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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO - UFPE

CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS - CCJ


FACULDADE DE DIREITO DO RECIFE – FDR
DISCIPLINA: DIREITO PROCESSUAL CIVIL I
PROFESSOR: ROBERTO WANDERLEY NOGUEIRA

ASSISTÊNCIA JURÍDICA GRATUITA E GRATUIDADE DA


JUSTIÇA

Recife, 20 de junho de 2017

Leonardo Lorena Santiago


ASSISTÊNCIA JURÍDICA GRATUITA E GRATUIDADE DA JUSTIÇA

Uma das principais características da sociedade contemporânea, tanto brasileira quanto


mundial, é a sua complexidade, devido à grande quantidade de pessoas convivendo juntas, cada
uma com diferentes interesses e pretensões. Sabe-se que, quando esses interesses se chocam,
surge a figura do conflito, no qual duas ou mais pessoas buscam defender seus pontos de vista,
visando ao alcance de uma satisfação pessoal. Nas civilizações primitivas, diante da
inexistência de um Estado suficientemente forte para impor-se perante os indivíduos em estado
de conflito, a resolução das contendas estava sujeita à imposição da força física, o que não
garantia um resultado justo, devido à hipossuficiência de uma das partes. Ao longo do tempo,
a sociedade foi evoluindo de modo que, ao invés de utilizar-se da autotutela, confia ao poder
estatal a função de dirimir as questões conflituosas através da imposição de uma decisão
judicial. Assim, houve o surgimento da jurisdição que, segundo Ada Pellegrini, caracteriza-se
como “a capacidade que o Estado tem de decidir imperativamente e impor decisões”1.
Nesse contexto, o ordenamento jurídico procura evitar que os indivíduos solucionem
por si próprios as questões relativas à defesa de seus interesses em conflito com os de outra
pessoa, o que, como visto anteriormente, iria acarretar apenas a imposição de vontade da parte
mais favorecida, sem garantia de um resultado justo. Como, por meio da jurisdição, os juízes
se substituem às partes no processo de decisão, resta a elas a possibilidade de fazer agir,
provocando o exercício da função jurisdicional através do processo, que é o instrumento por
meio do qual os órgãos jurisdicionais atuam para pacificar as pessoas conflitantes, eliminando
os conflitos. Assim, de forma a assegurar essa obrigação do Estado de colocar à disposição da
sociedade a tutela jurisdicional, o poder constituinte originário instituiu, na Constituição
Federal de 1988, no rol de direitos fundamentais, o princípio da inafastabilidade da jurisdição,
segundo o qual “ a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito
(artigo 5º, inciso XXXV).
De acordo com Mauro Cappelletti, para que se cumpram as finalidades do sistema
jurídico, primeiro ele deve ser acessível a todos e segundo deve produzir resultados individual
e socialmente justos2. Contudo, diante da extrema disparidade entre as classes sociais, grande
parte dos brasileiros, que sequer têm condições econômicas de arcar com suas despesas diárias,

1
CINTRA, Antônio Carlos de Araújo, GRINOVER, Ada Pellegrini, DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria
Geral do Processo. São Paulo, Malheiros Editores, 2015, p.45.
2
CAPPELLETTI, Mauro; GARTH; Bryant. Acesso à Justiça. Porto Alegre, Sergio Antônio Fabris editor, 1988,
p. 3.
não conhecem e muitas vezes não têm condições de reconhecer seus direitos. A falta de
informação sobre as garantias da ordem jurídica marginaliza o indivíduo dos mecanismos de
acesso à tutela jurisdicional e o afasta da proteção que deveria ter, quando da infração de seus
direitos. Com o intuito de evitar essa exclusão, a Constituição, ainda no que se refere aos direitos
fundamentais do artigo 5º, traz, no inciso LXXIV, que “o Estado prestará assistência jurídica
integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos”. Aliado a isso, o poder
constituinte estabeleceu, no artigo 134, que o órgão responsável por prestar essa assistência aos
economicamente hipossuficientes é a Defensoria Pública, que deve dar orientação jurídica e
defender seus representados no âmbito judicial e extrajudicial. Esse dispositivo foi criado com
o objetivo de democratizar as vias judiciárias e possibilitar que pessoas de baixa renda possam
recorrer ao devido processo legal para compor suas lides e assegurar seus direitos.
Para movimentar a máquina judiciária e garantir a prestação jurisdicional, além da
representação de um procurador, é necessário que as partes envolvidas no processo arquem com
as chamadas despesas processuais instituídas no artigo 82 do Código de Processo Civil de
20153, de modo a garantir o pleno funcionamento do sistema. No entanto, como já visto
anteriormente, a realidade dos brasileiros das classes mais pobres é a de luta diária pela
sobrevivência com escassos recursos. Com efeito, é notório afirmar que as custas para manter
um processo em andamento e, assim, conseguir uma possível tutela estatal para proteger o
interesse desejado, podem não ser acessíveis para a maioria da sociedade brasileira. Logo, exigir
esse ônus como pressuposto indeclinável de acesso ao processo seria privar os economicamente
fracos da tutela jurisdicional do estado. Nesse sentido, o Novo Código de Processo Civil tratou
da concessão de gratuidade da justiça em seus artigos 98 a 102, trazendo uma inovação diante
do Código de 1973 e revogando parcialmente a Lei 1060/1950, que anteriormente tratava sobre
o assunto.
Antes de analisar os dispositivos referentes à justiça gratuita, é preciso esclarecer que a
assistência jurídica gratuita e a gratuidade da justiça, apesar de atenderem à finalidade de tornar
a tutela judiciária mais democrática para os economicamente necessitados, não podem ser
confundidas, já que entre ambas há uma relação de gênero e espécie, respectivamente. A justiça
gratuita, por se referir à “isenção de todas as custas e despesas judiciais e extrajudiciais relativas

3
“Salvo as disposições concernentes à gratuidade da Justiça, incumbe às partes prover as despesas dos atos
que realizarem ou requererem no processo, antecipando-lhes o pagamento, desde o início até a sentença final
ou, na execução, até a plena satisfação do direito reconhecido no título”.
aos atos indispensáveis ao andamento do processo até o seu provimento final”4, tem um caráter
mais restrito. Já o instituto constitucional “é matéria de ordem administrativa, pois está
direcionado ao Estado para, através das Defensorias Públicas, dar advogado àqueles que não
têm condições financeiras de contratar um causídico particular para defender seus interesses
num processo judicial”5.
Adentrando na análise dos destinatários do direito processual à gratuidade da justiça, o
caput do artigo 98 do CPC estabelece que tanto a pessoa natural quanto jurídica, brasileira ou
estrangeira, são titulares do direito a tal benefício. Verifica-se, nesse dispositivo, que o novo
código inovou com relação à Lei 1060/50, já que esta não incluía as pessoas jurídicas como
beneficiárias. Tal mudança acolhe o que já vinha sido decidido pelas supremas cortes, como
exemplifica esse acórdão do Supremo Tribunal de Justiça:
PROCESSO CIVIL. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA. ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA
GRATUITA. PESSOA JURÍDICA SEM FINS LUCRATIVOS. NECESSIDADE DE COMPROVAÇÃO
DA MISERABILIDADE JURÍDICA.PRECEDENTE DA CORTE ESPECIAL. EMBARGOS
ACOLHIDOS. 1. O embargante alega que o aresto recorrido divergiu de acórdão proferido pela Corte
Especial, nos autos do EREsp 690482/RS, o qual estabeleceu ser ônus da pessoa jurídica,
independentemente de ter finalidade lucrativa ou não, comprovar que reúne os requisitos para a
concessão do benefício da assistência judiciária gratuita. 2. A matéria em apreço já foi objeto de debate
na Corte Especial e, após sucessivas mudanças de entendimento, deve prevalecer a tese adotada pelo
STF, segundo a qual é ônus da pessoa jurídica comprovar os requisitos para a obtenção do benefício
da assistência judiciária gratuita, sendo irrelevante a finalidade lucrativa ou não da entidade
requerente. 3. Não se justifica realizar a distinção entre pessoas jurídicas com ou sem finalidade
lucrativa, pois, quanto ao aspecto econômico-financeiro, a diferença primordial entre essas entidades
não reside na suficiência ou não de recursos para o custeio das despesas processuais, mas na
possibilidade de haver distribuição de lucros aos respectivos sócios ou associados. 4. Outrossim, muitas
entidades sem fins lucrativos exploram atividade econômica em regime de concorrência com as
sociedades empresárias, não havendo parâmetro razoável para se conferir tratamento desigual entre
essas pessoas jurídicas. 5. Embargos de divergência acolhidos.
Nesse contexto, é importante observar que há uma diferença no tratamento entre
pessoas físicas e jurídicas, visto que estas precisam demonstrar a impossibilidade de arcar com
as custas processuais (súmula 481/STJ)6 enquanto aquelas não precisam de tal comprovação,

4
LOPES, Hálisson Rodrigo; SILVA, Elson Campos da. Diferença entre gratuidade judiciária ou justiça
gratuita e assistência jurídica gratuita. Disponível em: <http://www.ambito-
juridico.com.br/site/?artigo_id=10152&n_link=revista_artigos_leitura>.
5
Idem.
6
“Faz jus ao benefício da justiça gratuita a pessoa jurídica com ou sem fins lucrativos que demonstrar sua
impossibilidade de arcar com os encargos processuais”.
pois presume-se verdadeira tal alegação (artigo 99 §3º CPC). Porém, tal presunção é juris
tantum, uma vez que a parte contrária pode impugnar a concessão deferida na contestação,
réplica, contrarrazões de recurso ou em petição simples nos casos de pedido superveniente ou
formulado por terceiro (artigo 100, caput).
Ainda, ressalta-se que o direito à gratuidade da justiça não se restringe às partes do
processo, mas pode ser conferido também aos intervenientes e trata-se de direito
personalíssimo, não podendo ser transferido a herdeiros, sucessores ou litisconsortes do
beneficiário, devido ao seu caráter particular, que deve ser verificado em cada caso concreto
(artigo 99 § 6º). Cabe aos sucessores, se for o caso, requerer o favor legal, demonstrando sua
hipossuficiência.
No parágrafo primeiro do artigo 98, encontra-se o rol exemplificativo de atos
processuais que podem vir a ser objeto da gratuidade, tais como: as taxas ou as custas judiciais
(inciso I), os selos postais (inciso II), as despesas com publicação na imprensa oficial (inciso
III), a indenização devida à testemunha (inciso IV), as despesas com a realização de exame de
código genético e de outros exames considerados essenciais (inciso V), os honorários do
advogado e do perito e a remuneração do intérprete ou do tradutor (inciso VI), o custo com a
elaboração de memória de cálculo (inciso VII), os depósitos previstos em lei para interposição
de recurso, para propositura de ação e para a prática de outros atos processuais inerentes ao
exercício da ampla defesa e do contraditório (inciso VIII) e os emolumentos devidos a notários
ou registradores em decorrência da prática de registro, averbação ou qualquer outro ato notarial
necessário à efetivação de decisão judicial ou à continuidade de processo judicial no qual o
benefício tenha sido concedido (inciso IX). Dessa forma, a parte que peticionou pode requerer
a gratuidade de todos esses atos, ou apenas um em específico, podendo ainda reduzir
percentualmente os valores ou parcelá-los (§§ 5º e 6º).
No que se refere ao requerimento, “não há mais previsão de procedimento para
postulação da gratuidade da justiça antes do ajuizamento da causa, como antigamente previa a
Lei 1.060/1950. No sistema novo, tudo se passa incidentalmente, no curso do processo,
bastando que o interessado peticione ao juiz competente”7. “A iniciativa é coerente com
diversos outros dispositivos do CPC de 2015, que extinguem maiores formalidades, apensos,
apartados e coisas que tais para as manifestações ao longo do processo. Ademais, a
circunstância de o pedido não acarretar suspensão do processo é medida bem-vinda para evitar

7
JÚNIOR, Humberto Theodoro. Curso de direito processual civil, volume I. Rio de Janeiro, Editora Forense,
2017, p.325.
indesejadas procrastinações”8. Assim, basta que o pedido seja feito na petição inicial, na
contestação, na petição para ingresso de terceiro no processo, no recurso ou, em petição simples,
não havendo suspensão do curso processual (artigo 99 caput e § 1º).
É importante observar que o fato da parte não ser assistida por defensor público não é
motivo para que o benefício lhe seja negado (artigo 99 § 4º). Em outros termos, os juízes não
podem se utilizar da opção por advogado particular para presumir que a parte tem condições
para arcar com as custas do processo. Isso porque muitas vezes os órgãos estatais de assistência
judiciária não possuem pleno funcionamento com condições de atender às necessidades da
população de forma efetiva. Logo, o necessitado economicamente que desejar ter sua demanda
apreciada pelo judiciário não pode se prejudicar, podendo procurar um procurador privado que
atue em seu nome por meio do pro bono e, mesmo assim, pleitear a gratuidade.
Convém destacar, no entanto, que o benefício da justiça gratuita não exclui a
responsabilidade de pagar pelas despesas e honorários advocatícios provenientes da
sucumbência nem das multas que lhe sejam impostas por litigância de má-fé (artigo 98 §§ 2º e
4º). Isso porque um dos fundamentos da imposição desse ônus ao vencido no processo se dá
pela ideia de que a parte que possuía razão não pode sair lesada. Assim, evita-se que pessoas
adentrem em juízo em busca de enriquecimento sem causa ou com o intuito de prejudicar a
outra parte sem necessidade. No entanto, a obrigação de pagar as despesas sucumbenciais fica
sujeita a uma condição suspensiva de exigibilidade, ou seja, o credor, no prazo de 5 anos, deve
demonstrar que a situação de insuficiência que motivou o benefício deixou de existir, caso
contrário, extingue-se a obrigação (artigo 98 § 3º CPC).
Ressalta-se, portanto, que os institutos analisados possuem o objetivo de trazer a
prestação jurisdicional para a realidade da maioria dos brasileiros que, por falta de condições
socioeconômicas, não têm a oportunidade de reconhecer os seus direitos, pagar os honorários
de um advogado e custear as despesas processuais. Para que isso aconteça, é necessário que as
defensorias públicas, estejam mais bem equipadas e estruturadas de modo a suprir as demandas
por auxílio jurídico, com a presença de advogados regularmente habilitados e dispostos a
defender os interesses de seus representados. Além disso, é preciso que haja uma mudança de
mentalidade dos juízes que negam o pedido de gratuidade baseados em parâmetros econômicos
que muitas vezes não estão de acordo com a real conjuntura do país. Assim, seria possível
efetivar os princípios que regem a ordem constitucional para que a sociedade brasileira consiga
ter acesso amplo à tutela estatal para solucionar os conflitos inerentes à dinâmica social.

8
BUENO, Cassio Scarpinella. Manual de direito processual civil. São Paulo: Saraiva, 2015.
Bibliografia e Referências

BORTOLAI, Luís Henrique. Acesso à justiça e os benefícios da gratuidade da justiça (Lei Nº


1.060/50). Disponível em:
<http://www.ambitojuridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=11708#_ftn14>.

BUENO, Cassio Scarpinella. Manual de direito processual civil. São Paulo: Saraiva, 2015.

CAPPELLETTI, Mauro; GARTH; Bryant. Acesso à Justiça. Porto Alegre, Sergio Antônio Fabris
editor, 1988.

CINTRA, Antônio Carlos de Araújo, GRINOVER, Ada Pellegrini, DINAMARCO, Cândido


Rangel. Teoria Geral do Processo. São Paulo, Malheiros Editores, 2015.

JÚNIOR, Francisco Romero. O Direito Fundamental de Acesso à Justiça e Gratuidade


Judiciária sob a Ótica do Novo Código de Processo Civil. Disponível em:
<https://romeroadvogado.jusbrasil.com.br/artigos/349136822/o-direito-fundamental-de-acesso-a-
justica-e-gratuidade-judiciaria-sob-a-otica-do-novo-codigo-de-processo-civil>

JÚNIOR, Humberto Theodoro. Curso de direito processual civil, volume I. Rio de Janeiro,
Editora Forense, 2017, p.325.

MELO, Nehemias Domingos de. Da Gratuidade da Justiça no Novo CPC e o Papel do


Judiciário. Disponível em: <https://pauloabreu14.jusbrasil.com.br/artigos/244912627/da-
gratuidade-da-justica-no-novo-cpc-e-o-papel-do-judiciario>

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