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NOVA VERSÃO I N T E R N A C I O N A L

ATRAVÉS DA V I D A E DOS
TEMPOS BÍBLICOS
W 1
tí> 5

AUTOR, LUGAR E DATA DA R E D A Ç Ã O


Cântico dos Cânticos 1.1 nos diz que este livro foi escrito por Salomão, ou foi compilado por ele, ou ainda pertenceu a ele. Esse versículo
indica que Salomão escreveu o livro ou que ele foi composto para sua corte sob seu patrocínio. A maioria dos estudiosos hoje rejeita essas
premissas, sugerindo que Cântico dos Cânticos seja uma obra pós-exílica do período persa. No entanto, à exceção de algumas palavras de
origem duvidosa, não há nada no livro em si que sugira uma data tão tardia. Em contrapartida, as indicações internas a favor da composição
do livro na época de Salomão são bastante fortes (ver “A autoria de Edesiastes e do Cântico dos Cânticos” , em Ec 5), o que determina o
ano de sua composição em 950 a.C., aproximadamente.

DESTINATÁRIO
Cântico dos Cânticos é um poema de amor ou uma compilação de poemas de amor escritos para o povo de Deus, com a finalidade de
honrar e celebrar o amor romântico e sexual no contexto do relacionamento conjugal como presente divino.

FATOS CULTURAIS E DESTAQUES


0 propósito do livro tem sido um tema bastante debatido. Na maior parte da história de sua interpretação, foi tratado como uma alegoria. A maior
parte dos revisores judeus considerava-o uma releitura simbólica da história de Israel, na qual o homem representa Deus e a mulher cantora
simboliza Israel. No período medieval, alguns intérpretes judeus enxergavam no livro uma alegoria filosófica, enquanto os cristãos o tratavam
como uma analogia do amor de Cristo pela Igreja ou como símbolo do relacionamento de amor entre a alma humana e Deus. Alguns intérpretes
do catolicismo romano entendiam que a personagem central representava Maria. Entretanto, tendo em vista o fato de que cada uma dessas
conjecturas era guiada apenas por pressuposições teológicas e pela imaginação do intérprete (não há duas interpretações alegóricas seme­
lhantes) e de que nada no texto sugere que ele deva ser compreendido como alegoria, poucos estudiosos hoje defendem essas explicações.
Em tempos recentes, tem se fortalecido a ideia de que Cântico dos Cânticos seja um drama a respeito do am or mútuo entre
Salomão e uma jovem, e uma variação dessa teoria sugere que o poema diz respeito à tentativa malsucedida por parte de Salomão de
cortejar uma moça que estava apaixonada por um pastor de ovelhas. A maioria dos estudiosos hoje, porém, considera essas interpretações
forçadas e sem fundamento textual. Explicações como essas exigem que o leitor se apoie numa enorme quantidade de informações que
não estão incluídas no livro. Acrescente-se a isso o fato de que não existe analogia para uma literatura desse tipo no antigo Oriente Médio.
Atualmente, muitos consideram Cântico dos Cânticos um simples poema de amor. De fato, a obra em muito se assemelha à poesia
de am or egípcia escrita durante os séculos anteriores à época de Salomão (ver “As antigas poesias de amor” , em Ct 1). Parece que o
propósito do livro é celebrar o amor entre o marido e a esposa, constituindo-se um “ poema de am or” , embora sua mensagem seja muito
mais sublime que os poemas do Egito ou de qualquer outra região ou período da Antiguidade.

L I N H A DO T E M P O

1400 A.C. 1300 1200 1100 1000 900 800 700 600 500 400

Reinado de Saul (1050-1010 a.C.)


m
Reinado de Davi (1010-970 a.C.)
1
Reinado de Salomão (970-930 a.C.)

Redação do livro de Cântico dos Cânticos (ca. 970-930 a.C.)
1
Construção do templo (966-959 a.C.)
i
Divisão do reino (930 a.C.)
1
Exílio de Israel (722 a.C.)
i
Queda de Jerusalém (586 a.C.)
INTRODUÇÃO A CÂNTICO DOS CÂNTICOS 1033

E N Q U A N T O V O C Ê LÉ
Não se prenda às interpretações históricas do livro nem fique procurando possíveis significados ocultos abaixo da superfície do texto.
Levando-se em consideração 0 fato de que Cântico dos Cânticos celebra 0 amor conjugal, recolha 0 que puder de suas passagens, evitando
a tentação de fazer uma leitura excessivamente crítica das imagens que, do ponto de vista moderno, pareçam embaraçosas. Se você é
casado ou pretende se casar, que princípios do livro seriam aplicáveis à sua situação?

VOCÊ SABIA?
• A pele bronzeada pelo sol não era desejada pelas mulheres da elite daquele tempo (1.5).
• “ Irmã” é uma expressão de carinho muito comum nas poesias de amor do antigo Oriente Médio (4.9).
• A mandrágora era associada com a capacidade de despertar 0 desejo sexual e com 0 aumento da fertilidade (7.13).

TEMAS
Os temas do livro de Cântico dos Cânticos incluem:
1. O amor é um belo dom de Deus. Cântico dos Cânticos é uma poesia de amor que articula 0 belo relacionamento entre marido e mulher.
Seus versos lembram ao povo de Deus que a intimidade sexual no casamento é um dom divino e deve ser valorizada e desfrutada. O amor
é retratado como algo precioso (8.7b), espontâneo (2.7) e poderoso (8.6,7a).
2. Satisfação conjugal. Cântico dos Cânticos demonstra que a satisfação sexual só pode ser encontrada no relacionamento conjugal (2.16).
0 amor erótico expresso no livro é cheio de ternura, agradável e natural — não é vergonhoso nem humilhante. Os amantes veem a si
mesmos como seres iguais, elogiando um ao outro e compartilhando as iniciativas.
3 .0 amor é prazeroso, mas também doloroso. A alegria é a nota dominante do livro, mas 0 leitor é advertido de que 0 amor é um sentimento
poderoso que pode trazer desapontamentos (5.2— 6.3). A jovem protagonista repetidamente adverte as amigas a não apressar 0 amor (2.7;
3.5; 8.4). 0 amor tem um lado perigoso (8.6), por isso deve ser tratado com cuidado.

SUMÁRIO
I. Primeiro encontro (1.1— 2.7)
II. Segundo encontro (2.8— 3.5)
III. Terceiro encontro (3.6— 5.1)
IV. Quarto encontro (5.2— 6.3)
V. Quinto encontro (6.4— 8.4)
VI. Clímax literário (8.5-7)
VII. Conclusão (8.8-14)
1034 CÂNTICO DOS CÂNTICOS 1. 1

Cântico dos Cânticos de Salomão.8


1
A Amadaa
2 Ah, se ele me beijasse, se a sua boca me cobrisse de beijos... 1.2 <>Ct4.10
Sim, as suas caríciasb são mais agradáveis que o vinho.
3 A fragrância dos seus perfumes é suave;c 1.3 cCt 4.10;
dEc 7.1; eSI 45.14
o seu nomed é como perfume derramado.
Não é à toa que as jovense o amam!
4 Leve-me com você! Vamos depressa! 1.4 «SI 45.15
Leve-me o rei para os seus aposentos!f

Amigas (Mulheres de Jerusalém)


Estamos alegres e felizes por sua causa;
celebraremos o seu amor
mais do que o vinho.

A Amada
Com toda a razão você é amado!

5 Estou escura, mas sou bela,9 1.5 oCt 2.14; 4.3;


hCt 2.7; 5.8,16
ó mulheres de Jerusalém;h
escura como as tendas de Quedar,
bela como as cortinas de Salomão.
6 Não fiquem me olhando assim porque estou escura; 1.6 SI 69.8;
Ct 8.12
foi o sol que me queimou a pele.
Os filhos de minha mãe zangaram-se comigo
e fizeram-me tomar conta das vinhas;'
da minha própria vinha, porém, não pude cuidar.

7 Conte-me, você, a quem amo, onde faz pastar o seu rebanho 1.7 iCt 3.1-4;
Is 13.20
e onde faz as suas ovelhas) descansarem ao meio-dia?
Se eu não o souber, serei como uma mulher coberta com véu
junto aos rebanhos dos seus amigos.

O Amado
8 Se você, a mais linda das mulheres,k 1.8kCt5.9; 6.1
se você não o sabe, siga a trilha das ovelhas
e faça as suas cabritas pastarem
junto às tendas dos pastores.
a 1 . 2 Com base no gênero dos pronomes hebraicos empregados, indicam-se por meio dos títulos o A m ado e a Am ada,
quando o interlocutor é o homem ou a mulher. As palavras dos outros interlocutores estão assinaladas com o título
Amigas. Em alguns casos as divisões e seus títulos são discutíveis.

1.1 O nome hebraico do livro, Cântico dos Cânticos, foi extraído de SI 46 sobrescrito; 68.25; C t 1.3; 6.8). Em 1 Crônicas 15 e no sobrescrito
1.1 e apresenta-o como “Cântico dos Cânticos de Salomáo”. O uso do do salmo 4 6, a palavra ocorre de forma incompreensível e, portanto,
superlativo hebraico sugere que o livro seja o melhor dos 1.005 cânticos nada pode dizer acerca de seu significado.
escritos por Salomão (IR s 4.32) ou que talvez seja o maior deles. Esse 1.5 Embora fosse “bela”, a amada tinha consciência de que sua pele es­
verso também oferece a base para o mais antigo título do livro nas versões tava bronzeada pelo sol, algo que não era desejado pelas mulheres da
em nosso idioma — Cânticos ou Cantares de Salomão — e para o título elite daquele tempo.
na NV1: Cântico dos Cânticos (ver, porém, “A autoria de Eclesiastes e do A frase “mulheres de Jerusalém” provavelmente se refere às jovens do
Cântico dos Cânticos”, em Ec 5). versículo 3 e em geral às “amigas” dos títulos das seções.
1.3 Os perfumes eram feitos através da mistura de espécies aromáticas Quedar era um território no deserto da Arábia, pelo qual passavam os
com resinas em um óleo cosmético (ver “Perfumes e óleos de unção”, beduínos, conhecidos por seus rebanhos. As cortinas das tendas eram te­
e m jo 12). cidas manualmente com pelo negro de bode. A mulher, sem dúvida, era
“Jovens” provavelmente é uma referência às jovens da corte ou da cida­ de uma família cujas mulheres contribuíam com o trabalho doméstico
de régia (ver 6.8,9). Existem no A T duas palavras traduzidas em nosso cuidando do rebanho. Ela se dedicava aos interesses da família à custa
idioma por “virgem” ou “jovem”. A palavra bethúlâb é amplamente acei­ do próprio corpo (cf. v. 6 e nota).
ta como o termo técnico hebraico para a moça não casada e, portanto, 1.6 A expressão “minha própria vinha” refere-se a seu corpo, como em
virgem. A palavra ‘alm âh pressupõe uma jovem em idade de casamento 8.12 (ver também 2.15). A vinha é uma metáfora adequada, visto que
ou, se o contexto o exigir, uma jovem casada. Essas palavras são usadas produz vinho, e as emoções do amor sáo comparadas às que sáo produ­
no A T da seguinte forma: ‘alm âh aparece nove vezes: quatro no singular zidas pelo vinho (cf. v. 2). A amada também é comparada a um jardim,
(Gn 24.43; Ex 2.8; Pv 30.19; Is 7.14) e cinco no plural (lC r 15.20; pois oferece frutos preciosos ao amado (ver nota em 4.12).
CÂNTICO DOS CÂNTICOS 1.11

1.9 '2Cr 1.17 9 Comparo você, minha querida,


a uma égua das carruagens1do faraó.
1.10” Ct5.13; 10 Como são belas as suas facesm
"Is 61.10
entre os brincos,
e o seu pescoço com os colares de joias!n
Amigas (Mulheres de Jerusalém)
11 Faremos para você brincos de ouro
com incrustações de prata.

TEXTOS E ARTEFATOS ANTIGOS

As antigas poesias de amor


CÂNTICO DOS CÂNTICOS 1 0 antigo Oriente Cânticos. Em alguns desses textos, a mulher bíblico, ela o imagina chegando como um
Médio produziu muitos exemplos de um tipo canta solilóquios a respeito de seu amor de cervo jovem (e.g.,8.14).
de literatura que pode, de modo geral, ser forma muito semelhante aos que se veem •5* Em ambos os tipos de texto, é dito que a
chamada "poesia de amor". Algumas delas no poema bíblico. mulher é uma flor (2.1).
têm uma natureza declaradamente religiosa, Cânticos de amor do Cairo: gravados num •I* Nos dois tipos de texto, o homem ou a
descrevendo os casos de amor entre deuses e vaso, esses cânticos incluem as canções de mulher são comparados a uma árvore (2.3).
deusas. Outras canções fornecem exemplos uma jovem que declara sua devoção ao aman­ 4* A imagem da porta é importante em am­
"seculares" de poemas de amor que explo­ te e também as canções do jovem que anseia bos os tipos de texto (5.2-7).
ram tanto a excitação quanto a desilusão tão estar com ela— ser o anel no dedo dela ou o
comuns entre os jovens amantes. Eis alguns Entretanto, há diferenças significativas:
lavadeiro que pode tocar as roupas dela.
exemplos de antigos poemas de amor: A canção de amor de Turim: texto fanta­ 4* Os amantes egípcios costumam invocar
❖ A Mesopotamia produziu principal­ sioso, no qual várias árvores falam a um par Hátor, a deusa do amor, para que ela ajude
mente poemas de amor "religiosos": de jovens amantes. a conquistar o amado ou a amada, enquanto
Nebo e Tashmetu: poema acádio sobre Cânticos de amor do papiro Chester o texto bíblico jamais sugere que Deus possa
o amor entre Nebo, o deus dos escribas, Beatty I: esses cânticos também incluem ser persuadido por um jovem cheio de amor
esua parceira, Tashmetu. partes cantadas pelo homem e pela mulher, a manipular uma moça para que ela se apai­
"Os lençóis nupciais": canção suméria descrevendo a intensidade de sua paixão e xone por ele.
que apresenta o divertido diálogo entre a frustração de estarem separados um do 4* Os cânticos egípcios costumam ressaltar
o deus Utu e sua irmã Inana, no qual ele outro. Uma compilação desses poemas, os a paixão passageira dos jovens, incluindo al­
gradualmente revela que providenciou para cânticos de Nakhtsobek, explora a paixão guns elementos frívolos, o que não acontece
que ela se casasse com Ama-Ushumgal-Ana. que certo homem nutria por uma prostituta. no Cântico dos Cânticos.
Canções de Istar e Tamuz: uma compila­ As poesias egípcias apresentam alguns 4* Os poemas egípcios geralmente são
ção de cânticos a respeito da relação amoro­ paralelos com o Cântico dos Cânticos. Estrutu­ frívolos e tolos, escritos para simples entre­
sa entre a deusa Istar e o deus Tamuz.2 ralmente, são semelhantes, no sentido de que tenimento, enquanto o Cântico dos Cânticos
+ 0 Egito produziu um bom número dé trata o amor sexual com muita seriedade.
o texto se divide entre partes cantadas por um
canções de amor de uma perspectiva mais
homem e por uma mulher. Há também seme­ É impossível e até mesmo desnecessário
"secular", cujo interesse diz respeito muito
lhanças nas metáforas e imagens utilizadas. negar que os textos egípcios influencia­
mais às pessoas que aos deuses (ca. 1300-1150
Alguns exemplos de elementos comuns: ram a poesia do Cântico dos Cânticos. De fato,
a.C.), ainda que às vezes se tenham utilizado
temas fantásticos e mitológicos. Esses poemas, • f Oamadoouaamada recebem o tratamen­ a poesia egípcia fornece uma razão muito
astuciosa e comicamente, retratam as turbulên­ to carinhoso de "irmão" ou "irmã" (Ct 4.9). forte para datarmos o Cântico dos Cânticos
cias emocionais do amor jovem, apresentando •3* Nos textos egípcios, a mulher declara da época de Salomão, que não apenas viveu
semelhanças notáveis com o Cântico dos Cânticos. que o amor de seu homem é melhor que a numa época muito próxima da composição
Papiro Harris 500: um jovem e uma cerveja (a bebida preferida dos egípcios). dos cânticos egípcios, como também man­
jovem cantam o amor apaixonado que nu­ No Cântico dos Cânticos, o amor do homem teve boas relações com esse país. Ainda
trem um pelo outro. As partes do poema são é preferível ao vinho (12J. assim, o conteúdo, a complexidade e o signi­
como falas de um diálogo cantado entre o •J* Nos poemas egípcios, a mulher convida ficado teológico do Cântico dos Cânticos exi­
homem e a mulher, uma construção muito o amante a estar com ela como se chama um gem que o consideremos não uma imitação,
similar à que encontramos no Cântico dos cavalo ao encontro da batalha. No poema mas um texto canônico original.

'Ver o Glossário na p. 2080 para as definições das palavras em negrito. !Ver "Chorando por Tamuz", em Ez 8.
036 CÂNTICO DOS CÂNTICOS 1.12

A Amada
12Enquanto o rei estava em seus aposentos,
o meu nardo espalhou sua fragrância.0
13 O meu amado é para mim
como uma pequenina bolsa de mirra
que passa a noite entre os meus seios.
14 0 meu amado é para mim 1.14 PCt 4.13;
i um ramalhete de flores de henaaP das vinhas de En-Gedi.^
<1Sm 23.29

V o zes a h tig a s O Amado


Eu me deitarei no interior, 15 Como você é linda/ minha querida! 1.15134.7;
e simularei uma enfermidade.
Ah, como é linda! ■Ct 2.14; 4.1;
5.2,12; 6.9
Então meus vizinhos entrarão para ver,
e minha irmã
Seus olhos são pombas.s
entrará com eles.
Ela fará que o médico fique A Amada
envergonhado
porque [somente]* ela saberá a razão da
16 Como você é belo, meu amado!
minha enfermidade. Ah, como é encantador!
*As palavras entre colchetes foram acrescentadas pelo Verdejante é o nosso leito.
tradutor no loca! em que o texto contém lacunas. 17De cedro1são as vigas da nossa casa,
— P a p ir o H a r r is e de cipreste os caibros do nosso telhado.
Ver o artigo "As antigas poesias de amor", em Ct 1.

A Amada
Sou uma flor*"1de Sarom,v 2.1 “Is 35.1;

um líriowdos vales. "1 Cr 27.29;


•Ct 5.13; Os 14.5

O Amado
2 Como um lírio entre os espinhos
é a minha amada entre as jovens.
A Amada
3 Como uma madeira entre as árvores da floresta 2.3 *Ct 1.14;

é o meu amado* entre os jovens. vCt 1.4; zCt 4.16

Tenho prazer^ em sentar-me


à sua sombra; o seu fruto é doce ao meu paladar.2
4Ele me levou ao salão de banquetes,3 2-4aEt1.11;

e o seu estandarteb sobre mim é o amor.c bNm 1.52

5Por favor, sustentem-me com passas, 2.5 °Ct 7.8; dCt 5.8

revigorem-me com maçãs1*,0


pois estou doente de amor.d
6 O seu braço esquerdo esteja debaixo da minha cabeça, 2.6 «Ct 8.3
e o seu braço direito me abrace.e 2.7 O 5.8; 9Ct 3.5;
8.4

a 1 . 1 4 Isto é, planta aromática.


6 2 .1 Tradicionalmente rosa. Talvez um narciso ou uma tulipa.
c 2 . 4 Ou seus olhares para mim eram de amor.
d 2 . 5 Ou damascos.

1.12 ,13 A mirra é uma resina aromática extraída das raízes de uma erva para servir de câmara nupcial aos noivos na noite de núpcias (2Sm 16.22;
perene que cresce na Arábia, na Etiópia e na índia, provavelmente utili­ SI 19.4,5; C t 1.16,17). Essa tenda normalmente era redonda, montada
zada como um sedutor perfume feminino (Et 2.12; Pv 7.17). Também pelas mulheres no início da noite. Como parte da tarefa, elas também
era usada para perfumar os mantos nupciais reais (SI 45.8) e era um dos preparavam a cama para o casal de noivos. Os mais pòbres, que não po­
ingredientes do óleo sagrado da unção (Êx 30.23). O mago que levou diam dispor dessa privacidade, preparavam uma repartição na tenda dos
mirra ao menino Jesus deu-lhe um presente digno de um rei. pais do noivo. Quando chegava o pôr do sol, algumas moças, parentes
1.14 A “hena” é um arbusto da Palestina (talvez o cipreste), com flores do noivo, entravam na tenda dos pais da noiva e acompanhavam a jovem
aromáticas em cachos compactos. En-Gedi era um oásis irrigado por uma noiva até a câmara nupcial, na qual ela se juntava ao seu noivo.
fonte, localizado a oeste do mar Morto (ver “En-Gedi”, em 2C r 20). 2.4 O amor do rei por sua amada era para ser visto por todos, como uma
1.15 As “pombas” sáo provavelmente uma referência à forma dos olhos e grande bandeira militar.
ao destaque dado pelos cosméticos aos olhos femininos (ver 4.1). 2.5 “Passas” e “maçãs” são, provavelmente, metáforas das carícias e dos
1.16,17 O casamento nos tempos patriarcais (ver nota em Jz 14.17) era abraços amorosos (cf. v. 3).
um acontecimento festivo. Uma pequena tenda era erguida em separado
CÂNTICO DOS CÂNTICOS 2.8 103

7 Mulheres de Jerusalém, eu as faço jurarf


pelas gazelas e pelas corças do campo:
não despertem nem provoquem 0 amor
enquanto ele não 0 quiser.s

2.8 w. 17 ; ct 8.14 8 Escutem! É o meu amado!


Vejam! Aí vem ele,

2 .7 Sobre as “mulheres de Jerusalém”, ver nota em 1.5.

NOTAS H I S T Ó R I C A S E CUL T UR A I S

Flores do antigo Israel


CÂNTICO DOS CÂNTICOS 2 Imagens de camente pelo nome, sem nenhuma descrição e ao lótus. No antigo Israel, as flores serviam
flores foram amplamente utilizadas no adicional. Às vezes, a única chave para identi­ principalmente a propósitos ornamentais,
antigo Israel na decoração do templo e dos ficar uma flor é fornecida pela tradição oral. e é provável que 0 escritor do Cântico dos
candelabros (Êx 25.37; 1Rs 6 e 7), bem como Cânticos tivesse em mente a beleza delas.
nos escritos poéticos e proféticos.1 Contudo, A flor — ou rosa — de Sarom (Ct 2.1) A identificação precisa das flores seria útil,
a identificação das várias flores conhecidas já foi identificada de várias maneiras: como porém não é essencial para a interpretação
no antigo Israel tem se revelado uma tarefa 0 narciso, a anêmona e até mesmo a tulipa do texto.
complicada, por vários motivos: vermelha. 0 lírio dos vales (v. 1) já foi equi­
parado à camomila, ao botão-de-ouro, a 'Ver "Imagens e metáforas nas antigas poesias de
❖ Muitas espécies novas de plantas foram várias espécies de lírio, ao narciso, à abrótea amor", em Ct 7.
introduzidas na região no
decurso dos últimos séculos.
4* Desde a época dos pais
da Igreja, a prática de no­
mear plantas com nomes
bíblicos tem sido uma forma
de manter a Escritura com­
preensível para cada geração.
Desse modo, flores que não
existiram no antigo Israel
acabaram por receber no­
mes bíblicos. Por exemplo, a
Hibiscus syriacus \oi chamada
"flor de Sarom", ainda que
seja nativa do leste da Ásia
e tenha sido introduzida na
região hoje conhecida como
Palestina apenas em tempos
mais recentes.
❖ As informações são es­
cassas. Em geral, as plantas
bíblicas são identificadas uni-

Flores brotando no deserto


Foto: © Todd Bolen/BiblePlaces.com
1038 CÂNTICO DOS CÂNTICOS 2.9

saltando pelos montes,


pulando sobre as colinas.h
9 O meu amado é como uma gazela,' como um cervo novo j 2.9'2Sm 2.18;
IV. 17:08.14
Vejam! Lá está ele atrás do nosso muro,
observando pelas janelas,
espiando pelas grades.
10 O meu amado falou e me disse:

O Amado
Levante-se, minha querida,
minha bela, e venha comigo.
11 Veja! 0 inverno passou;
acabaram-se as chuvas e já se foram.
12 Aparecem flores na terra,
e chegou o tempo de cantar";
já se ouve em nossa terra
o arrulhar dos pombos.
13 A figueira produz os primeiros frutos;k 2.13 Kls 28.4;
Jr 24.2; Os 9.10;
as vinhas florescem1 e espalham sua fragrância. Mq 7.1; Na 3.12;
Levante-se, venha, minha querida; 0 7 .1 2

minha bela, venha comigo.


14 Minha pombamque está nas fendas da rocha, 2.14 "Gn 8.8;
Ct 1.15; nCt 1.5;
nos esconderijos, nas encostas dos montes, 8.13
mostre-me seu rosto,
deixe-me ouvir sua voz;
pois a sua voz é suave
e o seu rosto é lindo."

A Amada
15 Apanhem para nós as raposas,0 2.15»Jz 15.4;
as raposinhas que estragam as vinhas,P P 0t1.6;«7.12

pois as nossas vinhas estão floridas.^


16 0 meu amado é meu, e eu sou dele;r 2.16 rCt 7.10;
C t 4.5; 6.3
ele pastoreia entre os lírios®
17 Volte, amado meu,* 2.17 « 4 .6 ;
“Ct 1.14; ”v. 9;
antes que rompa o dia “ V. 8
e fujam as sombras;u
seja como a gazela
ou como o cervo novov
nas colinas escarpadas'’.’"

A noite toda procurei* em meu leito 3.1 «a 5.6; Is 26.9


aquele a quem o meu coração ama,
mas não o encontrei.
2 Vou levantar-me agora e percorrer a cidade,
irei por suas ruas e praças;
buscarei aquele a quem o meu coração ama.
Eu o procurei, mas não o encontrei.

0 2 . 1 2 Ou de podar.
b 2 . 1 7 Ou colinas de Beter, ou ainda montes da separação.

2 .9 A gazela é célebre por sua forma e beleza. O “cervo novo” é uma 2 .1 6 Eles pertencem um ao outro, de modo exclusivo, num relaciona­
figura apropriada para o vigor da juventude (ver Is 35.6). mento que não permite intromissão. O pastoreio é uma metáfora do
2 .1 5 Sobre as “vinhas”, ver a nota em 1.6. As raposas são mencionadas amado desfrutando intimamente os encantos dela (ver 6.2,3).
nos textos arttigos como transtornos para os vinhateiros porque elas co­ 2 .1 7 O amado é outra vez comparado a uma gazela ou a um cervo novo
miam as uvas verdes (ver “Comida e agricultura”, em Rt 2). (ver nota do v. 9).
CÂNTICO DOS CÂNTICOS 3.4

3.3 »ct 5.7 3 As sentinelas me encontraram


quando faziam as suas rondas na cidade.v
“Vocês viram aquele a quem o meu coração ama?” , perguntei.
3.4 « 8.2 ; -ct 6.9 4 Mal havia passado por elas,
quando encontrei aquele a quem o meu coração ama.

3 .3 As sentinelas ficavam a postos diante das portas da cidade 9 .1 7 -2 0 ; SI 127.1; Is 6 2 .6 ). Ao que parece, elas também patrulhavam
(ver N e 11.19; 13.22) e nos muros (ver 2Sm 1 3.34; 18 .2 4 -2 7 ; 2Rs as ruas durante a noite (ver 5.7).

. '

Jr
1NO
N T1 A
/ \S IHI II S T
1 ÓR
I v I1 C A
/ \ S*3 LF C I J* Ií—T1 UV / R1\ Ax i I1Sl J

Casamentos no antigo Israel


CÂNTICO DOS CÂNTICOS 3 0 casamento, mulher). 0 séquito da noiva também incluía pelos pais da noiva como prova de sua virgin­
como oficialização pública de um acordo já uma procissão com acompanhamento musi­ dade (Dt 22.17).
estabelecido no momento do noivado, cal (SI 45.14; IMacabeus 9.37-39J.2 0 noivo A celebração de um casamento, em
era uma ocasião de grande alegria.1 A ceri­ usava um turbante festivo (Ct 3.11; Is 61.10), qualquer época ou cultura, costuma ser ar­
mônia provavelmente consistia da recitação e a noiva era enfeitada com vestidos borda­ cada pela emoção e inclui o auge do prazer
de uma fórmula simples, como a que foi pro­ dos ejoias (SI 45.13,14; Is 49.18; 61.10). e a realização de uma promessa expressa de
nunciada na época da primeira união entre 0 véu completava o vestuário da noiva, o que forma bastante conveniente — a promessa
um homem e uma mulher (Gn 2.23). Alguns explica, pelo menos em parte, o sucesso do da união dos crentes com Cristo no final dos
contratos de casamento da comunidade ju­ artifício de Labâo ao substituir Raquel por Lia tempos: "Regozijemo-nos! Vamos alegrar-
daica de Elefantina, datados do século V a.C., na noite do casamento de Jacó (Gn 29.23; -nos e dar-lhe glória! Pois chegou a hora do
registram um voto comum no mundo antigo: Ct 4.1). casamento do Cordeiro, e a sua noiva já se
o noivo declara que a mulher é sua esposa e A parábola das dez virgens, contada por aprontou. Para vestir-se, foi-lhe dado linho
que ele será o marido dela por toda a eterni­ Jesus (Mt 25.1-13), descreve a chegada do fino, brilhante e puro" (Ap 19.7,8).
dade. A cerimônia de casamento também noivo na noite anterior ao casamento.
podia envolver o ato simbólico em que o Ele vinha acompanhado por outros homens,
homem cobria a noiva com a aba de seu um dos quais fazia o papel de melhor amigo
manto, indicando que, a partir daquele (Jz 14.20; Jo 3.29). Após sua chegada, a famí­
momento, ela estava sob a proteção dele e lia da noiva dava uma festa (Mt 22.2; Jo 2.9).
que ele assumia a responsabilidade pelo sus­ Considerando as evidências como um todo,
tento dela (Rt 3.9; Ez 16.8). Cumpria à família parece que o noivo e seus companheiros
e aos amigos fazer os votos de bênçãos e eram os primeiros a chegar à casa em que se
fertilidade ao casal (Gn 24.60; Rt 4.11,12). realizaria a cerimônia e eram recebidos por
Uma passagem do Talmude ba bilônio um grupo de moças. Na manhã seguinte, os
conta-nos que, no casamento judeu da época amigos do noivo saíam para buscar a noiva,
do cristianismo primitivo, o noivo usava uma que chegava num carro fechado, acompa­
coroa cerimoniai e recebia a esposa, que fazia nhada pelo séquito de suas amigas, como
sua entrada na festa num carro fechado. Esse uma guarda de honra simbólica.
costume pode explicar o texto de 3.6-11, que 0 casamento poderia ser consumado
dá a impressão de que a noiva está sendo na primeira noite do banquete de celebra­
transportada num carro fechado ("liteira", na ção, que normalmente durava sete dias
A/W), acompanhada por uma guarda de honra. (Gn 29.27; Jz 14.12). 0 casal selava sua união
(Na frase: "0 que vem subindo?", no v. 6, a numa câmara nupcial (S119.5; Jl 2.16), e o
palavra "o que" é feminina, referindo-se à lençol manchado de sangue era guardado

1Ver "Casamento e divórcio no antigo Israel", em Ml 2. 20 livro de IMacabeus é apócrifo, ou seja, não está incluído no cânon protestante tradicional.
1040 CÂNTICO DOS CÂNTICOS 3. 5

Eu o segurei e não o deixei ir,


até que o trouxe para a casa de minha mãe,2
para o quarto daquela que me concebeu.3
5 Mulheres de Jerusalém, eu as faço jurarb 3 .5 « 2 .7 ; «a 8.4
pelas gazelas e pelas corças do campo:
Não despertem nem incomodem 0 amor
enquanto ele não 0 quiser.0

Coro
6 O que vem subindo do deserto,d 3.6 «t 8.5;
como uma coluna de fumaça, § 3oJi4'6’14:
perfumado com mirrae e incenso
com extrato de todas as especiariasf dos mercadores?
7 Vejam! É aliteira de Salomão, 3.7«ism8.n
escoltada por sessenta guerreiros,s
os mais nobres de Israel;
8 todos eles trazem espada, 3.8 »jó 15.22;
Si 91 5
todos são experientes na guerra,
cada um com a sua espada,
preparado para enfrentar os pavores da noite.h
9 O rei Salomão fez para si uma liteira;
ele a fez com madeira do Líbano.
10 Suas traves, ele fez de prata;
seu teto, de ouro.
Seu banco foi estofado em púrpura;
seu interior foi cuidadosamente preparado
pelas mulheres de Jerusalém.
11 Mulheres de Sião,' saiam! 3.11 is 4 .4 ; iis 62.5
Venham ver o rei Salomão!
Ele está usando a coroa, a coroa que sua mãe lhe colocou
no dia do seu casamento,
no dia em que 0 seu coração se alegrouJ

O Amado
Como voce e linda, minha querida! 4.1 »ct 1.15; 5.1 a
,, ,.. ’ , n 'Ct6.5; Mq 7.14
Ah, como e linda!
Seus olhos, por trás do véu, são pombas.k
Seu cabelo é como um rebanho de cabras
que vêm descendo do monte GileadeJ
2 Seus dentes são como um rebanho de ovelhas recém-tosquiadas m ”Ct6.6
que vão subindo do lavadouro.
Cada uma tem o seu par;
não há nenhuma sem crias.m

3 .6 -1 1 Coro talvez cantado pelas amigas (ver 8.5). Nesse caso, a seção 3 .7 A liteira era um palanquim utilizado para transportar a realeza, rica­
provavelmente retrata o cortejo nupcial de Salomão que, com a noiva, mente adornado, carregado nos ombros com o auxílio de varas.
se aproxima da cidade. 3 .9 A “madeira do Líbano” é uma alusão ao famoso cedro do Líbano
Seguindo o exemplo do rei Salomão, o noivo, no casamento judaico (ver “Cedros do Líbano”, em C t 5).
tradicional do AT, era coroado como o rei da festa (para mais informa­ 3 .1 0 As traves que sustentavam o liteira eram provavelmente feitas de
ções sobre as tradições relativas à cerimônia de casamento, ver notas em cedro revestido de prata e ouro.
1.16 ,1 7 e Jz 14.12-14; ver também “Casamentos no antigo Israel”, 3.1 1 As “mulheres de Sião” são as “mulheres de Jerusalém” mencionadas
em C t 3). Sem dúvida, também era tradição nesse período (900 a.C.) em outros lugares (ver nota em 1.5). A “coroa” é uma referência à grinal­
que a noiva fosse submetida a uma coroação cerimonial, que a trans­ da nupcial (ver Is 61.10).
formava em rainha enquanto durasse a celebração (Ez 16.8-13). Parece 4.1 Sobre as “pombas”, ver nota em 1.15. Os rebanhos de cabras da
que em algumas ocasiões os homens chegavam à casa do noivo e partici­ Palestina eram em geral negros (ver nota em 1.5). Os cabelos do ama­
pavam de um banquete (Gn 29.22) enquanto as mulheres, incluindo a do também eram negros (5.11). As tranças negras que caíam da cabeça da
noiva, participavam de uma festa em separado, na casa dos pais da noiva. amada fazem o amado lembrar-se de um rebanho de cabras negras,
3 .6 O “deserto” é uma referência aos gramados de estação, não cultiva­ de pelo macio, descendo em fileira uma das colinas de Gileade (célebres
dos. As especiarias utilizadas para fazer o incenso eram importadas (ver pelas suas boas pastagens).
nota em 4.10; ver também “Incenso”, em Jr 11)'. 4 .2 As “ovelhas recém-tosquiadas que vão subindo do lavadouro” estão
limpas, brancas e molhadas, como os dentes úmidos.
CÂNTICO DOS CÂNTICOS 4.13 1041

4.3 "Ct 5.16; 3 Seus lábios são como um fio vermelho;


°Ct6.7
sua bocan é belíssima.
Suas faces, por trás do véu,
são como as metades de uma romã.0
4.4 PCt 7.4; 4 Seu pescoço é como a torreP de Davi,
lEz 27.10
construída como arsenal.
Nela estão pendurados mil escudos,'!
todos eles escudos de heroicos guerreiros.
4.5 « 7 .3 ; 5 Seus dois seiosr são como filhotes de cervo,
sPv 5.19;'Ct 2.16;
6.2,3
como filhotes gêmeos de uma gazelas
que repousam entre os lírios.'
4.6 “Ct 2.17; "V. 14 6 Enquanto não raia o dia
e as sombras não fogem,u
irei à montanha da mirrav
e à colina do incenso.
7 Você é toda linda,"1 minha querida;
em você não há defeito algum.

4.8 « 5 . 1 ; 8 Venha do Líbano comigo, minha noiva,*


^Dt 3.9; Z1Cr 5.23
venha do Líbano comigo.
Desça do alto do Amana,
do topo do Senir,v do alto do Hermom,z
das covas dos leões e das tocas dos leopardos nas montanhas.
4.9 "Gn 41.42 9 Você fez disparar o meu coração,
minha irmã, minha noiva;
fez disparar o meu coração com um simples olhar,
com uma simples joia dos seus colares.3
4.10 « 7 . 6 ; 10 Quão deliciosasb são as suas carícias,0 minha irmã, minha noiva!
« 1.2 Suas carícias são mais agradáveis que o vinho,
e a fragrância do seu perfume supera o de qualquer especiaria!
4.11 aS119.10; 11 Os seus lábios gotejam a doçura dos favos de mel, minha noiva;
Ct 5.1 ; e0s 14.6
leite e mel estão debaixo da sua língua.d
A fragrância das suas vestes é como a fragrância do Líbano.e
12 Você é um jardim fechado,
minha irmã, minha noiva;
você é uma nascente fechada,
uma fonte selada.'
4.13 oCt 6.11; 13 De você brota um pomar de romãs9
7.12; hCt 1.14
com frutos seletos,
com flores de henah e nardo,

4 .3 O s lábios da amada eram vermelhos, talvez porque ela os pintasse da 4 .1 1 Os povos do antigo Oriente Médio associavam os deleites do amor
mesma forma que as mulheres egípcias. Suas faces eram arredondadas e à doçura.
enrubescidas como uma romá. 4 .1 2 -1 5 Muito provavelmente, as imagens desses versículos sáo sugeri­
4 .4 O pescoço ereto e adornado da amada é semelhante a uma torre das pelos jardins de Salomão, com seus pomares frutíferos e reservatórios
no muro da cidade, adornada com os escudos dos guerreiros (cf. 7.4). de água para irrigação (Ec 2.4-6).
4 .5 Os cervos representam beleza tenra e delicada, além da promessa 4 .1 2 O “jardim” denota um lugar de deleites físicos, constituindo uma
de crescimento total (ver 8.8). Sobre a “gazela”, ver a nota em 2.9. Em metáfora adequada do corpo da amada (cf. v. 16; 5.1; 6.2,11; 8.13; ver
outros textos, o símile é aplicado ao amado. Quanto a um uso diferente também nota em 1.6). “Jardim fechado”, “nascente fechada” e “fonte
da expressáo “repousam entre os lírios”, ver 2.1 6 e nota. selada” são metáforas da virgindade da amada — ou talvez do fato de
4 .8 Líbano, Amana e Hermom eram picos montanhosos no horizonte ela se guardar exclusivamente para o marido. “Nascente” e “fonte” são
norte. Senir é o nome amorreu do monte Hermom, também encontrado mananciais de refrigério, metáforas da amada como parceira sexual
em fontes assírias. Eleva-se cerca de 2.800 metros e permanece coberto (ver Pv 5.15-20).
de neve durante todo o ano. 4 .1 3 “De você brota” é uma referência a todas as características que dão
4 .9 Nas poesias de amor do antigo Oriente Médio, era comum que os prazer ao amado. “Pomar” vem da palavra hebraicapardes (de onde pro­
namorados tratassem um ao outro por “irmáo” e “irmã”. vém a nossa palavra “paraíso”), originário da palavra do antigo persa que
4 .1 0 As especiarias eram artigos de luxo importados (ver IRs 10.2; significa “parque” ou “recinto fechado”. Em Ne 2.8 e Ec 2.5, refere-se
Ez 27.22) usadas para a fragrância do óleo da unçáo (Êx 25.6; ver a parques e a florestas da realeza. Para mais informações sobre a “hena”,
“Incenso”, em Jr 11) e dos perfumes (ver “Perfumes e óleos de unçáo”, ver nota em 1.14. O “nardo” é um óleo aromático extraído das raízes de
e m jo 12). uma erva perene que cresce na índia.
10 4 2 CÂNTICO DOS CÂNTICOS 4.14

14nardo e açafrão, cáiamo e canela,' 4.14 í x 30.23;


com todas as madeiras aromáticas, O 3.6; « 1 .1 2

mirrai e aloés e as mais finas especiarias.k


15 Você éa uma fonte de jardim,
um poço de águas vivas,
que descem do Líbano.
A Amada
16Acorde, vento norte! 4.16'Ct 2.3; 5.1
Venha, vento sul!
Soprem em meu jardim,
para que a sua fragrância se espalhe ao seu redor.
Que o meu amado entre em seu jardim
e saboreie os seus deliciosos frutos.1
O Amado
Entrei em meu jardim, minha irmã, minha noiva;m 5.1 "Ct4.8;
ajuntei a minha mirra com as minhas especiarias. nCt 4.11; Is 55.1

Comi o meu favo e o meu mel;


bebi o meu vinho e o meu leite.n
Poeta
Comam, amigos,
bebam quanto puderem, ó amados!
A Amada
2Eu estava quase dormindo, mas o meu coração estava acordado. 5.2°Ct4.7; PCt 6.9
Escutem! O meu amado está batendo.
O Amado
Abra-me a porta, minha irmã, minha querida, minha pomba,
minha mulher ideal,°'P
pois a minha cabeça está encharcada de orvalho;
o meu cabelo, da umidade da noite.
A Amada
3 Já tirei a túnica;
terei que vestir-me de novo?
Já lavei os pés;
terei que sujá-los de novo?
4 O meu amado pôs a mão por uma abertura da tranca;
meu coração começou a palpitar por causa dele.
5 Levantei-me para abrir-lhe a porta;
minhas mãos destilavam mirra,‘i
0 4 . 1 5 Ou Eu sou (na voz da A m ada).

4.14 O açafráo é uma variedade de Crocus sativus, com flores roxas ou 5.1 O amado reivindica a amada como jardim seu e desfruta todos
brancas que depois de seca eram usadas como especiaria de cozinha. os deleites que ela proporciona (ver nota em 4.12). Sobre a expressão
O cáiamo é uma cana aromática, especiaria provavelmente importada da ín­ “minha irmã”, ver a nota em 4.9.
dia, também usada no óleo da unçáo (Ex 30.23,25: “cana aromática”) e no 5.3 Algumas palavras hebraicas e gregas de modo geral significam “pro­
incenso (Is 43.23,24; ver “Incenso”, em Jr 11). A canela também era usada fanar”, “corromper”, “tornar impuro”. No A T, a degeneração é vista de
no óleo sagrado da unçáo (Êx 30.23,25) e também como perfume sedutor modo físico (nesse versículo), sexual (Lv 18.20), ético (Is 59.3; Ez 37.23),
(Pv 7.17). Para mais informações sobre a “mirra”, ver nota em 1.12,13. cerimonial (Lv 11.24; 17.15) e religioso (Nm 35.33; Jr 3.1). No N T , ela
O aloés aromático era usado para perfumar as vestes nupciais reais (SI 45-8). é vista exclusivamente nos aspectos ético e religioso (M c 7 .19; At 10.15:
4.15 As “águas vivas” são frescas e brilhantes, provenientes dos campos Rm 14.20). O ensino do N T náo inclui a ideia de corrupção cerimonial,
nevados das montanhas do Líbano. mas o tema sem dúvida era importante para a cultura da época.
4.16 Esse versículo expressa o desejo da amada de que a fragrância de 5.5 As trancas primitivas, utilizadas para fechar as portas da cidade,
seus encantos seja transmitida pelos ventos até seu amado, para que pos­ consistiam de uma pesada viga de madeira cujas extremidades eram encai­
sam desfrutar as intimidades do amor. xadas em fendas talhadas na alvenaria do portáo (Ne 3.3-15; cf. D t 3.5;
CÂNTICO DOS CÂNTICOS 5.9 10

meus dedos vertiam mirra,


na maçaneta da tranca.
5.6 rCt 6.1; « 6 .2 ; 6 Eu abri,r mas o meu amado se fora;s
<Ct3.1
o meu amado já havia partido.
Quase desmaiei de tristeza!
Procurei-o,' mas não o encontrei.
Eu o chamei, mas ele não respondeu.
5.7 "O 3.3 7As sentinelas me encontraram
enquanto faziam a ronda na cidade.u
Bateram-me, feriram-me;
e tomaram o meu manto,
as sentinelas dos muros!
5.8 « 2.7; 3.5; 8 Ó mulheres de Jerusalém,
»Ct2.5
eu as faço jurar:v
se encontrarem o meu amado,
que dirão a ele?
Digam-lhe que estou doente de amor.w
Amigas (As Mulheres de Jerusalém)
5.9 « 1 .8 ; 6.1 9 Que diferença há entre o seu amado e outro qualquer,
ó você, das mulheres a mais linda?*
Que diferença há entre o seu amado
e outro qualquer, para você nos obrigar a tal promessa?

lSm 23.7). As trancas eram reforçadas com barras de ferro (lR s 4.13; variavam de tamanho, mas em geral eram grandes e precisavam ser
Is 45.2). As trancas das portas das residências (Jz 3.23,24) eram menores carregadas no ombro (Is 22.22). Para abrir a porta do lado de fora, a
e tinham pinos achatados. Às vezes, vários pinos eram colocados nas chave era inserida através de um buraco na porta, grande o suficiente
cavidades e só podiam ser destravados com uma chave. As chaves para caber uma mão (Ct 5.5).

J n ÊF ' l i f í w-; i-j

NO T A S H I S T Ó R I C A S E C U L T U R A I S

Cedros do Líbano
CÂNTICO DOS CÂNTICOS 5 0 cedro do Oriente Médio (ver Is 37.24). 0 complexo for­ A altura e a presença dominante dessas ár­
Líbano era uma árvore sempre verde, alta mado pelo templo e o palácio de Jerusalém vores produziram vibrantes imagens bíblicas.
(medindo 37 metros em sua fase adulta) foram generosamente adornados com cedro A majestade de Yahweh é exaltada acima dos
e majestosa, grandemente valorizada na (IRs 7.2; 1Cr 22.4), e a madeira de cedro era cedros (S1148.9,13), e sua voz é tão poderosa
Antiguidade.1 Sua durabilidade e suas di­ utilizada em rituais de purificação (Lv 14.4).2 que é capaz de quebrá-los (SI 29.5). 0 desen­
mensões forneciam ótimo material para a Atestando o uso do cedro em arquiteturas volvimento do justo é comparado ao processo
construção de palácios, templos, navios e monumentais, restos de vigas de cedro par­ de crescimento do cedro (SI 92.12). No Cântico
móveis. Os egípcios ainda utilizavam sua re­ cialmente queimadas foram encontrados dos Cânticos, a aparência física do amante
sina para a mumificação. Nabucodonosor num palácio datado da Idade do Bronze evoca o extraordinário mérito dessas árvores
mencionou os troncos de cedro arrastados Médio3(séc. XV! a.C.) e também num tem ­ (Ct 5.15). Contudo, a altura do cedro também
para a Babilônia desde o monte Líbano, plo datado da Idade do Bronze Tardio pode representar o orgulho e a arrogância do
uma abundante fonte de madeira do antigo (séc. XIII a.C.), em Láquis.4 ser humano (Is 2.12,13; Ez 31.3,10-12).

'Ver "Biblos", em Ez 27. -Ver "Pureza ritual em Israel e no antigo Oriente Médio", em Lv 10. JVer "Tabela dos períodos arqueológicos" na p. xxii, no início desta
Bíblia. 4Ver também "As árvores no antigo Israel”, em Ez 31.
1 044 CÂNTICO DOS CÂNTICOS 5.10

A Amada
10 0 meu amado tem a pele bronzeada;
ele se destaca entre dez mil.v
11 Sua cabeça é como ouro, o ouro mais puro;
seus cabelos ondulam ao vento como ramos de palmeira;
são negros como o corvo.
12 Seus olhos são como pombas2 5.12 ^Ct 1.15; 4.1;
junto aos regatos de água, “Gn 49.12

lavados em leite,3
incrustados como joias.
13 Suas facesb são como um jardim de especiariasc 5.13 “0 1.10;
que exalam perfume. cCt6.2;dCt2.1

Seus lábios são como lírios'1


que destilam mirra.
14Seus braços são cilindros de ouro 5.14 "Jó 28.6
com berilo neles engastado.
Seu tronco é como marfim polido
adornado de safiras.e
15 Suas pernas são colunas de mármore" 5.15'1 Rs 4.33;
firmadas em bases de ouro puro. Ct 7.4

Sua aparência é como o Líbano;*


ele é elegante como os cedros.
16 Sua bocas é a própria doçura; 5.16 « 4 .3 ;
ele é mui desejável. »Ct7.9;'Ct1.5

Esse é o meu amado,h


esse é o meu querido, ó mulheres de Jerusalém.'
Amigas (Mulheres de Jerusalém)
Para onde foi o seu amado,i
6 ó mais linda das mulheres?k
Diga-nos para onde foi o seu amado
6 .1 0 5.6; *Ct 1.8

e o procuraremos com você!


A Amada
2 O meu amado desceu1ao seu jardim,m 6.2'Ct 5.6;
aos canteiros de especiarias," - a 4.12; "«5.13

para descansar
e colher lírios.
3 Eu sou do meu amado, 6.3°Ct7.10;
e o meu amado é meu;° PCt 2.16

ele descansa entre os lírios.P


O Amado
4 Minha querida, você é linda como Tirza,í 6.4 <Us 12.24;
bela como Jerusalém/ <S\48.2; 50.2;

admirável como um exército e suas bandeiras.s


sv.10

a 5 . 1 5 Ou alabastro.

5 .1 0 -1 6 Esse é um dos poucos poemas do mundo antigo que chegou significa “desfrutar de” (ver nota em 2.16). O amado, desfrutando inti-
até nós em que uma mulher faz uma descrição das características de midades com a amada, é comparado a uma gazela graciosa (ver nota em
seu amado. 2.9), mordiscando de lírio em lírio, experimentando, sem ser perturbada,
5 .1 2 Sobre as “pombas”, ver a nota em 1.15. O cintilar dos olhos do iguarias exóticas.
amado: descrição do branco do olho que brilha como uma joia. 6 .4 Tirza foi escolhida por Jeroboão I (930-909 a.C.) como primeira
5.1 3 Esses símiles provavelmente se referem aos efeitos causados aos sen­ cidade real do Reino do Norte (ver “Tirza”, em 1Rs 15). O significado
tidos, não à aparência, que é o caso dos símiles e das metáforas que se do nome (“prazer”, “beleza”) fàz crer que se tratava de um local bonito, e
seguem, pelo menos em parte. isso talvez explique por qüe o autor põe essa cidade lado a lado com
5 .1 4 A identificação precisa do berilo é incerta. Jerusalém (embora não se saiba em que consistia a beleza de Tirza).
5 .1 5 Para “cedros”, ver nota em 3.9. A comparação entre a beleza da amada e a das cidades talvez não fosse
6 .2 Sobre “seu jardim ”, ver nota em 4 .1 2 . “Canteiros de especiarias” tão rara no antigo Oriente Médio, visto que as cidades eram em geral
é uma referência aos atrativos sensuais do amado (ver 5.13). “Descansar” retratadas como mulheres.
CÂNTICO DOS CÂNTICOS 7. 1 1045

6.5 a 4.1 5 Desvie de mim os seus olhos,


pois eles me perturbam.
Seu cabelo é como um rebanho de cabras
que descem de Gileade.*
6.6 »ct4.2 6 Seus dentes são como um rebanho de ovelhas
que sobem do lavadouro.
Cada uma tem o seu par,
não há nenhuma sem crias.u
6.7 >Gn 24.65; 7 Suas faces, por trás do véu,v
*ct4-3 são como as metades de uma romã.w
6.8 «si 45.9; 8 Pode haver sessenta rainhas,x
22 24 e oitenta concubinas,y
e um número sem-fim de virgens,
8.9 *01.15; 9 mas ela é única, a minha pomba,z
5'2; 1013 4 minha mulher ideal!3
Ela é a filha favorita de sua mãe,
a predileta daquela que a deu à luz.b
Quando outras jovens a veem, dizem que ela é muito feliz;
as rainhas e as concubinas a elogiam.

Amigas (Mulheres de Jerusalém)


10Quem é essa que aparece como o alvorecer,
bela como a Lua, brilhante como o Sol,
admirável como um exército e suas bandeiras?

A Amada
6 .1 1 « 7.12 11 Desci ao bosque das nogueiras
para ver os renovos no vale,
para ver se as videiras tinham brotado
e se as romãs estavam em flor.c
12 Antes que eu o percebesse,
você me colocou entre as carruagens,
com um príncipe ao meu lado.*

Amigas (Mulheres de Jerusalém)


6 .i3 dÊx 15.2o 13 Volte, volte, Sulamita;
volte, volte, para que a contemplemos.
O Amado
Por que vocês querem contemplar a Sulamita,
como na dançad de Maanaim*’?
Como são lindos
7 os seus pés calçados com sandálias,
ó filha do príncipe!e
As curvas das suas coxas são como joias,
obra das mãos de um artífice.
0 6 . 1 2 Ou Sem que eu percebesse, m in h a im aginação m e colocou entre os carros d o m eu n obre povo.
b 6 . 1 3 Ou dos dois coros; ou ainda dos dois acam pam entos.

6.8 Se Salomão é o autor do poema (ver “A autoria de Edesiastes e do 6 .9 A mulher não é literalmente a única, mas aquela que é amada de
Cântico dos Cânticos”, em Ec 5), esse versículo pode indicar que ele o modo único.
fez quando ainda era relativamente jovem — antes de adquirir as 700 6 .1 3 As opiniões sobre a origem do termo “sulamita” divergem um pou­
esposas e as 300 concubinas (IR s 11.3). Entretanto, se o amado era um co (a palavra hebraica shülammith significa “pacífica”). Não é improvável
homem do povo, está se vangloriando do feto de sua noiva ser mais im­ que seja a forma feminina do nome “Salomão”, no sentido de “a garota
pressionante que as mulheres do harém real e as virgens sem conta. de Salomão”. Se for uma variação de “sunamita”, como aparece na Sep­
Para mais informações sobre o termo “virgens” (ou “jovens”), ver nota tuaginta, então significa “proveniente da cidade de Suném”.
em 1.3.
46 CÂNTICO DOS CÂNTICOS 7.2

2Seu umbigo é uma taça redonda


onde nunca falta o vinho de boa mistura.
Sua cintura é um monte de trigo
cercado de lírios.
3 Seus seios* são como dois filhotes de corça, 7.3 c t 4.5
gêmeos de uma gazela.

7 .2 Para mais informações sobre feixes e debulha, ver nota em Rute 2.7;
ver também “A eira”, em lC r 21; e “Comida e agricultura”, em Rt 2.

m m i

NOTAS HI S T ÓR I C A S E CUL T UR A I S
*

Imagens e metáforas nas antigas poesias de amor


CÂNTICO DOS CÂNTICOS 7 0 leitor moderno algumas correspondências visuais entre essas no poema bíblico podem ser encontrados nos
do Cântico dos Cânticos fica admirado com características, a linguagem é surpreendente textos proféticos e apocalípticos das Escritu­
as poderosas e ao mesmo tempo excêntricas e, às vezes, difícil de entender. Esse aspecto ras. A visão da glória de Deus, em Ezequiel 1,
imagens e metáforas do poema. Por que, por do poema bíblico é interpretado de várias com rodas dentro de rodas e rodas cobertas de
exemplo, um homem diria à mulher que formas pelos estudiosos: olhos, também é surpreendente. 0 livro
ama o nariz dela ser como uma torre (7.4)? de Apocalipse faz extenso uso dessa lingua­
A não ser que os israelitas achassem um na­ • f Alguns afirmam que as palavras expres­ gem — por exemplo, a espada que sai da
riz grande atraente, a mulher estaria sendo sam o que o cantor sentia em relação à mu­ boca do Cristo glorificado (ver Ap 1.13-16).
insultada. Alguns preferem simplesmente lher, não à sua aparência física. Desse modo, Portanto, a linguagem do Cântico dos Cânti­
presumir que os antigos tinham formas di­ o nariz e o pescoço comparados a uma torre cos pode ser deliberadamente extravagante,
ferentes de se expressar e que as metáforas pode indicar respeito e admiração por ela, sugerindo que o homem e a mulher estão
que soam ridículas para nós não só eram sem nenhuma alusão à aparência física. acima da vida, representando não apenas
aceitáveis, como também prazerosas para *$• Outra possibilidade é que as metáforas duas pessoas, mas o profundo mistério e o
eles. Acontece, porém, que, enquanto as sugerem como a mulher se parecia, mas não poder do amor.
metáforas mais compreensíveis do poema de forma crua. 0 cabelo poderia, em algum
encontram equivalentes em outros textos do sentido, parecer-se com um rebanho de ca­
antigo Oriente Médio, as mais bizarras não bras na encosta de uma colina, de modo que
têm correlação conhecidas em outras poesias o declive e o pelo das cabras eram, de alguma
de amor antigas. forma, semelhantes à aparência dos cachos
Por exemplo, quando é dito que a mulher que lhe caíam sobre os ombros.
é uma flor (2.1) ou quando o homem é exor­ •I* Uma terceira possibilidade é que a poesia
tado a vir correndo como uma gazela (8.14), é deliberadamente cômica ou irônica, contu­
o primeiro caso obviamente se refere à bele­ do isso é bastante improvável, uma vez que
za jovial da mulher, e o segundo, à força e ra­ não há no poema nenhuma indicação de
pidez do homem— imagens que encontram que foi escrito com propósitos humorísticos.
paralelos muito próximos na poesia egípcia.1
No entanto, é difícil encontrar um paralelo As duas primeiras sugestões fazem
na literatura antiga para um texto como 4.1- sentido, sem dúvida, mas é difícil ignorar
5, em que os olhos da mulher são pombas, que o Cântico dos Cânticos utiliza consis-
o cabelo é um rebanho de cabras descendo tentemente linguagem metafórica bem
uma colina, o pescoço é uma torre coberta pouco convencional.
de escudos e os seios são filhotes gêmeos de Na verdade, alguns dos paralelos mais
gazela. Embora seja possível encontrar próximos com as imagens que encontramos

1Ver "As antigas poesias de amor", em Ct 1.


CÂNTICO DOS CÂNTICOS 8.2 1047

7.4 «S1144.12; 4 Seu pescoço é como uma torre de marfim.s


Ct 4.4; hNm 21.26;
« 5 .1 5 Seus olhos são como os açudes de Hesbom,h
junto à porta de Bate-Rabim.
Seu nariz é como a torre do Líbano'
voltada para Damasco.
5 Sua cabeça eleva-se como 0 monte Carmelo.i
Seus cabelos soltos têm reflexos de púrpura;
o rei caiu prisioneiro das suas ondas.
7.6 «Ct 1.15; 6 Como você é linda!k Como você me agrada!
'Ct 4.10
Oh, 0 amor e suas delicias!1
7.7 mCt 4.5 7 Seu porte é como 0 da palmeira;
os seus seios,mcomo cachos de frutos.
7.8 "Ct 2.5 8 Eu disse: Subirei a palmeira
e me apossarei dos seus frutos.
Sejam os seus seios como os cachos da videira,
0 aroma da sua respiração como maçãs0"
7.9 °Ct 5.16 9 e a sua boca como 0 melhor vinho...

A A m ada
... vinho que flui suavemente para 0 meu amado ,0
escorrendo suavemente sobre os lábios de quem já vai adormecendo.
7.10PSI 45.11; 10 Eu pertenço ao meu amado,
C t 2.16; 6.3
e ele me deseja.Pfl
11 Venha, meu amado, vamos fugir para 0 campo,
passemos a noite nos povoados.
7.12'Ct 1.6; 12 Vamos cedo para as vinhasr
«Ct 2.15; « 2 .1 3 ;
“Ct 4.13; 6.11 para ver se as videiras brotaram,s
se as suas flores* se abriram
e se as romãsu estão em flor;v
ali eu darei a você 0 meu amor.
7.13 «Gn 30.14; 13 As mandrágoras% exalam 0 seu perfume,
<04.16
e à nossa porta há todo tipo de frutos finos,
secos e frescos,
que reservei para você, meu amado.x

8 Ah, quem dera você fosse meu irmão,


amamentado nos seios de minha mãe!
Então, se eu 0 encontrasse fora de casa,
eu 0 beijaria,
e ninguém me desprezaria.
2 Eu 0 conduziria
e 0 traria à casa de minha mãe,v
e você me ensinaria.
Eu daria a você vinho aromatizado
para beber, 0 néctar das minhas romãs.

0 7 . 8 Ou damascos.
b 7 . 1 3 Isto é, plantas tidas por afrodisíacas e capazes de favorecer a fertilidade feminina.

7 .4 Nos tempos antigos, Hesbom era a cidade real do rei Seom (Nm 7 .7 A “palmeira” é a tamareira, de porte majestoso.
21.26), que recebia abundante suprimento de água das fontes. Bate-Ra- 7 .1 3 A mandrágora, com suas flores delicadas e raízes na forma da parte
bim significa “filha de muitos” e talvez seja o nome popular de Hesbom. inferior do corpo humano, era associada ao desejo sexual e ao aumento
A “torre do Líbano” talvez seja uma referência à torre militar na fronteira da fertilidade (ver G n 30.9-18).
norte do reino de Salomáo, porém mais provavelmente a bela e alta­ 8 .1 A amada sentia-se frustrada por causa do padrão cultural que permi­
neira cordilheira do Líbano. tia aos membros da família demonstrar afeição pública, mas proibia os
7 .5 O monte Carmelo, alta cordilheira próxima do mar Mediterrâneo, casados de fazer o mesmo.
era conhecido por sua beleza e por seu cume coberto de bosques. Ainda 8 .2 A palavra hebraica para “néctar” evoca os sucos inebriantes.
hoje é um impressionante cenário para o porto de Haifa.
CÂNTICO DOS CÂNTICOS 8. 3

30 seu braço esquerdo esteja debaixo 8.3 «t 2.6


da minha cabeça, e o seu braço direito me abrace.2
4 Mulheres de Jerusalém, eu as faço jurar: 8.4 *ct2.7; 3.5
Não despertem nem incomodem o amor
enquanto ele não 0 quiser.a
Am igas (Mulheres de Jerusalém)
5 Quem vem subindo do deserto,b as « 3.6; "Ct3.4
apoiada em seu amado?
A Am ada
Debaixo da macieira eu 0 despertei;
ah esteve a sua mãe em trabalho de parto ,0
ali sofreu as dores aquela que 0 deu à luz.
6 Ponha-me como um selo sobre 0 seu coração; 8.6 dCt 1.2;

como um selo sobre 0 seu braço; eNm 5.14

pois 0 amor*1é tão forte quanto a morte


e o ciúme0' é tão inflexível quanto a sepultura6
Suas brasas são fogo ardente,
são labaredas do Senhorc.
7 Nem muitas águas conseguem apagar 0 amor;
os rios não conseguem levá-lo
na correnteza.
Se alguém oferecesse todas as riquezas
da sua casa para adquirir 0 amor,
seria totalmente desprezado.'
Irmãos
8 Temos uma irmãzinha;
seus seios ainda não estão crescidos.
Que faremos com nossa irmã
no dia em que for pedida em casamento?
9 Se ela for um muro,
construiremos sobre ela uma torre de prata.
Se ela for uma porta,
nós a reforçaremos com tábuas de cedro.
A Am ada
10 Eu sou um muro,
e meus seios são as suas torres.
Assim me tornei aos olhos dele
como alguém que inspira paz.
11 Salomão possuía uma vinhas em Baal-Hamom; 8.11 sEc 2.4;
ele entregou a sua vinha a arrendatários. hls 7.23

Cada um devia trazer pelos


frutos da vinha doze quilos* de prata.
0 8 . 6 Ou paixão.
b 8 . 6 Hebraico: Sheol. Essa palavra também pode ser traduzida por profundezas, pó ou morte.
f 8 . 6 Ou labaredas enormes.
d 8 .1 1 Hebraico: 1.000 siclos; também no versículo 12. Um siclo eqüivalia a 12 gramas.

8 .5 No mundo antigo, a união sexual e o nascimento eram muitas vezes 8 .7 A expressão “muitas águas” indica não apenas as profundezas do
associados a árvores frutíferas. oceano (ver SI 107.23), mas também as águas primevas que os povos
8 .6 ,7 do antigo Oriente Médio consideravam uma ameaça permanente ao
“Sepultura”, “fogo ardente” e “muitas águas” caracterizam o amor con­
jugal como a força mais poderosa, irresistível e invencível da experiência hu­ mundo (ver nota em SI 3 2 .6 ). As águas também estavam associadas
mana. Com essas declarações, o poema atinge o ápice e revela seu propósito. ao mundo dos mortos.
8 .6 O selo tinha muito valor para seu proprietário e era tão pessoal 8 .1 1 A localização de Baal-Harmom é desconhecida.
quanto o nome (ver nota em G n 38.17,18; ver também “Rolos, selos
e códices”, em Ap 5).
A C R E D I B I L I D A D E DA

B í B/L IA
A ARQUEOLOGIA E
A D A T A DE C Â N T I C O
DOS C Â N T I C O S
CÂNTICO DOS CÂNTICOS 8 Muitos estudiosos acreditam que o Cân­ te similar ao Cântico dos Cânticos. Embora a mensagem do poema
tico dos Cânticos foi escrito durante o período pós-exflico, a despeito bíblico seja diferente da que encontramos no material egípcio, está
do fato de que o título “ oficial" do livro, "Cântico dos Cânticos de Sa­ claro que a poesia hebraica utiliza algumas das convenções literárias
lomão",' o associa com a época desse rei. A arqueologia, porém, tem da poesia egípcia. Em 1Reis 9.16, somos informados de que Salomão se
fornecido boas razões para acreditarmos que o livro foi realmente casou com uma princesa egípcia e mantinha boas relações com o Egito.
escrito no início ou em meados do século X a.C.2 É razoável presumir que foi um tempo de comunicação e comércio
constantes entre as duas nações. Desse modo, a época de Salomão
•5* As descobertas arqueológicas desse período indicam que esse foi é a que apresenta maior probabilidade de contato com a poesia de
o período em que Israel esteve sob poderosa autoridade central, como amor egípcia, que sem dúvida era lida e apreciada na corte de Israel.6
demonstra a Bíblia. Muitos estudiosos
negam que tenha existido o grande rei­
no de Davi e Salomão, e alguns vão tão
longe que chegam a teorizar que esses
homens foram figuras lendárias, nâo
personagens históricos. É óbvio que, se
0 reinado de Salomão não tivesse exis­
tido, não precisaríamos pressupor que o
Cântico dos Cânticos foi escrito na época
atribuída ao seu reinado. No entanto, a
arqueologia apoia o quadro bíblico dos
tempos de Salomão. De acordo com
1Reis 9.15, Salomão construiu o templo,
o palácio real, uma estrutura conhecida
como Milo e o muro de Jerusalém, além
das cidades de Hazor, Megido e Gezer
(mapa 5).3
0 templo e o palácio de Salomão --í • lí f s f S K S y
foram perdidos, e a localização do Milo Área de um altar circular de Megido, datado da Idade do Bronze Antigo
é objeto de debate, mas a arqueologia Cortesia do © dr. Gary Pratico
confirma cada aspecto do templo de Salomão, conforme descrito na 4* Cântico dos Cânticos 6.4 indica que, na época em que o poema foi
Bíblia, estando de acordo com o que conhecemos de outros templos escrito, Jerusalém e Tirza eram as duas cidades mais magníficas de
do mesmo período e da mesma região.4 Israel. Tirza (localizada ao norte, em Tell el-Farah)7 foi uma grande
As cidades de Hazor, Megido e Gezer foram escavadas e desco­ cidade na parte norte de Israel durante os dias de Salomão. Depois
briu-se que elas têm sistemas de fortificação e muros que datam do que o reino se dividiu, Tirza tornou-se a capital do Reino do Norte, sob
período de Salomão, sugerindo que foram construídas por enge­ o governo de Jeroboão I, até que Onri (ca. de 885-874 a.C.) construiu
nheiros reais que trabalhavam com um projeto comum.5 Samaria. Depois disso, a cidade entrou em declínio e já não existia no
❖ Às vezes, a literatura florescia durante um período de poder e período pós-exílico. 0 argumento de que um poeta do mundo pós-
prosperidade nacional (e.g., Virgílio escreveu a Eneida num dos pon­ -exílico teria equiparado Jerusalém a Tirza não tem fundamento, pois
tos altos da história romana, a era de Augusto). Assim, a associação do na época Tirza não era mais do que um morro abandonado. Contudo,
Cântico dos Cânticos com a era de Salomão fez muito sentido. é bastante razoável que um poeta do século X a.C. considerasse Tirza
•s* Na última parte do II milênio a.C., um estilo peculiar de poesia uma cidade do mesmo nível de Jerusalém.
romântica floresceu no Egito, de várias maneiras extraordinariamen­

1Algumas traduções bíblicas usam o título "Cantares de Salomão". 2Ver também "A autoria de Eclesiastes e do Cântico dos Cânticos", em Ec 5. 3Ver "Construções de
Salomão", em 1Rs 9. 4Ver "0 templo de Salomão e outros templos antigos", em 1Cr 29. 5Ver "Hazor", em Js 11; "Megido", em Zc 12; "Gezer", em 1Cr 6.
6Ver "As antigas poesias de amor", em Ct 1. TVer 'Tirza", em 1Rs 15.

w
1050 CÂNTICO DOS CÂNTICOS 8.12

12 Quanto à minha própria vinha , 1essa está em meu poder;


os doze quilos de prata são para você,
ó Salomão, e dois quilos e meio são para os
que tomaram conta dos seus frutos.

O Am ado
13Você, que habita nos jardins,
os amigos desejam ouvi-la;
deixe-me ouvir a sua voz!

A A m ada
14 Venha depressa, meu amado, 8.14íPv5.19;
. i "Ct 2.9; 'Ct 2.8,17
e seja como uma gazela,)
ou como um cervo novok
saltando sobre os montes 1
cobertos de especiarias.

8.12 Sobre a expressão “minha própria vinha”, ver nota em 1.6 8.13 Sobre os “jardins”, ver a nota em 4.12. “Amigos” são pessoas do
sexo masculino, talvez os companheiros do amado (ver 1.7).

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