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1. Introdução
Observa-se atualmente uma crescente preocupação mundial com o meio ambiente e
uma busca por fontes energéticas limpas, implicando em uma conseqüente necessidade de
associar esforços sociais, acadêmicos e governamentais no intuito de viabilizar alternativas
para o desenvolvimento sustentável.
Juntamente com o álcool, o biodiesel apresenta-se como uma das principais
experiências com combustíveis alternativos do Governo Brasileiro. O "diesel natural”, como
também é chamado, é considerado um combustível de queima limpa, podendo ser usado para
alimentar motores ou para a geração de energia elétrica (bioeletricidade) (INOVAÇÃO
TECNOLÓGICA, 2003).
Segundo Oliveira e Costa (2001), o biodiesel é obtido através da reação de óleos
vegetais (provenientes da soja, do girassol, da mamona, do algodão, do amendoim, do buriti
etc), novos ou usados, ou de gorduras animais, com um intermediário ativo, formado pela
reação de um álcool com um catalisador, num processo conhecido como transesterificação.
Os produtos obtidos da reação química são um éster (o biodiesel) e glicerol. Os ésteres têm
características físico-químicas muito semelhantes às do diesel comum, como demonstram as
experiências em diversos países.
Além de ser um combustível de forte apelo ambiental pela capacidade de redução na
emissão de poluentes e fechar o ciclo do gás carbônico (o CO2 liberado na combustão do
biodiesel é capturado pelas plantas oleaginosas gerando nova biomassa), o biodiesel possui
para o Brasil vantagens econômicas relacionadas à substituição de importações de petróleo e
derivados, e sociais na geração de empregos e fixação do homem no campo (OLIVEIRA &
COSTA, 2002).
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Desde 2003 o atual Governo Federal tem-se mobilizado acerca das possibilidades e
potencialidades da produção de biodiesel, lançando o marco regulatório do Programa
Nacional de Produção e Uso do Biodiesel, PNPB, em 6 de dezembro de 2004 (BRASIL,
2004). Em janeiro de 2005 foi sancionada a Lei 11.097, que dispõe sobre a introdução do
biodiesel na matriz energética brasileira, estabelecendo percentuais mínimos de mistura de
biodiesel (BRASIL, 2005). Para o período que vai de 2005 a 2007, estipulou-se a adição de
2% de biodiesel ao diesel mineral em caráter autorizativo. De acordo com dados da Agência
Nacional do Petróleo (ANP), o consumo aparente de óleo diesel no Brasil em 2004 foi de
40.882,44 mil m3 sendo assim, pode-se esperar um mercado potencial de 820 milhões de
litros por ano, para o período citado acima. De 2008 a 2012, estes 2% tornam-se obrigatórios
o que vai gerar uma necessidade de mercado de aproximadamente 1 bilhão de litros por ano.
A partir de 2013, torna-se obrigatória a adição de 5% de biodiesel ao diesel, o que significa
um mercado de aproximadamente 2,4 bilhões de litros (AMORIM, 2005).
O desenvolvimento de projetos de produção e comercialização do biodiesel no Brasil é
impulsionado por fatores como: a oferta de matéria-prima, tanto com relação à quantidade
necessária, quanto à possibilidade de uso de espécies regionais; o desenvolvimento de
mercados para os subprodutos (ou derivados) do processo; as resoluções quanto à emissão de
poluentes; a possibilidade do uso de catalisadores nos veículos ciclo diesel; a redução na
importação de petróleo e derivados; e a exportação de créditos de carbono relativos ao
Protocolo de Kyoto (Efeito Estufa), com conseqüente reserva do fluxo de capitais no setor de
combustível para motores ciclo diesel (IVIG, 2005).
Contrariando a política governamental brasileira, que incentiva a mamona como a
melhor escolha para programas sociais, projetos de produção de biodiesel a partir da soja têm
ganhado destaque, isso devido principalmente, ao fato deste grão ter se tornado o carro chefe
do agronegócio brasileiro, representando cerca de 88% da produção de oleaginosas, também
devido ao parque industrial existente e a possibilidade futura de exportação de biodiesel para
outros mercados (TEIXEIRA, 2005).
A soja, cuja produção nacional tem crescido com estimativas de continuidade, tem
40% da produção exportada in natura (Teixeira, 2005). No processamento, além do óleo, que
é fonte para o produto refinado, margarinas e gorduras hidrogenadas, obtém-se também o
farelo de soja, que é utilizado para rações animais e produção de alimentos protéicos para
alimentação humana (BELTRÃO, 2005).
Como a soja possui teor de óleo de aproximadamente 20%, o processo de extração de
óleo mais comumente empregado é o químico, sendo o hexano o solvente mais utilizado. A
qualidade do óleo foi recentemente comprovada pelo Cetec (Fundação Centro Tecnológico de
Minas Gerais) através da análise química de óleo degomado de alguns produtores, atendendo
a requisitos mínimos de qualidade, tais como, acidez, teor de fósforo e umidade, para permitir
a sua transformação em biodiesel (TEIXEIRA, 2005).
A viabilidade da execução de projetos agroindustriais é assunto que tem motivado
diversos estudos no país. O sucesso de investimentos em bens de produção, notadamente no
setor agroindústria, sempre necessitará de competentes e amplos estudos visando oferecer, ao
potencial investidor, uma margem de confiança para tomada de decisão (NEVES, 1996).
Atualmente, a viabilidade técnico-econômica é reconhecida como o principal fator a
ser considerado na tomada de decisão de um investimento, pois fornece os parâmetros
determinantes para a continuidade do projeto a ser implantado. Sua utilização iniciou-se com
os estudos de muitos autores na área econômica e somente nas duas últimas décadas que vem
sendo aplicada com mais intensidade na gestão agroindustrial (HOMEM, 2004).
A análise econômica consiste em fazer estimativas de todas as entradas e saídas, ou
seja, os gastos envolvidos com o investimento inicial, operação e manutenção, custos de
combustíveis e também as receitas geradas durante um determinado período de tempo, para
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assim obter-se o fluxo de caixa relativo a esses investimentos, custos e receitas e calcular
quais serão os indicadores econômicos conseguidos com esse empreendimento. Comparando-
se esses indicadores econômicos com as possíveis taxas de rendimento de mercado ou
próprias para o investimento de capital, pode-se concluir sobre a viabilidade do investimento
(HOMEM, 2004).
Assim, este estudo foi desenvolvido visando à análise de viabilidade econômica de
implantação de uma usina de extração de óleo de soja, com capacidade de processamento de
150 toneladas/dia de matéria-prima, produzindo óleo degomado e farelo de soja. Ainda foi
avaliada economicamente a opção de produzir biodiesel a partir do óleo vegetal proveniente
desta usina (cerca de 30.000 L/dia).
2. Materiais e métodos
O trabalho foi realizado nas dependências do Departamento de Tecnologia de
Alimentos da Universidade Federal de Viçosa, utilizando o software SAD-BIODIESEL, que
foi desenvolvido em 2004 a partir de um convênio firmado entre o Ministério do
Desenvolvimento Agrário (MDA) e a Universidade Federal de Viçosa (UFV), visando à
criação de um sistema de apoio à decisão dos técnicos do Governo na implantação de
unidades de produção de biodiesel no país.
Elaborou-se um Projeto A consistindo de uma unidade de processamento de grãos de
soja com capacidade de processamento de 150 toneladas diárias com produção de óleo de soja
degomado e farelo de soja, e posteriormente, definiu-se um Projeto B, com a adição, ao
anterior, de uma usina de biodiesel com capacidade de 30 mil litros diários, acoplada a
anterior para processar o óleo de soja degomado produzido naquela.
Observa-se que o tamanho proposto está entre os menores tamanhos de planta
industrial de processamento de soja existente, o que pode implicar em dificuldades devido a
perdas de escala.
Os orçamentos, assim como os coeficientes relacionados aos processos, foram
fornecidos por empresas do setor: a empresa “Urso Branco”, com sede em Jaú – SP, forneceu
os dados relativos à unidade de extração de óleo, enquanto a empresa “TecBio”, localizada
em Fortaleza – CE, forneceu os dados relacionados à planta de produção do biodiesel no
tamanho citado anteriormente.
O custo da soja, R$ 0,35 por quilograma, foi baseado na cotação da Federação da
Agricultura e Pecuária de Goiás (FAEG), em 25 de julho de 2006. Já os preços da torta, R$
435,00 por tonelada e do litro de óleo degomado, R$ 1,27 foram baseados nas cotações da
ABOISSA – Óleos Vegetais, enquanto o preço do litro de biodiesel, R$ 1,90 fundamentou-se
nos preços médios praticados nos primeiros leilões de biodiesel, respectivamente.
Para a análise de viabilidade do empreendimento o software utiliza-se do
levantamento de investimentos, dos custos fixos e variáveis, receita, e ainda considera o
horizonte de planejamento, que neste estudo foi de 10 anos, e a taxa mínima de atratividade
(TMA), estimada em 12 %. Com base nesses dados, os valores dos índices de rentabilidade
tais como o valor atual (VA) ou vapor presente líquido (VPL), o tempo de retorno de capital
(TRC), a taxa interna de retorno (TIR) e o ponto de equilíbrio (PE), são calculados.
O tempo de retorno de capital (TRC) mostra o número de períodos necessários para
recuperar os recursos dispendidos na implantação do projeto, isto é, o espaço de tempo
necessário para que a soma das receitas nominais futuras se iguale ao valor do investimento
inicial (FARO, 1971).
A taxa interna de retorno (TIR) é conhecida como a taxa de juros real e não negativa
que faz com que o valor atribuído às receitas futuras se iguale ao custo do investimento, ou
seja, é a taxa que anula o valor presente do projeto. Este critério mostra a viabilidade do
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3. Resultados e Discussão
A unidade de processamento é de pequeno porte, podendo ser uma alternativa de
agregação de valor à soja produzida em algumas regiões, contribuindo para a melhoria do
nível de renda de produtores de soja da agricultura familiar e, ainda, favorecendo a introdução
destes no mercado de energia renovável.
Os investimentos totais considerados na análise financeira de implantação das
unidades industriais incluem dispêndios com a construção de obras civis e benfeitorias,
equipamentos (nas diferentes seções operacionais – recepção e preparo, extração,
degomagem, transesterificação, armazenamento e auxiliares) e com capital de giro, que é o
capital necessário para a operacionalização financeira da indústria. Os valores necessários ao
investimento total são mostrados na Figura 1.
25.000.000,00
20.000.000,00
Investimentos (R$)
15.000.000,00
10.000.000,00
5.000.000,00
0,00
Projeto A Projeto B
Obras civis e benfeitorias Seção de recepção e preparo
Seção de extração Seção de degomagem
Seção de transesterificação Seção de armazenamento, auxiliares
Capital de giro T otal geral de investimentos
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100
90
80
70
Custos (%)
60
50
40
30
20
10
0
Projeto A Projeto B
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4. Conclusões
Em função da atual política governamental brasileira, a comercialização do biodiesel
acontecerá facilmente, devido à obrigatoriedade, contribuindo desta forma, para a redução da
incerteza relacionada à receita operacional.
Para a taxa de desconto considerada, os resultados possibilitaram concluir que a
unidade de processamento de soja sem a produção de biodiesel, é uma atividade
economicamente viável, sendo a matéria-prima a principal responsável pelos custos de
produção.
Podemos verificar que os indicadores são menos favoráveis quando acontece a
inserção da unidade de biodiesel. Porém, se acontecer a isenção de ICMS sobre a produção de
biodiesel, para projetos relacionadas a agricultura familiar, os indicadores são bem mais
favoráveis.
Pode-se verificar, pela análise dos indicadores, que a produção de biodiesel a partir de
óleo de soja oriundo de uma planta com capacidade de 30 toneladas/dia não é viável, se for
considerada a carga tributária que incide atualmente no biodiesel não familiar. A viabilidade
pode ser conseguida pela redução das cargas tributárias, como mostrado neste trabalho e/ou
pelo aumento da capacidade da planta de extração de óleo, ganhando-se com a economia de
escala.
5. Referências bibliográficas
AMORIM, P. Q. R. Perspectiva histórica da cadeia da mamona e a introdução da
produção de biodiesel no semiárido brasileiro sob o enfoque da teoria dos custos de
transação. Monografia apresentada à Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da
Universidade de São Paulo. Piracicaba – SP, 2005.
BELTRÃO, N. E. M. Agronegócio das oleaginosas no Brasil. Informe agropecuário, vol.
26, nº 229. Belo Horizonte: EPAMIG, 2005.
BRASIL. Decreto n.º 5.297, de 6 de dezembro de 2004; publicado no Diário Oficial da
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BRASIL. Lei n.º 11.097, de 13 de janeiro de 2005; publicada no Diário Oficial da União em
14 de janeiro de 2005.
CONTADOR, C. R. Avaliação social de projetos. São Paulo: Atlas, 1981. 301 p.
FARO, C. Critérios quantitativos para a avaliação e seleção de projetos de investimento.
Rio de Janeiro: IPEA; INPES, 1971. 142 p.
HOLANDA, N. Planejamento e projetos. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 1983.
402 p.
HOMEM, G. R. Avaliação técnico-econômica e análise locacional de unidade
processadora de soro de queijo em Minas Gerais. Viçosa, MG: UFV, 2004. 230 p. Tese
(Doutorado em Ciência e Tecnologia de Alimentos) – Universidade Federal de Viçosa, 2004.
INOVAÇÃO TECNOLÓGICA. Pesquisas com Biodiesel se Espalham pelo País. 2003.
Disponível em: http://www.inovacaotecnologica.com.br. Acesso dia: 15/09/2005.
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http://www.ivig.coppe.ufrj.br. Acesso dia: 10/09/2005.
NEVES, A. L. R. A. Viabilidade técnico-econômica e análise de risco da implantação de
microcervejarias no Brasil. Viçosa, MG: UFV, 1996. 82 p. Dissertação (Mestrado em
Ciência e Tecnologia de Alimentos) – Universidade Federal de Viçosa, 1996.
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