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RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo discutir conceito de racionalidade e de sua contextuali-
o conceito de racionalização no pensamento zação histórica e social. Ainda, o artigo expõe a
sociológico de Max Weber. Considerado como ambigüidade do conceito, mostrando os diversos
um conceito-chave para a compreensão de sua sentidos que o mesmo adquiriu ao longo das di-
sociologia, procurou-se descrevê-lo na amplitude versas abordagens empreendidas pelo autor, bem
de suas características, relacionando-o com o como seu caráter dual.
PALAVRAS-CHAVE
sociologia
teoria social
racionalização
racionalidade
Max Weber
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as esferas da vida: a cultura, a sexualidade e a própria personalidade, tanto quanto
1
a produção, a guerra, o direito e a administração . Nesse sentido,
a racionalização tem sido a força decisiva no mundo moderno. O seu
progresso no âmbito da conduta, da empresa, da organização, da tecno-
logia, da lei e da ciência tem resultado no profundo desencantamento do
cosmos que caracteriza a nossa época (Benjamin 1976: 117).
É essa última definição geral do conceito que vai estabelecer as bases teóricas e
conceituais do fenômeno em toda a sua totalidade e, através da qual emerge a ten-
tativa de sistematização proposta por Max Weber ao longo de toda a sua obra.
Com a intenção de trazer essa proposta à luz do debate, este artigo tem como
objetivo discorrer sobre esse conceito na concepção do pensamento social de
Max Weber, uma vez que, na obra desse autor, a racionalização ocupa um lugar
central, sendo, portanto, um dos conceitos mais importantes para a compreensão
de sua sociologia.
Para tal, faremos uma exposição e contextualização do desenvolvimento do
conceito na teoria desenvolvida pelo autor. Na primeira parte do artigo, explicita-
mos o caráter ambíguo e controverso do conceito, isto é, como ele assume diversos
sentidos ou significados ao longo de sua obra, bem como o seu desenvolvimento no
âmbito do conjunto de pensamento desenvolvido por Max Weber, relacionando-o
com a idéia de racionalidade e a sua aplicação na interpretação do desenvolvimento
da moderna sociedade ocidental. Por fim, nas duas últimas partes do texto, faremos
uma exposição acerca do caráter dual do conceito, mostrando a forma como o autor
vê o desenvolvimento da racionalização no desenvolvimento da moderna sociedade
ocidental sob o prisma de dois pólos distintos, simultâneos e opostos: tanto como
um desenvolvimento positivo ou racional – a racionalização positiva -, quanto um
desenvolvimento racional negativo ou irracional – a racionalização negativa.
1
Para um maior aprofundamento acerca da concepção geral da racionalização na sociologia,
veja-se: Weber 1987; Weber 1984; Gerth & Mills 1974; Brady 1933; Fourgeaud 1929; Brubaker
1984; Habermas 1984; Horkheimer 1976; Levine 1985.
Dada a larga amplitude conceitual que esse termo assume, Weber o utilizou
em variados e diferentes contextos, além de ser discutido e apresentado em vários
de seus trabalhos e em diversas épocas (Cf. Weber 1987; 1974d; 1974c; 1964; 1958;
1995; 1984; 1968). Segundo o autor, o conceito de racionalização apresenta seis
características fundamentais que guardam uma relação direta com suas idéias
sobre o processo global de desenvolvimento histórico e são entendidos como:
a) o desenvolvimento inerente ao processo de civilização e da sociedade ocidental;
b) a tensão sobre o conteúdo racional da vida cotidiana; c) o amplo uso do cálculo
racional como uma estratégia da ação social; d) a libertação da ação social de todo e
qualquer pensamento mágico; e) a ênfase em uma orientação prática para a realidade
empírica; f) o uso difundido de raciocínio técnico e processual como um modo de
controle prático dos resultados e de padronização da vida cotidiana (Weber 1987).
Desse modo, Weber fez uso do termo para descrever o processo pelo qual a
natureza, a sociedade e a ação individual são crescentemente enquadradas por uma
orientação voltada para o planejamento, o procedimento técnico e a ação racional.
Ele acreditava que, muito mais do que outras sociedades, a sociedade ocidental
refletia a tendência da racionalização em seu sistema – político, científico, legal e
comercial -, o que a fez despontar no mundo como uma sociedade moderna.
O conceito weberiano de racionalização, todavia, recorre a duas tendências do
desenvolvimento histórico: A primeira delas é a tendência dos processos sociais e
históricos em tornarem-se cada vez mais confiantes no cálculo e no conhecimento
técnico de modo a obter controle sobre o mundo natural e social. A segunda se
O CONCEITO DE RACIONALIZAÇÃO NO PENSAMENTO SOCIAL DE MAX WEBER – Luís Antônio Cardoso 259
refere à tendência da ação humana em libertá-la de sua dependência do pensamen-
to mágico como forma de compreender o mundo, estabelecendo uma confiança
contraposta àquilo que é imediatamente dado na realidade empírica.
Assim, “a racionalização constituiu-se como um processo dependente das
estratégias de ação social e dos ajustes dos meios e fins da ação na consecução
dos objetivos (Weber 1984: 3-30).
Em relação a essas estratégias de ação social, elas constituem-se como outro ponto
bastante importante na teoria de Weber para a compreensão dessa teoria histórica.
Ele as descreve como a capacidade dos atores de escolher entre os meios e os fins de
uma ação e de exercer sua escolha racional (Ibidem). Esse tipo de racionalidade pode
dar-se de dois modos: uma racionalidade subjetiva, que se refere ao grau de avaliação
interna que o ator introjeta cognitivamente antes do ato, e uma racionalidade objetiva,
que se refere ao grau de incorporação da ação de princípios racionais pela adesão às
regras formais ou a cálculos específicos dos meios e fins. Desse modo ele idealiza as
ações em torno de quatro tipos-ideais, cuja principal função vai residir na diferenciação
em relação aos graus de racionalidade e significado inerentes aos seus diferentes tipos
de orientação, que são assim entendidos:
a) o primeiro tipo é descrito como a ação tradicional. Nesse tipo de ação o ator
reage de forma automática ao estímulo habitual, o qual guia o comportamento
a um rumo que é repetidamente seguido (Ibidem). Para proceder nessa ação, de
acordo com Weber, não é necessário ao ator imaginar um objetivo, delimitar um
resultado ou mesmo estar consciente dos compromissos para com os valores.
Ações desse tipo são orientadas por um conjunto de crenças tradicionais que agem
como imperativos morais ante o julgamento do ator. Ainda conforme percebe o
autor, a ação cotidiana enquadra-se nesse tipo, uma vez que seus meios e os fins
são determinados pelos costumes. Esse tipo de ação caracteriza-se por uma falta
de critérios de avaliação e por uma não orientação racional aos meios e fins;
b) o segundo tipo refere-se à ação afetiva. Nessa, o ator é diretamente motiva-
do por uma resposta emocional imposta pelo seu estado mental. Tal como a ação
tradicional, essa ação afetiva não é orientada a um objetivo específico ou valor, mas
representa uma expressão do estado emocional do ator em dada circunstância. Assim,
carece de uma orientação racional e renuncia ao equilíbrio entre os meios e os fins.
Tal como a ação tradicional, nessa o comportamento afetivo puro encontra-se no
limite do que é considerado como uma ação plena de sentido e é irracional, uma
vez que é incontrolável e carece de uma avaliação interna (Ibidem);
c) um terceiro tipo de ação discutida é a ação racional em relação aos valores,
ação racional orientada aos valores (wertrational). De modo contrário às duas pri-
meiras que se caracterizam por sua não-racionalidade, essa assume uma orientação
O CONCEITO DE RACIONALIZAÇÃO NO PENSAMENTO SOCIAL DE MAX WEBER – Luís Antônio Cardoso 261
dessas duas dimensões contidas em uma decisão como forma de garantir a consistência
do resultado e a eficiência na persecução dos objetivos. Uma vez que a racionalidade
formal impõe a ordem no mundo através de um sistema de mensuração e cálculo, ela
adere às normas da contabilidade econômica, proficiência e eficácia prática. Assim,
esta racionalidade cria uma orientação para a ação acentuando a estrita aderência às
medidas de custo efetivo e consideração formal dos meios e fins;
b) a segunda, a racionalidade substantiva, foi utilizada para designar o grau
pelo qual uma ação é moldada por uma orientação a valores, independentemente
da natureza dos fins ou do resultado da ação (Ibidem). De modo contrário à
racionalidade formal, esta racionalidade não é ligada a critérios puramente for-
mais de decisão nem por uma orientação de se alcançar os objetivos por padrões
calculáveis, mas por valores que são moldados por normas éticas ou padrões
igualitários. Assim, expressa-se por diferentes formas de escalas de valores e
sempre abarca considerações de justiça social, padrões éticos e uma relação
com a eqüidade social (Ibidem). Uma vez que a racionalidade formal baseia sua
orientação para a decisão ligada às normas de eficiência e de custos práticos, a
racionalidade substantiva é baseada no conteúdo qualitativo dos julgamentos,
que estão ligados a critérios estéticos ou não-estéticos. Weber acreditava que
esses dois tipos de racionalidade caracterizavam-se por serem opostos entre si,
e que a racionalidade substantiva via a racionalidade formal como uma inimiga
de seu próprio propósito (Ibidem);
c) a terceira forma de racionalidade discutida por Weber constituiu-se como
a racionalidade prática. Essa se refere à forma de olhar para o mundo na qual é
acreditado que o sentido da ação reside na sua função ou utilidade. Nesse sentido,
o significado e a validade última da ação são acreditados por existir exclusivamente
dentro de uma ordem técnica (Ibidem). No conjunto dessa racionalidade prática,
todos os meios de obter fins desejados são vistos como técnicas ou estratégias
muito antes do que sistemas de valores, os quais se inserem como padrões éticos
ou critérios de ação (Ibidem). Essa racionalidade postula que o resultado das ações
não é afetado por causas místicas a ela externas, porém percebe a realidade em
termos do que é empiricamente dado. Assim, a ação é empreendida por causa da
ordem técnica e os resultados são medidos pelos esforços em termos de benefícios
práticos e recompensas econômicas. Uma vez que o significado da ação reside na
ordem técnica, ela resiste contra qualquer orientação ativa para a abstração e fora
da atitude prática da vida cotidiana ou de alguma ordem transcendental. Tal como
vista por Gerth e Mills, ela marca o fim de qualquer metafísica na vida cotidiana e
baseia-se na rejeição de interpretações religiosas ou filosóficas de ambos os meios
e fins (Cf. Gerth & Mills 1974: 293);
2
Para uma ampla discussão deste conceito na obra de Weber, veja-se Pierucci (2003).
3
Johann Christoph Friedrich von Schiller nasceu 10 de Novembro de 1759 em Marbach, e faleceu
em 9 de Maio de 1805 em Weimar. Mais conhecido como Friedrich Schiller, foi poeta, dramaturgo,
filósofo e historiador alemão que, juntamente com Goethe, foi um dos líderes do movimento
literário romântico alemão “Sturm und Drang” (tempestade e ímpeto ou, alternativamente,
tempestade e paixão). Este último, por sua vez, foi um movimento literário romântico alemão
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do mágico, do mítico e do transcendental nas relações que os indivíduos mantêm
com a natureza, vai se transformar no mecanismo impulsionador do mercado e
do comércio racional, bem como também da ciência racional (Cf. Pierucci 2003;
MacRae 1988; Koch 1993; Ghosh 1994; Gerth & Mills 1974).
Segundo nossa interpretação, esse progresso racional vai se dividir em duas
fases distintas, que ele as denomina, a primeira, de fase do desencantamento ou
da racionalização positiva e, a posterior, de fase da jaula de ferro ou da raciona-
lização negativa (Cf. Gerth & Mills 1974).
A RACIONALIZAÇÃO POSITIVA
que atingiu o seu auge entre a década de 60 e a década de 90 do século XVIII e que abominava
o “desencanto” que o Iluminismo do século XVIII trouxera ao mundo cultural europeu. O Ilumi-
nismo enfatizava a ciência, o racionalismo, a tecnologia e o progresso. Os românticos alemães, de
modo diverso, preferiram exaltar a natureza e o sentimento. O Iluminismo trouxera a descrença
na Igreja e a secularização, tal como ficou expresso na célebre fórmula de Kant: “Sapere Aude”
– pensa pela tua cabeça ou, mais propriamente, “ousa saber”. O Romantismo, em contrapartida
(mesmo em reação) buscava valorizar a religião, toda espécie de crenças populares, mitologias
gregas, germânicas, nórdicas, e bruxarias. Em suma, este movimento fez a apologia ao gênio, à
liberdade individual sem limites e ao amor impetuoso, dando primazia ao sentimento face à razão
Iluminista. Para um maior aprofundamento, veja-se Cavalcanti (1993); Barbosa (2004).
O CONCEITO DE RACIONALIZAÇÃO NO PENSAMENTO SOCIAL DE MAX WEBER – Luís Antônio Cardoso 265
Somente a ética do protestantismo ascético produziu uma unidade fun-
damentada, sistemática e integra de uma vocação intramundana com a
garantia da salvação religiosa. Esse ascetismo intramundano tem uma série
de características e conseqüências próprias que não são encontradas em
nenhuma outra religião. Ela exigiu de seu seguidor não o celibato, como no
caso do monge, mas a eliminação de todo o prazer erótico ou desejo; não
a pobreza, mas a eliminação de todo o prazer ocioso da riqueza imerecida
e da renda, e a vacância de toda a ostentação feudalística da riqueza; não
a morte-em-vida ascética do claustro, mas um alerta, a conduta da vida
racionalmente controlada e a vacância, a total rendição à beleza do mundo,
à arte, ou aos humores e emoções de outrem. O objetivo claro e uniforme
desse ascetismo deu-se com a organização da conduta de modo disciplina-
dor e metódico. Seu típico representante foi o ‘homem da vocação’ [Beru-
fsmensch]; e seu resultado específico foi a organização funcional e racional
das relações sociais (Cf. Weber 1984: 556 apud Habermas 1984: 173).
A RACIONALIZAÇÃO NEGATIVA
Já no outro pólo de sua teoria da racionalização, a qual ele define como racionalização
4
negativa encontramos a metáfora da jaula de ferro (stahlhartes Gehäuse) . Esta se
4
Desde as últimas décadas do Século XX um movimento de autores neo-weberianos anglo-
fônicos, notadamente norte-americanos e europeus, tem divergido com relação ao uso do
termo iron cage para expressar a tradução da expressão original de Max Weber stahlhartes
Gehäuse, utilizada nas duas versões originais de 1905 e 1920, de Die protestantische Ethik
und der ‘Geist’ des Kapitalismus. De fato a expressão iron cage, como tradução de stahlhaltes
Gehäuse, foi utilizada pela primeira vez em 1930, por Talcott Parsons, quando da primeira
tradução para a língua inglesa, do segundo manuscrito original de Weber, editado em 1920.
O CONCEITO DE RACIONALIZAÇÃO NO PENSAMENTO SOCIAL DE MAX WEBER – Luís Antônio Cardoso 267
constitui como um símbolo da modernidade, revelando a face negativa do processo
de racionalização: a irracionalidade da racionalidade, expressa pelo enclausuramen-
to do homem pela sua própria força libertadora. Tal como observou,
o puritano queria tornar-se um profissional, e todos tiveram que segui-lo.
Pois quando o ascetismo foi levado para fora dos mosteiros e transferido
para a vida profissional, passando a influenciar a moralidade secular, fê-lo
contribuindo poderosamente para a formação da moderna ordem econômica
e técnica ligada à produção em série através da máquina, que atualmente
determina de maneira violenta o estilo de vida de todo o indivíduo nascido
sob esse sistema, e não apenas daqueles diretamente atingidos pela aquisição
econômica, e, quem sabe, o determinará até que a última tonelada de com-
bustível tiver sido gasta. De acordo com a opinião de Baxter preocupações
pelos bens materiais somente poderiam vestir os ombros do santo ‘como um
tênue manto, do qual a toda hora se pudesse despir’. O destino iria fazer com
5
que o manto se transformasse numa prisão de ferro (Weber 1987: 130-1).
Desde então o termo iron cage tem sido utilizado como referência para a tradução da expressão
alemã stahlhartes Gehäuse nas diversas línguas nas quais a obra de Weber tem sido proposta,
apesar da grande dificuldade em se achar termo análogo, diferente daquele proposto por Par-
sons. Na língua francesa, visivelmente referenciado em Talcott Parsons, o tradutor Jacques
Chavi propôs em 1964 o termo francofônico cage d’acier. No Brasil, tal realidade não seria
tão diferente da anglofônica, e os tradutores de Max Weber, M. Irene de Q. F. Szmrecsányi,
Tamás J. M. K. Szmrecsányi, na edição brasileira da Ética Protestante, pela Editora Pioneira,
fizeram opção em utilizar o termo prisão de ferro no universo lusofônico. Notadamente, é
possível encontrar em outros autores brasileiros a expressão jaula de ferro, como tradução
da expressão original. Em língua inglesa, a divergência quanto à tradução do termo seria
maior e mais polêmica. Arthur Mintzman (1970), ao traduzir Max Weber, propõe a expressão
housing hard as steel. Ampliando a controvérsia, o tradutor Eric Mathews, em coletânea de W.
G. Runciman (1978) propõe a expressão casing as hard as steel. Mais hodiernamente, Peter
Baehr (2001), ao contextualizar a dificuldade de tradução do termo Gehäuse para a língua
inglesa, bem como os possíveis desvios cometidos por Talcott Parsons quando da tradução
pioneira, vai propor o uso da expressão shell as hard as steel, como uma apropriação mais
contemporânea e melhor adequada às idéias originais de Weber. Seguindo este movimento
internacional, Pierucci (2004) amplia este debate da tradução da stahlhartes Gehäuse em
língua portuguesa, no Brasil e, em obra inédita, em nova tradução por ele dirigida, propõe
o termo rija crosta de aço. Em nosso texto, ora apresentado, optamos por manter o termo
jaula de ferro, fiel à tradição inaugurada por Talcott Parsons e utilizada em vários escritos
no Brasil. Para um maior aprofundamento acerca desta polêmica da tradução de stahlhartes
Gehäuse, veja-se: Baehr 2001; Mitzman 1970; Runciman 1978; Weber 2004.
5
É interessante notar que na edição brasileira citada, isto é, da Editora Pioneira, os tradutores
brasileiros M. Irene de Q. F. Szmrecsányi, Tamás J. M. K. Szmrecsányi fazem opção em
utilizar o termo prisão de ferro ao invés de jaula de ferro, para a expressão parsoniana iron
cage ou para a expressão weberiana original stahlhaltes Gehäuse.
O CONCEITO DE RACIONALIZAÇÃO NO PENSAMENTO SOCIAL DE MAX WEBER – Luís Antônio Cardoso 269
burocracia (juizes, funcionários, oficiais, capatazes, empregados, subo-
ficiais, etc...) obedece ou a cujo chamado atende; ao aparato igualmente
característico de todas aquelas formações e cuja existência e função estão
ligadas de modo indissolúvel, tanto como causa quanto como efeito, àquela
‘concentração dos meios materiais de exploração’ ou, o que é mais, cuja
forma constitui. ‘Socialização’ crescente significa hoje, inexoravelmente,
burocratização crescente. Também historicamente, o ‘progresso’ perante
o burocrático, perante o Estado que julga e administra de acordo com um
direito estatuído e a regulamentos concebidos racionalmente, está inti-
mamente ligado com o desenvolvimento capitalista moderno. A empresa
capitalista moderna permanece internamente ligada ao cálculo. Necessita
para sua existência uma justiça e uma administração cujo funcionamento
pode ser racionalmente calculado, pelo menos em princípio, por normas
fixas gerais com tanta exatidão tal como se pode calcular o provável ren-
dimento de uma máquina (Weber 1984: 1062-3).
O CONCEITO DE RACIONALIZAÇÃO NO PENSAMENTO SOCIAL DE MAX WEBER – Luís Antônio Cardoso 271
forma de organização burocrática já fosse encontrada em países asiáticos, tais como
a China e a Índia antigas, ele entendia de esse conceito de burocracia era igualmente
aplicável – ou mesmo demonstrável historicamente – às empresas ocidentais que
perseguiam objetivos privados, ideais e materiais, tais como o Estado, as grandes
empresas capitalistas, os partidos e mesmo as outras de ordem religiosa.
A concepção weberiana de burocracia corresponderia a uma forma de orga-
nização e de gestão da produção que se estende a todas as formas de organização
moderna e que integra a dimensão da racionalização sobre a esfera do trabalho.
Para ele, esse tipo de administração representa o tipo puro da dominação legal ou
racional e, também, representa a forma mais justa e a mais eficaz de dominação ou de
autoridade. Em outras palavras, ela apresenta-se como o instrumento de excelência
da ação racional, com uma dominação de tipo niveladora, plutocrática e impessoal,
cujas características ou traços distintivos foram assim expressos: a) seus membros
ou funcionários constituem-se como profissionais, qualificados, recrutados e remu-
nerados para o exercício de funções específicas do modo de dominação; b) cada um
desses membros ocupa um emprego ou posição definida em uma hierarquia de status;
c) o poder é fundado sobre a competência e não pelo costume ou pela força; d) o
funcionamento burocrático inscreve-se num modelo de regulamentação impessoal,
no qual se abdica da arbitrariedade, do clientelismo ou de decisões não fundadas na
razão do direito; e) a execução prática das tarefas é dividida em funções especializadas
com contornos metodicamente definidos; f) o comando e o controle são atividades
garantidas pela existência de uma hierarquia, e; g) o encarreiramento é regulado
por critérios objetivos, tais como a antigüidade, a qualificação e a competência, com
vistas à limitação de favoritismos pessoais (Weber 1984).
Em linhas gerais, a burocratização permite que a esfera da produção econô-
mica capitalista se organize com o auxílio de empresários orientados pelo cálculo
racional e que a esfera da administração pública se organize burocraticamente,
com o auxílio de funcionários especializados com base em sua formação jurídica
(Anstalt), o que permite a essas organizações desenvolver um alto grau de espe-
cialização em seu interior e de autonomia em relação a seu exterior.
Isto posto, Weber percebe que a autonomização dos subsistemas de ação ra-
cional com respeito a fins representa uma ameaça para a liberdade dos indivíduos.
Assim, a burocracia, na medida em que ela se constitui como um sistema que se
orienta e se expande com base em uma racionalidade de tipo instrumental, ela
encerra em si essa ameaça do enclausuramento e da perda da liberdade.
Segundo Weber, este seria o preço a ser pago pelo progresso advindo com
a racionalização: um mundo desencantado, sem liberdade, uma jaula de ferro e
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nalization in the sociology of Max Weber. Known Finally, we discuss the ambiguity of the concept,
as a key-concept to the understanding of his sociol- exposing the different meanings acquired in the
ogy, we describe it considering the amplitude of its different approaches developed by the author, as
characteristics, the connections with the concept well as its dual character.
KEY WORDS
Sociology
Social Theory
Rationalization
Rationality
Max Weber
RECEBIDO EM
setembro de 2007
APROVADO EM
dezembro de 2008
O CONCEITO DE RACIONALIZAÇÃO NO PENSAMENTO SOCIAL DE MAX WEBER – Luís Antônio Cardoso 275