Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
Zolá Pozzobon 1
O véu e a espada
As guerras através dos tempos
ZOLÁ POZZOBON
2003
EDITORA
ÁGORA DA ILHA
Arquivo Upado por MuriloBauer - FileWarez
2 O véu e a espada
Ficha catalográfica
A os estudiosos da História e da
Guerra, tão antiga esta quanto aquela;
A meus colegas militares, que par-
ticiparam de conflitos armados ou de-
dicaram suas vidas a estudá-los, a
fim de manter a pátria livre de suas
horríveis conseqüências;
Às vítimas de todas as guerras,
sejam militares nos campos de bata-
lha ou inocentes civis nas cidades e
vilas, para que a civilização humana
possa um dia, com a ajuda de Deus,
conter as ambições de poder e de
domínio de governantes de todos os
matizes políticos que têm levado a
humanidade, por motivos fúteis ou
tresloucados, a sacrificar milhões de
nossos semelhantes.
Arquivo Upado por MuriloBauer - FileWarez
Zolá Pozzobon 5
Apresentação
Índice
Os guerreiros ......................................................... 47
Belisário, o bizantino ...................................................................... 49
O flagelo de Deus .......................................................................... 53
Djebel al-Tarik (A Montanha de Tarik) ............................................ 55
O véu e a espada .......................................................................... 59
A grande cavalgada ....................................................................... 63
Avalanche turca ............................................................................. 65
Um só no céu, um só na terra! ....................................................... 73
Ivan, O Terrível .............................................................................. 75
Sonhos e pesadelos............................................... 77
Frederico e a artilharia montada .................................................... 79
Herói de muitas batalhas! .............................................................. 83
Conflito Norte X Sul ....................................................................... 87
Sonho de um império tropical......................................................... 91
Arquivo Upado por MuriloBauer - FileWarez
8 O véu e a espada
As guerras, seus
segredos e mistérios
O fenômeno Guerra abrange os conceitos de conflito, luta,
peleja, combate, batalha, agressão, ataque, defesa e outros
semelhantes.
Em seu sentido amplo, é um fenômeno social, uma vez que
atinge o homem e a sociedade, abalando-os, destruindo-os ou
transformando-os. Por desentendimento, inveja, ambição e ou-
tras manifestações, como defesa de interesses grupais ou mania
de grandeza coletiva, lançam-se os povos uns contra os outros,
cada qual a defender a “nobreza” de sua causa e a condenar a
“torpeza” dos adversários.
Muitas vezes, nacionalismo e patriotismo são invocados para
justificarem a agressão. Há muitas classificações de guerras: mun-
dial, localizada, civil, revolucionária, irregular, subversiva, psicológi-
ca, convencional, química, biológica, bacteriológica, nuclear etc.,
conforme as classificam os estudiosos do assunto.
Mas... quando começaram as guerras? Poderíamos responder:
desde que o homem, pela primeira vez, sacrificou seu semelhante.
Caim, primogênito de Adão e Eva, por inveja, matou seu irmão
Abel e foi amaldiçoado por Javé, que lhe impôs um sinal....
(Gênesis, 4, 8-16)
O autor.
Zolá Pozzobon 13
Davi e Golias
Zolá Pozzobon 15
A Palestina e o Sionismo
Os árabes
Oriente Médio
Oriente X Ocidente
O inevitável estado
da Palestina
Após 1948, tendo
sido os palestinos tan-
gidos da terra onde
habitavam havia sécu-
los – a Palestina – pela
ocupação judaica, pro-
curaram eles abrigo
nos países árabes vi-
zinhos, já assoberba-
dos com problemas de
subdesenvolvimento.
Grande parte dos pa-
lestinos que não se Premiê de Israel Shimon Peres com Yasser Arafat
conformou com a situ-
ação concentrou-se na Jordânia, constituindo ameaça à estabili-
dade da monarquia hachemita, do rei Hussein. Em setembro de
1970, (Setembro Negro, segundo os palestinos), o monarca lan-
çou seu exército contra os feddayyin. Embora impopular em todo
o mundo árabe, essa guerra consolidou o poder de Hussein.
A OLP (Organização para Libertação da Palestina) – Conven-
ceram-se os palestinos de que eles próprios deviam buscar “um
lugar ao sol” no Oriente Médio e escolheram o caminho do terro-
rismo, como meio de desestabilizar Israel. Surgiram vários grupos
de combatentes, enquadrados por elementos que já vinham
hostilizando os judeus através de operações militares não conven-
cionais. Entre tais grupos, destacou-se a OLP, sob o comando de
Yasser Arafat.
Os judeus decidiram atacar os numerosos acampamentos pa-
24 O véu e a espada
Grandes chefes
militares
Zolá Pozzobon 31
Alexandre da Macedônia
O desfiladeiro
das Termópilas
Na história da humanidade, houve guerras que se desenvolve-
ram não só por décadas, mas pelo espaço de um século, embo-
ra intermitentemente, como foi o caso dos confrontos entre gre-
gos e persas.
Aqueles eram descendentes de vários povos que habitavam o
território da atual Grécia, país balcânico, debruçado sobre o Me-
diterrâneo Oriental. Foram antepassados dos gregos os minóicos
e micenenses, vindos da Ásia ou do Oriente Médio, e que criaram
civilizações na ilha de Creta e em Micenas, no continente, entre
3.000 e 200 a. C.
Os persas originaram-se de tribos indo-iranianas, provenien-
tes da Transoxiana e do Cáucaso, as quais invadiram o planalto
iraniano, entre o mar Cáspio e o golfo Pérsico, no início do pri-
meiro milênio.
Dois soberanos persas – Cambises e Ciro – em apenas 30
anos criaram um império que se estendia do Vale do Indus ao Mar
Egeu e do Cáucaso à Arábia.
Cambises era rei da Média, que governou de 529 a 522 a. C..
Derrotou os egípcios e lutou para conquistar a Etiópia. Ciro foi
nome adotado por vários reis da Pérsia. Tratamos aqui, porém,
de Ciro II, O Grande, filho de Cambises, fundador do império
aquemênida, que derrubou Astíages (556 a. C.) e se assenhoreou
do império meda. Venceu Creso, rei da Lídia (parte oeste da atual
Turquia). Conquistou a Babilônia e tornou-se senhor de toda a
Ásia ocidental.
Após ser a Lídia dominada, os pequenos estados gregos da
costa da Ásia Menor submeteram-se aos persas. Esparta, po-
rém, o mais forte estado da Grécia continental, enviou veementes
36 O véu e a espada
preferindo a guerra.
Os romanos tinham um plano de atacar, ao mesmo tempo, a
Ibéria e a África, com dois exércitos, partindo das bases da Sicília.
Não deu certo, pois representava uma divisão de esforços. Aníbal
decidiu levar a guerra à Itália, conduzindo suas forças através da
Ibéria e da Gália, atravessou os imponentes obstáculos dos Pirineus
e dos Alpes e, depois de seis meses de penosas marchas, atingiu
o Vale do Rio Pó em 218, com 50 mil combatentes de infantaria,
nove mil cavalarianos e 37 elefantes. Nos embates que se segui-
ram, foi vitorioso em Tessino, contra o cônsul Cornelius Scipio (Cipião)
e, no ano seguinte, derrotou o cônsul Flaminius, às margens do lago
Trasimeno, na Umbria, onde os romanos perderam 15 mil homens.
Tal revés deixou Roma à mercê do inimigo, mas então Aníbal
cometeu o erro de hesitar, quando lhe bastava marchar para o sul
e apoderar-se da capital inimiga. Assim, tiveram os romanos tem-
po de lançar uma hábil guerra de usura contra os cartagineses.
Foi autor de tal estratégia Quintus Fabius Maximus, que granjeou
o apelido de Conctatur (contemporizador). Não obstante, em 2 de
agosto de 216, feriu-se a batalha de Cannae – a mais desastrosa
derrota sofrida pela república romana e também uma das mano-
bras clássicas estudadas na história militar: o cônsul Paulo Emílio
foi levado por Aníbal a lançar um ataque frontal, em terreno previ-
amente escolhido pelo cartaginês, que envolveu completamente
as forças romanas, as quais perderam 50 mil dos 80 mil comba-
tentes que possuíam. Mas, inexplicavelmente, Aníbal não realizou
o aproveitamento de tão grandioso êxito, com o que poderia ter
decidido em definitivo a disputa com Roma. Em vez disso, deixou-
se ficar em Capua.
O senado romano, então, retomou a direção da guerra,
reagrupando forças e recursos. Despachou para a Espanha tropas
comandadas por dois dos irmãos Cipião, os quais foram derrota-
dos por Asdrúbal Barca. Mas um terceiro chefe, Publius Cornelius,
tomou Cartagena e completou a conquista da Ibéria. Então, Asdrubal
Barca decidiu cruzar os Alpes e se juntar a Aníbal na Itália. Foi,
porém, derrotado em Metauro por Livius Salinator e Claudius Nero,
sendo decapitado. Marcelo investiu contra Siracusa, na Sicília, e
saqueou-a, não obstante terem sido empregados os engenhos de-
fensivos de Arquimedes, que morreu durante a pilhagem. Aníbal,
depois de perder Cápua, onde ficara em incompreensível atitude
de contemplação e de ter chegado às portas de Roma, viu-se obri-
gado a voltar à África, pois Cipião (O Africano) intimidava Cartago.
É de se admirar que os romanos, tendo ainda a ameaçá-los as
forças de Aníbal desdobradas na península e próximas de Roma,
42 O véu e a espada
Os guerreiros
Zolá Pozzobon 49
Belisário, o bizantino
O flagelo de Deus
o sul e sitiou Orléans, sendo esta cidade salva pelo exército roma-
no-godo, chefiado por Aécio e Teodorico. A seguir, travou-se a
batalha dos Campos Cataláunicos (Chalons-sur-Marne), embate
decisivo na história do Ocidente. Após um dia de luta insana, so-
frendo ambas as partes baixas proibitivas, foram os hunos derro-
tados. Átila retirou-se para a Panônia. Porém, não se deu por
vencido. Voltou-se para a Itália, onde tomou e destruiu Aquiléia,
principal cidade da Venetia, bem como Concórdia, Altinum e Patávia
(Pádua). Os sobreviventes destas localidades buscaram refúgio
nas lagunas do mar Adriático e assim fundaram Veneza. Continu-
ando sua trajetória de devastação, saqueou Milão e as cidades
da Lombardia ocidental.
Então, deu-se um fato que assinalou a história do Ocidente
europeu: o papa Leão I mandou a Átila uma embaixada e a seguir
foi encontrar-se com ele em Mântua. Não se sabe que conversa o
sumo pontífice passou no rei dos hunos, o caso é que este con-
sentiu em se retirar para o norte dos Alpes mediante o recebimen-
to de um tributo.
O famoso Flagelo de Deus morreu subitamente, em 453, na
noite seguinte a um banquete, em que comemorava seu casa-
mento com uma jovem chamada íldico.
Zolá Pozzobon 55
Djebel al-Tarik
(A Montanha de Tarik)
Gibraltar é uma colônia britânica encravada no território espa-
nhol e situada no extremo sul da península ibérica, diante do
estreito do mesmo nome que liga o mar Mediterrâneo ao oceano
Atlântico. Ali ergue-se uma praça forte, tomada pelos ingleses
em 1704 e que até hoje permanece em seu poder, apesar da
constante pressão do governo de Madri.
O território da colônia não passa de 6 km2, possui depósitos
fossilíferos, inclui o rochedo (The rock), o qual forma um pro-
montório de 425 metros. Esta área está ligada ao continente por
uma planície arenosa que mal atinge um metro acima do nível do
mar. Aí encontra-se o território neutro, entre o domínio britânico
e a cidade de La Línea (Espanha).
A palavra Gibraltar deriva do idioma árabe, Djebel al-Tarik e
significa Montanha de Tarik
Maomé (570 a 632 d. C.) fundou o Islamismo e motivou a
formação do império árabe, baseado no unidade da fé islâmica,
ou muçulmana, e conquistado através da “guerra santa” (Jihad):
“Os bravos caídos no campo de batalha são olhados no para-
íso como mártires”, diz o Al Corã, o livro sagrado islâmico).
Seu domínio haveria de se estender por 1800 léguas de litoral,
com grande rapidez, e abrangendo povos totalmente diferen-
tes. Fizeram parte desse imenso conglomerado o império
bizantino, o império sassânida da Pérsia, o reino gótico-cristão
da Espanha, a Síria, o Egito, o Turquestão, a Ásia Menor, a
Armênia, a África do Norte.
O exército egípcio, comandado por Musa, conquistou o Mar-
rocos em 710. No ano seguinte, seu lugar-tenente, Tarik Ibn Siyad,
atravessou o Estreito de Gibraltar, à frente de sete mil berberes
56 O véu e a espada
O véu e a espada
A grande cavalgada
Avalanche turca
Murad III era letrado, mas deixou-se dominar por seu harém
(sua mãe Nur-Banu e sua favorita, a sultana Bafá). Teve mais de
uma centena de filhos.
Um só no céu,
um só na terra!
Coxo de nascimento (1336), embora fosse turco, proclamou-
se descendente e continuador do mongol Gengis Khan. Cons-
truiu um império e escolheu Samarkand (no atual Uzbequistão)
para sua sede. Intolerante e fanático, converteu-se ao islamismo
e anunciou a quem estava ou não obrigado a ouvi-lo nada menos
que a conquista do mundo, seguindo uma reflexão muito sim-
ples: “Deus sendo um, não podia haver senão um rei em toda a
terra”, e a este trono candidatou-se. Tal foi Timur-Lang, ou Timur,
O Coxo - (Tamerlão).
Uma de suas primeiras campanhas foi contra o sultão Bayezid.
Enfrentaram-se os dois poderosos exércitos em Ancara (antiga
Encira ou Angorá, no planalto da Anatólia, a 1000 metros de altitu-
de). Os turcos foram derrotados e Bayezid feito prisioneiro. Con-
ta-se que foi enjaulado em uma gaiola de ferro e levado assim a
passear pelas cidades, como um animal de circo, exposto à zom-
baria do populacho.
Timur conquistou a maior parte do Afeganistão, atacou diver-
sas regiões da Rússia, apoderando-se de Azov. Invadiu a Pérsia
e a Índia, tendo alcançado Delhi. Bagdá foi duas vezes por ele
devastada, em 1392 e em 1401.
Apesar de todas essas violências, a ele é creditada a grande
obra de unificação da Ásia Central. Sob a dinastia dos timúridas,
quando a capital do império foi transferida para Herat, houve um
período de paz e prosperidade (1404 a 1507). A capital tornou-se
grande centro da civilização islâmica. Porém, em 1507, os uzbeques
de Mohamed Khan Shabani apoderaram-se de Herat.
A última campanha do conquistador foi contra a China, cujo
domínio ambicionava. Entretanto, não conseguiu ultimar sua con-
74 O véu e a espada
Ivan, O Terrível
Sonhos e pesadelos
Zolá Pozzobon 79
Frederico e a
artilharia montada
Com o nome de Frederico, foram batizados os três monarcas do
Sacro Império Romano-Germânico, que se estendeu por toda a
Alemanha e a Itália medievais, dos quais mais se notabilizou Frederico
I, o Barba Roxa (1123-1190); os três reis da Prússia, Frederico I, II
(O Grande) e III e vários outros monarcas, com esse prenome
acrescido de Guilherme. Assim: Frederico Guilherme, O Grande
Eleitor, e Frederico Guilherme I, II, III e IV, reis da Prússia.
Frederico II, O Grande, foi excelente guerreiro e hábil adminis-
trador. Como político, contava-se entre os “Déspotas esclarecidos”,
regime do século XVIII que consistia numa adaptação do absolutis-
mo ao pensamento e às realidades econômico-sociais da época.
Era, porém, um absolutismo ornado com as luzes dos filósofos e
despojado da concepção divina do poder. Propunha-se a realizar o
bem do povo (qual o regime que não se propõe a isso?), sem,
contudo, permitir-lhe a participação na obra do governo.
Seu prestígio como monarca passou a preocupar vários paí-
ses da Europa (Áustria, França, Suécia, Rússia e Saxônia), que
contra ele se uniram, obrigando-o a buscar o apoio da Inglaterra.
Nas rivalidades entre este último país e a França, causadas pelo
desencontro de interesses comerciais e marítimos, com relação
às colônias francesas e inglesas na fronteira do Canadá com os
EUA, assim como à crescente influência da França nas Índias,
reside o estopim inicial que desencadeou a chamada Guerra dos
Sete Anos (1756-1763).
Bem informado e perspicaz, assim que percebeu as intenções
da coalizão, iniciou a concentração de suas tropas, enviando-as à
Pomerânia, à fronteira russa e à Silésia. Seu exército era bem
instruído, disciplinado e iria empregar, pela primeira vez na história
80 O véu e a espada
Tantas foram suas andanças que contam ter seu cavalo bebido
das águas da maioria dos rios sul-americanos, desde o Orinoco
até o Prata!
Sonho de um
império tropical
Aleixo Garcia, partindo do litoral brasileiro em 1524, e Sebasti-
ão Caboto, ao subir o rio Paraná em 1526, foram os primeiros
europeus a atingir as terras interiores da Bacia do Prata, hoje
pertencentes ao Paraguai. Lá, situavam-se os guaranis, que, para
viverem em paz, foram obrigados a tanger as tribos do Grande
Chaco para o norte, no século XV. Os primeiros núcleos coloniais
foram fundados por Domingo Martínez de Irala (1536 - 56). A
partir de Assunção, lançou ele os fundamentos do Paraguai. Deli-
mitou fronteiras com o Brasil, através de uma linha de fortes, para
conter a expansão portuguesa, fundou inúmeras vilas e estimulou
a miscigenação de espanhóis e guaranis.
A partir do século XVI e por 150 anos, desenvolveram os jesu-
ítas 33 reduções guaraníticas, onde viviam 100 mil índios, que
contavam com centros de conversão religiosa, agropecuária, co-
mércio (erva-mate), manufaturas e artes.
Declarando-se independentes (1810), os argentinos pretendi-
am estender sua jurisdição ao território do Paraguai, contra o que
insurgiram-se os de Assunção. A expedição do general Manuel
Belgrano não conseguiu concretizar a incorporação da província.
Em 1811, o governador espanhol do Paraguai pediu auxílio portu-
guês para defender a colônia contra os de Buenos Aires. Lidera-
dos por Fulgêncio Yegros, Pedro Juan Caballero e Vicente Inácio
Iturbide, depuseram os paraguaios o governador Bernardo Velasco
e proclamaram a independência do país (14 de maio de 1811).
Após tal evento, reinou um curto período de anarquia, a que
pôs fim José Gaspar Rodrigues Francia, mediante a implantação
de uma ditadura. Seu governo caracterizou-se pelo isolamento do
país, que não mantinha quaisquer relações diplomáticas e eram
92 O véu e a espada
A ascenção do Império
do Sol Nascente
A Mandchúria é uma histórica região situada no nordeste da
China, que compreende as províncias de Liaoning, Kirin e
Heilungkiang. Caracteriza-se por extensas planícies, rodeadas de
montanhas, onde existem compactas florestas. O clima apresen-
ta verões curtos e invernos rigorosos, com chuvas escassas, mais
abundantes na estação quente. Além de região industrial, é rica
em matérias-primas e possui solo fértil. Sua capital é Mukden.
São bastante conhecidos os portos de Port Arthur e Dairen.
Em 1234, foi dominada pelos mongóis. A partir de 1858, come-
çaram a surgir conflitos entre a Rússia e a China pela posse da
região, de que participou o Japão, desde 1895. No ano seguinte,
registrou-se crescente penetração russa na província e na Coréia,
terminando com o arrendamento de Port Arthur. Aproveitando-se
da Revolta dos Boxers (sociedade secreta chinesa que se empe-
nhava em expulsar da China os estrangeiros), a Rússia invadiu o
território em 1900 e aí permaneceu, a despeito dos protestos das
grandes potências. A reação japonesa não se fez esperar.
Em 1902, conseguiu o Império do Sol Nascente assinar com o
Reino Unido um tratado de aliança que o garantia contra a França
em caso de guerra sino-russa, como também maior liberdade de
ação na Coréia. Convencidos da inutilidade de novas conversa-
ções com a Rússia, os japoneses atacaram os russos de surpre-
sa, em 8 de fevereiro de 1904, destruíram-lhe a frota em Port
Arthur, avançaram sobre a Mandchúria e derrotaram os exércitos
inimigos em maio do mesmo ano, após realizarem a longa traves-
sia que dava acesso ao Ialu – a Transiberiana.
Os nipônicos obtiveram outras vitórias, como em Liaoyang
(1904) e Mukden (1905). Port Arthur capitulou em janeiro desse
100 O véu e a espada
O inferno na terra
Zolá Pozzobon 105
A dupla hecatombe
do século XX
Hecatombe tem basicamente o sentido de morticínio. Nosso fa-
moso século XX, que está por espirar, chamado de Século das
Luzes, apresentou dois períodos de trevas, em que milhões de
vidas humanas foram ceifadas em nome dos mais variados moti-
vos, das mais extravagantes ideologias ou doutrinas, ou mesmo
para se defenderem os mais lídimos direitos e garantir a liberdade.
Referimo-nos às duas guerras mundiais, na verdade, uma “Guer-
ra de 30 anos”, com um “cessar-fogo” de duas décadas.
Conseqüências:
- Devastação de extensas áreas da Europa.
- 15 milhões de vítimas, sendo mais de 10 milhões o total de
mortos nos campos de batalha.
- As despesas a serviço da destruição foram de US$ 338
bilhões.
- Crise e desequilíbrio no continente europeu.
- Revoluções políticas e sociais.
- Queda de dinastias e avanço dos regimes republicanos.
- Estabelecimento de inúmeras ditaduras.
- Descrédito da Europa, em benefício, particularmente, dos EUA
e Japão.
- Baixa das moedas nacionais, instabilidade do câmbio e espe-
culação da carestia.
- A crise econômica mundial de 1929.
- Esboroamento do equilibrado império austro-húngaro.
- Com a moratória de um ano, recomendada pelos EUA, para
todas as transações internacionais e o agravamento financeiro na
Áustria, Inglaterra, Alemanha e mesmo nos EUA, começaram a
surgir protestos públicos contra o Tratado de Versailles.
- A Europa Central tornava-se um conglomerado de pequenos
Estados, com todos os problemas das minorias, criando condições
para a implantação de hegemonia por parte de quem reunisse con-
Zolá Pozzobon 109
A ousadia de Hitler
Um corsário nos
mares do sul
O fantasma do
Atlântico Norte!
O Bismarck
A
“consciência
do partido”,
Rudolf
Hess
U - 47
O tenente Günther Prien,
comandante do submarino
alemão U-47, afundou, em
1939, o Royal Oak, porta-
aviões britânico lançado em
1938
Napoleão, Hitler e
o General Inverno!
NAPOLEÃO BONAPARTE, general e estadista, imperador da
França, nascido na Córsega em 1769 e, como prisioneiro, faleci-
do na ilha de Santa Helena, em 1821. Tido como gênio militar e em
outras atividades humanas, foi durante muito tempo objeto de es-
tudos, figura comentada nas rodas eruditas e intelectuais. Nos
dias de hoje, é personagem praticamente desconhecido das mo-
dernas gerações.
A serviço do governo revolucionário de 1789 (Revolução Fran-
cesa), como jovem general, distinguiu-se na campanha da Itália
(1796), regressando vitorioso a Paris, onde foi delirantemente
aclamado.
Apoiado por Tayllerand, obteve o comando da expedição ao Egito,
com vistas à destruição do poder inglês na Índia, acompanhado não
só de guerreiros, mas também de inúmeros cientistas, que revela-
ram ao mundo a civilização da época dos faraós. Champollion have-
ria de decifrar os segredos dos hieróglifos egípcios. A vitória de
Napoleão às portas do Cairo foi empanada pela derrota que o almi-
rante Nelson infligiu à esquadra francesa em Abukir.
De volta à França, assumiu o governo, aos 30 anos de idade.
Revelou-se hábil administrador e notável legislador. Em 1804, foi
proclamado imperador dos franceses, com o nome de Napoleão
I, tornando-se soberano absoluto.
Na política externa, obteve vantagens territoriais: a Áustria re-
conhecera, após a vitória napoleônica em Marengo (1800), a
margem esquerda do Reno como limites naturais da França. Con-
tinuou a luta contra a Inglaterra, que firmou o Tratado de Amiens,
devolvendo à França algumas colônias. Formou-se contra seu país
a terceira coligação européia. O imperador venceu os austríacos
152 O véu e a espada
A maior operação
anfíbia da Historia
Depois de haver desistido de invadir a Grã-Bretanha, não ten-
do pois conseguido eliminar em 1940 seu adversário de oeste,
Hitler julgou necessário livrar-se da ameaça que pairava a leste - a
URSS. Suas diretrizes de planejamento ao alto comando alemão
previam uma campanha vigorosa e rápida, tendo em vista atingir
Moscou e outros objetivos paralelos ao norte e ao sul, antes de
começar o inverno de 1941.O Führer tinha pressa. Estava com 56
anos de idade e queria acabar com a guerra antes de se tornar
velho. Os grandes recursos agrícolas e energéticos de que dispu-
nham os russos, uma vez conquistados, haveriam de sustentar as
necessidades do Reich para, enfim, submeter a Inglaterra!
Em 1941, a Alemanha concentrou sua aviação na frente ori-
ental, para apoiar a Operação Barba Roxa, ou seja, a ofensiva
contra a URSS, que teve início no dia 22 de junho. Tal fato ensejou
à força aérea inglesa os ataques ao continente. Com a ajuda da
aviação norte-americana, foram desencadeados contínuas in-
cursões aéreas contra os grandes centros da Alemanha, redu-
zindo-os a montes de ruínas. Berlim viu caírem as primeiras bom-
bas explosivas e incendiárias no outono de 1943. No início do
ano seguinte, incrementara-se impressionantemente o poderio
bélico dos Aliados.
O engenheiro Werner von Braun foi nomeado diretor de um pro-
grama bélico de foguetes, sediado em Peenemünde, às margens
do Báltico. Dali foram lançados centenas dos artefatos V-1 e V-2
(bombas voadoras) contra o sul da Inglaterra, causando significati-
vos danos, sem, contudo, impedir os preparativos para a invasão.
Einsenhower observou em seu livro Cruzada na Europa que, se tais
armas tivessem sido empregadas antes, poderiam ter mudado o
170 O véu e a espada
curso da guerra.
Diante do avanço alemão no interior da URSS, Stalin pressio-
nava os Aliados para que abrissem logo uma segunda frente na
Europa ocidental. Em novembro de 1943, Roosevelt, Churchill e
Stalin conferenciaram em Teerã e combinaram o lançamento da
ofensiva geral contra Hitler.
A organização da defesa da costa ocidental do continente, co-
nhecida como Muralha do Atlântico (Westwall), fora supervisiona-
da por Rundstdet e Rommel, que tudo fizeram para transformá-la
em um obstáculo de respeito às tropas de desembarque. Entre-
tanto, os recursos de que o Reich precisava estavam dispersos
na frente oriental, no centro da Europa e no Mediterrâneo, e a
extensão a defender no litoral a oeste era enorme. Assim, para
enfrentar o inimigo que detinha a iniciativa, podendo escolher os
pontos de desembarque (fator surpresa), necessitavam os defen-
sores de meios muito mais poderosos, como reservas de blinda-
dos em zonas de reuniões, capazes de se deslocar rapidamente
para contra-ataques, bem como apoio aéreo que desorganizasse
e destruísse as barcaças em movimento para as praias e garan-
tisse a realização dos referidos contra-ataques. Mas a Luftwaffe
estava esgotada.
O marechal Rundstedt, dispondo de 60 divisões, comandava
toda a Muralha do Atlântico, desde a Holanda até a baía de Biscaia,
e a costa francesa do Mediterrâneo. Rommel, seu subordinado,
defendia a costa, da Holanda ao rio Loire. Seu XV Exército, com
19 divisões, estava encarregada da defesa entre Calais e Boulogne
e seu VII Exército contava com 10 divisões na Normandia. Quanto
aos blindados, dispunham os alemães de 10 divisões Panzer que,
estranhamente, se desdobraram em larga frente, cometendo os
mesmos erros dos franceses em 1940 e dispersando a mais po-
derosa arma de contra-ataque!
Havia duas linhas estratégicas para a defesa da Muralha do
Atlântico:1a: feito o desembarque, aguardar que se definissem as
penetrações e os esforços do inimigo, para então jogá-lo de volta
ao mar, mediante contra-ataques vigorosos. 2a: repelir imediata-
mente os desembarques, onde quer que se realizassem, utilizan-
do reservas dispostas próximo às praias. Rundstedt era partidá-
rio da primeira linha de ação, bem como o próprio Führer. Rommel
inclinava-se pela segunda, argumentando que o deslocamento de
reservas maiores e desdobradas mais à retaguarda seria dificul-
tado pela superioridade aérea dos Aliados.
Por outro lado, Rundstedt acreditava o tempo todo que o prin-
cipal assalto seria lançado no estreito de Dover, rota marítima
Zolá Pozzobon 171
mais curta. Rommel concordara com tal raciocínio por certo tem-
po. Porém, consta que Hitler e seu Estado Maior receberam infor-
mações de que a Normandia fora escolhida para a principal frente
de batalha. As dúvidas persistiram, pois era mais lógico o assalto
nas proximidades de Calais.
Quando ocorreu a invasão, a 6 de junho de 1944, nas praias da
Normandia, o Führer obstinou-se na idéia de que o principal esfor-
ço do inimigo não seria lá, e sim mais a nordeste (Calais).
Quando as reservas blindadas, reunidas a certa profundidade,
iniciaram seus deslocamentos para realizarem contra-ataques,
foram furiosamente hostilizadas pela força aérea aliada, pois cons-
tituíam alvos de vulto e demandavam certo tempo até entrarem
em contato com o inimigo. Rommel solicitou a liberação das tro-
pas Panzer que estavam empenhadas diretamente ao Führer, e
este não o atendeu, com o argumento de que necessitava delas
para enfrentar a “verdadeira invasão”. Quando tais tropas foram
liberadas, já era tarde demais para reverter o quadro.
Pára-quedistas da 82a e 101a Divisão Aeroterrestre norte-ame-
ricanas foram lançadas à retaguarda dos defensores, realizando
a destruição de vias de comunicação e postos de comando inimi-
gos. Apesar de os alemães terem lutado com obstinação, em 11
de junho haviam os Aliados estabelecido uma frente contínua e
seus caças começaram a operar de pistas avançadas no conti-
nente. No dia 17, numa conferência entre Hitler, Rudstedt e Rommel,
os dois militares fizeram ver a ele ser uma loucura sangrar o Exér-
cito alemão até à morte na Normandia, e recomendaram um re-
traimento, a fim de travar uma batalha defensiva mais móvel, à
retaguarda. Suas recomendações foram repelidas. Exatamente
um mês depois caças de mergulho britânicos feriram gravemente
Rommel. Rundstedt foi substtuído por Von Kluge. No dia 20, não
teve êxito o atentado contra Hitler, em Rastenburg, na frente ori-
ental, perpetrado pelo coronel conde von Staufenberg.
A libertação dos países ocupados, a penetração em território
alemão e a chegada dos russos em Berlim eram uma questão de
tempo. No dia 6 de maio de 1945 as hostilidades na Europa che-
gavam ao fim.
Zolá Pozzobon 173
Os pára-quedistas
Invasão da Noruega
As operações na Noruega caracterizaram-se por uma verda-
deira corrida, entre ingleses e alemães, pelo controle da
Escandinávia: os primeiros, com o objetivo de privar o III Reich
dos suprimentos de minério de ferro da Suécia, necessários à sua
máquina de guerra. Os alemães, para impedir a concretização de
Zolá Pozzobon 175
Conclusões:
A ordem expedida pelo almirante inglês Forbes aos navios
Glasgow e Devonshire, para desembarcarem as tropas que iri-
am assaltar Stavanger e o aeroporto de Sola e se incorporarem
à frota de combate, possibilitou aos pára-quedistas alemães
apossarem-se das referidas localidades, quase sem luta.
- A decisão alemã de enviar tropas pára-quedistas e
aerotransportadas para o aeroporto de Fornebu, sem perda de
tempo, a fim de contrabalançar a derrota sofrida diante de Oslo,
reverteu completamente a situação naquela área. Ao insucesso
inicial, seguiu-se a fácil captura da capital da Noruega.
- A confusão reinante foi aproveitada pelos aeroterrestres para
desfilarem, com banda de música, como se estivessem em uma
cidade de seu país, antes de se apossarem da cidade de Oslo.
- Embora tenham perdido 12 aviões de transporte, que se
inutilizaram ao aterrissarem no lago gelado, conseguiram os
germânicos reforçar as tropas do general Dietl, sobrepujando
condições extremamente desfavoráveis.
- Foi premiada a tenacidade de Dietl em se manter comba-
tendo, mesmo em situações quase insustentáveis: os Aliados
tiveram de suspender seus ataques, devido ao desastre militar
sofrido na França.
Operação Dantzig
Às 5 horas da manhã de 10 de maio de 1940, dando início às
operações na frente ocidental, cerca de 3.000 aviões da Luftwaffe
iniciaram ataques de surpresa contra aeródromos aliados ao nor-
te da França, Bélgica e Holanda. Centenas de aparelhos foram
destruídos em terra. Assim, desde o início da campanha, estabe-
leceram os alemães incontestável supremacia aérea.
As tropas do Grupo de Exércitos “B” (general Von Bock) lança-
178 O véu e a espada
Conclusões:
- O fator surpresa e a confusão causada pelo emprego de for-
ças aeroterrestres profundamente em sua retaguarda, somados
aos pesados e constantes bombardeios aéreos, desorganizaram
a defesa dos Países Baixos, aceleraram o ritmo dos combates e
levaram ambos à rápida capitulação.
- Obstáculos tidos como intransponíveis, como o forte Eben
Emael e o canal Alberto, foram rapidamente dominados por for-
ças “nascidas do ar” (airborn).
- Tais forças abriram caminho para os blindados alemães, que
rapidamente dominaram Bélgica e Holanda..
- Foi realizada em tempo útil a junção dos blindados com as
tropas aeroterrestres, cujas baixas foram desprezíveis.
- As operações relatadas realizaram-se na frente do Grupo de
Exércitos “B” (general von Bock) e serviram para atrair a ala norte
dos exércitos aliados, enquanto os ataques decisivos iriam se
efetuar mais ao sul: o Grupo de Exércitos “A“ (von Rundstedt) iria
romper o dispositivo aliado e alcançar a costa do Canal da Man-
cha, encurralando milhares de combatentes ingleses e franceses.
Operação Mercúrio
Nos últimos dias de abril de 1941 chegavam ao fim as opera-
ções militares do Eixo contra a península balcânica, tendo os bri-
tânicos evacuado os remanescentes de suas tropas 2
para a ilha de
Creta. Esta possui uma superfície de 8.331 Km e situa-se no
limite sul do Mar Egeu.
A 28 do mesmo mês, o general Student, comandante do XII
Fliergerkorps (Corpo Aéreo), grande unidade da Luftwaffe, na qual
estavam reunidas todas as forças de pára-quedistas, propôs a
Hitler a complementação da campanha dos Bálcãs, mediante a
conquista de Creta, por meio de tropas aeroterrestres.
De início, o Führer considerou temerário e irrealizável o empre-
endimento, mas foi convencido, diante dos argumentos apresen-
tados pelo general.
Pouco depois, foram transportados para a região de Atenas, a
180 O véu e a espada
Conclusões:
- A Operação Mercúrio deu aos alemães uma extraordinária
base de valor estratégico no Mediterrâneo oriental, colocando-os
em condições de atacar as rotas de navegação britânicas e as
bases aéreas e navais no Egito. Entretanto, pouco proveito tira-
ram os vencedores de tão custosa operação. Se atuassem agres-
sivamente sobre o Cairo e outros centros importantes da área
litorânea do Egito, teriam auxiliado sobremaneira os esforços de
Rommel na África do Norte.
182 O véu e a espada
Normandia
Em Teerã, durante reunião realizada entre Roosevelt, Churchill
e Stalin, o presidente dos EUA prometeu ao ditador soviético a
abertura de uma segunda frente de operações contra a Alema-
nha, a ter início na primavera de 1944, o que aliviaria de muito a
pressão que ainda sofria a URSS por parte das forças germânicas.
Além disso, o desembarque na Europa ocidental impediria que
o inimigo reforçasse suas defesas no litoral da França e eliminaria
a ameaça representada pelo lançamento de bombas V-1 e V-2
contra as zonas de concentração no sul da Inglaterra.
A data da invasão estava subordinada a vários fatores: condi-
ções meteorológicas, marés, hora do nascer do sol, lua cheia etc..
Havia também a necessidade de entrosar a Overlod - Invasão
da Europa, com a ofensiva de verão dos russos, prevista para
início de maio, além de se concretizarem os êxitos que se espera-
vam na campanha da Itália.
As operações aliadas contra o continente começaram a 6 de
junho de 1944, depois de alguns adiamentos, dadas as condições
meteorológicas adversas. O VII Exército alemão, desdobrado na
Normandia, teve de suportar todo o peso inicial das forças de
invasão, uma vez que o restante do Grupo de Exércitos a que
pertencia, sob o comando de Rommel, foi mantido imóvel na re-
Zolá Pozzobon 183
Market-Garden
As forças aeroterrestres norte-americanas e britânicas haviam
desempenhado relevantes missões durante os desembarques alia-
dos na Normandia. Logo depois, retornaram ao Reino Unido, a fim
de se reorganizarem e reequiparem. À medida que se desenvolvia
o avanço para o interior do continente, inquietavam-se os “airborn”,
pois sentiam-se como impedidos de tomarem parte no “baile”.
Chefes norte-americanos e ingleses faziam pressão sobre o
general Eisenhower, comandante supremo aliado, para empre-
gar as tropas aeroterrestres. Entretanto, ele já vinha cogitando
disso, tendo em vista acelerar o ritmo das operações. O general
britânico Montgomery, comandante do XXI Grupo de Exércitos,
concebeu a idéia de lançar como que um tapete de tropas
aeroterrestres do outro lado das vias navegáveis holandesas. Tendo
o Reno já para trás e a linha Siegfried flanqueada, poderiam as
formações de blindados infletir para o sul e sudeste, a caminho do
Ruhr e da planície que se estende em direção a Berlim.
Tal plano surpreenderia os alemães que, provavelmente, não
esperavam uma aproximação nessa rota. Além disso, haveria
oportunidade de serem capturadas as plataformas de lançamen-
to das bombas V-2, que castigavam o sul e o leste da Inglaterra.
O estuário do Escalda ficaria livre de tropas alemãs e o porto de
Antuérpia, o terceiro maior do mundo, receberia todos os tipos de
suprimentos de que necessitavam os Aliados.
Com aprovação de Eisenhower, começou a ser montada a
Operação Market, o braço aeroterrestre da grande manobra es-
tratégica concebida por Montgomery. O segundo braço, encarre-
gado de ir ao encontro daquele, numa amplo movimento de jun-
ção, teria o nome de Garden, e o conjunto, Market-Garden.
A faixa sul do “tapete” foi atribuída à 101a Divisão Aeroterreste
(EUA), com lançamento a
previsto sobre as pontes logo ao norte
de Eindhoven. A 82 Div. Aet. (EUA) apossar-se-ia das pontes
sobre o Mass, em Grave. e sobre o Waal, em Nijmegen (faixa
intermediária do “tapete”). No extremo norte, a 1a Div. Aet. britâni-
ca, reforçada pela brigada polonesa, ficou com a missão de cap-
turar e defender a ponte de Arnhem.
O que os Aliados não sabiam era que, em 6 de setembro, o II
Panzerkorps SS ( 9a e 10a Panzer SS), que vinha retardando os
Aliados desde a Normandia, se desengajou do combate e se diri-
Zolá Pozzobon 185
Conclusões:
- A maior operação aeroterrestre da História, inegavelmente,
terminou em fracasso, com perdas estimadas em 50% de seu efetivo.
- Embora estivesse Eisenhower disposto a empregar tais for-
ças novamente, não resta dúvida de que a pressão sobre ele
exercida contribuiu para a tomada de decisão quanto à Market
Garden, depois de ter a mesma sido adiada por 17 vezes.
- O poder de combate do inimigo foi avaliado incorretamente.
De acordo com as últimas informações do XXI Grupo de Exérci-
tos, acreditava o comando aerotransportado aliado que suas tro-
pas enfrentariam forças deficientemente organizadas. Entretanto,
o oficial de informações do I Exército Aerotransportado inglês,
coletando dados da resistência holandesa, assinalou a presença
de duas divisões Panzer SS na área de operações. Ao tomar
conhecimento, Eisenhower pensou em cancelar a missão, mas
resolveu delegar a responsabilidade da decisão ao idealizador da
Zolá Pozzobon 187
Roosevelt sabia?
Skorzeny: um
herói legendário!
Todo filme de faroeste apre-
senta o seu “mocinho”, o qual,
arrostando mil dificuldades, ven-
ce os bandidos. O culto aos he-
róis é algo que caracteriza as
sociedades e a história das na-
ções. Nós, ou os norte-america-
nos, ingleses, enfim, todos os
povos, temos estórias de faça-
nhas e heroísmos. Na II Guerra
Mundial surgiram figuras como
Pitaluga (capitão comandante do
esquadrão de reconhecimento da
FEB), Patton, Montgomery, Skorzeny em foto de 1943
Tassigny, Rommel, Timoshenko e
tantos outros. Entretanto, desejo destacar um soldado que eletrizou
a atenção de meio mundo devido a seus feitos audaciosos, coragem
e pronta resposta que encontrava para as situações mais difíceis,
fruto de imaginação fértil e versatilidade que o caracterizavam. Com
os leitores: Otto Skorzeny!
Nascido em Viena, Áustria, era engenheiro e teve uma empresa
em Meidling, junto à capital. Iniciada a guerra, foi admitido nas Waffen-
SS, corporação paralela à Wehrmacht e que chegou a contar com
38 divisões, perfazendo um total de 900 mil combatentes. Seu pos-
to máximo alcançado foi o de coronel, embora, em algumas ocasi-
ões emergenciais, tenha até comandado divisão, função para ge-
neral. Devido à natureza de suas missões, mantinha freqüentes
contatos com Hitler, Himmler, Kaltenbrunner e outras autoridades
192 O véu e a espada
**************************
*****************************
**********************
************************
*************************
***********************
************************
***********************
198 O véu e a espada
**************************
Furtos de guerra
As duas faces de
uma mesma nação
A Coréia é uma península do leste da Ásia, ao sul da Mandchúria
e da Sibéria. Possui 917 Km no sentido dos meridianos e de 200 a
322 Km no sentido dos paralelos. São seus limites, ao norte, os rios
Yalu e Tumen; ao sul, o Estreito da Coréia; a oeste, o Mar Amarelo,
e, a leste, o Mar do Japão. Sua área, de cerca de 220 mil Km2, é
dotada de um litoral de 8.690 Km, onde se encontram 3.500 ilhas.
Em 1945, ao fim da II Guerra Mundial, tropas norte-america-
nas e soviéticas ocuparam a península, respectivamente ao sul e
ao norte do Paralelo 38o norte. Em 1947, após eleições separa-
das, estabeleceram-se governos independentes em cada zona.
Após contínuos ataques, forças comunistas invadiram a Coréia
meridional, em 25 de junho de 1950. O Conselho de Segurança da
ONU prestou socorro ao país através de contingentes da Austrá-
lia, Bélgica, Canadá, Colômbia, Etiópia, França, Holanda, Reino
Unido, Turquia e África do Sul.
A ofensiva norte-coreana progrediu rapidamente para o sul e,
depois de três dias de luta pela posse de Seul, tomaram a capi-
tal. O porto de Pusan também teria sido conquistado, não fosse
a intervenção imediata de forças norte-americanas estaciona-
das no Japão.
Diante de Taejon, foi detida a ofensiva comunista. O general
Douglas Mac Arthur, comandante norte-americano no Extremo
Oriente, assumiu a chefia das tropas da ONU. No decorrer de
setembro e outubro, não só foi reconquistada a Coréia do Sul
como as tropas de Mac Arthur cruzaram pela primeira vez o Para-
lelo 38o, avançando até às fronteiras da Mandchúria.
Porém, em princípios de novembro, cerca de 500 mil soldados
chineses, atravessando o Rio Yalu, iniciaram uma ofensiva em
204 O véu e a espada
Pontos de análise:
1) A Guerra da Coréia foi um choque de fronteira, em que se
enfrentaram comunismo e capitalismo ocidental, não diretamente
num conflito geral entre os mentores das duas facções, mas atra-
vés de terceirização de combatentes.
2) O conflito assumiu grandes proporções. Estima-se em dois
milhões o número de soldados mortos em combate ou em conse-
qüência da guerra, entre norte-coreanos e chineses. Houve muita
destruição no território da península e milhares de civis coreanos
perderam a vida.
3) A sugestão do general Mac Arthur de levar a luta ao território
chinês, já que Pequim enviara 500 mil combatentes para invadi-
rem a Coréia do Sul, foi fruto de raciocínio puramente militar. As
conseqüências políticas, caso tal decisão fosse adotada, poderi-
am representar o envolvimento dos EUA e de seus aliados em um
confronto direto com a China, o que o presidente Truman evitou,
muito acertadamente.
Zolá Pozzobon 205
O apocalipse nuclear
Tempos modernos
O esquálido x o atleta
navios de guerra.
A conjugação de fatores desfavoráveis, como o terreno mon-
tanhoso e a floresta tropical densa e desconhecida, dificultou a
atuação das tropas norte-americanas, não adaptadas a tais cir-
cunstâncias e acostumadas a lutarem em terreno aberto, com
linhas nítidas, ligações fáceis, em certos casos, até pela vista.
Grande parte daquela guerra foi de caráter irregular, sem fren-
tes definidas. O inimigo atacava de surpresa e diluía-se na flo-
resta, deixando os ianques sem possibilidade de caçá-lo e de
empregar seu sofisticado armamento.
Os vietcongs (guerrilheiros) eram hábeis em preparar arma-
dilhas, com os meios encontrados nos próprios locais de empre-
go, como laços, covas cobertas com vegetação, escondendo
enormes espetos de pontas de bambu contaminadas com fezes.
Ao caírem em tais buracos ou neles colocarem o pé inadvertida-
mente, feriam-se os soldados norte-americanos, ficando sujei-
tos a infecções, muitas vezes fatais.
Os vietcongs cavavam abrigos subterrâneos e extensos tú-
neis que davam acesso à retaguarda de seus inimigos, e dessa
forma surgiam inopinadamente nos mais diversos lugares, cau-
sando o máximo de confusão ao adversário.
Os camponeses do Vietnã do Sul foram forçados a apoiar os
vietcongs, que não titubeavam em os ameaçar, caso dessem a
menor ajuda aos combatentes de Saigon ou dos EUA.
Os acampamentos dos sul-vietnamitas e norte-americanos
eram espionados constantemente. Muitos indivíduos que lhes
prestavam serviços à luz do dia, durante a escuridão participa-
vam de ataques, orientando as tropas de infiltração dos vietcongs.
O governo do Vietnã do Sul era oportunista e apresentava
visíveis sinais de corrupção, o que dificultava o esforço norte-
americano e levava o descontentamento à população.
A opinião pública norte-americana, a partir do momento em
que se deu conta do “atoleiro” em que seus combatentes haviam
caído, praticamente passou a exigir de Johnson a retirada das
forças dos EUA da região do conflito.
Milhares de soldados ianques sofreram grandes desajustes
durante a guerra, seja devido às péssimas condições de combate;
ao adversário “invisível” e, ao mesmo tempo, onipresente; ao uso
das drogas, à correspondência que recebiam de casa, na qual
seus parentes só desejavam vê-los fora daquele “inferno” tropical.
A Guerra do Vietnã causou verdadeira síndrome à nação nor-
te-americana, tanto às forças armadas quanto à população.
212 O véu e a espada
Fúria na Mesopotâmia
Falkland x Malvinas
Conclusões
- A decisão de invadir as Malvinas – objetivo nacional perma-
nente da nação argentina, partiu dos pressupostos de que os bri-
tânicos não reagiriam e a operação seria rápida e de baixo custo.
Quanto ao primeiro, é de se admitir que, devido à ambigüidade da
política britânica nas postergadas negociações sobre as ilhas, tenha
levado a Junta a contar com a não reação, sem considerar a
História da Grã-Bretanha que, através dos séculos, só se tem
retirado de determinadas áreas quando a situação é tal que não
compensa ou é impossível de ser revertida. Foi o caso com a
Independência dos EUA, na África do Sul, na Índia, na Palestina
etc.. Mas, admitissem os ingleses a perda das Malvinas como
fato consumado, eventos semelhantes poderiam pipocar aqui e ali
e o prestígio do Reino Unido perante o mundo e a Otan sofreria
grande abalo.
- Quanto ao segundo pressuposto, a conquista das ilhas foi
fácil e de baixo custo. Porém, a manutenção mostrou-se um pro-
blema cuja solução estava acima das possibilidades da Argentina.
Se esta tivesse jogado a premissa da soberania para mais tarde
e negociado, poderia alcançar certas vantagens parciais que, no
futuro, resultassem na posse das Malvinas.
- Como vimos, o apoio dos EUA à Grã-Bretanha desarticulou o
sistema de segurança coletiva do hemisfério (OEA e TIAR).
- O descrédito da Junta, em conseqüência do insucesso bélico,
levou a população argentina a exigir o retorno à democracia.
- A falta de integração entre os comandos argentinos foi um
dos fatores da derrota. Os comandantes-em-chefe das forças
singulares davam ordens diretas a seus subordinados em campa-
nha, sem levar em conta o conjunto das operações. Enviaram às
Malvinas unidades de várias províncias, em lugar de empregarem
um Corpo de Exército já integrado (espírito de corpo).
- A presença de submarinos nucleares britânicos constituiu sé-
ria ameaça à Marinha argentina, que não dispunha de meios para
enfrentá-los, abstendo-se de realizar operações de superfície. Isso
ficou comprovado pelo afundamento do cruzador General Belgrano.
Zolá Pozzobon 227
Bactriana