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Tempo na escola e qualidade da educação

Inês Maria Marques Z. Pires de Almeida

Estudos e pesquisas sobre experiências de jornada escolar ampliada no Brasil


apontaram significativa melhoria na relação ensino-aprendizagem em decorrência do
aumento da carga horária

A questão da permanência dos alunos na instituição escolar, desde as séries iniciais ou


no ensino médio, tem sido colocada tanto como proposta quanto como desafio
enfrentado pelos sistemas educacionais, independentemente do momento histórico,
político e social analisado. Nessa perspectiva, se retomarmos os fios que teceram e
marcaram a história da educação e da cultura ocidentais, encontraremos seus marcos
iniciais na civilização grega registrados na Paidéia de Jaeger: “Por mais elevadas que
julguemos as realizações artísticas, religiosas e políticas dos povos anteriores, a história
daquilo que podemos com plena consciência chamar cultura só começa com os gregos”
(Jaeger, 2001, p. 5).

Para os antigos, educação e cultura não constituíam uma arte formal ou uma teoria
abstrata, distinta da estrutura histórica objetiva da vida espiritual de uma nação. Tais
valores concretizavam-se na literatura, que seria a expressão real de toda cultura. Em
sua abrangência, o conceito de Paidéia não designa unicamente a técnica própria para
desde cedo preparar a criança para a vida adulta, abrangendo também o processo
educativo ao longo das outras etapas de seu desenvolvimento, como, por exemplo, a
juventude. Segundo Jaeger (2001, p. 6), “nessa perspectiva, reconhecemos que a
História é constituída por um conjunto de construções de ideais, seja no âmbito social ou
espiritual, que se desenvolvem e crescem independentes das múltiplas interrupções e
mudanças através das quais varia, se cruza, choca, desaparece e se renova uma família
de povos diversos na raça e na genealogia”.

Assim, ao apontar a necessidade do retorno às origens históricas da nossa civilização,


emerge a relevância dos gregos como educadores, defensores de uma verdadeira
educação integral do homem, e justifica-se que, diante da questão da possível correlação
entre o aumento da carga horária e a melhoria do ensino médio, seja reafirmada a
importância desse olhar para os primórdios da história da educação ocidental. Nesse
sentido, essa proposta também pode configurar-se como uma ferramenta política que
ofereça novas e dinâmicas formas de aprendizagens para a formação da cidadania.

Aponta-se a política pública de educação integral como uma


possibilidade de melhoria da educação
Tem-se clareza de que o desejo de realizar a educação ideal desenvolveu-se na própria
cultura da humanidade. Mas como “assegurar” a formação plena do ser humano? Mais
uma vez, para além de respostas rasas, apresentam-se interrogações sobre as supostas
“garantias” de que a ampliação da jornada escolar pode oferecer à melhoria do ensino e
da formação dos estudantes do nível médio.
Moacir Gadotti (2003), educador paulista companheiro de Paulo Freire, cujo legado tem
preservado através de inúmeros trabalhos, destaca que desde Aristóteles, com sua
concepção de educação para desabrochar as potencialidades humanas, o tema é sempre
debatido e interpretado a partir de diversas tendências e concepções. Dentre outras, a
articulação das atividades escolares com a vida, implicando a ampliação do tempo
escolar, sempre se manifestou como uma preocupação entre os pensadores de diferentes
épocas históricas.

É inegável que, no momento atual da educação brasileira, aponta-se a política pública de


educação integral como uma possibilidade de melhoria da educação, tanto no ensino
fundamental quanto no médio. Estudos e pesquisas já realizados ou em andamento, no
âmbito das universidades públicas federais (UNIRIO, UFMG, UFPR e UnB), sobre
experiências de jornada escolar ampliada no Brasil no período 2008-2010 apontaram,
entre outros resultados, uma significativa melhoria na relação ensino-aprendizagem em
decorrência do aumento da carga horária nos níveis de ensino pesquisados e da
qualificação das atividades desenvolvidas. Mesmo tendo sido predominantes as
instituições de ensino fundamental, as escolas de ensino médio também fizeram parte da
amostra, com dados coletados através de questionários, entrevistas com gestores,
professores, alunos e pais e visitas in loco.

A estratégia que vem sendo adotada propõe um novo processo de


interlocução com outros saberes sociais
Além disso, no cenário das políticas públicas nacionais, a estratégia que vem sendo
adotada propõe um novo processo de interlocução com outros saberes sociais, para além
da velha e clássica formação do professor que o autoriza a chancelar normatizações,
impondo regras disciplinares autoritárias e, inevitavelmente, alheias ao processo de
subjetivação dos protagonistas do cenário educativo.

Ocorre que a abordagem contemporânea sinaliza profunda renovação da didática e


organização da escola, facilitando a efetiva interlocução entre ações que já acontecem
no contexto social para agregarem-se ao cenário pedagógico, apontando para a dimensão
da constituição subjetiva de atores e sujeitos que vivem no território escolar. Se o
educando é um ser social, os seus interesses mantêm laços estreitos com a vida social e,
por que não dizer, com as relações humanas que estruturam o seu processo de
subjetivação.

Assim, discutir a questão da carga horária em relação à qualidade da educação significa


responder aos desafios que atravessam as questões da cidadania, aliados à melhoria da
qualidade de ensino e preparação das novas gerações, com respeito à diversidade e à
democracia, de modo a contribuir para a existência de sujeitos mais autônomos, em um
contexto sociocultural em que se tem valorizado o individualismo através de variados
instrumentos de massificação.

Discutir a questão significa também responder aos desafios que


atravessam as questões da cidadania
Ora, podemos pensar exatamente o oposto: que a escola se configura como um espaço de
encontros intersubjetivos, no qual se permite viabilizar um novo processo de
interlocução, a inserção de saberes que vêm da prática, uma possibilidade de diálogo que
se estabelece com outros saberes pela entrada de novos atores no espaço educativo. Para
Jaqueline Moll (2003), nesse mosaico da educação brasileira, significa dialogar com as
experiências locais, uma ação intersetorial entre as políticas públicas educacionais e
setoriais, na linha de mediação de conflitos, no sentido de incorporar novos temas, ações
integradas com a comunidade, propondo novos perfis de educação e educadores com a
intenção de contribuir para a diminuição das desigualdades educacionais e de acentuar o
caráter de valorização da diversidade cultural brasileira.

Segundo Jaeger (2001, p. 17), “a superior força do espírito grego estava no seu profundo
enraizamento na vida comunitária, e os ideais que se manifestam nas suas obras surgiram
do espírito criador de homens profundamente informados pela vida superindividual da
comunidade, concluímos que o Homem que se revela nas obras dos grandes gregos é o
homem político e que o fato de os homens mais importantes da Grécia se considerarem
sempre a serviço da comunidade é índice da íntima conexão que com ela tem a vida
espiritual e criadora”.

Enfim, mesmo reconhecendo a incompletude como inerente à condição humana e a


impossibilidade de oferecer garantias existenciais ou educacionais de que o aumento de
carga horária determinaria melhorias, permito-me apontar para a ocorrência de possíveis
efeitos que qualificariam os processos de subjetivação no espaço escolar, na dinâmica de
ensino e formação do sujeito-aluno no ensino médio a serviço da comunidade.

Aponta-se a política pública de educação integral como uma possibilidade de melhoria da


educação

A estratégia que vem sendo adotada propõe um novo processo de interlocução com
outros saberes sociais

Discutir a questão significa também responder aos desafios que atravessam as questões
da cidadania

 Inês Maria Marques Z. Pires de Almeida é professora da Faculdade de Educação da


Universidade de Brasília.
almeida@unb.br

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