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RESENHAS RE VIEWS

Medicalização em psiquiatria. Fernando Freitas porcionam um contexto filosófico amplo para se


e Paulo Amarante. Rio de Janeiro: Editora entender o que a psiquiatria biológica moderna
Fiocruz, 2015, 148 p. tem feito. Escrevem sobre a ‘medicalização’ da
vida moderna e as consequências que ela tem
Robert Whitaker para nós como indivíduos. É um fenômeno que
Jornalista especializado em Medicina e Ciência, presidente surgiu no período pós-Segunda Guerra Mundial;
da Mad in America Foundation, Cambridge, MA, EUA e enquanto avanços médicos – como o descobri-
<rwhitaker@madinamerica.com>
mento de antibióticos – ajudaram a pôr controle
http://dx.doi.org/10.1590/1981-7746-sol00050 sobre muitas doenças, o crescimento da indús-
tria médica encorajou o cidadão moderno a ver
a si próprio através das lentes médicas de ‘o que
Uma leitura crítica da medicalização em há de errado comigo’. Isso é particularmente
psiquiatria1 verdadeiro na psiquiatria.
Dessa forma, Freitas e Amarante lembram aos
A psiquiatria moderna tem nos proporcionado leitores o que está em jogo. Medicalização pode
uma nova forma de pensar sobre nós mesmos, e se tornar um meio de controle social, com o in-
nesse curto e fascinante livro, Medicalização em divíduo encorajado a adotar o ‘papel de doente’,
psiquiatria, Fernando Freitas e Paulo Amarante o que leva à perda da autonomia individual.
apresentam um conjunto de evidências e argu- Nós somos encorajados a pensar que é ‘anor-
mentos da percepção empobrecida feita sobre mal’ sofrer, ou experimentar dor em nossas vi-
nós humanos. Os dois autores também detalham das, quando, claro é que, como qualquer busca
como o atual paradigma de cuidado da psiquia- na literatura irá nos lembrar, o sofrimento é
tria é construído sobre ‘ficções’. O livro é con- inerente ao ser humano.
cluído com um olhar sobre terapias alternativas No que diz respeito à medicalização de nos-
promissoras e, como tal, advoga fortemente a sas vidas emocionais, ela tem sido alimentada
necessidade de se repensar os fundamentos do por uma ‘aliança profana’ que foi formada –
cuidado psiquiátrico. como os autores apontam – entre a psiquiatria
Se o livro Medicalização em psiquiatria pode acadêmica e a indústria farmacêutica nos Esta-
ser descrito como uma nova adição à crescente dos Unidos na década de 1980. As empresas far-
biblioteca internacional de livros de ‘psiquia- macêuticas passaram a contratar psiquiatras de
tria crítica’, é notável que, nesse âmbito, ambos escolas médicas prestigiadas daquele país para
os autores têm posições de liderança dentro do servirem como seus consultores, conselheiros e
establishment em Saúde Mental. porta-vozes. Tal aliança passou a contar ao pú-
Paulo Amarante, psiquiatra, é reconhecido blico uma narrativa sobre grandes avanços cien-
por décadas de trabalho e de luta pela reforma tíficos. Pesquisadores haviam descoberto que os
da atenção psiquiátrica no Brasil. No final da transtornos mentais eram ‘doenças cerebrais’
década de 1980, após ter estudado com Franco causadas por ‘desequilíbrios químicos’ no cére-
Basaglia e outros psiquiatras italianos que de- bro, e que poderiam ser então corrigidas por uma
senvolveram o cuidado comunitário em seu país nova geração de drogas psiquiátricas. Com a di-
de origem, Amarante militou e colaborou na reda- fusão dessa narrativa para o público, o consumo
ção da legislação de saúde mental que tem levado de drogas psiquiátricas nos Estados Unidos ex-
à desinstitucionalização no Brasil. Hoje, ele é o plodiu, e, rapidamente, essa ‘aliança profana’
presidente de honra da Associação Brasileira de conseguiu exportá-la para o Brasil e outros paí-
Saúde Mental (Abrasme), e professor e pesquisa- ses desenvolvidos em todo o mundo.
dor da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Freitas e Amarante proporcionam uma des-
Arouca, unidade científica da Fundação Oswaldo construção sucinta dessa narrativa, começando
Cruz (Ensp/Fiocruz), instituição vinculada ao com a crise existencial que por fim levou a Asso-
Ministério da Saúde. Fernando Freitas, psicólogo, ciação Americana de Psiquiatria (APA, na sigla
é ex-diretor da Abrasme e, como Amarante, é em inglês) a adotar sua narrativa de ‘modelo
professor e pesquisador da Ensp/Fiocruz. baseado na doença’. Nos Estados Unidos, assim
A beleza do livro começa a se tornar evi- como igualmente se passava em muitos outros
dente no primeiro capítulo, onde ambos pro- países, os psiquiatras nos anos 1960 geralmente

Trab. Educ. Saúde, Rio de Janeiro, v. 15 n.1, p. 321-322, jan./abr. 2017


Resenhas

não eram vistos como ‘médicos de verdade’. En- mente explicam, fazem o seu ‘cérebro funcionar
tão, no início dos anos 1970, o psicólogo David anormalmente’.
Rosenhan, da Universidade de Standford, pu- Dessa forma, Freitas e Amarante descons-
blicou um estudo que publicamente humilhou troem o ‘mito’ da psiquiatria moderna passo a
a profissão. passo. Em seguida, revisam a literatura de resul-
Rosenhan e outros sete voluntários ‘normais’ tados sobre antipsicóticos e antidepressivos. Essa
se apresentaram em hospitais psiquiátricos, afir- sessão talvez pareça particularmente surpreen-
mando que ouviam uma voz que dizia ‘vazio’ dente para leitores leigos. Um olhar atento à pes-
ou alguma outra palavra simples. Todos foram quisa revela que as drogas não proporcionam
admitidos e diagnosticados como ‘esquizofrê- particularmente um benefício maior em relação
nicos’, e ainda que eles se comportassem nor- ao placebo, nem mesmo em curto prazo, e que,
malmente dentro do hospital, nenhum membro a longo prazo, pacientes sem medicação – e isso
da equipe hospitalar – incluindo psiquiatras – é verdade até para aqueles diagnosticados com
identificou-os como impostores. Em contraste, esquizofrenia – têm melhores resultados.
os outros pacientes no hospital os reconheceram. Então, o que há para ser feito? Se o Brasil e
Os ‘loucos’ no hospital manifestaram muito mais outras sociedades têm organizado o seu cuidado
discernimento que os profissionais. em torno de uma falsa narrativa, quais novos
Essa humilhação – e outros desafios sociais caminhos podem ser achados para ajudar aque-
para a sua legitimidade – forçou a APA a refazer o les que sofrem com suas mentes? No seu capítulo
seu Manual Diagnóstico e Estatístico de Trans- de encerramento, Freitas e Amarante descrevem
tornos Mentais (Diagnostic and Statistical Ma- um caminho à frente. Eles discutem vários pro-
nual of Mental Disorders, DSM). A corporação gramas terapêuticos, no passado e no presente,
profissional precisava apresentar os psiquiatras que têm focado em proporcionar um cuidado
ao público como ‘médicos de verdade’, e, em psicossocial e fazendo uso limitado – ou não –
1980, foi publicado o DSM III, que passou a ser de medicações, que têm provado ser bastante
propagandeado como um grande avanço cien- bem-sucedidos. Em particular, falam da aborda-
tífico, por passar a ser um manual de ‘doenças’ gem do ‘Diálogo aberto’ (Open dialogue) empre-
e de ‘transtornos’ reais que poderiam ser con- gada no norte da Finlândia, que tem produzido
fiavelmente diagnosticados. Mas, como Freitas notáveis resultados a longo prazo para as pes-
e Amarante escrevem, o DSM – que se tornou a soas diagnosticadas com transtornos psicóticos.
‘bíblia’ mundial da psiquiatria – não é baseado Em suma, os dois autores visam um novo para-
na ciência. Os diagnósticos são ‘constructos’ com digma de cuidados que possa ‘oferecer uma atenção
critérios de sintomas arbitrariamente definidos; psiquiátrica’ fora dos manicômios e que não crie
35 anos de pesquisa têm fracassado em validar pacientes crônicos. Em outras palavras, Freitas e
qualquer um dos transtornos mentais como Amarante visam um paradigma de cuidado que
doenças distintas. ajude as pessoas que lutam com as suas mentes
Com o DSM III em mãos, a psiquiatria ame- a verdadeiramente se recuperarem e poderem
ricana passou a nos persuadir a acreditar na levar as suas vidas da melhor forma possível.
noção de que depressão, ansiedade, psicose e
outros transtornos mentais são causados por
desequilíbrios químicos no cérebro. Essa narra-
tiva é a de que as doenças cerebrais podem ser
tratadas com sucesso por meio de medicamen-
tos. Mas, como os autores explicam, pode-se
considerar que a hipótese química tenha sido
derrubada em 1996, quando Stephen Hyman, à Nota
época diretor do Nacional Instituto de Saúde
Mental (NIMH) nos Estados Unidos, escreveu 1Tradução de Flávio Sagnori Mota e Nina Isabel
um artigo sobre como as drogas psiquiátricas Soalheiro, integrantes da equipe do Grupo de Pes-
‘perturbam’ a função normal do cérebro em vez quisa Desinstitucionalização, Políticas Públicas e
de corrigir um desequilíbrio químico. Remé- Cuidado da Escola Politécnica de Saúde Joaquim
dios psiquiátricos, conforme os autores correta- Venâncio, da Fundação Oswaldo Cruz (EPSJV/Fiocruz).

Trab. Educ. Saúde, Rio de Janeiro, v. 15 n.1, p. 321-322, jan./abr. 2017

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