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9o ANO
4 TERMO
Nos Cadernos do Programa de Educação de Jovens e Adultos (EJA) – Mundo do Trabalho são indicados
sites para o aprofundamento de conhecimentos, como fonte de consulta dos conteúdos apresentados e
como referências bibliográficas. Todos esses endereços eletrônicos foram verificados. No entanto, como a
internet é um meio dinâmico e sujeito a mudanças, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência,
Tecnologia e Inovação não garante que os sites indicados permaneçam acessíveis ou inalterados, após a
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do conteúdo do material de sua titularidade pelas demais secretarias do país, desde que mantida a
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negociados com seus próprios titulares, sob pena de infração aos artigos da Lei no 9.610/98.

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público nos termos do artigo 41 da Lei de Direitos Autorais.

Educação de Jovens e Adultos (EJA) – Mundo do Trabalho: Geografia, História e Trabalho: 9o ano/4o termo
do Ensino Fundamental. São Paulo: Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia
(SDECT), 2013.
il. (EJA – Mundo do Trabalho)

Conteúdo: Caderno do Estudante.


ISBN: 978-85-65278-90-4 (Impresso)
978-85-65278-84-3 (Digital)

1. Educação de Jovens e Adultos (EJA) – Ensino Fundamental 2. Geografia – Estudo e ensino 3. História
– Estudo e ensino 4. Trabalho – Estudo e ensino I. Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e
Tecnologia II. Título III. Série.

CDD: 372

FICHA CATALOGRÁFICA
Sandra Aparecida Miquelin – CRB-8 / 6090
Tatiane Silva Massucato Arias – CRB-8 / 7262
Geraldo Alckmin
Governador

SECRETARIA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO,


CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO

Nelson Luiz Baeta Neves Filho


Secretário em exercício

Maria Cristina Lopes Victorino


Chefe de Gabinete

Ernesto Masselani Neto


Coordenador de Ensino Técnico,
Tecnológico e Profissionalizante

SECRETARIA DA EDUCAÇÃO

Herman Voorwald
Secretário

Cleide Bauab Eid Bochixio


Secretária Adjunta

Fernando Padula Novaes


Chefe de Gabinete

Maria Elizabete da Costa


Coordenadora de Gestão da Educação Básica
Concepção do programa e elaboração de conteúdos

Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação

Coordenação Geral do Projeto Equipe Técnica


Juan Carlos Dans Sanchez Cibele Rodrigues Silva, João Mota Jr.
e Raphael Lebsa do Prado

Fundação do Desenvolvimento Administrativo – Fundap

Wanderley Messias da Costa Equipe técnica e pedagógica


Diretor Executivo Ana Paula Alves de Lavos, Clélia La Laina, Dilma
Fabri Marão Pichoneri, Emily Hozokawa Dias,
Fernando Manzieri Heder, Laís Schalch, Liliana
Márgara Raquel Cunha Rolfsen Petrilli Segnini, Maria Helena de Castro Lima,
Diretora de Políticas Sociais Odair Stephano Sant’Ana, Paula Marcia Ciacco da
Silva Dias e Walkiria Rigolon
Coordenação Executiva do Projeto Autores
José Lucas Cordeiro Arte: Carolina Martin, Eloise Guazzelli, Emily Hozokawa
Dias e Laís Schalch. Ciências: Gustavo Isaac Killner.
Geografia: Mait Bertollo. História: Fábio Luis Barbosa
Coordenação Técnica dos Santos. Inglês: Eduardo Portela. Língua Portuguesa:
Impressos: Selma Venco Claudio Bazzoni e Giulia Mendonça. Matemática:
Vídeos: Cristiane Ballerini Antonio José Lopes. Trabalho: Selma Venco.

Gestão do processo de produção editorial

Fundação Carlos Alberto Vanzolini

Antonio Rafael Namur Muscat Gestão Editorial


Presidente da Diretoria Executiva Denise Blanes

Equipe de Produção
Alberto Wunderler Ramos
Assessoria pedagógica: Ghisleine Trigo Silveira
Vice-presidente da Diretoria Executiva
Editorial: Adriana Ayami Takimoto, Airton Dantas de
Araújo, Amanda Bonuccelli Voivodic, Beatriz Chaves,
Gestão de Tecnologias em Educação Beatriz Ramos Bevilacqua, Bruno de Pontes Barrio,
Camila De Pieri Fernandes, Carolina Pedro Soares,
Direção da Área Cláudia Letícia Vendrame Santos, Lívia Andersen
Guilherme Ary Plonski França, Lucas Puntel Carrasco, Mainã Greeb Vicente,
Patrícia Pinheiro de Sant’Ana, Paulo Mendes e
Coordenação Executiva do Projeto Tatiana Pavanelli Valsi

Angela Sprenger e Beatriz Scavazza Direitos autorais e iconografia: Aparecido Francisco,


Beatriz Blay, Fernanda Catalão, Juliana Prado,
Olívia Vieira da Silva Villa de Lima, Priscila Garofalo,
Gestão do Portal
Rita De Luca e Roberto Polacov
Luiz Carlos Gonçalves, Sonia Akimoto e Apoio à produção: Luiz Roberto Vital Pinto,
Wilder Rogério de Oliveira Maria Regina Xavier de Brito, Valéria Aranha e
Vanessa Leite Rios
Gestão de Comunicação Projeto gráfico-editorial: R2 Editorial e Michelangelo
Ane do Valle Russo (Capa)

CTP, Impressão e Acabamento


Imprensa Oficial do Estado de São Paulo
Caro(a) estudante,
É com grande satisfação que a Secretaria de Desenvolvimento Econômico,
Ciência, Tecnologia e Inovação, em parceria com a Secretaria da Educação
do Estado de São Paulo, apresenta os Cadernos do Estudante do Programa
Educação de Jovens e Adultos (EJA) – Mundo do Trabalho, em atendimento
a uma justa reivindicação dos educadores e da sociedade. A proposta é oferecer
um material pedagógico de fácil compreensão, para complementar suas atuais
necessidades de conhecimento.
Sabemos quanto é difícil para quem trabalha ou procura um emprego se dedi-
car aos estudos, principalmente quando se retorna à escola após algum tempo.
O Programa nasceu da constatação de que os estudantes jovens e adultos
têm experiências pessoais que devem ser consideradas no processo de aprendi-
zagem em sala de aula. Trata-se de um conjunto de experiências, conhecimen-
tos e convicções que se formou ao longo da vida. Dessa forma, procuramos
respeitar a trajetória daqueles que apostaram na educação como o caminho
para a conquista de um futuro melhor.
Nos Cadernos e vídeos que fazem parte do seu material de estudo, você
perceberá a nossa preocupação em estabelecer um diálogo com o universo do
trabalho. Além disso, foi acrescentada ao currículo a disciplina Trabalho para
tratar de questões relacionadas a esse tema.
Nessa disciplina, você terá acesso a conteúdos que poderão auxiliá-lo na
procura do primeiro ou de um novo emprego. Vai aprender a elaborar o seu
currículo observando as diversas formas de seleção utilizadas pelas empresas.
Compreenderá também os aspectos mais gerais do mundo do trabalho, como as
causas do desemprego, os direitos trabalhistas e os dados relativos ao mercado
de trabalho na região em que vive. Além disso, você conhecerá algumas estra-
tégias que poderão ajudá-lo a abrir um negócio próprio, entre outros assuntos.
Esperamos que neste Programa você conclua o Ensino Fundamental e, pos-
teriormente, continue estudando e buscando conhecimentos importantes para
seu desenvolvimento e para sua participação na sociedade. Afinal, o conheci-
mento é o bem mais valioso que adquirimos na vida e o único que se acumula
por toda a nossa existência.
Bons estudos!
Secretaria da Educação

Secretaria de Desenvolvimento
Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação
Sumário
Geografia.......................................................................................................................... 7
Unidade 1
As mudanças no espaço geográfico na
escala planetária 9
Unidade 2
A Europa 25
Unidade 3
A Ásia 43
Unidade 4
A África e a Oceania 65

História............................................................................................................................ 89
Unidade 1
Da colônia à independência 91
Unidade 2
Do Império à República 109
Unidade 3
Da República Velha a Getúlio Vargas 129
Unidade 4
De JK à ditadura 151

Trabalho...................................................................................................................... 175
Unidade 1
Milagre econômico e trabalho 177
Unidade 2
Sindicalismo no Brasil 187
Unidade 3
Reestruturação produtiva 201
Unidade 4
Estratégias de busca de emprego 215
Trabalho

9o ANO
4o TERMO

Caro(a) estudante,

Dando continuidade aos estudos no Programa EJA – Mundo do Trabalho,


prossegue-se debatendo sobre o trabalho nesta disciplina que você já conhece
desde o 6o ano/1o termo.

Ao acompanhar a história de Jurandir, Nilda e Rosa, na Unidade 1 dis-


cute-se a crise econômica de 1970, conhecida como “crise do petróleo”, bus-
cando compreender como períodos como esse provocam alterações na vida
das pessoas e, também, como momentos de crescimento da economia nacional
não se traduzem, necessariamente, em ascensão econômica dos trabalhadores,
como ocorreu no caso do “milagre econômico brasileiro”. Por outro lado,
investimentos na educação e o aumento da escolaridade são fundamentais para
a mobilidade social.

A Unidade 2 remete à história dos movimentos reivindicatórios de traba-


lhadores no Brasil, desde o início do processo mais acentuado de industrializa-
ção do País, cuja economia era, até então, eminentemente agrária. Das primei-
ras associações de operários aos sindicatos atuais, é mostrado o que mudou e
o que permaneceu igual nas permanentes lutas dos trabalhadores por melhores
condições para a atividade laboral, de remuneração e de direitos trabalhistas.

A reestruturação produtiva, o surgimento de novas tecnologias e as novas


concepções na organização do trabalho resultaram, no Brasil, em grandes alte-
rações no mercado de trabalho, e igualmente no modo de executá-lo. Na Uni-
dade 3, além dessas questões, são apresentadas também as políticas públicas
de emprego, que buscam fazer frente à extinção de postos de trabalho, resul-
tado da reestruturação produtiva. São medidas como o seguro-desemprego, a
(re)qualificação profissional e o trabalho autônomo.

Uma discussão sobre o emprego e o mundo do trabalho na atualidade,


o crescimento do emprego formal, o pleno emprego e, além disso, mais uma
abordagem da parte prática na busca de nova colocação no mercado de traba-
lho são os temas vistos na Unidade 4.

Boas aulas!
1 Milagre econômico
e trabalho

Durante os estudos da disciplina Trabalho, foram acompanhadas


as trajetórias pessoal e profissional de um casal de migrantes nordesti-
nos, Jurandir e Nilda, e de sua filha, Rosa. Por meio dessa história, foi
possível conhecer como o trabalho se transformou no Brasil ao longo
dos anos e como decisões políticas, econômicas e sociais – nacionais e
internacionais – afetam o emprego e a vida de cada trabalhador.
O objetivo desta Unidade é continuar essa caminhada e analisar
esses aspectos em um momento turbulento no Brasil e no mundo:
a crise dos anos 1970, assunto também abordado nas disciplinas
História e Geografia.

Para iniciar...
Converse com o professor e os colegas:
• Na sua opinião, o que é crise?
• Quando você ouve falar em crise econômica, no noticiário, associa
crise à qual situação?
• É possível se prevenir de alguma forma de uma crise econômica
nacional ou mundial? Como?

Crise e economia
Quando o assunto é crise econômica, é comum ouvir especialistas
no noticiário explicando as diferentes razões e desdobramentos de
situações dessa natureza. Como entender cada uma das explicações?
É possível compreender a crise econômica como uma balança dese-
quilibrada que tem, em um dos pratos, uma baixa no consumo e, no
outro, um aumento na produção.
A lógica no sistema capitalista é produzir-vender-consumir, e,
quando essa relação se desequilibra, gera-se uma crise econômica. Mas
seria possível separar a crise econômica dos aspectos políticos e sociais?
A história de Jurandir auxilia na compreensão dos períodos de ins-
tabilidade econômica brasileira. O personagem migrou para São Paulo,

177
Trabalho – Unidade 1

em 1954, em busca de uma vida melhor para ele e sua família; tinha
começado a labuta na roça desde menino, mas, ao chegar a São Paulo,
iniciou uma nova trajetória profissional em uma fábrica de encera-
deiras e aspiradores de pó; então, fez curso de mecânica e conseguiu
emprego em uma das indústrias automobilísticas, entre as várias que
vieram a se instalar, nessa época, na região do chamado ABC pau-
lista (Santo André, São Bernardo do Campo e São Caetano), que, mais
tarde, se tornou ABCD, com a inclusão do município de Diadema.

A empresa em que Jurandir obteve seu novo emprego era estran-


geira e já funcionava no Brasil desde o começo dos anos 1950, mas
tinha construído uma nova planta (fábrica) no ABC, com grande
capacidade de produção e, também, de contratação.

A economia brasileira viveu um forte crescimento nos anos 1960,


beneficiada, sobretudo, por um movimento semelhante nos países
centrais: Estados Unidos e alguns países da Europa, como Alemanha
e França, entre outros.

De 1968 a 1973, o crescimento médio do Produto Interno Bruto


Produto Interno Bruto
(PIB) brasileiro foi de 11%. Esse número já era, por si só, considerado
O PIB representa a soma,
em valores monetários, um milagre. (Para se ter uma noção do que esses dados significaram,
de todos os produtos e cabe lembrar que a previsão para o crescimento do PIB mundial para
serviços produzidos por
um país ou uma região. 2013 é de 3,9% e, para o Brasil, de 3,3%.)

Tal situação foi excepcional e impulsionou a criação de muitos


empregos: era o chamado “milagre brasileiro”.
História Apesar do crescimento econômico e da criação de mais empregos,
9o ano/4o termo
Unidade 4 havia uma contradição: a distribuição de renda brasileira não seguia
o desenvolvimento da economia, pois o modelo de industrialização
adotado no Brasil não foi acompanhado pelo consumo de massa.
Para compreender essa situação, é preciso recuar na história. No
7 ano/2o termo desta disciplina, foi realizada uma pesquisa sobre o
o

governo Juscelino Kubitschek, presidente do Brasil entre os anos de


1956 a 1961. Esse governo ficou conhecido, entre outros feitos, por
propor um Plano de Metas ao Brasil, cujo slogan era crescer “50 anos
em 5”. Com esse plano, o País contou com investimentos externos
importantes, que, por um lado, alavancaram a indústria brasileira,
mas, por outro, permitiram que as multinacionais transferissem os
lucros obtidos nesse setor para seus países de origem.
Diferentemente de países como os Estados Unidos, o Brasil não viven-
ciou o crescimento pelo consumo, pois os salários continuaram baixos.

178
Trabalho – Unidade 1

© Ivan Cosenza de Souza/Henfil


Charge de Henfil da época do “milagre econômico”, com os personagens Graúna
e Bode Orelana, ironiza a concentração de renda no Brasil.

À época, o economista Delfim Netto defendeu a “Teoria do Bolo”


como explicação do governo para a crise, ou seja: era preciso, pri- Fica a dica
meiro, o bolo crescer para, depois, dividi-lo. Mas esse tipo de esclare- Pra frente, Brasil
cimento não era suficiente para os trabalhadores, que passaram a per- (direção de Roberto
Farias, 1982) retrata o
ceber os riscos concretos de uma economia que tendia à estagnação, período da Copa do
após um período de crescimento. Mundo de 1970, em
que, em meio à euforia
O momento era propício para a economia, mas, em termos polí- dos jogos, pessoas
eram presas, torturadas
ticos e sociais, amargava-se o aumento da pobreza e da violência e mortas. No filme, é
durante a ditadura militar. O contraponto era o futebol, usado pelos mostrada a trajetória
de um trabalhador
militares para mascarar a realidade, quando se louvava o tricampeo- confundido com um
nato brasileiro na Copa do Mundo, em 1970, embalado pela música militante político pelos
agentes da repressão.
Pra frente, Brasil! e por slogans publicitários do período da ditadura,
como “Brasil: ame-o ou deixe-o”.

Foi criada, no governo Dilma Rousseff, a Comissão Nacional da Verdade, a qual, a


exemplo do que já foi feito em outros países, tem como objetivo investigar a violação dos
direitos humanos ocorrida entre 1946 e 1988. Tal ação visa fazer justiça às famílias das pes-
soas desaparecidas e mortas durante esse período, que inclui o regime ditatorial brasileiro.
Essa comissão, instituída em 16 de maio de 2012, analisa toda a documentação e re-
visa os direitos das famílias dos desaparecidos de terem reconhecimento dos assassinatos
cometidos pelo regime. Desse modo, agora é possível julgar os responsáveis pelos atos
criminosos no período da ditadura.
Um caso célebre é o do jornalista Vladimir Herzog, que, aos 38 anos, foi encontrado
enforcado em sua cela após sua prisão, em 25 de outubro de 1975. A família e a socie-
dade nunca se convenceram dessa versão, pois a cena montada para a foto da sua morte
é claramente falsa. Recentemente, a Comissão da Verdade alterou a causa mortis de
Herzog para lesões e maus-tratos, e não mais suicídio. Somente em 15 de março de 2013
a família do jornalista obteve a certidão de óbito.

179
Trabalho – Unidade 1

Atividade 1 Milagre econômico?


Observe a charge a seguir, do cartunista Ziraldo:

© Ziraldo
Agora, leia o seguinte texto de Adélia Meneses:

[...] se, em 1965, para adquirir a ração essencial mínima de sua alimentação, o
operário tinha de trabalhar 88 horas e 16 minutos, em 1974, para obter a mesma
quantidade de alimentos, ele tinha de gastar o dinheiro ganho em 163 horas e 32
minutos (cf. Salário Mínimo, Separata da Revista do Dieese, 1979).

MENESES, Adélia Bezerra de. Desenho mágico: poesia e política em Chico Buarque.
São Paulo: Ateliê, 2000, p. 18.

Com base no que você estudou e inspirando-se nas leituras e nas


observações que fez nesta Unidade, elabore um texto em seu caderno
refletindo sobre o tema: “Milagre brasileiro: milagre para quem?”.

Arrocho salarial
O desenvolvimento econômico no Brasil, particularmente na
região do ABC, trouxe a possibilidade de aumento da oferta de
emprego. O chamado “milagre econômico brasileiro” foi sustentado
por um tripé:

• Endividamento expressivo do governo federal;

• Investimentos federais nas indústrias (de base, construção civil,


eletrônica e automobilística);

• Exploração da força de trabalho baseada no arrocho salarial (con-


trole do aumento salarial, cujos índices de ajuste ficam abaixo da
inflação), na ampliação da jornada e na velocidade para executar
o trabalho.

180
Trabalho – Unidade 1

Após 1973, a situação do País alterou-se, e Jurandir e seus colegas


começaram a perceber que as condições salariais e de trabalho pio-
ravam a cada dia. Desde a promulgação da lei que criou o Fundo de
Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), em 1966,
ficou mais fácil demitir os empregados. O fundo foi Henrique de Souza Filho (1944-1988),
Henfil, foi um cartunista crítico ao sistema
compreendido pelos trabalhadores da época como
ditatorial vivido no País, que, por meio do
uma troca injusta: era o fundo em troca da estabili- seu trabalho, colocava-se ao lado dos operá-
dade no emprego. rios, dos migrantes nordestinos e das cama-
das populares da população. Observava as
injustiças sociais e as retratava com humor,
O controle sobre os operários era forte: idas ao
por meio dos personagens que foi criando:
banheiro determinadas pela chefia, intensificação Fradim, Graúna, Bode Orelana, entre outros.
da produção diária, insalubridade nas fábricas e
proibição de conversas e trocas de informação.

© Paulo Leite/Agência Estado


A charge a seguir, feita por Henfil, retrata o
controle existente nas fábricas, conforme você já
estudou no 7 o ano/2 o termo desta disciplina. O
taylorismo e o fordismo, formas de organização
do trabalho, tinham como princípio exercer maior
controle sobre os tempos e movimentos no exercí-
cio profissional.

© Ivan Cosenza de Souza/Henfil

181
Trabalho – Unidade 1

Atividade 2 Condições de trabalho


1. Em grupo, leiam o depoimento fictício de um operário:

“Hoje é minha primeira semana de trabalho e ainda tento me adaptar ao ritmo


da produção. Já me perguntei várias vezes se o problema sou eu, que não dou
conta do trabalho, ou se tem alguma coisa que ainda não entendi. Todos os dias a
produção muda e preciso sempre trabalhar mais rápido.”

Na opinião do grupo, esse depoimento poderia ter sido dado em


que época? Por quê?

2. Cada integrante do grupo vai relatar como é sua rotina de tra-


balho. Os que não estiverem trabalhando podem lembrar-se de
como faziam seu trabalho e os que nunca trabalharam podem
ouvir com atenção o relato dos colegas ou, ainda, descrever pas-
sagens sobre o trabalho de amigos e familiares.

Os relatos se assemelham ao depoimento lido? Em quais aspectos?

Educação e mobilidade social


A situação na fábrica e na economia preocupava Jurandir, que,
em 1974, já estava com 46 anos. Jurandir era uma pessoa respei-
tada no bairro, reconhecida por amigos e vizinhos como pai e marido
zeloso e querido pelos colegas de trabalho, afinal a estabilidade no
emprego durante um longo período de sua vida profissional permitiu-
-lhe construir laços mais fortes entre seus colegas de trabalho. Era
comum, até então, um operário trabalhar em apenas uma empresa
durante toda sua vida.

Ele e Nilda, sua esposa, sabiam que fariam qualquer sacrifício


para que Rosa, a filha do casal, estudasse e tivesse uma vida melhor
que a deles. Apesar de a maioria dos colegas e vizinhos impedir
a esposa de trabalhar e mesmo de estudar, Jurandir respeitava e

182
Trabalho – Unidade 1

valorizava a vontade de Nilda de ser independente e ter a própria


renda. Além disso, reunindo os dois salários, eles sempre consegui-
ram proporcionar à filha as condições para que ela prosseguisse se
dedicando aos estudos.

A educação era, para o casal, portanto, fator importante para a


mudança de vida. A vivência no bairro operário e suas próprias traje-
tórias os ajudavam a compreender os limites que o sistema impunha,
não só para sua família, mas também para toda a comunidade, for-
mada por crianças pobres oriundas de lares cujos pais tiveram pouco
ou quase nenhum estudo e que viviam a desigualdade social e de
renda. Mas compreendiam também que a educação sozinha “não faz
verão”, ou seja, apenas com ela não se fazia um país desenvolvido.
Os colegas da fábrica diziam que Jurandir não podia pensar apenas
na filha, pois consideravam que essa opção era individualista e que ele
deveria ajudar a lutar para garantir a todo trabalhador e a sua família
o direito de frequentar uma escola de qualidade.

Rosa, muito estudiosa, queria ser dentista. Tanto Jurandir como


Nilda ficaram preocupados. Mesmo sabendo que a filha estudaria
para prestar vestibular em uma universidade pública, eles se pergun-
tavam como arcariam com o custo desses estudos. Ao se informarem,
ficaram sabendo que o material do curso e os livros eram muito caros
e, além disso, o curso era em período integral, portanto Rosa não
poderia trabalhar para ajudar a custear seus estudos.

Atividade 3 Escolarização e mobilidade social


1. O que você acha da situação enfrentada pelo casal Jurandir e
Nilda? Qual seria sua decisão no lugar dos pais de Rosa?

2. Em sua opinião, a educação define a posição dos indivíduos em


uma sociedade? Por quê?

183
Trabalho – Unidade 1

3. Em grupo, observem os dados recentes das tabelas que se seguem


e respondam às questões:

Tabela 1 – Média de anos de estudo das pessoas de 10 anos ou mais


de idade, por sexo (Brasil)
1995 1996 1999 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Homens 5 5,2 5,7 5,9 6,2 6,3 6,4 6,5 6,7 6,8 6,9 7
Mulheres 5,3 5,5 5,9 6,2 6,4 6,6 6,7 6,8 7 7,1 7,2 7,4

Fonte: IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, 1995/2009. Séries estatísticas. Disponível em:
<http://seriesestatisticas.ibge.gov.br/series.aspx?vcodigo=ECE370>. Acesso em: 14 jun. 2013.

Tabela 2 – Pessoas ocupadas, segundo grau de instrução


e zona onde vivem – Brasil, 2009 (em %)
Escolaridade Urbana Rural
Sem instrução 5,1 20,3
Fundamental incompleto 28,4 52,4
Fundamental completo 9,8 7,3
Médio incompleto 7,1 4,9
Médio completo 30,2 11,7
Superior incompleto 5,9 1,1
Superior completo 13,0 2,0
Não determinada 0,4 0,3

Fonte: DIEESE; NEAD; MDA. Estatísticas do meio rural 2010-2011. São Paulo: DIEESE; NEAD; MDA, 2011, p. 75.
Disponível em: <http://www.nead.gov.br/portal/nead/nead-especial/>. Acesso em: 14 jun. 2013.

a) Quais são as conclusões tiradas pelo grupo com base na Tabela 1?


E na Tabela 2?

b) O que, na opinião do grupo, poderia explicar os diferentes


índices de escolaridade entre homens e mulheres?

184
Trabalho – Unidade 1

c) Em sua opinião, a diferenciação de anos de estudo entre homens


e mulheres se expressa no mercado de trabalho? De que forma?

d) Quais são as hipóteses que o grupo formula para explicar a


distinção entre a escolaridade de pessoas ocupadas na zona
rural e na zona urbana?

4. Com base nas reflexões anteriores, qual é a opinião do grupo so-


bre a decisão do casal Jurandir e Nilda, que considera que a filha
deve estudar para ter uma vida diferente da dos pais?

A organização dos trabalhadores


As condições de trabalho vivenciadas nos anos 1970 faziam
Jurandir temer a demissão, o que comprometeria o sonho de a filha ir
para a universidade. Seus colegas na fábrica conversavam nos horá-
rios livres sobre as péssimas condições de trabalho, cartazes apare-
ciam nos banheiros e começavam a ocorrer reuniões depois do expe-
diente, todas ações a fim de buscar uma solução coletiva para os
problemas enfrentados.

Os sindicatos não eram ainda identificados pelos operários como


órgãos que os representassem politicamente. Sua imagem era assis-
tencialista, ou seja, dos sindicatos eram utilizados os serviços médi-
cos, odontológicos e, em alguns casos, a colônia de férias. Não eram,
portanto, instituições consideradas capazes de reivindicar melhores
condições de vida e de trabalho.

185
Trabalho – Unidade 1

O fato de a região do ABC concentrar muitos operários ajudou nos


encontros em associações de bairro, e estas, como não estiveram por
um breve período sob a mira da repressão política, conseguiram reunir
aqueles que ali moravam, assim como também fazia a Pastoral Operá-
ria. Dessa forma, as associações de bairro e a Igreja foram fundamen-
tais na organização política dos trabalhadores na região.

Algumas decisões passaram, então, a ser tomadas por grupos de


trabalhadores, como “freagem” ou “greve tartaruga”, em que a len-
tidão do ritmo de trabalho reduzia a produção diária. Esse é um dos
exemplos das chamadas “greves brancas”, um dos tipos de artifício
empregado.

Essas ações começaram a se espalhar entre as fábricas e assim


fortaleceram a participação mais politizada por parte dos sindicatos,
conforme você vai estudar na Unidade 2.

Você estudou
Nesta Unidade, verificou-se que a crise econômica envolveu também as circunstân-
cias política e social brasileiras. Você acompanhou mais um passo na história de Ju-
randir, que, apesar de empregado, enfrentou duras condições de trabalho e de salário,
mesmo em tempos de crescimento econômico. Teve a oportunidade de estudar que o go-
verno da época compreendia que os salários eram os responsáveis pela crise econômica.
Isso, entre outras situações, levou os trabalhadores a se organizar contra a exploração a
que estavam submetidos. Analisou também dados que associam os anos de escolaridade
ao trabalho.

Pense sobre
As escolas públicas, até a década de 1960, eram tidas como de
excelência, mas não havia escola para todos, e poucas eram as famí-
lias que conseguiam manter os filhos na escola e abrir mão do salário
deles para compor o orçamento familiar. A decisão, portanto, depen-
dia da renda familiar, o que levava determinadas famílias a escolher
a escola ou o trabalho para os filhos, uma decisão aparentemente
individual, mas que refletia a condição socioeconômica de um país.
Com isso em mente, reflita: Como foi a sua experiência sobre estudar
ou trabalhar quando ainda era criança ou jovem?

186
2 Sindicalismo no Brasil

A Unidade 1 retratou como os trabalhadores começaram a se


organizar diante de condições de trabalho insatisfatórias. Nesta Uni-
dade, será visto que as manifestações dos trabalhadores e a criação
dos sindicatos têm um longo caminho.

Serão apresentados alguns traços da história do sindicalismo no


Brasil e como ela está relacionada às condições de trabalho nos dias
atuais.

Para iniciar...
Converse com o professor e os colegas:
• O que é um sindicato?
• Como, em sua opinião, ele surgiu na história do trabalho?
• A atuação sindical é importante na luta dos trabalhadores por
melhores salários e condições de vida? Por quê?
• Você já participou de algum sindicato? Se sim, como foi sua
experiência?

O final do século XIX no Brasil


Em fins do século XIX, a economia brasileira refletia transfor-
mações no trabalho: o fim da escravidão, o consequente aumento do
número de trabalhadores assalariados e o investimento financeiro em
indústrias de base, com capitais obtidos na atividade agrária, especial-
mente a cafeicultura. A economia do País começava a se diversificar
ao deixar de se basear principalmente na agricultura.

Naquele momento, a jornada de trabalho alternava-se entre 10 e


12 horas e, muitas vezes, alcançava 16 horas diárias. As baixas remu-
nerações e as péssimas condições de trabalho atingiam todos os tra-
balhadores, fossem eles homens, mulheres ou crianças, e os direitos
deles praticamente inexistiam.

Com o crescimento da classe operária, foram criadas as sociedades


de socorro e auxílio mútuo, que originaram, posteriormente, as uniões

187
Trabalho – Unidade 2

operárias. E, à medida que surgiam mais indústrias e crescia o número


Você sabia que o de trabalhadores, essas uniões operárias começaram a se organizar por
primeiro registro de
greve brasileira data de ramo de atividade econômica. Os sindicatos, portanto, são oriundos
1720? dessas uniões operárias.
No século XVIII,
trabalhadores se A história do movimento dos trabalhadores – urbanos e rurais –
organizaram no porto
de Salvador para passou, então, a estar intrinsecamente ligada à história do movimento
reivindicar melhores sindical.
condições de trabalho
e salários e realizaram a São iniciativas como essas que contribuíram, no início do século XX,
primeira paralisação de
que se tem registro na para a criação de diversas organizações ligadas ao operariado indus-
história do sindicalismo trial e de serviços, como a Sociedade União dos Foguistas e a União
brasileiro. Em 1858, no
Rio de Janeiro, ocorreu
dos Operários Estivadores, ambas fundadas em 1903, e a União dos
a primeira greve de uma operários em Fábrica de Tecidos, fundada em 1917.
categoria profissional: a
dos tipógrafos. Duas correntes marcaram o movimento operário: o anarcossindi-
calismo e o socialismo. O anarcossindicalismo concentrou suas ações
no interior das fábricas e não se interessava pela existência de um
partido político da classe operária; já o socialismo buscava a consoli-
dação da política por meio da criação dos primeiros partidos políticos
representativos dos trabalhadores, o que ocorreu em 1890, quando
foi fundado o Partido Operário no Rio Grande do Sul e no Rio de
Janeiro, que defendia a transformação da sociedade capitalista tam-
bém pela ação parlamentar.

Em 1906, os tra-
© Acervo Iconographia/Reminiscencias

balhadores realizaram
o 1o Congresso Operá-
rio Brasileiro, contando
com representantes prin-
cipalmente de São Paulo
e do Rio de Janeiro,
dado que o desenvol-
vim e nt o e c onôm ico
era mais intenso nessas
cidades.

A partir desse even-


to, surgiu a Confedera-
ção Operária Brasileira
(COB), com uma visão
europeia das lutas ope-
O surgimento do 1o Congresso Operário Brasileiro, em 1906, no Rio de Janeiro, indicava o rárias marcadas pela
crescimento do operariado nas grandes cidades brasileiras, bem como o início de sua organização
para reivindicar melhores salários e condições de trabalho. corrente anarcossindical,

188
Trabalho – Unidade 2

ou seja, que propunha o rompimento tanto com a dominação econômica


quanto com a política. Essa visão já existia na Europa e estava presente
no pensamento e na vivência de muitos trabalhadores imigrantes prove-
nientes desse continente.

Esse trabalhador imigrante europeu trazia em sua história as


marcas dos movimentos sindicais de seu continente e participava ati-
vamente desse tipo de ação, principalmente no Estado de São Paulo.
Entre 1905 e 1908, as lutas trabalhadoras aumentaram, e o governo
começou a tomar providências para contê-las: criou uma legislação,
em 1907, para expulsar 132 estrangeiros militantes.

No mesmo ano, criou-se o Decreto no 1.637, que concedeu liber-


dade para a criação de sindicatos nos centros urbanos. Contudo,
a organização desses sindicatos era frágil, dada a forte repressão,
tanto pelo Estado como pelo empresariado, contra os líderes dos
movimentos.

Atividade 1 Por que sindicatos?


1. Em grupo, pesquisem na internet ou na biblioteca:

• Como eram as condições de trabalho na época em que surgi-


ram os movimentos operários?

• Quais razões levaram os trabalhadores a se organizar em mo-


vimentos e, depois, em sindicatos?

• A criação dos sindicatos foi importante? Por quê?

2. Apresentem à turma, de forma criativa, as conclusões a que che-


garam: um cartaz, uma música, um jogral etc., que poderão trazer
uma nova face ao debate.

A realidade do período 1917-1920


Os anos de 1917 a 1920 foram marcados por alterações na vida
dos trabalhadores em decorrência, de um lado, do aumento no custo
de vida e, de outro, da queda acentuada no valor da remuneração,
consequências diretas da 1a Guerra Mundial. Isso levou a uma crise
na produção industrial no país, que impulsionou a eclosão de greves.
Uma delas foi a greve geral, em São Paulo, em 1917, organizada pelos
trabalhadores da indústria têxtil. Ela se estendeu a outros setores,
com a participação de, aproximadamente, 45 mil trabalhadores.

189
Trabalho – Unidade 2

História Nessa época, alguns sindicatos passaram a ser chamados de “sin-


7o ano/2o termo
Unidade 1
dicatos amarelos”, em razão de as lideranças exibirem comportamento
conciliatório em relação ao Estado e contrário aos trabalhadores, ao
não apoiar, por exemplo, uma das importantes reivindicações de então:
uma legislação trabalhista. O adjetivo “amarelo” para sindicatos é uma
referência pejorativa à cor da pele dos orientais, pois estes foram consi-
derados “fura-greves” na França.
A corrente anarcossindicalista também não se aliou a outros setores
Você sabia que da sociedade, isolando-se e, dessa forma, enfraquecendo-se, sendo, assim,
o governo federal
disponibiliza mais facilmente tolhida pelo Estado e pelas ações da polícia. Ela, então,
gratuitamente livros no sofreu uma dissidência que integrou a fundação do Partido Comunista
portal Domínio Público? Brasileiro (PCB), em 1922, estimulada pela Revolução Russa.
Você poderá ler o
Manifesto comunista, Inúmeros trabalhadores foram integrados ao PCB, porém, poucos
de Karl Marx e Friedrich
meses após sua fundação, ele foi colocado na ilegalidade pelo governo
Engels, no site <http://
www.dominiopublico. federal. Mesmo assim o partido influenciou o movimento operário no
gov.br/pesquisa/ país e manteve a publicação de periódicos dirigidos aos trabalhado-
DetalheObraForm.
do?select_action=&co_
res, como a revista Movimento comunista, o jornal A classe operária,
obra=2273> (acesso em: além da publicação do Manifesto comunista, de autoria de Karl Marx
14 jun. 2013). e Friedrich Engels.

Criação da 1a Central Sindical no Brasil


Em 1929, criou-se a Confederação Geral dos Trabalhadores do
Brasil (CGTB), a partir da realização do Congresso Operário Nacio-
nal, apresentando ao movimento operário influência cada vez maior
da corrente do pensamento comunista.
História No ano seguinte, Getúlio Vargas assumiu o comando da nação, após
9o ano/4o termo
Unidade 3 Júlio Prestes, eleito presidente no mesmo ano, ter sua posse na presidên-
cia impedida pelos militares. Com Getúlio, uma nova etapa na história
do sindicalismo no Brasil se iniciou e foram criados o Ministério do
Trabalho e Emprego (MTE), a Justiça do Trabalho e a Consolidação
das Leis do Trabalho (CLT), assunto que você já estudou no 6 o ano/
1o termo desta disciplina, e a instituição de uma legislação sindical, em
1931. Nesse período, foram promulgadas as leis que se tornaram bases
de um sindicalismo “oficial”, isso porque Getúlio Vargas atrelou os
sindicatos ao Estado, para melhor controlá-los.
Mesmo com esse controle, o movimento sindical conseguiu se orga-
nizar com certa autonomia nos anos que se seguiram, a ponto de pro-
mover manifestações e greves que culminaram na obtenção de direitos
importantes para os trabalhadores, como a definição de parâmetros
para o trabalho feminino e de menores de idade, a regulamentação da
Lei de Férias – que, apesar de ter sido criada em 1925, apenas em 1934
se tornou um direito constitucional –, do descanso semanal remune-
rado e da carga horária diária máxima da jornada de trabalho.

190
Trabalho – Unidade 2

Atividade 2 Relembre os direitos da CLT


1. Em grupo, retomem o debate já estudado nos anos/termos ante-
riores nesta disciplina:

a) Quais são os direitos garantidos pela CLT?

b) Quais outros direitos vocês consideram que a CLT deveria


incorporar? Por quê?

2. Imaginem que o grupo é um sindicato. Em uma folha avulsa, ela-


borem uma carta de reivindicações ao governo federal para incluir
outros direitos na CLT.

Apresentem a carta à turma, debatam o conjunto de direitos de


cada grupo e reflitam: Quais são os caminhos para reivindicá-los?

A Consolidação das Leis do Trabalho foi inspirada na Carta del Lavoro (Carta do
Trabalho), criada pelo Grande Conselho Nacional do Fascismo em 1927, na Itália. O
fascismo é um regime político que teve como líder Benito Mussolini, como estudado na
Unidade 2 da disciplina História 8o ano/3o termo.
Um dos aspectos que aproximam a CLT à Carta del Lavoro e que foi duramente
criticado pelo movimento sindical é que os sindicatos mantêm-se atrelados ao Estado e,
com isso, as formas de controle são mais intensas.
As alas mais conservadoras do empresariado responsabilizam a CLT pelo alto custo
do trabalho no Brasil, como forma de impedimento para o avanço no desenvolvimento.

191
Trabalho – Unidade 2

O movimento sindical nos anos 1980 combateu duramente a CLT por sua proximi-
dade com premissas fascistas. Mas após a crise de emprego, que você estudará na Uni-
dade 3, a perda dos postos de trabalho alterou o sentido das lutas sindicais e esse debate
permanece esquecido.
Atualmente, diante de regras mais flexíveis nas relações de trabalho, a CLT passou a
ser almejada e tida como a garantia de direitos vinculados ao trabalho.

Estado de sítio
O PCB, liderado por Luís Carlos Prestes, criou a Aliança
Nacional Libertadora (ANL), em 1935, e abrigou um contin-
gente calculado em 400 mil trabalhadores. Seu objetivo era com-
bater a instalação do fascismo no Brasil. O comício que realizou
e seu forte crescimento levaram Getúlio Vargas a impor ao País,
no mesmo ano, a Lei de Segurança Nacional, a qual considerava
crime atentar contra a ordem política e social. Assim, as greves se
tornaram proibidas. O governo instituiu o estado de sítio e criou
a Comissão Nacional de Repressão ao Comunismo, a qual tinha
como incumbência averiguar a influência esquerdista entre os fun-
cionários públicos.

Estado de sítio
Fica a dica
Medida que pode ser tomada pelo chefe de Estado, a qual pode suspender por
Estado de sítio (État
até 30 dias – exceto em situações extremadas como guerras, conflitos terroristas
de siège, direção de
Constantin Costa- etc. – os direitos previstos na Constituição. O estado de sítio confere ao presi-
-Gravas, 1972). A trama dente poderes máximos e pode comprometer a democracia vigente no País.
se desenvolve com base
na história política no
No Brasil, a Constituição Federal de 1988, em seu artigo 137, prevê que o
Uruguai, cujas ruas são governo pode solicitar autorização do Congresso Nacional para decretar estado
tomadas por policiais de sítio. Pode ser demandado nas seguintes situações:
militares em meio ao
sequestro de pessoas que “I – comoção grave de repercussão nacional ou ocorrência de fatos que com-
passam a ser torturadas. provem a ineficácia de medida tomada durante o estado de defesa;
II – declaração de estado de guerra ou resposta a agressão armada estrangeira.”.
Referência
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 14 jun. 2013.

Como mais um instrumento de controle da atividade sindical,


o governo estabeleceu o enquadramento sindical, pelo Decreto-lei
n o 1.402, em 1939, que atribuiu ao Ministério do Trabalho e
Emprego o poder de autorizar o surgimento de novos sindicatos.

192
Trabalho – Unidade 2

Estado Novo
Caracterizado como uma ditadura, o Estado Novo enfrentou o
aumento das forças de oposição. Até mesmo integrantes dos liberais
(que defendiam a liberdade na economia e na política) elaboraram o
Manifesto dos mineiros.

© CPDOC FGV

FGV/CPDOC. A Era Vargas: dos anos 20 a 1945.


Diretrizes do Estado Novo (1937-1945).
Centro de Pesquisa e Documentação de História
Contemporânea do Brasil (CPDOC). Fundação
Getulio Vargas. Disponível em: <http://cpdoc.fgv.
br/producao/dossies/AEraVargas1/anos37-45/
QuedaDeVargas/ManifestoDosMineiros>.
Acesso em: 14 jun. 2013.

Com o fim do Estado Novo, em 1945, encerrou-se a intervenção do


Ministério do Trabalho e Emprego nos sindicatos dos trabalhadores.
Logo em seguida, em 1947, o presidente marechal Eurico Gaspar Dutra
interveio nos sindicatos, e o Partido Comunista voltou à ilegalidade.

Em 1951, Getúlio Vargas retomou o poder e, com vistas a desen-


volver um projeto de industrialização do país, buscou aproximar-se
dos trabalhadores, ao tornar legal a atividade dos sindicatos. Nos anos
seguintes, o número de trabalhadores em indústrias cresceu significa-
tivamente, e a movimentação visando a paralisações do trabalho se
intensificou. Em 1953, o cenário econômico caracterizado pelas dificul-
dades financeiras atingiu mais de 800 mil trabalhadores das indústrias,
o que levou mais de 300 mil pessoas a participar de greves gerais.

Com todas essas demonstrações, é possível verificar que a história


do movimento sindical foi marcada pela arbitrariedade governamental.

193
Trabalho – Unidade 2

Atividade 3 Caminhando e cantando


Leia a letra da canção Pra não dizer que não falei das flores, de
Geraldo Vandré.

Pra não dizer que não falei das flores


Geraldo Vandré
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Somos todos iguais, braços dados ou não
Nas escolas, nas ruas, campos, construções
Caminhando e cantando e seguindo a canção

Vem, vamos embora


Que esperar não é saber
bis
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer

Pelos campos há fome em grandes plantações


Pelas ruas marchando indecisos cordões
Inda fazem da flor seu mais forte refrão
E acreditam nas flores vencendo o canhão

Vem, vamos embora etc. bis

Há soldados armados, amados ou não


Quase todos perdidos de armas na mão
Nos quartéis lhes ensinam uma antiga lição
De morrer pela Pátria e viver sem razão

Vem, vamos embora etc. bis

Nas escolas, nas ruas, campos, construções


Somos todos soldados, armados ou não
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Somos todos iguais, braços dados ou não

Os amores na mente, as flores no chão


A certeza na frente, a história na mão
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Aprendendo e ensinando uma nova lição

Vem, vamos embora


Que esperar não é saber
bis
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer

VANDRÉ, Geraldo. Pra não dizer que não falei das flores (Caminhando). 100% Fermata do Brasil.

Em grupo, analisem a letra e organizem uma dramatização inspi-


rada por ela. Lembrem-se de que é importante que o grupo comparti-
lhe as decisões do que será feito, como serão o roteiro da(s) cena(s) e
as falas de cada personagem.

194
Trabalho – Unidade 2

Anos 1960
Até os anos 1960, as grandes greves no meio urbano eram volta-
das, sobretudo, para as reivindicações salariais. Nesse período, algumas
greves tiveram cunho eminentemente político: uma greve geral, defla-
grada em 1961, teve como objetivo apoiar a posse do vice-presidente,
João Goulart, em substituição ao presidente Jânio Quadros, que havia
renunciado a seu mandato; em 1962, outra greve geral conclamou, dessa
vez, a volta do presidencialismo (já que o parlamentarismo vigorava
desde a renúncia de Jânio Quadros).
Depois disso, em 13 de março de 1964, realizou-se, no Rio de
Janeiro, um enorme comício, com a presença de cerca de 200 mil pes-
soas, no qual se reivindicaram reformas estruturais no País.
Após a instauração da ditadura militar, uma das medidas para
conter a inflação e promover o avanço econômico foi o congela-
mento dos salários, com o intuito de controlar o consumo interno,
ao mesmo tempo que a produção nacional se voltava para o mercado
externo. Assim, foi possível acelerar o crescimento econômico que
marcou o período e ficou conhecido como “milagre econômico”.
Essas medidas, no entanto, sacrificaram os trabalhadores. Mesmo História
com as restrições civis impostas pela ditadura militar e enfrentando uma 9o ano/4o termo
Unidade 4
conjuntura desfavorável à sua classe, os sindicatos de metalúrgicos da
cidade de São Paulo e de outros municípios do Estado criaram, em 1967,
o Movimento Intersindical Antiarrocho a fim de pressionar o governo a
adotar medidas que beneficiassem os assalariados.

Jurandir no calor das manifestações


Jurandir vivenciou essa conjuntura política e econômica e fre-
quentou assiduamente as reuniões do sindicato, em que se discutia a
necessidade de organizar uma greve em São Bernardo do Campo. Em
novembro de 1978, os metalúrgicos realizaram uma grande greve, com,
aproximadamente, 400 mil pessoas. Daí em diante as greves começa-
ram a se multiplicar e a se intensificar em todo o País.
Jurandir era membro da Comissão de Fábrica, que tinha o papel
de organizar as informações sobre as condições de trabalho naquela
empresa e, com outras comissões, discutir os problemas enfrentados
pelos trabalhadores. Dessas discussões, eram originados boletins para
divulgar a todos os trabalhadores as medidas tomadas coletivamente.
Com a mobilização dos metalúrgicos, foi deflagrada uma greve em
1979, que se espalhou por todo o País e envolveu outras categorias, como
médicos, bancários, operários da construção civil e professores, entre
outras – e cerca de 3,2 milhões de trabalhadores entraram em greve.

195
Trabalho – Unidade 2

A solidariedade entra em campo


Os operários grevistas e suas famílias passaram a enfrentar inú-
meras dificuldades, ocorrendo até mesmo problemas de subsistência,
já que os dias de greve eram descontados do salário do trabalhador.

Mas rapidamente os próprios trabalhadores organizaram arreca-


dações de mantimentos para distribuição entre eles. Jurandir esteve
à frente da construção do Fundo de Greve, uma ação que angariava
recursos para sustentar as famílias dos trabalhadores em greve, pois
percebia que havia pessoas querendo colaborar, e o movimento,
envolvido com a greve, não conseguia priorizar a constituição do
fundo. Algumas contribuições chegavam ao sindicato, e Jurandir
e os colegas começaram a comprar mantimentos no mercado mais
próximo, mas logo perceberam que isso era insuficiente. Sua esposa,
Nilda, também começou a ajudar na organização e distribuição dos
mantimentos que chegavam.

O movimento contou com auxílios importantes: dom Cláudio


Hummes, da Igreja Católica, fez um pronunciamento em jornal, ofe-
recendo todas as paróquias como “postos de arrecadação” de manti-
mentos. Shows também foram realizados para levantar fundos para
sustentar as famílias durante a greve.

Longa fila
[...] Pela manhã, a praça da Matriz exibe a longa fila, em busca da ração do
Fundo de Greve: dois quilos de arroz, dois de feijão, meio quilo de sal, uma lata
de óleo, um quilo de farinha. A fila – de homens também, mas principalmente de
mulheres e crianças – é o único sinal visível da greve na praça. O Paço Municipal
e o Estádio de Vila Euclides mostram mais claramente o quadro: as tropas da
Polícia Militar acamparam no Paço, com dois caminhões de transporte de cavalos
e uns cinquenta PMs que, em grupos pequenos, cobrem toda a área. No Estádio,
a pé ou a cavalo, postada até dentro do campo, a PM impede a aproximação de
qualquer pessoa. O Estádio, primeiro, e o Paço, em seguida, seriam os locais da
assembleia dos metalúrgicos.
Desviados pelo cerco policial, eles vão chegando ao largo da Matriz – até que,
por volta de nove horas, já há uma pequena multidão na praça, arrecadando
dinheiro para o lanche depois da assembleia, distribuindo passes escolares para
que os grevistas menos prevenidos possam voltar para casa. [...]

S. Bernardo mantém greve, sob tensão. Folha de S.Paulo, 23 abr. 1980.

Como pode ser verificado no texto, enquanto, de um lado, havia


a solidariedade dos trabalhadores e da sociedade civil, de outro,
havia a repressão militar às manifestações.

196
Trabalho – Unidade 2

Atividade 4 Repressão policial


1. Leia o trecho do livro 20 anos da Medalha Chico Mendes de
Resistência: memórias e lutas, publicado pelo Grupo Tortura
Nunca Mais/RJ.

Santo Dias da Silva


Nasceu em 22 de fevereiro de 1942, em São Paulo, filho de Jesus Dias da Silva
e Laura Amâncio.
Operário metalúrgico, era motorista de empilhadeira. Antes havia sido lavra-
dor, colono, diarista e boia-fria. Em 1961, foi expulso, com a família, das terras
onde era colono, por exigir registro de carteira profissional, como era lei. Tra-
balhador em fábrica, foi demitido por participar de campanhas coletivas por
aumento de salário e adicional de horas extras.
Líder operário bastante reconhecido no meio dos trabalhadores, era casado e
pai de dois filhos.
Após sua covarde morte, como homenagem de sua luta e seu exemplo, foi
criado o Centro Santo Dias de Direitos Humanos da Arquidiocese de São Paulo.
Santo era membro da pastoral operária de São Paulo, representante leigo ante
a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, CNBB, membro do Movimento Contra
a Carestia, candidato a vice-presidente da chapa 3, da Oposição, no Sindicato dos
Metalúrgicos de São Paulo, e integrante do Comitê Brasileiro pela Anistia – CBA/SP.
Assassinado friamente pela PM paulista quando comandava um piquete de
greve no dia 30 de outubro de 1979, [...] em Santo Amaro, bairro da região sul[1].
Relato da morte de Santo Dias, publicado no Boletim do Sindicato dos Meta-
lúrgicos de São Paulo, encontrado no Arquivo do DOPS/SP:
“Os policiais estavam puxando o Espanhol por um lado. Do outro, Santo segu-
rava o companheiro. Começou então a violência, com tiros para cima e, depois, eu
vi o Santo ser atingido na barriga, de lado, e o tiro sair de outro lado. Escutei três
gritos: ai, ai, ai. E o Santo caiu no chão”.
O metalúrgico Luís Carlos Ferreira relatou assim a morte de Santo Dias da
Silva, no depoimento que prestou à Comissão de Justiça e Paz, que também ouviu
mais duas outras testemunhas sobre a morte do companheiro. Segundo Luís Car-
los afirmou à Comissão, ele estava a uns seis metros de distância de Santo Dias no
momento em que ele foi baleado.
“Os policiais continuaram a perseguir outros”, prossegue Luís Carlos no seu
depoimento. “Eu fiquei atrás de um poste e posso, com toda segurança, reconhe-
cer o policial que atirou no Santo: tem cerca de um metro e oitenta, alto, forte
e aloirado. E pude ver, depois, na delegacia, que ele tem uma falha na arcada
dentária. Vi ele bem, quando eu estava sendo levado preso no Tático Móvel 209.”
Luís Carlos lembra que havia cerca de 50 operários no piquete, que nunca
usou de violência, “pois só fazíamos o trabalho de conscientização”. Ele também
desmente a versão de que os trabalhadores teriam iniciado o conflito, afirmando
que, “quando chegamos[2], [...] tinha uns quatro ou cinco policiais guardando o
local. Não houve nenhum atrito com eles e nenhum de nós estava armado”.
Luís Carlos Ferreira reconheceu o soldado Herculano Leonel como o autor do
disparo que matou o operário.

[1]
Da capital paulista [nota do editor].
[2]
Na porta da fábrica [nota do editor].

197
Trabalho – Unidade 2

Correndo, assustados e ao mesmo tempo com raiva do ocorrido, os compa-


nheiros entraram na sede com a notícia parada na garganta: “Mataram o Santo”.
Num primeiro momento, a dúvida e, após a confirmação, a dor. A repressão[3] [...]
dissolveu a tiros o piquete; fez um ferido (João Pereira dos Santos) e um morto,
Santo Dias da Silva. A triste notícia correu de boca em boca. As autoridades pro-
curavam esvaziar e eximir-se da culpa.
Imediatamente começou a mobilização dos trabalhadores para protestar contra
o assassinato. A polícia não queria nem mesmo liberar o corpo. Depois da interfe-
rência de outros sindicalistas e parlamentares, o corpo de Santo chegou à Igreja da
Consolação, onde foi velado pelo povo de São Paulo. A tristeza se misturava com a
incredulidade e a raiva contra os assassinos. Milhares de pessoas desfilaram diante
do caixão aberto de Santo, prestando sua homenagem ao novo mártir da luta ope-
rária, que estampava no seu rosto um leve sorriso de tranquilidade.
Já na madrugada, o povo continuava a rezar por Santo e a se preparar para a
grande marcha até a Sé, local fixado para a cerimônia de encomendação do corpo.
Às 8h00 da manhã, a movimentação diante da Consolação era grande: metalúrgi-
cos, estudantes, todos querendo levar Santo. Saindo da Consolação às 14h10, o cor-
tejo com faixas e palavras de ordem contava com mais de 10 mil pessoas. Dos prédios
caíam papéis picados, um sinal silencioso de solidariedade. Novos manifestantes se
acresciam ao cortejo e as palavras de ordem se sucediam: “A luta continua”, “A polícia
dos patrões matou um operário”, “Você está presente, companheiro Santo”...
[3]
Em frente à empresa para a qual Santo se dirigira a fim de acalmar os ânimos [nota do editor].

GRUPO TORTURA NUNCA MAIS. 20 anos da Medalha Chico Mendes de Resistência: memórias e lutas.
Rio de Janeiro: Grupo Tortura Nunca Mais. Disponível em: <http://www.torturanuncamais-rj.org.br/
MDDetalhes.asp?CodMortosDesaparecidos=182>. Acesso em: 17 jun. 2013.

2. Em grupo, interpretem o texto para responder às questões a seguir:

a) Como vocês compreendem a ação dos trabalhadores? E da


polícia?

198
Trabalho – Unidade 2

b) Há, na opinião do grupo, saídas possíveis para evitar o confronto


entre trabalhadores e policiais? Se sim, quais? Se não, por quê? Fica a dica
Eles não usam black-
-tie (direção de Leon
Hirszman, 1981)
apresenta diferentes
perspectivas durante
o movimento grevista:
alguns trabalhadores
envolvidos e propensos
a enfrentar as
consequências, outros
temerosos com a
possibilidade de perder
o emprego.

c) Vocês consideram que, ao decretar greve, as demandas dos


trabalhadores eram justas? Por quê?

3. Sistematizem as opiniões e discutam com a turma, a fim de com-


pararem as opiniões.

Fim da ditadura militar


Com o fim da ditadura militar, os sindicatos e as centrais de tra-
balhadores passaram a ter liberdade de ação, o que fez com que hou-
vesse uma redefinição e um reposicionamento das correntes de pen-
samento do movimento sindical, e que levou a uma reformulação das
centrais sindicais, desde então, legalizadas.

199
Trabalho – Unidade 2

As lutas sindicais ainda tiveram grande repercussão nos últimos


Você sabia que,
após a abertura para
anos da década de 1980 e nos primeiros da de 1990, pois as conquis-
a democracia, surgiu tas sociais obtidas se refletiram por todo o País.
outro movimento,
o chamado “novo A atuação dos sindicatos de categorias, como bancários, funcio-
sindicalismo”?
O novo sindicalismo
nários públicos, metalúrgicos e petroleiros, fez refletir sua agenda de
também aceitava reivindicações na atuação de sindicatos de outras categorias e na pró-
que os sindicatos
pria elaboração da Constituição de 1988.
estivessem atrelados
ao Estado e, assim,
perpetuava uma relação Bancários e metalúrgicos, porém, sofreram grandes reduções no
de dependência e de contingente de trabalhadores em decorrência da reestruturação do
liberdade controlada.
Por outro lado, optou
trabalho que ocorreu a partir da década de 1990, sobretudo em razão
por adotar uma postura da informatização e da automação, já que robôs e terminais automá-
mais combativa e
reivindicativa, passando
ticos eliminaram milhares de postos de trabalho em vários setores.
a assumir a posição
de agenciadores dos A esse cenário, provocado pelos fatores mencionados e pelo
conflitos entre patrões e baixo desenvolvimento econômico decorrente da recessão, que
empregados. Essas duas
características marcaram caracterizaram boa parte desse período, pode-se ainda acrescentar
a contradição desse mais um fato que colaborou com o refluxo da atividade sindical: a
movimento.
imposição de represálias e multas aos respectivos sindicatos, além da
ocupação militar das refinarias, em uma clara mensagem de desen-
corajamento às atividades reivindicatórias na greve de 1995.

Você estudou
Nesta Unidade, foram abordadas as origens do sindicalismo
no Brasil e seus desdobramentos para os trabalhadores: muitos
foram mortos na tentativa de conquistar um Estado de Direito
mais amplo e na busca por liberdade de expressão.

Com a conjuntura econômica desfavorável, os sindicatos, mais


recentemente, alteraram o objetivo de luta a fim de garantir o empre-
go em vez da busca por melhores salários e condições de trabalho.

Pense sobre
A ação sindical é apenas uma maneira de elevação dos salários?
Se os salários aumentam, as lutas por melhores condições de trabalho
podem perder a força ou o sentido? Por quê?

200
3 Reestruturação produtiva

Você estudou no 7o ano/2o termo duas formas de organização do


trabalho: o taylorismo e o fordismo. Foi analisado que o fordismo
carregava consigo mais do que uma nova maneira de realizar o traba-
lho, acelerado pelo uso de esteiras mecânicas. Henry Ford, seu ideali-
zador, pressupôs que a produção em massa deveria vir acompanhada
do consumo em massa.
Mas como falar de fordismo no Brasil se, diferentemente dos Esta-
dos Unidos, a população não teve acesso aos bens que produzia?
Nesta Unidade, será estudado o que aconteceu com o trabalho e o
emprego no Brasil dos anos 1980 até a atualidade.

Para iniciar...
Converse com o professor e os colegas:
• Relembre a sua história, de conhecidos ou da sua família nos anos
1990: Alguém ficou desempregado? Por quê?
• Você se lembra da situação econômica do País? Como era?
• Quais eram as explicações dadas pelo governo e por especialistas
para os níveis elevados de desemprego naquela época?
Dívida externa
Anos 1980: década perdida? É a soma de todas as
dívidas contraídas no
Depois de anos de avanço e crescimento econômico, o Bra- país, tanto as feitas
pelos poderes públicos
sil, assim como todo o mundo, ressentiu-se dos danos causados como pelas empresas
pela crise do petróleo e pela perda da paridade entre dólar e ouro. privadas. As dívidas
são financiamentos
O Brasil sofria ainda mais com essa conjuntura internacional, pois buscados de um país
sua dívida externa saltou de US$ 12 bilhões para US$ 64 bilhões a outros.
entre 1973 e 1980, além do pagamento dos juros da dívida que, de
US$ 500 milhões, passou para US$ 6 bilhões no mesmo período. Para
ter uma ideia do volume da dívida externa brasileira, ela represen-
tava, em 1988, um terço do total da dívida de toda a América Latina.
Segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU, 1989), a
dívida da América Latina alcançava US$ 401,5 bilhões neste período.

201
Trabalho – Unidade 3

© Myrria

A charge representa a interligação


das economias do mundo. Quando
um país entra em crise econômica,
acaba afetando a economia de
outro país, e este afeta um outro, e
assim por diante.

Como você pôde perceber, a economia no mundo está interligada


e os fatos atuam em “efeito dominó”.

O valor do salário mínimo reflete o que aconteceu com o poder


de compra dos trabalhadores: considerando que, em 1980, ele era
representado por 100%, em 1988 ele equivalia a apenas 67%.

Veja uma comparação que mostra a valorização e a desvaloriza-


ção do salário mínimo:

Ano Salário mínimo (valores corrigidos)


1940
R$ 1 202,29
(ano da criação do salário mínimo)

Entre os anos 1960 e 1980 Variação entre R$ 1 211,98 e R$ 686,08

1996 R$ 266,17

Fonte: OLIVEIRA, Mariana. Veja evolução do salário mínimo desde sua criação, há 70 anos. G1 Economia,
16 fev. 2011. Disponível em: <http://g1.globo.com/economia/noticia/2011/02/veja-evolucao-do-salario-
minimo-desde-sua-criacao-ha-70-anos.html>. Acesso em: 14 jun. 2013.

Para medir o poder de compra do salário mínimo, é possível dizer


que, se todo o salário fosse destinado à compra de carne, tem-se que:
• em 1959, seria possível comprar 85 kg de carne;
• em 1995, apenas 21 kg seriam comprados; e
• em 2009, 37 kg.

202
Trabalho – Unidade 3

O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioe-


conômicos (Dieese) elabora um estudo com base na cesta básica e
indica, anualmente, o valor ideal para o salário mínimo. Para maio de
2013, o valor ideal indicado pelo órgão foi de R$ 2 873,56. Porém,
o valor oficial era de R$ 678,00, enquanto o salário mínimo paulista
(acima do nacional) era de R$ 755,00.

Medição do desemprego
O desemprego era um fator preocupante, mas é preciso atenção
para compreender esse cenário: os índices oficiais no período anali-
sado podem dificultar o entendimento da crise, porque a taxa anual
média brasileira de trabalhadores sem emprego era de 6,2% da popu-
lação economicamente ativa (PEA) em 1980; já em 1988, era de 4%.
Os números revelam que a situação do desemprego melhorou, mas é
preciso sempre notar como esses índices são calculados. A seguir são
apresentados alguns critérios que constavam no cálculo dessa época:

• Quem desistiu de procurar emprego não era considerado de-


sempregado;

• Um pedreiro de uma construtora que foi demitido e passou a fazer


“bicos”, por exemplo, também não era considerado desempregado.

Pode-se constatar, então, que a crise econômica fez crescer o tra-


balho informal, ou seja, aquele sem direitos trabalhistas, e ajudou a
ocultar as reais condições de vida da população, pois parte dela pas-
sou a não mais contar com os direitos vinculados ao trabalho.

A conjuntura política na passagem dos anos 1970 aos 1980 era


de abertura política. Uma interpretação possível para o fato de os
militares abandonarem o poder defende que a ditadura militar havia
contraído grandes dívidas e o País estava à beira do descontrole eco-
nômico e social. A pressão da sociedade crescia para a retomada da
democratização do País, por salários mais dignos e pelo direito de
eleger seus governantes.

Contudo, se, por um lado, a década de 1980 foi considerada


perdida do ponto de vista econômico, por outro, os movimentos
sociais se fortaleceram e houve, como você já estudou no 8o ano/
3o termo desta disciplina, a promulgação da Constituição de 1988,
considerada o ponto máximo do processo de redemocratização
do País.

203
Trabalho – Unidade 3

Atividade 1 Anos 1980


1. Leia a letra a seguir e, se possível, ouça a interpretação de Raul
Seixas da canção Anos 80.

Anos 80
Raul Seixas e Dedé Caiano
Hei! Anos 80
Charrete que perdeu o condutor
bis
Hei! Anos 80
Melancolia e promessas de amor

E o juiz das 12 varas


De caniço e samburá
Dando o atestado que o compositor errou

Gente afirmando
Não querendo afirmar nada
bis
Que o cantor cantou errado
E que a censura concordou

Hei! Anos 80
Charrete que perdeu o condutor
Hei! Anos 80
Melancolia e promessas de amor

Pobre País carregador dessa miséria


Dividida entre Ipanema
E a empregada do patrão
Varrendo lixo prá debaixo do tapete
Que é supostamente persa bis
Prá alegria do ladrão

Hei! Anos 80
Charrete que perdeu o condutor
Hei! Anos 80
Melancolias e promessas de amor
Minha esperança sonho de um sonhador

Warner Chappell Edições Musicais Ltda. Todos os direitos reservados.

a) Em quais passagens o autor se refere à crise econômica?

b) Em quais ele está fazendo alusão à ditadura militar?

204
Trabalho – Unidade 3

2. Escreva com suas palavras o que compreendeu sobre os anos


1980 no Brasil.

Novas tecnologias
Foi visto, em outras oportunidades, que a 1a Revolução Industrial
trouxe, entre muitas modificações, o tear mecânico; a 2a Revolução
Industrial, a eletricidade. A eletrônica, como base técnica do trabalho,
já tinha presença consolidada na produção, mas, com o avanço da
microeletrônica – a que produz circuitos em miniatura como o chip
de celular, por exemplo –, o setor industrial, mesmo com as dificul-
dades vivenciadas pela crise, passou a investir em novas máquinas e o
processo de automação avançou a passos largos.

© Ricardo Azoury/Pulsar Imagens


Na indústria automobilística onde trabalhava
Jurandir, a instalação de máquinas-ferramenta de
controle numérico (MFCNs) ganhou força a par-
tir de 1990. na produção, também foram inse-
ridos robôs, controladores lógico-programáveis,
entre outros equipamentos. Foram instaladas
máquinas nas áreas da fábrica onde mais havia
operários. Jurandir, embora aposentado, conti-
nuava trabalhando na fábrica. A situação o pre-
ocupava, e ele pensava: “onde antes tinha operá-
rio agora só têm máquinas, e elas produzem mais
com menos gente”.

Com essas mudanças, os operários passaram


a estranhar o trabalho, porque se sentiam apenas
apertadores de botão, sendo que a máquina infor-
mava se o que foi feito estava certo ou errado.
Mas o maior problema não era esse. Com a auto- Indústria automobilística completamente automatizada.
Existem setores em que operários não trabalham,
matização, começaram as demissões em massa. apenas máquinas.

205
Trabalho – Unidade 3

Atividade 2 A percepção dos trabalhadores


Fica a dica
1. Em grupo, analisem as falas de operários que viveram o momento
Roger e eu (Roger & Me, da automação na indústria automobilística. É importante que vocês
direção de Michael
Moore, 1989) retrata a procurem se colocar no lugar dos trabalhadores dessa época:
situação socioeconômica
de um município
dos Estados Unidos, [...]
onde está instalada “Com a automação, os trabalhadores gostam menos do seu trabalho [...]. O sol-
uma grande indústria dador fica só apertando botão, o engenheiro vai virar manipulador de equipa-
automobilística que
mentos. A qualificação virou apertar botão. Todo trabalhador é substituível.”
gera empregos diretos
e indiretos, além de
(Comissão de fábrica da Automobilística “B”, Osasco) [...]
impostos. Quando a “Não dá para o trabalhador controlar o tempo, ele tem que seguir o ritmo do
empresa encerra suas robô... A chefia pega no pé quando o cara demora mais que o robô. A gente não
atividades ali, a cidade tem tempo de ir ao banheiro, tudo tem que ser feito às pressas.” (Ponteador da
entra em decadência.
linha automatizada da Automobilística “B”, São Bernardo) [...]
“As máquinas são novas e os robôs são difíceis de consertar. O trabalho agora
é mais perigoso. A velocidade da linha é muito maior e da máquina também. O
trabalho é mais incômodo: o trabalhador tem que ficar dentro da máquina e qual-
quer descuido causa acidente.” (Mecânico de manutenção, Automobilística “B”,
São Bernardo) [...]
“Toda e qualquer automação que acontece dentro da fábrica visa em primeiro
lugar ao lucro da empresa: a maior produtividade e a maior qualidade do pro-
duto, e o quanto isso vai diminuir a mão de obra. A questão humana – homem –
entra lá embaixo, é o último patamar dessa escala toda. A gravidade da coisa está
justamente aí: como conseguir inverter essa escala de valores, colocando o Homem
em primeiro lugar. Uma das coisas é reaproveitar a mão de obra que vai sair.
Para isso, a solução é a redução da jornada de trabalho.” (Comissão de fábrica da
Automobilística “B”, São Paulo) [...]

ABRAMO, L. W. O movimento sindical metalúrgico em São Paulo: 1978-1986.


In: NEDER, R. T. et al. Automação e movimento sindical no Brasil. São Paulo: Hucitec,
OIT/PNUD/IPEA, 1988, p. 141, 151, 156 e 173. Grifo do original.

Quais são os aspectos apresentados nas falas desses trabalhadores


com que vocês concordam? De quais vocês discordam? Por quê?

2. Organizem uma dramatização tomando por base as falas ana-


lisadas. Lembrem-se de que o resultado do trabalho será mais
significativo se compartilharem as tarefas e tomarem as decisões
coletivamente.

206
Trabalho – Unidade 3

Toyotismo: a nova organização do trabalho


Você percebeu que as alterações na organização do trabalho têm
sempre o mesmo objetivo: aumentar a produtividade reduzindo custos.
A lógica é: fazer mais em menos tempo e, se possível, com menos tra-
balhadores.
No toyotismo não foi diferente. Essa nova forma de organiza-
ção do trabalho surgiu no Japão após a 2a Guerra Mundial, princi-
palmente para fazer frente à indústria automobilística estadunidense.
Os japoneses inovaram e alteraram completamente o modo de pensar
que vigorava com o fordismo.
Veja as principais diferenças:

Fordismo Toyotismo
Produção em série Produção de muitos modelos
de um mesmo produto em pequena quantidade
Estoque mínimo,
Grandes estoques de produtos só se produz o que é vendido
Especialização: um homem Polivalência: um homem
opera uma máquina opera várias máquinas

Essa nova organização do

© Hudson Calasans
trabalho resultou na diminui-
ção do tempo de fabricação
de, por exemplo, um automó-
vel: eram necessárias 19 horas
para produção de um veículo,
enquanto, na Europa, a produ-
ção ainda demorava 36 horas.
Atualmente, em uma determi-
nada fábrica no Brasil, são pro-
duzidos 34 carros por hora.
A lógica do toyotis­­mo logo
se expandiu para outros tipos
de indústria e serviço. Se a pala-
vra de ordem no fordismo era
rigidez (em todos os sentidos:
fixação do homem ao posto de
trabalho, controle dos tempos Na organização toyotista do trabalho, um operário fica responsável por várias funções
e movimentos, estabilidade no ao operar máquinas mais complexas. Com isso, as empresas podem dispensar mais
operários, diminuir o custo com mão de obra e aumentar a margem de lucro, já que
emprego), no toyotismo a pala- um homem exerce a função de vários. Esse modelo contribuiu para o aumento do
vra-chave é flexibilidade. desemprego no País.

207
Trabalho – Unidade 3

Esse conjunto de mudanças, que nos países centrais aconteceu


nos anos 1980, chegou com força ao Brasil na década de 1990. Pelas
características históricas do País, que concede amplos benefícios
ao capital privado, as mudanças aconteceram de forma mais obje-
tiva para as empresas movidas pela busca da redução de custo e do
aumento da competitividade. A corda rompeu-se do lado dos traba-
lhadores, que foram demitidos em massa, em consequência de muitas
mudanças e da inovação tecnológica.
Se a ordem era a redução de custos, as empresas adotaram tam-
bém a terceirização de várias etapas da produção.
© Hudson Calasans

Com o modelo toyotista, as empresas passaram a se concentrar apenas em sua atividade principal,
terceirizando todas as outras seções e serviços. Assim, contrataram empresas de alimentação,
segurança, limpeza etc., em vez de elas mesmas fornecerem esses serviços.

Tome como exemplo a fábrica onde Jurandir trabalhava, que, no


auge da capacidade produtiva, contava com 44 mil operários. Além
de todas as etapas da produção de um veículo, a fábrica abrigava no
seu complexo empresarial a parte administrativa, o refeitório, o trans-
porte, a segurança etc.
Imagine, então, qual seria a maior padaria do Brasil. Não seria a
que estava instalada nessa fábrica, já que ela produzia pães para vários
turnos: café da manhã, almoço e jantar? Essa foi uma das primeiras
medidas do toyotismo: terceirizar todas as seções que não fossem carac-
terizadas como atividade-fim da empresa, que é sua atividade principal.

208
Trabalho – Unidade 3

No processo de terceirização, as empresas se desencarregam da


produção e, consequentemente, dos custos da força de trabalho. Fica a dica
Amor sem escalas (Up in
Como estudado no 6o ano/1o termo desta disciplina, pensar na the air, direção de Jason
terceirização causou confusão muitas vezes, afinal, muitos traba- Reitman, 2009). Apesar
de o título sugerir tratar-
lhadores que saíram de uma indústria automobilística foram con- -se de uma comédia
tratados por uma empresa terceirizada que prestava serviços para a romântica, ele retrata a
vida de um especialista
mesma indústria. em demitir pessoas.
A reorganização da
Jurandir vivenciou na pele a redução de custos por parte da economia criou tantos
empresa, pois foi demitido. Quando vieram as máquinas, sua fun- desempregos que, no
filme, uma empresa é
ção desapareceu. Foi, então, substituído pelas máquinas e por um especializada em demitir
jovem que controlava várias delas ao mesmo tempo. Muitas das funcionários. Essa é a
função do personagem
especializações desse tempo desapareceram nas fábricas e no setor interpretado por
de serviços. George Clooney, que
tem orgulho de viajar
o tempo todo, e não
A reestruturação produtiva – como foi chamada a fase que con- ter cultivado laços
tou com novas tecnologias e modos de organização e que, no Brasil, afetivos importantes.
A expressão dessa vida
teve como fator importante a demissão de muitos trabalhadores – levou é seu apartamento:
especialistas e governo a estudar o fenômeno, a fim de encontrar solu- impessoal, sem traços
de quem vive lá, como
ções para os índices elevados de desemprego. fotografias, objetos
pessoais, aparelhos etc.
Seu próprio
Atividade 3 Pesquisando o desemprego trabalho passa por
transformações, pois o
Com base no que foi estudado, discutam em grupo: aumento da “demanda”
de serviços de demissão
1. Quais foram as razões que levaram à demissão em massa de tra- pede redução de custos.
O que você acharia de
balhadores a partir dos anos 1990? receber o comunicado
pela internet?

209
Trabalho – Unidade 3

2. Os trabalhadores foram, muitas vezes, responsabilizados por sua


condição de desemprego. O que vocês acham disso?

3. Havia um discurso predominante baseado na falta de qualificação


dos trabalhadores em face das novas tecnologias. Quem, na opi-
nião do grupo, deve se responsabilizar pela formação e prepara-
ção para o trabalho?

4. Quais eram as saídas possíveis para evitar o desemprego em mas-


sa no Brasil?

Políticas públicas de emprego

O governo viu-se obrigado a desenvolver políticas públicas de


emprego, a fim de auxiliar no combate aos altos níveis de desem-
prego vivenciados nos anos 1990. Conheça algumas iniciativas:

1. Seguro-desemprego
Criado em 1990, é um auxílio financeiro temporário concedido
pelo governo federal a trabalhadores com carteira assinada que foram
demitidos sem justa causa. O desempregado, ao entrar no sistema do

210
Trabalho – Unidade 3

seguro-desemprego, conta com cadastro para a busca de uma nova


colocação e também para realizar cursos de formação profissional.

Atualmente, o seguro-desemprego é pago em, no máximo, cinco


parcelas e segue determinadas regras para a concessão, segundo o
Ministério do Trabalho e Emprego:

• três parcelas, se o trabalhador comprovar vínculo empregatício de no mínimo


seis meses e no máximo onze meses, nos últimos trinta e seis meses;
• quatro parcelas, se o trabalhador comprovar vínculo empregatício de no
mínimo doze meses e no máximo 23 meses, nos últimos 36 meses;
• cinco parcelas, se o trabalhador comprovar vínculo empregatício de no
mínimo 24 meses, nos últimos 36 meses.

MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO. Seguro-Desemprego Novo. Emprego e renda. Brasília.


Disponível em: <http://portal.mte.gov.br/seg_desemp/seguro-desemprego-formal-2.htm>.
Acesso em: 14 jun. 2013.

O valor a ser recebido é calculado pela média do salário dos últi-


mos três meses de trabalho. Por exemplo: se o trabalhador foi demi-
tido em outubro, e recebeu, em setembro, R$ 850,00; em agosto,
R$ 800,00; e em julho, R$ 800,00. Calcula-se a média da seguinte forma:
850,00 + 800,00 + 800,00 = 2 450,00 ÷ 3 (meses) = 816,67
Com esse valor, o trabalhador consulta as faixas de salário médio no
qual se enquadra, conforme a tabela do Ministério do Trabalho e Emprego:

Cálculo do benefício – Seguro-desemprego – Janeiro/2013

Calcula-se o valor do salário médio dos últimos três meses


anteriores à dispensa e aplica-se na fórmula abaixo:

Faixas de salário médio Valor da parcela

Até R$ 1 090,43 Multiplica-se salário médio por 0,8 (80%)

De R$ 1 090,44 até O que exceder a R$ 1 090,43 multiplica-se


R$ 1 817,56 por 0,5 (50%) e soma-se a R$ 872,35

O valor da parcela será de R$ 1 235,91


Acima de R$ 1 817,56
invariavelmente.

Salário mínimo: R$ 678,00


Obs.: o valor do benefício não poderá ser inferior ao valor do salário mínimo, sendo observado o
contido nos § 2o e incisos I e II do § 3o do artigo 5o da Lei 7.998/1990.

MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO. Seguro-desemprego novo. Emprego e renda. Brasília.


Disponível em: <http://portal.mte.gov.br/seg_desemp/seguro-desemprego-formal-2.htm>.
Acesso em: 14 jun. 2013.

211
Trabalho – Unidade 3

Os documentos necessários para solicitar o seguro-desemprego são:

• Requerimento do seguro-desemprego SD/CD [02 (duas) vias – verde e


marrom];
• Cartão do PIS-Pasep, extrato atualizado ou Cartão do Cidadão;
• Carteira de Trabalho e Previdência Social – CTPS (verificar todas que o reque-
rente possuir);
• Termo de Rescisão do Contrato de Trabalho – TRCT devidamente quitado;
• Documentos de Identificação – carteira de identidade ou certidão de nasci-
mento/certidão de casamento com o protocolo de requerimento da identidade
(somente para recepção) ou carteira nacional de habilitação (modelo novo) ou
carteira de trabalho (modelo novo) ou passaporte ou certificado de reservista;
• 03 (três) últimos contracheques, dos 3 (três) meses anteriores ao mês de
demissão; e,
• Documento de levantamento dos depósitos do FGTS (CPFGTS) ou extrato
comprobatório dos depósitos ou relatório da fiscalização ou documento judi-
cial (Certidão das Comissões de Conciliação Prévia/Núcleos Intersindicais/
Sentença/Certidão da Justiça);
• Comprovante de residência;
• Comprovante de escolaridade.

MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO. Seguro-desemprego novo. Emprego e Renda. Brasília. Disponível


em: <http://portal.mte.gov.br/seg_desemp/documentacao-necessaria.htm>. Acesso em: 17 jun. 2013.

Para informações complementares sobre o seguro-desemprego, você


pode acessar o site do Ministério do Trabalho e Emprego (disponível
em: <http://portal.mte.gov.br/portal-mte/>, acesso em: 18 jun. 2013).
2. Intermediação de mão de obra
O Sistema Nacional de Emprego (Sine), criado em 1975, atua com
o objetivo de auxiliar a colocação de trabalhadores desempregados.
Seu funcionamento acontece em parceria com os governos estaduais.
O serviço capta vagas no mercado de trabalho e, segundo as
características do cadastro dos candidatos, encaminha-os para os pro-
cessos de seleção.

3. Formação profissional
Foram estudadas – no 8o ano/3o termo desta disciplina – a Classifi-
cação Brasileira de Ocupações (CBO) e a formação profissional. Esta
última, como política pública, teve forte apelo durante o período da
reestruturação produtiva, pois predominava o discurso de que have-
ria emprego se os trabalhadores fossem mais capacitados. Apesar de
essa proposição defender que os mais escolarizados não vivenciariam
o desemprego, o que ocorreu de fato foi que esse fenômeno atingiu a
todos, independentemente da escolaridade.
É muito importante lembrar que a busca por educação e formação
profissional tornou-se parte relevante da vida pessoal e profissional dos

212
Trabalho – Unidade 3

sujeitos. Contudo, nem sempre, na história do trabalho e do emprego,


a educação e a formação foram decisivas para a obtenção de um posto
de trabalho.

Nos anos 1990, o Ministério do Trabalho e Emprego desenvolveu


o Plano Nacional de Educação Profissional (Planfor), que financiou
programas de formação em todo o País, sendo depois substituído, em
2003, pelo Plano Nacional de Qualificação (PNQ).

4. Auxílio ao autoemprego
Tendo em vista a escassez de empregos formais nos anos 1990, a
política pública de emprego voltou-se para o incentivo de empreendi-
mentos individuais como saída para o desemprego.
No Estado de São Paulo, por exemplo, criou-se o Banco do Povo
Paulista, em 1997 (Lei no 9.533), a fim de conceder crédito a pessoas
cuja intenção fosse iniciar ou incrementar sua atividade profissional.
Por exemplo: uma cabeleireira que precisa comprar equipamentos para
abrir seu negócio; um marceneiro que aumentará sua produção adqui-
rindo uma nova ferramenta. Esses são profissionais que podem solicitar
financiamento no Banco do Povo.
Segundo a Secretaria do Emprego e Relações do Trabalho (Sert),
constituem-se em exigências aos demandantes:

• Desenvolver atividade produtiva (formal ou informal) nos municípios con-


templados pelo BPP.
• Se Pessoa Física, residir há mais de 2 anos em município contemplado pelo
BPP, com endereço fixo.
• Se Pessoa Física, com empreendimento em endereço fixo em outro município
contemplado pelo BPP, possuir o negócio há mais de 2 anos.
• Se Pessoa Jurídica, não há exigência de tempo de residência.
• Não ter restrições cadastrais no SCPC, Serasa e Cadin Estadual.
• Ter faturamento bruto de até R$ 360 mil nos últimos 12 meses.
• Ser maior de 18 anos de idade. Menor com idade a partir de 16 anos, desde que
seja emancipado legalmente.
• Analfabetos ou portadores de deficiência física (que impeça a leitura do con-
trato ou o comparecimento no ato da assinatura), somente através de procu-
ração pública, outorgando poderes a terceiros para representá-lo no ato da
assinatura do contrato e que deverá ser lavrada em cartório local. Observação:
Deficiente mental é considerado incapaz, não podendo assumir compromissos.

Banco do Povo Paulista. Secretaria do Emprego e Relações do Trabalho. Microcrédito do Banco do


Povo. A quem se destina. Disponível em: <http://www.bancodopovo.sp.gov.br/v5/bpp_frame_criterios.
asp>. Acesso em: 14 jun. 2013.

Para mais informações sobre a documentação necessária, acesse


o site do Banco do Povo Paulista (disponível em: <http://www.
bancodopovo.sp.gov.br/>, acesso em: 14 jun. 2013).

213
Trabalho – Unidade 3

Você estudou

Nesta Unidade, foram apresentadas as transformações ocor-


ridas nas relações de trabalho no período compreendido entre
1980 e 1990. O Brasil amargou forte crise econômica por várias
razões, entre elas o endividamento do Estado brasileiro em con-
sequência dos altos custos de obras realizadas durante o regime
militar e consideradas faraônicas, ou seja, de grandeza exagerada
conforme as realizadas pelos antigos faraós do Egito.
A reestruturação produtiva também foi tema de estudo, a fim
de compreender que o desemprego é um movimento da economia
e que os trabalhadores isoladamente não podem ser responsabili-
zados por esse fenômeno mundial. A adoção de novas tecnologias
causou o chamado desemprego estrutural, mas nem todos os paí-
ses que passaram por essa fase vivenciaram altos níveis de desem-
prego. Isso porque um Estado de Direito, ou seja, um Estado que
garante determinados direitos à população, evita que empregado-
res tenham total liberdade para demitir. As políticas em alguns
países – diante da previsão da eliminação de postos de trabalho
em função da adoção de automação, robotização ou de nova ma-
quinaria – obrigam as empresas a requalificar os trabalhadores
para que estes ocupem outra função nas próprias empresas.
Você conheceu também alguns aspectos das políticas públi-
cas de emprego existentes no País, como o seguro-desemprego e
a intermediação de mão de obra, entre outras.

Pense sobre

Desemprego é mais do que não trabalhar. O que significa tal situa-


ção na vida de qualquer cidadão?

214
4 Estratégias de busca
de emprego

Esta Unidade tem como objetivo discutir a nova situação da


economia brasileira e do emprego, muito diferente das estudadas
na Unidade 3. A crise mundial que abalou as economias estáveis
dos países desenvolvidos em 2008 não causou danos importantes
no Brasil. O ritmo de desenvolvimento e crescimento econômico e
social seguiu seu curso natural. Mesmo assim, as pessoas continua-
vam em busca de um (novo) emprego. Por essa razão, esta disciplina
é finalizada ao abordar as estratégias para a obtenção de um novo
posto de trabalho.

Para iniciar...
Converse com o professor e os colegas:
• Quais são as notícias que você ouve sobre a geração de novos em-
pregos na história recente do Brasil?
• Esses empregos são formais ou informais?
• Em sua opinião, quais são os setores que mais contratam hoje?
Por quê?
• O que você observa entre as pessoas com as quais convive: Elas
estão desempregadas? Conseguiram emprego facilmente? Relem-
bre uma história que você acha interessante sobre isso para com-
partilhar com a turma.

Economia e emprego
Entre o final de 2011 e boa parte de 2012, o Brasil chegou a
ocupar a sexta posição entre as maio­res economias mundiais, atrás
de Estados Unidos, que lideravam o ranking (lista de classificação),
China, Japão, Alemanha e França. No entanto, no último trimestre de
2012, voltou para a sétima posição, ficando novamente o sexto lugar
para o Reino Unido – formado pelos países: Inglaterra, Irlanda do
Norte, Escócia e País de Gales.

É importante refletir sobre os números que definem classificações


dessa natureza. A despeito da classificação, é importante observar

215
Trabalho – Unidade 4

que o Brasil concentra condições sociais diferenciadas quando com-


parado àqueles que integram as primeiras colocações. No País, per-
manece uma intensa concentração de altos rendimentos para poucos
brasileiros e grau de analfabetismo elevado, entre outros aspectos
igualmente importantes.

Tal posição é resultado da elevação do PIB no País. O desenvolvi-


mento da economia, especialmente a partir de 2003, tem criado novos
postos de trabalho e, assim, contribuído para a redução dos níveis
de desemprego em todo o Brasil. Entre os setores que mais empre-
gam está em primeiro lugar a construção civil, cujas empresas che-
gam a disputar os profissionais da área, inclusive fazendo aumentar
o número de mulheres contratadas para realizar as etapas de acaba-
mento (embora a predominância ainda seja masculina) – e de imi-
grantes do Haiti, por exemplo, que conseguem emprego nesse setor
assim que chegam ao Brasil.

O segundo maior empregador difere entre a capital e o interior: nos


grandes centros urbanos, o setor de serviços contratou mais, enquanto
a indústria apresentou melhores índices no interior do Estado.

A renda média real, ou seja, descontadas as gratificações e o


13 salário, também cresceu. Veja a síntese do mercado de trabalho:
o

Taxa de desocupação Rendimento médio real


Nov. 2011 5,2% R$ 1 718,07
Out. 2012 5,3% R$ 1 795,41
Nov. 2012 4,9% R$ 1 809,60

Fonte: IBGE. Em novembro, desocupação foi de 4,9%. Comunicação Social, 21 dez. 2012. Disponível
em: <http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=2298&id_
pagina=1>. Acesso em: 14 jun. 2013.

Atividade 1 A nova fase da economia brasileira


Leia o texto sobre o desemprego no Brasil e, em grupo, respon-
dam às questões propostas. Depois, apresentem à turma as conclusões
a que chegaram.

Oscilação do desemprego

Os índices de desemprego em 2012 se comportaram de forma mais amena


para os trabalhadores se comparados aos períodos do “milagre brasileiro” ou os
registrados durante a década de 1990, no período da reestruturação produtiva.

216
Trabalho – Unidade 4

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) anunciou que o


desemprego em janeiro de 2013 foi de 5,4% em seis regiões metropolitanas
no Brasil (Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador e
Recife). Os dados que mostram a situação do emprego na Região Metropoli-
tana de São Paulo trazem boas e más notícias: por um lado, os níveis salariais
foram elevados em 0,5%; por outro, o desemprego cresceu e passou de 5,2%
em dezembro de 2012 para 6,4% em janeiro de 2013. Já nas regiões pesquisa-
das, o emprego formal, com carteira assinada, registrou alta de 4,1%.

O gráfico “Taxa de desocupação”, que apresenta dados de desemprego mensal,


aponta que mais pessoas foram empregadas a partir de novembro nessas regiões,
fenômeno que sempre ocorre nesse período do ano, quando mais trabalhadores
são contratados a fim de atender à demanda das festas de final de ano.

Taxa de desocupação

6,2%
6,0%
5,7% 5,8% 5,9%
5,4% 5,4%
5,3% 5,4% 5,3%
4,9%
4,6%

fev/12 mar abr maio jun jul ago set out nov dez jan/13

Fonte: IBGE. Pesquisa Mensal de Emprego, fevereiro de 2013. Rio de Janeiro: IBGE, 2013.
Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/imprensa/ppts/
00000012321103112013112628629479.pdf>. Acesso em: 14 jun. 2013.

Contudo, se os níveis de desemprego são menores, ainda existem muitas


pessoas que não conseguiram trabalho. O IBGE estima que mais de 1 milhão
de pessoas continuam nessa situação nas regiões pesquisadas.

1. A taxa de desemprego nas regiões metropolitanas pesquisadas


pelo IBGE esteve, no período pesquisado, em alta ou em baixa?
Expliquem com base no texto.

217
Trabalho – Unidade 4

2. De acordo com o texto, os empregos com carteira assinada aumen-


taram ou diminuíram? Justifiquem com base nos dados do texto.

3. Qual é a conclusão do grupo ao comparar a situação econômica no


período da ditadura militar, estudada na Unidade 3, e a situação
econômica atual?

Compreendendo o pleno emprego


A análise de alguns economistas trouxe para o noticiário um
termo praticamente desconhecido por grande parte da população
brasileira: o pleno emprego. Até então, o pleno emprego era pouco
mencionado, dadas as características históricas que acompanharam o
País desde a sua formação.

Compreender esse termo não é tarefa fácil, pois apenas uma sim-
ples definição pode levar a um entendimento equivocado.

Falou-se no noticiário, em 2012, que o Brasil estava próximo a


atingir o pleno emprego. Quem assim o compreendeu se referia ao
alcance de níveis de desemprego abaixo dos 4%. Esse é, para muitos
economistas, o indicador que configura a situação de pleno emprego.
Outros o definem como sendo o encontro do ponto de equilíbrio
entre a procura e a oferta de emprego.

218
Trabalho – Unidade 4

Uma leitura possível do termo precisa considerar, em primeiro


lugar, as muitas diferenciações que predominam no País. O mercado
de trabalho brasileiro é bastante heterogêneo, ou seja, apresenta muitas
variações: o emprego é diferenciado entre as regiões e há a oscilação
entre o trabalho formal e o informal. Tais circunstâncias distanciam-se
da constatação de que o Brasil vive uma situação de pleno emprego.

As estatísticas que se transformaram em notícia em 2012 indica-


vam que pessoas com nível superior completo não teriam problema
em obter emprego. Porém, não se mencionou se essas pessoas o
encontram nas áreas em que foram formadas.

É, de toda maneira, importante notar que a economia no perío­do


atual é favorável e propícia para o crescimento e para a busca de
emprego. A procura por trabalhadores em diversas áreas contribui para
que seja retomado o caminho de reivindicações salariais, com vistas à
melhoria tanto das condições de vida como das de trabalho. E para que
os sindicatos retomem seu poder de negociação com as empresas.

Como procurar um (novo) emprego?


Fica a dica
Quando o desenvolvimento econômico apresenta crescimento
expressivo, tal situação se reflete na oferta de postos de trabalho, O filme Ou tudo, ou nada
(The full monty, direção
como é o caso brasileiro atualmente. É, portanto, um bom momento de Peter Cattaneo, 1997)
para conseguir um emprego ou mesmo procurar outro que apresente retrata uma situação
melhores condições salariais e de trabalho. de recessão em uma
cidade cujos trabalhos
dependiam de empresas
Se você é estudante do Programa EJA – Mundo do Trabalho que entraram em
desde o 6o ano/1o termo, vai recordar que as atividades a seguir já colapso. Um grupo de
desempregados tenta
foram feitas naquela ocasião. É importante, neste momento em que uma colocação sem
você finaliza mais uma etapa da sua formação escolar, realizar um sucesso em tempos de
novo balanço, pois, nesse período de dois anos, muitos conhecimen- recessão e encontra uma
alternativa incomum e
tos foram adquiridos e outros sobre os quais você já tinha uma per- divertida ao espectador
cepção foram cristalizados. Isso certamente refletirá na construção para fazer frente ao
desemprego.
de um novo currículo e nas formas de busca por um (novo) emprego.

1o passo – Balanço da sua vida pessoal e profissional


Ao procurar seu primeiro ou um novo emprego, é importante pen-
sar o que, de fato, é significativo na sua vida pessoal e profissional.

Busque, em primeiro lugar, fazer uma reflexão sobre os valo-


res que você mais preza. Você ficaria satisfeito em trabalhar em uma
empresa que vai contra seus princípios? Veja um exemplo: um ativista
ambiental, que luta pela preservação da Mata Atlântica, dificilmente
será feliz trabalhando em uma empresa de corte de árvores; ou alguém

219
Trabalho – Unidade 4

muito afeiçoado aos animais não gostará de trabalhar em um mata-


Você sabia que, em
1889, no Congresso douro. Esses são alguns exemplos que lhe ajudarão a fazer um primeiro
Internacional de balanço sobre o que realmente importa quando o assunto é trabalho.
Trabalhadores,
discutiu-se a limitação Nesse momento, desconsidere a questão salarial – ainda que,
da jornada de trabalho
a 8 horas diárias? sem dúvida, ela seja importante. Procure, nesse primeiro passo,
Na França, uma refletir sobre o que você gosta de fazer, um ramo em que gostaria de
manifestação, em trabalhar e tente pensar em um trabalho que te daria mais prazer.
1891, pela jornada de
8 horas foi duramente Afinal, passa-se no trabalho 1/ 3 do dia. Observe a figura a seguir,
reprimida pela polícia, e capa de uma revista que expressa a reivindicação pela jornada de 8
dez trabalhadores foram
mortos, sendo que oito
horas de trabalho e que retrata como deveria ser o dia do trabalha-
deles tinham menos de dor: 8 horas de trabalho, 8 de lazer e 8 de sono.
21 anos.
© Archives Charmet/Bridgeman Art Library/Keystone
© AUTVIS, 2013

A imagem, de 1906, expressa uma


justa e proporcional divisão das
24 horas do dia entre trabalho,
lazer e sono. Com isso, embasa a
reivindicação dos trabalhadores da
época pela jornada de 8 horas de
trabalho.
Jules Grandjouan. Os Três-Oito.
28 abr. 1906. Litogravura. Capa da
revista L’assiette au beurre: edição
comemorativa de 1o de maio.
Biblioteca Histórica da Cidade de
Paris, França.

2o passo – Realizações na vida profissional

Procure refazer sua trajetória profissional; de preferência, anote


ano, local, qual era sua função e se era um emprego com registro em
carteira. Procure refletir sobre os aspectos de que mais gostava
em cada um deles e sobre os que menos lhe agradavam.

Associando o primeiro e o segundo passos, elabore uma relação


das atividades que mais gosta de fazer. Por exemplo: Ernesto sempre
trabalhou como ajudante e, depois, como pedreiro, mas nesse trabalho
ele gostava mais de fazer o acabamento, pensar nas etapas, planejar o

220
Trabalho – Unidade 4

assentamento do piso; a maioria dos empregos que Rose teve foi como
empregada doméstica, mas o que lhe dava mais satisfação era fazer
bolos para as crianças.
Essa reflexão aparentemente simples poderá abrir-lhe inúmeras
possibilidades na busca por um novo posto de trabalho. Veja só: Rose
poderá procurar emprego não apenas como doméstica, mas em uma
doceria, padaria, como auxiliar de confeiteira, ou talvez abrir seu pró-
prio negócio e começar a fazer bolos sob encomenda.
Pense também se gosta de trabalhar com público, com máqui-
nas ou em escritórios. Essa também será uma boa informação no
momento de selecionar as oportunidades de emprego.

3o passo – Seleção do local de trabalho

Durante os estudos, você teve a oportunidade de conhecer algu-


mas características do mercado de trabalho, a transformação do tra-
balho e das condições em que ele vem sendo realizado ao longo dos
anos, a inovação tecnológica, entre outros aspectos. No momento
de selecionar os locais para a busca de emprego, é importante con-
siderar esses itens, pois pode não valer a pena tentar uma vaga para
ocupações que estão em vias de desaparecer ou em setores em crise.
Sua leitura e compreensão do mercado de trabalho foram apri-
morados nesse período de formação e, certamente, você conseguirá
acessar informações e compreendê-las de outra maneira.
Alguns sites do governo do Estado de São Paulo trazem boletins
e dados sobre o mercado de trabalho. O Observatório do Emprego
e do Trabalho, vinculado à Secretaria do Emprego e Relações do
Trabalho, apresenta uma série de dados que você poderá consultar,
de acordo com a região em que vive (disponível em: <http://www.
fipe.org.br/projetos/observatorio/>, acesso em: 14 jun. 2013).
A Fundação Seade também realiza pesquisas, sistematiza e
analisa dados do mercado de trabalho. Há, inclusive, um boletim
especial sobre trabalho e mulher. Veja essas informações no site da
fundação (disponível em: <http://www.seade.gov.br/>, acesso em:
14 jun. 2013).
Além disso, você tem acesso ao Boletim Socioeconômico especial-
mente produzido para o Programa EJA – Mundo do Trabalho sobre a
caracterização socioeconômica do Estado de São Paulo e da região em
que vive. Esse suplemento do material didático propiciará um traba-
lho específico que será feito em sala de aula e que muito contribuirá
para a com­preensão do mercado de trabalho.

221
Trabalho – Unidade 4

4o passo – Organização de documentos


Tenha uma pasta sempre atualizada com seus documentos. Lem-
bre-se: isso é importante não apenas para sua vida profissional!

Organize seus documentos por tipo:

• Documentos pessoais: RG e CPF, carteira de motorista, carteira


de trabalho, PIS, título de eleitor, inclusive comprovantes de vota-
ção ou justificativas (exigidos também para concursos públicos).

• Escolaridade e formação: comprovante de escolaridade e todos os


certificados de cursos de qualificação profissional.

• Cartas de recomendação: caso não tenha, solicite ao seu último


empregador.

• Registros fotográficos: se você trabalha com marcenaria, serralhe-


ria, construção ou faz bolos, bijuterias, costura etc., é importante
registrar o que produz. Essa informação é fundamental tanto para
obter um emprego como para o caso de você optar por trabalhar
por conta própria. É possível que os clientes apreciem o que você
já fez ou que esses registros sirvam como catálogo, de onde pode-
rão tirar ideias e optar por determinado serviço.
5o passo – Construção do currículo
O currículo deve expressar de forma clara: seus dados pessoais;
escolaridade; experiência profissional; e seus contatos, que garantam
uma maneira de o empregador localizá-lo. Veja a seguir um guia para
a elaboração do seu currículo.

Atividade 2 Elaborando um currículo


Produza ou atualize seu currículo com base no modelo a seguir.
Caso você tenha acesso a um computador ou a escola disponha de um
laboratório de informática, essa será uma boa oportunidade de elabo-
rar seu currículo diretamente em versão eletrônica. Não se esqueça de
salvá-lo para, em seguida, enviar o arquivo para seu endereço eletrô-
nico ou de alguém que possa acessá-lo para você.

Se você não tem familiaridade com o computador, pode contar


com a ajuda do professor ou de um colega. À medida que ganhar
prática no uso da ferramenta, você poderá aperfeiçoar a formata-
ção do documento. Se achar mais conveniente, faça um rascunho
à mão antes.

222
Trabalho – Unidade 4

Dados pessoais

No editor de texto, com o auxílio da ferramenta “inserir


tabela”, você poderá deixar seu texto bem alinhado e com
uma boa apresentação. (Se quiser, poderá deixar as linhas da
tabela invisíveis: basta selecionar toda a tabela e clicar no bo-
tão “sem bordas”.)

Nome

Endereço

Telefone

Email

Escolaridade
• [indique aqui seu grau de escolaridade, cidade onde cursou]

Cursos de qualificação profissional


Curso de

• Conhecimentos na área de

Experiência profissional
Relacione a experiência profissional que você já teve até
hoje, dando destaque à área para a qual está se candidatando.
Indique sempre a empresa (ou local de trabalho) e o período em
que lá trabalhou, do mais recente para o mais antigo.

Por exemplo: Marcenaria da Esquina, Jacutinga – auxiliar


de corte (1995-1998).

Extras
Acrescente informações que considera importantes para o
empregador. Por exemplo: trabalho voluntário, atuação na As-
sociação de Bairro, conhecimentos de outro idioma, conheci-
mentos de informática etc.

6o passo – Apresentação a uma vaga


Uma vez organizados os documentos, este é o momento de se candida-
tar a uma vaga. É sempre conveniente elaborar uma carta de apresentação.

223
Trabalho – Unidade 4

Atividade 3 Carta de apresentação


Fica a dica
1. A intenção desta atividade é praticar a escrita de cartas de apre-
Lembre-se sempre de
acertar a concordância
sentação. Para isso, veja alguns modelos de carta e discuta-os com
para masculino ou seus colegas.
feminino, conforme a
pessoa a quem a carta
é endereçada. Carta A

([Data] Cidade, dia, mês e ano.)


Prezado senhor,
Sou profissional da área de culinária e trabalhei até o presente momento por
conta própria.
Completei o Ensino Fundamental e minha especialidade é o preparo de bolos
artísticos e doces para festas.
Encontram-se anexos meu currículo e também o catálogo com fotos, a fim de
poder participar de processos de seleção na empresa.
Atenciosamente,
Joaquim José

Carta B

([Data] Cidade, dia, mês e ano.)


Prezada senhora,
O objetivo desta carta é apresentar-me para a vaga de balconista, conforme
anúncio publicado no Jornal do Bairro, no dia 2 de fevereiro de 2013.
Minha escolaridade é Ensino Fundamental completo e já trabalhei com o
público em outras ocasiões.
Assim, coloco-me à disposição para participar do processo seletivo nessa
empresa.
Segue anexo meu currículo para sua análise e apreciação.
Atenciosamente,
Adelina da Silva

Carta C

([Data] Cidade, dia, mês e ano.)


Prezado senhor,
Escrevo a fim de me candidatar à vaga de azulejista, por indicação do sr.
Antônio dos Campos.
Além de ter concluído o Ensino Fundamental, fiz cursos de qualificação profis-
sional na área da construção civil e tenho experiência como pedreiro e azulejista
há sete anos.
Segue meu currículo para sua avaliação, no qual constam as referências de
empregadores anteriores.
Atenciosamente,
Milton Caxias

224
Trabalho – Unidade 4

2. Imagine que você tenha uma vaga em vista e tem muito interesse
em obtê-la. Concentre-se e, em uma folha avulsa, escreva uma
carta à pessoa que vai selecioná-lo.

3. Agora, troque a carta com seu colega. Faça sugestões a ele, obser-
vando os seguintes aspectos:

• O objetivo da carta está claro?

• A apresentação está adequada?

• O texto apresenta erros ortográficos ou de tratamento?

4. Reescreva aqui a carta de acordo com as sugestões feitas pelo seu


colega e leia-a para a turma. Assim, vocês poderão trocar muitas
ideias sobre como elaborar uma carta, conforme a situação.

7o passo – Entrevista
O momento da entrevista é fundamental na decisão para a escolha de
quem será contratado. Ela altera, muitas vezes, a percepção que se tem
por meio da leitura de um currículo ou de uma carta de apresentação.

Na entrevista, é importante tomar algumas precauções: lembre-se


de que se trata de uma pessoa que você está encontrando pela pri-
meira vez, mas que, caso contratado, poderá ser uma pessoa do seu
convívio diário.

225
Trabalho – Unidade 4

Os especialistas em recrutamento e seleção não recomendam:

• apresentar-se com trajes inadequados para a situação, que


exige certa formalidade;
• comportar-se como se já estivesse contratado e íntimo das
pessoas que ali trabalham ou vivem, no caso de trabalhos
em residências;
• tecer comentários maldosos ou desabonadores sobre os anti-
gos empregadores ou sobre a empresa em que trabalhou.

Ficar nervoso no momento da entrevista é normal e quem sele-


ciona sabe disso.
Algumas perguntas são clássicas nas entrevistas de emprego:

• Geralmente é solicitado que fale sobre você: não se prolongue


na resposta. Procure responder de forma a apresentar suas
qualidades, sem, contudo, supervalorizar-se. Evite: “Ninguém
faz um bolo como o meu!”; “Eu sou o melhor motorista do
bairro!”; “Tem gente que trabalha bem, mas como eu...”.
• Razões para se candidatar a esse emprego: é recomendável que,
caso seja uma empresa, você pesquise suas informações no site
dela e conheça a atividade principal, o número de funcionários,
o tempo no mercado etc. Assim, você demonstrará seu interes-
se às características da empresa ou do local de trabalho.
• Seus defeitos e suas qualidades: atenção para responder a essa
pergunta. Busque o equilíbrio entre eles. Ser ansioso com ho-
rários e prazos pode ser um sofrimento para quem assim o
vivencia, mas o empregador, certamente, vai preferir alguém
preocupado com esse aspecto.

Seja sempre sincero na entrevista. Não se comprometa com aquilo


que nunca fez. É preferível admitir que nunca realizou certa atividade,
mas que tem vontade e disposição para conhecer novas tarefas, em
vez de causar decepção logo nos primeiros dias de contratação.

Atividade 4 Final da história de Jurandir, Nilda e Rosa


Você acompanhou, ao longo dos estudos, a história do casal de
migrantes Jurandir e Nilda, e da filha deles, Rosa.

226
Trabalho – Unidade 4

1. Escreva, em seu caderno, uma redação imaginando como a vida


dessa família se desenvolveu.
2. Organizem uma atividade coletiva para compartilhar os desfe-
chos da história. Será, certamente, um momento agradável para
toda a turma.

Você estudou
Nesta última Unidade da disciplina Trabalho, foi apresentado
o desenvolvimento econômico nos anos recentes da história do
Brasil e seus desdobramentos no campo do emprego. Aprofun-
dou-se o entendimento de pleno emprego e ainda analisou-se se
essa é uma situação que se configura, ou não, no Brasil.
Constou nesta Unidade uma parte mais prática, que trouxe
elementos básicos e estratégicos na busca por um emprego: or-
ganização da documentação, elaboração de um currículo e dicas
para uma entrevista.

Pense sobre

O índice de desemprego no Brasil foi de 4,9% em novembro de


2012. Veja os índices de desemprego nos países com maior PIB:

Ranking do PIB mundial Índice de desemprego


o
1 – Estados Unidos 7,7%
o
2 – China 4,1%
o
3 – Japão 4,2%
o
4 – Alemanha 6,9%
o
5 – França 10,7%
o
6 – Reino Unido 7,8%
o
7 – Brasil 4,9%

Fontes: BANCO MUNDIAL. Produto interno bruto 2012. The World Bank. World Development Indicators
database, 1o jul. 2013. Disponível em: <http://databank.worldbank.org/data/download/GDP.pdf>.
MING, Celso. Pleno emprego. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 21 dez. 2012. Economia, B2. Disponível em:
<http://blogs.estadao.com.br/celso-ming/2012/12/21/pleno-emprego-2/>. Acessos em: 4 jul. 2013.

Quais são as conclusões que você pode tirar desses dados? O que
pode acontecer com o Brasil em relação à economia mundial? Você
acha que as perspectivas para o País são positivas ou negativas?

227
Você encerra agora um momento importante na sua trajetória escolar: o
Ensino Fundamental. Segue uma mensagem que coroa esse fim de etapa, com um
desenho do cartunista Henrique de Souza Filho, o Henfil.
© Ivan Consenza de Souza/Henfil

Poema de Maurício Francisco Ceolin [nota do editor].

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