intergeracional de estilos parentais já foi salientada por
preensão das características e dificuldades inerentes a esta Weber, Selig, Bernardi e Salvador (2006).
organização de personalidade (Barone, 2003; Bernstein,
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Co- Um dos problemas centrais dos pacientes borderline
hen, Skodol, Bezirganian, & Brook, 2002; Chabrol e cols., seria a falha no desenvolvimento da constância objetal e a
2004; Harvey & Byrd, 2000; Helgeland & Torgerser, 2004; incapacidade de evocar imagens positivas e confortantes
Nickell, Waudby, & Trull, 2002; Reich & Zanarini, 2001; dos outros diante de situações ansiogênicas. Tais dificulda-
Rosenstein & Horowitz, 1996; Russ e cols., 2003). des seriam resultantes das inconsistências maternas (falhas
Por outro lado, algumas pesquisas qualitativas têm ambientais) e falta de empatia em relação à criança. A psi-
contribuído para o estudo dessa temática, possibilitando copatologia borderline derivaria, então, da ineficácia na in-
uma análise em profundidade de sua psicodinâmica. Aí se trojeção de um holding adequado e tranquilizador, pela falta
situam as pesquisas com materiais clínicos (artigos teórico- de um ambiente cuidador e protetivo, resultando em uma
clínicos) e com utilização de técnicas projetivas (Romaro intensa ansiedade de separação e ameaça de aniquilamento
& Loreiro, 1997; Silva & Yazigi, 2004; Westen, Ludolph, (Adler & Buie, 1979; Beresin, 1994; Bleichmar, 1993/1994;
Lerner, Ruffins, & Wiss, 1990; Zilberleib, 2006). Fonagy e cols., 2003; Reich & Zanarini, 2001).
Estudos de revisão de literatura também têm trazido Levy (2005) realizou uma revisão de pesquisas acerca
acréscimos na elucidação das questões que permeiam a psi- das implicações dos vínculos afetivos para a organização da
codinâmica dos adolescentes borderline e seus estilos de personalidade borderline. O autor concluiu que há evidências
vinculações afetivas (Baird e cols., 2005; ��������������
Bradley & Wes- substanciais sugerindo alguns fatores de risco para o desen-
ten, 2005; Fruzzetti, Shenk, & Hoffman, 2005; Lenzenwe- cadeamento desse quadro: vida familiar caótica, acrescida de
ger & Cicchetti, 2005). Dentre as pesquisas teóricas sobre alto nível de estresse parental e comunicações disruptivas en-
o tema, algumas têm focalizado as dimensões das relações tre os cuidadores e as crianças. Tais fatores interagem com o
de apego destes pacientes (Agrawal e cols., 2004; Barone, temperamento e predisposições genéticas como impulsivida-
2003; Bateman & Fonagy, 2003; Holmes, 2003, 2004; de, afeto negativo e propensão à agressão. A relação entre os
Levy, 2005). fatores constitucionais e ambientais precisa ser considerada,
Na linha de estudos qualitativos, a partir da utilização portanto, no entendimento do funcionamento borderline.
do TAT (Teste de Apercepção Temática) e do Rorschach, al- Grande parte das pesquisas que tratam de relacionamentos
guns autores têm tratado das dimensões da identidade e das pais-filhos em adolescentes borderline utilizam-se, enquanto
relações objetais dos pacientes borderline,������������������
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sugerindo um fun- embasamento, da teoria do apego, a partir dos pressupostos de
cionamento permeado por fragmentações, desvalorizações, Bowlby (1979/1997, 1976/1995), Ainsworth (1989) e Main
manipulações, necessidade de gratificações dos objetos, im- (1988). Por exemplo, Nickell e cols. (2002) realizaram um
pulsividade e dificuldades egóicas. Além disso, tendência estudo que mostrou que o vínculo afetivo e o estilo de apego
a pensar de forma egocêntrica, apresentando dificuldades – especialmente apego inseguro, ansioso ou ambivalente, e
em diferenciar a sua perspectiva da dos outros (Romaro & a percepção de uma relativa falta de cuidado e proteção da
Loireiro, 1997; Silva & Yazigi, 2004; Vaz & Santos, 2006; figura materna – estão associados com organizações border-
Westen e cols., 1990; Zilberleib, 2006). line na infância e adolescência. A conclusão dessa pesqui-
Alguns autores discutem as dificuldades na capacidade sa foi que os pacientes borderline apresentam dificuldades
de mentalização (reconhecimento do estado mental do ou- na esfera das relações íntimas e conflitivas no que se refere
tro e do seu próprio estado mental) por parte dos pacientes à dinâmica dependência versus distanciamento afetivo das
borderline (Fonagy, 2000; Fonagy & Target, 2000; Fonagy, pessoas. Mais especificamente, as disfunções nos padrões de

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apego refletem dificuldades em manejar a ansiedade, o que expressaria a partir de atuações e descargas, em detrimento
afeta as relações interpessoais e pode se manifestar como das representações e simbolizações (Bleichmar, 1993/1994;
instabilidade afetiva, sentimentos extremos de raiva e ódio e Fonagy e cols., 2003; Graña, 2007; Outeiral, 1993). Daí
comportamentos autodestrutivos. decorrem as dificuldades nos vínculos afetivos dos adoles-
Em concordância, para Atienza e Rodríguez (2004) o ���
es- centes borderline: tornam-se invasivos, provocativos, sem
tilo de apego desorganizado tem sido o mais consistentemen- limites claros entre o eu e o outro e buscam testar as pessoas
te associado com psicopatologia na infância e adolescência, com as quais se relacionam a fim de se certificarem dos vín-
estando relacionado com o desenvolvimento da organização culos (André, 2004; Villa & Cardoso, 2004).
borderline. Crianças e adolescentes com este estilo de apego A organização borderline de personalidade também tem
apresentam condutas confusas e desordenadas, dificuldades sido relacionada a experiências traumáticas vivenciadas na
de separação em relação à figura de apego, ausência de es- infância (Baird e cols., 2005; Fonagy e cols., 2003; Reich &
tratégias na busca de conforto diante de situações de estresse Zanarini, 2001). Ainda existem controvérsias no que diz res-
e atitudes ambivalentes e evitativas. Suas mães com freqü- peito a esta associação: enquanto alguns estudos têm apon-
ência foram vítimas de traumas, sendo ansiosas e temerosas. tado uma relação bastante significativa entre experiências de
Projetam seus medos nas circunstâncias atuais e são inca- trauma e o desenvolvimento de personalidade borderline,
pazes de reconhecer as demandas de seu filho, oferecendo outros têm buscado romper com esta associação.
respostas inconsistentes. Os autores referem, ainda, que as No primeiro grupo, já foi referido que a parentalidade
conseqüências deste padrão de apego são pouco conhecidas, inapropriada ou negligente e as experiências traumáticas
mas que se associa com ambientes familiares marcados por estão associadas à etiologia do borderline. Abusos (físicos
fatores de risco aumentados, como depressão materna, con- e sexuais), negligências, cuidados parentais empobrecidos,
flitos maritais ou maus-tratos e abuso. ambiente emocional primitivo imprevisível, psicopatolo-
Agrawal e cols. (2004) corroboram a afirmação de que gia parental, alcoolismo parental, assim como déficits nos
relações de apego inseguro (principalmente do tipo desorga- fatores protetivos (talentos artísticos, desempenho escolar,
nizado), durante a infância, mostram-se como um fator de habilidades) podem contribuir substancialmente para o de-
risco significativo para a personalidade borderline, tendo em sencadeamento da personalidade borderline (Barone, 2003;
vista que todos os estudos por eles revisados associam o diag- Beresin, 1994; Bradley, Jenei, & Westen, 2005; Fruzzetti e
nóstico de personalidade borderline com estilos de apego in- cols., 2005; Helgeland & Torgerser, 2004; Nickell e cols.,
seguro. Porém, alertam para o fato da existência de diversos 2002; Reich & Zanarini, 2001; Russ e cols., 2003).
instrumentos que se prestam a medir e avaliar o apego, o que Por outro lado, discutindo a relação de causalidade entre
faz com que a subclassificação de apego inseguro varie entre as duas variáveis, abuso sexual e personalidade borderline,
as pesquisas (evitativo, preocupado, não-resolvido, desorga- algumas pesquisas discutem o fato de que um significativo
nizado e temeroso são os mais citados). percentual dos pacientes avaliados como sendo borderline
Além disso, estudos têm avaliado o papel da negligên- não tiveram situações de abuso físico e/ou sexual em sua in-
cia e da superproteção na infância dos pacientes borderline, fância. Deste modo, a evidência disponível não sustenta este
além das representações parentais destes pacientes (Hallie fator (abuso) ou outros fatores ambientais como suficientes
& Paris, 1991; Levy, 2005; Nickel e cols., 2002). Destacam- para explicar o desenvolvimento de personalidade borderli-
se, nesse sentido, as percepções contraditórias, fragmentadas ne (Bradley, Jenei e cols., 2005; Fruzzetti e cols., 2005; Za-
e conflitivas em relação aos pais. As mães geralmente são narini e cols., 1997).
vistas como pouco carinhosas e pouco cuidadoras, altamente Dessa forma, a presença de alguma forma de violência é
controladoras, com altos níveis de encorajamento de auto- um fator relevante na etiologia do borderline, mas tais ocor-
nomia e alta permissividade, o que acaba refletindo em uma rências durante a infância parecem contribuir parcialmente
representação de falta de controle parental. Assim, famílias na predição da personalidade borderline, dependendo da
não abastecedoras, instáveis, imprevisíveis e com história influência do ambiente familiar. A psicopatologia parental,
de abuso intrafamiliar foram associadas ao desenvolvimen- bem como os cuidados parentais, parecem ter efeitos mais
to da organização borderline em adolescentes (Lyons-Ruth, significativos no desenvolvimento dessa organização de per-
Yellin, Melnick, & Atwood, 2005; Reich & Zanarini, 2001; sonalidade.
Westen e cols., 1990; Zanarini e cols., 1997).
Aponta-se, ainda, que as falhas ocorridas durante a Considerações finais
constituição psíquica destes adolescentes associam-se às suas
interações precoces, podendo estar relacionadas às falhas na Algumas reflexões se destacam a partir da literatura re-
constituição psíquica da própria mãe. O fracasso da conste- visada. Em primeiro lugar, as características da cultura e da
lação narcisista da mãe impediria que ela pudesse exercer a sociedade contemporânea parecem constituir, muitas vezes,
função de objeto materno narcizizante, não conseguindo dar um terreno fértil para a potencialização de alguns aspectos
sentindo às experiências do bebê. Assim, as vivências não que, como vimos, estão presentes na dinâmica da organiza-
conseguiriam se transformar em experiências, e o sujeito se ção borderline. A ênfase no individualismo, no narcisismo, a

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indiferenciação entre as gerações e a fragilização dos víncu- elucidação. O fato de se tratar de uma revisão não sistemáti-
los afetivos são condições que podem facilitar a emergência ca contribui para essa limitação.
de manifestações de sofrimento psíquico, incluindo aquelas Entretanto, a importância dos vínculos afetivos para
situadas no espectro dos estados limítrofes. a organização de personalidade borderline foi identificada
Neste panorama, o sofrimento psíquico dos adolescen- na literatura revisada, respondendo ao objetivo do presente
tes tem se mostrado predominantemente associado com fe- estudo. As pesquisas têm explorado especialmente as carac-
nômenos de passagens ao ato. Dentre essas manifestações, terísticas dos vínculos de apego desses indivíduos, identi-
os funcionamentos borderline vêm ganhando largo espaço, ficando uma associação entre organização de personalidade
diante da instabilidade, vulnerabilidade, incertezas e inse- borderline e apego inseguro, especialmente do tipo inseguro
guranças decorrentes do contexto social e familiar atual. O desorganizado.
desamparo, a falta de ancoragem simbólica e as desestrutu- Há resultados que apontam também para a importância
rações cada vez mais intensas dos vínculos têm contribuído, da presença de psicopatologia materna na história familiar
em alguma medida, para tais sofrimentos. desses casos, e algumas controvérsias sobre o papel que ocu-
Destacam-se, nestas organizações, as dificuldades na pam as experiências traumáticas eventualmente presentes.
identidade e nas relações objetais. Além disso, uma psicodi- Esses aspectos reforçam a importância dos vínculos afeti-
nâmica em que habitam situações de descontroles afetivos, vos, na medida em que contribuem sobremaneira para a sua
sentimentos de raiva e ódio, intolerância à frustração e à so- configuração.
lidão e fragilidades na capacidade reflexiva. A partir da revisão realizada, percebe-se que a questão
É importante destacar a dificuldade e a cautela que se dos vínculos afetivos especificamente dos adolescentes ain-
faz necessária ao se considerar a hipótese de uma organiza- da é pouco discutida, carecendo de mais pesquisas. O que
ção de personalidade borderline na adolescência. O fato de se tem sugerido, nesse ponto, é que a história familiar dos
tratar-se de um período de transição, marcado por flutuações adolescentes com organização borderline é freqüentemente
e imprecisões, e por um reordenamento pulsional e reorgani- marcada por situações de desamparo, fragilidades no supor-
zação da identidade, comportamento impulsivo, entre outros te familiar, vivências de abusos das mais diversas ordens e
aspectos, justifica essa cautela e os estudos revisados deixam dinâmicas familiares bastante instáveis, desorganizadas, em
isso evidente. que predominam estilos de apego inseguro. A falta de coe-
Embora a literatura existente sobre as organizações bor- rência e de estabilidade na identidade e nas relações objetais
derline na infância e na adolecência venha ganhando desta- e as fragilidades nos vínculos afetivos desses jovens parecem
que no contexto científico, ainda muito do que se sabe sobre ser suas características mais marcantes.
esse modo do funcionamento é fruto de investigações com Embora alguns estudos tenham se dedicado à relação
pacientes adultos. Nesse sentido, urge a necessidade de mais entre a organização borderline e os padrões de apego na in-
pesquisas acerca desse tema, com estas populações, a fim de fância e adolescência, permanece a necessidade de se com-
proporcionar maiores esclarecimentos sobre suas caracterís- preender em que medida e de que forma as histórias de vida
ticas e vicissitudes. e as características dos vínculos afetivos destes adolescentes
Soma-se a isso a constatação de que a maioria dos es- contribuem para as manifestações desse sofrimento. Ou seja,
tudos que se debruçaram sobre esse tema é oriunda de fon- examinar como e em que medida as relações objetais destes
tes internacionais, carecendo-se, dessa forma, de pesquisas adolescentes se interligam com o desenvolvimento de uma
com as crianças e adolescentes brasileiros com organização organização borderline de personalidade. Estudos longitudi-
borderline de personalidade. Além disso, os métodos quan- nais poderiam beneficiar esta discussão.
titativos predominam na literatura referente a essa temática,
buscando elucidar os principais fatores desencadeantes desse Referências
funcionamento e os instrumentos que se prestam a medir as
características do mesmo. Adler, G., & Buie, D. H. (1979). Aloneness and borderline
Sem deixar de considerar as contribuições que tais es- psychopathology: The possible relevance of child
tudos têm trazido, ressalta-se a importância de explorações developmental issues. International Journal of
qualitativas, prezando pelo estudo aprofundado de casos e Psychoanalisis, 60, 83-96.
compreensão das singularidades dessa organização de perso- Agrawal, H. R., Gunderson, J., Holmes, B. M., & Lyons Ruth,
nalidade na infância e adolescência. Assim, estudos clínicos K. (2004). Attachment studies with Borderline patients:
poderiam oferecer uma contribuição fundamental. A review. Harvard Review of Psychiatry, 12, 94-104.
Deve-se salientar algumas limitações da presente revi- Ainsworth, M. D. (1989). Attachments beyond infancy.
são de literatura. A opção por determinadas bases de dados, American Psychologist, 44, 709-716.
e por um referencial teórico em particular, pode ter deixado American Psychiatric Association. (1995). DSM-IV: Manual
de lado estudos que abordaram essa mesma temática a partir Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (D.
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