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Dante Grecco
Aziz Nacib Ab'Saber tem cerca de 300 artigos publicados, escreveu oito livros e
deu aulas em várias universidades
Com maior umidade, choverá mais. Por isso, nesse caso o aquecimento global
não representará um aspecto negativo do ponto de vista da climatologia da
fachada atlântica do Brasil. Portanto, não se pode dizer que a mata Atlântica será
atingida por ele. Ao contrário. A tendência é que tanto a mata Atlântica como a
Amazônia cresçam, e não que sejam reduzidas. Isso já aconteceu antigamente,
num período entre 6 mil e 5 mil anos atrás chamado de optimum climático.
Naquela época também houve um aquecimento do planeta, mas foi natural, e
não causado pelo acúmulo dos gases na atmosfera, como hoje.
Por quê?
Mas não se pode negar que uma das piores consequências do aquecimento
global será o aumento do nível das águas do mar.
A ascensão do nível das águas dos oceanos provocada pelo derretimento das
geleiras polares e das geleiras das altas montanhas vai criar graves problemas
na zona costeira do Brasil. São 8 mil quilômetros de litoral. A água deverá invadir
diversas cidades litorâneas, como Santos, Rio de Janeiro e Recife, entre outras,
criando mini-Venezas. Será preciso fazer pontes e diques na frente das praias e
nas margens dos rios. A água vai também tomar conta das barras dos rios e
alagar planícies rasas e manguezais, com prejuízos ambientais e econômicos.
O que o senhor sugere, diante do problema atual?
Fala-se que essa obra beneficiará cerca de 12 milhões de pessoas. Não acredito.
Ela vai beneficiar principalmente os pecuaristas. O mais triste é que os donos
das fazendas nem moram lá, mas sim em capitais como Fortaleza e Recife. A
região do São Francisco é muito complexa.No Nordeste chove muito no verão e
pouco no inverno, embora digam o contrário. É evidente que o Nordeste seco vai
precisar de mais água quando o rio São Francisco, que passa em grande parte
pelo cerrado de Minas Gerais e da Bahia, estiver mais baixo. Será justamente
nessa época que o rio precisará jogar mais água para os eixos norte e leste que
serão construídos até ela cair no açude de Orós. Aí surge um problema. As
águas do São Francisco são poluídas e vão se encontrar com águas salinizadas
do próprio açude. Ou seja, nessa época será preciso fazer uma transposição de
águas maior do que a planejada.
Como assim?
Quem é a favor da transposição diz que o rio vai perder apenas 1,4% de suas
águas após o término das obras.Mas é claro que no futuro essa porcentagem
deve aumentar. Ou seja, serão transferidas mais águas do rio para os futuros
eixos que vão ser construídos. Outro problema será manter as usinas
hidrelétricas de Paulo Afonso, Itaparica e Xingó funcionando. Então, a época em
que o rio receberá menos água vai ser a mesma em que ele deverá enviar águas
para além da chapada do Araripe. Isso é um contra-senso, pois, quando
estivesse chovendo lá, não seria preciso enviar água para a mesma região.
Talvez o principal seja a poluição das águas. Vários afluentes do São Francisco
vêm de Belo Horizonte, uma das maiores cidades do Brasil, e passam pela
região industrial sidero-metalúrgica. Um deles é o rio das Velhas, por exemplo.O
São Francisco tem 2170 quilômetros de extensão. Imagine a poluição que ele
carrega nessa distância. Técnicos disseram que iam revitalizá-lo antes de fazer
a transposição.Outro erro, pois não se pensou naqueles que têm só as margens
do rio para plantar, como na zona semiárida das cidades de Ibotirama, Barra e
Xique-Xique, na Bahia. Com a revitalização, eles perderão esses espaços.
Heróis são os cortadores de cana, que levam uma vida quase de escravo, e não
os donos da terra. Por que o presidente Bush veio a São Paulo e não foi a
Brasília? Porque os Estados Unidos sabem que o interior de São Paulo sempre
teve culturas agronômicas importantes, hoje controla as maiores plantações de
cana-de-açúcar do Brasil e que o etanol de cana vem sendo usado nos carros
como combustível. Eles não têm esse knowhow. Na verdade, os Estados Unidos
precisavam incentivar o Brasil a ampliar sua área canavieira para poder vender
mais tarde. Quem vai controlar o preço depois? Eles, é claro.
O que pode acontecer em termos ambientais se o governo incentivar a
produção de cana para depois produzir etanol?
http://viajeaqui.abril.com.br/materias/aziz-nacib-absaber-opiniao-divergente