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CAPÍTULO 7: PODER DE PARADA

“Aquele que vive de


combater o inimigo tem
interesse em o deixar com
vida.”
Friedrish Nietzsche

7.1 INTRODUÇÃO
A ideia de Poder de Parada surgiu no século XIX, quando tropas de
diversas nações colonialistas começaram a travar combates com nativos das
colônias empregando armas de fogo, momento em que se notou, por vezes, a
incapacidade de certas combinações de armas, calibres e munições deterem
um atacante determinado, em detrimento de outras combinações, que se
mostravam mais eficazes. O caso emblemático é o do conflito entre
norteamericanos e os guerreiros filipinos, que levou à substituição dos então
novos revólveres calibre .38 Long Colt pelos antigos revólveres calibre .45 Colt,
bem como à criação do calibre .45 ACP para pistolas, vistos estes
demonstravam maior capacidade de deter os inimigos com um único disparo.
Neste caso específico, notou-se que os projéteis maiores e mais pesados eram
mais eficazes em parar o atacante.

Poder de Parada é uma expressão criada pelos americanos,


inicialmente, como forma de estabelecer uma relação entre a incapacitação
efetiva e momentânea do oponente em razão de um único disparo de uma
munição de determinado calibre, sendo irrelevante a ocorrência do resultado
morte. Resultou das coletâneas de dados históricos de combates realizadas
por Evan Marshall e Edwin Sanow.

De forma técnica, Stopping Power ou Poder de Parada é a capacidade


de uma arma de fogo ou outra arma similar de, usando um corpo balístico,
causar um ferimento perfuro contundente num alvo humano ou animal que seja
grave o suficiente para provocar uma incapacitação imediata. Não tem relação
direta com a letalidade, na medida em que o foco do poder de parada é a
capacidade de incapacitação imediata, independente do resultado morte. A
transferência de energia e o choque hidrostático são algumas das teorias
ligadas ao Stopping Power, mas não há um consenso neste aspecto.

O Poder de Parada está diretamente relacionado às propriedades


físicas do projétil e o efeito que este causa ao interagir com o alvo. A
incapacitação do alvo não é resultado direto da força que um projétil de uma
arma leve de uso comum, seja ela uma arma de porte como uma pistola ou
revólver, ou mesmo uma arma portátil como um fuzil de assalto. A
incapacitação é o resultado dos danos provocados por este projétil que
resultam na perda de sangue e, por conseqüência direta, perda de pressão
arterial. Quando desconsideramos os impactos diretos no sistema nervoso
central, como no cérebro e na medula espinhal, que costumam causar uma
incapacitação mais imediata, é justamente o choque hipovolêmico que é o
responsável por fazer cessar a capacidade reativa do indivíduo.

7.2 FATORES QUE INFLUEM NA INCAPACITAÇÃO


As regras de engajamento para uso não militar de armas de fogo
requerem que alguma vida esteja em risco atual ou iminente para que o disparo
seja justificável. Nestas circunstâncias, o objetivo é incapacitar o alvo o mais
rápido possível, de modo a evitar que a vida que se quer proteger sofra as
consequências da agressão. Na maior parte dos casos, tais disparos são feitos
por armas curtas, que são, comparadas às armas longas, muito menos
potentes. As armas curtas também têm menor precisão nas mãos de atiradores
não tão treinados, especialmente se estes estão numa situação de altíssimo
estresse. Estes fatores se combinam de modo a exigir uma balística terminal
extremamente eficiente, que proporcione uma incapacitação instantânea do
alvo em circunstâncias longe daquelas consideradas ideais.

Para uma rápida incapacitação é necessário que se atinja um órgão


vital bem irrigado de sangue ou então o sistema nervoso central. Assim sendo,
o projétil deve apresentar uma capacidade de penetração suficiente para tal.

Os seres humanos andam eretos e apresentam uma área preenchida


de órgão vitais relativamente desprotegida, quando considerados os ângulos
de engajamento mais comuns, além de possuírem um invólucro (pele)
relativamente fino e pouco resistente. Um disparo de um ângulo pouco
favorável, que tenha que transfixar boa parte do torso antes de atingir um órgão
vital, ou um disparo que atinja primeiro uma mão ou um braço, são
extremamente comuns em situação de confronto.

Aspectos físicos, fisiológicos e psicológicos influem diretamente na


possibilidade de um indivíduo ser incapacitado, ou seja, parado quando
alvejado por um projétil de arma de fogo.

Um dos principais focos do Stopping Power é o aspecto neurológico da


incapacitação: a única maneira de incapacitar instantaneamente um indivíduo,
seja ele um ser humano ou um animal, é atingindo e lesionando diretamente
seu sistema nervoso central (SNC), de modo a causar paralisia, inconsciência
ou morte.

Porém o SNC é um alvo extremamente pequeno e bem protegido,


sendo particularmente difícil de ser atingido diretamente numa situação de
confronto, com atirador e alvo normalmente em movimento e sob extrema
tensão. Porém ele pode ser atingido indiretamente, pois impactos que afetem o
sistema cardiovascular podem gerar perda de oxigenação o suficiente para
provocar uma perda de consciência do SNC. Isto vir a ocorrer se o projétil
disparado romper um grande vaso ou lesionar um órgão muito irrigado, ou
ainda se coração, pulmões ou vias aéreas forem atingidas. Se a irrigação
sanguínea do cérebro for abruptamente interrompida, ainda restarão de 10 a 15
segundos para que o indivíduo atingido tome ações conscientes, mas com
eficácia progressivamente diminuída à medida que se aproxima da perda da
consciência. A dor extrema provocada por sérias lesões, tais como rompimento
de tecidos, músculos e fratura de ossos, também pode afetar o sistema
neurológico da pessoa de tal maneira que esta pode ficar paralisada ou até
mesmo perder a consciência.

Com relação aos aspectos psicológicos da incapacitação, o choque


emocional, o terror, a surpresa e a própria dor resultantes de ser alvejado por
uma arma de fogo podem causar desmaio, rendição ou fuga no indivíduo alvo.

O barulho e o clarão do disparo também tendem a desorientar ou


paralisar por alguns instantes a maior parte dos indivíduos que não são
acostumados a estes fenômenos. O desmaio de fundo emocional é a razão
apontada como mais provável para os casos de parada instantânea com um
único disparo que não atinge o SNC. Há casos em que o indivíduo perdeu
totalmente a consciência após ser atingido numa extremidade, ou mesmo em
razão de um “tiro de raspão”. A cavidade temporária também pode atuar no
aspecto da percepção de ter sido alvejado, pois a pressão resultante de sua
ocorrência tende a gerar a sensação de um impacto contundente contra o
corpo, o que pode ajudar no aspecto psicológico da incapacitação. Entretanto,
se uma pessoa está suficientemente determinada, em estado de fúria ou
drogada, ela pode simplesmente ignorar os aspectos psicológicos da
incapacitação.

7.3 INCAPACITAÇÃO IMEDIATA OU INSTANTÂNEA


A única garantia de incapacitação imediata é a interrupção das
transmissões nervosas do cérebro para o resto do corpo (destruição do bulbo
raquidiano/medula oblonga), o que pode ocorrer, como já referido, com a
afetação imediata do sistema nervoso central ou pela perda excessiva de
sangue.
O Bulbo está relacionado com funções vitais como a respiração, os
batimentos cardíacos e a pressão arterial, além de alguns tipos de reflexos
como mastigação, movimentos peristálticos (movimentos involuntários que
ocorrem ao longo do trato digestivo), piscar de olhos e vômito. Uma pancada
nesta área ou a sua compressão por parte do cerebelo pode causar morte
instantânea.
7.5 CAVIDADE TEMPORÁRIA E CAVIDADE PERMANENTE
Um projétil danifica os tecidos à medida que penetra num alvo vivo,
criando o que se chama de cavidade permanente. A dispersão da energia do
projétil no momento do impacto contra o alvo e durante sua penetração faz com
que os tecidos próximos expandam e estiquem, podendo, algumas vezes,
aumentar as lesões causadas pela cavidade permanente, num efeito
denominado cavidade temporária, que caracteristicamente apresenta um
diâmetro muitas vezes maior que a lesão permanente, apesar de efêmero. O
volume da cavidade temporária produzida está diretamente ligado à massa,
velocidade, diâmetro, material e propriedades expansivas (desenho) do projétil,
na medida em que, neste caso, o projétil não corta o tecido vivo, mas sim,
comprime-o e o afasta, abrindo passagem.

Um projétil ogival não deformável tende a produzir uma cavidade


permanente longa e estreita, na medida em que os tecidos são deslocados e
fluem ao redor do projétil, em razão da manutenção de seu formato
aerodinâmico, causando pouco corte ou lesão efetiva de tecidos. A cavidade
temporária será grande no volume em função do comprimento de sua
penetração, posto que o afastamento dos tecidos ocorre durante todo
deslocamento do projétil no interior do alvo, sendo este afastamento maior
quanto maior a velocidade de deslocamento do projétil no interior do alvo, à
medida em que esta maior velocidade lança os tecidos para os lados (afasta-os
de sua trajetória) com maior energia. Já um projétil de ponta oca tende a
produzir uma cavidade permanente maior, posto que a expansão deste projétil
resulta no aumento de seu diâmetro e, por conseqüência, na sua maior
superfície frontal de contato, gerando uma lesão permanente mais larga, um
corte de tecidos maior. Sua cavidade temporária tende a ser mais larga e curta,
dado o efeito de frenagem (efeito páraquedas) do projétil ao se expandir no
interior do corpo, descarregando toda sua energia de uma vez, de forma
abrupta e por uma curta extensão, no interior do alvo.

As cavidades permanente e temporária apresentam efeitos biológicos


diversos nos alvos vivos, sendo estes tão variáveis quanto as inúmeras
variações na constituição orgânica de cada indivíduo. Alguns efeitos da
cavidade permanente são óbvios: um acerto direto no cérebro tende a provocar
a inconsciência imediata, a falência do órgão e a morte; um impacto contra a
coluna vertebral que lesione a medula espinhal tende a cessar a comunicação
do cérebro com as extremidades, imobilizando o indivíduo imediatamente. Se
este impacto for alto, na região do pescoço ou na porção alta do tórax, o
resultado geralmente é a morte, em razão da perda de comunicação com o
coração e os pulmões; um disparo no coração causa a perda da eficiência no
bombeamento e perda de sangue, até a falência do órgão; já um disparo no
pulmão reduz a eficácia da oxigenação do sangue, perda de sangue e pode
levar à falência do órgão. Disparos nas extremidades tendem a lesionar
músculos e quebrar ossos, tendo como resultado direto a dor e a perda de
mobilidade, mas normalmente não são letais, a menos que um grande vaso
seja rompido, como, por exemplo, a artéria femural.

Já os resultados práticos da cavidade temporária são menos


compreendidos, à medida que sua ocorrência, como dito, é efêmera, e não
existe meio similar ao corpo humano para simulação em laboratório dos seus
efeitos. Atualmente se usa gelatina balística para o estudo da cavidade
temporária no aspecto do seu tamanho e da sua profundidade. Testes em
laboratório demonstraram que uma gelatina adequadamente preparada e
calibrada (10% de gelatina a 4ºC) reage ao impacto de projéteis de maneira
muito similar àquela observada nos tecidos musculares de suínos
anestesiados, nos dois principais aspectos observados: a profundidade máxima
da penetração e o tamanho da cavidade produzida. Estes testes produzem
ótimos efeitos visuais, porém a ausência de ossos, cartilagens, vasos e
variação de densidade do meio tornam estas observações desconexas da
realidade. Além do mais, a maior parte dos tecidos humanos, à exceção dos
ossos e do fígado, são mais elásticos do que a gelatina balística e, em assim
sendo, os efeitos biológicos da cavidade temporária nestes tecidos se
aproximam mais de um hematoma. Já no quesito penetração, a gelatina
balística não leva em consideração a resistência da pele, posto que simula
somente a massa muscular, e só a pele humana do torso é capaz de resistir de
maneira equivalente a até 50mm de penetração em gelatina balística. Na
calibração correta, um bloco de gelatina balística sofre uma penetração de
85mm quando atingida por um projétil de arma de pressão de 4,5mm disparado
a 180m/s. Uma gelatina balística mal calibrada pode apresentar variações de
até 50%, para mais ou para menos, no quesito penetração.

Existem teorias que feixes nervosos podem ser lesionados pela


cavidade temporária, criando um atordoamento, mas isto não foi
cientificamente comprovado. Uma exceção é quando a cavidade temporária
afeta a medula espinhal: há um caso documentado, no famoso tiroteio do FBI
em Miami, em que o Agente Gordon McNeill foi atingido no pescoço por um
projétil .223 Remington ogival e jaquetado de alta velocidade que, apesar de
não causar ferimentos letais, passou próximo da coluna cervical o suficiente
para que sua cavidade temporária causasse um dano transitório na medula
espinhal que o deixou atordoado e paralisado por várias horas.

Projéteis de altíssima potência, como por exemplo o .50 BMG, podem


gerar energia para criar uma cavidade temporária com pressão o suficiente
para romper e rasgar os tecidos. Os tecidos humanos resistem em geral a
pressões de 1 a 4MPA, o que é muito acima da pressão gerada pelas
cavidades temporárias produzidas por armas leves comuns, como revólveres,
pistolas e fuzis de assalto.

Projéteis de fuzis de assalto que atingem um osso descarregam toda


sua energia nos tecidos ao redor, fazendo com que este passe a ter uma
consistência gelatinosa em razão da destruição da estrutura celular dos tecidos
ao redor. A fragmentação do projétil de alta velocidade de um fuzil também
aumenta significativamente os danos produzidos pela cavidade temporária à
medida que eles produzem pequenas cavidades permanentes radiais ao canal
principal da penetração, que são esticadas e rasgadas pelo efeito expansivo e
elástico da cavidade temporária.

7.6 OS PROJÉTEIS E O PODER DE INCAPACITAÇÃO


Os projéteis são desenhados para ter vários efeitos sobre o alvo,
podendo impactar sem penetrar, penetrar e parar, penetrar e transfixar,
penetrar e expandir, penetrar e capotar, penetrar e fragmentar, capotar no
contato, fragmentar no contato, etc. Cada comportamento deste visa um tipo
específico de alvo e gerará um efeito diverso neste alvo em particular. O maior
ou menor poder de parada vai variar da mesma forma.

De acordo com o o Dr. Martin Flackler, da Associação Internacional de


Balística Terminal (IWBA), são necessários de 318 mm a 356 mm (12,5 a 14
polegadas) de penetração em gelatina balística calibrada para garantir um
desempenho adequado de um projétil de arma de fogo quando empregado
contra seres humanos. Os estudos do FBI apontam para a necessidade de
uma penetração de 305 mm a 457 mm (12 a 18 polegadas). Esta penetração é
necessária para que o projétil tenha chances de atingir um órgão vital
altamente irrigado ou as estruturas do sistema nervoso central (SNC)
independentemente do ângulo do disparo ou de alvos intermediários, ao
mesmo tempo em que retém energia para produzir um orifício e um dano nos
tecidos de proporções consideráveis, sendo um exemplo disso a situação
comum representada pela necessidade de transfixar um braço estendido antes
de atingir e penetrar no tórax.

Os estudos desta entidade indicam que o fator mais importante para a


incapacitação do alvo é o local do impacto, ou seja, a precisão de tiro, mas
também mostram que a penetração é um dos fatores mais importantes na
escolha de um projétil de uso defensivo. Se o projétil penetra menos do que o
necessário, é considerado inadequado, na medida em que pode não atingir as
estruturas necessárias à incapacitação. Se ele penetra mais do que o
necessário é considerado satisfatório, apesar de não ideal.

Os níveis de penetração mencionados podem parecer excessivos, mas


o projétil perde velocidade, produz um orifício menor e danifica menos tecido
conforme vai penetrando mais profundamente. A perda de velocidade resulta
em danos muito menores aos tecidos nos últimos 50 mm a 70 mm da
penetração, similares ao de um ferimento por adaga, o que nos deixa com
cerca de 250 mm a 300 mm de penetração com lesões significantivas. A
elasticidade da pele também é suficiente para manter o projétil dentro do corpo,
mesmo que este ainda esteja se deslocando a alta velocidade. É necessária
uma velocidade de 76 m/s para que um projétil de ponta oca que tenha se
expandido dentro dos tecidos tenha 50% de chances de sucesso em perfurar a
pele e escapar do corpo.

Os projéteis frangíveis, que são anunciados com extremamente


eficientes na incapacitação de agressores não atingem estes índices de
penetração, posto que a maioria não penetra mais que 250 mm na gelatina
balística calibrada, falhando totalmente se atingem uma estrutura intermediária,
como uma mão ou um braço, antes do alvo principal.

Como dito, os projéteis de ponta oca normalmente expandem quando


entrando no alvo em sua velocidade máxima. Alguns destes projéteis podem
não expandir se atingirem antes chapas de metal, vidro ou roupas pesadas,
visto que estes obstáculos intermediários, além de reduzirem sua velocidade,
podem preencher sua cavidade frontal com material ou até mesmo deformar e
fechar tal abertura, impedindo a ocorrência da pressão hidráulica suficiente
para realizar a abertura da ponta oca e sua conseqüente
expansão/deformação. Para evitar este tipo de problema, alguns projéteis
modernos possuem um preenchimento de polímero macio em sua cavidade
frontal, de modo a evitar que esta cavidade fique cheia de material menos
flexível que impeça a expansão.

7.7 LESÕES POR PROJÉTEIS DE ALTA VELOCIDADE


As lesões por projéteis de alta velocidade normalmente são de extrema
gravidade devido à soma dos efeitos da ação direta (cavidade permanente) e
da ação indireta do projétil (cavidade temporária). Além disso, pode ocorrer o
rompimento de grandes vasos sanguíneos, destruição de órgãos internos,
perda de grandes quantidades de tecidos, fratura em ossos, entre outros. Já as
lesões na cabeça são ainda mais graves, principalmente devido à característica
do crânio humano, que é fechado e com grande resistência a ruptura.

Lesões viscerais (fígado).

Lesões viscerais
(rim).

Lesões viscerais
(coração).

Lesões
viscerais
(rim).

Lesões viscerais (pulmão).

Lesões ósseas (fêmur).


Lesões ósseas (cabeça).

A teoria da transferência de energia diz que quanto mais energia for


transferida ao alvo, maior o potencial destrutivo. A intenção seria transferir
energia transportada pelo projétil (massa vezes velocidade ao quadrado) ao
alvo, através do impacto.

Neste caso, a transfixação do alvo não é desejável, na medida em que


há desperdício, posto que o projétil ainda carregaria consigo energia, em
função de sua massa e velocidade, ao deixar o corpo do alvo. E de acordo
com esta corrente de pensamento, a transferência de energia está ligada ao
potencial destrutivo. Ocorre que isto é controverso, na medida em que está
provado que o ponto de impacto e o tamanho e extensão da cavidade
permanente, e por conseguinte a extensão dos danos provocados nos tecidos,
é que são os fatores determinantes no poder de parada. Por outro lado, a força
exercida pelo projétil no tecido relaciona-se com a taxa de desaceleração do
projétil no curso de sua penetração, bem como com a onda de choque
produzida pela cavidade temporária, o que, a certo modo, pode vir a influir no
poder de parada.
A teoria do choque hidrostático reza que os efeitos lesivos no alvo
são resultado da onda de choque atravessando os tecidos do alvo. Argumenta-
se que esta onda pode ser observada em filmes de alta velocidade, quando
projéteis supersônicos atravessam vários tipos de mídia, indo desde gelatina
balística até frutas e blocos de carne, destruindo-os em sua passagem. Fala-se
também que projéteis supersônicos que atingem o tórax do alvo humano
podem causar danos no cérebro em função do deslocamento destas ondas no
meio predominantemente aquoso do corpo humano.

A teoria do knockback ou empurrão trata da possibilidade de um


projétil com diâmetro, massa e velocidade suficientes despejar todo seu
momentum ou energia cinética no agressor de modo a fazer com que a força
resultante sobre o alvo seja suficiente para desestabilizá-lo, lançando o para
trás ou ao solo. É uma idéia mais propagada por filmes de ação, em que armas
de calibres considerados poderosos, tais como o .44 Magnum, o .357 Magnum
e o .45 ACP, seriam capazes desta façanha, mas tudo não passa de mito. O
momentum de uma munição .45 ACP, por exemplo, equivale à queda de uma
massa de 500 gramas de uma altura de 3 metros, o que é uma força
insuficiente para lançar para trás ou derrubar qualquer ser humano normal. No
mais, os projéteis são desenhados para um efeito perfuro contundente sobre o
alvo, onde sua energia é efetivamente gasta, ao invés de simplesmente
contundir o alvo. Um projétil que contivesse energia o suficiente para derrubar
um ser humano iria, na realidade, simplesmente transfixá-lo, levando embora
boa parte desta energia, pelo simples fato de os projéteis defensivos serem
desenhados para isso: penetrar no alvo.

O efeito knockback ou de empurrão normalmente visto em trocas de


tiro reais está mais ligado aos aspectos fisiológicos e psicológicos do que aos
aspectos físicos em si. Os seres humanos, quando atingidos por um objeto
contundente, tendem a absorver o impacto movendo-se na mesma direção do
corpo impactante. Isto somado ao aspecto psicossocial incutido na mente
humana que leva esta a afastar o corpo de situações agressivas, resultam no
fenômeno às vezes observado.
A teoria do tiro único, propagada por Evan P. Marshall é baseada na
análise estatística de múltiplos casos, muitos deles envolvendo policiais, e
objetiva criar um parâmetro de comparação de eficácia de diversas munições,
que são catalogadas de acordo com fabricante, tipo, peso e carga, em cada
calibre estudado, as quais são correlacionadas com o índice percentual de
eficácia em que estas promoveram a parada do indivíduo com um único
disparo. Assim, uma munição específica que foi usada em dez confrontos e
parou o agressor com um único disparo em oito destas situações teria uma
eficácia de 80%.

Argumenta-se que os critérios adotados não são suficientes para tal


determinação. Tome-se como exemplo o caso das munições 9 mm de ponta
oca expansiva, as quais apresentam as mais altas taxas de efetividade na
tabela Marshall: as situações nas quais os incidentes ocorreram devem ser
considerados, pois à época em que o levantamento de dados foi feito o calibre
9 mm era o mais utilizado pelas forças policiais dos EUA, então muitos destes
eventos de parada com um único disparo estariam mais relacionados ao
impacto preciso dos disparos em estruturas vitais, promovidos por policiais com
treinamento de tiro adequado do que a eficácia da munição em si. É justamente
o fato deste banco de dados não informar se o atirador era um policial, um
cidadão em situação de defesa ou um criminoso, ou então de não determinar o
local preciso do impacto do projétil, que tornam seus dados apenas
parcialmente úteis, pois a informação genérica de impacto no torso não é
suficiente para se determinar se houve ou não contribuição da precisão de tiro
na determinação do poder de parada.

A teoria do buraco grande (big hole school) diz que quanto maior o
orifício deixado no alvo, maior o grau do sangramento e, por consequência,
maior o poder de parada. Ela se fixa na cavidade permanente, afirmando que
um projétil maior danifica permanentemente mais tecidos em sua passagem. É
um ponto válido, mas a penetração também o é: um projétil grande, pesado,
lento e expansível, que não penetra o suficiente para atingir um órgão vital
altamente irrigado, um vaso importante ou partes do SNC, terá menos eficácia
que um projétil pequeno, leve, rápido e expansível, que penetra fundo o
suficiente para atingir estes alvos, causando mais hemorragia ou maior lesão
ao SNC, apesar do menor orifício produzido.

7.8 TABELA DE CRONOMETRAGEM DE MUNIÇÕES


UTILIZADAS PELO DPF
Cano V média
Arma Projétil Peso (grains) Energia (J)
(pol.) (m/s)
Revólver Taurus 4 CHOG 158 207 220
Revólver Taurus 4 ETPP+P 125 322 419
.38

Revólver Taurus 6 CHOG 158 227 264


Revólver Taurus 6 ETPP+P 125 345 482
.357

Revólver Taurus 4 EXPP 158 374 717


Revólver Taurus 6 EXPP 158 389 775
Glock G26 3,43 Treina 124 328 431
Glock G26 3,43 ETOG 115 326 396
Glock G26 3,43 CXPO Cooper 92,6 416 519
Glock G26 3,43 EXPO Gold+P+ 115 375 524
Glock G26 3,43 ETPP Sub 147 287 392
Glock G19 4,02 Treina 124 334 448
Glock G19 4,02 ETOG 115 329 404
Glock G19 4,02 CXPO Cooper 92,6 431 557
Glock G19 4,02 EXPO Gold+P+ 115 379 535
Glock G19 4,02 ETPP Sub 147 287 392
Glock G17 4,49 Treina 124 345 480
Glock G17 4,49 ETOG 115 339 429
Glock G17 4,49 CXPO Cooper 92,6 442 587
Glock G17 4,49 EXPO Gold+P+ 115 386 555
Glock G17 4,49 ETPP Sub 147 298 424
9mm

HK MP5 Antiga 8,85 Treina 124 350 493


HK MP5 Antiga 8,85 ETOG 115 348 452
HK MP5 Antiga 8,85 CXPO Cooper 92,6 445 594
HK MP5 Antiga 8,85 EXPO Gold+P+ 115 394 578
HK MP5 Antiga 8,85 ETPP Sub 147 301 431
HK MP5 Nova 8,85 Treina 124 377 572
HK MP5 Nova 8,85 ETOG 115 367 501
HK MP5 Nova 8,85 CXPO Cooper 92,6 493 729
HK MP5 Nova 8,85 EXPO Gold+P+ 115 427 678
HK MP5 Nova 8,85 ETPP Sub 147 313 467
HK MP5 SD 5,74 Treina 124 282 319
HK MP5 SD 5,74 ETOG 115 264 260
HK MP5 SD 5,74 CXPO Cooper 92,6 381 435
HK MP5 SD 5,74 EXPO Gold+P+ 115 322 385
HK MP5 SD 5,74 ETPP Sub 147 228 248
HK G36 CV 8,97 M193 55 783 1093
5,56mm

HK G36 CV 8,97 Traçante 52 753 956


HK G36 CV 8,97 SS109 62 737 1092
HK G36 CV 8,97 PSP 55 700 873
HK G36 KV 12,51 M193 55 870 1348
HK G36 KV 12,51 Traçante 52 834 1172
HK G36 KV 12,51 SS109 62 832 1391
HK G36 KV 12,51 PSP 55 794 1124
Colt M16 Carbine 14,5 PSP 55 835 1242
Colt M16 Carbine 14,5 SS109 62 865 1503
Colt M16 Hbar 20 M193 55 984 1726
Colt M16 Hbar 20 Traçante 52 948 1515
Colt M16 Hbar 20 SS109 62 939 1771
Colt M16 Hbar 20 PSP 55 914 1490
HK 417 16 Lapua Scenar 167 758 3112
7,62mm

HK 417 20 Lapua Scenar 167 800 3520


HK 417 20 Comum 144 820 3135
HK PSG1 25,59 Comum 144 851 2280

7.9 CONCLUSÃO
Os últimos 25 anos de estudo de balística terminal têm demonstrado
novamente o que a história já indicava: existem somente duas formas de
incapacitação, uma baseada em fatores psicológicos e outra em razão de
danos fisiológicos. Algumas pessoas são rapidamente incapacitadas
psicologicamente por ferimentos de pequena monta, que não são capazes de
incapacitá-los fisiologicamente a curto prazo. Ao mesmo tempo, fatores
psicológicos são responsáveis por manter pessoas gravemente feridas, até
mesmo com ferimentos altamente letais, combatendo com ferocidade, ainda
que por um curto intervalo de tempo.

Cerca de metade dos indivíduos que são rapidamente incapacitados


por ferimentos de armas de fogo o são em razão de fatores mais ligados ao
aspecto psicológico do que ao fisiológico, sendo que este tipo de incapacitação
é extremamente aleatório, altamente variável e totalmente imprevisível,
independente de quaisquer características da arma, calibre ou projétil
empregados.

Já o grau e a velocidade em que ocorre a incapacitação fisiológica são


determinados pelas estruturas anatômicas atingidas pelo projétil, bem como
pela severidade e extensão das lesões causadas por este. Fisiologicamente, a
incapacitação imediata ou a morte só ocorrem quando o cérebro ou a parte
superior da medula espinhal são severamente lesionados ou destruídos. Na
ausência de lesões diretas ao SNC, a única forma eficaz e confiável para se
obter a incapacitação fisiológica é por meio do colapso do sistema circulatório
em função de sérias e extensas lesões aos órgãos vitais e vasos sanguíneos
existentes no torso humano, ou seja, se o SNC permanece intacto, a
incapacitação fisiológica é postergada até que a perda de sangue ocorra num
grau tal que torne a oxigenação do cérebro insuficiente.

Para que isto ocorra de maneira rápida, podem ser necessários


múltiplos disparos e, ainda assim, estando o SNC intacto, o indivíduo pode
continuar com ações conscientes por um grande intervalo de tempo, mesmo
tendo recebido ferimentos altamente letais. Conforme um trabalho do Dr. Ken
Newgard, também da IWBA:

“Um homem de 70 kg tem uma taxa de bombeamento sanguíneo de


5,5 litros por minuto, sendo o volume de sangue em seu corpo de
aproximadamente 4.200 cc. Assumindo que esta taxa de bombeamento pode
dobrar sob estresse, chegaremos a um fluxo sanguíneo na aorta de 11 litros
por minuto. Se este indivíduo tiver sua porção torácica da aorta completamente
seccionada por um projétil, serão necessários 4,6 segundos para que ele perca
20% de seu volume sanguíneo total, contando-se somente com uma lesão
eficaz”.

Um indivíduo minimamente treinado consegue efetuar dois disparos


por segundo, assim, em 4,6 segundos o agressor pode facilmente retornar 9
disparos antes de ser neutralizado. Note-se que esta análise não leva em
consideração o oxigênio contido no sangue já permeando o cérebro, que vai
mantê-lo ativo por um período ainda maior”

Os policiais são treinados para disparar contra o centro de massa do


alvo, isto é, o tórax. A incapacitação fisiológica decorrente deste tipo de tiro
normalmente é resultado direto do colapso do sistema circulatório, então uma
incapacitação mais rápida só ocorrerá com maior lesão aos tecidos da região
alvo.
Os tecidos são lesionados de duas formas: aquele no caminho do
projétil é permanentemente comprometido, ao passo que o tecido ao redor
deste trajeto é distendido. Assim, um ferimento penetrante por projétil de arma
de fogo resulta na destruição de todo o tecido que se encontra no trajeto desta
penetração, sendo este espaço denominado cavidade permanente, que é nada
mais do que o buraco permanentemente deixado no alvo, sendo esta uma
ocorrência constante e certa.

O tecido que circunda a cavidade permanente é rapidamente afastado


do eixo de passagem do projétil num padrão radial, distendendo-se
abruptamente, sendo este espaço momentaneamente criado chamado de
cavidade temporária. Esta cavidade rapidamente se fecha, em razão da
elasticidade dos tecidos, permanecendo somente o canal originalmente criado
pela destruição dos tecidos que se encontravam diretamente à frente da
trajetória do projétil. Dependendo do grau de distensão a que o tecido foi
submetido, este pode sofrer lesões que, na maior parte dos casos, se
assemelham a lesões contundentes. A severidade destas lesões depende das
características anatômicas e fisiológicas do alvo. Estruturas flexíveis como
músculos, vísceras, vasos e órgãos ocos absorvem facilmente energia e são
bastante resistentes ao trauma e à contusão causados pela cavidade
temporária. Já órgãos sem elasticidade como fígado, rins, baço, pâncreas e
cérebro, bem como órgãos completamente cheios de líquido ou gás, como por
exemplo a bexiga, são altamente suscetíveis a lesões lascerativas causadas
pela cavidade temporária.

A contribuição relativa da cavidade permanente e da cavidade


temporária para a produção da lesão depende das características físicas do
projétil (peso, tamanho e desenho), a velocidade de deslocamento deste, a
penetração obtida e o tipo de tecido com o qual este interage. De forma diversa
aos fuzis, os projéteis típicos de armas curtas, independentemente de serem
disparados de revólveres, pistolas ou submetralhadoras, somente provocam
lesões consideráveis através do mecanismo da cavidade permanente, posto
que as lesões geradas pela cavidade temporária são, quando chegam a
ocorrem, são praticamente insignificantes.
Os projéteis, para terem desempenho satisfatório contra agressores
humanos, devem penetrar pelo menos de 250 a 300 mm de tecido, de modo a
atingir estruturas vitais independentemente do ângulo de disparo, de camadas
espessas de gordura, de músculos hipertrofiados ou de barreiras intermediárias
feitas por outras estruturas, tais como mãos e braços.

Os tecidos são um meio mais denso do que o ar, assim, quando um


projétil longo e em deslocamento de alta velocidade atinge os tecidos, o arrasto
proporcionado por este meio supera a giroestabilização deste projétil, fazendo
com que ele capote. Conforme o projétil capota, a superfície frontal de contato
é muito aumentada, destruindo muito mais tecidos e criando uma cavidade
permanente muito maior. A cavidade temporária, consequentemente, também
é significativamente aumentada, em razão do maior deslocamento de material,
sendo o ápice dos danos causados quando o ângulo de capotamento atinge
90º, apresentando a maior superfície do projétil (seu perfil lateral) como frente
rompedora de tecidos. Assim os projéteis de fuzis, longos e de maior calibre,
apresentam perfis laterais aptos a criar grandes lesões no alvo.

Já os projéteis aerodinâmicos e de menor velocidade típicos das armas


curtas tendem a manter uma trajetória retilínea durante sua penetração, daí a
necessidade de aumentar a superfície frontal de contato através da
deformação programada do projétil, como é o caso daqueles expansíveis de
ponta oca, para que mais tecido seja destruído durante sua penetração no alvo.

A fragmentação do projétil nos tecidos também pode aumentar


significativamente a cavidade permanente produzida. Quando um projétil de
fuzil fragmenta no interior do alvo, estes fragmentos são lançados num padrão
radial, ao redor da cavidade permanente principal, causando pequenas
cavidades permanentes secundárias, as quais atuam em sinergia com a
cavidade temporária para criar extensas lesões lascerativas, posto que estas
cavidades temporárias secundárias acabam com as propriedades elásticas dos
tecidos, fazendo com que estes se rasguem aos serem distendidos. Vale
lembrar que isto só é observável em projéteis disparados por fuzis: munições
de armas curtas, ainda que disparadas de submetralhadoras, não apresentam
a combinação de velocidade, penetração e fragmentação necessárias para se
obter resultado semelhante. Se as munições de armas curtas fragmentam,
seus pedaços são normalmente encontrados nos primeiros centímetros da
cavidade permanente, tornando o ferimento insuficiente para produzir o efito de
parada desejado.

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