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E DE SEUS DESCENDENTES
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8.4 Guiomar de Paiva Brandão (tataraneta de João Capistrano Macedo de Alckmin) .......... 62
9. CERTIDÕES E TESTAMENTOS DA FAMÍLIA PAIVA ............................................................. 63
9.1 Certidões de Batismo e de Casamento dos Tataravós de Zeca Paiva ............................ 63
9.2 Testamento de Tomásia Maria da Silva (Tataravó de Zeca Paiva) ................................. 64
9.3 Testamento de José de Paiva e Silva (Bisavô de Zeca Paiva) ........................................ 65
9.4 Censo de 1831 da família de Joaquim Severino de Paiva e Silva (avô de Zeca Paiva) ........ 65
9.5 Inventário de Maria Bento Carneiro (1ª Esposa de Joaquim Severino de Paiva e Silva) 66
9.6 Testamento de Joaquim Severino de Paiva e Silva (Avô de Zeca Paiva) ....................... 67
10. GENEALOGIA DA FAMÍLIA GORGULHO................................................................................ 69
10.1 A união das famílias Gorgulho e Negreiros ..................................................................... 70
10.2 O Casal João Capistrano Gorgulho (João do Morro) e Maria Imaculada Negreiros
Gorgulho ...................................................................................................................................... 70
10.3 Registros de Batizado, Casamento e de Dispensa de Impedimento Matrimonial da família
Noronha Gorgulho ....................................................................................................................... 71
10.4 Registros de Falecimento de José da Silva Gorgulho e de Domingos da Silva Gorgulho72
10.5 Testamento do Capitão Diogo Garcia (tataravô materno de José da Silva Gorgulho
Noronha) ...................................................................................................................................... 73
10.6 Inventário e Testamento de Antonio Luis Gonçalves (avô materno de José da Silva
Gorgulho de Noronha) ................................................................................................................. 75
11. BIOGRAFIA DE PESSOAS ILUSTRES DA FAMÍLIA GORGULHO ......................................... 76
11.1 Biografia de Miguel Archanjo Gorgulho (bisneto de João Capistrano Macedo de Alckmin)
76
11.1.1 Cronologia da vida de Miguel Archanjo Gorgulho .................................................... 77
11.1.2 Monumento do acidente de JK na Dutra, sugerido por Miguel Gorgulho ................ 78
11.1.3 Decreto Municipal nº 4.203 dá denominação a Unidade de Pronto Atendimento:
UPA Miguel Archanjo Gorgulho ............................................................................................... 79
11.1.4 A origem do apelido “Pelé” do nosso rei do futebol. ................................................ 79
11.2 Biografia do ator Paulo Gorgulho (tataraneto de João Capistrano Macedo de Alckmin) . 80
11.3 Biografia da psicóloga Mônica Gorgulho (tataraneta de João Capistrano Macedo de
Alckmin) ....................................................................................................................................... 81
12. GENEALOGIA DA FAMÍLIA NEGREIROS ............................................................................... 82
12.1 Antônio José de Negreiros Macedo (bisavô do Vovô Zotinho) ........................................ 83
12.2 O casal Maria do Carmo Capistrano Alckmin e Antônio José de Negreiros (Tonico) ...... 83
12.3 Sebastião Capistrano de Negreiros (pai do Vovô Zotinho) .............................................. 85
12.4 Maria José Gorgulho Negreiros (mãe do Vovô Zotinho) .................................................. 86
13 RESUMO DA AUTOBIOGRAFIA DE SEBASTIÃO CRISÓSTOMO DE NEGREIROS (VOVÔ
ZOTINHO) ........................................................................................................................................ 87
14 OS FILHOS DE SEBASTIÃO CRISÓSTOMO (VOVÔ ZOTINHO) E MARIA DE JESÚS (VOVÓ
MARIA) ............................................................................................................................................. 97
14.1 Maria Alaíde Negreiros Arruda ......................................................................................... 98
14.2 Maria Isabel Negreiros Paiva (Bebé, minha mãe) ......................................................... 101
14.3 Maria Auxiliadora (Dorinha) Negreiros Lima .................................................................. 110
14.4 Terezinha Negreiros Pereira .......................................................................................... 114
14.5 Maria da Glória (Tigró) Negreiros Nogueira ................................................................... 116
14.6 Maria de Jesús (Zuza) Negreiros Nogueira ................................................................... 117
14.7 Yolanda Negreiros Nogueira .......................................................................................... 118
14.8 José de Arimathéia Negreiros ........................................................................................ 121
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1. INTRODUÇÃO
O importante é não perdermos de vista a memória da nossa história e
tudo de positivo que ela nos legou como riquíssima herança, pois, em
tempos de globalização, tem sido comum a perca da identidade histórica
de muitos povos e a derrocada de seus valores mais expressivos.
Fonte: http://www.campanha.mg.gov.br/cidade.html
Site da Prefeitura Municipal de Campanha / MG
Este livro trás a genealogia e a biografia de figuras ilustres da família de João Capistrano
de Macedo Alckmin e de seus descendentes, com o objetivo de relembrar aos familiares e
mostrar ao público em geral um pouco da biografia de grandes personagens de nossa
família e prestar um tributo à suas memórias, não deixando que o tempo e o esquecimento
acabem por limpar e esconder as marcas que eles deixaram na história e principalmente
no coração dos familiares e amigos.
Ainda no Capítulo 2, o item 2.7, trás a origem da criação da Freguesia de Nossa Senhora
do Rosário, cuja povoação teve início, em 1835, quando João Capistrano de Macedo
Alckmin mudou com sua esposa para a sua Fazenda do Rosário e lá construíram uma
Ermida (Capela) dedicada a Nossa Senhora do Rosário. Nessa capela, o Bispo de
Mariana, Dom Viçoso, ia uma vez por ano, fazer a crisma dos cristãos do lugarejo. Anos
mais tarde, em 28 de setembro de 1887, foi criada a Freguesia de Nossa Senhora do
Rosário, depois denominada Dom Viçoso, em homenagem ao Bispo de Mariana. Dr.
Augusto César Capistrano de Alckmin, filho de João Capistrano Macedo de Alckmin, que
foi um famoso médico, formado na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, doou o
terreno de dois alqueires para a construção da escola, igreja e casa paroquial, necessárias
para consolidar a criação da Freguesia e foi homenageado com seu nome em uma Praça
em Dom Viçoso/MG.
.
O item 3.1 do Capítulo 3 trás a biografia do pai de João Capistrano de Macedo Alckmin, o
português João Rodrigues de Macedo, foi comerciante em Campanha/MG. Era um homem
modesto, muito religioso, caridoso e gozou de grande consideração por suas virtudes,
ajudava aos pobres e gerenciou obras na igreja matriz, construída por escravos e liderou a
construção da Santa Casa de Misericórdia de Campanha, que foi uma das primeiras do
Brasil. A foto de seu retrato, pintado a óleo sobre tela, exposto no Museu de Campanha
/MG, consta também neste capítulo.
O item 3.2 do Capítulo 3 trás a biografia da irmã de João Capistrano de Macedo Alckmin,
Alexandrina Melchiades de Alckmin, que junto com seu esposo João Alves de Oliveira, em
1841, comprou a Fazenda do Monjolinho, com cerca de mil cabeças de gado, situada
entre Araraquara e Rio Claro/SP. Com a morte de seu esposo, Alexandrina passou a
gerenciar a Fazenda e doou uma grande extensão de terras (726 mil metros quadrados) à
Câmara Municipal de São Carlos, permitindo a expansão da cidade de São Carlos,
praticamente dobrando o que havia antes da doação. Alexandrina foi homenageada com
seu nome “Dona Alexandrina” em rua central de São Carlos/SP.
O Capítulo 4 trás testamentos e certidões dos pais, avós e bisavós de João Capistrano de
Macedo Alckmin.
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O item 5.1 do Capítulo 5 trás a biografia do filho de João Capistrano de Macedo Alckmin, o
também advogado João Capistrano Ribeiro Alckmin, que, seguindo o exemplo de seu pai,
cursou a Faculdade de Direito de São Paulo (atual USP), bacharelando-se em 19 de
novembro de 1860. Começou sua magistratura em Silveiras, no Estado de São Paulo.
Voltou para Minas Gerais, exercendo a função de Juiz de Direito nas cidades de Cambuí,
Camanducaia e Baependi. Foi Juiz Municipal em Três Pontas, onde participou da
implantação do Sistema de Transporte do Rio Verde. Foi vereador em Cristina, no período
de 1867 a 1870, quando recepcionou a Princesa Isabel que veio em visita à Cristina. Em
21 de abril de 1892, foi nomeado o 1º Juiz de Direito de Santa Rita do Sapucaí.
O item 5.2 do Capítulo 5 trás a biografia do filho de João Capistrano Ribeiro Alckmin, o
professor André Rodrigues de Alckmin, que foi professor e diretor de escolas públicas em
Itu e Guaratinguetá / SP.
O item 5.3 do Capítulo 5 trás a biografia do filho do professor André Rodrigues de Alckmin,
o advogado José Geraldo Rodrigues de Alckmin, que foi juiz do Tribunal Superior Eleitoral
e Ministro do Supremo Tribunal Federal.
O Capítulo 6 trás a genealogia da família de meu pai José Capistrano Paiva (Zeca Paiva)
e o Capítulo 7 conta o seu namoro e casamento com minha mãe Maria Isabel Negreiros
de Paiva.
O item 8.1 do Capítulo 8 trás a biografia de meu pai José Capistrano de Paiva, que é neto
de João Capistrano de Macedo Alckmin. Meu pai foi farmacêutico, juiz de paz, prefeito,
inspetor municipal e professor, e foi homenageado com o título de cidadão honorário e tem
o seu busto e nome na praça central de Pouso Alto/MG.
O item 8.2 do Capítulo 8 trás a biografia de meu irmão, o médico José Capistrano de
Paiva Filho, pioneiro da cirurgia geral do Sul de Minas.
O item 8.3 do Capítulo 8 trás a biografia do meu sobrinho Alceu Vilela Paiva, filho do meu
irmão Argemiro Paiva. Alceu, coronel reformado do Exército Brasileiro e engenheiro
diplomado pelo Instituto Militar de Engenharia, foi agraciado pela Academia de História
Militar Terrestre do Brasil, com a Medalha do Mérito Histórico Militar. Foi titular da
Secretaria de Obras da Prefeitura de Resende, no período de 1966 a 1972; presidente do
Conselho Fiscal da Federação de Academias de História Militar Terrestre do Brasil
(FAHIMTB); professor de Física e Resistência das Matérias, na Academia Militar de
Agulhas Negras (AMAN), por 16 anos (1964 a1980); instrutor de História Militar no período
de 1978 a 1980 e atuou politicamente em Resende, presidindo o Diretório Municipal do
PTB (Partido Trabalhista Brasileiro).
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O Capítulo 10 trás a genealogia da família Gorgulho, cuja união os Capistrano Alckmin
teve início com o casamento de Maria da Glória Capistrano Alckmin (filha de João
Capistrano Macedo de Alckmin) com José da Silva Gorgulho de Noronha.
O item 11.2 do Capítulo 11 trás a biografia do famoso ator Paulo Gorgulho, tataraneto de
João Capistrano Macedo de Alckmin. Paulo Gorgulho surgiu na televisão na telenovela
Carmem, em 1987, mas estourou mesmo como galã na novela Pantanal. Ele atua também
em teatro e cinema.
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2. BIOGRAFIA DE JOÃO CAPISTRANO DE MACEDO ALCKMIN
João Capistrano nasceu em São João Del Rei / MG, em 23 de outubro de 1811. Foi o
primeiro filho de João Rodrigues de Macedo, natural de Barcelinhos, Braga - Portugal, nascido
em 1776 e de Rita Francisca de Alckmin, nascida em São João Del Rei no dia 3 de Outubro de
1794. Foi um grande latifundiário da região do Sul de Minas, proprietário de enormes glebas
de terra e de fazendas. Suas terras começavam na Estação de Pouso Alto (atual São
Sebastião do Rio Verde / MG) e se estendiam por quilômetros e quilômetros, passando por
sua Fazenda do Rosário (que originou a Vila de Nossa Senhora do Rosário, atual cidade de
Dom Viçoso / MG) e indo além de sua Fazenda dos Pintos (atual Pintos Negreiros, município
de Maria da Fé / MG).
Em 1812, com um ano, João Capistrano de Macedo Alckmin mudou com seus pais
para a Vila de Campanha, no Sul de Minas Gerais, onde ele passou a infância e
adolescência e fez seus estudos primário e ginasial. Campanha foi sede administrativa e
jurídica do Sul de Minas e pioneira em Instrução, com escolas de merecido renome, sendo
considerada “O Berço da Cultura Sul Mineira”.
1
De 1720 a 1808 Minas era uma Capitania. A partir desta data tornou-se Província de Minas Gerais até o Brasil se
transformar em uma República, em 15 de novembro de 1889, quando cada Província passou a se chamar Estado.
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Em 01/03/1828, João Capistrano, então com 16 anos, iniciou seu curso superior na
primeira turma da recém criada Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, a primeira
Faculdade de Direito do Brasil (atual USP), bacharelando-se em 1832. Essa primeira turma foi
composta por trinta e três alunos: nove da própria cidade de São Paulo, oito do Interior de São
Paulo, dez do Rio de Janeiro, dois da Bahia e quatro de Minas Gerais.
“São Paulo, onde foi instalada uma das duas faculdades de Direito criadas no Brasil em 1827, era
uma cidade pequena, de cerca de 10.000 habitantes e de economia basicamente de subsistência.
É em São Paulo que passam a viver jovens abastados de diferentes lugares do Brasil visando se
tornar bacharéis ou doutores que mais tarde ocupariam a maioria dos cargos políticos e
administrativos do Império. Na lista de formandos de 1832, de um total de 34, doze eram de São
Paulo, dez do Rio de Janeiro, cinco da Bahia, quatro de Minas Gerais e três do Rio Grande do Sul.
Muitos destes formandos tornaram-se expressões políticas importantes durante o Império, chegando
a ocupar cargos de maior relevância no país.”
Fonte: Revista da Faculdade de Direito de São Paulo, Ed. Espíndola, Siqueira&Comp., v. VIII, 1900.
João Capistrano de Macedo Alckmin recebeu o nome “João Capistrano” por ter
nascido no dia consagrado a São João Capistrano, no dia 23 de outubro, que foi o dia em
que o santo faleceu. Coincidentemente, ambos foram advogados, políticos, ricos e muito
religiosos. João Capistrano de Macedo Alckmin adotou o nome “Capistrano” como
sobrenome dos filhos. Alguns filhos deram continuidade ao sobrenome “Capistrano” na
família.
São João de Capistrano foi um religioso italiano, venerado como santo pela Igreja Católica. Ele nasceu em
Campestrano no dia 24 de junho de 1386 e faleceu em Ilok no dia 23 de outubro de 1456. Cursou Direito
na Universidade de Perúsia e se tornou governador de uma cidade na Itália, sendo preso devido a
perseguições políticas. Muito desiludido após o falecimento de sua esposa, dedicou sua vida a Deus.
Vendeu seus bens e doou o dinheiro aos pobres, inspirado por São Francisco. Se tornou sacerdote e
encarou com humildade e dedicação todas as tarefas que lhe foram impostas. Fonte: Wikipédia - A
Enciclopédia Livre.
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2.3 Genealogia da Família Capistrano Macedo Alckmin
Maria Hipólita
Antonio Rodrigues José da Costa
Chaves Alcamin Ferreira Custódia
Maria Josefa Doou terras
Maria Joaquina Nascidos em para ampliação de
Caetana Moura. Alexandrina São Carlos/SP, onde
Braga / Portugal Melquíades há uma rua com seu
Maria Josefa de nome: Rua Dona
Major João Rodrigues Ana Izabel Alexandrina.
de Macedo. Alcamin (solteira)
Casamento em (? – 1794)
(1776 – 1854) SJDR em 1809 Generosa
Rita Francisca de Origem do
Alckmin Maria Emiliana sobrenome “Alckmin”
(1794 – 1857). Justina de Alckmin Francisca
Maria Victória.
Francisco Mario Moura
Rangel
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2.4 Genealogia da União das Famílias Capistrano, Paiva, Negreiros e Gorgulho.
“Família tão grande e unida, como a nossa, não existe outra.”
(Alaíde Negreiros Arruda)
João Capistrano
Macedo Alckmin
Maria Augusta
Ribeiro
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2.5 Casamento e Filhos
João Capistrano de Macedo Alckmin casou com Maria Augusta Ribeiro, nascida em
Pouso Alto em 1812 e falecida em 1882, filha de um grande proprietário de terras, dono da
Fazenda do Condado, próxima ao Distrito de Nossa Senhora do Carmo de Pouso Alto.
João Capistrano e Maria Augusta tiveram nove filhos:
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2.6 Pais e Irmãos de João Capistrano de Macedo Alckmin
Casamento – São João Del Rei, aos 13-08-1809, matriz, Alferes. João Rodrigues Chaves de
Macedo, filho de Antonio Rodrigues Chaves e Maria Joaquina, natural da freguesia do Senhor da
Cruz da Vila de Barcellos, Arcebispado de Braga; casamento com Rita Francisca de Alckmin, filha
do Alferes Custodio Ferreira Pedrozo e Maria Emeliana de Alckmin.
Fonte: Centro de Memória Cultural do Sul de Minas Gerais.
Site: http://www.projetocompartilhar.org
1) João Capistrano de Macedo Alckmin (1811 - ?): Nascido em São João Del Rei em 23 de
outubro de 1811. Casou com Maria Augusta Ribeiro (1812 – 1882), tendo nove filhos: Luiz
Capistrano Alckmin, Maria Custodia Capistrano Alckmin, João Capistrano Ribeiro Alckmin, Maria
Vitória Capistrano Alckmin, Manuela Augusta Capistrano Alckmin, José Calazans Capistrano
Alckmin, Maria do Carmo Capistrano Alckmin, Augusto César Capistrano Alckmin e Maria da Gloria
Capistrano Alckmin.
7) Ana Izabel Alckmin (1824 - ?): Nascida em Campanha em 02 de novembro de 1824. Casou
com Antônio Ribeiro Caldas (1802 - ?), tendo um filho: Antônio Rodrigues de Caldas.
FONTE: http://records.ancestry.com/Joao_Rodrigues_De_Macedo_records.ashx?pid=170396646
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2.7 Fazenda do Rosário: A Origem da Freguesia de Nossa Senhora do Rosário
(atual Cidade de Dom Viçoso / MG)
Em 1835 João Capistrano de Macedo Alckmin mudou sua esposa Maria Augusta
Ribeiro, para a sua Fazenda do Rosário, localizada próxima do Arraial de Nossa Senhora do
Carmo de Pouso Alto (futuro Carmo de Minas), onde construíram uma Ermida (Capela)
dedicada a Nossa Senhora do Rosário, em torno da qual se desenvolveu uma povoação.
Na capela de Nossa Senhora do Rosário eram celebradas missas, batizados e
casamentos. O Bispo de Mariana, Dom Viçoso, uma vez por ano ia ao Rosário, fazer a crisma
dos cristãos do lugarejo. Anos mais tarde, em 28 de setembro de 1887, através da Lei 3442,
foi criada a Freguesia de Nossa Senhora do Rosário, depois denominada Dom Viçoso, em
homenagem ao Bispo de Mariana.
Foto da Praça Dr. Augusto César Alckmin, em frente a Igreja de Nossa Senhora do Rosário. Dr. Augusto,
filho de João Capistrano, doou o terreno para a construção da escola, igreja e casa paroquial, sendo
homenageado com seu nome dado à Praça. Foto: Giberto M. Palma
Dr. Augusto César Capistrano de Alckmin, filho de João Capistrano Macedo de Alckmin, famoso
médico, formado na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, doou o terreno de dois alqueires
para a construção da escola, igreja e casa paroquial, necessárias para consolidar a criação da
Freguesia de Nossa Senhora do Rosário.
Cria districtos de paz, transfere de umas para outras freguezias diversas fazendas, eleva à freguezia
differentes districtos e contém a respeito outras disposições.
O Dr. Luiz Eugenio Horta Barbosa, presidente da Província de Minas Geraes: Faço saber a todos os seus
habitantes que a Assembléa Legislativa Provincial Decretou e eu Sanccionei a Lei seguinte:
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§ 6º Ficam elevados a categoria de freguezias as povoações do Rosário e Bocanina, da fregueziado Carmo
da Christina, e Virginia, do mesmo municipio da cidade da Christina, e sob denominação de - Freguezia de
Nossa Senhora do Rosario de Dom Viçoso, sendo as suas divisas as seguintes: começando no
Sobradinho, compreendendo as terras de Manoel Delfino, por suas divisas a atravessar o rio da Palma, e
deste ao alto da serra da Christina, por este além até a fazenda de Lucas José de Souza e divisas desta
com as de Antonio Vieira da Silva, até as terras de Manoel Caetano; pelas divisas destas com a fazenda de
Antonio Vieira da Silva até as da fazenda de S. Francisco, donde seguirão os limites ao lugar denominado
"Pinto"; d'ahi, as divisas das fazendas de José da Silva Gorgulho2 e do capitão Antonio José de
Negreiros Macedo3, pelos limites da fazenda do Rosário, a terminarem no Sobradinho, onde começaram.
A freguezia será inaugurada logo que seja assignada a escriptura de doação de terreno para o respectivo
patrimonio, construcção de capella e casa para escolas publicas.
O Secretario desta Provincia a faça imprimir, publicar e correr. Dada no Palacio da Presidencia da Provincia
de Minas Gerais aos vinte e oito dias do mez de setembro do Anno de Nascimento de Nosso Senhor Jezuz
Christo de mil oitocentos e oitenta e sete, sexagésimo sexto da Independência e do Império.
LUIZ EUGENIO HORTA BARBOSA
Sellada e publicada nesta secretaria aos 8 de outubro de 1887.
(Fonte: Livro de Leis Mineiras Tomo LIV Parte 1ª Páginas 255 a 262)
Mapa da Sesmaria da Santa Cruz dos Pintos, atual Pintos Negreiros, distrito de Maria da Fé/MG.
2
José da Silva Gorgulho: natural de Porto/Portugal, pai de José da Silva Gorgulho de Noronha;
3 Antonio José de Negreiros Macedo (bisavô do Vovô Zotinho);
4
Sesmaria é um instituto jurídico que surgiu em Portugal no século XIV para a distribuição de terras
destinadas à produção. O governo português implantou também esse sistema no Brasil, a partir de 1530,
para estimular a produção. O sistema sesmarial brasileiro terminou em 17 de julho de 1822 (Resolução 76),
quando foi promulgada a Lei de Terras, que reconheceu as sesmarias antigas, ratificou formalmente o
regime das posses e instituiu a compra como a única forma de obtenção de terras. Fonte: Wikipédia – A
Enciclopédia Livre.
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A origem do nome “Fazenda dos Pintos”, talvez tenha sido originado do nome da Sesmaria da Santa Cruz
dos Pintos ou do nome do “Ribeirão dos Pintos” que a banhava.
A Fazenda dos Pintos pertencia a Manoel Pereira Barros, falecido em 1849, casado com Dª Luciana Ignácia
Vilela, era um grande estabelecimento agrícola, com todo o necessário para a lavoura de fumo e cereais,
grande escravatura, pois Barros era um homem muito abastado. Quando morreu já estava quase arruinado.
Grande parte da escravatura e toda a grande fazenda com seus pertences foram à praça para com o
produto da arrematação pagar seus credores. Das duas fazendas existentes nessa Sesmaria a dos Pintos
foi comprada de Manoel Pereira Barros, seu primitivo dono pelo Dr. João Capistrano Macedo de Alckmin.
Fonte: Livro “O Sertão da Pedra Branca” de Luiz Barcellos de Toledo.
Aos pés da serra da mantiqueira , tem um vale de singular beleza feito por
belos montes e montanhas verdes e azuis de se refletir, que tem noites de
luar, tem céu estrelado, tem histórias de assombração nas noites de inverno
em volta do fogão de lenha, café no bule, ... e que mesmo distante essa
será minha terra e será sempre minha . Vale a pena conhecer Pintos
Negreiros. (Teresa Gorgulho).
Vista parcial do aprazível lugarejo “Pintos Negreiros”, distrito de Maria da Fé, Sul de Minas Gerais, onde João
Capistrano de Macedo Alckmin tinha sua Fazenda dos Pintos. (Foto: Jonas Carvalho, disponível no blog
http://pintosnegreiros.blogspot.com.br/2011_10_01_archive.html)
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A Fazenda dos Pintos (hoje denominado “Pintos Negreiros”, Distrito de Maria da
Fé/MG) foi herdada pelas filhas de João Capistrano Macedo de Alckmin: Maria do Carmo
Capistrano Alckmin, casada com Antônio José de Negreiros (avós do Vovô Zotinho) e
Maria da Glória Capistrano Alckmin, casada com José da Silva Gorgulho de Noronha
(avós do empresário Miguel Archanjo Gorgulho). Os descendentes das famílias Negreiros
e Gorgulho formaram a maioria da população de Pintos Negreiros.
A Casa Grande, sede da fazenda dos Pintos, foi construída sobre paredões de pedras enormes, colocadas
uma sobre as outras, em uma área de mais de mil metros quadrados. Sobre os paredões, repousavam
enormes vigas de madeira de lei e sobre estas, o corpo da casa. A sala de visitas, bastante espaçosa, tinha
uma porta, logo á direita, que dava entrada ao salão de festas e reuniões. Havia um corredor tendo à sua
esquerda três portas para os quartos da lateral da casa, e à sua direita uma seqüência a oito quartos, quatro
deles com portas para o salão de jantar, dois para a sala de visitas e mais dois para o salão de festas. Havia
também um quarto para guardar os doces e quitutes nos dias de festa e quitandas, consumidas diariamente
pela família e hóspedes, um quarto para guardar selas e outros materiais de montaria e outro para guardar
as imagens de santos, usados em procissões. Após o corredor e a despensa ficava a cozinha. Esta,
respeitável pelo seu tamanho, tinha um fogão enorme e uma grande mesa. A poucos passos da porta da
cozinha, havia um riacho, que corria entre as pedras e que abastecia a fazenda.
O curral ia até ao moinho e o córrego. O paiol ficava logo depois de ambos. A água, depois de servir o
moinho, corria entre as pedras, na parte plana e, logo em seguida, era dividida, uma parte abastecia a Casa
Grande, a outra corria por uma valeta até encontrar o rio. Havia duas jabuticabeiras seculares com troncos
enormes e copas em forma de imensos guarda-chuvas.
Hoje chegou uma turma de parentes para visitar a mamãe, que se encontra doente. Até a madrinha
Nair que mora lá nos Pintos Negreiros, em sua fazenda dos Pimentas, onde fui nascida e criada veio, junto
com a Tia Carmita e uma turma de primos.Quando apontou, chegando em casa, a tia Carmita, eu dei uma
risadinha amarela, as lágrimas brotaram-me dos olhos. Mas ainda não tive tempo de chorar, achei melhor
deixar para outra hora de mais sossego. Fui para o fogão e desci as panelas. Só lá pra banda da tarde que
terminou o almoço. Mamãe, por ver todo aquele pessoal amigo, ficou mais animada e parece que melhorou..
À tarde tive tempo para conversar mais sossegada com a minha madrinha Nair. Comecei logo cedo
a fazer-lhe as perguntas: - Fale-me madrinha, de tudo e de todos, acaricia a minha saudade daquela terra
boa, daquele povo amigo, dos parentes que moravam todos reunidos naquela terra, onde viveram meu
bisavô, meus avós, meus pais, minhas irmãs, meu irmãozinho. Foi lá onde nascemos. Tenho saudade
daquele tempo. Até das folhas secas que eu pisava, atravessando a mata no caminho dos Pimentas, da
criançada que “saracotiavam” nas muralhas e paredões da Casa Grande do vovô.
Mas ela simplesmente me respondeu: - Aquele tempo já passou e tudo mudou. Não há mais os
Pintos dos Negreiros. Lá não tem mais ninguém daquele tempo. Está habitado por gente de caras novas e
estranhas. Não é mais como antigamente, quando os dois mil alqueires de terra e todas as casas eram de
um só dono. Era tudo governado e mandado pelos Negreiros. Tudo aquilo eram do casal Antônio José
Negreiros (Tonico) e Maria do Carmo Capistrano de Alckmin, que eram seus bisavós e avós de seu pai e do
meu marido João Negreiros. Hoje tem milhares de donos. Até a tradicional Casa Grande, que foi feita por
escravos, pertence a outros donos. Usina, moinho, paiol, mangueirais e mesmo a casa, estão tudo se
acabando. Só restam saudades e o nome, que ainda permanece: Pintos Negreiros.
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2.9 Distrito de Nossa Senhora do Carmo de Pouso Alto
O Distrito de Nossa Senhora do Carmo de Pouso Alto era onde João Capistrano de
Macedo Alckmin tinha a Fazenda do Rosário e onde nasceram seus filhos. Conforme
Almanaque Sul-Mineiro de 1874 e 1884, Carmo de Pouso Alto era um lugar cheio de vida
e animação: “Há lugares para serem vistos ao longe; a proximidade ou impede que bem
os aprecie, ou diminui muito sua beleza. Carmo está nesse caso; a vista do alto do morro,
por onde passa a estrada que da Vila de Campanha vai à Corte, tem um aspecto que
agrada, dali se divisa todas as suas casas, edificadas em uma colina fronteira e que
parecem colocadas em perfeita ordem. Nossa Senhora do Carmo é a padroeira do lugar.
5
José da Silva Gorgulho (1807–1884): natural de Porto/Portugal, comerciante e agricultor no Carmo de Pouso
Alto, pai de José da Silva Gorgulho de Noronha, genro de João Capistrano (casou com sua filha Maria da Glória).
6
Francisco Theodoro de Paiva (meu avô paterno): casado com Maria Custódia Capistrano Alckmin, filha de
João Capistrano Macedo Alckmin tinha uma fazenda no Carmo de Pouso Alto.
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2.10 Ponte do Carmo
Estação ferroviária Ponte do Carmo, onde morou o Vovô Zotinho, bisneto de João Capistrano Macedo de
Alckmin, junto ao Rio Verde e às exuberantes montanhas do Sul de Minas.
Foto: Gabriel Arruda.
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“Sou um homem feliz, tenho uma família abençoada e
numerosa. Tive por esposa uma Santa Maria e bons filhos e
netos. Eu nunca vivi desprezado, minha casa está sempre cheia
de parentes e amigos. Peço a Deus que quando eu morrer, que
vocês conservem a mesma harmonia, recebendo as visitas de
meus filhos, netos e todos que quiserem aqui vir, que as portas
estejam sempre abertas.”
Sebastião Crisóstomo de Negreiros (Vovô Zotinho)
Caio Arruda, neto do Barão de Monte Verde, junto com seus dois irmãos, herdou do
Barão uma grande fazenda (chamada Fazendinha) na Ponte do Carmo. Ele casou com Tia
Alaíde Negreiros, filha de Sebastião Crisóstomo de Negreiros (Vovô Zotinho, bisneto de João
Capistrano). Com o falecimento do Caio Arruda, após o Inventário, Tia Alaíde e seus dois filhos
receberam terras e gado na Ponte do Carmo. Vovô Zotinho, Vovó Maria e filhas solteiras,
mudaram para a Ponte do Carmo, para ajudarem Tia Alaíde a gerenciar a fazenda.
Vovô Sebastião Crisóstomo Negreiros (Vovô Zotinho) com alguns netos e bisnetos e com os filhos José
Arimathéia (Tio Zé), Alaíde, Maria Izabel (Bebé), Glorinha (Tigró) e Zuza, na casa da estação ferroviária da
Ponte do Carmo.
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No dia do meu aniversário, dia 27 de janeiro, a minha esposa, filhos e parentes sempre fazem festa neste dia.
Em um desses dias, ela pediu ao padre Francisco para vir celebrar uma missa aqui. Às 9 horas ele desembarcou
aqui na Estação Ferroviária Américo Lobo de surpresa, juntamente com a banda de Conceição do Rio Verde,
regida pelo maestro Pedro Maradei, meu colega de infância. Ele era o maestro da nossa orquestra no Rosário de
Dom Viçoso, no meu tempo de moço. Foi uma bonita surpresa. A banda chegou em casa tocando nosso antigo
“Capitão Caçula”. Eu saí no terreiro e de tão contente e alegre, sentei em uma pedra e chorei bastante. Recordei o
meu tempo em que já se vai longe.
Nas férias e feriados a família toda se reunia aqui na minha casa. Vinham minhas filhas, meu filho Padre Zé e
meus netos, filhos da Bebé, da Alaíde, da Landinha, da Terezinha e da Dorinha e eram chamados de “Turma do
Zé”. Sabiam se divertir.
Passávamos os natais todos juntos, aqui na Ponte do Carmo ou em Pouso Alto. Era comemorado com muita
alegria, união e amor, verdadeiro natal em família unida com a Sagrada Família de Nazaré Jesus, Maria e José.
Fonte: Autobiografia do Vovô Zotinho.
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Antonio José de Negreiros Macedo faleceu em 1884, conforme registro do Almanaque
Sul Mineiro:
Baixou ao túmulo, o Alferes Antonio José de Negreiros Macedo, legando aos que a ele sobreviveram,
exemplos de bondade, de grandeza d’alma e de dedicação pela terra do berço. Foi um patriota que
deveria ser imitado.
Fonte: Almanaque Sul Mineiro, 1884.
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Vista parcial de Pouso Alto. Acima, a igreja matriz, construída no mesmo local onde os bandeirantes fizeram um
rancho para pernoitaram e o denominaram de pouso alto. Foto: Miquelina Russano.
O motivo da Revolução de 1842 foi que, em 1831, após a abdicação de Dom Pedro I e
com o início da Regência, houve uma descentralização do poder e as províncias puderam ter
certa autonomia em razão das reformas que consolidaram o poder liberal nos anos da
Regência. Com a antecipação da maioridade do Imperador Dom Pedro II, em 1841, o Governo
voltou a ficar nas mãos dos Conservadores, que anularam as conquistas alcançadas na
Regência, num movimento chamado Regresso, e para culminar, em 1º de maio de 1842,
dissolveram a Câmara dos Deputados, cuja maioria era liberal. O movimento revolucionário
eclodiu nas Províncias de São Paulo e depois em Minas Gerais, demonstrando a insatisfação
com as reformas conservadoras.
João Capistrano de Macedo Alckmin apoiou a Revolução de 1842, quando participou
da Assembléia Provincial de 17 de julho de 1842, em São João Del Rei / MG, convocada pelo
Governo insurgente, sendo nomeado, nessa ocasião, Juiz de Direito da Comarca do Rio
Verde.
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Ata da Assembléia Provincial de 17 de julho de 1842 - São João Del Rei / MG
As onze horas do dia 17 de julho de 1842 no Paço da Câmara Municipal de São João Del Rei,
estando presentes os Srs, Deputados Antonio Fernandes Moreira, Dr. Manoel de Mello Franco, Dr.
Francisco de Assis e Almeida, Dr. Francisco José de Araújo e Oliveira, Dr. João Capistrano de Macedo
Alckmin, Coronel Antonio Joaquim de Oliveira Penna, Tenente Coronel Manoel Jose dos Santos, Theófilo
Benedicto Ottoni, José Pedro Dias de Carvalho, Cônego José Antonio Marinho, Vigário Felisberto Rodrigues
Milagres. Dr. José Christiano Garção Stockler e Mariano José de Brito Lambert, em número de treze. O Sr.
Cônego Marinho propôs para Presidente o Sr. Moreira e para secretários os Srs. Dr. Stockler e Lambert, os
quais foram aprovados por aclamação.
O Sr. Presidente convidou aos ditos Srs. Deputados a prestarem juramento e a tomarem assento, o
que se verificou. O Sr. Cônego Marinho apresentou e mandou a Mesa a seguinte indicação: “Que seja
encaminhada pelos Deputados presentes uma mensagem de apoio ao Presidente Interino da Província,
assegurando-lhe a franca, leal e decidida cooperação e aprovação dos seus atos praticados e os que houver
a praticar, para salvar a Constituição e o Trono”. A proposta foi colocada em discussão, unanimemente
aprovada e a mensagem foi emitida e assinada pelos treze deputados presentes.
O Sr. Presidente levantou a Sessão, de que para constar lavrei a presente.
Maximiano José de Brito Lambert - Segundo Secretário
José Cristiano Garção Stokler – Presidente.
FONTE: História da Revolução de Minas Gerais em 1842, Rio de Janeiro, Tipografia de J.J. Barroso e
Comp. 1843
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Ofício de 17 de julho de 1842 do Juiz Municipal e de Órfãos da Vila de Baependi
ao Ministério da Justiça:
Ilmº e Exmº Sr. Paulino José Soares de Sousa – Ministro e Secretário de Estado dos Negócios de
Justiça.
Reporto a V.Exc., os acontecimentos que tiveram lugar na Vila de Baependi, depois que tomei posse
do cargo de Juiz Municipal e de órfãos desse Termo. No dia 21 de junho tomei posse no mencionado cargo
e no dia 22 parti com uma força para prender o Bacharel formado João Capistrano de Macedo Alckmin,
que, segundo constava, achava-se fortificado em sua fazenda, na Freguesia do Carmo, o qual, avisado,
talvez em tempo, pode evadir-se, e na busca a que procedi só encontrei, em uma Ermida (capela), cinco
balas e seis cartuchos embalados.
Ao voltar, encontrei, na distância de duas léguas, o Sargento Mor José Ribeiro da Luz, que se
recolhia com uma força de 55 soldados armados, e foi quando soube de sua capitulação da Vila de
Baependi à força inimiga, feita através da assinatura de um Termo de Rendição7.
Desta feita, voltei daquele ponto para a Freguesia do Carmo com a mencionada força, onde oficiei
ao Subdelegado de Pouso Alto, o Sargento Mor Francisco Theodoro da Silva, perguntando se poderíamos
reunir para ocuparmos Pouso Alto, e ali esperarmos as forças que estão vindo do Rio, e que, no caso de não
assentir esta minha opinião, eu me retiraria com as forças que pudesse para a cidade de Campanha, e ali
esperaria a ocasião oportuna para batermos os insurgentes. O subdelegado me respondeu em um ofício,
que eu me dirigisse para Campanha, pois as forças que estão vindo do Rio demorariam (Barão de Caxias
enviou para Pouso Alto o seu irmão Major Francisco de Lima e Silva Filho, que lá chegou em 25 de
julho de 1842).
Dirigi-me então para a cidade de Campanha, e quando íamos chegando a Lambari, encontrei uma
força de cem soldados, todos a cavalo, comandada pelo Sargento Mor Joaquim José Rabello, que vinha em
socorro a Baependi, logo que soube da entrega dessa Vila. Voltamos todos para a cidade de Campanha,
onde se está organizando uma força de 450 praças, sob o comando do Coronel Julião Florêncio Meyer,
acompanhando igualmente o Delegado do Chefe de Polícia da Campanha, Sargento Mor Antonio Joaquim
Gomes.
Chegamos ao Arraial de Conceição do Rio Verde, e lá reunimos todas as forças, em número de um
mil e tantos praças. Entramos em Baependi no dia 15 de junho de 1849, encontrando apenas um piquete
dos sediciosos postados no alto da Vila, que logo fugiram, fazendo fogo assim que nos avistaram, para dar
sinal. Os insurgentes, como eram em menor número se retiraram, entricheirando-se no Ribeirão.
Deus guarde V.Exc. por muitos anos.
Vila de Baependi, 17 de julho de 1842
Aleixo Ferreira Tavares de Carvalho – Juiz Municipal e de Órfãos do Termo de Baependi
7 Gabriel Francisco Junqueira (futuro Barão de Alfenas), formou uma coluna chamada “Coluna Junqueira”,
com um contingente de 1200 homens que em 26 de julho de 1842, cercou a Vila de Baependi, que contava
com uma força de 800 homens da Guarda Nacional e exigiu a assinatura de um Termo de Rendição em que
os governistas se comprometiam a entregar as armas, soltar os presos políticos, reconhecer o Governo
Interino e suspender o cumprimento da Reforma Judiciária, enquanto que os insurgentes se comprometiam
a não perseguir, não prender e não punir nenhum governista local. No mesmo dia 26 de julho, o comandante
da Legião Coronel Joaquim Nogueira de Sá, e demais representante da Câmara de Baependi assinaram o
Termo de Rendição reconhecendo José Feliciano como Presidente e capitulando diante das forças rebeldes,
entregando o controle da cidade, sem haver confrontos.
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Os revolucionários foram vencidos pelo Barão de Caxias (futuro Duque de Caxias) em
20 de agosto de 1842, na batalha final no Arraial de Santa Luzia. Todos os líderes da
Revolução foram julgados e considerados inocentes. Todos os revolucionários foram
anistiados de seus crimes políticos, em 14 de março de 1844, pelo Imperador Dom Pedro II
Com o fim da Revolução de 1842, João Capistrano de Macedo Alckmin deixou a
política, passando a atuar como conceituado jurisconsulto e administrador de suas fazendas.
Fonte: “Dois Séculos de Justiça” de Flávio Flores da Cunha Bierrenbach, disponível no site
http://www.fundacaoarcadas.org.br/PDF/Livro_dois-seculos.pdf
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Naquela época não havia vestibular, mas por exigência legal, os alunos tinham que
comprovar proficiência em Português, latim, História Universal, Geografia, Retórica, Filosofia,
Aritmética, Geometria, Língua e Literatura Francesa. O curso da Faculdade de Direito do Largo
de São Francisco era distribuído em cinco anos e em nove disciplinas, seguindo o modelo de
curso existente em Coimbra e eram ministradas por docentes de “notoriedades”.
“O governo, por decreto de 11 de Agosto de 1827 criou duas academias de Ciências Sociais e
Jurídicas, uma ao Norte e outra ao Sul do Brasil; aquela na cidade de Olinda e esta na cidade de São Paulo,
atendendo assim a uma das mais palpitantes necessidades do nascente Império.
Era então Ministro da pasta respectiva o Dr. José Feliciano Fernandes Pinheiro, que soube arrostar com
todos os embaraços opostos pelo espírito de bairrismo, fazendo prevalecer o pensamento que quatro anos
antes concebido e procurado realizar como deputado.
Como principio de execução apareceu o Decreto de 13 de Agosto do mesmo ano de 1827 pelo qual
foram nomeados o tenente-general Dr. José Arouche de Toledo Rendon para diretor, e o Dr. José Maria de
Avelar Brotero para lente da cadeira do 1º ano da Academia de São Paulo.
No dia 1º de Março de 1828 foi celebrada com toda pompa compatível com os recursos da época, a solene
abertura e instalação da mesma Academia, em presença do então presidente da Província conselheiro
Thomaz Garcia Xavier da Veiga, bispo Diocesano, Dom Manoel Joaquim Gonçalves de Andrade,
funcionários civis, militares e eclesiásticos, e grande concurso de pessoas gradas.
Tiveram lugar na sala que foi preparada para este fim, na antiga sacristia do Convento dos
Religiosos Franciscanos, que a cederam, e que afinal largaram todo o convento, voluntariamente cedido
pelo
Provincial, a 8 de Novembro de 1828.”
Fonte: Livro “Almanak Literário de São Paulo - Memórias sobre a Faculdade de Direito da Cidade de São
Paulo” de M. E. A. Marques.
Disponível no site: http://www.migalhas.com.br/mostra_noticia_articuladas.aspx?cod=28548
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- Direito Eclesiástico: Baltazar da Silva Lisboa
Nasceu em 6 de janeiro de 1761. Estudou na Universidade de Coimbra, graduando-se doutor em direito civil
e canônico. Foi distinguido pelo imperador Dom Pedro I com o título de conselheiro e uma cadeira de lente
na Faculdade de Direito de São Paulo.
- Processo Civil e Criminal: Luiz Nicolau Fagundes Varela
Brasileiro, formado em Coimbra, foi deputado no Brasil nos tempos de Dom Pedro I, foi professor da
fundação da Academia de Direito de São Paulo e pai do poeta Fagundes Varela.
- Direito Natural Teoria e Prática do Processo Civil e Comercial: Padre Antonio Maria de Moura
Mineiro e sacerdote, já depois de investido das ordens sacras formou-se em leis na Universidade de
Coimbra. Professor da Faculdade de Direito de São Paulo em 1828. Deputado por Minas nas Legislaturas
de 1830 a 1833 e de 1834 a 1837. Em 1833 foi nomeado Bispo do Rio de Janeiro, não tendo sido sua
nomeação confirmada pelo Papa, por se haver pronunciado contrário ao celibato clerical, de acordo com
Feijó. Faleceu em 1842.
- Economia Política: Carlos Carneiro de Campos, 3.º Visconde de Caravelas
Político brasileiro, diretor do Banco do Brasil, conselheiro de Estado, Ministro da Fazenda, deputado
provincial e geral, presidente de província e senador do Império do Brasil de 1857 a 1860.
- Direito Criminal: José Joaquim Fernando Torres
Político brasileiro, deputado provincial, deputado geral, presidente de província, ministro do Império, ministro
da Justiça e senador do Império do Brasil de 1862 a 1863.
- Direito Pátrio: Prudêncio Geraldes Tavares da Veiga Cabral
Criador da ciência da administração no Brasil. Nasceu em 1800 em Cuiabá, província de Mato Grosso.
Bacharel em Direito na universidade de Coimbra, em 1822. Em abril de 1829 foi nomeado professor da
cadeira de Direito Pátrio na Faculdade de Direito de São Paulo, onde foi nomeado Diretor em 1843. Na
legislatura de 1858 foi eleito deputado provincial. Legou à posteridade uma obra notabilíssima – Direito
Administrativo Brasileiro (1859). Era do conselho do Imperador.
- Direito Civil: João Cândido de Deus e Silva
Nascido em 1787, no Pará, fez seus estudos universitários na Europa, bacharelando-se em Direito. Foi
professor da Faculdade de Direito de São Paulo, Desembargador da relação no Maranhão, Deputado-Geral
pelo Pará, em duas legislaturas, Secretário de Governo da Província do Rio de Janeiro e presidente da
Câmara da Vila da Parnaíba.
FONTE: Enciclopédia Livre
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3 BIOGRAFIA DE PESSOAS ILUSTRES DA FAMÍLIA MACEDO ALCKMIN
Major João Rodrigues de Macedo (pai de João Capistrano de Macedo Alckmin) era
um homem modesto, muito religioso, caridoso e gozou de grande consideração por suas
virtudes. Ajudava aos pobres e gerenciava as obras que mandava fazer na igreja matriz e
liderou a construção da Santa Casa de Misericórdia de Campanha, que foi uma das
primeiras do Brasil.
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“Major João Rodrigues de Macedo, homônimo de um caritativo cidadão que viveu em Ouro Preto, foi
generoso e dedicado benfeitor da Matriz de Campanha /MG. Era a caridade que conforta o espírito, mata a
fome e alivia o sofrimento do pobre e do enfermo; o homem religioso que não reparava os estragos da casa
em que residia e que despendia grandes somas na obra que se fazia no templo de Deus. Modesto em
extremo, mais que simples em seu trajar, as próprias roupas com que vestia mostravam a singeleza de sua
alma. Muitas vezes nós o vimos, a qualquer hora do dia, abandonar os interesses de sua vida comercial e o
repouso que sua idade reclamava, para ir, e por longas horas, presidir consertos e obras que mandava fazer
na igreja matriz, sem procurar auxílio estranho. Quando no caminho para casa, encontrava a pobreza,
espalhava por ela avultadas esmolas, recolhendo em suas mãos as lágrimas dos infelizes, preciosas
pérolas, que a seus olhos tinham um valor inestimável. Major João Rodrigues de Macedo também muito
contribuiu para a construção da Santa Casa de Caridade, criada pela Lei de 22 de fevereiro de 1830. A
Santa Casa foi iniciada pela deliberação da municipalidade de Campanha e foi construída mendigando-se
auxílio de todos quantos se interessavam pela sorte dos enfermos pobres. Em uma das salas desse edifício
vê-se o retrato, pintado a óleo, do Major João Rodrigues de Macedo.”
Fonte: Artigo de Bernardo Saturnino da Veiga, publicado no Almanak Sul Mineiro de 1874
Vista parcial de Campanha / Sul de Minas. Ao fundo, a Igreja Matriz de Santo Antônio, que João Rodrigues de
Macedo ajudou na sua construção. Foto disponível em <httpvilhenatbv.blogspot.com>
Campanha é a cidade mais antiga do Sul das Minas Gerais, cidade histórica, povoação iniciada no ciclo do ouro,
reconhecida oficialmente em 2 de outubro de 1737. Elevada à freguesia em 6 de fevereiro de 1752, à vila em 29 de
outubro de 1798 e à cidade em 9 de março de 1840. O nome “Campanha” se deve à topografia, pois a cidade se
encontra localizada numa colina circundada por extensas campinas. Campanha foi sede administrativa e jurídica
do Sul de Minas. Pioneira da instrução, de merecido renome. Pela sua grande extensão territorial e pela riqueza
natural e cultural, Campanha é considerada a cidade-mãe, fertilizadora das outras cidades – o berço do Sul de
Minas.
Fonte:Enciclopédia Livre <http://pt.wikipedia.org/wiki/Campanha_(Minas_Gerais)
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João Rodrigues de Macedo faleceu em 08 de dezembro de 1854, aos 78 anos,
quando já era bisavô, em Campanha, Sul de Minas Gerais.
Nota de Falecimento de João Rodrigues de Macedo
1854 – Morre na cidade da Campanha o Sargento-Mor João Rodrigues de Macedo, nascido em
1776 em Portugal (Freguesia de Barcelinhos, Arcebispado de Braga). Desde moço fixou residência
na Campanha, onde constituiu família e dedicou-se ao comércio. Homem laborioso, honrado e de
caráter singelo e leal, assinalou-se especialmente por sua religiosidade e gênio filantrópico e
fervorosamente caridoso, despendendo em esmolas e outros atos de beneficiência, grande parte de
seus recursos que lhe proporcionava o trabalho.
Fonte: Efemérides Mineiras, ano de 1854, pág. 372.
Em 1841 a Fazenda do Monjolinho foi negociada (Livro de Notas, n.5, f.145 Cartório 1º Ofício de
Piracicaba) a João Alves de Oliveira pelo preço total de 26:500$000 (vinte e seis contos e
quinhentos mil reis), com mil e dezessete cabeças de animais vacum a cavalares na importância de
treze contos duzentos e vinte e hum mil reis, as terras por oitocentos mil reis, as casas por trezentos
mil reis, e os utensílios, porcos, currais e outras benfeitorias por quatro contos e vinte e nove mil reis,
de acordo com a escritura de 22 de outubro de 1841. FONTE: TORRES, Maria T. Um lavrador
paulista do tempo do Império, Revista de Administração Municipal, CLXII,1968, pp. 203, 210.
Com o falecimento do esposo em 1866, Alexandrina passou a gerenciar a Fazenda
do Monjolinho. Conforme escritura de 27 de julho de 1867, Alexandrina doou uma grande
extensão de terras à Câmara Municipal de São Carlos, correspondente a 30 alqueires
paulistas (726 mil metros quadrados), permitindo a expansão da cidade para o lado norte,
praticamente dobrando o que havia antes da doação.
A ocupação do topo da planície central de São Carlos só ocorreu após a morte de João Alves. Em
1867, sua viúva Dª Alexandrina, doou uma área de 300 por 500 braças (aproximadamente 50
hectares) à Câmara Municipal de São Carlos, começando no pátio da Igreja Matriz, medindo-se 500
braças ao longo da Rua do Comércio (hoje denominada Rua São Carlos) e 150 braças de lado da
mesma rua.
FONTE: Livro “O Jardim Público da cidade de São Carlos do Pinhal” de Ary Pinto da Neves, 1983.
Alexandrina faleceu em 11 de outubro de 1878, sendo sepultada em São Carlos.
Em sua homenagem foi dado o seu nome a uma das ruas do centro de São Carlos: Rua
Dona Alexandrina. Uma das placas da Rua Dona Alexandrina tem a inscrição: “Benfeitora
da Cidade”.
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4 TESTAMENTOS E CERTIDÕES DA FAMÍLIA DE JOÃO CAPISTRANO DE MACEDO
ALCKMIN
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TESTAMENTO DE RITA FRANCISCA DE ALCKMIN
“Eu, Rita Francisca de Alckmin, sou filha de Custodio Ribeiro Pedrozo e Maria Emilianna Alkmim,
ambos já falecidos. Fui casada com o finado João Rodrigues de Macedo de cujo matrimonio existem vivos
os filhos seguintes: João Capistrano de Macedo Alckmin; Alexandrina Melchiades; Custodia Guilhermina;
Ana Izabel; Generosa Candida; Francisca de Assis e Joana Carolina, todos casados e com filhos e que
falecendo minha filha Maria Hypolita deixou três filhos cujos são também meus herdeiros por direito de
representação, e falecendo minha filha Ritta casada, não deixou filhos.
Testamenteiros:
1º meu filho João Capistrano de Macedo Alckmin;
2º ao Reverendíssimo Sr. Conego Antonio Felippe de Araujo, e
3º a meu genro Joaquim Nery.
Deixo a minha neta e afilhada Anna Ritta, filha de minha falecida filha Maria, 400$000.
Deixo a minha neta e afilhada Maria Victoria, filha de meu filho João, 400$000.
Deixo a minha afilhada e netos Francisca Ignes, Francisco, Joana filhos de minha filha Alexandrina, 400$000
a cada um.
Deixo a minha neta Anacleta, filha de minha filha Custodia, 400$000.
Cumpridas todas as minhas disposições instituo por herdeiros do remanescente de minha terça a meu filho
João Capistrano de Macedo Alckmin.
Custódio era um rico negociante de armas e bebidas. Por volta de 1812 ele saiu de
Minas Gerais e andou por vários lugares, negociando armas e bebidas nas praças do Rio
de Janeiro, São Paulo e Santos.
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4.4 Testamento de Custódio Ferreira Pedroso (Avô Materno de João Capistrano
Macedo de Alckmin)
Declaro mais que para salvar minha alma, digo, que para salvar
minha consciência, o meu Testamenteiro dará a Manoel Ribeiro
Malta desta Vila de Santos, quatrocentos mil réis por algum
engano que eu poderia ter em todo o tempo que tivemos
sociedade, se for demais eu lhe perdôo e se for de menos
também que me perdoe, pelo amor de Deus.
(Trecho do Testamento de Custódio Ferreira Pedroso)
Em nome da Santíssima Trindade, Padre, Filho e Espírito Santo três pessoas distintas e um só Deus
verdadeiro.
Saibam quantos este Público Instrumento virem que sendo no Ano do Nascimento de Nosso Senhor
Jesus Cristo de mil oitocentos e vinte aos dezenove dias do mês de Outubro, eu Custódio Ferreira Pedroso,
achando-me doente de uma moléstia interior, mas não de cama e sim andando de pé em meu perfeito juízo
que Deus Nosso Senhor me deu e não sabendo o que fará de mim por isso para por a minha alma no
caminho da salvação faço este meu Testamento na forma seguinte:
Declaro que sou natural da Freguesia de Santa Eulalia de Passos, Bispado do Porto Comarca de
Pena Fiel, filho legítimo de Domingos Antonio Passos e de Mariana Ferreira, esta é falecida e o pai não é
certeza.
Declaro que existo no Brasil há vinte e tantos anos por diversas terras, e sou casado a face da igreja
há vinte e oito anos mais ou menos, em Minas Gerais na vila de São João del Rei com Maria Emiliana de
Alkmin, filha natural de Maria Josefa de Alckmin da mesma vila, e residente na dita, de cujo matrimônio
tenho dois filhos: José Máximo de Alkmin e Rita Francisca de Alkmin, esta se acha casada com João
Rodrigues Macedo, que são os meus legítimos herdeiros.
Declaro que há oito anos mais ou menos, passei daquela Capitania de Minas Gerais, para esta de
São Paulo e para outras mais para onde tenho andado, com o nome suposto de Antonio José Teixeira, por
motivos particulares que tive para mudar o dito meu nome.
Declaro que deixo a minha mulher por minha testamenteira, em segundo lugar ao Senhor João
Batista Rodrigues da Silva, em terceiro lugar ao Senhor Alferes José Martins Viana.
Declaro que o meu corpo será envolto no Hábito de Nossa Senhora do Monte do Carmo de quem
sou indigno Irmão Terceiro da sua Venerável Ordem, em Minas Gerais e meu corpo será sepultado na
Capela da dita Ordem, quero que seja enterrado na Igreja dos Reverendos Religiosos em qualquer sepultura
que for possível.
Declaro que tenho em sociedade com o Senhor Manoel Ribeiro Malta cinco mil cruzados e ao que
constar de uma conta corrente que fez Manoel Ferreira Duarte, cuja conta existe em poder do meu sócio
Malta, dinheiro em quantia para girar em negócio por conta de ambos, de que não há clarezas e só sim
assentos de parte a parte, mas desta quantia já tenho recebido a maior parte, porém ainda não estamos
líquidos desta conta, e por isso dever-se-á estar pela conta dos lucros que der um e outro.
Declaro que possuo fora da sociedade, casas com sua frente de pedra, com três portas e seus
respectivos fundos, nesta vila na esquina da Rua da Prata que tomei em meu pagamento a Manoel Ferreira
da Paixão pela quantia de cento e cinqüenta mil réis e passou-me escritura no cartório do Tabelião Barroso
e nesta dita quantia acima tem o dito meu sócio Malta quarenta mil réis que também lhe era devedor o dito
Paixão.
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Declaro que tenho sociedade na cidade de São Paulo com Antonio Fernandes da Mota em uma
venda de molhados há dois anos mais ou menos. Declaro que em poder do dito meu sócio Malta tenho
dezesseis armas de fogo que lhe remeti para ele vender por minha conta de principal a seis mil réis cada
uma.
Declaro que devo a Praça do Rio de Janeiro, tanto em nome de Custódio Ferreira Poderoso (meu
primeiro nome) como depois que mudei em Antonio José Teixeira, tudo aquilo que constar das minhas
firmas, tanto de um nome como de outro, que tudo o meu Testamenteiro pagará dos meus bens.
Declaro que feitas as minhas disposições, da minha terça se dará de esmola a um filho de Ana
Escolástica dos Prazeres, de nome João Damasceno, trezentos mil réis, cuja quantia se conservará em
poder de meu compadre o Senhor Alferes José Martins Viana a quem meu Testamenteiro entregará. E o dito
Viana fará toda a diligência para a por a render enquanto o dito João Damasceno não tomar estado, ou tiver
idade para se emancipar; e que logo completo estas condições, se lhe entregará a dita quantia, e dos lucros
da mesma assistirá para os seus diários; e caso o tal Damasceno morra antes deste tempo se entregará a
dita quantia aos meus herdeiros.
Declaro que da minha terça se dará a meu afilhado José, filho de José Martins Viana e de Ana
Antonia Rodrigues Ferreira desta vila, a quantia de cinqüenta mil réis.
Declaro que feitas as minhas disposições, o remanescente da minha terça o meu Testamenteiro
entregará as minhas netas, filhas de João Rodrigues de Macedo e de minha filha Rita Francisca de Alcamin,
sendo que minha mulher tome conta do meu Testamento e logo que seja o segundo ou o terceiro nomeado,
estes entregarão a dita minha mulher aonde se conservará até elas tomarem estado.
Declaro mais que para salvar minha alma, digo, que para salvar minha consciência, o meu
Testamenteiro dará a Manoel Ribeiro Malta desta vila quatrocentos mil réis por algum engano que eu
poderia ter em todo o tempo que tivemos sociedade, se for demais eu lhe perdôo e se for de menos também
que me perdoe pelo amor de Deus.
Declaro que ao tempo do meu falecimento minha mulher, primeira testamenteira nomeada não se
achar presente nesta vila, meu segundo ou terceiro testamenteiro tomará conta do meu Testamento e de
todos os meus bens fazendo logo aviso a dita minha mulher para que venha tomar conta do Testamento e
de tudo aquilo que me pertence.
Declaro que se dará do Monte Mor ao Senhor Francisco Ignacio, casado com uma filha de Rosa
Maria de Mello, moradores em Mapindin, a quantia de doze mil réis por engano que tivemos em conta de
umas fazendas que lhe comprei.
Roguei ao Senhor João José Gonçalves que escrevesse este meu testamento.
Custódio Ferreira Pedroso
Maria Josefa de Alcamin, bisavó de João Capistrano de Macedo Alckmin, era mãe
solteira e foi a responsável pela origem do sobrenome “Alckmin”, pois registrou sua filha
com o nome Maria Emiliana Justina de Alckmin, empregando a grafia “Alckmin” ao invés
de “Alcamin” do seu sobrenome.
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TESTAMENTO DE MARIA JOSEFA DE ALCAMIN
Jesus, Maria e José. Eu Maria Josefa de Alcamin estando enferma de cama e em meu
perfeito juízo faço o meu testamento na forma seguinte:
Declaro que sou natural desta vila de São João Del Rei, filha natural de Jose da Costa
Alcamin e de Josefa Caetana Moura, aquele falecido da vida presente e ela ainda sobrevive.
Nunca fui casada e sempre me conservei no estado de solteira e tenho uma filha, Maria
Emiliana Justina de Alckmin que esta casada com Custódio Ferreira Pedroso a qual é minha
herdeira e por tal a instituo.
Nomeio por meus testamenteiros em primeiro lugar ao Reverendo Senhor Vicente de Araújo
Pereira, em segundo ao Senhor Dr. Gomes da Silva Pereira, em terceiro a dita minha filha e seu
marido fazendo estes dois uma só pessoa (...).
Quero ser sepultada na igreja matriz desta vila em sepultura que me pertence como irmã de
Nossa Senhora da Boa Morte, envolto o meu corpo em hábito de terceira de Nossa Senhora do
Monte do Carmo (...).
Pagas as minhas dividas se dividirão os meus bens em três partes, duas das quais são da
dita minha filha e herdeira e a terceira fica sendo livre por ser meus bens adquiridos e não dados.
(...) a meu rogo o escreveu José Joaquim dos Santos Lisboa (...)
Vila de São João Del Rei, 12 de Novembro de 1794.
Aprovação:12-11-1794
Local: Vila de São João Del Rei, Minas e Comarca do Rio das Mortes em casas de morada da
testadora Dona Maria Josefa de Alcamin moradora nesta vila.
Abertura: aos vinte e nove de Novembro de mil setecentos e noventa e quatro me foi entregue este
testamento com que faleceu a testadora Maria Josefa de Alcamin (...).
Fonte: Museu Regional de São João Del Rei / Centro de Memória Cultural do Sul de Minas Gerais.
Site: http://www.projetocompartilhar.org
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5. GENEALOGIA E BIOGRAFIA DE PESSOAS ILUSTRES DA FAMÍLIA
RODRIGUES ALCKMIN
João Capistrano
Macedo Alckmin
Maria Augusta
Ribeiro
João Capistrano
Ribeiro Alckmin
Maria Joana
Rodrigues
André Rodrigues
Alckmin
Foto: André Rodrigues Alckmin, esposa
Ida Thusnelda
Ida Ravache e seu filho André.
Lindegger Ravache
Geraldo José
Rodrigues Alckmin
Filho
Maria Lucia
Guimarães Ribeiro
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5.1 Biografia de João Capistrano Ribeiro de Alckmin (filho de João Capistrano Macedo
Alckmin)
João Capistrano Ribeiro de Alckmin, filho de João Capistrano de Macedo Alckmin,
nasceu em Pouso Alto em 25 de janeiro de 1837. Seguindo o exemplo de seu pai, cursou a
Faculdade de Direito de São Paulo (atual USP).
Diploma de Bacharelado em Direito, conferido a João Capistrano Ribeiro de Alckmin, pela Faculdade
de Direito de São Paulo:
“Sob os auspícios do Muito Alto e Muito Poderoso Príncipe o Senhor Dom Pedro II, Imperador Constitucional e
Defensor Perpétuo do Brasil, etc..., Conferindo o Diploma de Bacharel em Ciências Sociais e Jurídicas ao Dr.
João Capistrano Ribeiro de Alckmin, na data de 19 de novembro de 1860.”
Documento assinado por:: Conselheiro Manuel Joaquim de Amaral Gurgel e Conselheiro Ramalho.
Fonte: Centenário de Jornal Estado de Minas Gerais de 1892
Começou sua magistratura em Silveiras, no Estado de São Paulo. Voltou para Minas
Gerais, exercendo a função de Juiz de Direito nas cidades de Cambuí, Camanducaia e
Baependi. Foi Juiz Municipal em Três Pontas, onde participou da implantação do Sistema de
Transporte do Rio Verde, inaugurado em 15 de agosto de 1863.
André Rodrigues Alckmin, filho de João Capistrano Ribeiro Alckmin e Maria Joana
Rodrigues, foi um competente professor e diretor de escolas públicas em Itu e
Guaratinguetá/SP. André nasceu em 4 de fevereiro de 1878, numa fazenda do município
de Baependi, no sul de Minas.
Estudou as primeiras letras em Silveiras/SP, onde seu pai começou a exercer a
magistratura. Quando seu pai foi para Cambui/MG, como Juiz de Direito, o jovem André
seguiu para São Paulo, a fim de estudar na Escola Normal da Praça da República, a
melhor do Estado. Morava numa pensão e trabalhava no Correio, das seis da tarde até
meia noite.
Diplomado em 1901, foi nomeado logo em seguida, Professor Adjunto do Grupo
Escolar Cesário Mota, em Itu. André Alckmin angariou rapidamente o respeito e a
admiração dos alunos, colegas e pais. No ano seguinte já exercia o cargo de diretor do
mesmo estabelecimento.
André casou com Ida Ravache em 8 de dezembro de 1903. Ida era descendente de
imigrantes alemães e freqüentou o Colégio Patrocínio, dirigido pelas irmãs de São José,
obtendo bom preparo e sólida formação católica. Tiveram cinco filhos: André Rodrigues
Alckmin Filho, José Geraldo Rodrigues Alckmin (pai de Geraldo José Rodrigues Alckmin
Filho, Governador do Estado de São Paulo), João Rodrigues Alckmin, Maria Joana
Alckmin e Geraldo José Rodrigues Alckmin (conceituado advogado, Juiz do TSE e
Ministro do STF).
Em 1907 André mudou-se com a família para Guaratinguetá, onde assumiu o cargo
de diretor da Escola Complementar dessa cidade. Alguns anos depois adquiriu um sítio na
Estrada dos Motas e aí construiu sua casa e um pomar muito bem planejado, cercado por
água, para evitar formigas. Na frente da casa foi plantado um jardim com um caramanchão
e um viveiro de pássaros, que eram cuidados pela Dª Ida.
Em 1928 foi nomeado “Inspetor-Fiscal da Escola Normal de Lorena” e em 1931.
“Lente de Português e Literatura da Escola Normal de Guaratinguetá”. Além disso, exercia
o magistério particular no Ginásio Nogueira da Gama e no Ginásio São Joaquim, de
Lorena.
André fez de sua profissão um modo de ser e, em casa, costumava acompanhar os
estudos dos filhos.
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André era um homem muito piedoso e tinha uma profunda religiosidade. Costumava
ir as missas todos os dias e pertencia à “Conferência de São Vicente Sagrado Coração de
Jesus”, da qual foi presidente. Preocupava-se muito com os pobres e mendigos e as
vezes os convidava para almoçar em sua casa.
Faleceu em 28 de março de 1932, aos 54 anos, sendo homenageado com seu
nome em várias escolas do Estado de São Paulo.
5.3 Biografia de José Geraldo Rodrigues Alckmin (neto de João Capistrano Ribeiro
Alckmin)
“Desde a infância, no lar cristão, em que aprendi do espírito bondoso,
austero e reto de meu pai, a ser fiel no cumprimento do dever. Em que
aprendi, na admirável firmeza de ânimo e no carinho materno, a
aceitar mais despreocupadamente êxitos e reveses, certo de que uns
e outros são integrantes de toda existência humana. E irmãos
admiráveis e bons companheiros de todos os instantes, que ajudaram
o irmão mais moço a encaminhar-se na vida.”
José Geraldo Rodrigues Alckmin
José Geraldo Rodrigues Alckmin nasceu em 4 de abril de 1915, num sítio da área
rural de Guaratinguetá. Era o quinto filho do casal André Rodrigues de Alckmin e Ida
Ravache.
José Geraldo fez seus estudos primários no Ginásio São Joaquim de Lorena e no
Colégio Nogueira da Gama de Guará, escolas onde lecionava o seu pai. Aos nove anos foi
coroinha na capela do Colégio Salesiano. Paralelamente ao curso ginasial, seguindo a
tradição da família, fez o curso normal na Escola Normal de Guaratinguetá, onde se
formou como professor em 1933. Neste mesmo ano passou no vestibular na Faculdade de
Direito, onde fez muitos amigos, que o admiravam pela sua simpatia, simplicidade e
inteligência.
Em 1934 foi empossado como imortal na Academia de letras da Faculdade,
revelando dotes literários. Obteve o grau de bacharel em Direito no dia 18 de janeiro de
1938, em cerimônia realizada no Teatro Municipal de São Paulo.
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Ascendeu ao Tribunal de Alçada, como juiz, em 1958, exercendo a presidência de 1961 a 1963. Em
1957 auxiliou na fundação da Faculdade de Direito de Taubaté da Universidade de Taubaté, tendo
sido professor na instituição. Foi nomeado desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo em
1964, desempenhando as funções de corregedor geral da Justiça no de 1970 a 1971.
Foi nomeado ministro do Supremo Tribunal Federal por decreto do presidente Emílio Garrastazu
Médici de 3 de outubro de 1972, tomando posse em 11 de outubro do mesmo ano.
Indicado juiz do Tribunal Superior Eleitoral, tomou posse como substituto em 5 de abril de 1973 e,
como efetivo, em 20 de fevereiro de 1975. Eleito vice-presidente, assumiu as respectivas funções
em 12 de novembro de 1975, exercendo-as até 7 de novembro de 1977, quando ascendeu à
presidência, onde permaneceu até seu falecimento.
Foi professor de Direito Processual Civil na Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo e
titular de Direito Judiciário Civil na Faculdade de Direito da Universidade Mackenzie.
Foi também suplente do então senador André Franco Montoro. Seu sobrinho, Geraldo José
Rodrigues Alckmin Filho, foi governador de São Paulo e candidato à Presidência da República em
2006.
Condecorações: Grande Oficial da Ordem do Mérito do Rio Branco; Grande Oficial do Mérito Militar;
Oficial do Mérito Aeronáutico; Grã-Cruz do Mérito Judiciário Militar; Ordem do Mérito Judiciário
Militar; Ordem do Mérito Judiciário.
José Geraldo Rodrigues Alckmin era casado com Ana Maria Rangel Alckmin.
Faleceu no dia 6 de novembro de 1978, em Brasília, sendo sepultado em Guaratinguetá,
Estado de São Paulo. Os municípios de São Paulo, Guaratinguetá e Pindamonhangaba
prestaram-lhe significativa homenagem dando seu nome a logradouros públicos e escolas
municipais e estaduais.
Geraldo José Rodrigues Alckmin Filho, bisneto de João Capistrano Ribeiro Alckmin,
nasceu em Pindamonhangaba, no dia 7 de novembro de 1952. É um médico e político
brasileiro. É o atual Governador de São Paulo.
Foi vice-governador entre 1995 e 2001 e governador de São Paulo entre 2001 e
2006. Em 2006 foi candidato à presidência da República pelo PSDB, sendo derrotado. Em
2008 foi candidato à prefeitura paulistana, ocupou o cargo de secretário de
Desenvolvimento do estado de São Paulo, e nas eleições de 2010 foi eleito governador do
estado de São Paulo com 50,63% dos votos válidos.
Em 2010, após ser eleito em 1º turno governador do estado de São Paulo, Geraldo
Alckmin foi considerado pela Revista Época um dos 100 brasileiros mais influentes do ano.
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6. GENEALOGIA DA FAMÍLIA CAPISTRANO PAIVA
Natural de
João Capistrano Macedo Alckmin Bostelo/Portugal
Antônio (Tonico) Casamento Capitão Domingos
Maria Augusta Ribeiro José Negreiros em SJDR em de Paiva
Maria do Carmo 28-08-1736 Tomásia Maria Natural de
Capistrano Alckmin da Silva Lisboa/Portugal
1ª esposa: Maria
Sebastião Capistrano Josefa de Trindade
Negreiros 1ª esposa: Maria
Maria Custodia Bento Carneiro Tenente José de
Capistrano Alckmin Maria José Paiva e Silva
Gorgulho Coronel Joaquim Severino
de Paiva e Silva 2ª esposa: Isabel
Francisco Theodoro Nunes de Siqueira
de Paiva 2ª esposa: Ana
Flauzina Souza
Sebastião Crisóstomo
Negreiros (Zotinho)
Maria de
Jesus Nogueira
Argemiro
Morais de
Paiva
Dr. José
Capistrano de
Paiva Filho
Zélia
Maria Geny
Fernando
Walter Lineu
Sebastião
Nadir
Evaldo
Ir. Terezinha
Marcia
José Benedito
Marilda
Paulo
José Nilton
Vicente Valery
Edmar
Geraldo de Zeca Paiva (1940) Zeca Paiva em sua farmácia
Moraes Maria José
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Breve Biografia de José Capistrano de Paiva
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José Capistrano de Paiva (meu pai Zeca Paiva) e sua primeira esposa Maria das Chagas Tales de Morais
José e Argemiro, filhos da 1ª esposa e Maria Geni, Meu irmão Dr. José Capistrano de Paiva Filho
filha da 2ª esposa de Zeca Paiva (Dez/1916) e meu pai José Capistrano de Paiva.
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Carta de José Capistrano de Paiva à sua mãe, pedindo-lhe permissão para noivar com Maria das Chagas
Tales de Morais.
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No segundo matrimônio, José Capistrano de Paiva casou com Nazinha Gouvêa,
tendo sete filhos: Maria Geni, Walter Lineu, Nadir, Terezinha (Irmã Antoinete), José
Benedito (Dito), Paulo e Vicente.
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Paulo Paiva
Vicente Paiva
Benedito (Dito)
No período em que ficou viúvo pela segunda vez, José Capistrano de Paiva teve
um filho: Geraldo de Moraes.
Minha irmã Zélia, meu irmão Geraldo e sua esposa Carminha, José Nilton (eu) e Guiomar Paiva
(minha sobrinha poetisa, filha de meu irmão Dr. José Capistrano de Paiva Filho).
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No seu terceiro matrimônio, Zeca Paiva casou com Maria Isabel Negreiros (Dª
Bebé, minha mãe), tendo nove filhos: Zélia, Padre.Fernando, Sebastião, Evaldo, Marcia,
Marilda, José Nilton, Edmar e Maria José.
1ª fila: Evaldo, Fernando, Zélia, tia Glorinha (Tigró), Bebé (mamãe), Marcia. Maria José e Marilda
2ª fila: Maria José, Edmar, Tião, Márcia, José Nilton.
Irmãos Negreiros Paiva, durante encontro de família, no lugarejo Pintos Negreiros – Maria da Fé/MG.
Ao fundo, a Igreja dos Pintos, nas terras que outrora pertenceram a João Capistrano de Macedo Alckmin.
1ª Fila: Padre Fernando, Sebastião (Tião), Evaldo, José Nilton, Edmar;
2ªFila: Maria José, Zélia, Márcia e Marilda.
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Celebração da 1ª missa do meu irmão Padre Fernando, em Pouso Alto:
1ª fila acima: Evaldo, Tião. Lineu, Argemiro, Padre Fernando, Maria Isabel (mamãe), Benedito (Dito),
Dr. José Paiva e sua esposa Maria de Lourdes (Maninha), Vicente e Paulo Paiva.
Abaixo: Marilda, Zuza (esposa do Argemiro), Márcia, Zélia, Maria José, Edmar e José Nilton.
Abaixo à direita: minhas irmãs Nadir, Teresinha e Maria Geni, em frente ao busto de meu pai Zeca Paiva.
Obs.: Fernando, ao ver essa foto, disse: - Que família mais séria, só eu estou sorrindo.
Aniversário de 80 anos de Maria Isabel (mamãe), com os Maria Isabel (Bebé) com as filhas Zélia, Marilda,
filhos Tião, Edmar, Fernando, Evaldo e José Nilton. Maria José, Marcia e netos Vilmar e Pedro José.
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7. CASAMENTO DE JOSÉ CAPISTRANO DE PAIVA E MARIA ISABEL NEGREIROS
7.1 O Namoro
Sebastião Capistrano Negreiros (pai do Vovô Zotinho), morava com sua família
(filhos e netos), na sede da Fazenda dos Pintos, a Casa Grande. Ele gostava de organizar
teatros para ser representado para o povo dos Pintos e do Rosário de Dom Viçoso.
Num desses teatros, ele e o seu filho Zé Maria, escreveram e ensaiaram um drama
bíblico chamado “Jesus, o Cego e a Leprosa”, em 3 atos, com 10 personagens, os quais
foram: Betú (José Maria Negreiros), Abigail (Dorinha), Faristeu Jonatã (José Augusto),
Cristo (Sebastião Capistrano Negreiros), Lásaro (João Negreiros), Maria Madalena (Maria
Isabel – Bebé), Marta (Alaíde), Rute (Terezinha), Célio (José Maria Negreiros), Nicodemos
(José Bartolomeu), Fariseu Gamalier (Sebastião Capistrano de Negreiros).
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Vovó Maria (esposa do Vovô Zotinho) fez o vestuário adequado para cada um dos
personagens. Os personagens decoraram e treinaram os seus papéis e representaram o
drama, três vezes no barracão da tia Imaculada, na Fazenda dos Pintos e duas vezes no
Rosário de Dom Viçoso. O drama fez muito sucesso, o povo gostou muito.
O sucesso do drama chegou ao conhecimento do Zeca Paiva, o qual já estava
viúvo do 2º casamento. Ele convidou o seu primo Sebastião Capistrano Negreiros, para
levar o drama lá no Grupo Escolar de Pouso Alto, que tinha uma sala apropriada para
teatro. Os atores foram e fizeram a apresentação. Sebastião Capistrano Negreiros pediu
para o Zeca Paiva servir de ponto. O povo gostou muito e pediram bis. Na segunda
apresentação o Zeca Paiva disse: “Não precisam de ponto, estão bem preparados, vou
assistir da platéia”
Maria Isabel (Bebé) representava a Madalena, muito apreciada por todos, com seu
gênio alegre, expansiva e bonita, com seus 18 anos. Prosou muito com o Sr. Paiva, que
lhe disse que ia visitá-la na casa da sua Vó Escolática (sogra do Vovô Zotinho). No dia
seguinte Zeca Paiva foi e almoçou com a Dª Escolástica, com quem ele queria muito bem.
Ao se despedir, Zeca Paiva falou com a bebé: “Eu vou lá na sua casa fazer uma
visita a seu pai. Nós somos velhos amigos.” Passado uns dias, Zeca Paiva foi a Fazenda
dos Pintos, passando primeiro na Casa Grande, para visitar o primo e amigo Sebastião
Capistrano Negreiros e depois foram juntos à casa do Zotinho.
Ao chegar, Zeca Paiva foi direto ao assunto e foi logo pedindo o consentimento
para casar com a Bebé:
- Você já deve saber que eu gosto da Bebé, quero casar com ela para te ajudar acabar de
criá-la e para ela ser minha companheira até o fim da vida. Eu gosto muito dela e sei que é
uma boa menina e de boa família. Quero casar com ela e quero logo o casamento. Não
precisa enxoval. Tenho a casa pronta.
Vovô Zotinho foi até a cozinha e lá estava a Bebé espantadinha, escutando atrás da
porta a conversa deles, e falou: “Se o Sr. quiser eu quero salvar a alma dele”. Sr. Paiva é
muito bom homem, mas católico, só de missa aos domingos.
Zeca Paiva passou uns três dias nos Pintos. Trouxe a Belinha e a Zorilda, filha do
seu irmão Ladislau, para ajudarem no casamento. Zotinho nada respondeu, pois achava
um absurdo a diferença de idade: ele com quase 60 e ela com 19 anos. Sua esposa Maria
espantou também, mas queria muito bem o Sr. Paiva e falou com a Bebé:
- Vamos rezar minha filha.
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Sebastião Capistrano Negreiros (pai do Vovô Zotinho) falou com o Zeca Paiva:
“A diferença de idade é muito desigual.” Zeca Paiva respondeu: “Há quase 10 anos que
estou viúvo, queria ficar “bilontra” (libertino), mas não está no meu gênio. Meus filhos já
estão grandes, faltam apenas dois para se casar, mas a tia Zezé toma conta deles.”
Zotinho respondeu-lhe que daria a resposta lá em Pouso Alto.
Chegando em Pouso Alto, Zotinho pediu a opinião de sua sogra Dª Escolática e ela
lhe disse que fazia gosto do casamento e queria o Zeca Paiva como seu neto, pois o
queria muito bem. Zotinho chamou o Zeca Paiva e deu-lhe o consentimento para casar
com sua filha. Zeca Paiva ficou muito feliz. Maria, esposa do Zotinho, deu a idéia de se
realizar o casamento junto com o aniversário da sua mãe Dª Escolástica. Todos acharam
uma boa idéia. Dias depois Zeca Paiva escreveu a seguinte carta para a noivinha Bebé:
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7.2 O Casamento de Zeca Paiva e Maria Isabel (Bebé)
Em 12 de agosto de 1941, dia do casamento, o padre Zequinha chegou ao meio
dia, com os noivos. A igreja encheu de gente. Terminado o casamento foram todos para a
chácara da Dª Escolástica, com os noivos à frente e o povo acompanhando. O terreiro e a
casa estavam cheios de gente. Fez-se o casamento civil. Após a cerimônia do casamento,
foi servido o jantar. Teve discursos dos tios e até a Dorinha (irmã da noiva) fez um
discurso para os recém-casados. Teve terceira e quarta mesas, que serviram com muita
fartura.
Terminado o jantar, quase de noite, todos foram para a cidade dançar no Grupo de
Pouso Alto. Sebastião Capistrano Negreiros marcou a quadrilha. Eduardo, farmacêutico,
genro do Zeca Paiva, distribuiu chocolate, à vontade, para o povo na rua. No outro dia, os
recém casados foram para São Paulo, onde foram passar a lua de mel.
Passado um mês do casamento, vovô Zotinho e filhas foram fazer uma visita ao Sr.
Paiva e Bebé. Foram a cavalo e passaram dois dias em Pouso Alto. Bebé estava
satisfeita e o Sr. Paiva todo contente. Zotinho deixou Terezinha e Glorinha para fazer
companhia pra Bebé, voltando com Alaíde e Dorinha.
Casamento de José Capistrano de Paiva e Maria Isabel (Bebé) Negreiros - Chácara da Dª Escolástica:
1ª Fila: Terezinha Negreiros, José Bartolomeu, Maurício, José Augusto, Paulo Paiva, João C. Negreiros, Tia Dorinha,
Chiquinho Furriel, Tia Alaíde, Joaquim Ribeiro, Elza, Mariinha, Moacir Ribeiro.
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2ª Fila: Paulo (filho do Joaquim), Marta (filha do Gabriel), Terezinha Espeschit, Guiomar Brito, Maria Benedita, Maria
Geralda, Vicente Paiva, Tigró, Terezinha, filha do Sr. Lulu, Candinha, Gláucia, Rute Espeschit, os noivos Maria Isabel
(Bebé) e Zeca Paiva, Izabel Maria Gondim, Tia Marica Paiva, Nenê Toledo e Arildo, Geraldo (filho da tia Marica).
8. BIOGRAFIA DE PESSOAS ILUSTRES DA FAMÍLIA PAIVA
José Capistrano de Paiva (meu pai, Zeca Paiva), neto de João Capistrano Macedo
Alckmin, nasceu em Dom Viçoso, no dia 16 de novembro de 1881, filho de Francisco
Theodoro de Paiva e Maria Custódia Capistrano de Paiva.
Zeca Paiva foi um famoso farmacêutico, formado em 1902 na Escola de Farmácia
de Ouro Preto. Iniciou sua carreira com sua famosa “Farmácia Paiva” em Espírito Santo
do Pinhal/SP e depois se estabeleceu em Pouso Alto. Além de competente farmacêutico,
ele também prestava serviços médicos e obstetrícios, atendendo chamados urgentes, pois
naquela época não havia médico em Pouso Alto. Foi também um influente político,
conceituado Juiz de Direito e Paz, excelente e dedicado professor de matemática do
Ginásio de Pouso Alto.
Foi respeitado, admirado e querido por todos, sendo homenageado com o título de
cidadão honorário e com seu busto e nome na praça central de Pouso Alto/MG.
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José Capistrano de Paiva com Juscelino Busto de meu pai José Capistrano de Paiva na
Kubitschek, quando este fazia campanha Praça também com o seu nome em Pouso
para Governador do Estado de MG, em Alto/MG
Pouso Alto.
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Trecho do discurso de colocação da Placa em homenagem ao Sr. José Capistrano de Paiva, do Conselho
Regional de Farmácia ao Sr. Paiva, em 19/10/1984:
José Capistrano de Paiva, farmacêutico famoso de Pouso Alto, mas era também o médico famoso para ricos e
pobres, ninguém saia de sua farmácia sem levar os medicamentos necessários, porque sua bondade era
enorme. Muitos remédios eram fabricados por ele mesmo em sua própria farmácia. Pessoas de longe vinham
procurar os remédios milagrosos do Sr. Paiva. Era parteiro excelente, quando era chamado, saía de casa com sol
ou chuva, a cavalo, de carro de boi, e às vezes até dormia nas roças distantes. Quanto ganhava? Não cobrava
nada, ganhava amizade sincera e isso não tem preço. Algumas vezes chegava em sua casa verduras, legumes,
abóboras, frangos e até alguma leitoa que o fulano mandou para o Sr. Paiva em agradecimento e que Deus lhe
pague e abençoe. Muitas pessoas ilustres de Pouso Alto nasceram em suas mãos.
Papai nunca falava palavrões e não permitia que os filhos o fizessem. Quando eu
tinha uns três anos, lembro que meus irmãos Tião e Evaldo me ensinaram um palavrão e
me pediram para dizê-lo ao papai. Quando eu proferi o palavrão para o papai, ele ficou
muito bravo e foi atrás do Tião e Evaldo, que estavam rindo no outro lado da sala e
xingou:
- Ô seus “poaias”, quem é que ensinou o palavrão para o menino?
Quando papai queria xingar, ele falava “poaia”. Anos mais tarde, procurei o significado
dessa palavra no dicionário e vi que significa “pessoa sem graça”, “pessoa enjoada”, “erva
daninha”.
Papai me ensinou a jogar xadrez. Ele era mestre em xadrez e vencia todas as
partidas que jogava na praça em frente sua farmácia, entre um atendimento e outro. Após
aprender com ele o movimento das peças, jogamos algumas partidas e às vezes ele me
deixava ganhar, para me deixar feliz.
Aos domingos de manhã, religiosamente, ele nos dava um dinheirinho, para
comprar picolé e doces. Todo domingo, após tomarmos o café da manhã, corria-mos para
a sua farmácia, pedíamos sua benção e estendíamos a mão, pedindo:
- Cadê nosso dinheiro de domingo?
Ele já tinha o dinheiro trocado no bolso e nos dava, com um sorriso no rosto e saíamos
correndo para o bar para comprar picolé e doces.
55/124
Quando papai era Juiz de Paz, ele assinava todas as páginas de um grosso lvro de
Registros e me pedi ajuda para passar as páginas e o “mata-borrão”.
Ao concluir a atividade, ele me dava um dinheirinho para pagar o serviço.
Eu dizia-lhe: “Não precisa pai”. Mas ele fazia questão de me gratificar.
Papai e alguns sócios construíram um pari (armadilha para capturar peixes, feita em
bambu e esteira de talas), na foz do ribeirão de Pouso Alto com o Rio Verde. Nos fins de
semana ele ia ao lá pescar no pari com os amigos e quase sempre nos levava, eu e meu
irmão Edmar. Quando ouvíamos o barulho de peixe caindo na armadilha, íamos correndo
pega-lo, sob o olhar cuidadoso do papai. Pegávamos bastante lambaris, os quais eram
então repartidos entre os participantes da pescaria e sempre levávamos para casa uma
boa quantidade de peixes, que a mamãe fazia no almoço do dia seguinte.
Papai sempre ia visitar o irmão Ladislau (Tio Lalau), que morava em Guaratinguetá
e cada vez levava um dos filhos. Uma vez eu fui com ele, de trem “maria fumaça”. Foi um
passeio muito legal. Eu gostava de observar as paisagens. Fomos muito bem recebidos
pelo tio Lalau e família, que nos aguardavam com um lauto banquete.
Meu pai José Capistrano de Paiva faleceu em 23 de outubro de 1962, com 82 anos.
Nessa ocasião eu estava com apenas 10 anos e estava no quarto ano primário. Nesse
dia, eram 7:00 h da manhã, eu já estava saindo de casa para ir para a escola, quando ouvi
papai chamando pela mamãe, com seu assovio característico. Eu voltei, vi papai se
dirigindo à cozinha à procura da mamãe e eu falei-lhe que ela já tinha ido para a missa.
Papai voltou para sua cama e falou-me:
- Hoje você não precisa ir à escola, fica aqui comigo.
Ele nunca me permitiu faltar à escola. Foi então que reparei que ele estava suando
e levava as mãos ao peito, demonstrando estar sentindo muita dor. Eu fiquei muito
nervoso e preocupado, pois logo vi que poderia se tratar de um novo enfarte. Ele já tinha
tido um enfarte há uns dois anos atrás. Naquela ocasião ele parou de fumar e eu ouvi a
seguinte conversa dele com Tia Alaíde:
- Eu parei de fumar, mas não sei não, acho que não vai demorar muito e eu terei outro
enfarte e da próxima vez, eu não agüentarei. Eu fico preocupado é com as crianças.
- Não se preocupe Sr. Paiva, o Sr. ainda vai viver por muitos anos. Agora, quanto às
crianças, o Sr. pode ficar despreocupado, que a gente cuida.
56/124
Mediante essa recordação, logo vi, que talvez, tivesse chegado o dia ao qual papai
havia se referido. Papai pediu-me para eu ir chamar o Zé Mendes, que era o farmacêutico
que trabalhava com ele na farmácia. Naquela época não havia médico na cidade.
Atravessei a praça correndo e chamei o Zé Mendes dizendo-lhe que o papai não estava
bem. Ele veio apressado junto comigo. Quando chegou, Zé Mendes foi logo abrindo a
camisa do papai, para examiná-lo e pediu-me para abrir as janelas para ventilar.
Pressentindo que papai estava piorando, falei ao Zé Mendes que eu iria à Igreja chamar a
mamãe e fui correndo para a Igreja.
Chegando à Igreja, a missa já havia terminado e a mamãe já havia descido, talvez
alguém tenha ido buscá-la de carro. Lá do adro da Igreja, olhei para a rua da minha casa e
vi que estava cheia de carros e de gente. Então fiz uma prece a Deus pedindo-Lhe para
dar forças para que papai pudesse resistir mais uma vez ao enfarte, mas que se não fosse
possível afastar esse cálice, se tivesse chegado sua hora de encontrá-Lo, que Ele o
receba com honras no céu, pois papai é um homem muito bom e faz por merecer ir direto
ao céu, ao Seu encontro e se juntar aos anjos, santos e entes queridos.
Quando voltei, a casa estava cheia. Não me deixaram entrar no quarto do papai,
havia muito choro. Eu estava, com um nó na garganta, apenas rezava. Mamãe chegou a
tempo de ver papai com vida. Papai lhe dirigiu suas últimas palavras: ”Eu estou morrendo
mulher!”. Mamãe, que segurava um crucifixo em suas mãos, aproximou-o dos lábios do
papai, ele o beijou e em seguida deu o último suspiro. Papai também recebeu a extrema
unção, rezada pelo Padre Paulo. Com quase 82 anos, papai foi para o céu, receber seu
merecido descanso. Saí para a Praça e pouco tempo depois vieram meus colegas da
escola, me consolaram e me deram os pêsames. Não houve aula, devido ao falecimento
do papai.
FALECIMENTO DO SR. PAIVA (DIÁRIO DA TIGRÓ)
No dia 23 de outubro de 1962 o Sr. Paiva passou dessa vida para outra, deixando um vazio, imensa tristeza
e saudade para todos os pousoaltenses. Bebé, viúva, com seus nove filhos, só a filha mais velha, a Zélia,
está formada e trabalhando como professora. Os outros oito estão estudando: Fernando é seminarista; Tião
e Evaldo estão no ginásio, Márcia e Marilda no colégio interno em Barbacena, onde a Irmã Antoinette é a
diretora; Zé Nilton e Edmar estão no primário e a Maria José, está apenas com 3 anos.
Em tempos atrás eu não considerava o Sr. Paiva, o santo da minha devoção, mas porque eu era muito nova,
não conhecia a personalidade dele e nem sabia que o bom exemplo grava muito mais no coração da gente,
educa muito melhor uma criança do que um sermão ou pancadas e violência.
O Sr. Paiva era um homem exemplar. Parecia não ser muito católico, mas era, praticava o catolicismo com
muito fervor. Ele logo que casou com a Bebé, ralhava com ela porque ela gostava de ir à missa todos os
dias. Um dia a Bebé chegou lá em casa pulando de alegria e falou para o papai e mamãe:
- Fiz novena para Santa Terezinha e alcancei a graça que pedi. Hoje eu ví o Zeca fazer o sinal da "Santa
Cruz”. Louvado seja Deus.
Um dia eu fui a Pouso Alto visitar a mamãe (Vovó Maria) e ela me disse:
- Estou com muita pena da Bebé. A viuvez é muito triste, nunca pensei do Sr. Paiva fôsse na minha frente.
Cheguei aqui mais morta do que viva. Ele sempre tão atencioso e bondoso para comigo. Ele era um respeito
nesta casa.
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8.2 Biografia do Dr. José Capistrano de Paiva Filho (meu irmão, bisneto de João
Capistrano de Macedo Alckmin)
Dr.José Paiva foi um exemplo de uma vida de trabalho, competência
profissional, dedicação e de amor. Trazia na alma a mesma simplicidade do
nome e nos gestos, toda a grandeza e sabedoria de uma vida bem vivida.
(Marília de Paiva Costa, filha do Dr. José Paiva)
Meu irmão José Capistrano de Paiva Filho é filho de José Capistrano de Paiva com
Maria de Chagas Telles de Moraes. Dr. José Paiva nasceu em 26 de dezembro de 1907
em São José do Pinhal / SP, onde nosso pai morava quando teve sua primeira “Pharmácia
Paiva”. Sua mãe, Maria de Chagas, faleceu quando ele tinha apenas dois anos. Foi então
morar em Itanhandú/MG, com os avós Francisco Paiva e Maria Custódia (filha de João
Capistrano de Macedo Alckmin).
Menino humilde, José aprendeu desde cedo a trabalhar e com a austeridade de seu
avô, lhe foi moldado uma nobreza de caráter, que sempre o acompanhou. Fez o curso
secundário no Colégio São Joaquim dos padres salesianos. Ainda estudante, trabalhava
como professor numa escolinha noturna, fundada por ele, para alfabetização dos adultos.
Em 1927 ingressou na Faculdade de Medicina de Belo Horizonte, onde residiu por
dois anos, trabalhando como revisor do jornal “Correio de Minas”.
Em 1929 transferiu-se para o Rio de Janeiro, terminando seus estudos na
Faculdade de Medicina da Praia Vermelha. A cerimônia de formatura foi no Teatro João
Caetano, em 03 de outubro de 1932.
Dr. José Capistrano de Paiva Filho e sua esposa Maria de Lourdes Mendes (Maninha)
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Em 26 de dezembro de 1933 casou-se com Maria de Lourdes Mendes (Maninha).
Tiveram quatro filhos: Roberto, Guiomar, Maria José e Ernesto.
Em 1935 José mudou-se para Pouso Alto, onde abriu um consultório, na Farmácia
Paiva, de seu pai. Em Pouso Alto exerceu também a função de Promotor Público.
Em 1936 transferiu-se para Itanhandú, onde nasceram os seus filhos Maria José,
Roberto, Ernesto e Marília. A filha caçula Guiomar nasceu em Caxambu.
Em Itanhandu, além de sua vida profissional, lecionou História Natural no Colégio
Sul-Mineiro. Em 1947 foi eleito Prefeito Municipal de Itanhandu e Vice-Provedor da Casa
de Caridade, sendo seu primeiro cirurgião.
Atendendo Convite, Dr. José Paiva mudou-se para Caxambu, tomando o comando
da Cirurgia e Clínica do Hospital São Vicente de Paula. Dr. José Paiva foi o primeiro em
cirurgia no Sul de Minas, sendo também o pioneiro a fazer a transfusão de sangue.
Em 1950 foi nomeado pela Secretaria da Saúde para organizar o Hospital Regional
do S.A.M. em Caxambu. Em 1959 foi nomeado médico pelo ministério da justiça para a
Escola Wenceslau Braz. Exerceu as funções de médico do Hospital Infantil da Casa Virão
Poterns, do DNER, da Hidrominas e do Funrural.
Dr. José Paiva ganhou fama de excelente médico e cirurgião. Seu nome é
reconhecido por toda a redondeza do sul de Minas. Ele se tornou o médico de confiança
de muitas famílias.
José comprou terras em Itanhandú e montou uma pequena fazenda, adquiriu gado
holandês e cavalos, plantou pés de café e montou um ótimo pomar.
Dr. José Paiva me deu de presente, pela minha formatura em Engenharia, uma novilha da
raça holandesa, entregando-a na fazendinha da minha tia Glorinha (Tigró), na Ponte do
Carmo.
José era muito bondoso e um bom filho. Quando passava por Pouso Alto, ele
sempre visitava nosso pai, e nos presenteava com deliciosos frutos do seu pomar (caquis,
laranjas e tangerinas) e trazia também queijo e ricota, que papai gostava muito. Todo natal
ele nos presenteava com uma leitoa, que mamãe temperava e assava no forno a lenha.
Saboreávamos a deliciosa leitoa no natal e no ano novo.
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Dr. José Paiva faleceu em julho de 1980 e recebeu muitas homenagens. Uma delas
foi o título de “Pioneiro da Cirurgia Geral do Sul de Minas”.
8.3 Biografia do Coronel Alceu Vilela Paiva (tataraneto de João Capistrano de Macedo
Alckmin)
“A trajetória do coronel Alceu Vilela Paiva comprova ter sido ele um
homem que prestou relevantes serviços ao município de Resende.
Ele deixa exemplos de honestidade, elevado espírito público,
competência profissional e um amor grandioso pela nossa cidade. A
Prefeitura lamenta profundamente sua morte, na certeza de que
Resende perdeu um dos mais importantes homens públicos que já
passaram por esta terra.” (José Rechuan, Prefeito de Resende/RJ –
Artigo publicado no jornal “A Folha do Interior”, de 25/01/2012).
Mineiro de Pouso Alto/MG, Alceu Vilela Paiva (meu sobrinho, filho do meu irmão
Argemiro Paiva), coronel reformado do Exército Brasileiro, e engenheiro diplomado pelo
Instituto Militar de Engenharia, era casado com Yolanda Pinto Paiva (ex-presidente da
Associação Pestalozzi de Resende). O casal teve três filhos: Alceu Vilela Paiva Júnior
(presidente da Câmara Municipal de Resende nos anos de 1999 e 2002), Cristiane Pinto
Paiva Guia (fonoaudióloga) e Luiz Antônio Vilela Paiva (oficial do Exército brasileiro).
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Alceu ingressou na carreira militar em 1952, como cadete da AMAN (Academia
Militar das Agulhas Negras), quando passou a fazer parte da Turma Barão do Rio Branco
(arma de Engenharia). Os vários anos de dedicação ao Exército foram reconhecidos por
meio de várias honrarias. Alceu foi agraciado pela Academia de História Militar Terrestre
do Brasil, com a Medalha do Mérito Histórico Militar. Em 2011, Alceu recebeu uma
homenagem concedida pelo Poder Legislativo da Câmara Municipal de Resende, durante
as comemorações dos dois séculos de existência da AMAN.
Alceu exerceu muitas atividades e funções em sua carreira, algumas das quais,
destacamos abaixo:
- Titular da Secretaria de Obras da Prefeitura de Resende, no período de 1966 a 1972;
- Presidente do Conselho Fiscal da Federação de Academias de História Militar Terrestre
do Brasil (FAHIMTB);
- Professor de Física e Resistência das Matérias, na Academia Militar de Agulhas Negras
(AMAN), por 16 anos (1964 a1980);
- Instrutor de História Militar no período de 1978 a 1980;
- Proprietário da Construtora Manejo Ltda. (COMAL), onde realizando obras em várias
indústrias e em obras públicas de Resende;
- Dirigiu obras da Prefeitura de Resende no período de 1971/72;
- Presidiu a Cooperativa Agropecuária de Resende, nos períodos de 1975 a 78 e de 1997
a 98, como fazendeiro que veio a se tornar;
- Presidiu a Confraria dos Cidadãos de Resende, sempre preocupado com o exercício da
cidadania;
- Membro do Rotary Club de Resende;
- Acadêmico da Academia Resendense de História (ARDHIS);
- Atuou politicamente em Resende, presidindo o Diretório Municipal do PTB (Partido
Trabalhista Brasileiro), sigla pela qual se candidatou a prefeito de Resende na eleição
municipal de 1982.
Parte para a eternidade, prezado amigo e solidário confrade, confiante que a tua passagem pela terra
foi profícua, um exemplo precioso de cidadania comunitária resendense, onde deixastes marcas
profundas de tua notável contribuição para um mundo melhor para os que aqui ficam temporariamente!
Vai feliz e realizado ao encontro de tua companheira modelar, por cerca 60 anos, Dª.Yolanda Pinto
Paiva, cuja falta e saudades percebia em tuas manifestações sinceras, nas diversas visitas que te fiz
para tratar de assuntos de nossa FAHIMTB. Saudades amenizadas com a presença e cuidados de tua
neta Catia e bisneto. Honrastes teus pais Argemiro Morais Paiva e Dª. Maria de Jesus Vilela Paiva,
exemplos de encaminhamento de família numerosa, com limitados recursos, a bons e honrosos
destinos, com seus exemplos de que tanto de orgulhavas.
Fonte: Artigo do Coronel Cláudio Moreira Bento, disponível no site
<http://www.ahimtb.org.br/celaceuvilelap.htm>
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8.4 Guiomar de Paiva Brandão (tataraneta de João Capistrano Macedo de Alckmin)
Nossa escritora Guiomar, desde muito cedo, escreve poemas para adultos, contos e poemas para
criança. Seu primeiro livro aconteceu aos 17 anos na Semana de Arte em Caxambu. O livro se
chamava “Jovens poetas de uma pequena cidade” e foi prefaciada pelo conceituado escritor Carlos
Heitor Cony.
Guiomar possui vários livros infantis e inúmeras poesias premiadas para adultos. Pela Editora Lê
tem oito livros publicados, um pela José Olympio Editora – RJ e reeditado “Giramundo” pela
Armazém de Idéias – BH.
Guiomar é formada em Pedagogia com ênfase em Orientação Educacional pela UNINCOR, Três
Corações. Participou de vários concursos nacionais e locais, ganhando o Concurso João de Barro
de Belo Horizonte com o livro infantil “Giramundo” e recebeu a premiação no Palácio das Artes em
Belo Horizonte –MG.Ganhou também o Prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) com
o livro infantil “Liga pra mim” e recebeu o troféu no Memorial da América Latina em São Paulo,
capital.
Possui poesias publicadas em várias Antologias Poéticas inclusive Antologia de Literatura
Internacional – Del Secchi, em breve pela Editora Alba de Aníbal Albuquerque em Varginha/MG.
Guiomar é membro fundador da Academia Caxambuense de Letras, da Academia Poços-Caldense
de Letras e pertence também à Sociedade Mineira dos Poetas Vivos e afins, membro da Associação
Cultural de Caxambu.
Este ano, seu livro “A Dona Vassoura”, completa 23 anos. Este livro faz parte do acervo do
Programa Nacional Biblioteca da Escola – PNBE/2010, composto por várias obras literárias. Foram
editados 20.000 livros e distribuídos para as escolas em todo Brasil.
Fonte jornal “A Voz do Sul de Minas – Ano I nº 7 – Junho/2010.
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9. CERTIDÕES E TESTAMENTOS DA FAMÍLIA PAIVA
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Domingos e Tomásia tiveram nove filhos: Antonio de Paiva e Silva, Capitão
Domingos de Paiva e Silva, Manoel de Paiva e Silva, João de Paiva e Silva, Francisco
Manoel de Paiva, Tenente José de Paiva e Silva (bisavô de Zeca Paiva), Luiz José de
Paiva, Mariana de Paiva e Silva e Ana Joaquina de Paiva
Eu, TOMÁSIA MARIA DA SILVA,por me achar enferma e de idade avançada em anos porém em
meu perfeito juízo faço meu testamento pela forma seguinte:
Declaro que sou natural de Lisboa, filha legítima de PAULO DA SILVA DA FONSECA e de
ANTONIA CAETANA e hoje moradora nesta Freguesia da Vila de São João del Rei. Declaro que sou Irmã
Terceira da Ordem do Carmo da Vila de São João del Rei.
Meu corpo será envolto em habito terceiro digo em habito do Carmo e sepultado na capela de Nossa
Senhora de Madre de Deus ou onde for mais cômodo conforme o lugar do meu falecimento.
Declaro e nomeio meus testamenteiros em primeiro lugar a meu filho o Capitão DOMINGOS DE
PAIVA E SILVA, em segundo lugar a meu filho ANTONIO DE PAIVA E SILVA em terceiro lugar a meu filho
JOÃO DE PAIVA, a cada um dos quais ou solidão concedo todos os poderes necessários para a boa
administração desta minha testamentária, os constituo meus bastantes procuradores com livre e igual
administração.
Declaro que fui casada com DOMINGOS DE PAIVA de cujo matrimonio tive os filhos que são os
seguintes: DOMINGOS, ANTONIO, JOÃO, MANOEL, FRANCISCO, JOSÉ, LUIZ, MARIANA e ANA, os quais
instituo por meus herdeiros universais de todos os meus bens, pagas as minhas dívidas.
O meu testamenteiro por meu falecimento mandará dizer pela minha alma dezesseis missas de
corpo presente de esmola de oitava cada uma. Mandará dizer mais por minha alma cincoenta missas de
esmola de meia oitava destas serão ditas trinta e duas dentro do oitavário próximo do meu falecimento e as
outras com a mais possível brevidade. Mandará dizer mais trinta e oito missas onde parecer mais
conveniente ao meu testamenteiro a saber dez pelas almas do Purgatório, oito pela alma de meu irmão
marido, dez pelas almas de meus defuntos, dez pela alma de meu falecido genro PANTALEÃO FERREIRA
DA COSTA. Deixo dez oitavas para dizer em missas pelas almas dos pobres.
Deixo para a Capela de Nossa Senhora Madre de Deus dez oitavas. Deixo para minha neta ANA
filha de JOÃO DE PAIVA dez oitavas e ao mesmo JOÃO DE PAIVA. Deixo outras dez oitavas a meu filho
JOSÉ. O meu testamenteiro passará carta de liberdade a minha escrava Joana crioula pois a deixo liberta.
O que sobrar da minha terça será dividido em três partes uma para missas pela minha alma e de
meu marido, outra será repartida pelos pobres e outra parte deixo a meu filho. Deixo a meu testamenteiro (fl
06) (.....) Declaro (.....) Ordem Terceira do Carmo da Vila de São João del Rei o que ela disser (....) herdeiros
ou herdeiro de JOÃO VASCO DA SILVA o que constar da minha obrigação.
Ao falecido LUIZ MANOEL fiquei devendo cinco oitavas o meu testamenteiro as dará a quem por
direito pertencer e após meus filhos DOMINGOS e ANTONIO devo o que eles disserem. A meu capelão
devo de ordenado que lhe fiz e mais de restos de dezenove oitavas e três quartos e meu testamenteiro não
deixe de pagar-lhe. Devo mais dividas médicas meu testamenteiro não duvide pagá-las sendo pessoas
dignas de crédito. Deixo a meus testamenteiros cinco anos para dar contas.
Peço a cada um dos meus testamenteiros no lugar que acima os declaro queiram aceitar esta minha
testamentária por serviço de Deus e por me fazerem mercê e satisfazer tudo o quanto nela determino e rogo
as justiças de Sua Magestade dêem a este inteiro vigor e se neste faltar alguma clausula ou cláusulas
necessárias a que as leis por expressas e declaradas e hei por ele rogado tudo quanto digo por derogado
qualquer codicilio e testamento que tenho feito precedente a este e por ser esta minha última e derradeira
vontade pedi e roguei ao Padre ANTONIO FRANCISCO PENA FORTE este por mim fizesse e por
testemunha assinasse eu somente me assinei.
Rio Grande dezenove de Setembro de mil setecentos e noventa e nove.
Tomásia Maria da Silva.
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9.3 Testamento de José de Paiva e Silva (Bisavô de Zeca Paiva)
José casou com sua primeira esposa Maria Josefa da Trindade, filha de Leandro de
Campos Silva e Juliana de Oliveira Cunha. Maria Josefa faleceu aos 05/02/1775. Com
filhos pequenos para criar, José casou novamente em fins de 1775, com Isabel Nunes de
Siqueira.
José de Paiva e Silva (bisavô de Zeca Paiva) ditou seu testamento em 1795.
Eu Jose de Paiva e Silva, rogo a milha mulher Isabel Nunes de Siqueira e a meu filho Gaspar Jose
de Paiva e a meu cunhado Inácio Pereira Gularte queiram ser meus testamenteiros....
Declaro que fui casado com Maria Josefa da Trindade e do seu falecimento me ficaram três filhos
Giralda, Gaspar e Francisca os quais se acham casados. Declaro que minha filha Giralda que se acha
casada com Jose da Costa Souza levou desta casa uma crioula por nome Ana e um cavalo com sela e freio
e xareis de pano vermelho e os mais gastos e despesas próprios de seu casamento.
Declaro que desta mulher segunda tive ate hoje 9 filhos. Tomazia, Maria, Escolástica, João, Antonia,
Jose, Vicente, Joaquim, Pedro e estão casadas Tomazia e Maria.
Devo a Cristóvão da Cunha primo do Coronel Antonio da Cunha , 9 oitavas;
Declaro mais que em meu nome se acha um credito do Coronel Henrique Dias de
Vasconcelos,..(rasgado )...Antonio de Almeida.....(rasgado) cunhado do mesmo Coronel, o qual por seu
falecimento, deixou a..rasgado... e ao falecido André da Silveira ou seus herdeiros.
Se acha outro credito meu de 20.000 ao Capitão João Ribeiro do Turvo da Aiuruoca e a João
Ferreira Guimarães tio do Capitão Bento Ferreira..
9.4 Censo de 1831 da família de Joaquim Severino de Paiva e Silva (avô de Zeca
Paiva)
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Joaquim e Ana Flauzina tiveram dois filhos: José e Francisco (pai de José
Capistrano de Paiva).
Joaquim Severino de Paiva e Silva, além de fazendeiro e agricultor, era também
negociante e trabalhava com a condução de tropas (conforme inventário de sua esposa,
ele tinha 57 burros) de Minas para a Corte, e vice-versa, comercializando tanto os gêneros
da terra, como o fumo, feijão, farinha, arroz, açúcar e aguardente de cana, toucinho e
trazia do Rio de Janeiro mercadorias, tais como farinhas de trigo, vinhos e mais gêneros
vindos da Europa.
Conforme Censo em 1831 na Freguesia de Santa Catarina (atual Natércia/MG),
Joaquim Severino de Paiva e Maria Benta Carneiro, tinham respectivamente 39 e 29 anos
e tinham quatro filhos (Manoel, Ana, Maria e Joaquina) e 36 escravos.
9.5 Inventário de Maria Bento Carneiro (1ª Esposa de Joaquim Severino de Paiva e
Silva)
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INVENTARIO DE MARIA BENTO CARNEIRO:
Dizem o Coronel Joaquim Severino de Paiva e sua segunda mulher Dona Ana Flauzina de Souza que
residem na Fazenda São Bernardo.
Dizem Manoel Severino de Paiva e outros herdeiros que tendo falecido seu irmão e cunhado Antonio
Carneiro de Paiva, em estado de orfandade, pedem que seus bens sejam partilhados pelos demais
herdeiros.
FONTE: CEMEC – CAMPANHA – Inventário post mortem de dona Maria Bento Carneiro (1849), cx 22.
Local – Freguesia de Santa Catarina – Fazenda São Bernardo casa de moradia do viúvo
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TESTAMENTO DE JOAQUIM SEVERINO DE PAIVA E SILVA
Eu Joaquim Severino de Paiva e Silva, residente nesta freguesia de Santa Catarina. Fui cc. Dona Maria
Bento Carneiro, já falecida, de cujo matrimonio tivemos os seguintes filhos:
Passando as segundas núpcias com D. Anna Flauzina de Souza tivemos dois filhos = José e = Francisco,
todos meus legítimos herdeiros.
Testamenteiros: 1º meu filho Cap. Manoel Severido de Paiva, 2º meu genro Cap. Antonio Carneiro Santiago,
3º meu genro Cap. Antonio Ribeiro da Luz.
(...) meu testamenteiro entregara a minha mulher D, Anna Flauzina de Souza a quantia de quatro contos de
reis constantes da Escritura de nosso casamento passada no cartório desta freguesia.
Legou escravos aos genros e:
- a Joaquina, f. de Domenciano da Silva Vieira, 100$000;
O restante da minha terça deixo aos meus dois filhos do segundo matrimonio José e Francisco para sua
instrução e nomeio para tutor dos mesmos o Capitão Antonio Ribeiro da Luz (...).
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10. GENEALOGIA DA FAMÍLIA GORGULHO
Moradores da Ilha Manoel Gonçalves
Capitão Luiz Gomes ? Fayal/Açores/Portugal,.Correia 1670-1724
Nogueira Freire
Maria Nunes 1667-1742
Maria Joaquina Oliveira Naturais
José da Silva de Porto / Domingos da Silva
Gorgulho 1815-1874 Portugal Gorgulho 1810-1859 Júlia Maria da
Carlos Gomes Caridade 1707-1787
Maria Luiza de Ana Engrácia Noronha
Maria Amália Noronha Capitão Diogo
Garcia 1690-1762
Domiciano José
Joaquim Gomes Monteiro de Noronha
João Luiz Gonçalves
Maria Ernestina Mariana Justina Meireles 1740-1821
João Gomes Maria Ângela Cruz
Luiz José Monteiro
Mariana Justina de Noronha
Antônio Luis Gonçalves
José Gomes Mariana Florentina (? – 1854)
Luiza Cândida Mariana Ernestina de
Noronha 1803-1862
Luiza Nogueira Casamento em
João Capistrano de Macedo Alckmin Baependi/MG
José Luiz G.Noronha em 1818
Maria Augusta Cesarino Ribeiro
1ª) América
2ª) Ana Noronha
Maria do Carmo José da Silva Gorgulho Clara de Noronha
Capistrano Alckmin Dr. Augusto César de Noronha 1848-1888
Capistrano Alckmin João Silvio de Moura
Antônio José de 2ª) Maria da Glória Rangel
Negreiros 1ª) Altina Negreiros Capistrano Alckmin
1ª) Quinhinha Negreiros
Sebastião Capistrano João da Silva Gorgulho
Negreiros (João do Morro) 1877-1936
Maria José Gorgulho 2ª) Maria Imaculada
Capistrano Negreiros
Sebastião Crisóstomo 1888 - 1946
(Vovô Zotinho)
José Faustino 1904-1978
Maria de Jesús
(Vovó Maria) 1ª Ana Maria 2ª Geralda Antonio Érico 1905-1977
Ana Maria Fernandes
Goica
Maria do Carmo 1907-1988
Dotte Otello
Rodolfo Lauer Maria da Glória 1909-1998
Carmita Sebastião dos Santos
Carlos Lauer Rafael Archanjo 1911-1983
Geralda Fernandes Gabriel Archanjo 1913-2003
Niquinho
Ana dos Santos
Otacília
Miguel Archanjo 1916-2010
João Crisóstomo Amélia Flori Maria Catarina 1918-2007
Nair Pedro Virgilino
Maria Gorgulho 1923-2003
José Bartolomeu
João Virgilino Maria de Jesus 1927-1995
Lourdes
Afonso Chaves
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10.1 A união das famílias Gorgulho e Negreiros
A união das famílias Gorgulho e Negreiros teve início com o casamento de José da
Silva Gorgulho de Noronha e Maria da Glória Capistrano Alckmin (filha de João Capistrano
Macedo de Alckmin) e teve continuidade com o casamento dos filhos João Capistrano
Gorgulho (João do Morro), que casou sua prima Quinhinha Capistrano Negreiros, filha de
Maria do Carmo Capistrano Alckmin e Antonio José Negreiros (Tonico). Ainda com 20
anos, João do Morro ficou viúvo de sua primeira esposa Quinhinha, que faleceu pouco
tempo depois do casamento, sem deixar filhos.
Após ficar viúvo, ainda com 20 anos, João Capistrano Gorgulho foi morar com sua
irmã Maria José Gorgulho, pois eles eram órfãos, perderam a mãe Maria da Glória
Capistrano e o pai José da Silva Gorgulho Noronha, quando ainda eram crianças.
Após oito anos de viúves João Capistrano Gorgulho casou-se em 2ª núpcias com a
sua ex-cunhada e prima, que ele ajudou a criar, Maria Imaculada Negreiros, com quem
teve dez filhos: José Gorgulho, Antônio Gorgulho, Carma, Glória, Rafael, Gabriel, Miguel,
Catarina, Maria e Zuzu.
A união das famílias Gorgulho e Negreiros continuou com o casamento de Maria
José Gorgulho com seu primo Sebastião Capistrano Negreiros, filho de Maria do Carmo
Capistrano Alckmin e Antonio José Negreiros (Tonico), com quem teve seis filhos:
Sebastião Crisóstomo (Vovô Zotinho), Goica, Carmita, Niquinho, João e José Bartolomeu.
10.2 O Casal João Capistrano Gorgulho (João do Morro) e Maria Imaculada Negreiros
Gorgulho
João Capistrano Gorgulho, apelidado de João do Morro, era o amigo inseparável de Sebastião Capistrano
Negreiros (pai do Vovô Zotinho). Era um homem muito bom, honrado, virtuoso, inteligente e sempre alegre.
Também era “curioso”, como o povo dizia, porque tudo ele sabia fazer. Quando as máquinas começavam a
quebrar agulhas, as mulheres chamavam o João do Morro e ele dava um jeito. Perdeu a mãe quando
criança e com apenas 11 anos, perdeu também o pai, José da Silva Gorgulho Noronha. Fazia parte de uma
bandinha de música que formaram na Casa Grande. Tocava clarinete. Contam que quando morreu seu pai,
convidaram o maestro da bandinha para ir tocar no enterro. O maestro disse que tocaria somente se o João
do Morro também tocasse. O João foi e tocou com as lagrimas descendo.
FONTE: Autobiografia do Vovô Zotinho
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Tia Imaculada, mulher magra, irrequieta, muito hábil e inteligente, por demais religiosa, chegou mesmo a ser
carola. Catequista por convicção, tinha muita facilidade para transmitir seus ensinamentos. Era a "tia Culada"
da criançada. Todos nos Pintos da minha geração, crianças ou adultos, sobrinhos ou não, devem ou
deveram a ela um pouco do que sabem, principalmente no que diz respeito à religião ou à Bíblia. Aos
domingos, por volta das duas da tarde, reuníamos-nos em casa para o catecismo. Era uma reunião
espontânea que durava cerca de uma hora. Primeiro, era dada uma aula de religião e depois, ela contava
uma história da Sagrada Escritura deixando sempre o final para o domingo seguinte, criando natural
expectativa. Ao término da reunião, distribuía laranjas ou balas. As reuniões eram feitas no porão de sua
casa. A Igreja e o Cemitério dos Pintos são frutos de seu trabalho e persistência, angariou fundos para sua
implementação. Fonte: A Fazenda dos Pintos, de Antonio Negreiros Bernardes
Processo de dispensa de impedimento matrimonial dos primos Maria Ernestina de Souza Gorgulho
(filha de José da Silva Gorgulho e de Maria Luiza de Noronha) e de Joaquim Gomes Nogueira (filho
do Capitão Luiz Gomes de Nogueira Freire, que é primo-irmão da avó de Maria Luiza)
Arquivo da Cúria da Diocese de Campanha – MG - CMI-LPM 01
Processos de Dispensa de Impedimentos Matrimoniais
Silvestre Ferraz- MG
Oradores: Joaquim Gomes Nogueira e Maria Ernestina de Souza Gorgulho
Ano: 1856
Moradores na Freguesia do Carmo
Impedimento de consangüinidade em quarto grau misto de terceiro. O Pai do orador é primo irmão da Avó
da oradora.
-A oradora é filha legitima de Jose da Silva Gorgulho e de Maria Luiza de Noronha, natural do Carmo;
-O orador é filho legitimo do Capitão Luis Gomes Nogueira Freire e de Dona Maria Joaquina de Oliveira,
natural de Carmo e vive sob o pátrio poder.
Testemunha – Candido Luis Gonçalves de Noronha, solteiro, natural de Aiuruoca, residente no Carmo,
caixeiro com idade de 19 anos, disse ser consangüíneo da oradora em segundo grau.
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Processo de dispensa de impedimento matrimonial de Luiz José Monteiro de Noronha (irmão de
Mariana Ernestina de Noronha) com sua sobrinha Mariana Florentina de Noronha. José da Silva
Gorgulho foi testemunha.
José Luiz Gonçalves de Noronha casou com Luiza Cândida Nogueira, dispensados do parentesco de
consangüinidade:
Carmo de Minas, MG Igreja N Sra do Carmo matrimônio - aos 12-06-1852, nesta matriz,
dispensados do parentesco de consanguinidade Jose Luiz Gonçalves de Noronha, f.ilho
do Capitão Antonio Luiz Gonçalves e Dª. Mariana Ernestina de Noronha casou com Dª
Luiza Candida Nogueira, filha do Capitão Luiz Gomes Nogueira Freire e Dª Maria
Joaquina de Oliveira.
Testemunhas: Luiz Jose Monteiro de Noronha e Jose da Silva Gorgulho
Fonte: Projeto Compartilhar. Site: www.projetocompartilhar.org
Registro de Falecimento de Domingos da Silva Gorgulho (pai de José da Silva Gorgulho de Noronha).
"Aos 30 dias de outubro de ano de mil oitocentos e cinquenta e nove, faleceu da vida presente com os
sacramentos da penitência e extrema unção DOMINGOS DA SILVA GORGULHO casado com Dª. ANA
ERNESTINA DE NORONHA. Seu cadáver em caixão foi acompanhado por mim e mais dois reverendos
sacerdotes celebrando três missas de corpo presente, acompanhada também pelas irmandades do Santíssimo
Sacramento e de Nossa Senhora da Boa Morte. Foi sepultado no cemitério desta freguesia de Nossa Senhora do
Carmo, de que para constar mandei fazer este assento que assino Vigário Padre Ignácio Joaquim Nogueira de
Carvalho"
Livro de Óbito de Carmo de Minas 03 pg 59
Fonte: Site http://www.desena.com.br/persons/person928.html
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10.5 Testamento do Capitão Diogo Garcia (tataravô materno de José da Silva
Gorgulho Noronha)
... de todo o remanescente de minha terça nomeio e instituo minha
alma herdeira universal e meu testamenteiro disporá tudo em missas
pela minha alma e pelas almas do Purgatório cujas missas se
mandarão na mesma Capela de Nossa Senhora do Monte do Carmo
da dita Vila pela esmola costumada.
Fonte: Testamento do Capitão Diogo Garcia
Diogo Garcia (1690 – 1762) e sua esposa Julia Maria da Caridade (1707 – 1787)
nasceram na Freguesia de Nossa Senhora das Angustias da Vila de Horta, Ilha do Fayal,
Açores. Vieram para a Vila de São João Del Rey / MG, onde se casaram em 1724.
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Peço a minha mulher Julia Maria da Caridade em primeiro lugar queira por serviço de Deus e por me
fazer mercê ser minha testamenteira, em segundo lugar a meu genro o Senhor Alferes Manoel Pereira do
Amaral, em terceiro lugar a meu filho José Garcia em quarto lugar ao Senhor da Mesa da Venerável Ordem
Terceira de Nossa Senhora do Carmo da dita Vila de São João de El Rei a todos e a cada um de per si
peço queiram aceitar este meu testamento e correrem com as disposições dele.
Declaro que sou Irmão Professo na Venerável Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo da dita
Vila de São João de el Rei e se lhe pagará tudo o que ao tempo do meu falecimento constar eu lhe seja
devedor e lhe peço acompanhe meu corpo a sepultura podendo ser. Declaro que sou Irmão da Irmandade
do Santíssimo Sacramento e das Almas da Freguesia de Nossa Senhora do Pilar da dita Vila e se lhe
pagará por meu falecimento o que constar ser eu devedor e podendo ser acompanharão meu corpo a
sepultura.
Ordeno que meu corpo seja sepultado na Capela da Venerável Ordem Terceira de Nossa Senhora
do Monte do Carmo da dita Vila de São João envolto no Habito da Religião Carmelita e não havendo em o
meu próprio de terceiro e me acompanhará o meu Reverendo Parocho com mais dezesseis sacerdotes os
quais todos dirão Missa de corpo presente pela minha alma e assim mais dirão Missa de corpo presente
todos os mais sacerdotes que se acharem na dita Vila no dia de meu enterro e de tudo se lhes pagará a
esmola costumada e tambem se levará em conta o meu Testamenteiro toda a cera que se gastar no meu
funeral e sendo o caso que se não possam celebrar as missas no dia do meu enterro por algum justo
impedimento se celebrarão no dia seguinte e se porá um rol em a Capela da dita Venerável Ordem em o
qual se assinarão os reverendos Sacerdotes porque sempre quero que se celebrem as Missas na dita
capela.
Ordeno que no dia terceiro, sétimo e trinta do meu enterro se mandem celebrar Missas por minha
alma por sufrágio de esmola cada um .... cruzado de ouro e peço aos Senhores Reverendos Sacerdotes
queiram rezar um responso por minha alma pelo amor de Deus advirto que o dia terceiro se contara do dia
em que meu corpo apresentado na Igreja.
Ordeno se mandem celebrar pela minha alma duzentas missas a saber cinquenta por meu pai e
cinquenta por minha mãe mais cinquenta pelas almas da minha maior obrigação e outras cinquenta pelas
almas do purgatório todas estas referidas Missas serão ditas na mesma freguesia de esmola cada uma de
meia oitava de ouro, tudo por modo de sufrágio.
Ordeno que se mandem celebrar mais cento e sessenta missas nesta dita Vila de esmola cada uma
de meia oitava de ouro.
E de todo o resto que de minha terça sobrar se houverem bens que bem bastem para o que
determino de todo o remanescente de minha terça nomeio e instituo minha alma herdeira universal e meu
testamenteiro disporá tudo em missas pela minha alma e pelas almas do Purgatório cujas missas se
mandarão na mesma Capela de Nossa Senhora do Monte do Carmo da dita Vila pela esmola costumada.
E para darem expedimento a tudo aqui declarado torno a pedir a minha mulher Julia Maria da
Caridade e mais senhores em o principio deste declarados queiram aceitar serem meus Testamenteiros
benfeitores e administradores de meus bens e tutores de meus filhos menores e curadores de seus bens
para lhos arrecadarem e administrarem, venderem em praça e fora dela, cobrarem arrecadarem entregarem
e remeterem tanto pela parte de meus filhos como legatários para o que os hei por abonados e lhes faço
sessão e traspasso de todo o domínio que em meus bens tenho como se em minha vida lhos entregasse, e
lhes concedo todos os poderes que em direito posso e missão concedidos.
E por ser esta a minha ultima vontade de modo que tenho dito fiz este meu testamento e quero valha
como Testamento Codecilio para o que peço e rogo as Justiças de Sua Magestade que Deus guarde assim
Eclesiásticas como seculares que em tudo façam guardar e cumprir como nele se contem e declara ou como
em direito melhor lugar haja com todas as clausulas que por Direito para sua validade lhe são necessárias
que todas aqui hei por expressas e declaradas como se de cada uma fizesse expressa e declarada menção
pelo qual revogo e hei por revogado outro qualquer Testamento que antes haja feito por estar este conforme
a minha última vontade do modo que o ditei e por firmeza dos que pedi e roguei ao Ajudante João Cosme
Vieira que este me fizesse e comigo assinasse como testemunha e me assinei com o meu sinal costumado
que é uma cruz feita pela minha própria mão
Eu o fiz a rogo do Testador em dito li co.... acima.
Declaro mais que a carta de que acima faço menção fica sendo parte deste Testamento e só o
testamenteiro que este meu Testamento aceitar a poderá abrir e para cumprimento do nele disposto haverá
a si duzentos e um mil réis dos quais se lhe não pedirá contas como acima determino em dito (ilegível)
Diogo + Garcia
Fonte: Projeto Compartilhar. Site www.projetocompartilhar.org
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10.6 Inventário e Testamento de Antonio Luis Gonçalves (avô materno de José da
Silva Gorgulho de Noronha)
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11. BIOGRAFIA DE PESSOAS ILUSTRES DA FAMÍLIA GORGULHO
Não é fácil ser excepcional, sendo simples. Ser austero, sendo um poço de
doçura. Ser alegre, contador de causos e de bem com a vida, sendo um
trabalhador exigente e duríssimo cumpridor de seus deveres. Não é fácil,
mas, com certeza, é possível. Mesmo, porque, Miguel Archanjo Gorgulho é
tudo isso: um ser humano que é verdadeiro caleidoscópio de lealdade, de
grandeza, de exemplos e de bem viver. Aos 90 anos, cheio de histórias e
de amigos, Miguel Archanjo Gorgulho é reverenciado sobretudo por duas
qualidades que fazem dele uma referência na vida de São Lourenço:
bondade e simplicidade.
(José Silvestre Gorgulho, 2006
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11.1.1 Cronologia da vida de Miguel Archanjo Gorgulho
1916 – Em 22 de fevereiro de 1916, nasce nos Pintos Negreiros, Distrito de Maria da Fé, Sul de Minas Gerais,
Miguel Archanjo Gorgulho. É o sétimo filho do casal João Capistrano Gorgulho e Maria Imaculada Negreiros
Gorgulho. Os outros nove irmãos são: José Faustino Gorgulho, Antônio Érico Gorgulho, Maria do Carmo Gorgulho,
Maria da Glória Gorgulho, Rafael Archanjo Gorgulho, Gabriel Archanjo Gorgulho, Maria Catarina Gorgulho, Maria
de Jesus (Zuzu) Gorgulho, Maria Gorgulho. Miguel passou a infância na fazenda do pais, nos Pintos Negreiros,
onde estudou na escola rural, fundada por sua própria mãe.
1928 – É matriculado no Seminário Padre Antônio Maria Claret, em São Paulo, mas por motivos de saúde voltou
para casa dos pais.
1929 – É matriculado no Colégio Marista Sagrado Coração de Jesus, em Varginha.
1930 – Volta para a fazenda dos pais e dedica-se exclusivamente ao trabalho rural, sendo retireiro e tropeiro.
1936 – Nesse ano morre seu pai. Ainda muito doente, João Capistrano Gorgulho – mais conhecido como João do
Morro – ouve do filho Miguel uma promessa: só se casaria depois de ver as duas irmãs caçulas, Zuzu e Maria
Gorgulho, formadas.
1938 – Muda-se para São Lourenço com o compromisso e trabalhar e ajudar na educação das irmãs. Nessa
missão teve a ajuda importante da Diretora do Colégio Santa Úrsula de São Lourenço, Madre Ambrósia Röbig.
Consegue seu primeiro emprego como vendedor do Armazém Avenida, de Laurentino Marques da Silva e
Henrique Cafasso.
1939 – Como sacristão e ajudante do Pároco Frei Luciano Wagner, foi servente na construção da Igreja Matriz de
São Lourenço.
1940 – Foi trabalhar na Casa Candal, na rua Cel. José Justino. A casa era dirigida pelos irmãos Antônio e Júlio
Candal.
1941 - Participou com Dr. Ural Prazeres e outros companheiros da fundação do Aero-Clube de São Lourenço.
Nesta ocasião conheceu sua futura esposa Amélia Flori, filha de Victor Flori e Ana Maria Forastieri, pioneiros de
São Lourenço.
1942 - Montou seu próprio negócio, estabelecendo-se na Rua 15 de Novembro um pequeno armazém, tendo
como sócio majoritário o amigo e compadre Joaquim Pereira Maduro.
1943/44 - Com um grupo de amigos, como Joaquim Maduro e José França, monta em São Lourenço um time de
futebol chamado Vasco da Gama. O campo do Vasquinho, como era carinhosamente chamado, ficava ao lado do
Hotel Brasil, onde hoje está o Parque das Águas 2. No Vasquinho jogava Dondinho, pai de Pelé. Aliás, o apelido
Pelé vem do goleiro do Vasquinho, o Bilé, que o filho de Dondinho queria imitar. Com apenas 4 anos, o garoto
trocava o B pelo P e se dizia Plé. Por ficar zangado quando o chamavam de Pelé e não por Bilé, o apelido acabou
pegando. Apesar da família continuar chamando Edson Arantes do Nascimento de Dico, o apelido Pelé nasceu em
São Lourenço e ganhou o Brasil e o mundo.
1944 – As irmãs Zuzu e Maria Gorgulho se formam professoras.
1945 – Em 31 de março, casa-se com Amélia Flori.
1946 – Passa a sociedade do armazém para seu primo Geraldo Gorgulho volta à vida rural, mudando-se para a
Fazenda do Aterrado, onde como arrendatário trabalhou com agropecuária. Nesse ano nasce, em São Lourenço,
seu primeiro filho, José Silvestre Gorgulho (hoje casado com Regina Célia Belloti Lopes).
1953 – Nasce outro filho: Miguel Flori Gorgulho.
1954 – Volta para os Pintos Negreiros, onde compra as terras que eram de seu pai e continua trabalhando com
agropecuária.
1954 – Nasce seu filho João Vitor Gorgulho (hoje casado com Jovelina Cabral).
1956 – É eleito vereador pelo PSD, no município de Maria da Fé.
1957 – Juntamente com os irmãos Gabriel Gorgulho e Rafael Gorgulho, vai a Belo Horizonte e consegue com D.
Júlia Kubitschek, mãe do então Presidente Juscelino Kubitschek, a construção do Grupo Escolar São José, nos
Pintos Negreiros.
1958 – Nasce Maria Imaculada Gorgulho (hoje casada com Antônio Gannam).
1959 – Nasce seu filho caçula Luiz Antônio Gorgulho.
1963 – Volta com a família para São Lourenço e com mais três sócios (João Flori, José Carboni Filho e José
Ildefonso Fernandes) compra a mais tradicional loja da cidade, a Casa Dutra. A partir desta época, participou de
vários movimentos sociais e econômicos de interesse do município, com destaque para os trabalhos na
Associação Comercial e Industrial de São Lourenço.
1972 – Inaugura o Supermercado Carrossel, com os mesmos sócios da Casa Dutra.
1973 – Cria a ORGANIZAÇÃO GORGULHO, loja no ramo de materiais de construção, e dá uma participação para
seus sobrinhos José Carlos Bernardes e Victor Fleury Curado.
1976 – Seu filho, João Vitor Gorgulho, formado em Administração de Empresas, em Belo Horizonte, assume a
direção e o destino da ORGANIZAÇÃO GORGULHO.
1979 – Foi presidente da FAP – Federação Associativa Paroquial durante dois anos. Sua participação na vida
religiosa era intensa e desde que chegou a São Lourenço pela primeira vez, em 1938, foi sacristão do Frei Luciano
Wagner. Mais tarde, com o Frei Alberto Preis e alguns companheiros (Heitor Jesuíno, Mário Cabizuca, José
Cambraia, José Junqueira, José Cláudio Sanches) criou a Congregação Mariana.
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1980 - Participou sempre e das formas mais variadas dos movimentos assistenciais do município: ajudou na
construção da Casa de Maria, a pedido de Antônio Modesto Negreiros e Joaquim Ramos. Por cinco anos cedeu
graciosamente um imóvel na Rua Batista Luzardo para acolher a Casa dos Meninos.
1983 – Ganha a primeira neta, Maria Fernanda Lopes Gorgulho, seguida por outros seis netos: Talita Gorgulho
Gannam, Amélia Cabral Gorgulho, Mariana Gorgulho Gannam, Rodrigo César Lopes Gorgulho, Rebeca Cabral
Gorgulho e Antônio Gorgulho Gannam.
1989 - Foi peça importante na transferência e na construção da nova casa Casa dos Meninos, no Bairro da
Estação, tendo sido homenageado na sua inauguração, da qual também participaram o ex-governador e senador
do Rio, Amaral Peixoto, sua esposa, a filha do Presidente Getúlio Vargas, Alzira Vargas, e a filha Celina Vargas do
Amaral Peixoto.
1990 – Como na área social, também a educacional recebeu todo apoio de Miguel Gorgulho. Os primeiros e
decisivos passos da Faculdade Santa Marta foram dados graças a seu apoio: os dois primeiros anos do Curso
Superior de Administração aconteceram nas salas do segundo andar de prédio de sua propriedade na rua Olavo
Gomes Pinto, 61. Sem receber um centavo de aluguel.
1996 – É inaugurada nos Pintos Negreiros uma praça, ao lado do campo de futebol, com uma placa em
homenagem a Miguel Gorgulho, pela doação para a comunidade do terreno onde fica a praça de esportes.
1997 – Em 21 de Abril, recebeu a mais alta Comenda de Minas Gerais, pelos relevantes serviços prestados à
comunidade de São Lourenço e ao Estado de Minas: a Medalha da Inconfidência, entregue dia 21 de Abril, em
Ouro Preto, pelo então governador de Minas, Eduardo Azeredo, tendo como Patrono, o Ministro da Fazenda,
Embaixador Pedro Malan.
1999 - Acreditou nos ideais dos fundadores do Movimento Viva São Loureço Viva e deu grande força a esse
resgate de cidadania ao ceder, graciosamente, a sala onde até hoje funciona a mais importante ONG do Sul de
Minas.
2004 – Recebe o Título de Cidadão Honorário de São Lourenço, outorgado pela Câmara Municipal, na legislatura
de 1999, numa proposta do vereador Isac Ribeiro.
2005 - Depois dessa vida de luta, Miguel Gorgulho vive hoje em sua chácara, próxima ao Aeroporto de São
Lourenço. Costuma dizer que está numa ótima e nem merece a tranqüilidade e a satisfação que Deus está lhe
dando. “Sou feliz ao lado de minha mulher Amélia, de meus filhos e de toda minha família. Recebo com a maior
alegria todos os meus amigos”. E acrescenta enérgico: “Mas estou pronto para encarar qualquer missão e
qualquer desafio que seja pelo progresso do Sul de Minas, pela melhoria da qualidade de vida do povo de minha
cidade e até, se for preciso, pegar em armas para acabar de uma vez por todas com essa safadeza, com essa
corrupção e essa impunidade. O Brasil e meus netos merecem um novo século menos violento, mais justo e mais
cristão”.
2006 – No dia 22 de fevereiro, reúne filhos, netos, sobrinhos e amigos, em São Lourenço, para comemorar seus
90 anos.
Fonte: Site de José Silvestre Gorgulho: www.gorgulho.com
2009 - Em 12 de setembro de 2009, Miguel Gorgulho recebeu, pela mãos do então Governador de Minas Gerais,
Aécio Neves, a Grande Medalha Presidente Juscelino Kubitschek, a qual é concedida a personalidades que
prestam ou tenham prestado serviços relevantes à sociedade, contribuindo para o crescimento de instituições
políticas e governamentais. No palanque, na Praça JK, os agraciados receberam as medalhas e, em seguida,
discursaram o prefeito municipal de Diamantina, Geraldo da Silva Macedo, o ex-presidente Itamar Franco, orador
oficial, e o governador Aécio Neves. Ao som do Hino Nacional houve o hasteamento da bandeira, o governador
Aécio Neves depositou flores no monumento da JK, seguido do toque de silêncio. No encerramento da cerimônia,
houve o desfile da Guarda de Honra.
Fonte Agência Minas de 12 de setembro de 2009
Site: http://passadicovirtual.blogspot.com.br/2009_09_01_archive.html
2010 - Miguel Archanjo Gorgulho faleceu no último dia de 2010, aos 94 anos.
Em 12 de setembro de 1980, dia em que JK completaria 79 anos, dona Sara e o presidente João
Batista Figueiredo inauguraram o Memorial JK, projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer, no qual seria
instalado também um museu e uma biblioteca.
Miguel Archanjo Gorgulho, grande admirador de Juscelino Kubitschek, escreveu à viúva de JK, Dª
Sara Kubitschek, que ela, com sua autoridade, com seu amor à memória do grande Presidente, pedisse ao
Departamento Nacional de Estradas de Rodagens que reservasse uma pequena área ao lado da Via Dutra,
no seu acostamento, onde Juscelino Kubitschek sofreu o acidente, onde se pudesse construir algo que
lembrasse que naquele ponto havia falecido o grande Presidente Juscelino.
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Dª Sarah recebeu essa carta, falou com o arquiteto Oscar Niemeyer e recebeu dele o projeto do
monumento, o qual foi aprovado no Senado Federal em 05/02/1996, apresentado pelo Senador José
Roberto Arruda e remetido ao Departamento Nacional de Estadas de Rodagem, para construção do marco à
beira da Via Dutra, lembrando o ponto onde o Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira foi acidentado e
faleceu.
Em 20 de agosto de 2006 foi inaugurado o monumento erguido em homenagem ao ex-presidente
Juscelino Kubitschek e a seu motorista, Geraldo Ribeiro, no local do acidente, quilômetro 328 da Rodovia
Presidente Dutra (BR-116), sentido São Paulo - Rio. Participaram da solenidade as filhas do ex-presidente e
de seu motorista, Maria Estela Kubitschek e Maria de Lourdes Ribeiro, além de membros da Sociedade dos
Amigos de JK (SAJK), e do inspetor da Polícia Rodoviária Federal, Bernardo, que prestou atendimento a JK
logo após o acidente, lembrando os 30 anos de falecimento da dupla. A construção do monumento teve o
apoio da prefeitura de Resende e da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN).
O desejo de Miguel Archanjo Gorgulho foi assim atendido, a partir de sua solicitação em uma
simples carta escrita à Dª Sara Kubitschek.
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A origem do apelido do nosso rei do futebol “Pelé”, contada por Miguel Archanjo Gorgulho
Corria os anos de 1944 e 45. Havia um goleiro que fez história aqui na região. O nome dele era Bilé.
Aliás, há pouco tempo eu vi no Globo Esporte uma matéria sobre goleiros e citava o Bilé (José Lino da
Conceição Faustino) como um dos maiores goleiros da época. Um goleiro que todo mundo queria imitar.
Quando deu a matéria no Globo Esporte ainda chamei meu filho João Vitor e disse para ele: - Olha só, a
Globo errou! A reportagem disse que Bilé nasceu em São Lourenço. Não foi. Bilé jogou em São Lourenço,
mas nasceu em Dom Viçoso [O município de D. Viçoso fica a 20 km de São Lourenço]. O irmão dele é o
Basílio que mora até hoje nos Pintos Negreiros, um distrito do município de Maria da Fé, também no Sul de
Minas. O que o “seu” Miguel Gorgulho vai contar agora é a maior jogada do Bilé. E pouca gente sabe:
“Nessa época, em 1944/45, juntamos alguns empresários aqui de São Lourenço resolvemos criar
um time de futebol. Criamos um time chamado Vasco da Gama. Fomos atrás de um campo para treinar e
acabamos conseguindo uma área ao lado do Hotel Brasil, onde está hoje o Parque das Águas II. Campo
pronto, time formado, o Vasquinho – como era carinhosamente chamado - começou a ganhar e a fazer um
sucesso tremendo!”
Para formar o Vasquinho, nós pegamos alguns jogadores daqui de São Lourenço como o goleiro
Bilé, o Pessoa e uns outros. Para reforçar o time fomos buscar em Três Corações, perto daqui, outros bons
jogadores. Um deles era soldado do Batalhão. Na época era também ferroviário. Acho que trabalhava na
Rede. Jogava muita bola. O nome dele era Dondinho (João Ramos do Nascimento). Contratamos outros
bons jogadores, como o Zé da Bola e o Gradim.
O Dondinho era um monstro, desequilibrava qualquer partida. Ele vinha para São Lourenço de trem
e trazia seu filho que devia ter uns 4 ou 5 anos. Mas o garotinho ficava na beira do campo e sempre queria
brincar de goleiro. E dizia logo que era o Bilé, o goleiro celebridade. Mas, como grande parte das crianças na
sua idade, o filho do Dondinho trocava o B pelo P. Então ele dizia: chuta aí para o Plé. Ele dizia assim
mesmo Plé. E como o pai dele era muito respeitado e o melhor do time, todos nós queríamos muito agradar
o garoto para deixar o pai feliz. E fazia a maior farra com ele. Só que tinha um detalhe: como ele não
conseguia falar Bilé, só dizia Plé, a criançada pegava no pé dele. Fazia questão de chamá-lo de Plé. Ele não
gostava. Fazia pirraça, chorava. Eu me lembro bem dele com o nariz escorrendo e chorando, quando as
pessoas teimavam em chamar o garoto de Plé. Ele queria ser chamado era de Bilé.
Acontece que como o Dondinho, também o Zé da Bola, o Gradim acabavam trazendo suas famílias,
filhos, sobrinhos e amigos para ver o Vasquinho jogar aqui em São Lourenço. Era fácil vir de Três Corações.
Só 100 km e trem direto. Pegava o trem lá e saltava aqui. E o negócio de chamar o garotinho de Plé foi
ficando sério. O interessante é que o apelido dele na família era Dico. Mas quanto mais o menino achava
ruim com o novo apelido, tanto mais a criançada pegava no pé dele. Começou no campo do Vasquinho,
depois era na rua, depois era no trem de volta e depois era lá na casa dele em Três Corações.
O Vasquinho durou mais alguns anos e acabou. Nesta mesma época, a Rede Ferroviária transferiu o
Dondinho para Bauru e pelas dificuldades de comunicação na época, acabamos perdendo totalmente o
contato tanto com o Dondinho como com seu filho Edson Arantes do Nascimento. Só depois, em 1957 e 58
é que voltamos a ouvir falar no filho do Dondinho. Não mais como Plé, mas como o consagrado Pelé.”
FONTE: Site de José Silvestre Gorgulho www.gorgulho.com
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12. GENEALOGIA DA FAMÍLIA NEGREIROS
Tereza
1ª) Quinhinha
Joaquim João da Silva Gorgulho 1877-1936
Maria Rita 2ª) Maria Imaculada
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12.1 Antônio José de Negreiros Macedo (bisavô do Vovô Zotinho)
Conforme Censo de 1839 de Pouso Alto, Antonio José de Negreiros Macedo, tinha 28
anos, estava casado com Altina Eulinda, também com 28 anos e tinha as filhas Ana Emilia de
2 anos e Maria Umbelina de 4 anos. Seu filho Antonio (Tonico) José Negreiros nasceu em
1843.
Baixou ao túmulo, o Alferes Antonio José de Negreiros Macedo, legando aos que a ele sobreviveram,
exemplos de bondade, de grandeza d’alma e de dedicação pela terra do berço. Foi um patriota que
deveria ser imitado.
Fonte: Almanaque Sul Mineiro, 1884.
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Vovô Tonico acordava muito cedo, sendo quase sempre o primeiro a se levantar. Gostava que o fogo do
fogão estivesse aceso. Após lavar o rosto, assentava-se em seu banco sobre a taipa, onde tomava café
acompanhado de uma quitanda: biscoito de polvilho, bolacha ou bolo de fubá. Logo depois, já com o sol um
pouco quente, saía para dirigir os trabalhos de limpeza da várzea. Quando ia a lugares mais distantes ou ia
cuidar da manutenção da estrada, pegava seu cavalo, o Rucinho, que já estava arreado e à sua espera.
O almoço e o café do meio dia eram levados por um de nós ou por um camarada. Mas, por recomendação
da minha mãe, voltava para casa antes do escurecer e já encontrava o jantar pronto. Nos dias que não tinha
camarada e serviço determinado, ele próprio ia arrancar as pragas que apareciam nas proximidades da
casa. Nos dias chuvosos e mais frios fazia suas refeições assentado sobre a taipa do fogão.
Fonte: Livro Fazenda dos Pintos de Antônio Bernardes.
Maria do Carmo Capistrano Alckmin e Antônio José Negreiros tiveram dez filhos:
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12.3 Sebastião Capistrano de Negreiros (pai do Vovô Zotinho)
Meu pai Sebastião Negreiros foi o filho que nunca quis sair dos Pintos,
sempre trabalhando na Casa Grande, junto com o Vovô Tonico, que tinha
muita confiança nele, para tudo: do machado ao gabinete. Tião era um
homem instruído e atirado aos empreendimentos (Vovô Zotinho)
Sebastião Capistrano Negreiros foi também escritor, escreveu um drama religioso para teatro, em 3 atos e
10 personagens, intitulado “Jesus, o Cego e a Leprosa”, a qual dirigiu e ensaiou os atores da família
Negreiros, sendo ele próprio um dos atores e o apresentaram nos Pintos, Rosário e em Pouso Alto, fazendo
grande sucesso. Essa peça teatral escrita por Sebastião Negreiros, foi também apresentada pelo famoso
Circo-Teatro Pavilhão Arethuzza8.
Todos no povoado dos Pintos eram amigos, uns ajudavam os outros. Na ocasião das capinas e das colheitas de
roças, Sebastião (Tião) Capistrano Negreiros oganizava grandes mutirões com festas e bailes que eram muitos
divertidos. Todos os roceiros faziam seus mutirões, fazendo rodízio: hoje pra mim, amanhã pra você.
Um dia o Chico Leite, que era seu arrendeiro, chegou perto dele e disse-lhe, quase chorando:
- Sr. Sebastião, minha casa caiu com a tempestade desta noite. Eu, minha mulher e meus dez filhos estamos ao
tempo. Por favor, ajude-nos!
Na Casa Grande havia um grande sino de bronze. Tião Negreiros ordenou tocar o sino para chamar o povo dos
Pintos. O sino era o único meio de comunicação com o povoado. As badaladas do sino ecoaram por todas as
grotas das longínquas montanhas dos Pintos Negreiros. Em pouco tempo reuniu-se uma multidão na Casa
Grande. Tião pediu ao seu filho Zotinho para arrear a tropa de burros e ordenou aos camaradas para cortar a
madeira necessária para erguer a casa. A madeira foi cortada, foi também providenciado o cipó e embira para
amarrar as madeiras, o sapé para cobrir a casa e o barro para cobrir as paredes da casa. Doze cozinheiras
apresentaram-se voluntariamente e fizeram uma comida mineira deliciosa: macarrão, galinha, canjiquinha, costela
de porco, feijoada, batata e angu. A casa foi erguida e barreada em um só dia.
Fonte: Autobiografia do Vovô Zotinho.
Sebastião Capistrano Negreiros casou-se três vezes. Sua primeira esposa foi sua prima Maria José
Gorgulho (filha de Maria da Glória Capistrano Alckmin e José da Silva Gorgulho Noronha), com quem teve
seis filhos:
- Sebastião Crisóstomo (Vovô Zotinho), o filho mais velho de Sebastião Negreiros, casou com Maria de Jesus
Nogueira (Vovó Maria), que era pousoaltense, com quem teve 8 filhos: Maria Alaíde, Maria Isabel (Bebé), Maria
Auxiliadora (Dorinha), Maria Tereza (Terezinha), Maria da Glória (Tigró), Maria de Jesús (Zuza), Yolanda
(Landinha) e José Arimathéa (tio Zé);
- Goíca, casou-se com o italiano Dotte Otelo, que tinha uma fábrica de queijos, tendo cinco filhos: Walter,
José, Ana Maria e os gêmeos Rômulo e Remo;
- Carmita, casou-se com o alemão Carlos Lauer, tendo um casal de filhos: Eduardo e Alda;
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Arethuzza Neves consagrou-se como a mais respeitada atriz de circo-teatro no Brasil. Ela trabalhava no
Circo Colombo de seu pai e em 1º de outubro de 1917 ela casou com Macário Ferreira. Seu pai deu de
presente de casamento, um outro circo, que ela o denominou de Circo-Teatro Pavilhão Arethuzza, que ficou
famoso no Brasil por suas grandiosas apresentações teatrais. No sul de Minas o Circo Teatro Arethuzza se
apresentou nas cidades de Itajubá, Três Corações, Três Pontas, Machado e Poços de Caldas. O Circo-
Teatrro Arethuzza encerrou suas atividades no ano de 1964.
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- Niquinho, era farmacêutico, casou-se com Otacília, tendo 9 filhos: Laerte, Evaldo, Zé Neves, Everaldo,
Hugo, Roberto, Maria Ângela, Tereza, Heloiza;
- João Crisóstomo, casou-se com Nair, tendo seis filhos: Juarez, Sebastião, João, Antônio, Maria José e
Maria Aparecida;
- José Bartolomeu, casou-se com a professora Lourdes, tendo dez filhos: Célio, Sebastião, Artemiro,
Ondina, Alair, Alda, Bernadete, Margarida, Ilma, Maria Tereza.
O segundo casamento de Tião Negreiros foi com sua prima Lavínia, filha do seu tio Tenente João
Negreiros, com quem teve dois filhos: Erasmo e José Maria Negreiros.
O terceiro casamento foi com sua sobrinha (filha de sua irmã Manoela) e ex-cunhada (viúva de seu irmão
Joaquim) Maria Rita Vilhena, com quem teve cinco filhos: José Augusto, Maria José (Irmã Ângela), Afonso, Tomaz
e Maria Tereza.
Minha mãe Maria José muito trabalhou na construção do Rosário (atual Dom
Viçoso). Ela era muito religiosa, as imagens de Nossa Senhora do Rosário e a
de São José, com 1,20 m de altura, que estão no altar da Igreja do Rosário,
foram doadas por ela. (Vovô Zotinho)
Maria José Gorgulho Negreiros, filha de Maria da Glória Capistrano Alckmin e José da
Silva Gorgulho Noronha, foi a primeira esposa do primo Sebastião Capistrano Negreiros.
Ela era uma mulher muito boa, de muita fé, caridosa e muito estimada por todos. Era forte
e trabalhadora, gostava muito da roça. Costumava passar a semana em um bom rancho,
onde cozinhava para os camaradas que trabalhavam na lavoura.
Maria José era muito religiosa. Fez uma promessa de todo o ano fazer romaria à Aparecida do Norte. Ela reunia a
família e os colonos, arrendeiros ou até mesmo estranhos que quisessem tomar parte da peregrinação à “Capela
de Nossa Senhora de Aparecida”. Levavam-se burros com colchão e jacá carregando mantimentos, utensílios de
cozinha e encerado para barracas. Alguns iam a cavalo, outros iam a pé, usando atalhos, contornando montanhas,
beirando precipícios e grotas profundas, corredeiras perigosas, andando por trilhos nas florestas e acabavam
chegando juntos aos pousos. A descida da Serra da Mantiqueira era mais penosa, trilhos estreitos, pedras que
rolavam, escadas íngremes, até chegarem em Piquete, no Estado de São Paulo, onde pernoitavam. De lá,
passavam por Lorena, depois Guará e então chegavam à Capela de N. Sra. Aparecida, onde o povo arranchava
na Casa Santa. A viagem durava seis dias.
Fonte: Livro Fazenda dos Pintos de Antônio Bernardes.
Falecimento de Maria José Gorgulho Negreiros, contado pelo seu filho Zotinho
Em 1911, quando eu tinha 15 anos e estudava interno no Colégio Salesiano Dom Bosco de Lorena/SP, depois de
uns três meses que cheguei no colégio, recebi uma carta do papai dizendo que a mamãe estava passando mal.
Eu pensei que até ela já poderia ter morrido. Pedi ao diretor e no outro dia fui de trem para Pouso Alto, chegando lá
à tarde. As duas moças do tio Augusto Alckmin, Conceição e Jesus, estavam prontas para seguir para os Pintos,
pois souberam que a mamãe estava nas “últimas”. Viajamos a noite toda à cavalo e chegamos ao Rosário às 8
horas da manhã. Na saída do Rosário para os Pintos, encontramos com o povo trazendo a mamãe para enterrar.
O sino da igreja bateu para o enterro e daí meia hora chegou o cônego Jose Augusto de Cristina com muita gente
de lá. Às 10 horas ele celebrou missa de corpo presente. A igreja estava cheia. Tinha gente de todos os lados. Na
casa ao lado da igreja estava a tia Glorinha, a única filha solteira da vovó Maria do Carmo Negreiros. Todos os
meus irmãos estavam de camisas pretas.
Às 11 horas mais ou menos, bateu o sino e o povo saiu levando-a para o cemitério. Até esta hora eu estava
rezando com fé e com um nó na garganta, mas ainda não tinha chorado. Saí na porta da igreja, encontrei a tia
Luiza, “negra escrava” da mamãe, que deu de mamar para ela e tio João do Morro e nunca se separou da mamãe,
cozinheira dos ranchos das roças. Eu falei:
- A benção tia Luiza.
Ela como era de costume respondeu:
- Deus Nosso Sinhô que te bençôa, fio meu! E que ponha a alma de sua mãe no reino da glória!
Nessa hora cambaleei e chorei doido. A negra me pegou pelo braço e levou em casa e me pôs na cama. Aí eu
tratei de dormir, pois estava cansado e com sono.
Mamãe era uma mulher forte e de muita saúde. Morreu com pneumonia, após o sétimo dia de doente, com 35
anos, deixando viúvo o Sebastião Capistrano Negreiros, com 33 anos.
Fonte: Autobiografia do Vovô Zotinho.
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13 RESUMO DA AUTOBIOGRAFIA DE SEBASTIÃO CRISÓSTOMO DE
NEGREIROS (VOVÔ ZOTINHO)
Zotinho morava com seus avós, tios, pais e irmãos, na sede da Fazenda dos Pintos, chamada de “Casa
Grande”, no lugarejo chamado Pintos Negreiros
Em 1902, quando tinha 6 anos, Zotinho levou um tombo na escadaria da Casa Grande e fraturou o joelho,
ficando com muita dor na perna direita. Foi chamado o Dr Augusto César Capistrano Alckmin (filho de João
Capistrano Macedo de Alckmin), que verificou que a perna estava encolhendo e que seria necessário
consultar um especialista em luxação.
Depois de três meses Zotinho começou a andar, porém a perna ficou fraca, e ele tinha que por a mão no
joelho para afirmá-la e não sentir dor. Maria do Carmo, a avó do Zotinho, não querendo ver o neto agachar-
se para por a mão no joelho, mandou fazer uma bonita muleta de almofada com estribo embaixo para
suspender e descansar a perna. Zotinho usava a muleta quando a avó estava por perto, ó, para agradá-la,
mas quando saía para brincar, ele preferia deixar a muleta em casa e punha a mão direita no joelho para
poder correr com a criançada. Sebastião Capistrano Negreiros, pai do Zotinho, levou-o à um especialista em
luxação, formado pela Faculdade de Medicina do Rio, o Barão de Pedro Afonso. Ele falou que seria
necessário fazer uma operação para por a perna no lugar, mas que ela ficaria sem movimento na parte
superior. Mediante esse diagnóstico, Zotinho não quis operar a perna..
ESTUDOS:
Em 1909, aos 13 anos, após concluir o 3º ano de estudos com o professor e tio Joaquim, na escola instalada
na Casa Grande, Zotinho foi estudar no Colégio Salesiano de Dom Bosco em Lorena. No final do primeiro
ano de estudos, êle tirou as melhores notas nas provas e recebeu três medalhas. Na cerimônia de
premiação, como não tinha parentes lá, a Condessa do Conde Moreira Lima é que lhe entregou as
medalhas. No segundo ano, o nome do Zotinho foi para o quadro de honra, o qual era posto na sala de
visitas. Quando estava no 3º ano colegial, sua mãe faleceu e ele voltou para sua casa, para ajudar seu pai a
cuidar da Fazenda dos Pintos.
A ORQUESTRA:
Aos 17 anos, Zotinho formou uma orquestra com sanfona, violões e pandeiros, para alegrar e animar o
pessoal dos Pintos Negreiros. Ele tocava o violão junto com a orquestra e organizava tudo. Zotinho levava a
orquestra ao Rosário, quando era celebrada a missa pelo cônego José Augusto. A orquestra do Zotinho
recepcionava o Cônego José Augusto, que chegava no sábado e voltava na segunda. Eram três dias de
festa. Quando o Cônego apontava na porteira, Zotinho soltava foguetes e pedia para tocar o sino da igreja e
a orquestra tocava o dobrado “Capitão Caçula”. O Cônego chegava alegre e sorridente.
No domingo, após a missa, Zotinho organizava um chá dançante na casa de instrução ao lado da igreja.
Lá toda a família se reunia. Tião, o pai do Zotinho, marcava a quadrilha.
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O PRIMEIRO AMOR:
Em 1913, quando Zotinho tinha 17 anos, chegou aos Pintos Dª Melica, que era viúva e tinha quatro filhos:
Deoclides, José, Sebastião e Maria da Conceição, de apelido “Pequenina”. Na Casa Grande, Zotinho foi
apresentado às moças recém-chegadas, a Pequenina e a Deoclides. Pequenina era muito bonita e alegre, sentou-
se perto dele, contando com muita graça a sua vida de criança e a morte de seu pai, que fazia pouco tempo que
tinha falecido. Neste dia Zotinho foi embora para o Rosário com dó da menina.
Zotinho fazia questão de convidar a Dª Melica, mãe da Pequenina, para que ela levasse suas filhas ao chá
dançante de sua orquestra. Zotinho simpatizou-se pela Pequenina e ela também por ele. Depois de quase um ano
de convivência com a Pequenina, Zotinho pediu ao seu tio José Bruno para falar com Dª Melica, se ela consentiria
o namoro deles. José Bruno foi e trouxe a resposta: - A menina quer muito, a mãe dela disse que te estima muito e
te quer bem, mas acha a Pequenina muito criança.
De fato, a Pequenina tinha apenas 14 anos e Zotinho estava com 19 anos No outro dia vieram as primas e irmãos
da Pequenina falar com o Zotinho que ela queria casar com ele. Os dois estavam apaixonados e continuaram
encontrando-se nas festas e reuniões. A mãe resolveu levá-la para Itatiaia, para casa de um tio. Embarcariam em
Pouso Alto. Zotinho montou seu cavalo e foi até Pouso Alto. Lá chegando, foi para a casa de suas primas
Conceição e Jesus, onde encontrou com a Pequenina.
Pequenina disse que a viagem para Itatiaia está marcada para o dia seguinte, mas que ela não queria ir. Zotinho
aconselhou-a a não desobedecer a mãe e que ele esperaria por ela. Passaram a noite conversando. No outro dia
cedo, antes da Dª Melica chegar, Zotinho despediu-se da Pequenina, arriou seu cavalo e voltou para os Pintos.
Passado uma semana Zotinho recebeu uma carta da Pequenina, pedindo-lhe para que ele desistisse de casar
com ela. Na carta tinha lágrimas, pois a tinta estava manchada. Zotinho respondeu: - Se as suas palavras são do
coração, farei o seu pedido, mas se foram ditadas por uma força estranha, eu persistirei no meu intento.
Uns seis meses depois Zotinho ficou sabendo que a Pequenina havia retornado no trem para Silvestre Ferraz,
onde morava o tio dela. Zotinho pegou seu cavalo e seguiu para lá. Chegando no largo da igreja, de longe,
Zotinho avistou a Pequenina na janela. Quando ele foi se aproximando, ela saiu da janela. Zotinho apeou,
alimentou seu cavalo, apertou o arreio e a Pequenina não apareceu. Então Zotinho montou seu cavalo e retornou
para os Pintos, decidido a não mais procura-la.
Após alguns dias, a Pequenina foi ao Rosário e perguntou ao Cônego José Augusto se ele faria o casamento dela
com o Zotinho, sem o consentimento da mãe. O cônego, que sabia de tudo, respondeu que faria sim o casamento.
Zotinho comprou saias compridas, chapéu de pluma e providenciou um cavalo de cilião (montaria feminina) para a
Pequenina. Porém a Goica, irmã do Zotinho, o aconselhou que não fizesse isto, que casar assim, sem o
consentimento dos pais, não dá certo. Ela também achava a Pequenina muito criança para se casar. Assim, como
o Zotinho tinha muita consideração pela sua irmã Goica, como se fosse sua mãe, ele acatou os conselhos dela e
resolveu dar um tempo. Mas em suas preces ele pedia: - Minha Nossa Senhora, fazei com que eu case com a
Pequenina, se não, não sei o que faço!
Já haviam passado dois anos desde que Zotinho e a Pequenina tinham rompido o namoro. Zotinho levou sua
orquestra para tocar em um baile em Pouso Alto. Zotinho e o pessoal da orquestra, após o baile, dormiram na casa
de sua prima Belinha, esposa do Atílio. De manhã foram foi buscar os cavalos que estavam no pasto da chácara
da Dª Escolástica, no Mesquita.
Lá Zotinho conheceu as três filhas da Dª Escolática: Maria de Jesus, Ritinha, Escolástica e Ana. Elas já o
conheciam de nome e à sua família. À tarde chegaram os filhos dela, os quais Zotinho já os conhecia. Como o
papo estava bom, Zotinho resolveu ficar mais um dia em Pouso Alto e não retornou com o pessoal da orquestra. À
noite Zotinho voltou para a casa da Belinha, as três moças o acompanharam até a entrada de Pouso Alto. Foram
conversando sobre as famílias. Ao despedirem-se a Escolástica, que era afilhada da Maria, me pediu a benção e
me chamou de padrinho. Elas disseram: - Amanhã cedo nós viremos pagar sua visita.
No outro dia, de manhã, Maria, Ritinha e Escolática foram pagar a visita e levaram também o irmão Teófilo, que foi
junto com o Zotinho para o Rosário, pois ele trabalhava com o Diamantino, negociante de lá.
Zotinho e Teófilo foram conversando pelo caminho. Teófilo contou que sua mãe gostou muito dele. Zotinho falou
ao Teófilo que tinha simpatizado muito com a mãe dele e com todos, mas não contou que estava gostando da sua
irmã Maria. Zotinho não perguntou a idade da Maria, achava que teria uns 20 anos.
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Chegando aos Pintos, Zotinho contou a seu pai e a suas tias Goica, Carmita que ele estava gostando da Maria e
acharam bom. No sábado seguinte Zotinho voltou a Pouso Alto, foi com sua tia Goica. Joaquim Lucio, irmão da
Maria, avisou lá na chácara que Zotinho e Goica estavam na cidade. As meninas foram a noite e os encontraram
na reza, na igreja. Ficaram de prosa até tarde e os convidaram para almoçar na chácara. No dia seguinte foram,
almoçaram e passaram o dia na chácara, todos alegres e contentes. Proseando com o Zotinho, Escolástica contou
que a mãe gostou muito dele e que a sua irmã Maria perguntou para a sua mãe: - Ele serve para seu genro? E a
mãe disse a Maria: - Ele tem namorada firme lá.
A Belinha e a Goica conversaram com a Maria sobre casamento. Ela falou: - Já comecei uma novena e se for
vontade de Deus e de todos, eu caso com ele. No outro dia, 2ª feira cedinho, despediram-se, porque Zotinho era
professor no Rosário e tinha de dar aula. Zotinho falou com a Maria, todo nervoso, apertando suas mãos: - Sábado
eu volto. E ela respondeu baixinho: - Venha pousar aqui.
Sexta feira à noite Zotinho voltou à Chácara, desta vez foi com a com a Benedita, filha do tio Zé Bruno, mocinha
bonita e alegre, que era colega da Escolástica e Ana (Donana) no Grupo e apresentaram teatros juntas.
Dessa vez Zotinho pediu à Maria se ela queria namorar com êle e que ele queria casar logo. Ela respondeu-lhe:
- Pode falar com a mamãe.
Zotinho ficou dois dias na chácara e não teve coragem de falar com a Dª Escolástica, apesar de ser bem tratado
por ela. Maria falou-lhe: - Você está sem coragem de falar com a mamãe, então lhe escreva uma carta. Chegando
nos Pintos Zotinho escreveu uma carta à Dª Escolática, pedindo a autorização para noivar com a sua filha Maria.
Zotinho voltou à Pouso Alto, na sexta feira à noite, como de costume. Levou pessoalmente a carta e a entregou ao
Joaquim Lúcio para levar para Dª Escolástica. Pousou na Belinha. No outro dia cedo veio a Escolástica falar-lhe
que ele fosse lá saber a resposta da carta. Zotinho foi com a Belinha. Na chegada vieram ao seu encontro as três
meninas Maria, Ritinha e Donana, todas alegres e satisfeitas. Maria cumprimentou o Zotinho, apertando-lhe a mão
e disse-lhe: - Que Nossa Senhora da Conceição, padroeira de Pouso Alto, nos proteja. Zotinho..
Chegando a chácara, a mesa do almoço foi posta e com todos reunidos, Dª Escolástica falou, alegre e sorridente:
- Todos nós fazemos gosto, que vocês sejam muito felizes.
Almoçaram alegres e contentes. Depois do almoço Zorinho pegou o cavalo e foi embora porque precisava lecionar.
Disse: - No fim de semana voltarei, se Deus quiser.
Chegando na Casa Grande, contou tudo ao pai e tias Goica e Carmita.
No sábado seguinte Zotinho voltou a Pouso Alto, com o Teofinho, levando um cavalo de cilião e faloui com o ele:
- Vou ver se trago a Maria para conhecer o meu povo.
Passou o domingo lá, com todos. Na 2ª feira cedo Zotinho, Teófilo e a Maria, juntamente com as cunhadas Ritinha
e Escolástica, foram para o Rosário, com licença de ficarem duas semanas. Apearam na ponte da vaca, para
comerem a matula, beber água e descansar. Quando foram montar para seguir a viagem, o primeiro cavalo que
Zotinho pegou foi o da Maria. Ela veio rindo e ele a pos no cavalo. Ela lhe fez um afago no rosto, em
agradecimento. Zotinho estava radiante de alegria, e agradeceu a Nossa Senhora de Rosário e a proteção de sua
mãe, que ia lhedar uma esposa bonita, boa, carinhosa, atenciosa e ajuizada.
No Rosário elas ficaram uma semana. Passearam nos Pintos, conhecendo o resto da família. Assistiram umas das
missas do Cônego. Dançaram na Casa de Instrução, conforme o costume. Maria ficou sabendo pelas primas e
irmãs do Zotinho como ele vivia e contaram-lhe o drama vivido com a Pequenina. Ela a conheceu pessoalmente.
Maria, quando ia passar roupa, sendo a janela dela em frente do Zotinho, vinha na janela para espiar. Maria, a
noiva bonita noiva, gênio bom e paciente, fez amizade com todos.
Zotinho escreveu uma pequena poesia e a recitou para Maria:
“Maria de outra Maria, você tem o nome e a condição.
Ela é a rainha do céu e você é a rainha do meu coração.
Deus, com perícia divina e mão de mestre, fabricou três sóis,
um deles anda vagando no espaço e os outros dois,
são os seus olhos, luz da minha vida.”
Em retribuição, Maria chamou a Escolástica e cantaram bonitas músicas para o Zotinho.
Zotinho combinou com a Maria para fazer o casamento no Rosário, daí a dois meses, o que ela achou bom e disse
que estava pronta para cumprir os seus gostos. Zotinho disse-lhe que no domingo iria lá para combinar com a
sogra e levar as alianças. As alianças foram presentes do Dr. Dario Vilhena.
Quando Zotinho chegou na chácara, veio a menina Escolástica, muito alegre, encontrar com ele e disse-lhe:
- Minha madrinha já está fazendo o enxoval.
A futura sogra e os cunhados receberam to Zotinho alegres e contentes. Eles estavam contando os dias para o
casamento no Rosário e só falavam no passeio. Maria veio lá de dentro, bonita e sorridente, com um vestido
xadrez azul muito bonito, que ela mesma fez, vestido este que era o mesmo que ela estava usando quando
conheceu o Zotinho.
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O CASAMENTO DE ZOTINHO E MARIA
Aos 19/09/1919 realizou-se o casamento de Sebastião Crisóstomo de Negreiros (Zotinho) com Maria de Jesus
Nogueira Negreiros, na igreja do Rosário de Dom Viçoso. A festa durou uns oito dias, como era de praxe e foi
realizada na casa do Sebastião Negreiros, pai do Zotinho, que ficava ao lado da igreja. Uns oito dias antes do
casamento Zotinho levou a sogra Dª Escolástica e filhas para o Rosário, para ajudarem na preparação da festa.
No dia do casamento a Pequenina falou com as primas: - Hoje perdi as minhas esperanças, mas depois do
casamento, o primeiro abraço no Zotinho, sou eu que vou dar.
Na igreja a Pequenina ficou perto da Goica que era minha madrinha. Quando acabou a cerimônia do casamento, a
Goica abraçou o Zotinho e o segundo abraço foi com a Pequenina, menina boa e conformada. Casou uns cinco
meses depois com um moço de Cristina, os quais tiveram muitos filhos e ela foi muito feliz também.
Zotinho e Maria foram residir nos Pintos, na casa onde morou a Dª Maria José, mãe do Zotinho. Era uma casa
confortável com água boa, um bom paiol com chiqueiro por baixo, um moinho d’água de lado, um mangueirão para
criar porcos, uma horta com jabuticabeiras e árvores frutíferas plantadas por sua santa mãe.
Geraldo Lima, que nesta ocasião era o motorista do caminhão do Zotinho e depois foi seu genro, gostava de
escrever e fez um verso para o Zotinho:
TRABALHO:
“O trabalho honrado é oração. Da oração recebemos a graça de Deus e com a
graça de Deus, nada nos faltará.”
(Zotinho)
Aos 15 anos, Zotinho comprou uma casinha na beira da estrada dos Pintos Negreiros, com dois cômodos,
armazém e balcão e começou a negociar uma dispensa sortida, para os camaradas e toda a família. Após o
casamento, ele tinha agora uma sócia, a sua esposa Maria, que sabia fazer tudo com gosto e perfeição. O
seu capital era o bom nome do seu pai Sebastião e do seu tio João do Morro, que eram seu fiadores e
conselheiros. Em pouco tempo a vendinha passou a ser um grande mercado. Êle tinha duas tropas de
burros para comprar as mercadorias, enquanto uma levava os cereais a outra trazia os mantimentos para a
venda. Zotinho trazia boas sementes, auxiliava os trabalhadores e arrumava bons preços para suas
mercadorias.
Em 1930 Sebastião Negreiros mudou para uma chácara em Passa Quatro e pediu ao seu filho Zotinho para cuidar
da fazenda e da Casa Grande, junto com seus irmãos. Havia muito trabalho a ser feito e um bom gado leiteiro para
cuidar. Perto do moinho havia um grande paiol com 600 a 800 cargueiros de milho e um chiqueiro, com uns 60
capados. Zotinho organizava a criadagem, punha o povo no trabalho, uns na lavoura, outros roçando pasto, outros
renovando as cercas e outros limpando os córregos e arrumando os bebedouros para o gado. Ele distribuía e
ensinava os trabalhos, dando emprego e ganho para muitas famílias.
Em 1931 Zotinho organizou o casamento dos dois irmãos João e José Bartolomeu, que moravam com ele na Casa
Grande. Zotinho providenciou uma casa o João e esposa Nair, outra para o José Bartolomeu e sua esposa Maria
Bustamonte morarem e abriu uma escola municipal, sendo nomeada a cunhada Maria Bustamonte como
professora.
Zotinho comprou um caminhão Ford 1928, por um conto e quinhentos, para utilizá-lo no transporte de mercadorias
e de madeira que ele vendia em São Lourenço. Chamou para ser seu chofer Geraldo Lima (seu futuro genro), um
menino de 12 anos, órfão de pai, cuja mãe morava em Itajubá. Rapaz esperto e ativo sabia guiar bem. Em pouco
tempo, com o treino de viajar por estas bibocas, sem estradas e sem recursos, ficou um bom mecânico.
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ELEIÇÃO PARA VEREADOR:
José Nogueira, moço bom, trabalhador e muito relacionado com o povo, convidou o Zotinho para ser candidato a
vereador no distrito de Rosário, em disputa com o seu tio José Bruno, que era também candidato a vereador pelo
outro partido. Zotinho consultou seu pai. Seu pai Sebastião Negreiros respondeu-lhe que seria muito difícil ele
vencer essa eleição, mas que seria uma honra, os poucos votos que ele conseguisse. Com o apoio do pai e de
toda a família, Zotinho aceitou a proposta. Teria quase um ano para trabalhar.
Chegou o dia da eleição. O avô do Zotinho (Tonico Negreiros), com mais de 80 anos, foi um dos primeiros a
chegar para votar, dizendo que o seu voto seria para o seu neto Zotinho. Foi um dia movimentado, gente para todo
o lado. O resultado da eleição foi contado voto a voto. No início da apuração Zotinho estava perdendo, mas depois
passou à frente do seu tio José Bruno. Lá pela meia noite saiu o resultado. Zotinho venceu por apenas dois votos
de diferença. Zotinho dedicou a sua vitória ao seu avô Tonico, porque se ele tivesse votado no seu filho José
Bruno, o resultado seria empate e o José Bruno, sendo mais velho, ganharia. A festa foi completa, Zotinho foi eleito
o primeiro vereador do Distrito do Rosário e o José Nogueira foi eleito o presidente da Câmara.
Logo que tomou posse, Zotinho conseguiu uma verba para fazer a estrada dos Pintos à São Lourenço. Zotinho
chamou o seu tio João da Silva Gorgulho (João do Morro), o qual em pouco tempo fez a estrada, encurtando em
quase uma légua a estrada velha.
Zotinho e José Nogueira conseguiram também uma verba para instalação de luz elétrica no Rosário.
Chamaram o Padre João Luiz Espeschit, pároco de Pouso Alto, que também era engenheiro com
especialização em águas e energia elétrica, e já havia construído, junto com seu irmão Antônio Espeschit
(que casou-se com Rita, futura cunhada do Zotinho) os sistemas de tratamento de água e esgoto, usina
hidrelétrica e iluminação pública de Pouso Alto.
O TIME DE FUTEBOL:
Nos pés do morro da Casa Grande Zotinho fez um campo de futebol e treinou um time com o pessoal dos Pintos,
que jogava com times visitantes e também jogavam fora, no Rosário, na Virginia, na Água Limpa e pela
redondeza.
Niquinho, irmão do Zotinho, assistiu o jogo Rosário x Pintos e gostou muito. Chegando em Cruzília, onde morava,
Niquinho combinou com o time de lá e mandou um ofício convidando o time dos Pintos para jogar em Cruzília.
Maria, esposa do Zotinho fez um bonito uniforme para o time. Chegando lá foram recebidos com foguetes, banda e
festa.
O time de lá era formado por bons jogadores do colégio. Os times formaram-se, o juiz apitou a saída. Logo de
início o goleiro dos Pintos fez uma bela defesa, pegou a bola virando cambota. A torcida gostou de ver e aplaudiu.
Zotinho ficou entusiasmado e gritou para o pessoal: - Segura meu povo!. O primeiro tempo terminou em zero a
zero. Iniciou o segundo tempo, jogo bonito e apertado. O jogo terminou empatado em zero a zero. Foi aquela
foguetada, a banda tocou e todos foram jantar, contentes e alegres. Passaram a noite dançando. No outro dia
almoçaram e pegaram o tope de regresso para a Casa Grande, no caminhão Ford do Zotinho.
Maria aconselhou o Zotinho a mudarem-se para os Pimentas, um bom terreno, lá no alto da serra, que foi herdado
da Dª Maria José, mãe do Zotinho.
Zotinho aceitou o conselho da esposa. Comprou por trinta mil reis uma casinha se sapé com três cômodos: uma
cozinha no meio, um quarto de um lado e um quarto e sala de entrada de outro lado. Ficava na beira do córrego da
divisa com o terreno dele.
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Zotinho e Maria ficaram ali sentados até alta hora da noite, apreciando as estrelas e a bonita lua cheia nascendo
no horizonte e olhando as crianças brincarem. Maria já tinha feito umas broas de milho, chamou todos ali na mesa
para tomar café com broa. Depois do café rezaram o terço. E foram dormir. Zotinho e Maria arrumaram a cama na
sala e as crianças no quartinho. A Glorinha, com 5 anos, acordou de madrugada, gritando para a mãe abrir a
janela. Maria correu e fez uns buracos na parede. Zotinho dormiu gostoso, pois já estava acostumado a dormir nos
ranchos com os tropeiros e boiadeiros, e naquele dia, estava com mulher e filhos.
Zotinho dizia que o melhor tempo de sua vida foi quando ele, sua dedicada esposa Maria e seus oito filhos, ainda
crianças, moraram nos Pimentas Nas residências onde eles moravam, sempre houve uma calorosa tradição de
amor hospitaleiro, cultivado por eles, que sempre acolhiam as visitas com muito carinho e amor cristão. A casa nos
Pimentas era simples, sem muito conforto, coberta de sapê, que depois foi feita uma maior, mas a harmonia e a
alegria que reinava ali naquele lar era tanta, que recebiam visitas todos os dias. Maria punha fogo no forno que era
feito de cupim e esquentava que era uma beleza. Assava quitanda, rosca da rainha, pão de milho, broinha de fubá,
porco, cabrito, galinha e muitos outros assados deliciosos. Zotinho e Maria ficavam muito satisfeitos em receberem
as visitas e amparavam com amor e alegria todos que ali chegavam. A parentada toda gostava de visitar e passar
dias na casa do Zotinho e Maria.
Maria e Zotinho tinham muita fé em Deus e amor e caridade para com o próximo, tudo faziam para agradar a seu
semelhante. Os parentes e amigos sempre o visitavam e eram muito bem recebidos. Uma ocasião chegou muita
gente para visitá-los e como não havia mais mantimentos na despensa, Maria perguntou ao Zotinho o que fariam e
ele respondeu: - Põe mais água no feijão, onde comem dois, comem três.
E todos comiam e ainda sobrava. Zotinho dizia que a água que a esposa botava no feijão era igual a das Bodas de
Canaan.
O lar de Maria e Zotinho era simples, sem muito conforto, mas a harmonia e a alegria que reinava ali era tanta, que
chegavam visitas quase todos os dias e todos que lá chegavam eram bem recebidos, com amor e alegria.
Todos ficavam admirados com o amor, respeito, afeto e dedicação que Vô Zotinho e Vó Maria tinham um pelo
outro. Zotinho chegava cansado do trabalho, Maria lhe preparava o banho e servia-lhe o jantar. Ambos oravam em
ação de graças.
Em uma visita de Rita Vilhena à casa da Maria, as duas conversavam:
- Eu fico admirada Maria e gosto de ver você e o Zotinho como se dão bem e como se respeitam, pois eu nunca vi
nenhum de vocês proferirem palavrões ou falar alto com o outro.
- Olha Ita, eu e o Zotinho vivemos unidos em um só corpo e uma só alma, quer na dor ou na alegria.
- Então Maria, vocês vão partir o queijo lá no céu!
Maria fazia o serviço da casa e cuidava dos filhos, com todo o carinho. Uma noite, Maria enquanto contava
histórias bíblicas para os filhos, respondia perguntas dos filhos. Glorinha (Tigró), então com seis anos, perguntou:
- Mamãe, o que é operário?
- O seu pai é um operário e patrão, ele trabalha para nos sustentar, é o cabeça da casa, é o responsável pela
lavoura, pela tropa de burros e pela serraria.
- Mamãe, e a Senhora o que é?
- Eu sou a serva do Senhor e a companheira do seu pai para o ajudar no trabalho cotidiano e unidos carregarmos
nossa cruz.
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MUDANÇA PARA POUSO ALTO:
Após o casamento da filha Maria Isabel (Bebé) com o Sr. José Capistrano de Paiva, com residência em Pouso
Alto, Zotinho resolveu também mudar-se para lá, para ficar mais perto da filha Isabel e também porque é a terra
natal de sua esposa Maria, que iria ficar perto de sua mãe, irmãos e demais parentes.
Zotinho, com quase 50 anos de idade, era a primeira vez que saía de mudança dos Pintos. Ia contente e satisfeito
por ver a alegria da família. Ele também, desde pequenininho, lidava em Pouso Alto, e conhecia muita gente de lá.
Zotinho pediu para o Joaquim Mendes ir na frente, juntamente com as meninas e seguiu atrás com a Maria,
carregando o Arimathéia. Na passagem da cidade, ao escurecer, Zotinho lembrou de quando São José foi para o
Egito, vendo sua esposa como Nossa Senhora, carregando o Menino Jesus no colo.
Chegamos lá, Zotinho e Maria já acharam tudo arrumado e a janta feita pelas meninas que chegaram mais cedo.
No ano de 1961, Maria, com seu coração manso e humilde, disse ao Zotinho: - Meu velho, minhas forças estão
cada vez mais diminuindo. Parece que os remédios receitados pelo Niquinho não estão fazendo mais efeito, estou
perdendo as esperanças de alcançar com vida a ordenação de nosso filho José.
Zotinho, conhecendo bem sua esposa, sabia que se ela abria a boca para pronunciar uma queixa é porque era
verdade. O Niquinho já o havia prevenido que o estado de saúde dela era grave.
Bebé e Zeca Paiva ofereceram a casa em Pouso Alto para Zotinho e Maria lá morarem, para que ela pudesse
melhor se cuidar. Eles agradeceram e mudaram-se para Pouso Alto, acompanhados da Alaíde e filhos. Na casa da
Ponte do Carmo ficaram a Glorinha (Tigró), que cuidava do gado e da lavoura e a Zuza, que era a professora da
Escola.
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CARTA DE JOSÉ ARIMATHÉIA NEGREIROS A SUA MÃE
A partir de setembro de 1960, comecei a receber noticias entrecortadas sobre o estado de saúde de minha mãe.
No início não liguei muito, mas no dia 7/12/60, recebi uma carta que não deixava dúvida: sua doença era grave.
Logo a seguir, escrevi-lhe dizendo que ficava triste, mas também consolado.
“É sempre uma alegria que sinto quando recebo cartas daí. Mas, desta vez, fiquei bastante preocupado por causa
do estado de saúde da senhora. Realmente, existem problemas que desgostam na vida. Mas, para nós cristãos,
estes problemas não devem existir. Não digo isto apenas para consolo, mas esta é a verdade. Tudo o que
acontece na nossa vida tem um significado, em tudo está a mão bondosa de Deus. A doença da senhora me
entristece sim, mas deve consolar-nos também. Toda a vida a senhora foi dedicada ao serviço de Deus, numa
forma perfeita da qual eu e todos nós somos testemunhas. Portanto, temos motivos de sobra para alegrarmo-nos
com a vontade de Deus que deseja ainda acrescentar estes méritos grandíssimos do sofrimento ao grande
cabedal de merecimentos que a senhora já conquistou. “
Falei depois sobre o Corpo Místico de Cristo e o valor de nossas orações sobre a união com Cristo na Eucaristia,
penhor de vida eterna e portanto, de despreocupação quanto ao futuro. Ainda falei da intenção de começar
amanhã, festa da Imaculada Conceição, uma novena em seu intento. No dia seguinte (8/12/60), acrescentei uma
folha à carta do dia anterior:
“Hoje comecei a novena a Nossa Senhora pelo restabelecimento da senhora. Creio firmemente que Nosso Senhor
Jesus Cristo e Nossa Senhora farão esta obra, para eles tão simples. Hoje, de tarde, fui à igreja de Santa Maria
Maior, a igreja mais importante do mundo dedicada a Nossa Senhora. A função foi celebrada pelo próprio Papa
João XXIII. Ele fez um belíssimo sermão , no fim do qual dirigiu uma oração a Nossa Senhora pedindo a proteção
dEla sobre todos os cristãos, crianças, velhos e doentes. Eu ia repetindo mentalmente as suas súplicas e as
aplicava à senhora, não por causa dos meus méritos, mas porque eu rezava junto com o Papa. No final, o Santo
Padre aplicou a benção a todos os presentes e a todos os nossos parentes ausentes, principalmente aos doentes.
E quando a recebia, pensava na senhora. Saí da igreja com a certeza de que a senhora estivesse passando bem.
Hoje, dia da Imaculada Conceição de Maria, é impossível que Ela não escute uma oração feita na Sua igreja
principal, em companhia do Vigário de Seu Filho na terra...”
Fonte: Livro “Oh Felix Culpa” de José Arimathéia Negreiros
Ordenação do Padre José de Arimathéia Negreiros e celebração da primeira missa em Pouso Alro
Zotinho e Maria receberam uma correspondência de Roma que trazia a participação que o Padre José de
Arimathéa havia se ordenado sacerdote barnabita na Igreja de São Pedro em Roma: “Recordando minha
ordenação ao sacerdócio e primeira missa, Padre José de Arimathéa Negreiros – Roma, 16 e 17 de junho de
1962. Junto veio um canudo de papel, trazendo a benção do Papa com indulgências para a hora da morte, para
meus pais: Sebastião Crisóstomo. de Negreiros e Maria de Jesús Nogueira de Negreiros e para os irmãs do Padre
José e seus esposo. O Sr. Paiva foi um dos primeiros que pegou a benção do Papa e ficou tão contente, que
levou-a e sentou-se no banco da praça em frente a sua casa e mostrava-a para todos seus amigos e parentes,
com muita alegria e satisfação.
Junto, vieram também de Roma, os convites para a 1ª missa do Padre Arimathéa aqui no Brasil, na sua terra natal.
O Padre nasceu nos Pintos dos Negreiros, mas foi criado em Pouso Alto, terra de sua mãe Maria.
Sua mãe, já estava morando em Pouso Alto há quatro anos, milagrosamente, esperando pelo filho padre.
Padre Paulo falou com ela: - Façam os convites que a festa eu farei tudo por minha conta.
Padre Arimathéa veio de avião para São Lourenço na véspera da festa e pousou na casa de sua tia Carmita.
Padre Paulo pediu a todos os paroquianos que tivessem carro, para irem encontrar no Triângulo. Zotinho pediu
para o Vicente Paiva buscar o Padre José, porque foi ele que o levou para o Colégio em Caxambu, há 15 anos
atrás. Vicente foi com a sua Kombi e trouxe o Padre José e a família do primeiro afilhado do Zotinho, O Gabriel
Gorgulho, com sua esposa e 10 filhos.
No dia 22 de julho de 1962 chegou em Pouso Alto o Padre José de Arimathéia Negreiros, para celebrar a sua
primeira missa no Brasil. Foi recebido com um festão organizado pelo reverendíssimo Padre Paulo.
Padre José chegou em uma comitiva de muitos carros, todos buzinando e aclamando-o. Zotinho e Maria
esperavam-no sentados em frente à Farmácia Paiva.
Quando repicou os sinos da Igreja e pipocou a foguetada, a banda do Sr. José Maestro tocou o Capitão Caçula,
que sempre era tocada nas ocasiões festivas, As duas praças de Pouso Alto estavam cheias de gente e o povo
cantando com a banda: “Nós somos da Pátria amada, fiéis soldados, por ela amados. Nas cores da nossa farda,
rebrilha a glória, surge a vitória ...”
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Cerimônia de ordenação do Padre José de Arimathéia Negreiros (Tio Zé) em Roma, em 17/06/1962.
Chegou o Padre José de Arimathéa, alegre e sorridente. Abraçou os pais, cumprimentou ao Sr. Paiva, suas irmãs,
tios e com um aceno todo o povo da praça. Sentou-se em uma cadeira, no meio dos seus pais.
No salão de festas do Grupo Escolar foi representado pelos sobrinhos do Padre Zé, uma peça teatral contando a
vida do nosso Tio Zé. A peça foi produzida e dirigida pela minha irmã Zélia. Todos gostaram e aplaudiram de pé.
Zotinho, Maria, Tio Zé e suas irmãs choraram de alegria. Zeca Paiva e Bebé também ficaram muito emocionados,
pois foi ali naquele mesmo palco há 23 anos atrás, na ocasião que Sebastião Negreiros (pai do Zotinho), filhas e
netos representaram um drama bíblico, foi naquele dia que nasceu o amor entre os dois e agora, eles estavam
presenciando a peça representando a história de nossa família, contracenada pelos frutos do abençoado amor
iniciado ali naquele teatro.
Depois do teatro houve os discursos e os retratistas tirando fotos.
Todos foram então para a Igreja, que encheu, com o povo vindo de todos os lados. Vieram umas 40 pessoas dos
Pintos, terra natal do Zotinho, em um caminhão cedido pela Prefeitura de Pouso Alto.
Todos ficaram admirados da calma e satisfação da Maria, que encontrava-se doente. Ela, ao lado do Zotinho,
comungou na mão do filho padre. De vez em quando tinha que enxugar as lágrimas. Apresentava um sorriso
tranqüilo e a face serena, estampando o equilíbrio da presença de Deus. Um caboclo disse: - Não comparando,
mais parecia uma santa.
Padre Zé recebeu muitos presentes. Lembro-me de um que veio de Maringá, Paraná: o paramento completo que
ele celebrou sua primeira missa, mandado pelos meus dois genros: Geraldo e Chiquinho. Padre Zé trouxe da Itália
também muitas novidades e presentes: uns santinhos redondos com imã para pregar em carros. Ele presenteou
quase todos que tinham automóveis.
Além de outros mais ele trouxe para a sua mãe uma bonita caixinha com espelho, dava-se corda e tocava-se uma
bonita música: “Arrivederte Roma”. Levaram a dita cuja para o Joaquim Lúcio, meu cunhado mais velho, doente de
cama, mas sempre brincalhão. Pegou a caixinha, olhou o espelho e disse: - O Papa até que é simpático e moço.
O pessoal achou graça, pois o Papa era ele no espelho.
Depois Padre Zé foi celebrar a missa nos Pintos, sua terra natal. Lá também houve uma grande festança. Zotinho
foi com o Padre Paulo, que fez um lindo sermão elogiando o Padre Zé, filho daquele lugar tão lindo. Desta vez o
banquete foi na casa do João Negreiros, irmão do Zotinho.
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Quem fez a saudação das boas vindas ao Padre Zé foi o Silvestre Gorgulho, seminarista em Belo Horizonte com o
Padre João Parreira. Ele é filho de Miguel Gorgulho e Amélia Gorgulho. Falou também o prefeito de Maria da Fé.
O Padre Zé foi para a Igreja celebrar.
De tarde, Zotinho e Padre Zé deixaram o povo comendo e foram para Pouso Alto, pois as moças e rapazes
ficaram lá para o baile. Chegaram alta hora da noite e encontraram Maria na cama com o terço na mão, acordada
à espera deles. Padre Zé recostou-se nos pés da cama da sua mãe e conversando com ela contou a viagem e a
festa nos Pintos. Ali amanheceram.
Zotinho e Maria, na primeira missa do filho Padre José Arimathéia, em 22 de junho de 1962.
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14 OS FILHOS DE SEBASTIÃO CRISÓSTOMO (VOVÔ ZOTINHO) E MARIA DE
JESÚS (VOVÓ MARIA)
Sebastião Crisóstomo de Negreiros (Vovô Zotinho) e Maria de Jesus Nogueira Negreiros (Vovó Maria)
tiveram oito filhos: Maria Alaíde, Maria Isabel (Bebé), Maria Auxiliadora (Dorinha), Maria Tereza (Terezinha), Maria
da Glória (Tigró), Maria de Jesús (Zuza), Iolanda (Landinha) e José Arimathéa (tio Zé).
Alaíde, Dorinha, Vovó Maria, Terezinha, Vovô Zotinho, Dorinha, Terezinha, José Arimathéia,
Zotinho e José Arimathéia Alaíde, Glorinha (Tigró) e Landinha
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14.1 Maria Alaíde Negreiros Arruda
NAMORO E CASAMENTO:
Alaíde foi lecionar na Ponte do Carmo, à convite do Dr. Silvio, prefeito de Pouso Alto. Ela ficava com o Gabriel
Gorgulho, na casinha da escola, para lá do pontilhão. Mais para cá, na Fazendinha, moravam os dois irmãos
Nhonhô e Caio e a prima Marica, que foi criada com eles desde pequena. Todos os três eram solteirões.
Gostavam muito do gênio alegre da Alaíde. Davam leite, todo dia, à vontade, para ela, e muitas frutas: goiabas,
laranjas, etc. Alaíde ia sempre jogar víspora lá. Ia com o Gabriel e o Sr. Costa, que era agente aqui na Estação.
Logo depois o Gabriel mudou-se para Cristina. Alaíde levava uma das irmãs ou o José Arimathéia para
companhia.
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Sr. Caio gostava de passear com ela na linha, em frente à casinha. Um dia, conversando com o Zotinho, Caio
perguntou-lhe: - Posso ir lá conversar com Alaíde?
- Perfeitamente Sr. Caio, conheço o Sr. e minha filha. Que o Sr. seja o protetor dela aí.
Caio, homem bom e caridoso, rico e humilde. É filho do Dr. Albertino, médico da Marinha, neto do Barão de Pouso
Alto. Foi criado no Rio de Janeiro. Com a morte do pai, vieram o três irmãos morar na fazenda da Ponte do Carmo.
Caio cantava muito bem. Muito educado e alegre, gostava de contar anedotas e piadas engraçadas. Todos
gostavam muito dele.
Um dia, chegando na Chácara do Zotinho, em Pouso Alto, ele foi entrando e falando:
- Estou muito acostumado com a Alaíde e gosto dela. Vim pedi-la em casamento. Quero me casar com ela.
Zotinho chamou a Maria e a Alaíde e elas combinaram o casamento.
Alaíde falando com ele sobre religião, ele disse:
- Para mim todas as religiões são boas. Eu sei que sou batizado.
Alaíde foi com o Caio à igreja para ele confessar e fazer a primeira comunhão. Caio saiu alegre e satisfeito do
confessionário, gostou muito da confissão. Cumpriu a penitencia e no outro dia comungou com muita devoção.
Casaram na igreja de Pouso Alto e os noivos e convidados foram almoçar na Chácara Santa Cruz, residência do
Zotinho e família. De tarde, no mesmo dia, embarcaram para o Rio.
FALECIMENTO DO CAIO:
Caio ficou doente, mas continuava sempre alegre e cantando. Tomava alguns remédios em São Lourenço e com o
tempo a doença foi se agravando. Os médicos mandaram-no para o Rio. Alaíde deixou os dois filhos pequenos
com a Sá Marica e foi com ele. Ficou no hospital quase dois meses em tratamento, com problema de uréia. Os
médicos puseram uma sonda na cintura dele e um vidro para tirar a urina. Tomava muito remédio e uma dieta
rigorosa. Falaram que depois que ele melhorasse, que voltasse para ser operado.
Caio sempre alegre, participava do jogo de víspora na fazendinha, os parentes e vizinhos passavam um bom
pedaço da noite reunidos. Numa das noites, terminado o jogo na Fazendinha, o Caio pegou o violão e cantaram o
“O moirão da porteira”. Foram deitar. De madrugada ele levantou-se. Alaíde perguntou o que ele ia fazer e ele
disse: - Vou tomar água.
Ele foi calçar o chinelo e caiu na cama. Alaíde gritou o Nhonhô e Sá Marica. Quando chegaram, Caio já estava
morto. Morreu como um passarinho, como diz o povo.
Caio faleceu em 24 de janeiro de 1953 e foi enterrado no cemitério de Pouso Alto.
Zotinho vendeu sua chácara em Pouso Alto e veio de mudança para a Ponte do Carmo, com sua esposa Maria e
as filhas Glorinha e Zuza, para ajudarem Alaíde a cuidar da fazenda que ela e os filhos herdaram após o
falecimento do Caio.
As irmãs Terezinha, Landinha, Alaíde e Maria Isabel Os filhos Zezinho e Albertino com Alaíde, no seu
(Bebé) na festa 80 anos da Alaíde em 07/07/2000. aniversário de 90 anos.
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FILHOS E NETOS:
Alaíde e Caio tiveram dois filhos: José Joaquim Negreiros Arruda (Zezinho) e Albertino Raimundo Negreiros
Arruda.
1º) José Joaquim Negreiros Arruda (Zezinho) casou com sua prima Olga Negreiros de Lima, tendo seis filhos:
Caio, Erick, José (Arrudinha), Rafael, Isabele e Gabriel.
2º) Albertino Raimundo Negreiros Arruda casou com Deise de Araújo Tito, tendo dois filhos: Renata e Alex.
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14.2 Maria Isabel Negreiros Paiva (Bebé, minha mãe)
José Bruno (tio do Zotinho) e sua esposa Marica, já com idades avançadas, ficaram doentes, ele com
impureza no sangue e ela com fraqueza no pulmão. As suas filhas já estavam casadas, menos uma, a
Lourdinha, que era surda e necessitava cuidados. José Bruno pediu ao sobrinho Zotinho se ele teria alguém
que pudesse ajudá-los. Zotinho perguntou a sua esposa Maria se poderia mandar uma de suas filhas para
cuidar do tio José Bruno. Maria perguntou se não seria arriscado a sua filha se contaminar com a doença
deles. Zotinho retrucou: - Não Maria, Deus é quem guarda.
Assim, a Maria Isabel (Bebé), com apenas 12 anos, foi para cuidar deles. Por muito tempo Bebé foi a dona
da casa do tio Zé Bruno, ela era a enfermeira, a cozinheira, a arrumadeira, a lavadeira e a pagem. O tio José
Bruno pagava-lhe bem e ela dava o dinheiro para os seus pais, para ajudar nas despesas da casa. Depois
de algum tempo, o Antônio Bruno, o único filho do tio José Bruno, casou-se com Aparecida, filha do Tonico
Ribeiro, o maior fazendeiro do Rosário. Bebé morou por uns tempos na casa dele, como pagem de suas três
filhas.
O CONVENTO:
Bebé pediu consentimento aos pais para ir para o convento, porque ela queria ser freira. Embora muito a contra-
gosto, Zotinho e Maria concordaram. Zotinho respondeu a sua filha:
- Isabel minha filha, nós concordamos com sua vontade, eu e sua mãe te abençoamos. Porém, garanto-lhe que
uma boa esposa e boa mãe têm o mesmo merecimento de uma esposa de Cristo presa em um convento.
O trabalho honrado é oração e através da oração recebemos a graça de Deus e com a graça de Deus, nada nos
falta.
Bebé partiu para o convento em São Lourenço. Os seus pais e suas irmãs choravam sua ausência em casa.
No convento, Bebé ficou doente e foi chamado o farmacêutico Sr. Atílio. Ele receitou à Madre Superiora, que para
o restabelecimento da Maria Isabel, ela deveria passar uma temporada em uma região de clima bom, indicando os
Pintos Negreiros, sua terra natal, onde moravam seus pais, irmãos e demais parentes. Todos deram aleluias à
volta da Bebé para casa. E não se falou mais em convento.
CASAMENTO DE MARIA ISABEL NEGREIROS E JOSÉ CAPISTRANO DE PAIVA: ver no item 7.2
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FALECIMENTO DE MARIA ISABEL (BEBÉ) E DE SEU FILHO PADRE FERNANDO:
Em 30/05/2005, minha santa mãe Maria Isabel (Bebé) dormiu e acordou no Céu.
Em 04/09/2005, Seu filho e companheiro inseparável, nosso querido e santo Padre Fernando, foi ao seu encontro
(versão de José Nilton, o autor)
Mamãe é mais uma santa no céu, e realmente é o que ela é, todos nós
que vivemos na graça de Deus somos santos.
(Padre Fernando)
Meu aniversário, no dia 29/05/2005, passei com minha mãe, no seu último dia de vida.
Mamãe estava adoentada e de cama, mas com esforço, de manhã, ela levantou-se e com passos lentos,
amparada pela Márcia, caminhou em direção da cozinha, parando para ler em voz baixa uma oração à
Nossa Senhora, que estava pregada na parede do corredor. Neste momento eu cheguei, segurei-lhe sua
mão, e também acompanhei a leitura da linda oração. Ela sorriu para mim, apertando minha mão.
Ela comemorou comigo e minhas irmãs, cantando os parabéns e brindou com um copo de guaraná,
desejando-me muitas felicidades. Apesar de seu olhar triste, demonstrava alegria, com aquele seu sorriso
meigo e carinhoso que lhe era peculiar.
Mamãe sempre teve muita saúde e nunca se queixou de doença em toda sua vida. Mesmo no último dia de
sua vida, muito doente, ainda assim demonstrava alegria, talvez para não nos preocupar.
Após passar algum tempo na cozinha e pouco se alimentar, foi para sua cama. À tarde, mesmo sem forças,
fez questão de levantar-se, não conseguindo, caiu ao pé da cama. Sem queixar-se de nada, ainda riu dessa
situação e fez questão de tomar banho, amparada pelas filhas.
Nós estávamos felizes, achando que ela estava melhorando, mas creio eu, ela estava se despedindo.
Ela conversou ao telefone com os filhos e fez questão de tomar seu último banho, para se preparar e ficar
pronta para sua partida ao céu.
À meia noite, seu filho Padre Fernando ligou, como de praxe, e após conversar com a mamãe ele pediu a
sua benção. Ela o abençoou e por sua vez, também lhe pediu sua benção, como padre. Padre Fernando
deu-lhe a benção completa: - Deus te abençôe, em nome do Pai, Filho e Espírito Santo, Amém. Descanse
em Paz!
Nesta noite, mamãe dormiu serenamente e acordou no Paraíso, junto à Deus, Nossa Senhora, anjos e
santos.
Cerca de três meses depois, em 04/09/05, nosso querido Padre. Fernando, quando subia as escadarias
para celebrar missa na igreja de Nossa Senhora. da Penna em Jacarepaguá – Rio de janeiro, teve um
infarto fulminante e foi fazer companhia para a mamãe, e juntos, estão agora, olhando por nós, não mais
em oração, mas intercedendo diretamente à Deus e Nossa Senhora, na Casa Celestial.
Nossa família nunca será a mesma depois da partida de nossa querida Dª Bebé e saudoso Padre Fernando,
que sempre recebiam a todos com alegria, carinho e muita bondade e amor no coração. Mas sabemos
também que eles não gostavam de tristezas e que cumpriram suas missões aqui na terra demonstrando e
nos ensinando o valor da fé, da esperança, da caridade, da fraternidade e do amor em Deus e ao próximo.
Mamãe e Fernando estão em seus merecidos e especiais lugares no céu, junto a Deus e nossos familiares
que lá se encontram, olhando e intercedendo por nós, para que sejamos sempre bons e tenhamos uma vida
plena, santa e feliz, até que um dia novamente nos encontremos no céu.
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Padre Fernando e sua mãe Maria Isabel (Bebé)
Acometido por mal súbito faleceu no dia 04 de setembro de 2005, Pe. Fernando Negreiros de Paiva.
De fala mansa, sua qualidade característica era a bondade. Pe. Fernando, o bom, era o que se ouvia pela
Paróquia.
Nasceu em Pouso Alto, sul de Minas Gerais, em 07 de julho de 1944, um dos 18 filhos de Maria Izabel
Negreiros de Paiva e José Capistrano de Paiva.
De família muito piedosa acompanhava sempre a mãe à igreja e participava da Missa diariamente. Com 11
anos ingressou no Seminário em Caxambu, aos 17 anos veio para Jacarepaguá, onde fez o Noviciado.
Em 1965 foi para Roma, onde estudou Teologia e foi ordenado em 1968. Sua 1ª Missa foi na capital italiana,
a 2ª foi na cidade natal de sua mãe, a cidade de Pintos Negreiros.
Trabalhou em 1970, na Paróquia de Santo Antônio Maria Zaccaria, no Tanque, juntamente com Pe.
Ambrósio.
Em 1972 esteve no Rio Grande do Sul e em 1988 na Paróquia de São Paulo Apóstolo, em Copacabana.
Em 1989 veio para a Paróquia de N.Sra. de Loreto, até 1992, quando foi chamado para Belo Horizonte,
onde permaneceu no serviço da Congregação.
Fonte: Editorial de “O Mensageiro” Edição de Outubro/2005
Dia 04 de setembro, às 18:40h, nossa comunidade passou por mais um momento difícil, mais uma perda,
mais uma despedida.
Pe. Fernando, homem simples, humano e dedicado ao seu ministério apostólico, dava-se sem medidas, não
existia hora do dia e da noite em que ele não estivesse disponível para quem solicitasse seu atendimento.
Ele nos ensinou muito como Barnabita, a viver a pobreza e a vida de oração. Desprendido, despojado ao
extremo. Tudo que possuía era também do próximo. Sua simplicidade não era falta de cultura, muito pelo
contrário, pois além dos seus estudos de Filosofia e Teologia feitos na Itália, era também pedagogo e falava
fluentemente o italiano, o francês e o latim. Daí podemos perceber que era um homem culto.
Pe. Fernando foi meu formador no Seminário, juntamente com Pe. Luiz Fernando e outros. Nosso professor
de latim e francês, posso dizer do fundo do meu coração, que de todos os meus confrades barnabitas,
ninguém viveu ou vive a pobreza, com tanta intensidade como ele a viveu.
Foi amigo dos pobres, sem medida. Quantas vezes foi incompreendido por causa das suas atitudes.
Algumas vezes tirava de casa para dar aos outros. Sempre com um sorriso sereno e um olhar confiante na
Providência Divina.
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Onde estava, havia sempre pessoas privilegiadas. Pedia sempre para que as pessoas fizessem o bem pelo
próximo. Às vezes até "desobedecia" aos seus superiores para proteger os empobrecidos. Devotíssimo de
Nossa Senhora, acompanhava os casais das equipes de Nossa Senhora.
Confesso que no dia em que fui com os seminaristas arrumar o seu quarto, vimos o exemplo de um
barnabita pobre para os pobres.
No dia 04 de setembro, Pe. Fernando subia para a igreja de N. Sra. da Penna, com a intenção de
concelebrar com Pe. Henrique, mas neste dia, Nosso Senhor tinha reservado para ele, não a subida à
Penna, mas a subida ao céu, portanto, não foi Pe. Fernando que subiu à Penna, mas Nossa Senhora da
Penna que veio até ele, para levá-lo ao céu.
Que Deus seja louvado, irmão, por tudo que fez por nós e por todos aqueles que Deus lhe confiou.
Fino a quando eu viver você estará presente no meu coração e nas minhas orações.
Pe. Francisco Noronha Cintra (Pároco)
Fonte: “O Mensageiro” Edição de Outubro/2005 – Paróquia N.Sra. do Loreto – Jacarepaguá - Rio de Janeiro
Site: http://www.loreto.org.br/out2005_falecimento.asp
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FILHOS E NETOS:
Maria Isabel Negreiros de Paiva e José Capistrano de Paiva tiveram nove filhos: Zélia, Fernando, Sebastião,
Evaldo, Márcia, Marilda, José Nilton, Edmar e Maria José.
1º) Zélia Negreiros de Paiva casou com Vito Elias Martins, tendo cinco filhos: Vitor Elias (Vitinho), Vilmar,
Vilker, Vilmara e Vilciléia;
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3º) Sebastião Negreiros de Paiva casou com Margarida Maria de Oliveira, tendo três filhos: Flávia, Claudia
e Luiz Fernando;
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4º) Evaldo Negreiros de Paiva, com Maria Helena, teve uma filha Lina Audrey e com Ayla Patrícia
Bitencourt, teve dois filhos: Miguel e Rafael.
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6º) Marilda Negreiros de Paiva
7º) José Nilton de Paiva casou com Elisabete Péres Queiroz, tendo uma filha: Joselisa;
Joselisa, José Nilton e Elisabete, uma homenagem ao tempo dos barões, de nossos antepassados.
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8º) Edmar Negreiros de Paiva casou com Fátima Campos Alves, tendo um filho: Daniel;
9º) Maria José Negreiros de Paiva casou com Nilton Pereira tendo um filho: Pedro José.
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14.3 Maria Auxiliadora (Dorinha) Negreiros Lima
Em 05 de julho de 1923 nasceu Maria Auxiliadora (Dorinha), a terceira filha de Maria de Jesus Nogueira e
Sebastião Crisóstomo de Negreiros (Zotinho).
Dorinha foi examinada pela irmã do prefeito, que fazia as perguntas, ela
: ia respondendo tudo e confirmando com um sorriso. O prefeito disse: -
Este teu sorriso, menina, vale dez. Dorinha foi para os Pintos, lá com a
Carmita e lecionou uns seis meses lá.
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DORINHA E FILHOS NA PONTE DO CARMO:
Dorinha e filhos moraram um tempo na Ponte do Carmo, de jul/1959 a dez/1960. A sua volta a Londrina, foi
registrada no Diário da Tigró, abaixo transcrito:
Hoje, ultimo dia do ano, tenho que agradecer milhares de graças que recebi durante todo o ano. Não tenho
palavras, mas meu coração sabe sentir e em tudo ver o dedo do Criador e nosso Redentor que nos conforta nas
horas de angústia, nunca nos dá sofrimento sem recompensa, a dor conta os segundos, a felicidade esquece as
horas. Eu, graças a Deus, devo me julgar a criatura mais feliz, pela bondade e os belos exemplos de meus
queridos pais.
Dorinha partiu no trem das 9:00 horas. Levou oito filhos. As quatro meninas ficaram para estudar em Campanha.
Eu fiz tudo para ver se não chorava, mas na hora da despedida, não pude conter as lágrimas quando o papai
abençoou a Dorinha dizendo: - No céu e na terra, louvemos a Deus. Vai minha filha, junto ao teu marido. É seu
dever. Vai e cumpre a sua missão de esposa e mãe cristã, que Deus te abençoe.
Papai fez silêncio e mamãe tomou a palavra: - Minha filha, nós vamos sentir muita falta de você e das crianças,
mas o dever te chama. Vai com Deus, nas minhas orações você será sempre lembrada.
E daí o pranto foi geral. A mamãe, quando o Arimatéia partiu para a Itália ela não chorou. Foi forte e despediu-se
do filho dizendo: - Vai contente meu filho, que eu também fico muito alegre.
Mas agora, coitada, talvez por estar doente e pensar que talvez despeça da filha sem esperança de encontrá-la
mais. Isso não podemos afirmar, mas Deus sabe o que faz.
O certo é que a Dorinha já foi. Como passou depressa um ano e meio. Como está triste agora sem a Dorinha
rodeada de gentinha, que estou “turtuviada”, sem assunto, sem jeito até de trabalhar por toda a Providência.
Enxergo a mana e as crianças lá do lado que fica a casinha de sapé onde ela morou.
Eu daqui de casa, da horta ou do arrozal sempre acompanhava o que se passava lá. O alvoroço das crianças, ela
lavando roupa na bica de água cristalina. Eu vou custar muito para esquecer do tempinho que a mana morou aqui.
Seja feita a vontade de Deus.
O dia hoje passou igualzinho eu. De vez em quando o sol mostrava a cara e de repente “embruscava” e a água
derramava. Eu também, fazendo um grande esforço, fazia cara de alegre e enxugava as lágrimas quando entrava
no quarto do papai e mamãe, que estão também bombardiados. Eu estou com os olhos tão inchados e o nariz
vermelho que nem pude ir a missa da meia noite. A Zuza foi com os meninos. Yolanda chegou aqui no trem da
noite. Foi boa a presença dela e das filhinhas. Alivia um pouco a falta da Dorinha. Agora a pouco rezamos o terço
em família. No fim o papai rezou meio engasgado, três Aves Maria por intenção da turma, para eles fazerem uma
boa viagem.
Eu sou muito manhosa. Acho que nunca passei uma noite de insônia, mas hoje acho que vai ser difícil. O sono
sumiu, pois já são 22:00 horas. O papai está com o rádio ligado e vai esperar a meia-noite para ouvir a missa de
passagem de ano. Eu também quero ouvi-la, vai ser na rádio Aparecida. Vai ser irradiado a benção do Papa João
XXIII para todo o mundo.
Bem, tenho que parar de papear, pois esta é a última folha desse caderno e o último dia do ano. A meia noite está
chegando e eu quero preparar o coração para receber Jesus e começar bem o Ano Novo. Amanhã, primeiro
domingo do ano e do mês. Não posso deixar de ir à missa. Meu Jesus, eu me ofereço toda a Vós, meus olhos,
meus ouvidos, minha boca, meu coração, inteiramente todo meu ser. Guardai-me e defendei-me de todo o mal,
para que nunca possa ofender-vos.
Até o Próximo Ano.
Desde segunda até sábado estive ajudando a Dorinha a preparar os meninos para a Primeira Comunhão.
Eles receberam Jesus pela primeira vez num dia muito bonito: no primeiro domingo de junho e também do Divino
Espírito Santo. Como o dia da Primeira Comunhão nunca deve ser esquecido, eu preparei uma festinha para
esperar mamãe, Dorinha e os meninos, que foram de véspera para a cidade e vieram depois da missa. Quando
aqui chegaram, a mesa já estava posta e nós, com satisfação, sentamos à mesa: mamãe, Dorinha e os 12 filhos,
Zuza e eu. Papai e Alaíde não tomaram parte porque foram à missa das 10 horas e não deu para chegarem a
tempo.
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FILHOS E NETOS:
Maria Auxiliadora (Dorinha) Negreiros e Geraldo Lima tiveram catorze filhos: Abgail, Júlia, Neuza, Olga, Maria
Isabel, Francisco, Geraldo, Cláudio, Silvia, Joana D’Arque, Maria José, Estevão, Luiz Eugênio e Soraia.
- Abgail Negreiros de Lima casou com Antonio Magno Nogueira Espeschit, tendo seis filhos: Antonio Magno
(Toni, o 1º neto do Zotinho), Guilherme, Luciene, Érika, Raquel e Mônica;
- Júlia Negreiros de Lima casou com Eurídice Takarara, tendo três filhos: Cristiane, Eurídice Júnior e Letícia;
- Neusa Negreiros de Lima casou com Takeshi Otsuka, tendo dois filhos: Carolina e Jaqueline;
- Olga Negreiros de Lima casou com seu primo José Joaquim (Zezinho) Negreiros Arruda, tendo seis filhos: Caio,
Erick, José (Arrudinha), Rafael, Isabele e Gabriel;
- Maria Isabel Negreiros de Lima casou com Gilberto Navolar, tendo três filhos: Henrique, Daniela e Alexandre;
- Francisco Negreiros Lima casou com os filhos Francisco Júnior e Andréa;
- Geraldo Negreiros de Lima;
- Cláudio Negreiros de Lima;
- Silvia Imaculada Negreiros de Lima casou com Pedro de Oliveira, tendo três filhos: Silvia Regina, André e
Rodrigo;
- Joana D’Arque Negreiros de Lima;
- Maria José Negreiros de Lima casou com Diógenes Martins, tendo os filhos Ricardo e Gabriela;
- Estevão Negreiros de Lima;
- Luis Eugênio Negreiros de Lima;
- Soraia Negreiros de Lima casou com Sebastião, tendo os filhos Suelen e Mateus.
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Aniversário 80 anos de Dorinha. Ao fundo as
irmãs Terezinha, Alaíde e Maria Isabel (Bebé). Aniversário de 84 anos: Dorinha e Silvia
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14.4 Terezinha Negreiros Pereira
FILHOS:
Terezinha Negreiros Lima e Francisco Pereira tiveram onze filhos: Marcelo, Marcos, Marcio, Magno, Mário, Mauro,
Maria de Fátima, Moacir, Marcílio, Milton e Margareth.
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14.5 Maria da Glória (Tigró) Negreiros Nogueira
Tigró era maravilhosa, a tia que nos acolhia com muito carinho, fazia a comida gostosa, um franguinho caipira de
dar água na boca até hoje, nos servia a todos e sempre oferecia mais um pouquinho. Pra finalizar o dia, contava os
causos reunidos na cozinha, fazendo todos rirem e depois ainda puxava o terço contemplando muito bem os
mistérios. Obrigado Tigró! (José Joaquim Negreiros Arruda)
O DIÁRIO DA TIGRÓ:
Tigró escrevia um diário, descrevendo com detalhes o cotidiano de sua vida e da família, cuja leitura nos trás
muitas recordações. Transcrevo abaixo uma página do seu diário, quando ela comprou dois alqueires de terra,
onde ela fez uma horta e um pomar, nomeando-o de Sítio da Providência.
Acabo de receber uma grande graça da Sagrada Família e todos os Santos, graça que venho pedindo e rezando
há quase 10 anos. Eu estava com 12 anos, quando mudamos para Pouso Alto. Saí dos Pintos Negreiros, terra
onde nasci e passei toda a minha infância. Que tempo bom foi aquele. Morei 10 anos em Pouso Alto na Chácara
Santa Cruz, também não foi muito ruim. Lá se realizou o casamento das minhas três irmãs mais velhas, uma já era
casada. Restavam dos filhos do Zotinho e Maria, quatro solteiros: eu, mais duas irmãs e um irmãozinho caçula,
que futuramente será um padre.
Minha irmã mais velha, casada com um fazendeiro, ficou viúva com dois filhos pequenos. Recebeu de herança do
marido uma fazendinha. Então o papai vendeu a Chácara e viemos morar aqui com ela. Há quase dez anos
estamos residindo na sua propriedade. Está muito bom. Todos trabalham para beneficiar a fazendinha dela.
Mas eu, que sou solteirona e não pretendo me casar, pedi a Nossa Senhora, que me ajudasse a comprar um
pedacinho de terra para que com meu esforço e trabalho, fizesse o lar mais querido de todos. E hoje, que dia cheio
de graça, recebi a escritura do terreno. Oh, que felicidade, que alegria, meu Deus!
Hoje foi o primeiro dia que contemplei e admirei com grande satisfação o meu pedacinho de terra, o qual dei o
nome de Providência. É em gratidão a Nossa Senhora. Na horta passo grande parte do meu tempo fazendo
plantações de verduras, legumes, pomar e arvoredos. Faço isto todos os dias com muito prazer, ainda mais agora,
que tenho nas mãos a escritura, farei com mais gosto.
Hoje, trabalhando na horta, junto com minhas manas Zuza e Dorinha fizemos a colheita de batata doce, tiramos
batata de três quilos, preparamos dez canteiros e os enchemos de alface, chicória e acelga. Nisto chegou a Alaíde
que comentou que está ficando bonita a horta. Respondi-lhe:
- Leva um pouco para o almoço. A Providência é minha, mas o uso e fruto é da humanidade!
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À tarde fui cuidar das plantações no Cafundó. Lá é o lugar onde fizemos a plantação de fumo, em uma grota e um
bachadão. É o melhor terreno da fazendinha para lavoura. Na solidão e o silêncio em que eu me encontrava, então
pude contemplar a beleza da natureza: a linda lavoura de fumo, as verdejantes montanhas, a água brotando na
pedreira, o céu azul de um sol de estio, o cantar dos pássaros, como é bela a natureza!
De repente, para quebrar o silêncio, ouvi lá de longe a voz de meu pai que vinha montado no seu cavalo baio e um
bonito cão o acompanhava, trazendo as vacas para o pasto bom e também trouxe café. Ambos sentamos à
sombra de uma grande árvore, à beira de um córrego e saboriamos o lanche. Que delicia, café com leite e bolo de
fubá com amendoim. Conversando com o papai, ele me disse que está muito bonito o Fumar. Deus ajuda quem
trabalha. O tesouro está na terra e o trabalho é oração!
Fonte: Diário da Tigró. Disponível no livro Autobiografia do Vovô Zotinho, site www.espeschit.com.br/books
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14.7 Yolanda Negreiros Nogueira
Casamento de Yolanda Negreiros e José Ferreira Nogueira (transcrição da Autobiografia do Vovô Zotinho)
Em 03 de janeiro de 1954 casou-se a minha filha mais nova Yolanda Negreiros, com José Ferreira Nogueira, do
município de Virgínia, família dos Gonçalves. O casamento foi feito na igreja de Pouso Alto, pelo padre Hélvio.
Teve um jantar na casa da minha filha Isabel (Bebé).
Minha esposa Maria foi uma semana antes para a casa da Bebé, para ajudar nos preparativos da festa.
Donana, irmã da Maria, também ajudou muito. Fizeram rosca da rainha, bolos, sequilhos, doces e muitas outras
iguarias. Foi servido um café com muita fartura para todos os convidados e um jantar para a família. Dormiu muita
gente na casa do Sr. Paiva. Bebé disse: - Fiquem à vontade, faz de conta que a casa é de vocês.
Na tarde do mesmo dia os recém-casados foram para São Lourenço em lua de mel. Vieram morar comigo na
Ponte do Carmo. Fiz uma casa para eles no Cafundó, perto do retiro. José Ferreira, moço criado na fazenda e no
trabalho, sabia fazer qualquer serviço. Tomava conta do retiro e ajudava a Alaíde a tirar o leite. Hoje moram na
casa que foi minha, na beira da linha, perto do pontilhão. São vizinhos comigo, que moro na Estação de Américo
Lobo, com duas filhas solteiras: Zuza e Glorinha.
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Landinha, José Ferreira, Zuza, Cristina e Zélia
FILHOS E NETOS:
Yolanda (Landinha) Negreiros Nogueira e José Ferreira Nogueira tiveram oito filhos:
- Maria Salete Negreiros Nogueira casou com Vicente de Castro, tendo três filhas: Juliana, Luciana e Jovana;
- Maria de Fátima Negreiros Nogueira casou com Joaquim Mattos (Nino), tendo um filho: Felipe José.
- Terezinha de Jesus Negreiros Nogueira casou com Edson Paulo Rosa, tendo três filhos: Edson, Érika e Ellen;
- Geraldo Ferreira Nogueira casou com Carla Mara Rangel de Oliveira, tendo três filhos: Geisa, Geovana e
Gesiel;
- Eliana Maria Negreiros Nogueira casou com José Antonio Ferreira Chinait, tendo três filhas: Joseana, Tatiana
Maria e Natália de Fátima;
- Márcia Negreiros Nogueira com Acácio Mendes de Andrade, teve uma filha: Anete e com Sebastião César
Araújo, teve dois filhos: Antonio José e Aline;
- Maria Clara Negreiros Nogueira casou com Luiz Paulo Caetano, tendo três filhas: Paula, Maíra e Cinthia;
- Maria Cristina Negreiros Nogueira casou Rubens Ferreira Gondim, tendo três filhos: Ítalo, Lívia Yolanda e Isaac
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Juliana, Luciana, Jovana Cinthia, Paula, Clara, Ítalo
Jovana e filhas
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14.8 José Arimathéia Negreiros
NASCIMENTO E BATIZADO:
Carmita convidou a Maria e as meninas para irem assistir o
catecismo da tia Imaculada no domingo de manhã..
Maria, que já estava com nove meses de gravidez. Lá pelas 9
horas da manhã Maria voltou com a Sra. Ritinha. Fez o almoço e
um chá, bebeu e foi para a cama. Zotinho achou que era
cansaço de viagem e não se preocupou. Daí a pouco Maria o
chamou no quarto e o rapazinho já tinha nascido e choramingou.
Zotinho limpou a boquinha dele, olhou para ele e falou: - É
homem o diabinho. E Maria disse:
- Ah, Zotinho, não fala assim não!
Zotinho chamou a Sra. Ritinha para vir cuidar dela. Mais tarde
chegou a tia Imaculada e a Goica. Maria era muito estimada por
todos. No outro dia era visita de todos os lados: do alto da serra,
da canela da vargem, algumas de longe e do Rosário.
Zotinho providenciou o batizado. Convidou para padrinho o José
Gorgulho. No domingo seguinte Maria já estava de pé e
preparou um jantar para os padrinhos e convidados. Zotinho e
Maria, família e convidados foram batizar o menino no Rosário.
O batismo foi as 2 horas da tarde. Jantaram e beberam vinho.
Zotinho e seu filho José Arimathéia O chá dançante foi lá na casa da tia Imaculada.
INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA:
Quando era pequeno, as meninas brincavam de coroação, com o Arimathéia, embaixo do guatambu. Quando as
meninas saíam para o terreiro, ele queria ir com elas no guatambu. A primeira palavra que ele falou foi: - “Vo no
bu”. Quando ele começou a engatinhar, descia a porta da cozinha e ia no córrego de aguar a horta. Lá, ele
sentava, deitava na areias e gritava: - Hoi, hoi, hoi ! Alaíde corria, trazia ele e o punha na bacia de água morna.
Ele gostava, e quando tirava ele ficava bravo. Alaíde o embrulhava, punha-o na cama e ele dormia.
José de Arimathéa, com 5 anos, tinha um cachorro branco, pintado de preto, que era o seu companheiro para
brincar na grama em frente a janela do meu quarto. Ele deitava junto com o cachorro e rolava para lá e para cá. O
cachorro saía e depois vinha de carreira saltando em cima dele. Ele levantava, o cachorro pegava por trás na
bunda dele e ele puxava para frente. O cachorro tinha mais força que ele e o puxava para trás.
Chegava um pretinho, filho do Barra Mansa, pouco maior que ele e chamava:
- “Bamo nada Zé”?
Arimathéa falava:
- Espera aí, vou falar com a mamãe.
Maria não gostava que ele fosse nadar. Ele vinha e pedia para o Zotinho, mas voltava e falava com a mãe:
- O papai deixou mãe.
Ela dizia: - Então vai.
Com 10 anos, tirou o diploma no Grupo. Ele queria estudar para padre. Zotinho procurou saber no seminário de
Campanha, mas disseram que naquele ano não tinha mais vaga.
Nas festas juninas o padre Hélvio convidou o Padre Pedro, da congregação Barnabita de Caxambu, para vir ajudar
nas confissões em Pouso Alto. Maria, conversando com o padre Pedro, mostrou o Zé, que queria ser padre.
Ele disse: - Nós temos o colégio em Caxambu, vou conversar com o diretor e mandarei o estatuto.
Passado uns dias Zotinho recebeu uma carta do Padre Sisnando, o diretor do colégio. Mandou o estatuto e disse
que podia mandar menino e que faria o que puder por ele. No estatuto dizia o que precisava e a disciplina do
colégio. Não tinha férias. Pedia um atestado de boa conduta.
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Zotinho falou com o seu filho Zé: - Vamos deixar para o ano?
Zé falou: - Ah, papai, é melhor eu ir agora, ao menos eu aproveito este resto de ano para fazer o admissão.
Zotinho gostou da resolução do menino e falou com a Maria: - Arruma a mala para ele ir.
No outro dia o Padre Hélvio levou o Zé para o colégio em Caxambu.
Zotinho falou para seu filho: - O que você for precisando lá, você me peça.
Na volta o Padre Hélvio trouxe uma bonita carta do padre diretor para o Zotinho que dizia:
- Acabo de receber o seu menino. Tive ótima impressão dele. Respondeu minhas perguntas com clareza e
firmeza.
A carta dizia ainda para o Zotinho assinar um documento que dizia:
- Dou, com toda satisfação e alegria, o meu filho para ser padre. Até a 4ª série do ginásio eu ajudaria no que
pudesse e da 4ª série em diante, as despesas correriam por conta da congregação.
José Arimathéia passou três anos sem ir na sua casa, mas todos os domingos escrevia uma carta para os pais.
Fez admissão no final do ano e entrou para o 1º colegial. Até no meio do 1º ano ele foi muito apertado, mas depois
ele pegou o quadro de honra e foi até o fim em 1º e 2º lugares.
No ano de 1958, José Arimathéia passou uns dias na casa de seus pais para despedir-se da família e partir para
terminar os seus estudos em Roma, na Itália, onde iria passar quatro anos, para se ordenar Padre.
Ele embarcou ali mesmo no Carmo, na Estação de Américo Lobo, rumo ao Rio para viajar de navio para Roma.
Não foi fácil para os pais Zotinho e Maria e para suas irmãs a ausência do Zé, o único filho, o caçula. Mas para
consolo, ele sempre escrevia preciosas cartas, portadora de boas noticias, a cada 15 dias.
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CASAMENTO E FILHOS:
José de Arimathéia Negreiros casou com Lélia Avelino, tendo três filhas:
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