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Florestal
Marcelo Otone Aguiar 1, Diego Piva Cezana 1, Giovanni Correia Vieira 1, Antonio Almeida de
Barros Junior 1, Gilson Fernandes da Silva 1, Adriano Ribeiro de Mendonça 1
1
UFES – Universidade Federal do Espírito Santo. E-mail: marcelootone@gmail.com
Resumo
A colheita e o transporte florestal possuem um dos maiores custos da madeira posta nos pátios
das indústrias. Devido ao elevado custo dessas atividades, o planejamento é de fundamental
importância para reduzi-los e também, para minimizar as falhas que ocorrem no processo que
causam atrasos na entrega dos produtos ou serviços. Dado os custos e as dificuldades inerentes
no planejamento desta atividade, o objetivo desse trabalho é propor um modelo de otimização
baseado no Problema de Roteamento de Veículos (PRV), capaz de minimizar o custo total da
colheita e o transporte florestal. Para análise do modelo, foram realizados testes com dados
reais obtidos de uma empresa do setor florestal. Como resultados, são apresentados dois
cenários em que foi possível avaliar o uso do modelo proposto que se mostrou satisfatório para
o problema.
1. Introdução
A colheita e o transporte florestal possuem um dos maiores custos da madeira posta nos pátios
das indústrias (MACHADO; LOPES, 2000, apud Andrade, 1998). O planejamento da colheita
segundo Mitchell (2004) tem por objetivos determinar quando colher os povoamentos, definir quais
frentes de colheitas vão colher cada povoamento e qual a sequência de colheita desses povoamentos.
Em grandes empresas este tipo de atividade é uma tarefa dispendiosa e que exige o uso de
ferramentas adequadas para a sua realização. Dentre as diversas ferramentas disponíveis, aquelas
pertencentes ao campo da pesquisa operacional (PO) mostram-se como boas alternativas, uma vez que
podem auxiliar os gestores na tomada de decisão, sistematizando as operações, e reduzindo os custos e
o tempo.
Entre os diversos problemas abordados pela pesquisa operacional encontra-se a classe dos
Problemas de Roteamento de Veículos – PRV, que podem ser aplicados em várias categorias de
problemas, e considerando as características do Problema de Planejamento da Colheita Florestal
(PPCF), pode-se concluir que o PRV tem potencial para ser aplicado em PPCF. Os PRVs tratam de
uma série de problemas em que o objetivo é encontrar a rota com menor custo, com um ou vários
depósitos, para atender a demanda q de vários clientes ou cidades, dispersos geograficamente, por uma
frota de veículos K homogênea ou heterogênea, com capacidade finita (LAPORTE et al., 2000;
PILLAC et al., 2013).
O Problema de Roteamento de Veículos deve ser abordado por meio da Programação Linear
Inteira (PLI), que trata de modelos matemáticos compostos por equações e inequações lineares, cujo
objetivo, é obter um resultado ótimo para a função objetivo de um problema de acordo com
determinadas restrições, em que as variáveis só podem assumir valores inteiros (HILLIER;
LIEBERMAN, 2009). Neste contexto, o objetivo desse trabalho é propor um modelo de otimização
eficaz, baseado no PRV, capaz de minimizar o custo total da colheita e do transporte florestal e
quando houver uma maior demanda da fábrica de celulose maximizar a produção de madeira.
2. Material e Métodos
Para o desenvolvimento deste trabalho, foi obtida uma base de dados, que consiste em um
arquivo vetorial poligonal no formato shapefile, que contém informações sobre o tipo de produto e o
volume de madeira. Foram considerados, dez talhões sujeitos às seguintes intervenções: corte raso
para a fábrica de celulose localizada no município de Aracruz - ES, e corte raso para a serraria
localizado no município de Nova Viçosa – BA. A madeira proveniente do primeiro e do segundo
desbaste são destinados à fábrica de celulose. A base também é composta de um arquivo vetorial
linear com formato shapefile, contendo informações das estradas da região.
Além dos dados citados, foram obtidas as seguintes informações: volume de madeira, idade de
cada talhão e destino da madeira colhida. Os volumes colhidos no primeiro e segundo desbastes foram
integralmente enviados para a indústria de celulose pelo modal rodoviário e/ou marítimo. O volume
enviado para a serraria é transportado exclusivamente pelo modal rodoviário. Do volume transportado
via modal rodoviário, apenas 23,61% tem como destino a serraria, os demais 76,39% têm como
destino a fábrica de celulose.
Para este problema foram consideradas dois tipos de frentes de colheita hipotéticas, com o
objetivo de colher dez talhões ao longo do ano. A primeira frente de colheita é composta por máquinas
mais modernas, com maior tecnologia, menor tempo e custo de manutenção. Consequentemente, esta
apresenta maior produtividade e menor custo operacional em relação à segunda, conforme pode ser
observado na Tabela 1.
Tabela 1 - Produtividade (m3/dia) e custos (R$/m3) das frentes de colheita para a realização de cada
tipo de atividade. (Fonte: os autores).
Frente Celulose Serraria Primeiro Desbaste Segundo Desbaste
Produtividade em m3/dia
1 1.000 900 250 180
2 850 700 180 100
Custos em R$/m3
1 22 30 24 27
2 25 32 27 30
A empresa possui demandas mensais que devem ser atendidas para manter o funcionamento
da fábrica de celulose, sendo um volume mínimo de 380.000 m3, e da serraria um volume mínimo de
15.000 m3. Portanto, a demanda mínima se refere ao volume necessário para que a empresa realize as
suas atividades, enquanto a demanda máxima refere-se à quantidade total suportada pela planta da
fábrica. Além disso, o transporte por modal marítimo deve estar entre 150.000 m3 e 250.000 m3 por
mês.
Com relação aos custos do transporte, foram considerados valores por faixa de distância no
modal rodoviário e para o custo de transporte pelo modal marítimo foi necessário considerar o custo
do transporte da madeira, por meio de caminhões do talhão até o porto de Caravelas - BA, mais um
custo fixo de R$ 23,50 m3 de madeira para percorrer os 275 km de transporte marítimo do porto de
Caravelas - BA, até o porto de Aracruz - ES, acrescido do custo de transporte rodoviário do porto de
Aracruz - ES até a fábrica de celulose.
Os dados referentes aos plantios da empresa são representados por projetos e talhões. Para esta
pesquisa, os talhões pertencentes a um mesmo projeto e destinados à mesma atividade foram
agrupados em um mesmo polígono. O centro de cada polígono foi utilizado como referência para a
obtenção da matriz de distâncias gerada no software ArcGis 10 (ESRI, 2010). Para a obtenção das
distâncias entre um talhão i e j foi considerado sempre a rota viável de menor distância. Para a
obtenção das distâncias foram utilizadas a ferramenta Network Analyst do software ArcGis 10 (ESRI,
2010). Uma vez obtida às rotas, foi possível criar a matriz de distâncias entre todos os talhões
programados para colheita.
2.1 O Modelo de Roteamento de Veículos
A formulação para o problema teve como base o modelo clássico do Problema de Roteamento
de Veículos (PRV) proposto por Toth e Vigo (2002), neste caso, cada povoamento a ser colhido
assumiu o papel de cliente proposto no modelo. Os veículos foram representados por frentes de
colheitas compostas por máquinas e operadores. Um diferencial nesse caso em relação ao modelo
clássico do PRV é que os veículos não necessitam sair de um depósito e voltar para o mesmo no final
do processo de roteirização, já que as máquinas permanecem no campo durante todo o processo.
Portanto, como origem das frentes de colheitas, foram considerados os últimos povoamentos colhidos
antes do início do planejamento.
O objetivo do modelo é determinar que as frentes de colheita realizem uma rota ao longo dos
talhões programados para o planejamento anual de modo que o custo global da colheita seja o menor
possível, considerando-se como limitante a capacidade de colheita de cada frente.
p p n 2
Função objetivo: Minimizar:
i 1 j 1 k 1 l 1
C i, j, k, l X i, j, k, l
(eq. 1)
Sujeito a:
p 2
j 1 l 1
X O , j, k, l
k
1 k 1, 2 (eq. 2)
p 2
j 1 l 1
X i,T, k, l
1 k 1, 2 (eq. 3)
p 2 2
i O ,1, 2, ..., p
j 1 k 1 l 1
X i, j, k, l
1 k (eq. 4)
T 2 2 p 2 2
(eq. 5)
j 1k 1 l 1
X i, j, k, l X i, j, k, l
i O k 1 l 1
0 i j 1, 2, ..., p k 1, 2
k
j i i j
p 2 2
k 1, 2 (eq. 6)
g i, j, k, l X i, j, k, l 365
i O j 1 l 1
k
p p 2
H min.mar V j X i, j, k, 2 H max.mar
i O j 1 k 1
(eq. 7)
k
p p 2 2
VS j X i, j, k, 2 H ser
i O j 1k 1 l 1
(eq. 8)
k
p p 2 2
VC j X i, j, k, l
i O i 1 k 1 l 1
H cel (eq. 9)
k
3. Resultados e Discussão
Para avaliar o potencial do modelo proposto, foram considerados dois cenários, e para cada
cenário foi considerada a existência de duas frentes de colheitas, denominadas de Frente de Colheita 1
e Frente de Colheita 2. No primeiro cenário, o objetivo foi o de programar a sequência de talhões que
serão colhidos em um horizonte de um ano, de forma a obter o menor custo de transporte possível. E
no segundo cenário a influência dos custos de colheita foi desconsiderada. Para isso, todos os custos
foram considerados únicos e iguais a um. O objetivo foi avaliar o comportamento do modelo sem o
uso de um critério adequado para a otimização, mas garantindo que todas as restrições sejam
atendidas.
No primeiro cenário, na Frente de Colheita 1, foi indicada em ordem a seguinte sequência de
talhões: 1 – 6 – 2 – 8 – 4 – 3. E na Frente de Colheita 2, a solução prevê um percurso partindo da
origem com a seguinte sequência de talhões para corte: 5 – 7 – 10 – 9. Os dados detalhados são
apresentados na Tabela 2.
Tabela 2 – Resultado da otimização dos Cenários 1 e 2, em que para cada destino apresenta-se o tipo
de modal (M = marítimo e R = rodoviário), volume colhido no talhão, o custo parcial e o número de
dias gastos na atividade. (Fonte: os autores).
CENÁRIO 1 CENÁRIO 2
Volume Volume
Talhão Modal Custo (R$) Dias Talhão Modal Custo (R$) Dias
(m3) (m3)
1 M 56.000 2.884.995,78 56,7 4 R 45.000 2.328.168,88 51,3
6 R 12.000 671.705,54 14,2 3 M 95.000 5.844.849,91 96,6
Colheita 1
Frente de
4. Conclusões
Nas condições em que os estudos foram conduzidos, a análise dos resultados permitiu
apresentar as seguintes conclusões:
Com a base de dados disponível e considerando as demandas de planejamento da empresa, foi
possível idealizar um problema de planejamento da colheita florestal representativo da realidade de
uma empresa florestal de grande porte. Além disso, com o problema de planejamento da colheita
idealizado, foi possível desenvolver um modelo de otimização capaz de representa-lo na busca por
soluções ótimas de planejamento.
Finalmente, o modelo de otimização da colheita florestal desenvolvido mostrou-se eficaz uma
vez resolvido por meio de técnicas de solução de modelos de Programação Inteira.
Referências
ANDRADE, S. da C. Avaliação técnica, social, econômica e ambiental de dois sistemas de
colheita florestal no litoral Norte da Bahia. 125p. (Tese M.S.) Viçosa: UFV, 1998.
LAPORTE, G.; GENDREAU, M.; POTVIN, J. Y.; SEMET, F. Classical and modern heuristics for the
vehicle routing problem. International Transactions in Operational Research, v. 7, n. 5, p. 285-
300, 2000.
PILLAC V.; GENDREAU, M.; GUÉRET, C.; MEDAGUIA, A. L. A review of dynamic vehicle
routing problems. European Journal of Operational Research. v. 225, p. 1-11, 2013.
ROBINSON, A. P.; MCLARIN, M.; MOSS, I. A simple way to incorporate uncertainty and risk into
forest harvest scheduling. Forest Ecology and Management, v. 359, p. 11–18. 2016.
TOTH, P.; VIGO, D. An overview of vehicle routing problems. In.: TOTH, P.; VIGO, D. (Ed.) The
vehicle routing problem. Siam, Philadelphia, 2001, p. 126.