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O
santuários, embora encontrar, em torno de uma única terra, por uns cha-
construído no século grandeza da construção problemática, sempre foi mada de Israel, por outros de Palestina. Paradoxo trági-
X ii.C., original. Nos primeiros bastante boa. Em 1928,
co e ambivalência do sionismcyslanejaclp no Ocidente
Instomunhava o esplendor e tempos de suas profecias, porém, o Grande Mufti
o poder do antigo reino de Maomé orientava as preces decide realizar uma como libertação da opressãoyanti-semjtã^ ele se reali-
Israel. O recinto mais de seus fiéis na direção de ampliação na mesquita que zará no Oriente como uma empreitada colonialista.
Interno deste lugar sagrado Jerusalém. Foi lá que, exigiria fazer uma abertura Para além de todas as justificativas e de todos os
abrigava o Santo dos segundo o Corão, o Profeta no Muro. Diante desta erros cometidos de ambas as partes,
Santos, considerado o realizou sua misteriosa provocação, os incidentes do OrientejyiédiQ-Q-Confjj_to sejgsume_aestg_dadp_fy.r>,
centro do Universo, onde viagem noturna. No primeiro se multiplicam. Em agosto rlampntal- jajTpjipaçãn pfptiva, simbólica e política por
repousavam as Tábuas da século do calendário de 1929, uma manifestação
Lei que Deus deu a Moisés muçulmano, em 687 d.C., o de defesa organizada pela yiQJaLuJ2P_, humano de um território lá habitado jx>r
no monte Sinai. Apenas o califa omeíada Abd al-Malik Haganá deflagra uma série outro grupo humano.
Sumo Sacerdote podia construiu sobre os de revoltas e massacres.
penetrar neste recinto uma fundamentos do templo o Esta é a origem da primeira As origens do sionismo
vez por ano, no Dia do Haram al-Sharif, composto revolta árabe generalizada É no século XIX, num contexto onde aparentemente
Perdão (Yom Kippur). O pelo Domo do Rochedo e no território do mandato da Construídp_emJ>87jsobre
triunfam as exigências de justiça e de igualdade para
templo foi destruído pelos pela mesquita de al-Aksa, Palestina. Com a tomada de as fundacçe&jlq Ternplo de
Jerusalém oriental em todos os cidadãos, que nasce o ideal sionista de
Jerusalém, o Domo do
1967, a "libertação do "saída" da Europa e de reagrupamento dos judeus na Rochedo, também chamado
Muro" foi para todos os Palestina. Moisés Hess (1812-1875), Leon Pinsker Mesquita de Ornar, é um
israelenses um símbolo da (1821-1891) e Theodor Herzl (1860-1904), os pais dos três grandes lugares.
maior importância. Certos fundadores do movimento sionista, desencantaram-se sagrados_do islamismo^
religiosos esperam, três mil com a proposta de assimilação dos judeus aos países Segundo a tradição, foi aí
anos depois do reinado de que o profeta Maomé
onde residiam. Constatando o fracasso da ideia de
Salomão, testemunhar a
construção do terceiro emancipação individual, opõem a ela um contraprojeto temninou_suajnisl££iasa.
de emancipação coletiva. Aos ataques anti-semitas viagem noturna: "Louvor
templo. Pois, segundo a
~Áãuele que transportou Seu
profecia de Zacarias, contra o judeu apátrida, eles respondem com a aspira-
servo durante a noite, do
"nesse dia, os pés do ção ao retorno à pátria ancestral, a Palestina. Às acu-
Senhor pousarão no monte lufíar do culto sagrada
sações. contigLQJudeu explorador,.aviltado pelo êxíljp_e" (Medina) aojmugar do culto
das Oliveiras, que está
pelas atividades pecuniárias, eles propõem o ideal de mais longínquo (al-Aksa), de
diante de Jerusalém do lado
do oriente, e o monte das "regeneração" e de "conquista do trabalho" (físico) onde lançamos uma bênção
babilónios em 586 a.C. — no local que se supõe ser o Oliveiras se abrirá ao meio, pelo povo judeu, Eç sobre os arredores, a fim, de
M'i',1 indo a tradição, como da ascensão do Profeta. Se de leste a oeste, num afirmar-se-nos kibutzim, comunidades coletivistasjjue lhe mostrar alguns de
i. '.hi',0 ao povo judeu por o nome hebraico de imenso vale, e metade do dorsar^llmplantacao
te '.c .il.istado das leis de Jerusalém, Yerushalaim, monte recuará para o norte sionista na Pç jnarayilhosos". (Capítula
M >r.i-, o templo foi depois significa "cidade da paz", e a outra metade para o XVII do Corão, chamado
Fruto das circunstâncias, esse projeto logo encontra
n- Mii-.iniiilo por volta do em árabe Al Qods significa sul" (Zacarias, 14). Após "Filhos de Israel".)
MI u MIO .i c., reformado por "a santidade". Depois de esse cataclisma, as duas fortes resistências dentro do próprio mundo judaico.
Foto © LL-ViolIet
. i«ir volta da época Meca e Medina, Jerusalém é mesquitas desaparecerão e Por insistir mais no caráter nacional rin que religioso do
M C novfimente o terceiro lugar santo do se poderá então reconstruir judaísmo, o sionismo foii _por muito tempo um movi-
t" iiui.inir .1 rebelião islã. Como as autoridades o templo. Entretanto, mento minoritajio^ejTjjjjt^^ para os religjo-
ii.i KOIM.I no ano religiosas muçulmanas desejando acelerar a " 'ffiçn ft sacrílego,
^o i 11 n . • • • . . i ci, i AI n nas controlavam o Haram chegada da era messiânica, oieío políth
pois subordinaajdentidade i
uniu |..ni. ii.i iiiiiiii.i.ivel al-Sharif, e em certos extremistas como os
cmTpfega o retorno antes já chega-
liiiimlli ... lilxiilnl. M Muro consequência, o acesso ao "Fiéis do Monte do Templo"
tíNK l Hlli' llhll Õir,, Illl Muro das Lamentações, a ambicionam destruir o da do Messias. Sobretudo, a grande maioria dos
(JllMMCjfl «III pé | coexistência entre os dois Haram al-Sharif... • judeus continua .fiel à ideia de uma emancipação pes-
NO ANO P R Ó X I M O EM J E R U S A L É M
THEODOR HERZL E AS HESITAÇÕES DO SIONISMO
soai no contexto dos países onde moram, e acusam
(.'(«ii/v..io .s/o/MH/;) í/íi os sionistas, com seu projeto de ruptura com o Oci-
T
heodor Herzl após a morte de Herzl: o observem os seus preceitos,
/', //< v;///1,-1 w.•») defender sua dente, de fazer o jogo dos(arffserriltãs^ Foi necessário (1860-1904), "o arauto sionismo não tem sentido e os dois exílios do povo
causa perante os Aliados do Estado", é fora de Sion! judaico foram provocados
que viessem as perseguições hitleristas — e o silêncio
vitoriosos. Na delimitação do considerado o fundador do O próprio movimento pelo abandono da Aliança
luturo mandato na Palestina,
das nações — para que o sionismo aparecesse aos sionismo político; teve por sionista encontra-se dividido com Deus. Unindo-se ao
chega-se a uma solução de judeus como último recurso. Em 1945, a opinião públi- mérito estruturar o quanto aos seus objetivos movimento sionista por
compromisso: enquanto a ca mundial é abalada pela descoberta da existência movimento sionista e básicos. Assim, para Ahad razões táticas, eles esperam
França abandona parte da dos campos de concentração onde os nazistas exter- difundir suas teses. Herzl, Ha'am (1856-1927), adepto reorientã-lo para um retorno
um jornalista vienense, do sionismo "cultural", à religião. O fracasso
Alta Galiléia, a Inglaterra abre minaram milhares de judeus. Dos pogrons de Odessa provisório da via diplomática
judeu assimilado e Israel deve tornar-se um
mão do rio Litani, "a boa (1881) até Auschwitz, o sionismo adquiriu uma trágica admirador da França refúgio para o judaísmo, e é seguida por Theodor Herzl
fronteira" reivindicada pelos legitimidade. iluminista, acompanha em preciso não tanto "preparar — mas que será continuada
dirigentes sionistas. Mesmo assim, se é verdade que o anti-semitismo 1895 o caso Dreyfus, a terra para o povo mas sim por Haim Weizman, futuro
Foto © Edimedia europeu confere legitimidade à existência de Israel, os quando um capitão francês o povo para a terra". Em primeiro presidente do
judeu foi injustamente Estado de Israel — traz
degradado. Comovido, a predominância dos
publica no ano seguinte O sionistas "práticos",
Estado judeu, ensaio que decidem infiltrar-se
sobre uma solução na Palestina,
moderna do problema ilegalmente se
judaico, onde exprime sua necessário. Esses
esperança de "normalizar" pioneiros da segunda
a situação dos judeus alia, entre os quais
pela via política. Em 1897 figura David Ben
ele convoca em Basileia, Gurion, assentam as
na Suíça, o primeiro bases do futuro Estado
congresso onde se formou de Israel. Já os
a organização sionista. "revisionistas"
Herzl confia na via liderados por Zeev
diplomática para obter um Jabotinski e Menahem
"pedaço da superfície Beguin sonham
terrestre" onde se possa conquistar a terra pela
estabelecer um lar força, abrangendo toda
nacional judaico, núcleo a Palestina e a
de um futuro Estado Transjordânia. Resta
independente. Suas mencionar duas
reivindicações junto ao tendências muito
sultão otomano e ao minoritárias no
kaiser alemão fracassam. movimento sionista:
Após cogitar a Argentina e além dos
depois o Chipre, em 1903 "territorialistas", que
Londres oferece à continuam ligados ao
organização sionista a projeto da implantação
árabes recusam que isso se realize à sua custa, isto Uganda como sede de um de um país numa terra
é, permitindo ao Ocidente aplacar sua má consciência lar nacional. Grande vitória 1909 ele contribuirá para a virgem que não seja a
às expensas dos direitos nacionais dos árabes. para o sionismo, que assim fundação da Universidade Palestina, há uma extrema
obtém seu primeiro Hebraica de Jerusalém. esquerda que apela à
Ora, os novos imigrantes, marcados pela atmos- reconhecimento Em 1902, com o partido solidariedade de classe
fera ideológica da Europa de onde saíram, irão internacional... O projeto, Mizrahi, aparece o sionismo entre trabalhadores judeus e
subestimar o problema da coexistência com essa aprovado por pequena "religioso": segundo este, árabes e pede a criação de
população nativa; eles se preparam para colonizar maioria pelo Congresso os judeus são um povo um Estado binacional. •
a Palestina em nome dos ideais do progresso e da Sionista de 1903, é apenas porque lhes foi dada
rejeitado imediatamente a Tora para que eles Foto © Colação Viollet
NO ANO P R Ó X I M O EM J E R U S A L É M
A P A L E S T I N A A N T E S DE I S R A E L 51
í^;// ii A ' .) / *f v/. //./i,, i< » civilização. Ainda mais ingenuamente, eles reto-
1 ' ! / / , ./'. /)()/»(//, /fin ".
estabelecida. Quanto à presença judaica, ela sempre
mam o slogan: "Uma terra sem povo para um povo existiu ao longo da História, porém numericamente
sem terra!" e sonham, segundo a formulação do fraca e sempre minoritária. As antigas comunidades,
ttmltii n i«'íii>,içiio inglesa.
lim.i i i i , i i i i l i " , l . i ç , K i organizada dr. Haim Weizman, em construir "uma Palestina tão constituídas de judeus religiosos — e depois anti-
i •! 1 1 l. ii.n 'i 1 1 1 933 degenera judaica quanto a Inglaterra é inglesa". .^' sionistas — concentram-se em torno das cidades
cm ninlini c iiKibuem 27
\f
> • èf^ sagradas de Jerusalém, Hebron, Safed e Tiberíades.
niiiiliKi f duzentos feridos. Dois povos para uma só terra ^ ,»j* Em 1882 a comunidade judaica tinha ape-
Ni '.',/c ,-i/io, Hitler chega ao O conflito árabe-sionista, depois árabe-israelense ou nas 24 000 indivíduos numa população
poder na Alemanha: a palestino-israelense, nasce desse mal-entendido, ou a
Imigração judaica irá
total de cerca de 600 000 pessoas, entre
bem dizer dessa cegueira, pois em 1880 a Palestina já as quais 70 000 árabes cristãos. O futuro
intensificar-se ã medida que
estava povoada! Seus habitantes são herdeiros de mandato da Palestina é então dividido
aumentam as perseguições
anti-semitas...
uma cultura que se desenvolveu nessa terra há pelo entre o sul do sandjak de Beirute e o sand-
Cal. René Dazy/Foto © Edimedia
menos doze séculos! Expulsos pelo anti-semitismo jak de Jerusalém. Nessa parte do Império
europeu, decididos a resolver seu próprio problema Otomano, ao final do século XIX, a ideologia
nacional, os imigrantes sionistas irão contribuir, sem nacionalista ainda está no limbo, e se
querer, para criar um novo problema nacional: o do manifesta sobretudo como reação à ocupa-
povo palestino. ção europeia. Ora, o modo de vida ociden-
De fato, desde os tempos bíblicos, a história da tal dos pioneiros judeus vem transtornar
Palestina divergiu da do povo judaico. Essa região, pri- um quadro tradicional já existente. Sobre-
meiro romana depois bizantina, foi conquistada a par- tudo, logo aparece a dimensão política da
tir de 634 pelos exércitos muçulmanos. No centro do imigração sionista: já em 1891, um grupo
império omeíada, a população aramaica da região de árabes proeminentes de Jerusalém
será rápida e profundamente arabizada, e os reinos lança um grito de alarme num telegrama ao
francos que ali se implantam com as Cruzadas dos grão-vizir, a quem pedem para "proibir os
séculos XI ao XIII não questionarão esta situação já judeus de entrar na Palestina e de ali com-
prar terras". Nessa época o afluxo de judeus é peque-
no e o movimento sionista ainda está pouco estrutura-
do; assim mesmo, a população palestina começa a
tomar consciência dos dois problemas políticos funda-
mentais, o da imigração e o da terra.
A partir da segunda imigração, ou alia ("subida a Em 1929, o incidente do
Israel") dos pioneiros-socialistas, a oposição se refor- Muro das Lamentações (ver
ça. Em 1908 um novo jornal, Lê Carme/, aparece em quadro da p. 46) provoca uma
Haifa; seu objetivo é atacar o sionismo. No ano onda de violência em toda a
seguinte estouram violentos motins, e uma primeira Palestina: em Jerusalém,
força de autodefesa judaica, Hashomer (A Sentinela), Hebron e Safed, 133 judeus
se constitui na Galiléia. O dinamismo dos colonos são massacrados. Por uma
judeus que compram terras de proprietários ausentes trágica ironia, a maioria das
vítimas pertence às velhas
— e que muitas vezes residem em Beirute ou
comunidades religiosas
Damasco — inquieta os camponeses palestinos; ao judaicas que, alheias ao
mesmo tempo, a palavra de ordem "conquista do tra- sionismo político, coexistiam
balho pelo judaico" contribui para desalojá-los, já que até então com as populações
os sionistas pretendem basicamente trabalhar na cristãs e muçulmanas...
terra. O projeto separatista, que está na base do sio- Foto © Edimedia
NO ANO P R Ó X I M O EM J E R U S A L É M AS PRIMEIRAS IMIGRAÇÕES JUDAICAS
nismo, encontra na Palestina seu corolário e seu pro- Importância económica e estratégica aumentou
longamento; ele se aplica, desta vez, não em relação durante a Primeira Guerra — e de tomar posição
ao Ocidente anti-semita, porém num sentido inverso, diante da França, que, apoiada em seu papel tradi-
ou seja, em detrimento da população local. Sobre as cional de protetora dos cristãos do Oriente, nutre
terras desta começa a ser construída uma sociedade ambições sobre a Terra Santa. Há, por fim, a neces-
paralela, conquistadora por ser mais dinâmica. Nasce sidade de ganhar a simpatia da opinião judaica, em
então um sentimento de ser despojado de suas pos- geral pró-germânica — por ódio da Rússia dos
ses, fonte de apreensão e de rejeição. pogrons — neste ano decisivo da Primeira Guerra
Desde 1882 Eliezer Ben Yehuda (1858-1922) tinha Mundial.
se proposto a criar uma nova língua nacional a partir A Declaração Balfour, gue_promete criar na Palesti-
do património bíblico; o hebraico moderno torna-se o na um "lar nacional pajajxp£a<Q4udaisolutorna clara,
cadinho que forma uma identidade cultural comum |pa olhos dos árabes, a cumplicjdjide.entre o impe-
para os imigrantes originários de diferentes países da rjfllBmo e i o s ionismp. MIEla contradiz formalmente a
diáspora (exílio). Inversamente, a adoção dessa língua promessa da criação^dejjra reing__árabe, feita pelo
Os kibutzim dos aumentará mais ainda o fosso entre os recém-chega- nlto comissário britânicpjyicMaho^_a^xerif^dei~t^^
"pioneiros-socialistas" dos judeus e a população palestina. õm I9i5;~é~foi com base nessa promessa que os
dedicam-se a realizar o ideal contra o mandato inglese,
do coletivismo e da O mandato palestino sõSf&fLSõ^cõntrã^ imigração
nino otomano.
"conquista do trabalho pelo s]nnistã~Êm"í936. ~
Em 2 de novembro de 1917, a Declaração Balfour Depois" flD desmembramento
l u >v< i ji K /, i/co". Utilizando habitantes das aldeias
torna público o apoio que o governo inglês dá à orga- '
tiflcazmente a terra palestina,
d/1 v; .'isHiffi/.Mi) as bases do
nização sionista. Nesta questão, os interesses da
revolta pa/est/nacomslogans
liiluro l KliKlo de Israel. Aqui, Inglaterra são múltiplos: além da simpatia de vários n- -i l nrar^o^BáTfouTTintegr^ja^ags estatutosclo man-
vl'<lti i i f ' i < - , i (/(.' unia colónia dirigentes pelo ideal sionista e do desejo de encon- sobre "aTãtê^tTnã, aparece como símbolo
iiHHi:i>ln c/il/íí HíiiTa e Jafa, trar uma solução para o problema dos refugiados da «i.i rrrirn tia nacionalidade feita ao povo árabe. re/jg/ãOjdarernos svida^la
«m 1933. Europa central, trata-se de garantir a presença de um Ô mandato paestino, confiado em 1922 à Inglater- IrjdecieSeDÊÍJST"*"
t i l i n t a i l l l i i : l i , i l i < i n '.w;/n,i bastião estável próximo ao canal de Suez — cuja piiln l if,H das Nações, é o único que não prevê em Foto © Coleção Viollet
III
04 NO ANO P R Ó X I M O EM J E R U S A L É M PROMESSAS CONTRADITÓRIAS 55
seus estatutos a constituição de um governo autóno- cão era a condição essencial e a razão de ser do lar
mo que represente as diferentes populações do terri- nacional judaico. Entretanto, a garantia explícita dos
tório. Londres não tinha escolha: um tal governo teria "direitos cívicos (...) das comunidades não-judaicas da
se apressado a interromper a imigração judaica, que Palestina" — ou seja, da maioria árabe palestina —
representava para os palestinos a ameaça, a longo expressa na Declaração Balfour demonstra ser incom-
prazo, de uma maioria judaica no país. Ora, a imigra- patível com o estabelecimento e desenvolvimento do
lar nacional judaico. O
A INVENÇÃO DA TRANSJORDÂNIA caráter contraditório des-
ses compromissos pre-
nuncia muitos conflitos
F
oi em 1921 que os compensação um trono e extensão do lar nacional
ingleses decidiram uma subvenção anual de judaico. Na realidade, a futuros. Desde então, a
dividir o território do 18 000 libras. Os ingleses, criação da Jordânia irá data da Declaração Bal-
mandato e criar um emirado pue organizam as tropas do aumentar ainda mais as
hachemita a leste do rio emirado, irão ter o país em
four é comemorada nos
divisões da região e
Jordão, vasta região suas mãos e consolidar complicar os dados do países árabes como um
desértica e povoada por assim sua posição nesta conflito: ela vai justificar as dia de luto.
beduínos. O filho do xerife região de contato entre a pretensões jordanianas sobre A Inglaterra se propõe a
Hussein, Abdallah, vinha Síria, o Iraque e a Arábia de a Palestina árabe, e também
utilizando Ama como ponto Saud. Este último recorte as ambições dos sionistas
condicionar a imigração
de partida para atacar as territorial apresenta um "revisionistas" sobre a judaica "à capacidade de
posições francesas na Síria. interesse conjuntural. De um Transjordânia. Bem mais absorção económica" do
Winston Churchill, secretário lado, ele freia as ambições tarde, ela contribuirá para país. Ora, do ponto de
de Estado para as colónias de Ibn Saud, que é forçado a justificar a famosa "opção
britânicas, lhe propõe a paz, abandonar Acaba, no mar jordaniana" sustentada pelos vista estritamente econó-
oferecendo como Vermelho; de outro, limita a Estados Unidos. • mico, a Palestina lucra
globalmente com esta
chegada de homens, téc-
nicas e capitais. A partir de 1936, cada
Na realidade o problema é político. Ele coloca face a comunidade se organiza
face dois nacionalismos radicalmente diferentes, e o militarmente: aqui, voluntários
conflito, cujos fundamentos já estavam assentados na judeus aprendem a manejar
armas.
virada do século, irá se agravar à medida que se refor-
Foto © Coleção Viollet
ça o lar nacional judaico, sustentado por uma organiza-
ção sionista agora mais poderosa.
Em 1922, quando explodem as primeiras revoltas
que se seguem à instauração do mandato inglês, um
memorando de Churchill reconhece que "essa comuni-
dade (judaica), ao mesmo tempo urbana e rural, com
suas organizações políticas, religiosas e sociais, sua
própria língua, seus costumes, tem de fato caracterís-
ticas nacionais". E insiste ainda no fato de que "o
Na Conferência de Jerusalém
povo palestino não admitirá jamais que uma organiza- de 1921, Sir Herbert Samuel,
ção externa, seja qual for, se arrogue o direito de primeiro governador britânico
despojá-lo de sua terra e ameaçar sua existência eco- do mandato da Palestina, ao
nómica e política". lado do emir Abdallah e de
Assim como o sentimento nacional judaico, voltado Winston Churchill (página 54).
contra o anti-semitismo, nasceu na adversidade, um Foto © Edimedia
Nd ANO 1 ' K O X I M O LM J E R U S A L É M
O GRANDE MUFTI DE JERUSALÉM
sentimento palestino vai se forjar na luta contra o sio-
O
nismo. Criam-se algumas associações cristã-islâ- hadji Amin posição é mais ambições anexionistas do rei
micas; em 1920 surge a reivindicação de um governo al-Husseini árabe-islãmica do que da Transjordânia, ele
(1893-1974) foi a propriamente palestina. proclama em setembro de
palestino independente. Nascida num contexto desfa-
maior autoridade árabe sob Durante as revoltas de 1929 1948 o "governo árabe de
vorável, a história dessa reivindicação será também a o mandato inglês, apesar de provocadas pelo conflito do toda a Palestina", do qual
história das oportunidades perdidas. sua influência em geral ter Muro das Lamentações, ele ele próprio se torna
Enquanto os judeus constróem pedra por pedra a sido considerada nefasta à parece ter sido um inspirador presidente, eleito por uma
estrutura de seu futuro Estado, as grandes famílias de causa que pretendia servir. secreto dos ataques aos assembleia constituinte
palestinos eminentes — cuja influência tradicional Oriundo de uma das maiores judeus. A revolta de 1936 o criada para este fim.
famílias de Jerusalém, Amin obriga a fugir para o Iraque. Entretanto, já em 1952 a
al-Husseini estudou na Apoiado pela Alemanha, Liga Árabe dará um fim ao
Faculdade de Teologia de Al desempenha um importante seu "governo". Em 1958,
Azhar, no Egito. Após deixar papel no golpe de Estado Amin. al-Husseini pede a
o exército otomano para insuflado em 1941 contra os adesão da Palestina à
servir nas forças de Faissal ingleses por Rashid República Árabe Unida,
durante a guerra, tornou-se al-Kaylani. Refugiado em nascida da fusão do Egito
presidente do Clube Berlim, Amin al-Husseini com a Síria; Nasser, porém,
Nacionalista Árabe, que logo serve aos interesses da recusa-se a receber este
se distinguiu pela violência propaganda nazista: segundo presente envenenado que o
de seu ativismo consta, apoiou o obrigaria a assumir sozinho a
anti-sionista. Em 1920, recrutamento de voluntários libertação da Palestina. Em
al-Husseini participa
dos ataques
antijudaicos;
condenado pelos
ingleses a dez anos
de prisão, é forçado
a fugir mas logo
recebe anistia. No
ano seguinte é
designado Grande
Mufti de Jerusalém
pelas autoridades
mandatárias, e em
1922, presidente do
Conselho Supremo
Muçulmano. Assim,
cresceu com o fim do domínio otomano — se dividem ele se torna ao
e se lançam numa retórica suicida do "tudo ou nada". mesmo tempo o
Exigindo a anulação da Declaração Balfour como con- primeiro dignitário
dição prévia a qualquer negociação, os palestinos con- religioso da
ti 11 Viiihi.s , isprc/os, a revolta Palestina e o único muçulmanos para as forças 1959, tendo perdido todo o
denam a si mesmos à impotência. Com medo de
<*)/n/>r> /i/i/cf.v i/iii.i viTdíideira representante oficial da hitleristas nos Bálcãs... crédito no mundo árabe,
tílIPIIil l Hl l'l II:, I H I : ,
serem colocados em pé de igualdade com a Agência
população árabe. A Preso em 1945, o Mufti foge Amin al-Husseini se retira no
l ii u n. ir. 'li i r / l / . H P ( / i 1 l.il.i. Judaica, o órgão responsável pela imigração e cuja
influência do Mufti, mais uma vez e consegue Líbano, onde irá morrer
,•1:1 n / i i - , IUi'.li",i". i/i'íi'i /.l/n existência eles não aceitam, eles se recusam a criar ponta-de-lança da luta chegar ao Egito para quinze anos depois.B
uma Agência Árabe, como lhes foi proposto, e se pri- , anti-sionista, estende-se participar da criação da Liga
l,.II, l vam de; ter qualquer instituição representativa reco- além da Palestina; aliás, sua Árabe. Para enfrentar as Foto © Harlingue-Viollet
A I D E I A DA P A R T I L H A
1,11 NO ANO 1'ROXIMO EM J E R U S A L É M 59
111-,1'tiilAnCltda nhecida. O único interlocutor dos ingleses é o Grande Enquanto outros países da região ganham sua inde- Algumas horas depois do
i, mi.;/" decmtada Mufti de Jerusalém, que orienta a luta num sentido pendência formal, os palestinos se sentem abando- anúncio oficial do fim do
i.i.-f.Lr.. •-,•<'/.•;milhões nados e vêem despontar río horizonte uma maioria mandato inglês, em 15 de
pan-árabe e islamista (ver box na página 57) — orien- maio de 1948, é proclamado
i/i /i/i 'ir. i'iintiiii,ini a morte
tação objetivamente prejudicial às reivindicações judaica em seu país. Para eles não há tempo a per-
/ii/Ki.-. i li •<'\lcrminio. em Tel Aviv o Estado judaico
palestinas. Estouram revoltas; em 1929 elas se gene- der. Diante da nova recusa inglesa de instalar um
i iii.uiif ,i lembrança da da Palestina. Cinquenta anos
ralizam por todo o país. Lamentam-se 133 mortos do governo representativo, o Alto Comité Árabe, criado e
iiKiix .nisto" em depois do Congresso de
lado judaico, 87 do lado árabe. Para uns, isto é um presidido pelo mufti, conclama a greve geral e a Basileia, o sonho de Theodor
•ai n. i perseguir as
"pogrom"; para outros, "revolução nacional", e para desobediência civil. Herzl torna-se realidade;
•ncias, tomando
ii.ivel qualquer ameaça os ingleses, "insatisfação sócio-econômica"... porém já no dia seguinte os
11 n iii, i Israel, pátria dos Entre os dois pontos de vista, o sionista e o árabe, Rumo ao Estado de Israel exércitos árabes entram na
só/«(.'wventes. a incompreensão se torna total. A nova comunidade Está lançada a revolta árabe da Palestina, que dura- Palestina... Inicia-se uma
rá três anos. Forças guerrilheiras, às quais aderem longa guerra.
/ 0(0 ffi Centro de Documentação judaica se vê como uma "ilha" perdida no meio de um
"oceano" árabe em revolta. Para os árabes, o enclave voluntários dos países árabes vizinhos, atacam os
Judaica Contemporânea Foto © L'lllustration/Sygma
sionista é visto como um "abscesso", uma "mordida" judeus e o exército inglês. Do lado judaico se organiza
ocidental que faz sangrar o coração do Oriente Médio a Haganá, milícia unificada de defesa, e também o
e impede o seu progresso. Começa a aparecer um Irgun, braço armado do movimento revisionista. Em
anti-semitismo popular, que toma emprestado ao 1937, durante uma trégua
Ocidente estereótipos até então ignorados. obtida por um apelo dos
soberanos árabes, uma
comissão inglesa vem
investigar os conflitos na
Palestina. Depois de anali-
sar claramente a situa-
ção, a Comissão Peei con-
clui que há uma incompa-
tibilidade entre as aspira-
ções nacionais das duas
comunidades e, pela pri-
meira vez, propõe uma
partilha da Palestina em
dois Estados: "A Primeira
Guerra Mundial e suas
sequelas reanimaram em
todos os árabes a espe-
rança de fazer reviver,
num mundo árabe livre e
unido, sua Idade de Ouro.
Da mesma forma, os
judeus sentem-se motiva-
dos pela grandeza do seu
Nos anos 30, com o afluxo de refugiados da Europa próprio passado. Eles têm
central, entre os quais numerosas vítimas do nazis- pressa de provar ao
mo, a comunidade judaica quase dobra de tamanho: mundo do que é capaz a
em 1935 ela representa 30% da população palestina. nação judaica assim que
NU ANO P R Ó X I M O EM J E R U S A L É M A R E V I R A V O L T A INGLESA 61
01 nl Hl li l II li li-l l r ii l -.l.liln ela se reinstalar na terra de seus ancestrais. Nestas a anterior: depois de constatar a impossibilidade prá- Depois de 1945, rompem-se
-IM/II- tiiinni l//V/l//l/OS l ' l l l condições, a assimilação nacional entre judeus e ára- tica da partilha, a Inglaterra decide limitar a imigração as pontes entre o poder
í i i i l i i ; /IIH/IVS, iiinlH nu menos a 75 000 pessoas ao longo de cinco anos, a fim de mandatário inglês e a
bes é impossível".
i <i/if./jn/ií/<vjí<.'s ,) repartição liderança sionista. Esta,
Apesar da oposição de uma forte minoria, a comis- estabilizar a população judaica em cerca de um terço
i l . f , ilii.i\ i-niniiiiiiliidos. decidida a obter um Estado a
são executiva sionista aceita o plano de partilha: para da população total. Depois disso seria constituída qualquer preço, lança
M >/(",r o unclave árabe do
piiiln tio luta. ao sul de Tel os sionistas, que saíram do nada, conseguir estabele- uma assembleia representativa que estudaria uma múltiplos desafios às
Mv. Quanto a região de cer uma soberania plena e inteira sobre um pedaço eventual retomada da imigração. O que equivale a autoridades inglesas,
luiiinalóin Belém, é de terra, por menor que seja, é uma enorme vitória. dizer que a imigração seria definitivamente proibida forçando-as a encarar suas
considerada uma entidade Para os árabes, ao contrário, é fora de cogitação pela maioria árabe! contradições: como ser a
separada, colocada sob ceder a mínima parcela do seu território nacional. Desta vez são os direitos nacionais dos judeus que favor de um lar nacional
administração internacional. O A revolta reacende com maior intensidade. Para- são desprezados pela potência mandatária... Essa judaico e ao mesmo tempo
plano da partilha não passará mudança de direção é fruto de um cálculo cínico: impedir a imigração?
lelamente a uma repressão feroz, que fará mais de
de letra morta, e Jerusalém Foto © R Capa/Magnum
4000 mortos, a posição inglesa sofrerá uma mudan- com a aproximação da Segunda Guerra Mundial, o
será cortada em dois.
ça. Em 1939, o Parlamento adota uma nova política Império Britânico não pode afastar de si os países
— ou "Livro Branco" — que rompe radicalmente com árabes, agitados pela revolta da Palestina e sensíveis
à propaganda antibritânica dos nazistas.
A PARTILHA DE 1947 JERUSALÉM: 1948-1967
UB Território concedido y |
| SÍRIA
aos judeus da Palestina
J Território concedido
aos árabes Haifa
Ben Gurion define claramente a conquista do Estado Nesta guerra ainda não declarada, multiplicam-se Ainda antes da proclamação
da Palestina como um objetivo de guerra: "Combatere- os atos de terrorismo. O massacre da população do fim do mandato, grupos de
mos ao lado da Inglaterra como se o Livro Branco não árabe da aldeia de Deir Yassin, perpetrado pelas judeus e árabes se enfrentam
existisse, e combateremos o Livro Branco como se a tropas do Irgun, é revidado com o massacre dos pelo controle do território.
Ambos os lados ignoram o
guerra não existisse". habitantes do kibutz Kfar Etzion.
traçado tortuoso votado pela
A Haganá, o Irgun e o Grupo Stern (Leni) atuam em Até março de 1948 os combates favorecem os ONU para delimitar os dois
conjunto. Em outubro de 1945 Ben Gurion lança, em palestinos. Entretanto, o fornecimento de armas às Estados. Vêem-se aqui
nome da comunidade judaica, um apelo à luta arma- forças judaicas pelos países ocidentais — em combatentes da Haganá
da; esta será marcada por atentados espetaculares, especial a Tchecoslováquia — inverte a situação. defendendo uma ponte na
como a destruição pelo Irgun do Hotel King David de Sobretudo o trabalho de implantação territorial e de entrada de Tel Aviv.
Jerusalém, sede do estado-maior inglês. Entre organização comunitária que já vinha sendo realiza- Foto © Edimedia
judeus, árabes e ingleses, 91 vítimas serão retiradas do pelos pioneiros sionistas fazia 40 anos dá bons
dos escombros. frutos. Prova disso é a derrota dos Estados árabes,
A Inglaterra envia reforços, mas a descoberta do que entraram em guerra em 15 de maio de 1948,
genocídio dos judeus perpetrado pelos nazistas e a data oficial do fim do mandato britânico e da pro-
presença na Europa de 100 000 sobreviventes à clamação do Estado de Israel: apesar de sua supe-
espera de partirem para Israel tornam a situação rioridade numérica, as divisões libanesas, sírias,
insustentável. Criam-se canais alternativos para a iraquianas, jordanianas e egípcias em luta na
compra de armas e para a imigração clandestina. Em Palestina são derrotadas pela Tzahal, o novo exér-
julho de 1947 a opinião pública mundial se comove" cito de Israel.
"cOmj^ iframj^gg^E^ _As fronteiras dn flrnilfilMg,^^^
iãrgcTcip porto de Haífã è tendo a bordo 4500 sobrevi-
ventes dos campos de extermínio, é expulso .pelas
2_^ÍS^2JHÉ2Í£P,J?2^JrI!l-s .-q.Harto? fo fe|rriti9riQ do
mandato. Jerusalém é cortada em duas partes e
S TK
autoridades britânicas... para a Alemanha. O presiden- seu proieto de internacionalização é esquecido^ wr
ministro Ben Gurion se opõe ao retorno dos refugia- Termina o êxodo do povo
obrou, hebraico. cidadãos completos num diferentes segundo os
H l •.!(•!. lermos se
referem ao povo de
Abraão e à língua do Velho
Estado cujo fundamento é o
judaísmo?
Israelita. Adepto da religião
critérios considerados
(religioso, genealógico,
cultural...). Em Israel,
dos palestinos. Ao mesmo tempo, organiza-se uma judeu, começa o exílio dos
imigração judaica em massa, incentivada pela_Lei_ palestinos. Cerca de 750 000
rlgjtetorno, que garante a qualquer judeu n direito refugiados dos combates de
1947-1948 serão instalados
Testamento. A escolha do judaica; este termo foi especialmente, o problema de instalar-se em Israel ejJejT|ce&&[_a nqcion?li'1a- em caráter provisório. Numa
hebraico como língua forjado com fins de até hoje não foi resolvido (ver delsTaelense. planície árida entre Jericó e o
nacional pelo movimento assimilação, para evitar as capítulo 4). Com frequência Os palestinos são os grandes perdedores dessa mar Morto, este campo de.
sionista realça sua filiação conotações carregadas da já se propôs uma definição nova ordem regional nascida da guerra. O drama refugiados encontra-se sob a
histórica e a legitimidade de palavra "judeu" e ressaltar o que, por ser subjetiva, talvez
dos refugiados, instalados em acampamentos na tutela da Jordânia de
suas reivindicações sobre a caráter unicamente religioso seja a melhor: seria judeu
espera incerta de uma vitória dos exércitos árabes, Abdallah, que anexou esta
terra da Bíblia. — e não nacional — do todo aquele que, por uma
Israelense. Qualquer cidadão razão ou por outra, se irá daí em diante polarizar o conflito e contribuir parte do mandato da
judaísmo.
do Estado de Israel, sem Judeu. Quem é judeu? Esta considera judeu. para perpetuá-lo. Aos olhos do mundo o Oriente Palestina, desde então
distinção de etnia ou religião. questão extremamente Sionista. Partidário do Médio parece um verdadeiro barril de pólvora. chamada Cisjordânia.
Na realidade há israelenses delicada foi debatida por retorno dos judeus à Quanto ao Estado de Israel, ele nasce sob o signo Foto © Roger-Viollet
árabes, muçulmanos e muito tempo, tanto pelos que Palestina; nem todos os da violência. Os judeus ganharam pelas armas seu
cristãos; porém os 645 000 se consideram judeus como sionistas são judeus e, direito a um Estado, porém divididos entre um
árabes israelenses podem pelos góim (não judeus). Ela sobretudo, nem todos os Ocidente que os oprime e um Oriente que os rejeita,
ser considerados como já obteve respostas judeus são sionistas. • como viver na sonhada "normalidade"?
... .
• rã
O SONHO U N I T Á R I O 69
Capítulo 4
PARA os DERROTADOS DA PRIMEIRA GUERRA ÁRABK-ISRAELENSE,
O ORIENTE MÉDIO O CAMINHO DA RECONQUISTA PASSA PELA UNIDA!)!*',. D H SUEZ À
DERROTAS.
resolução das Nações Unidas, lançam seus pára-que- A aliança da União Soviética
No dia 29 de outubro de 1956 começa a Expedição com os Estados Unidos no
de SÚêzTtãmh^m nhpmãriaTZnSfã Hn Sinai r.iT7gW§' distas sobre Port Said.
Conselho de Segurança
de 1956. Os egípcios são imediatamente vencidos Apesar de uma clara vitória em terra — o exército permite à ONU realizar seu
pêTãs~cõT[rnas de tanques israelenses. Dois dias egípcio, tomado de surpresa, nem chegou a opor re- papel de manutenção da paz.
depois os governos francês e inglês lançam um ultima- sistência — a aventura vai fracassar no palco interna- Os acordos de fim das
to: os beligerantes deverão retirar-se, não de volta à cional. Os Estados Unidos retiram sua solidariedade hostilidades prevêem a
fronteira internacional, mas a quinze quilómetros de com a expedição, a qual ocorre durante a campanha presença no deserto do Sinai
cada lado da zona do canal. Ora, as forças israelenses de reeleição do presidente Eisenhower, baseada no das forças da ONU — os
ainda estão a mais de cinquenta quilómetros dessa tema da paz. Além do que, em plena competição pelo capacetes azuis, que vemos
mal aos americanos obter nesta foto de 1959. É a sua
linha! Um erro de timing que revela a diferença entre retirada, exigida em 1967 por
os objetivos almejados: para Israel, trata^ajjejtocoar, u m a_ t ó r i a Nasser ao secretário-geral
União Soviética envia uma advertência_aos_goyernos
aJs£ajieJãafflu_aIaJxaxiâ^^ das Nações Unidas, que
jJejnran,^que_controla o acesso ao golfo de Acaba. france_s___e '. . . _ precipita a Guerra dos Seis
Ã^paítJrdejTdeTJ^^rnoi-o os tranco-britãnicoTBom- l sõTadas^laJnglaterra e depois a Dias.
bardeiam aeroportos egípcios e, ignorando a primeira Foto © Edimedia
são afastados daregião e 'relegados à_catego-
A
figura de David Ben paz aos árabes a não ser de um kibutz no Neguev,
Gurion ("filho do pela força, dá início à onde se retirara, para dirigir o
leão", segundo o doutrina da ação preventiva e governo, em que acumula as
pseudónimo que ele próprio das represálias sistemáticas funções de primeiro-ministro
escolheu) está contra as infiltrações dos e ministro da Defesa. Em
indissoluvelmente ligada ã fedayin. conjunto com os governos
luta pela criação e pela francês e inglês, prepara a
defesa do Estado de Israel. Expedição de Suez e detona
Nascido na Polónia, Ben a operação "Kadesh".
Gurion emigra para a Ao longo dos anos, o
Palestina em 1906, na sionismo intransigente de
segunda alia dos Ben Gurion o leva a privilegiar
pioneiros-socialistas. Em uma ideia quase mística do
1909 ele funda o Hashomer Estado e da nação hebraica,
(A Sentinela), a primeira em detrimento de suas
força de autodefesa judaica. primeiras convicções
Ben Gurion impõe-se por socialistas. Às vésperas da
seus talentos de orador e Guerra dos Seis Dias,
sua combatividade na participa pela última vez de
liderança do Mapai, o partido um governo de coalizão
trabalhista. Em 15 de maio nacional, condicionando sua
de 1948, é ele quem lê a entrada à de seu ex-inimigo
proclamação do Estado de jurado: o chefe dos
Israel e torna-se seu primeiro "revisionistas", Menahem
dirigente (1948-53). Beguin. Morre pouco após a
Partidário da política do fato guerra do Yom Kippur, aos GuyMollet cairá e a Quarta Rep^bHcaJrancesa irájse
consumado, ele se opõe ao 87 anos. Seu país inteiro lhe dissolver. No Oriente Médio seus lugares sej,ãojoma-
retorno dos refugiados Verdadeiro pai da pátria, sua presta homenagens em seus dos pelos Estados Unidos e peia União Soviética.
palestinos e a qualquer presença é considerada funerais. •
Ao, contrário cle_seus aliados de ocasião, Israel
concessão. Convencido de indispensável em períodos de
que Israel não pode impor a crise: em 1955 é chamado Foto © Keystone alcançou seus objetivos. Seu" éX6[Ç[lo
MO O O K I I N I I M t D I O DE N A S S E R A ERA N A S S E R 81
i. • . . . , . . . reti rar-sedg_SJnai e de Ga?a a menos que seja substi- mento árabe. Agora começa de fato a sua era. Seu
tuído pelas forças da ONU: a linha de frente com o populismo, divulgado pela "Voz dos Árabes", a rádio
p»lt Pêbitlna, Nesser ataca
Egito torna-se_neutralizada e fica assegurada a nave- do Cairo, faz tremer os regimes da região.
o nu llii::,'iinl.t luntiinia,
gação no golfo de Açaba^Porém esta semivitória, Em 1957 as eleições legislativas na Jordânia apon-
tliH> I H f t i - i i t l f HmitiU nação
i/o-, li-ii.iyiii, Hiierrilheiros mesmo garantindo a Israel uma pausa de dez anos, tam uma maioria pró-nasserista. Recusando o veredi-
;u/r.'.f//ic>.s, (.vn seu território. traz em si o germe de um novo conflito, já que o Egito to das urnas, o rei Hussein decreta estado de sítio; a
Hussoln responde que é não aceita a diferença de tratamento aplicada aos situação é de insurreição e, de acordo com a doutrina
intuiu lin-.il no Egito dar lições beligerantes. Os capacetes azuis da ONU não acam- ocidental, o exército britânico intervém em socorro do
nos outros quando ele próprio pam no território de Israel, o agressor, mas sim no do regime amigo. No Líbano, são os soldados america-
os (á protegido pelos agredido. E, sobretudo, no imaginário oriental e no do nos que, no ano seguinte, intervêm para restabelecer
capacetes azuis da ONU. A Terceiro Mundo em gestação, a "covarde e tripla a ordem. No Iraque, enfim, o regime hachemita é der-
escalada que leva à terrível rubado em 14 de julho de 1958 por uma revolução
agressão" fixa ainda mais o Estado judaico no campo
derrota de 1967 é também
do imperialismo. popular. Canta-se a Marselhesa nas ruas de Bagdá...
uma questão interárabe...
Abaixo, coluna de prisioneiros Os Estados Unidos não saberão explorar o capital Estabilizado por algum tempo o front egípcio, o con-
egípcios no Sinai. de simpatia criado no mundo árabe por sua posição flito árabe-israelense se dirige então para as fronteiras
Foto © R. Capa/Magnum na aventura do Suez. A doutrina de contenção de da Síria. Neste país as eleições levaram ao poder
Eisenhower é bem próxima da "pactomania" contra a uma coalizão governamental pró-nasserista. Salah
qual Nasser se insurgira... Essa política visa apoiar Bitar, um dos fundadores do partido Baas, assume a
qualquer regime ameaçado pelo comunismo interna- pasta das Relações Exteriores.
cional. E, sobretudo, visa combater o prestígio, agora Enquanto todos os vizinhos da Síria (Turquia, Iraque,
real, da URSS, que surgiu como o melhor apoio a Jordânia e Líbano) alinham-se com a doutrina
Nasser no Oriente Médio. Eisenhower, a tensão aumenta com Israel. Em dezem-
bro de 1955 Israel lança um raide contra a Síria para
A guerra fria interárabe dissuadi-la de continuar seus acordos militares com o
A^&çpedição--cle-Jàuez_ejgya Nasser, o homem que Egito. A CIA é suspeita de conspirar contra o governo,
desafiou vitor]ojamentep~Õcidente, ao ãpice do tirma- com a cumplicidade do Iraque. Nesse clima explosivo,
O OUII NTE MÉDIO DE NASSER
DE GAULLE E ISRAEL
A
pós os acordos de iniciando as hostilidades ao de vosso Estado por seus
governo sírio pede a união com o Egito.
Evlan (1962) e o fim tomar posse, pela força das vizinhos, garantias de
da guerra da Argélia, armas, de Jerusalém e de segurança de ambas as
Árabe UmdaJRAU). A união do povo árabe estará a a política de independência muitos territórios jordânios, partes em fronteiras que
caminTToT^rfrigél a RAU se desfaz, pois os sírios do general De Gaulle em egípcios e sírios, e lá poderiam ser estabelecidas
suportam cada vez menos uma união que se expres- relação aos dois blocos praticando a repressão e as por arbitragem internacional,
mundiais o leva a adotar expulsões que são a uma sorte digna e justa para
sa sobretudo pela supremacia dos burocratas nasse- uma posição de estrita consequência inevitável de os refugiados e para as
ristas em seu país. A primeira — e última — verdadei- neutralidade nos conflitos uma ocupação que, ao que minorias, a livre navegação
ra experiência unitária durou três anos. do Oriente Médio. Em 2 de tudo indica, tende a para todos no golfo de
Na manhã de 5 de junho de reino das Cruzadas em Jerusalém, afirmando que, tal sagrado, voltamos para jamais nos separarmos A Guerra dos Seis Dias
1967, a aviação israelense como este, Israel, "ponta-de-lança do Ocidente, seria dele". A^anexagãp de Jerusalém ocorrejmedjatameQ- provoca um novo êxodo:
destro/ o essencial do destruída ao final de duzentos anos". Esperava ape- antigos refugiados palestinos
te após o conflitõj^^
poderio militar e estratégico
egípcio. Mal começada, a
nas que a estratégia da tensão lhe permitisse obter nal, ela representai uma^onaaa3íã£U3aia^Jodo_-g de 1948 deixam a
Cisjordãnia e Gaza buscando
guerra já terminou...
concessões capazes de acalmar os ânimos. movimento sjonista,. acolhida em outras terras. Já
Impotentes, operários Seja nomn fnr, para n Fstajg_]ujej£jGj3loguej(L£[a Israel irá conservar suas conquistas. Ao contrário os drusos das colinas de
egípcios vêem o incêndio de ^Ácaba constitui um motivo de guerra. Em 5 de 1956, desta vez os EstadosUnidos tpmam, clara-- Golan, conquistadas por
uma refinaria de petróleo na eJãBT, Isrã^r^teia-lsr^otna^um^^ãijê Israel em 9 de junho de 1967
região do canal. egípcio, queixa plausível pela histeria da imprensados apesar da aceitação do
Foto ffi> B. Barbey/Magnum dias precedentes. À aviação israelense ataca, e em do estreito de Acaba, é o responsáyeLáelQ conflito. cessar-fogo pela Síria, tomam
uma manhã a guerra está ganha: pega de surpresa, a Assim, os americanos vetam urj rircjejo^yjéticQ a estrada de Damasco.
aviação de caça egípcia foi destruída no solo. Depois que exjgia_a_evacuação incondjcional j£g_terrj^órios Foto © Magnum Photos
de garantir o domínio dos ares, o exército israelense ocupados.
Mil O O K I L N T E MÉDIO DE N A S S E R O NOVO PROBLEMA T E R R I T O R I A L 87
E OS PAÍSES ÁRABES
armistício de 1949 gerou uma A partir de dezembro de
i Palestina desmembrada; metade 1987, a insurreição nos
de sua população árabe tornou-se territórios ocupados
expressa a radicalização de
um povo de refugi ados. jíngolida.
uma juventude nascida sob
fterrnta ft ppla aviHp? rlnc- p?í-
o jugo da ocupação
ses limítrofes, o Estado palestino previsto Pplr> plann israelense. A intifada.
da partilha não chega a nascer. t Paradoxalmente, os_ ("sublevação") é assumida
palestinos são os principais esquecidos de um confli- pela população como um
to do qual eles próprios sãõ^acausa^ Durante vinte todo. Prova disso é o
longos anos, desde a proclamação qQ_bstadõ~?e sucesso das greves gerais
Israel ate a uuerra aos seis mas ^na ym naQ é ouvi- organizadas periodicamente
JJa-Jsso porque os países do "campo de batalha", a sob a palavra de ordem:
começar pelo Egito de Nasser, anexaram a causa "Abaixo a ocupação! Viva a
Palestina livre e árabe!"
dos palestinos em nome dos interesses superiores
Foto © Chip Hires/Gamma
da nação árabe. Sob ocupação israelense, jordania-
na, ou sob administração egípcia, os árabes da
Palestina são reduzidos ao silêncio. Quanto aos que
fugiram dos combates ou se recusaram a viver sob o
domínio israelense, esses formam uma massa mise-
rável, que vive nos acampamentos de refugiados sus-
tentados pela UNRWA, agência dajQNLLnriaria para
ajudá-los. Em 1950, essa agência conta 957 000
pessoas sob sua dependência; mesmo que as autori-
dades israelenses contestem esse número — que
estimam ser de apenas 600 000 — é quase a meta-
de da população árabe da Palestina que está assim
desenraizada.
Por outro lado, a população do jovem Estado de
Israel dobrou no espaço de três anos, de 1948 a
1951: prova da verdadeira aspiração ao ideal da Terra
Prometida, especialmente para os refugiados europeus
(os judeus asquenazim); mas Israel cresce também
com o afluxo dos sefardim, judeus oriundos do mundo
0(1 S I I M O S l N l H L I S R A E L E OS P A Í S E S Á R A B E S UM POVO E R R A N T E 91
A /PII/HI/.H.IIP l ; i . H ' l i ' i i ' . i - vive árabe, forçados a partir pelas ondas de anti-semitismo Nassgr dotá-la de uma aparência de_expressão pollti-
l i i i i n i " , / . n / I P i/i' rii/i.s/.Hife que se seguem à guerra de 1948 e à Expedição de caTjgmi especial num monneplQ.,j*m^que Israel desMa
l i i : t ' l ' , i i i . n i t . ; i riil/i' Í948 e Suez: é o caso, por exemplo, de 100 000 novos cida- ;is iiguas do rin Inrdãn e assim reacende 3 pensão
/ ' V i . .'.'>() 000 pessoas,
dãos originários do Iraque. Esse novo êxodo permite a com seus vizinhos.
nu M'/.i, i.-cíc;) de 10% c/a
Israel reduzir o problema dos refugiados a uma ques- A p/imeira^õnferepcia de expila árabs, realizada nn
/KI/II//.H:.I(), preteriram deixar
o país e viver no
tão de troca de populações: os imigrantes judeus com- - -- -
r.s/;,in/i<?/ro. No local da pensam os refugiados árabes. Cerca de 160 000 ára- efTcamêgã AhTnácTChukeiri. político ligado à Arábia
antiga fortaleza de bes palestinos que ficaram em Israel tornam-se, por "Saudita" (Tão Egito", "de estruturar a QLP, Organização
Massada, homens armados sua vez, cidadãos de segunda categoria. Considerados para a Ljbertagãa.da palestina. CriatjrLSQh ns ai lgPTrÍQg
seguram o dossel uma "quinta coluna" potencial — que representa cerca 3a Liga_Arabe e de Nasser, que_deseja deter a escala
tradicional na cerimónia de 15% da população — eles são submetidos, até da do Iraque, essa primeira OLP, em cujos, _obietivQs
solene da maioridade logo depois da Expedição de Suez, a uma administra- não.figura a^criação de um Estado palestino, não passa
religiosa de um jovem ção militar rigorosa. Sob diversos pretextos — os mes- de um i
(toar-mitzváj.
mos que serão usados depois de 1967 na Cisjordânia
Foto © Keystone
e em Gaza — metade das terras árabes são confisca- O nascimento da OLP
das e integradas ao "património judaico". Finalmente, _
Israel joga a cartada da lógica minoritária a fim de seg- seu combate vai se HflTmar.No final dos anos 50,
mentar o espaço palestino: apenas os drusos (10% da lasser Arafat, Abu Jihad, Abu lyad e um punhado de
população árabe) são obrigados ao serviço militar. militantes refugiados HO KUWalTTuTdSfrrõ"grupo al-
Na espera de uma hipo- Fatah7^iu "a Vitória"
tética revanche, os palesti-
nos aguentam o peso da
derrota: assirn_cgmo Israel A RESOLUÇÃO 242 DO CONSELHO DE SEGURANÇA DA ONU
não osjjJesgia em seu tér-
ritório, os "países irmãos"
não têm a menor vontade
de integrar os refugiados.
Um"ex-diret6r do UNRWA
O Conselho de
Segurança da ONU,
expressando a
inquietude que continua a
região e pelo seu direito de
viver em paz dentro de
fronteiras seguras e
reconhecidas, protegido
de maneira muito diferente.
A OLP, porém, a condena, já
que ela não toca na questão
do direito à
causar-lhe a grave situação contra ameaças e atos de autodeterminação do povo
.ãfirmã^nlSs^^Ts^ no Oriente Médio, (...) força; palestino, reduzido a um
dos árabes queTerrT con- 1. Afirma que a obediência a 2. Afirma ainda a simples "problema de
servá-los como uma ferida sua Carta de Princípios exige necessidade: refugiados". 22 de novembro
a instauração de uma paz a. De garantir a liberdade de de 1967 •
aberta, uma afronta às justa e duradoura no Oriente navegação pelas vias
Nações Unidas e,,.uma Médio, que deverá navegáveis internacionais da A Resolução 338, votada
arma contra Israel. Que os compreender a aplicação dos região; após a Guerra do Yom
dois princípios seguintes: b. De se alcançar uma Kippur, reafirma por ocasião
refugiados vivar
" I. Retirada das forças solução justa para o desse novo conflito os
israelenses dos territórios problema dos refugiados; princípios já enunciados na
ocupados (*) no recente c. De garantir a Resolução 242.
Proibido de voltar a Israel, proibido de integrar-se aos conflito; inviolabilidade territorial e a
II. Cessação de todas as independência política de (*) A versão inglesa da
países árabes (com exceção da Jordânia), esse povo declarações de beligerância cada Estado da região, resolução estipula "from
de refugiados irá desenvolver em seu seio todas as occupied territories", o que se
e de todos os estados de através de medidas que pode traduzir como "retirada de
características de uma diáspora que contém a espe- beligerância: respeito e compreendem a criação de territórios ocupados". A
rança de uma restauração nacional. Nos anos 60 a^ reconhecimento pela zonas desmilitarizadas. (...) ambiguidade desse artigo
soberania, integridade Os países árabes e Israel (in)definido nas duas versões
peculiaridade palestina cornegaj territorial e independência aceitam a Resolução 242 — oficiais continua fazendo correr
lução das relações ir política de cada Estado da embora cada um a interprete muita tinta...
\\J OS I'A1 l S T I N O S E N T R E I S R A E L E OS PAÍSES Á R A B E S A LUTA A R M A D A 93
fui l ' H í ' i , n Dll',utota uma unjdade^árabe. o movimento deseja senjpdependente uma e s u t u r a que-flua5e_de...um Estado,, O Desde o início do ano de
l';llillfi/.',lll liHllC.nl, e se joloca à margem da OLP_ofjcia[_je_Chukeirj. Conselho Nacional 'Pgjggtincjjgjjjpue elege seu 1970, aumenta a tensão
ttitiiHill/.Hlri (.vi) sua Carta entre as organizações de
Perante a impotência dos exércitos árabes, a al-Fatah comité execuf]y5TTOfícjgÍQgjõtIlI) ]fflLParlarnento em
(/c Constituição: "6. Os fedayin e o poder
afirma sua vontade de retomar as ações dos coman- exílio: nelengstãó^epresentadas.as ^rganizações
/i/i/ci/s que residiam jordaniano. Os sequestros
dos guerrilheiros, interrompidas depois da Expedição armadas] os grupos
" de aviões no aeroporto
nwilarmente na Palestina
até o começo da invasão de Suez. Para a al-Fatah. o único meio de "libertar a 'gadês a t n s doscii r continente,s J J\ OLP, q u e "liberado" de Zarka, no
sionista são palestinos (...) Palestina^ árabe ociipada"_é a luta..amnada_. Nojprimei- ma*^^ do norte da Jordânia, são a
9. A luta armada é a única mundo árabe, torna-se uma enorme burocracia que gota cf água que faz
via para a libertação da ^ abrange numerosos departamentos, desde a Saúde transbordar o copo: os
Palestina (...) 21. O povo Sua acão. que_contrasta com o imnhili.smn (a Lua Crescente Vermelha, equivalente à Cruz Ver- terroristas carimbam no
árabe palestino (...) rejeita melha) até os Assuntos Estrangeiros. Falta-lhe ape- passaporte dos passageiros
qualquer solução que nas um território... um visto palestino e
rilheiras em Israel se_multip[icam,_j^iianJaDd^a.te_n-
pretenda substituir a desafiam abertamente a
são que ^recede^j^Qjerrajfc.s SaaJ>ias—.Aj^^ía.. autoridade do rei.
libertação total da
Palestina". Confirmando a
dos exércitos árabes nessa i O terrorismo internacional Foto © Keystone
mudança por que passou a TrSz legitimidade celebridade intrnacional
OLP desde então, essa aTFatah, que visa a construção de um Estado palesti- atravéscÍê~7irFmêTõ^o~mãTs"'qué discutível :"êm 1Ó6B,
Carta é declarada "caduca" ™* 1
^^^^•«•"«««•^•••^•««••••••••[••jHBq^aMMH»™^.^^^^^^^^^™^^^--^™™™^^^ ^"*
Em 1968 a narrativa da
batalha de Karameh
aumenta a popularidade
dos fetó^^^gjj^mMTejros
palestinos: nessa peque-
na aldeia jordaniana, eles
resistiram vitoriosamente
a uma ação de represália
do exército israelense. Karameh aparece como sím-
bolo da nova direção da OLP. Seucomando central,
agora maciçamente financjaclõ pelos Estados árabes
— tíl lreSflSciãTospaíses do golfo Pérsico —, Lafio^se.-
torneTa'organização de libertação nacional mais rica e_
põcIêTòsa do mundo. Ao longo dos anos ela a*3quTre"
to
" '•• • «m» .-iin.7l.li .-^
OS PALESTINOS ENTRE ISRAEL E OS PAÍSES ÁRABES O PROBLEMA DO TERRORISMO 95
An /IKI/IO (/(is ,-i/ios a França abala com o massacre dos passageiros de um voo da o coronel Kadafi e a Líbia são "punidos" por seu supos- "A resistência está pronta a
i t n n . i só IHII dos cenários Air France por um comando do Exército Vermelho to apoio a um atentado contra uma discoteca frequen- transformar o Oriente Médio
privilegiados do terrorismo Japonês no aeroporto de Lod, em Israel. Nova ação. tada por soldados americanos em Berlim ocidental. num inferno, a atacar todos
vindo do Oriente Médio. Os os interesses colonialistas e
Mas o terrorismo é uma faca de dois gumes: em
imperialistas e todos os que
acertos de contas 1970, o rei Hussein da Jordânia o considera motivo querem destruir a esperança
palestinos ocupam durante Negro" assassina doze^tletas israelenses. A respos- necessário para lançar uma gigantesca operação de de nosso povo..." Expulsos
muito tempo o primeiro sraeTnioernenos mortífera: um bombardeio repressão contra os feday/n. O reino jordaniano, onde da Jordânia depois do
lugar, mas aos poucos são de campos de refugiados no Líbano e na Síria faz se encontram as principais bases da OLP, torna-se o Setembro Negro, os fedayin
suplantados pela luta dos mais de 200 vítimas. O Setembro Negro pedia a liber- alvo principal das acusações dos feday/n. Segundo irão refugiar-se nos países
arménios, o conflito tação de 200 prisioneiros palestinos em Israel... estes, os regimes "derrotistas" são culpados por acei- vizinhos, sobretudo no
Irã-lraque e as guerras do Outro elemento desse coqueíe) mortgM_aJmplicação tarem a Resolução 242 das Nações Unidas e, portan- Líbano.
Líbano. de vários países no terrorismo. Q Egito, o Iraque, a to, todas as derrotas contra Israel. Um slogan provoca- Foto © Sipa
Argélia dão seu apoio logístico aos comandos -palesti- dor — "Todo o poder à resistência!" — torna inevitável
nos. Nos anos 80,.estarão implicados principalmente o confronto com o rei Hussein, que deseja controlar as
o~Trã7 a Líbia e'ã'Sír|gTZ'"J atividades dos feday/n. Estes, por sua vez, pretendem
Visto como um ato de guerra, o terrorismo provoca fazer da Jordânia o santuário da revolução palestina.
uma resposta direta dos Estados atacados. Em 1a de Apoiados por uma parte da população jordaniana —
outubro de 1985 a aviação de Israel bombardeia o 60% dela de origem palestina — eles tomam o contro-
quartel-general da OLP em Túnis, após o assassinato le das cidades do norte do país, assim como de vários
de três de seus cidadãos. Em 15 de abril de 1986, bairros da capital, Ama. Em 17 de setembro de 1970.
dezoito bombardeiros americanos despejam suas bom- nrfii Hu5Sf?Ín lan^ "^n «xnrnitn mntfa os facfayfcL
bas sobre Trípoli, no Líbano, e Bengasi, na Líbia. Assim Apesar de suas promessas passadas, nem a gíria
MEMORIAL DO TERRORISMO
1972-1973. Assassinato de três dirigentes palestinos na França: Mahmud Hamchani (bomba ligada ao telefo-
ne), Bassel al-Kubeissi e Mohamed Budia (bomba no carro). • 15 de julho de 1974. Atentado no boulevard
Saint-Germain em Paris: dois mortos (por Carlos, dissidente do FPLP). • 27 de junho de 1976. Sequestro de
um avião da Air France para Entebe, em Uganda (Grupo Setembro Negro). • 1977-1978. Assassinato de três
dirigentes palestinos na França: Mahmud Uld Saleh, Ezzedin Kalak e Adnan Hammad (os dois últimos por Abu
Nidal). • 18 de julho de 1980. Tentativa de assassinato contra Shapur Baktiar, antigo ministro do xá; Anis
Naccache, chefe do atentado, recebe o perdão presidencial em julho de 1990. Shapur Baktiar é assassinado
em Paris em agosto de 1991. • 3 de outubro de 1980. Atentado contra a sinagoga da rua Copernic, em
Paris: quatro mortos, doze feridos (Abu Nidal?) • 4 de setembro de 1981. Assassinato do embaixador da
França no Líbano, Louis Delamare. • 3 de abril de 1982. Assassinato do diplomata israelense Yacov
Barsimentov (FARL: Facções Armadas Revolucionárias Libanesas). • 9 de agosto de 1982. Atentado no bairro
judaico de Paris contra o restaurante Goldenberg: seis mortos, 22 feridos (Abu Nidal). • 15 de agosto de
1983. Atentado no aeroporto francês de Orly: oito mortos (Exército Secreto de Libertação da Arménia). • 23 de
outubro de 1983. No Líbano, atentado com um caminhão suicida contra o Q.G. americano (241 marinheiros
morlos) e francês (58 pára-quedistas mortos). • 1985. Sequestro de cidadãos franceses no Líbano. • 7 de
outubro de 1985. Sequestro do navio italiano Achille Lauro: í morto (FLP). • 27 de dezembro de 1985.
Alíi(|uc simultâneo contra o balcão da companhia aérea israelense El Al em Viena (três mortos) e em Roma (16
mortos). Abu Nidal, "em represália contra o ataque israelense a Túnis em 1a de outubro". • 1986. Onda de
c«|ilns(ii". morins um HiRrires públicos de Paris, cinco sõ no mês de setembro (reivindicadas pelo Comité de
A|>"i 1'iisionciici1. Políticos Árabes). Total: 13 mortos e 141 feridos. • 19 de setembro de 1989.
l >|ilu'.,ni cm pleno voo dl? um iiviíio da companhia UTA: 171 mortos. •
OS PALESTINOS ENTRE ISRAEL E OS PAÍSES ÁRABES
"jjgtembro JSejgrg". Assim fracassa o "Estado dentro batida também por uma "frente de recusa" incentivada
deumEstado" almejado pelos palestinos. Alguns^anbs pela FPLP (Frente Popular de Libertação da Palestina)
maista^e^o mesmo fenõmeng_seIrgBelirá no Líbano. com o apoio do Iraque, da Líbia e do lêmen do Sul.
O èpisodiòlrágiccr^ numa Bem distantes do campo de batalha, esses países se
idança de estratégia em duas direções aparentemen- declaram fiadores de uma certa "pureza revolucioná-
te contraditórias.De um larlnr imo um reudesci- ria". Enquanto a opção defendida por lasser Arafat vai
merflo do lsraele
_ também cootra avançando, as divisões dentro da
£s traidores árabes"; e de outro, rumo à via diplomáti: Central Palestina se aprofundam.
árabe-judaico "lei Na verdade, a OLP é um conglomera-
e Bemocrático" na Palestina como um todo; este é o^ do de organizações heterogéneas, um
Georges Habache, dirigente
"sonho"" exposto praTarém^^TgjTaJribuna
^ ^ da microcosmo que reflete o mundo
do FPLP, anuncia a libertação
dos turistas detidos por sua
CJNU. Pjara isso, a OLPIuI^TcõntãrcõiTi os judeus sefar- árabe: a unidade de fachada é mantida
organização num hotel de dim, majoritários em Israel porém mal integrados ao apenas através de uma carta de princí-
Ama em 1970. Em fevereiro establishment dos fundadores do país, que são asque- pios extremista, que a Central não é
de 1992, a notícia de sua ida nazim. Porém o prqjeto de uma federação "cananéia", capaz de modificar. Pode-se compará-la
à França por motivo de saúde apresentado pelo deputado israelense Uri Avneri como a uma sociedade anónima onde cada
provoca histeria na imprensa uma alternativa ao sionismo capaz de englobar os dois país árabe tem ações: a facção Saika é
e uma crise no governo. povos semitas, judeus e árabes, não terá sucesso. É aliada à Síria, a FLA ao Iraque, etc.
Foto © Wheeler/Gamma votando na direita nacionalista de Menahem Beguin Mesmo reconhecida pelos Estados ára-
que os sefardim vão marcar sua diferença... bes, a OLP incomoda por suas ambi-
ções independentistas; daí vêm as
A opção do compromisso diversas tentativas de liquidá-la.
Optando pelo realismo, a direcão da OLP evolui. Longa é a lista dos sofrimentos
Em 1977 nela se destaca uma maioria j_fayQLde_um palestinos. Chukeiri controlado pelo
Estado soberano "emqugilguer_oejaço libertado da Egito, o Setembro Negro pela Jordâ-
ptilrW"TTStcnrícrsTrà~6r^rõcura de uma solução de nia, o interminável sítio do acampa-
compromisso histórico baseado no reconhecimento mento palestino de Tal-al-Zaatar em
do direito à autodeterminação dos palestinos, incluin- 1976 no Líbano, o cerco de Trípoli,
do o direito ao retorno e o direito a um mini-Estado também no Líbano, pelo exército sírio
soberano nos enclaves da Cisjordânia e de Gaza. em 1983, o massacre de Sabra e Chatila perpetrado Calendârio da OLP para o ano
por falangistas maronitas aliados de Israel, o apoio do de 1983. No imaginário da
A nova linhajDolítica, dinamjzada__rjela situação
revolução palestina, a pomba
nascida da guerra do Yom Kippur (veja capítulo 6), Iraque e da Líbia a Abu Nidal ou Abul Abbas, a repres-
da paz, ornada com o
são contra os "colaboradores" após a libertação do emblema nacional, não se
reconhecida peJc^ Kuwait. Eis como descreve esses sofrimentos o poeta concebe sem um fuzil, único
J o rd â n ia ) como "o ú n i c o neprê^èTrEantêclopovo palestino Mahmud Darwich: "Descobrimos o quanto já meio de fazer ouvir a voz
maciçamente pela nos tornamos árabes nas prisões israelenses; desco- desse povo sem terra.
UJ^sr^o^úTTlT^Ts^TrlTp^rtante, lasser Arafat é brimos o quanto já nos tornamos palestinos nas pri- Foto © Edimedia
ccrôidadõ por numerosos paTSês — como a França sões árabes..."
e"altãfÍ£^^2Q|^^^^^^^^s Unidas, de onde Porém a busca da unidade aparece constantemente
como uma necessidade vital, pois a Central deriva sua
ê1iê;^cãqâ!pQ[Tr"^õ!^^23E^^'l'a numa mao e um
fuzil na outra". ~"~ legitimidade apenas da sua capacidade de represen-
•Ill OS P A L E S T I N O S ENTRE I S R A E L E OS PAÍSES Á R A B E S
ITINERÁRIO DE UM COMBATENTE PALESTINO
tar o conjunto do povo palestino. Por isso, a direção
E
"pragmática" de lasser Arafat muitas vezes se vê obri- m 1948, um jovem Guerra dos Seis Dias, ao companheiros já morreram —
gada a endossar ações que ela reprova. Estig- palestino de dezenove demonstrar a incapacidade fez dele um mito. Desde seu
anos combate em dos países árabes de travar discurso histórico na tribuna
matizada pela pesada carga do seu início, a OLP conti- Jerusalém contra os soldados combate, justifica as opções das Nações Unidas em 1974,
nua sendo identificada à sua facção extremista. Para de Israel. Quarenta anos mais da al-Fatah. Apesar das lasser Arafat, usando a kefiah
muitos, OLP não rima com "nacionalismo" mas sim tarde, em janeiro de 1989, incursões clandestinas de tradicional e a eterna barba
com "terrorismo" — ignorando-se assim os esforços numa sessão extraordinária Arafat na Cisjordânia dos fedayin, simboliza aos
da ONU, lasser Arafat, ocupada, a organização não olhos do mundo, além do
reais efetuados pela chefia da organização para travar
presidente do Estado da consegue promover uma combate palestino, as
um diálogo na base do reconhecimento mútuo. Palestina, reconhece insurreição armada nos incertezas do terrorismo e os
A OLP nunca foi capaz de controlar o nebuloso con- solenemente o Estado de territórios; contudo, ela obtém perigos de uma diplomacia
junto de minúsculos grupos palestinos. Ao longo dos Israel. Entre essas duas uma ressonância cada vez tantas vezes ambígua: ele
datas, que longo caminho maior nos acampamentos de consegue a proeza de manter
anos, várias personalidades moderadas da OLP foram
percorrido! Para uns, símbolo refugiados palestinos. Em contato com os pacifistas
assassinadas pelos que fazem guerra contra os "traido- da resistência de um povo, 1969, a al-Fatah se impõe na israelenses e ao mesmo
para outros, terrorista, tempo com os radicais
lasser Arafat é um líbios, os marxistas de
personagem complexo e Áden e a Fraternidade
difícil de definir. Isso Muçulmana da Síria,
porque sua vida se com o Egito de Sadat
confunde com a do ou o de Mubarak.
combate palestino, em Perseguido pelo
todas as suas espectro de hadji
dimensões: a rota do Husseini, ele tem a
exílio é longa e obsessão de chegar a
tortuosa. Refugiado no um acordo. Entretanto,
Egito após a derrota de deve também manter o
1948, sua militância na caráter representativo
Organização dos da OLP, que é a sua
Estudantes Palestinos única fonte de
lhe vale uma breve pena legitimidade. Embora os
de prisão. No momento moderados da al-Fatah
do arabismo triunfante, sejam grande maioria
sente uma na Central Palestina
desconfiança precoce (cerca de'80%), Arafat
em relação aos foi obrigado a endossar
dirigentes árabes que, a as ações terroristas de
exemplo de Nasser, certos grupos
rés da causa". Foi esse o caso de Issam Sartaui, que subordinam a causa minoritários. O passado
Em junho de 1982, a invasão desde 1976 fez contatos com personalidades israelen- palestina a seus tão pesado de Arafat
próprios interesses. Assim, direção de uma OLP renovada, faz com que muitos pensem
do Líbano por Israel se dirige ses, e que foi executado pelo grupo de Abu Nidal — Arafat determina sua futura da qual Arafat se torna — até mesmo seus
diretamente contra a OLP. este mesmo condenado à morte pela OLP em 1973. estratégia política: para presidente. Para despistar as partidários — que no dia em
Depois de três meses de A partir de 1978, as fileiras se cerram em torno de sobreviver, o povo palestino ameaças de seus múltiplos que começarem negociações
lutas violentas em Beirute, os deve se constituir de forma inimigos, Arafat, apelidado de sérias lasser Arafat deverá se
lasser Arafat, contra a estratégia de Camp David —
combatentes palestinos são autónoma, até mesmo, se "o Velho", vive rodeado de afastar. Mas, talvez ainda
obrigados a retirar-se sob a refutada pela Central, que foi mantida à parte de um
necessário, indo contra os guarda-costas, sempre entre esteja bem longe o dia em
proteção de legionários processo que não reconhece "os direitos nacionais do países árabes e seus slogans dois aviões, duas capitais, e que o Estado da Palestina não
Imnceses. Dessa forma, são povo palestino". A OLP se reconcilia com as capitais unitários. Freado pelo regime raramente dorme mais de tenha mais necessidade
<>xt>iilr,iKí tio nua última linha síria, iraquiana e jordaniana. Na^ mesma época, ela nasserista, lasser Arafat se uma noite no mesmo lugar. desse homem, símbolo de
(/c ftrnlc roním Israel. instala no Kuwait. Em 1959 Sua longa sobrevivência sua luta e de seu exílio. •
tenta quebrar a lógica terroristaTque só prejudica, ajjyj
ele está entre os primeiros política — e também física,
causa. Daqui em diante esta causa deverá ser defendi- fundadores da al-Fatah. A quando tantos de seus Foto <D Keystone
100 OS P A L E S T I N O S ENTRE ISRAEL E OS PAÍSES ÁRABES O FIM DOS S A N T U Á R I O S 101
lasser Arafat, cercado em Trípoli, é forçado uma vez Nos territórios ocupados, a
mais a deixar o Líbano, protegido pela França, contra intifada prossegue com
a dupla ameaça da artilharia síria e da marinha de manifestações e represálias.
Em janeiro de 1988,
guerra israelense. Daqui em diante a OLP não dispõe
soldados israelenses
mais de um santuário; assim, será incapaz de reagir dispersam uma reunião de
ao ataque israelense lançado em 1985 contra seu protesto após a morte de
quartel-general em Túnis. No palco do Oriente Médio a uma mulher palestina pelo
OLP está praticamente reduzida à impotência. exército num subúrbio de
Jerusalém.
A colonização dos territórios ocupados Foto © Chip Hires/Gamma
É assim que a luta se desloca para os territórios
conquistados por Israel em 1967. Já a partir do fim
da Guerra dos Seis Dias, .ojaipislEO Igal Aloa.pjopu-
sera a colonização de uma faixa de vinte quilôme-
A m/i«».Mí;.i" i/.i Cisjordânia os elos de um projeto geopolítico preciso: a constru- continua no front pioneiro da Alta Galiléia, onde a As colónias judaicas visam
comece Imediatamente após a
ção da Israel Hashlemá, ou Grande Israel, do qual população árabe ainda é majoritária; o objetivo é seg- estender uma rede por todo o
Kuorra de 1967. Num primeiro
faz parte integrante a Cisjordânia — chamada pelos mentar o espaço palestino, romper a homogeneidade território da "Judéia-Samaria"
momento ela atende a
seus nomes bíblicos de Judéia e Samaria. O Likud (nome bíblico da Cisjordânia).
exigências militares; logo, do habitat árabe e estabelecer, a médio prazo, uma
porém, será assumida por recusa o qualificativo pejorativo de "ocupação": Em março de 1992 o governo
nova "rede" de continuidade territorial — desta vez israelense preferiu renunciar
civis adeptos da ideia de um para ele esses territórios foram "recuperados", ou
"Grande Israel". Uma lógica feita por colónias de população judaica. A colónia de a um empréstimo americano
económica incentiva o melhor, "libertados". Isso lhe permite ignorar a Ariel, por exemplo, construída no prolongamento da de dez milhões de dólares
povoamento dos territórios: Convenção de Genebra sobre territórios^ocupã^õs" zona metropolitana de Tel Aviv, foi concebida para para não interromper a
atraídos por uma política de
^ eMi ptnEJdaT pelos a c o Fcio s~ receber 50 000 habitantes. Paralelamente, os pales- colonização dos territórios
preços baixos, mais de Camp David jrefergjse aoerias^às_GQPulaçoes; e não
100 000 judeus passam a
tinos são submetidos a uma contínua perseguição ocupados. Na foto o novo
residir em assentamentos em
à terra, de forma nenhuma. Os militantes do Gush (proibição de construir, de cavar poços...) que visa assentamento de Revana,
Jerusalém oriental e seus EmunínTr^^tDTtrdos-fiéts", são a ponta-de-lança incitá-los a partir. em abril de 1991.
arredores. dessa colonização. Para sustentar sua resistência, os palestinos dos Foto © Shlomo Arad/Sipa
Para esses partidários do Grande Israel, a "recon- territórios ocupados contam apenas com sua superio-
quista" da terra, que é árabe por usurpação e judaica ridade demográfica (mais de um milhão e meio na
por promessa divina, é um dever sagrado. O neo- Cisjordânia e Gaza). Ora, as colónias são projetadas
sionismo desses pioneiros modernos, apóstolos da para acolher um milhão de colonos judeus. Em 1991,
tshuvá, ou "retorno a Deus", faz um estranho eco às mais de 200 000 judeus são recenseados na
teses defendidas pelo islamismo no campo adversá- Cisjordânia e em Gaza, 12 000 nas colinas de Golan
rio. Sinal de um esgotamento do sionismo leigo? e mais de 100000 em Jerusalém oriental. E o mais
A integração económica e também política dos terri- importante, a partir de 1989 a questão demográfica
tórios é levada a cabo de maneira metódica. O gover- se modifica por completo com o afluxo de judeus da
no israelense retoma assim a técnica de assenta- União Soviética: 100 000 imigrantes em 1990, sendo
mento de comunidades judaicas — tarefa que, aliás, esperado o dobro em 1991.
POMBAS E F A L C Õ E S : DOIS PONTOS DE V I S T A I S R A E L E N S E S
A revolução das pedras então um diálogo com o governo americano, chave Reconhecendo a existência
mestra de qualquer acordo. Porém, uma vez mais, a da intifada, em julho de 1988
Dezembro de 1987: depois de vinte anos de ocupa- o rei Hussein rompe os
ção e de derrotas, tanto militares quanto diplomáticas, intransigência de ambas as partes irá quebrar o
últimos laços administrativos
o desespero e a rejeição a uma situação intolerável impulso: enquanto se constitui em Jerusalém um
entre o seu país e a
aumentam na juventude palestina que cresceu sob o novo governo que inclui alguns adeptos da "transfe- Cisjordânia ocupada. Nestes
jugo israelense. Esta é a causa da intifada (em árabe: rência" de árabes residentes na Judéia-Samaria, territórios "esquecidos" pela
insurreição). Essa "revolução das pedras" começou de Abul Abbas tenta desembarcar em Tel Aviv; o diálo- lei, o ódio contra Israel é
.forma espontânea e tomou de surpresa tanto Israel go é rompido. tanto que, durante a crise do
quanto a OLP. A total ausênciai dejaerspectivas. levou a É neste contexto que estoura a crise do golfo. O golfo, os mísseis disparados
Iraque dispõe de cartas valiosas aos olhos dos por Sadam Hussein são
no^/a^j2djcjljzaçõe£^depois doshpjmens ilustres pró-
palestinos: sustentado por um exército poderoso, recebidos com
iordanianQa "
que aspira a uma paridade estratégica com Israel manifestações de alegria.
"P ra geração de líderes palestinos, cada vez menos "corh.
Foto © Chip Hires/Gamma
-fois que Sadam trolávejs". Prova disso é a expansão do movimento — armas químicas contra armas nucleares —, o
islamista Hamas, que retoma d^íscursg^regariclò' a país é um dos últimos bastiões do nacionalismo
lance seus mísseis destruição de IsrãêT^piãrEicípã" clã intifada sem seT árabe. A demagogia de Sadam Hussein encontra
reconhecer como participante datJtPT" ressonância imediata na população dos territórios
contra Israel! n^êlãreslíaôTvioTe^^ apesar da ocupados, reduzida a seus últimos cartuchos após
morte de mais de mil pessoas nas fileiras palestinas três anos de lutas infrutíferas. Pressionada pelas
Mesmo que a em três anos, nada parece deter um movimento que bases, arriscando-se a perder o controle, a OLP não
se alimenta de seus "mártires": pedras, barricadas, tem escolha. Desde 1983, o Iraque é o último país
maioria não atinja greves, boicote de produtos israelenses, manifesta- a apoiá-la... A crise do golfo mostra a urgência de
ções em que se desfralda a proibida bandeira palesti- uma solução para a questão palestina. O Estado
o alvo e caia sobre na — sucedem-se quase todos os dias. A situação se Árabe da Palestina, estipulado pelo plano da parti-
deteriora, "colaboradores" são assassinados e civis lha de 1947, será um dia realidade?
nós, pelo menos israelenses atacados a faca. Contudo, o movimento
como um todo respeita as instruções da OLP, a qual
alguns atingirão se recusa a passar para uma luta armada que sem
dúvida lhe seria fatal. As pedras são um símbolo que
Tel Aviv!" expressa, além da pobreza das vítimas, uma vontade
de manter o conflito num certo nível.
Valendo-se da intifada comjpJoriiiidJiy^Uasltumeo-
to"3ejprõpagari_da;- a 'diréção da OLP finalmente dá
um passo: em novembro de 1988 o Conselho
Nacional Palestino, reunido em Argel,. recoflhece_.o-.
conjunto das resoluções da ONU sobre. a Palestina,
TqcJjuiBdOn^l?^^g^ESÍ^ni^fazejido, ela jadmite
ofig iãJJUgJlte^LdJ.ré• i t d s rael ã exstê n c i a .Em
segyjdaA_ela_declara
proclarria_ja_cSQ^JTuTçodo Estado árabe da
^
)utro fato novo: ~ãs~õrgaTiTzãções radicais, como a
FPLP, se submetem à decisão da maioria e dão
uma chance — com a condição de sucesso rápi-
do... — à linha de ação de Arafat. A Central inicia
DE SADAT A SADAM 109
Capítulo 6
ENQUANTO o EGITO SE ENCAMINHA PARA UM ACORDO HISTÓRI-
DE CAMP DAVID CO COM ISRAEL, APARECEM os PRIMEIROS SOBRESSALTOS DA REVO-
LUÇÃO IRANIANA. COMO SINAL DOS TEMPOS, O ISLAMISMO E O
A GUERRA DO GOLFO PETRÓLEO TORNAM-SE O MOTOR DOS PRÓXIMOS CONFLITOS.
l
TV ^^L ao é verdade que os árabesEm janeiro de 1979, depois
^^k l detestam os judeus por de enormes manifestações
^^H razões pessoais, religiosas ou na rua, o regime do xá do
Ire desmorona, dando lugar
^B raciais. Eles nos vêem, e do à primeira república
•J™ ^ seu ponto de vista têm razão, islâmica da História. Depois
como ocidentais, estrangeiros, invasores que se apo- do choque do petróleo, este
deraram de um país árabe para fazer dele um Estado acontecimento deixa o
judaico... Considerando que somos obrigados a reali- mundo estupefato: o
zar nossos objetivos contra a vontade dos árabes, Oriente Médio demonstra
precisamos viver num estado de guerra permanente." ser um dos centros
Esta declaração do general Moshé Dayan (feita logo nervosos do planeta, onde
após a Guerra dos Seis Dias) mostra um ceticismo as crises repercutem com
amplamente partilhado pela opinião pública israelen- violência.
se sobre as chances de uma paz negociadaJJ2eJalal Foto © A. Mingam/Gamma
todos os esfoiÇQS de mediaslp realizadosjdepojsxia
1967 irão fracassar e a Resolução 242 da QMUj^ue
determinava a restituição dos territórios conquista-
dos, ficou letra mgrta.
É isso quê íeva os países árabes a pensar em reini-
ciar as hostilidades, com um objetivo limitado: não o
de libertar o conjunto dos territórios ocupados em
1967, mas provocar uma internacionalização do con-
flito que lhes permita escapar de um estéril confronto
com Israel e forçar as negociações. O exército egípcio
terá, portanto, a missão de atravessar o canal de
Suez e fixar-se, custe o que custar, em sua margem
oriental; já o exército sírio terá a missão de escalar
as encostas do monte Hermon.
A ofensiva é marcada para 6 de outubro de 1973;
situada em cheio no mês em que os árabes fazem o
jejum do Ramadan, esse dia corresponde também ao
Yom Kippur, o Dia do Perdão, comemoração religiosa
que paralisa a população judaica. Passado o primeiro
110 DE CAMP DAVID À GUERRA DO GOLFO EM J E R U S A L É M PELA PAZ 111
Em 6 de outubro de 1973, as momento de surpresa, em que os exércitos árabes tradicionais: já em 1971, iniciara a expulsão
tropas egípcias se lançam ao progridem nos dois fronts, instalam-se duas gigantes- dos conselheiros militares soviéticos. Aliando-se aos
assalto da margem oriental do nmoricanos, ele acredita romper a lógica da guerra fria
canal de Suez e conseguem cas pontes aéreas, uma dos Estados Unidos para
penetrar na famosa linha Israel e outra da URSS para os países árabes. Israel n hicilitar um acordo sob os auspícios da principal
Bar-Lev, considerada logo assume a iniciativa: ultrapassando as ordens pniiMicia mundial. Para tanto, ele deve quebrar o
inexpugnável. Um dos recebidas, o general Sharon dispõe seu exército na ffíilor de todos os tabus — o diálogo direto com
objetivos desta guerra foi lirael. Vem daí sua histórica viagem a Jerusalém, em
margem ocidental do canal, de onde ameaça cercar o
atingido: quebrou-se o mito da
invencibilidade israelense. III exército egípcio. MOVI M nbro de 1977, que desperta uma enorme espe-
Abaixo, tanques israelenses a / A Guerra do Yom Kippur leva a uma escalada rança no mundo/ Depois de décadas de luta, será que
caminho do front do Sinai. espetacular entre os Estados Unidos e a União . vai enfim triunfar? Logo em seguida/são assina-
Foto como os combatentes não respeitam a " acordos de Camp David, sob os auspícios do
resolução de cessar-fogo, os soviéticos parecem piiiftidcnte americano Jimmy Cárter; mas, apesar
decididos a intervir diretamente no tea-
tro de operações. Os EUA reagem, SADAT NO PARLAMENTO ISRAELENSE - 20.11.77
declarando em 25 de outubro um alerta
nuclear de terceiro grau... Depois de segurança será sem sentido
D
ecidi vir até vocês
quase um empate territorial — Israel com o espírito aberto, enquanto vocês ocuparem a
recuou apenas alguns quilómetros — o o coração aberto, terra pela força das armas.
cessar-fogo finalmente se impõe/ oom determinação, para que A paz não pode ser válida e
l«>v.,imos estabelecer uma não pode ser construída
Contudo, essa guerra pela paz é uma
!>.i/permanente fundada na enquanto houver uma
guerra por nada. Devido às rivalidades ocupação da terra de um
|ir.lic.:;i. (...) Digo aos
Leste-Oeste, a conferência se arrasta. lenhores com sinceridade outro povo. (...)
Os Estados Unidos decidem conduzir o i li K • .1 paz só será real se for Se vocês encontraram
jogo em prejuízo de um acordo global: é luiul.iila na justiça e não na justificação legal e moral
a época dos "pequenos passos" de i» ii|i,K,:,io de terras alheias. para estabelecer uma pátria
Henry Kissinger, secretário de Estado H, lu r admissível que vocês nacional num território que
de Richard Nixon. Ele obtém, é verdade, p»çnm para si próprios não era vosso, então é
alguns êxitos parciais na separação iii|uiln (|iio recusam aos melhor que compreendam a
niiliov Sinceramente, no determinação do povo
das forças no terreno, mas o cerne da
ti',|iintn que me trouxe a vir palestino de estabelecer o
questão é evitado. Em especial a OLP,
lni|c .ilr esta casa, eu lhes seu próprio Estado, uma vez
que acabava de ser convidada para a mais, na sua pátria. (...)
• iic." os senhores devem
tribuna da ONU, de saída é colocada iilinniliiiiiir de uma vez por Em consequência vos
fora do jogo. lniLi'. '.cus sonhos de sim. Viver no interior de afirmo, senhoras e
i "Miinr.i.i. Devem também suas fronteiras, protegidos senhores, que seria ilusório
Camp David: história de um fracasso nluiMiliiM.ir a ideia de que a contra qualquer agressão. A não reconhecer o povo
Com essa nova ameaça de estagnação, Anuar li n i,, i d i i melhor forma de isso eu digo sim. Obter palestino, seu direito ao
Sadat decide tomar uma atitude radical/Sucessor de II.M.II "'. ;irabes. Devem todas as garantias para estabelecimento do seu
Nasser, Sadat quer obter a paz a qualquer preço, para i "iii|iu«inUor as lições do esses dois pontos. A este próprio Estado e o seu
• ••iiin.nl" entre vocês e nós. pedido eu digo sim. (...) direito de retorno. (...)
dar uma chance ao Egito de sair da miséria e do sub-
i>.iir..i" n; 10 vos trará Qualquer negociação acerca Como já vos afirmei, não
desenvolvimento. Os motins causados pela fome, que de uma paz permanente e pode haver felicidade para
iniiii iioneflclo. (...) O
estouram no Cairo em janeiro de 1977, funcionam • i i M/ P.IIÍI Israel? justa será sem sentido, ninguém à custa da miséria
como advertência: é prioritário sanar os desequilíbrios Vivei iiii mulAo com seus qualquer medida visando de outrem. •
internos. Consciente da proeminência americana na • Intuis ,unheis em garantir a nossa vida nesta
região, Sadat realiza uma espetacular reviravolta nas .11 eu digo parte do mundo em Foto © Sipa
112 DE CAMP DAVID À G U E R R A DO GOLFO 113
A G U E R R A PELA SUCESSÃO
Em 25 de abril de 1982, os
disso, a corajosa iniciativa do presidente Sadat acaba dente que aos poucos irá frutificar. No fim dos anos 80, o
israelenses devolvem o Sinai
ao Egito. O plano de fracassando. Em seu discurso no Parlamento israelen- enfraquecimento da URSS na cena internacional modifica
desmilitarização, se, ele lembra a necessidade de se tratar o conflito o jogo: a frente da recusa é obrigada a evoluir e em 1987
consequência dos acordos de como um todo; contudo, a recusa do mundo árabe e da o Egito — apesar de ainda vinculado aos acordos de
Camp David, termina em OLP, apoiados pela URSS, assim como a intransigência Camp David — é reintegrado à Liga Árabe. Com a crise
1990, com a restituição de de Menahem Beguin, vão obrigá-lo a assinar uma paz do Kuwait de 1990, o conjunto dos protagonistas árabes
Taba, no golfo de Acaba. Este em separado, bem aquém das suas esperanças. se rende enfim à lógica do "compromisso histórico".
minúsculo território de um Os acordos de Camp David compreendem duas par- Consequência de Camp David: sem o Egito, o mundo
quilómetro quadrado jã tinha tes bem distintas. A primeira, que institui uma paz cla- árabe não tem mais centro, e a guerra pela sucessão
sido causa de um conflito
ramente formalizada, concerne à retirada dos israelen- está aberta. A Síria? O país, demasiado exposto frente a
entre o Império Otomano e os
ingleses... em 1892.
ses do Sinai e a desmilitarização parcial desse territó- Israel, comprometido no Líbano, sofre contestações inter-
Foto © A. Mingam/Gamma
rio — a mesma desmilitarização que Nasser anulara nas: até 1982 o regime está entregue a uma verdadeira
na véspera da Guerra dos Seis Dias. A segunda parte guerra civil liderada pela Fraternidade Muçulmana. A
prevê negociações a fim de dar autonomia a Gaza e à Arábia Saudita? Este país rico, subpovoado, e adminis-
Cisjordânia durante um período transitório de cinco trado como uma grande empresa pela família Saud,
anos, após o que seria adotada uma regula- não desperta grandes entusiasmos, ainda mais por-
mentação definitiva. É esta parte dos acordos que a ideologia wahabita, que ele endossa, é minori-
que suscita comoção geral: os palestinos dos tária nas terras do islã. Sobra o Iraque. Pressionado
territórios ocupados não foram consultados! pelas circunstâncias, Sadam Hussein tenta aceitar
Nos territórios ocupados, manifestações hostis o desafio: servido por um exército poderoso, seu
marcam a reaproximação egípcio-israelense. O regime aparece como um bastião contra a revolu-
mundo árabe, liderado por uma "frente de recusa" ção iraniana, que faz tremer tanto o Ocidente
(Síria, Líbia e OLP), logo irá condenar o Egito ao ostra- como as monarquias do golfo Pérsico. Estas
cismo, excluí-lo da Liga Árabe. Esse isolamento de últimas irão utilizar suas imensas reservas
Sadat faz o jogo dos anexionistas israelenses: pois, financeiras para ajudar Sadam Hussein em
apesar das suas ambiguidades, a dinâmica da paz era sua cruzada contra Khomeini. Sinal dos tem-
real. Nesse sentido, Camp David foi uma nova oportuni- pos: não é mais Israel, mas sim o islamis-
dade perdida. mo e o petróleo que serão agora o principal
Esses acordos, porém, também constituíram um prece- motor dos conflitos do Oriente Médio.
114 DE C A M P D A V I D À G U E R R A DO GOLFO UM M O V I M E N T O DE I D E N T I D A D E 115
ALGUMAS DEFINIÇÕES
F
undamentalista. "ímpios". Os grupos
Aquele que obtém suas islã tradicional passa a ser
contestado por outros terroristas que assumem
referências nos este termo tão distorcido
fundamentos da religião. valores, vindos do Ocidente.
Antes disso, esse adjetivo representam uma ínfima
Esta atitude pode gerar um minoria no movimento
esforço de retorno ã origem não tinha sentido: era-se
apenas "muçulmano". O islâmico.
e de renovação. Assim Muçulmano. Adepto da
ocorreu com os primeiros islamismo coloca a
referência à lei do Corão — religião islâmica; para se
reformistas muçulmanos, considerar muçulmano,
tais como Jamal ad-Din fundamento da religião —
no centro de suas basta endossar a frase
al-Afghani e Muhamad Abduh
preocupações políticas. ritual: "Só Alá é Deus e
(ver capítulo 2). Maomé é seu profeta".
Integralista. Procura aplicar Estas podem ser
extremamente variadas e a Sunismo e xiismo. Seria
a lei ao pé da letra, falso opor "revolucionários"
literalmente. A problemática própria lei é passível de
interpretações diversas. xiitas e "conservadores"
da adaptação à modernidade sunitas: enquanto o xiismo
não é teorizada em princípio Jihad. Literalmente,
"combate sagrado no desenvolve muitas
e o único modelo de tendências místicas, o
referência continua sendo a caminho de Deus". Este
esforço de purificação deve desejo de reforma sunita,
Idade de Ouro profética. expresso sobretudo pela
Nesse aspecto, o regime ser procurado primeiro por
si próprio, depois para a Fraternidade Muçulmana,
americanos. Assim, a luta contra a ditadura imperial saudita pode ser qualificado
edificação do próximo e, gerou numerosos
dos Pahlevi será associada, segundo uma visão (li: inli:j>,ralista. extremismos (como o dos
Islâmico. Relativo à religião enfim, em caso da ameaça,
maniqueísta clássica, à luta contra seu poderoso contra os inimigos do islã. assassinos de Anuar
muçulmana (a poesia Sadat). Prova de que o
aliado, os EUA, ou "Grande Satã", símbolo da domi- |MM'.l,mm:íi, a arte Nos anos 60, reagindo às
perseguições nasseristas, radicalismo islâmico é uma
nação ocidental. M.imlc.i...) expressão social e política e
(•(•mista. Esse termo Saygid Qotb, da
A temível eficiência da Savak, a cruel polícia secre- Fraternidade Muçulmana, não uma manifestação
i NI PC li'mo ,I|I;IK;I:OU no estritamente religiosa. •
ta do xá, permitirá ignorar por muito tempo as fissu- começo do século, quando o radicaliza esta noção e
ras no regime. Após o desmantelamento da oposi-
118 DE CAMP D A V I D À G U E R R A DO GOLFO O I S L A M I S M O NA P R O V A DO PODER 119
"A lei divina e a razão nos vida política pelos dignitários religiosos, os únicos tola atraem milhões de fiéis. Pois, apesar dos fra-
ordenam não aceitar que se habilitados, enquanto se espera a volta do "imã cassos e dos excessos da revolução, a figura do aia-
perpetuem as formas de tolá Khomeini continua venerada no Ira; apesar das
oculto", a decidir sobre a conformidade das leis com
governo não islâmicas ou
o conteúdo da Revelação maometana. Deve-se notar múltiplas predições em contrário, seu regime sobre-
antiislâmicas." Publicado
clandestinamente em 1971, que esta teoria do "vicariato do imã oculto" é com- viveu a ele. Porém seu herdeiro espiritual, o aiatolá
Por um governo islâmico batida por um bom número de outros aiatolás, que Khamenei, não tem a envergadura religiosa do imã
expõe o programa do a/ato/á se atêm a uma interpretação mais tradicional, quie- Khomeini. Concebida sob medida para ele, a teoria
Khomeini, na foto orando em tista, da religião; mesmo assim, as ideias de do velayat-e faqih se enfraquece, e o verdadeiro
sua residência francesa em Khomeini irão se impor na Constituição aprovada em sucessor de Khomeini parece ser, na verdade, o
Neauphle-le-Château antes de 1979. "pragmático" presidente Rafsandjani. Na crise do
voltar ao Ira. Esta tem a aparência de uma democracia: o sufrá- Kuwait, este dará um golpe de mestre ao normalizar
Foto ©Keystone gio universal determina entre os partidos os repre- suas relações ao mesmo tempo com o Iraque e a
sentantes do povo; porém as leis votadas pelo Arábia Saudita. Aliás ele já começara, desde 1988,
Parlamento e os atos do governo são submetidos a uma reaproximação com os países ocidentais, que
um conselho religioso que julga se estão de acordo se acelerou a partir de 1990. Tal como ocorreu na
com a sharía, a lei islâmica. No cume da hierarquia, Arábia Saudita, a economia "islâmica" acabou tendo
Khomeini, o Guia da Revolução, orienta as linhas que se conformar, com algumas adaptações, aos
gerais do regime. Em 1988 ele intervém contra os moldes do capitalismo liberal.
chefes do conselho religioso, cuja interpretação Seguindo um processo clássico, depois de passar
estrita da sharía bloqueava qualquer projeto de refor- por um período de terror, quando os opositores de
ma, e afirma a primazia do Executivo sobre a lei qualquer natureza — liberais, comunistas, curdos ou
corânica, no próprio interesse do islã. Submetida à combatentes do povo — foram ferozmente persegui-
prova do poder, a expe-
riência iraniana não desa- OS CURDOS, UM POVO ESQUECIDO
fia apenas o Ocidente
Depois da Guerra do Golfo e
C
mas também o islamis- om cerca de 20 Iraque (23%) e Ira (10%). Em
milhões de almas, 1947 uma efémera de uma nova insurreição
mo, e recoloca o proble-
este povo de origem república curda nasce em contra Sadam, a intensidade
ma da adaptação do islã indo-européia figura, ao lado Mahabad, no norte do Ira; e a ferocidade da repressão
à modernidade. dos arménios, entre os porém é logo desmantelada provocam, em nome do
Ainda em 1988, o aia- esquecidos do primeiro pelo exército iraniano. Muito "dever de ingerência
tolá decide "tomar o pós-guerra. Em 1920, o divididos, os curdos são humanitária", a intervenção
Tratado de Lausanne com frequência manipulados das forças da ONU: para
veneno" do cessar-fogo evitar um êxodo maciço de
estabelecera, ao lado da pelos países rivais: assim,
com o Iraque, depois de Arménia, as fronteiras de um durante a guerra Irã-lraque, novos refugiados, é criada
oito anos de uma guerra eventual Curdistão. Porém o houve curdos iranianos no norte do país uma
que fez quase um milhão projeto é enterrado pelo lutando ao lado do Iraque, estreita zona de segurança.
de mortos. Somente o despertar nacional turco e enquanto muitos curdos do Sua situação legal é incerta.
os interesses da Inglaterra: Iraque tomavam o partido do Num contexto geopolttico
Guia da Revolução tem o Ira... Vem daí uma repressão hostil e em nome da
esta deseja incluir as
carisma necessário para impor esta medida, que regiões petrolíferas de feroz que culmina em 1988 realpolitik (política realista),
durante muito tempo foi apresentada como "derrotis- Mosul no interior de um quando o exército iraniano o Curdistão decerto nunca
ta": havia anos que o Ira exigia como condição pré- Iraque estritamente aniquilou com gases verá a luz: isso porque um
controlado. Assim, os venenosos a aldeia de desmembramento do Iraque
via que fosse derrubado o governo "ímpio" de só agravaria os
curdos vão se encontrar Halabja. A comunidade
Sadam Hussein e que a comunidade internacional espalhados por três países: internacional, na época desequilíbrios e reavivaria as
reconhecesse a responsabilidade de Sadam pelo iní- Turquia (onde representam solidária com Sadam pretensões rivais da Turquia
cio da guerra. Em junho de 1989, os funerais do aia- cerca de 19% da população), Hussein, fecha os olhos... e do Ira! •
120 DE CAMP DAVID À G U E R R A DO GOLFO
A GUERRA IRÃ-IRAQUE
Em muitos aspectos, a guerra dos, o Ira revolucionário parece ter entrado no cami- Principais zonas de combate
Irã-lraque lembra a Primeira nho da normalização interna. O
Guerra Mundial. Uma vez As tentativas de exportar a revolução fracassaram. Oleocfútóe fechados
detido o avanço iraquiano, o
A arma da religião, longe de ser um trampolim em • Termina
front se estabiliza e se
resume a uma guerra de
direção ao mundo muçulmano, confinou o modelo ^ A | Populaç
Salman Rushdie, escritor inglês de origem indiana. O trabalançam. Abalando o dogma clássico da não-
autor dos Versos satânicos reutilizou elementos da ingerência nos assuntos internos de um Estado,
tradição corânica para elaborar uma alegoria roma- corolário do princípio da soberania do Estado-
nesca: Iblis, disfarçado com a aparência do arcanjo Nação, esta evolução poderia dar uma nova direção
Gabriel, teria murmurado ao Profeta versos politeís- às relações internacionais.
tas. Salman Rushdie é declarado culpado de "apos-
tasia" e condenado à morte pelo aiatolá. Para além O agravamento dos desequilíbrios
A guerra entre o Ira e o Iraque (1980-1988) revelou a
A CORRIDA AOS ARMAMENTOS importância cada vez maior do petróleo na região e os
desequilíbrios que ele causa. O conflito prolongou-se
Pais Efetivos totais Despesas com a defesa inutilmente devido à indiferença das grandes potên-
ativos em milhões em% cias. Estas, sentindo-se pouco ameaçadas por um con-
(em unidades) de dólares doPNB flito de "pouca intensidade" — ou seja, alheio à lógica
do confronto Leste-Oeste —, haviam armado exagera-
Arábia Saudita 67500 14 690 * 18,7*
damente os beligerantes. Foi apenas quando a guerra
Bahrein 6000 185* 4,7 *
Egito 450 000 (+ 623 000 rés.) 6810* 6,7* atingiu os navios petroleiros, destruindo ou danificando
Emirados Árabes Unidos 44000 1470* 5,7 * mais de quinhentos, que ela acabou alarmando os paí-
lêmen do Norte 38 500 (+ 40 000 rés.) 566** 9,7 ** ses ocidentais, temerosos por seu suprimento de
lêmen do Sul 27 500 (+ 45 000 rés.) 220** 17,3 ** petróleo. Uma marinha de guerra ocidental navegava
Iraque 1 000 000 (+ 850 000 rés.) 12 870 ** 27,9 ** então no golfo Pérsico: foi a destruição de um avião ira-
Ira 504 000 (+ 350 000 rés.) 9900 *** 2,2 *** niano de carreira com 290 passageiros a bordo, por
Israel 141 000 (+ 504 000 rés.) 6020* 15,1* um cruzador americano, em julho de 1988, que fez o
Jordânia 82 250 (+ 35 000 rés.) 441* 11,7 *
Ira decidir-se a aceitar o cessar-fogo com o Iraque.
Kuwait 20300 1540 **** 6,7 ****
Omã 29500 1360* 16,2*
Terrivelmente mortífera (um milhão de mortos nos
Catar 7500 154* 2,9* dois países), esta guerra transtornou o equilíbrio de for-
Síria 404 000 (+ 400 000 rés.) 2490* 12,3* ças entre as potências que disputam a supremacia no
Golfo. Paradoxalmente, a Arábia Saudita — que teve
*1989; **1988; ***1988-1989; ****1989-1990.
um envolvimento mínimo no conflito — foi quem saiu
O enorme peso das despesas do caso pessoal de Rushdie, Khomeini cria um peri- mais enfraquecida. A crença num contágio revolucioná- O movimento libanês
com armamentos, sem dúvida goso precedente: a pregação islâmica despreza pas- rio neste país com forte minoria xiita, especialmente Hezbolah é um dos poucos
subestimado pelas fontes saportes e fronteiras e se outorga o direito de na zona petrolífera, revelou-se infundada; mas o regi- exemplos bem-sucedidos de
oficiais, entrava o supervisionar a vida dos muçulmanos no mundo me saudita constatou a limitação da sua capacidade exportação da revolução
desenvolvimento da região e iraniana. Em 1985,119
inteiro. de defesa autónoma. O Iraque leigo e pan-árabe
multiplica os riscos de prisioneiros xiitas são
É nesse sentido que se pode falar num desafio do coloca-se como protetor dos regimes conservadores da
conflito. O Oriente Médio, libertados por Israel: é uma
sobretudo, tornou-se um lugar Islã ao Ocidente. Para este, a integração das comu- península... que lhe trazem seu apoio diplomático e das condições exigidas para a
privilegiado para a nidades muçulmanas — indo-paquistanesas na financeiro. libertação de dois reféns
proliferação das armas Inglaterra, turcas na Alemanha, norte-africanas na Desde sua criação, em 1981, o Conselho de franceses...
não-convencionais, como se França — tornou-se questão prioritária. Cooperação do Golfo (CCG), que reúne os emirados Foto © S. Nachstrand/Gamma
revelou no desmantelamento De um lado está o "dever do jihad", em nome do petrolíferos em torno da Arábia Saudita, sempre evitou
do arsenal iraquiano após a combate do islã contra os "corruptores da Terra"; aceitar o Ira (favorável a um conselho islamista) e o
Guerra do Golfo. do outro lado, o "dever da ingerência", teorizado Iraque (partidário de um conselho árabe): sinal da des-
pela primeira vez em favor dos curdos após a guerra confiança crescente da Arábia Saudita em relação aos
do Kuwait, em nome dos direitos do homem e da seus poderosos vizinhos árabes. Marginalmente, evita-
proteção das minorias. Esses dois desafios se con- va também o lêmen, com quem tem uma velha disputa
O OURO NEGRO, UM TRUNFO PARA O ANO 2000 O PETRÓLEO TRAZ PROBLEMAS 125
F oi por ocasião da
guerra do Yom Kippur
que o Ocidente
descobriu a importância
estratégica do petróleo,
posições. O
cartel das "Sete Irmãs", as
maiores companhias de
petróleo — das quais cinco
noite para o dia
proprietárias de imensas
fortunas: entre 1964 e
1984, a receita petrolífera
política comum, o que explica seu fracasso em defi-
nir o preço de referência do petróleo; enquanto os
países de alta densidade populacional, como Ira,
são americanas — controla da Arábia Saudita
principal fonte mundial de 90% do mercado e obtém multiplicou-se por 50! Em Iraque ou Argélia, exigem um controle estrito da pro-
energia. Os produtores lucros fabulosos: os consequência, o centro do dução, única forma de manter os preços elevados,
árabes, que controlam royalties pagos aos países poder regional se inclina as monarquias do golfo Pérsico, confiantes na vasti-
quase um terço da produção produtores são, decerto, para os países do Golfo.
mundial, fazem quadruplicar mínimos. Baseados em seu novo dão de suas reservas, não hesitam em ultrapassar
o preço do petróleo bruto — Entretanto, pouco a pouco poderio, estes começam a as cotas. São duas políticas em contradição total,
que passa de 3 para 12 os produtores vão recuperar transformar em que reduzem a OPEP à impotência e açulam as ten-
dólares por barril — e uma parte dessa fortuna "mercenários" os outros
decretam um embargo impondo o princípio do regimes árabes. Para uns,
sões... especialmente entre o Kuwait e o Iraque.
contra os aliados de Israel. fifty-fifty, ou seja, a divisão os petrodólares; para
Ao tentar impor as suas dos lucros em partes iguais. outros, canhões — novos
regras do jogo, um punhado Nisso foram ajudados pela desequilíbrios em
de países irá provocar uma concorrência cerrada entre perspectiva... Apesar da
grave recessão económica. as grandes companhias. baixa de preços nos anos
Com o "choque do petróleo" Para destronar as majors, 80, a importância petrolífera
de 1973, o ouro negro as companhias menores do Oriente Médio não
torna-se uma arma. melhoram a cota destinada cessará no alvorecer do
Descoberto no início do aos países detentores de século XXI. Na verdade, a
século (a primeira maior parte das
exploração data de jazidas mundiais têm
1909, no Ira) o uma "esperança de
petróleo se torna, vida" bem pequena,
após a Primeira e sua produção deve
Guerra Mundial, o esgotar-se
alvo de todas as rapidamente: nos
cobiças — sobretudo Estados Unidos, já no
para as grandes ano 2000. Ao
potências. Menos contrário, as jazidas
bem implantada no do golfo Pérsico
terreno, a França totalizam 45% das
teve que ceder à reservas existentes,
Inglaterra a região e sua parte nessas
curda de Mosul em reservas não pára de
troca de uma participação concessões: já em 1957, a crescer, pois sua
de 25% na Irak Petroleum italiana ENI oferece pagar ao "esperança de vida" é bem É preciso lembrar que os lucros do petróleo só irri-
Company (IPC). Esta Ira 75% de seu faturamento. mais longa que a de seus garam marginalmente as economias da região. A
pretende deter o monopólio Para melhor se defender e concorrentes. Por volta do generosidade dos países do Golfo logo atingiu seus Criada em 1960, a
da exploração sobre o controlar o nível dos preços, ano 2000, elas responderão
conjunto da região, os países produtores se por mais da metade de toda
limites; a soma investida nos países árabes não Organização dos Países
delimitado por uma "linha organizam: em 1960, é a produção mundial. passa de 7% dos investimentos no exterior, e baixa- Exportadores de Petróleo
vermelha". Porém as criada a Organização dos Ainda mais do que em rá ainda mais em 1986, quando o preço do barril (OPEP) não conseguiu formular
companhias americanas, Países Exportadores de 1973, aquele que controlar uma política comum: os
sustentadas por seu Petróleo (OPEP), por a região decidirá a sorte da
desaba, retomando a cotação dos anos 60... Na ver-
países em desenvolvimento
governo, se impõem dentro iniciativa da Venezuela, economia mundial nos dade, a imensa maioria dos petrodólares são recicla-
(Ira, Iraque, Argélia...), a favor
da IPC e, sobretudo, Arábia Saudita, Ira, Iraque e próximos decénios. Isto dos nos circuitos financeiros governados pelas bol-
negociam com Ibn Saud um Kuwait. Frente ao boicote de um petróleo caro e limitado
explica, sem dúvida, a sas de Nova York e Tóquio.
monopólio concorrente nos das majors, começam as rapidez e a magnitude da por cotas rigorosas, se opõem
campos petrolíferos da nacionalizações. Com a crise reação dos Estados Unidos O petróleo favorece a inflação, provoca o êxodo aos partidários do petróleo
Arábia Saudita. de 1973, as monarquias do à invasão do Kuwait. • rural e a partida de milhões de trabalhadores (espe- abundante e barato, liderados
Depois de 1945, os golfo Pérsico, de pequena cialmente egípcios) rumo aos países do Golfo. Essas pela Arábia Saudita.
americanos reforçam suas população, se encontram da Foto ©S/pa
migrações acentuam os desequilíbrios demográficos Foto © Salhani/Sipa
126 DE CAMP DAVID A GUERRA DO GOLFO DESEQUILÍBRIOS PERIGOSOS 127
e estruturais, tanto nos países dos emigrantes como árabe. Estas desigualdades gritantes, agravadas pela
nos países que os acolhem: é eloquente o exemplo ostentação dos novos-ricos do golfo Pérsico, alimen-
do Dubai, emirado com apenas 80000 cidadãos numa tam sentimentos de frustração e injustiça.
população total de 600000 pessoas. O Iraque também é um rico país petrolífero. Porém
Assim, no espaço de vinte anos, as diferenças no esforço de guerra ele se endividou cada vez mais:
aumentaram dramaticamente. Eis duas cifras significa- devia 70 bilhões de dólares ao final do conflito. Sadam
tivas: enquanto os investimentos no exterior multi- Hussein acredita que as petromonarquias, pelas quais
plicaram-se por 30 (460 bilhões de dólares em 1988), - entre outros motivos — ele combateu, devem
as dívidas multiplicaram-se por 20 (270 bilhões de ajudá-lo a remediar a situação. Estas, porém, hesitam
dólares). Em consequência do contracheque petrolífero em continuar financiando um regime cujo poderio mili-
de 1986 e das políticas de ajuste do FMI, a renda per tar já se tornou preocupante.
capita cai perigosamente nos países pobres: 13000 Em 2 de agosto de 1990, é um Iraque superarmado
dólares por ano por habitante no Kuwait, contra ape- e superendividado que ataca seu minúsculo e riquíssi-
nas 650 no Egito. Com esse recuo, numerosos analis- mo vizinho. Desde 1969, Sadam Hussein
se impõe como o homem
tas árabes consideram que a aventura do petróleo, ini-
forte do Iraque. Em 1980 ele
ciada em 1973, mais parece uma maldição do que A invasão do Kuwait
lança seu exército contra o Ira
uma "dádiva de Deus". Ela acabou de dividir o mundo Além do contexto do petróleo, Sadam Hussein, sem-
de Khomeini; sairá deste
pre motivado por seus sonhos de poder e por suas conflito superendividado e
UM NÓMADE EM REVOLUÇÃO ambições geopolíticas, considera que o Kuwait lhe per- superarmado. Em 2 de agosto
tence "por direito": pois esse emirado "artificial", que de 1990 ele avança sobre o
N
ascido em 1942 nacionaliza a British demográfica de seu país bloqueia o acesso do Iraque ao golfo Pérsico, não foi Kuwait. Diante da coalizão
numa família beduína Petroleum Company e (4 milhões de habitantes),
da região de Syrta, separado da antiga província de Basra pelos ingleses? internacional, em 15 de
começa a arabização mas ajudado por seu
Muamar Kadafi cedo se completa do país. Partidário petróleo e por seu carisma (ver capítulo 1). Já em 1961 o general Kassam tentara agosto Sadam Hussein
entusiasma pelo Egito de ardente da unificação árabe, pessoal — mesmo que invadir essa cidade-Estado cuja integridade só foi salva reconhece os acordos de
Nasser. Saído da Real Kadafi nunca conseguiu, negativo —, Kadafi irá adotar Argel de 1975, os mesmos
por uma força árabe de dissuasão.
Academia Militar da Líbia porém, fazer alianças atitudes políticas variadas, que causaram oito anos de
em 1965, ele lidera um Com a renda das jazidas petrolíferas kuwaitianas,
duradoras: os projetos de em geral de intuito guerra. Um milhão de mortos
grupo de oficiais em luta fusão com o Egito, Sudão, desestabilizador, em relação Sadam pode agora influir sobre a sorte da economia pomada...
contra o regime monárquico Argélia ou Tunísia não têm ao Oriente Médio e à África mundial, tanto mais que, ao tentar reunificar o mundo Foto ©J. Pavlovsky/Sygma
de Idriss Senussi e a sucesso. Prejudicado pela (Chade). Acusada de árabe à força, ele ameaça diretamente a Arábia
presença ocidental na Líbia. baixa densidade fomentar atentados
Quatro anos mais
Saudita. Ora, apesar de seus armamentos sofistica-
terroristas, a Líbia é
tarde, em l de2
vítima de um dos, esta não tem um exército capaz de enfrentar a
SOCWUS1 "WPlfS USYAN MUS .-
setembro de 1969, JAMAHIRIYA bombardeio máquina de guerra iraquiana — que aliás ela mesma
ele anuncia, em americano em contribuiu para criar, instigada pelos países ocidentais.
pessoa, pela rádio 1986. Seis anos Quanto aos países árabes, às voltas com suas divi-
de Trípoli, a queda mais tarde, o
do velho rei. O coronel Kadafi é de sões, eles são incapazes de formar um front comum
"Guia da novo acusado pelos frente ao Iraque, que se tornou — com exceção de
Revolução" tinha Estados Unidos por Israel — a principal potência militar da região.
28 anos. sua recusa em Assim, caberá aos Estados Unidos intervir, como
Imediatamente a extraditar dois
Líbia exige a guardiões do bom funcionamento da ordem económica
agentes líbios,
evacuação das suspeitos de terem mundial e conscientes da importância dos fatores em
bases explodido um avião jogo. Os americanos começam a intervir em 15 de
anglo-saxônicas, da Pan Am em agosto, dando início à operação Tempestade no Deser-
expulsa os 12 000 ^ _._ . 1988. •
Italianos que ainda i LiS i ôyis l Jii £iS\ál>£sS\ to. Em seis meses eles irão assumir a liderança de
viviam no pais, 13 th ANNIVERSARYoTíte FIRST SEPTEM8ER flWOlUTKM1982 Foto ©Edimedia uma grande coalizão internacional e colocar na região
128 DE C A M P DAVID A G U E R R A DO GOLFO A U R G Ê N C I A DE UM A C O R D O G L O B A L 129