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ATRAVÉS DA V I D A E DOS
TEMPOS BÍBLICOS
W 1
tí> 5
DESTINATÁRIO
Cântico dos Cânticos é um poema de amor ou uma compilação de poemas de amor escritos para o povo de Deus, com a finalidade de
honrar e celebrar o amor romântico e sexual no contexto do relacionamento conjugal como presente divino.
L I N H A DO T E M P O
1400 A.C. 1300 1200 1100 1000 900 800 700 600 500 400
E N Q U A N T O V O C Ê LÉ
Não se prenda às interpretações históricas do livro nem fique procurando possíveis significados ocultos abaixo da superfície do texto.
Levando-se em consideração 0 fato de que Cântico dos Cânticos celebra 0 amor conjugal, recolha 0 que puder de suas passagens, evitando
a tentação de fazer uma leitura excessivamente crítica das imagens que, do ponto de vista moderno, pareçam embaraçosas. Se você é
casado ou pretende se casar, que princípios do livro seriam aplicáveis à sua situação?
VOCÊ SABIA?
• A pele bronzeada pelo sol não era desejada pelas mulheres da elite daquele tempo (1.5).
• “ Irmã” é uma expressão de carinho muito comum nas poesias de amor do antigo Oriente Médio (4.9).
• A mandrágora era associada com a capacidade de despertar 0 desejo sexual e com 0 aumento da fertilidade (7.13).
TEMAS
Os temas do livro de Cântico dos Cânticos incluem:
1. O amor é um belo dom de Deus. Cântico dos Cânticos é uma poesia de amor que articula 0 belo relacionamento entre marido e mulher.
Seus versos lembram ao povo de Deus que a intimidade sexual no casamento é um dom divino e deve ser valorizada e desfrutada. O amor
é retratado como algo precioso (8.7b), espontâneo (2.7) e poderoso (8.6,7a).
2. Satisfação conjugal. Cântico dos Cânticos demonstra que a satisfação sexual só pode ser encontrada no relacionamento conjugal (2.16).
0 amor erótico expresso no livro é cheio de ternura, agradável e natural — não é vergonhoso nem humilhante. Os amantes veem a si
mesmos como seres iguais, elogiando um ao outro e compartilhando as iniciativas.
3 .0 amor é prazeroso, mas também doloroso. A alegria é a nota dominante do livro, mas 0 leitor é advertido de que 0 amor é um sentimento
poderoso que pode trazer desapontamentos (5.2— 6.3). A jovem protagonista repetidamente adverte as amigas a não apressar 0 amor (2.7;
3.5; 8.4). 0 amor tem um lado perigoso (8.6), por isso deve ser tratado com cuidado.
SUMÁRIO
I. Primeiro encontro (1.1— 2.7)
II. Segundo encontro (2.8— 3.5)
III. Terceiro encontro (3.6— 5.1)
IV. Quarto encontro (5.2— 6.3)
V. Quinto encontro (6.4— 8.4)
VI. Clímax literário (8.5-7)
VII. Conclusão (8.8-14)
1034 CÂNTICO DOS CÂNTICOS 1. 1
A Amada
Com toda a razão você é amado!
7 Conte-me, você, a quem amo, onde faz pastar o seu rebanho 1.7 iCt 3.1-4;
Is 13.20
e onde faz as suas ovelhas) descansarem ao meio-dia?
Se eu não o souber, serei como uma mulher coberta com véu
junto aos rebanhos dos seus amigos.
O Amado
8 Se você, a mais linda das mulheres,k 1.8kCt5.9; 6.1
se você não o sabe, siga a trilha das ovelhas
e faça as suas cabritas pastarem
junto às tendas dos pastores.
a 1 . 2 Com base no gênero dos pronomes hebraicos empregados, indicam-se por meio dos títulos o A m ado e a Am ada,
quando o interlocutor é o homem ou a mulher. As palavras dos outros interlocutores estão assinaladas com o título
Amigas. Em alguns casos as divisões e seus títulos são discutíveis.
1.1 O nome hebraico do livro, Cântico dos Cânticos, foi extraído de SI 46 sobrescrito; 68.25; C t 1.3; 6.8). Em 1 Crônicas 15 e no sobrescrito
1.1 e apresenta-o como “Cântico dos Cânticos de Salomáo”. O uso do do salmo 4 6, a palavra ocorre de forma incompreensível e, portanto,
superlativo hebraico sugere que o livro seja o melhor dos 1.005 cânticos nada pode dizer acerca de seu significado.
escritos por Salomão (IR s 4.32) ou que talvez seja o maior deles. Esse 1.5 Embora fosse “bela”, a amada tinha consciência de que sua pele es
verso também oferece a base para o mais antigo título do livro nas versões tava bronzeada pelo sol, algo que não era desejado pelas mulheres da
em nosso idioma — Cânticos ou Cantares de Salomão — e para o título elite daquele tempo.
na NV1: Cântico dos Cânticos (ver, porém, “A autoria de Eclesiastes e do A frase “mulheres de Jerusalém” provavelmente se refere às jovens do
Cântico dos Cânticos”, em Ec 5). versículo 3 e em geral às “amigas” dos títulos das seções.
1.3 Os perfumes eram feitos através da mistura de espécies aromáticas Quedar era um território no deserto da Arábia, pelo qual passavam os
com resinas em um óleo cosmético (ver “Perfumes e óleos de unção”, beduínos, conhecidos por seus rebanhos. As cortinas das tendas eram te
e m jo 12). cidas manualmente com pelo negro de bode. A mulher, sem dúvida, era
“Jovens” provavelmente é uma referência às jovens da corte ou da cida de uma família cujas mulheres contribuíam com o trabalho doméstico
de régia (ver 6.8,9). Existem no A T duas palavras traduzidas em nosso cuidando do rebanho. Ela se dedicava aos interesses da família à custa
idioma por “virgem” ou “jovem”. A palavra bethúlâb é amplamente acei do próprio corpo (cf. v. 6 e nota).
ta como o termo técnico hebraico para a moça não casada e, portanto, 1.6 A expressão “minha própria vinha” refere-se a seu corpo, como em
virgem. A palavra ‘alm âh pressupõe uma jovem em idade de casamento 8.12 (ver também 2.15). A vinha é uma metáfora adequada, visto que
ou, se o contexto o exigir, uma jovem casada. Essas palavras são usadas produz vinho, e as emoções do amor sáo comparadas às que sáo produ
no A T da seguinte forma: ‘alm âh aparece nove vezes: quatro no singular zidas pelo vinho (cf. v. 2). A amada também é comparada a um jardim,
(Gn 24.43; Ex 2.8; Pv 30.19; Is 7.14) e cinco no plural (lC r 15.20; pois oferece frutos preciosos ao amado (ver nota em 4.12).
CÂNTICO DOS CÂNTICOS 1.11
'Ver o Glossário na p. 2080 para as definições das palavras em negrito. !Ver "Chorando por Tamuz", em Ez 8.
036 CÂNTICO DOS CÂNTICOS 1.12
A Amada
12Enquanto o rei estava em seus aposentos,
o meu nardo espalhou sua fragrância.0
13 O meu amado é para mim
como uma pequenina bolsa de mirra
que passa a noite entre os meus seios.
14 0 meu amado é para mim 1.14 PCt 4.13;
i um ramalhete de flores de henaaP das vinhas de En-Gedi.^
<1Sm 23.29
A Amada
Sou uma flor*"1de Sarom,v 2.1 “Is 35.1;
O Amado
2 Como um lírio entre os espinhos
é a minha amada entre as jovens.
A Amada
3 Como uma madeira entre as árvores da floresta 2.3 *Ct 1.14;
5Por favor, sustentem-me com passas, 2.5 °Ct 7.8; dCt 5.8
1.12 ,13 A mirra é uma resina aromática extraída das raízes de uma erva para servir de câmara nupcial aos noivos na noite de núpcias (2Sm 16.22;
perene que cresce na Arábia, na Etiópia e na índia, provavelmente utili SI 19.4,5; C t 1.16,17). Essa tenda normalmente era redonda, montada
zada como um sedutor perfume feminino (Et 2.12; Pv 7.17). Também pelas mulheres no início da noite. Como parte da tarefa, elas também
era usada para perfumar os mantos nupciais reais (SI 45.8) e era um dos preparavam a cama para o casal de noivos. Os mais pòbres, que não po
ingredientes do óleo sagrado da unção (Êx 30.23). O mago que levou diam dispor dessa privacidade, preparavam uma repartição na tenda dos
mirra ao menino Jesus deu-lhe um presente digno de um rei. pais do noivo. Quando chegava o pôr do sol, algumas moças, parentes
1.14 A “hena” é um arbusto da Palestina (talvez o cipreste), com flores do noivo, entravam na tenda dos pais da noiva e acompanhavam a jovem
aromáticas em cachos compactos. En-Gedi era um oásis irrigado por uma noiva até a câmara nupcial, na qual ela se juntava ao seu noivo.
fonte, localizado a oeste do mar Morto (ver “En-Gedi”, em 2C r 20). 2.4 O amor do rei por sua amada era para ser visto por todos, como uma
1.15 As “pombas” sáo provavelmente uma referência à forma dos olhos e grande bandeira militar.
ao destaque dado pelos cosméticos aos olhos femininos (ver 4.1). 2.5 “Passas” e “maçãs” são, provavelmente, metáforas das carícias e dos
1.16,17 O casamento nos tempos patriarcais (ver nota em Jz 14.17) era abraços amorosos (cf. v. 3).
um acontecimento festivo. Uma pequena tenda era erguida em separado
CÂNTICO DOS CÂNTICOS 2.8 103
NOTAS H I S T Ó R I C A S E CUL T UR A I S
O Amado
Levante-se, minha querida,
minha bela, e venha comigo.
11 Veja! 0 inverno passou;
acabaram-se as chuvas e já se foram.
12 Aparecem flores na terra,
e chegou o tempo de cantar";
já se ouve em nossa terra
o arrulhar dos pombos.
13 A figueira produz os primeiros frutos;k 2.13 Kls 28.4;
Jr 24.2; Os 9.10;
as vinhas florescem1 e espalham sua fragrância. Mq 7.1; Na 3.12;
Levante-se, venha, minha querida; 0 7 .1 2
A Amada
15 Apanhem para nós as raposas,0 2.15»Jz 15.4;
as raposinhas que estragam as vinhas,P P 0t1.6;«7.12
0 2 . 1 2 Ou de podar.
b 2 . 1 7 Ou colinas de Beter, ou ainda montes da separação.
2 .9 A gazela é célebre por sua forma e beleza. O “cervo novo” é uma 2 .1 6 Eles pertencem um ao outro, de modo exclusivo, num relaciona
figura apropriada para o vigor da juventude (ver Is 35.6). mento que não permite intromissão. O pastoreio é uma metáfora do
2 .1 5 Sobre as “vinhas”, ver a nota em 1.6. As raposas são mencionadas amado desfrutando intimamente os encantos dela (ver 6.2,3).
nos textos arttigos como transtornos para os vinhateiros porque elas co 2 .1 7 O amado é outra vez comparado a uma gazela ou a um cervo novo
miam as uvas verdes (ver “Comida e agricultura”, em Rt 2). (ver nota do v. 9).
CÂNTICO DOS CÂNTICOS 3.4
3 .3 As sentinelas ficavam a postos diante das portas da cidade 9 .1 7 -2 0 ; SI 127.1; Is 6 2 .6 ). Ao que parece, elas também patrulhavam
(ver N e 11.19; 13.22) e nos muros (ver 2Sm 1 3.34; 18 .2 4 -2 7 ; 2Rs as ruas durante a noite (ver 5.7).
. '
Jr
1NO
N T1 A
/ \S IHI II S T
1 ÓR
I v I1 C A
/ \ S*3 LF C I J* Ií—T1 UV / R1\ Ax i I1Sl J
1Ver "Casamento e divórcio no antigo Israel", em Ml 2. 20 livro de IMacabeus é apócrifo, ou seja, não está incluído no cânon protestante tradicional.
1040 CÂNTICO DOS CÂNTICOS 3. 5
Coro
6 O que vem subindo do deserto,d 3.6 «t 8.5;
como uma coluna de fumaça, § 3oJi4'6’14:
perfumado com mirrae e incenso
com extrato de todas as especiariasf dos mercadores?
7 Vejam! É aliteira de Salomão, 3.7«ism8.n
escoltada por sessenta guerreiros,s
os mais nobres de Israel;
8 todos eles trazem espada, 3.8 »jó 15.22;
Si 91 5
todos são experientes na guerra,
cada um com a sua espada,
preparado para enfrentar os pavores da noite.h
9 O rei Salomão fez para si uma liteira;
ele a fez com madeira do Líbano.
10 Suas traves, ele fez de prata;
seu teto, de ouro.
Seu banco foi estofado em púrpura;
seu interior foi cuidadosamente preparado
pelas mulheres de Jerusalém.
11 Mulheres de Sião,' saiam! 3.11 is 4 .4 ; iis 62.5
Venham ver o rei Salomão!
Ele está usando a coroa, a coroa que sua mãe lhe colocou
no dia do seu casamento,
no dia em que 0 seu coração se alegrouJ
O Amado
Como voce e linda, minha querida! 4.1 »ct 1.15; 5.1 a
,, ,.. ’ , n 'Ct6.5; Mq 7.14
Ah, como e linda!
Seus olhos, por trás do véu, são pombas.k
Seu cabelo é como um rebanho de cabras
que vêm descendo do monte GileadeJ
2 Seus dentes são como um rebanho de ovelhas recém-tosquiadas m ”Ct6.6
que vão subindo do lavadouro.
Cada uma tem o seu par;
não há nenhuma sem crias.m
3 .6 -1 1 Coro talvez cantado pelas amigas (ver 8.5). Nesse caso, a seção 3 .7 A liteira era um palanquim utilizado para transportar a realeza, rica
provavelmente retrata o cortejo nupcial de Salomão que, com a noiva, mente adornado, carregado nos ombros com o auxílio de varas.
se aproxima da cidade. 3 .9 A “madeira do Líbano” é uma alusão ao famoso cedro do Líbano
Seguindo o exemplo do rei Salomão, o noivo, no casamento judaico (ver “Cedros do Líbano”, em C t 5).
tradicional do AT, era coroado como o rei da festa (para mais informa 3 .1 0 As traves que sustentavam o liteira eram provavelmente feitas de
ções sobre as tradições relativas à cerimônia de casamento, ver notas em cedro revestido de prata e ouro.
1.16 ,1 7 e Jz 14.12-14; ver também “Casamentos no antigo Israel”, 3.1 1 As “mulheres de Sião” são as “mulheres de Jerusalém” mencionadas
em C t 3). Sem dúvida, também era tradição nesse período (900 a.C.) em outros lugares (ver nota em 1.5). A “coroa” é uma referência à grinal
que a noiva fosse submetida a uma coroação cerimonial, que a trans da nupcial (ver Is 61.10).
formava em rainha enquanto durasse a celebração (Ez 16.8-13). Parece 4.1 Sobre as “pombas”, ver nota em 1.15. Os rebanhos de cabras da
que em algumas ocasiões os homens chegavam à casa do noivo e partici Palestina eram em geral negros (ver nota em 1.5). Os cabelos do ama
pavam de um banquete (Gn 29.22) enquanto as mulheres, incluindo a do também eram negros (5.11). As tranças negras que caíam da cabeça da
noiva, participavam de uma festa em separado, na casa dos pais da noiva. amada fazem o amado lembrar-se de um rebanho de cabras negras,
3 .6 O “deserto” é uma referência aos gramados de estação, não cultiva de pelo macio, descendo em fileira uma das colinas de Gileade (célebres
dos. As especiarias utilizadas para fazer o incenso eram importadas (ver pelas suas boas pastagens).
nota em 4.10; ver também “Incenso”, em Jr 11)'. 4 .2 As “ovelhas recém-tosquiadas que vão subindo do lavadouro” estão
limpas, brancas e molhadas, como os dentes úmidos.
CÂNTICO DOS CÂNTICOS 4.13 1041
4 .3 O s lábios da amada eram vermelhos, talvez porque ela os pintasse da 4 .1 1 Os povos do antigo Oriente Médio associavam os deleites do amor
mesma forma que as mulheres egípcias. Suas faces eram arredondadas e à doçura.
enrubescidas como uma romá. 4 .1 2 -1 5 Muito provavelmente, as imagens desses versículos sáo sugeri
4 .4 O pescoço ereto e adornado da amada é semelhante a uma torre das pelos jardins de Salomão, com seus pomares frutíferos e reservatórios
no muro da cidade, adornada com os escudos dos guerreiros (cf. 7.4). de água para irrigação (Ec 2.4-6).
4 .5 Os cervos representam beleza tenra e delicada, além da promessa 4 .1 2 O “jardim” denota um lugar de deleites físicos, constituindo uma
de crescimento total (ver 8.8). Sobre a “gazela”, ver a nota em 2.9. Em metáfora adequada do corpo da amada (cf. v. 16; 5.1; 6.2,11; 8.13; ver
outros textos, o símile é aplicado ao amado. Quanto a um uso diferente também nota em 1.6). “Jardim fechado”, “nascente fechada” e “fonte
da expressáo “repousam entre os lírios”, ver 2.1 6 e nota. selada” são metáforas da virgindade da amada — ou talvez do fato de
4 .8 Líbano, Amana e Hermom eram picos montanhosos no horizonte ela se guardar exclusivamente para o marido. “Nascente” e “fonte” são
norte. Senir é o nome amorreu do monte Hermom, também encontrado mananciais de refrigério, metáforas da amada como parceira sexual
em fontes assírias. Eleva-se cerca de 2.800 metros e permanece coberto (ver Pv 5.15-20).
de neve durante todo o ano. 4 .1 3 “De você brota” é uma referência a todas as características que dão
4 .9 Nas poesias de amor do antigo Oriente Médio, era comum que os prazer ao amado. “Pomar” vem da palavra hebraicapardes (de onde pro
namorados tratassem um ao outro por “irmáo” e “irmã”. vém a nossa palavra “paraíso”), originário da palavra do antigo persa que
4 .1 0 As especiarias eram artigos de luxo importados (ver IRs 10.2; significa “parque” ou “recinto fechado”. Em Ne 2.8 e Ec 2.5, refere-se
Ez 27.22) usadas para a fragrância do óleo da unçáo (Êx 25.6; ver a parques e a florestas da realeza. Para mais informações sobre a “hena”,
“Incenso”, em Jr 11) e dos perfumes (ver “Perfumes e óleos de unçáo”, ver nota em 1.14. O “nardo” é um óleo aromático extraído das raízes de
e m jo 12). uma erva perene que cresce na índia.
10 4 2 CÂNTICO DOS CÂNTICOS 4.14
4.14 O açafráo é uma variedade de Crocus sativus, com flores roxas ou 5.1 O amado reivindica a amada como jardim seu e desfruta todos
brancas que depois de seca eram usadas como especiaria de cozinha. os deleites que ela proporciona (ver nota em 4.12). Sobre a expressão
O cáiamo é uma cana aromática, especiaria provavelmente importada da ín “minha irmã”, ver a nota em 4.9.
dia, também usada no óleo da unçáo (Ex 30.23,25: “cana aromática”) e no 5.3 Algumas palavras hebraicas e gregas de modo geral significam “pro
incenso (Is 43.23,24; ver “Incenso”, em Jr 11). A canela também era usada fanar”, “corromper”, “tornar impuro”. No A T, a degeneração é vista de
no óleo sagrado da unçáo (Êx 30.23,25) e também como perfume sedutor modo físico (nesse versículo), sexual (Lv 18.20), ético (Is 59.3; Ez 37.23),
(Pv 7.17). Para mais informações sobre a “mirra”, ver nota em 1.12,13. cerimonial (Lv 11.24; 17.15) e religioso (Nm 35.33; Jr 3.1). No N T , ela
O aloés aromático era usado para perfumar as vestes nupciais reais (SI 45-8). é vista exclusivamente nos aspectos ético e religioso (M c 7 .19; At 10.15:
4.15 As “águas vivas” são frescas e brilhantes, provenientes dos campos Rm 14.20). O ensino do N T náo inclui a ideia de corrupção cerimonial,
nevados das montanhas do Líbano. mas o tema sem dúvida era importante para a cultura da época.
4.16 Esse versículo expressa o desejo da amada de que a fragrância de 5.5 As trancas primitivas, utilizadas para fechar as portas da cidade,
seus encantos seja transmitida pelos ventos até seu amado, para que pos consistiam de uma pesada viga de madeira cujas extremidades eram encai
sam desfrutar as intimidades do amor. xadas em fendas talhadas na alvenaria do portáo (Ne 3.3-15; cf. D t 3.5;
CÂNTICO DOS CÂNTICOS 5.9 10
lSm 23.7). As trancas eram reforçadas com barras de ferro (lR s 4.13; variavam de tamanho, mas em geral eram grandes e precisavam ser
Is 45.2). As trancas das portas das residências (Jz 3.23,24) eram menores carregadas no ombro (Is 22.22). Para abrir a porta do lado de fora, a
e tinham pinos achatados. Às vezes, vários pinos eram colocados nas chave era inserida através de um buraco na porta, grande o suficiente
cavidades e só podiam ser destravados com uma chave. As chaves para caber uma mão (Ct 5.5).
NO T A S H I S T Ó R I C A S E C U L T U R A I S
Cedros do Líbano
CÂNTICO DOS CÂNTICOS 5 0 cedro do Oriente Médio (ver Is 37.24). 0 complexo for A altura e a presença dominante dessas ár
Líbano era uma árvore sempre verde, alta mado pelo templo e o palácio de Jerusalém vores produziram vibrantes imagens bíblicas.
(medindo 37 metros em sua fase adulta) foram generosamente adornados com cedro A majestade de Yahweh é exaltada acima dos
e majestosa, grandemente valorizada na (IRs 7.2; 1Cr 22.4), e a madeira de cedro era cedros (S1148.9,13), e sua voz é tão poderosa
Antiguidade.1 Sua durabilidade e suas di utilizada em rituais de purificação (Lv 14.4).2 que é capaz de quebrá-los (SI 29.5). 0 desen
mensões forneciam ótimo material para a Atestando o uso do cedro em arquiteturas volvimento do justo é comparado ao processo
construção de palácios, templos, navios e monumentais, restos de vigas de cedro par de crescimento do cedro (SI 92.12). No Cântico
móveis. Os egípcios ainda utilizavam sua re cialmente queimadas foram encontrados dos Cânticos, a aparência física do amante
sina para a mumificação. Nabucodonosor num palácio datado da Idade do Bronze evoca o extraordinário mérito dessas árvores
mencionou os troncos de cedro arrastados Médio3(séc. XV! a.C.) e também num tem (Ct 5.15). Contudo, a altura do cedro também
para a Babilônia desde o monte Líbano, plo datado da Idade do Bronze Tardio pode representar o orgulho e a arrogância do
uma abundante fonte de madeira do antigo (séc. XIII a.C.), em Láquis.4 ser humano (Is 2.12,13; Ez 31.3,10-12).
'Ver "Biblos", em Ez 27. -Ver "Pureza ritual em Israel e no antigo Oriente Médio", em Lv 10. JVer "Tabela dos períodos arqueológicos" na p. xxii, no início desta
Bíblia. 4Ver também "As árvores no antigo Israel”, em Ez 31.
1 044 CÂNTICO DOS CÂNTICOS 5.10
A Amada
10 0 meu amado tem a pele bronzeada;
ele se destaca entre dez mil.v
11 Sua cabeça é como ouro, o ouro mais puro;
seus cabelos ondulam ao vento como ramos de palmeira;
são negros como o corvo.
12 Seus olhos são como pombas2 5.12 ^Ct 1.15; 4.1;
junto aos regatos de água, “Gn 49.12
lavados em leite,3
incrustados como joias.
13 Suas facesb são como um jardim de especiariasc 5.13 “0 1.10;
que exalam perfume. cCt6.2;dCt2.1
para descansar
e colher lírios.
3 Eu sou do meu amado, 6.3°Ct7.10;
e o meu amado é meu;° PCt 2.16
a 5 . 1 5 Ou alabastro.
5 .1 0 -1 6 Esse é um dos poucos poemas do mundo antigo que chegou significa “desfrutar de” (ver nota em 2.16). O amado, desfrutando inti-
até nós em que uma mulher faz uma descrição das características de midades com a amada, é comparado a uma gazela graciosa (ver nota em
seu amado. 2.9), mordiscando de lírio em lírio, experimentando, sem ser perturbada,
5 .1 2 Sobre as “pombas”, ver a nota em 1.15. O cintilar dos olhos do iguarias exóticas.
amado: descrição do branco do olho que brilha como uma joia. 6 .4 Tirza foi escolhida por Jeroboão I (930-909 a.C.) como primeira
5.1 3 Esses símiles provavelmente se referem aos efeitos causados aos sen cidade real do Reino do Norte (ver “Tirza”, em 1Rs 15). O significado
tidos, não à aparência, que é o caso dos símiles e das metáforas que se do nome (“prazer”, “beleza”) fàz crer que se tratava de um local bonito, e
seguem, pelo menos em parte. isso talvez explique por qüe o autor põe essa cidade lado a lado com
5 .1 4 A identificação precisa do berilo é incerta. Jerusalém (embora não se saiba em que consistia a beleza de Tirza).
5 .1 5 Para “cedros”, ver nota em 3.9. A comparação entre a beleza da amada e a das cidades talvez não fosse
6 .2 Sobre “seu jardim ”, ver nota em 4 .1 2 . “Canteiros de especiarias” tão rara no antigo Oriente Médio, visto que as cidades eram em geral
é uma referência aos atrativos sensuais do amado (ver 5.13). “Descansar” retratadas como mulheres.
CÂNTICO DOS CÂNTICOS 7. 1 1045
A Amada
6 .1 1 « 7.12 11 Desci ao bosque das nogueiras
para ver os renovos no vale,
para ver se as videiras tinham brotado
e se as romãs estavam em flor.c
12 Antes que eu o percebesse,
você me colocou entre as carruagens,
com um príncipe ao meu lado.*
6.8 Se Salomão é o autor do poema (ver “A autoria de Edesiastes e do 6 .9 A mulher não é literalmente a única, mas aquela que é amada de
Cântico dos Cânticos”, em Ec 5), esse versículo pode indicar que ele o modo único.
fez quando ainda era relativamente jovem — antes de adquirir as 700 6 .1 3 As opiniões sobre a origem do termo “sulamita” divergem um pou
esposas e as 300 concubinas (IR s 11.3). Entretanto, se o amado era um co (a palavra hebraica shülammith significa “pacífica”). Não é improvável
homem do povo, está se vangloriando do feto de sua noiva ser mais im que seja a forma feminina do nome “Salomão”, no sentido de “a garota
pressionante que as mulheres do harém real e as virgens sem conta. de Salomão”. Se for uma variação de “sunamita”, como aparece na Sep
Para mais informações sobre o termo “virgens” (ou “jovens”), ver nota tuaginta, então significa “proveniente da cidade de Suném”.
em 1.3.
46 CÂNTICO DOS CÂNTICOS 7.2
7 .2 Para mais informações sobre feixes e debulha, ver nota em Rute 2.7;
ver também “A eira”, em lC r 21; e “Comida e agricultura”, em Rt 2.
m m i
NOTAS HI S T ÓR I C A S E CUL T UR A I S
*
A A m ada
... vinho que flui suavemente para 0 meu amado ,0
escorrendo suavemente sobre os lábios de quem já vai adormecendo.
7.10PSI 45.11; 10 Eu pertenço ao meu amado,
C t 2.16; 6.3
e ele me deseja.Pfl
11 Venha, meu amado, vamos fugir para 0 campo,
passemos a noite nos povoados.
7.12'Ct 1.6; 12 Vamos cedo para as vinhasr
«Ct 2.15; « 2 .1 3 ;
“Ct 4.13; 6.11 para ver se as videiras brotaram,s
se as suas flores* se abriram
e se as romãsu estão em flor;v
ali eu darei a você 0 meu amor.
7.13 «Gn 30.14; 13 As mandrágoras% exalam 0 seu perfume,
<04.16
e à nossa porta há todo tipo de frutos finos,
secos e frescos,
que reservei para você, meu amado.x
0 7 . 8 Ou damascos.
b 7 . 1 3 Isto é, plantas tidas por afrodisíacas e capazes de favorecer a fertilidade feminina.
7 .4 Nos tempos antigos, Hesbom era a cidade real do rei Seom (Nm 7 .7 A “palmeira” é a tamareira, de porte majestoso.
21.26), que recebia abundante suprimento de água das fontes. Bate-Ra- 7 .1 3 A mandrágora, com suas flores delicadas e raízes na forma da parte
bim significa “filha de muitos” e talvez seja o nome popular de Hesbom. inferior do corpo humano, era associada ao desejo sexual e ao aumento
A “torre do Líbano” talvez seja uma referência à torre militar na fronteira da fertilidade (ver G n 30.9-18).
norte do reino de Salomáo, porém mais provavelmente a bela e alta 8 .1 A amada sentia-se frustrada por causa do padrão cultural que permi
neira cordilheira do Líbano. tia aos membros da família demonstrar afeição pública, mas proibia os
7 .5 O monte Carmelo, alta cordilheira próxima do mar Mediterrâneo, casados de fazer o mesmo.
era conhecido por sua beleza e por seu cume coberto de bosques. Ainda 8 .2 A palavra hebraica para “néctar” evoca os sucos inebriantes.
hoje é um impressionante cenário para o porto de Haifa.
CÂNTICO DOS CÂNTICOS 8. 3
8 .5 No mundo antigo, a união sexual e o nascimento eram muitas vezes 8 .7 A expressão “muitas águas” indica não apenas as profundezas do
associados a árvores frutíferas. oceano (ver SI 107.23), mas também as águas primevas que os povos
8 .6 ,7 do antigo Oriente Médio consideravam uma ameaça permanente ao
“Sepultura”, “fogo ardente” e “muitas águas” caracterizam o amor con
jugal como a força mais poderosa, irresistível e invencível da experiência hu mundo (ver nota em SI 3 2 .6 ). As águas também estavam associadas
mana. Com essas declarações, o poema atinge o ápice e revela seu propósito. ao mundo dos mortos.
8 .6 O selo tinha muito valor para seu proprietário e era tão pessoal 8 .1 1 A localização de Baal-Harmom é desconhecida.
quanto o nome (ver nota em G n 38.17,18; ver também “Rolos, selos
e códices”, em Ap 5).
A C R E D I B I L I D A D E DA
B í B/L IA
A ARQUEOLOGIA E
A D A T A DE C Â N T I C O
DOS C Â N T I C O S
CÂNTICO DOS CÂNTICOS 8 Muitos estudiosos acreditam que o Cân te similar ao Cântico dos Cânticos. Embora a mensagem do poema
tico dos Cânticos foi escrito durante o período pós-exflico, a despeito bíblico seja diferente da que encontramos no material egípcio, está
do fato de que o título “ oficial" do livro, "Cântico dos Cânticos de Sa claro que a poesia hebraica utiliza algumas das convenções literárias
lomão",' o associa com a época desse rei. A arqueologia, porém, tem da poesia egípcia. Em 1Reis 9.16, somos informados de que Salomão se
fornecido boas razões para acreditarmos que o livro foi realmente casou com uma princesa egípcia e mantinha boas relações com o Egito.
escrito no início ou em meados do século X a.C.2 É razoável presumir que foi um tempo de comunicação e comércio
constantes entre as duas nações. Desse modo, a época de Salomão
•5* As descobertas arqueológicas desse período indicam que esse foi é a que apresenta maior probabilidade de contato com a poesia de
o período em que Israel esteve sob poderosa autoridade central, como amor egípcia, que sem dúvida era lida e apreciada na corte de Israel.6
demonstra a Bíblia. Muitos estudiosos
negam que tenha existido o grande rei
no de Davi e Salomão, e alguns vão tão
longe que chegam a teorizar que esses
homens foram figuras lendárias, nâo
personagens históricos. É óbvio que, se
0 reinado de Salomão não tivesse exis
tido, não precisaríamos pressupor que o
Cântico dos Cânticos foi escrito na época
atribuída ao seu reinado. No entanto, a
arqueologia apoia o quadro bíblico dos
tempos de Salomão. De acordo com
1Reis 9.15, Salomão construiu o templo,
o palácio real, uma estrutura conhecida
como Milo e o muro de Jerusalém, além
das cidades de Hazor, Megido e Gezer
(mapa 5).3
0 templo e o palácio de Salomão --í • lí f s f S K S y
foram perdidos, e a localização do Milo Área de um altar circular de Megido, datado da Idade do Bronze Antigo
é objeto de debate, mas a arqueologia Cortesia do © dr. Gary Pratico
confirma cada aspecto do templo de Salomão, conforme descrito na 4* Cântico dos Cânticos 6.4 indica que, na época em que o poema foi
Bíblia, estando de acordo com o que conhecemos de outros templos escrito, Jerusalém e Tirza eram as duas cidades mais magníficas de
do mesmo período e da mesma região.4 Israel. Tirza (localizada ao norte, em Tell el-Farah)7 foi uma grande
As cidades de Hazor, Megido e Gezer foram escavadas e desco cidade na parte norte de Israel durante os dias de Salomão. Depois
briu-se que elas têm sistemas de fortificação e muros que datam do que o reino se dividiu, Tirza tornou-se a capital do Reino do Norte, sob
período de Salomão, sugerindo que foram construídas por enge o governo de Jeroboão I, até que Onri (ca. de 885-874 a.C.) construiu
nheiros reais que trabalhavam com um projeto comum.5 Samaria. Depois disso, a cidade entrou em declínio e já não existia no
❖ Às vezes, a literatura florescia durante um período de poder e período pós-exílico. 0 argumento de que um poeta do mundo pós-
prosperidade nacional (e.g., Virgílio escreveu a Eneida num dos pon -exílico teria equiparado Jerusalém a Tirza não tem fundamento, pois
tos altos da história romana, a era de Augusto). Assim, a associação do na época Tirza não era mais do que um morro abandonado. Contudo,
Cântico dos Cânticos com a era de Salomão fez muito sentido. é bastante razoável que um poeta do século X a.C. considerasse Tirza
•s* Na última parte do II milênio a.C., um estilo peculiar de poesia uma cidade do mesmo nível de Jerusalém.
romântica floresceu no Egito, de várias maneiras extraordinariamen
1Algumas traduções bíblicas usam o título "Cantares de Salomão". 2Ver também "A autoria de Eclesiastes e do Cântico dos Cânticos", em Ec 5. 3Ver "Construções de
Salomão", em 1Rs 9. 4Ver "0 templo de Salomão e outros templos antigos", em 1Cr 29. 5Ver "Hazor", em Js 11; "Megido", em Zc 12; "Gezer", em 1Cr 6.
6Ver "As antigas poesias de amor", em Ct 1. TVer 'Tirza", em 1Rs 15.
w
1050 CÂNTICO DOS CÂNTICOS 8.12
O Am ado
13Você, que habita nos jardins,
os amigos desejam ouvi-la;
deixe-me ouvir a sua voz!
A A m ada
14 Venha depressa, meu amado, 8.14íPv5.19;
. i "Ct 2.9; 'Ct 2.8,17
e seja como uma gazela,)
ou como um cervo novok
saltando sobre os montes 1
cobertos de especiarias.
8.12 Sobre a expressão “minha própria vinha”, ver nota em 1.6 8.13 Sobre os “jardins”, ver a nota em 4.12. “Amigos” são pessoas do
sexo masculino, talvez os companheiros do amado (ver 1.7).