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CAPITULO 5_| SEGURANCA DAS FUNDAGOES E ESCAVACOES WALDEMAR HACHICH Nio seria possivel falar de seguranca de funda- {g0e$ e escavagdes sem mencionar a Norma Bras Ieira sobre 0 assunto, a NBR-6122 (1996). Por ou- tro lado, ndo cabe ficar aqui repetindo as postu- ras daquela Norma, que sto de conhecimento pi- blico e devem ser seguidas fielmente dado 0 cari- ter de lei que Ihe & conferido pelo Codigo de Defesa do Consumidor de 1991. ‘Optou-se, entio, por colocar a discussio da se- guranga das fundagdes no nivel mais conceitual, que tem norteado as pesquisas do autor hi virios anos. Durante esse periodo varias idéias basicas foram-se sedimentando e algumas delas sio a se- guir apresentadas: *nio ha como evoluir no estabelecimento de critérios de projeto relacionados & seguranca — sejam eles em termos de coeficientes de seguranga globais, parciais, coeficientes de pondleracio, indices de seguranca ou probabilida- des de ruina — senio através de modelos probabilisticos, pois variabilidade e incerteza cons- tituem 0 fulero da questio da seguranga; ‘io hi como construir modelos probabilisticos Gteis, para fendmenos que envolvem solos, ig- norando as escalas de flutuagdo das proprieda- des no espago (ou autocorrelagées); *€ va qualquer esperanga de, através de ‘amostragem, definir 03 modelos probabilisticos (ou tipos de distribuigées de probabilidades) que melhor descrevem as varidveis aleatérias, de interesse: os trechos centrais de muitas dis tribuigdes sio muito parecidos ¢ nas caudas as probabilidades s2o t2o baixas que as amostras, para terem poder discriminatorio suficiente, te- iam que ter tamanhos economicamente inacei taveis; definigdes realistas de modelos probabilisticos tm de ser fundamentadas em argumentes fisico-probabilisticos dedutivos (do ‘geral para 0 particulan, ndo estatisticos, ow indutivos (do particular para o geral); um exem- plo tipico & a identificagio de fendmenos fisi cos que conduzem naturalmente, através do Teorema do Limite Central, 20 modelo normal, de Gauss; ‘sembora consagrada pelo uso em contextos em que hd muitos eventos repetitivos, a Estatistica classica (freqilencialista) pode ser substituida com vantagens, no Ambito de Engenharia Civil, ‘em que muitas decisdes tém de ser tomadas so- bre eventos tinicos (mas incertos), pela Estatisti- ca bayesiana, O leitor certamente nao encontrar dificulda- des em reconhecer essas idéias como pano de fundo de todo este capitulo, particularmente dos exemplos. 5.2 CONCEITOS BASICOS: SEGURANCA E ESTADOS-LIMITES Uma estrutura é considerada segura quando pu- der suportar as agdes que vierem 2 solicité-la du- rante a sua vida dtil sem ser impedida, quer per- manente, quer temporariamente, de desempenhar as fungoes para as quais foi concebida, Denomi- nase estado-limite qualquer condi¢io que im- pega a estrutura de desempenhar essas fungdes. A ocorréncia dle estados-limites carscteriza a cha- mada ruina da estrutura. Estrutura nio deve ser entendida meramente como um conjunto de pi- lares, vigas e lajes, tampouco de paredes ¢ estroneas (ou tirantes); entende-se por estrutura um conjunto de elementos (le aco, concreto, madeira, solo, rocha etc.), com comportamentos reol6gicos diversos mas interagindo de forma ‘econémica ¢ segura para atender a uma necessi- dade (ou desejo) do ser humano (Hachich, 1978). Nesse sentido um talude natural pode ser consi: derado uma estrutura se alguém decidir implan- {ar uma obra de Engenharia para o funcionamento dda qual seja essencial a estabilidade do referido talude (uma rodovia, por exemplo). Essa estruturat pode ter que ser reforgada — e deve s@-lo de for- ‘ma econdmica — para garantira seguranca da obra. Os estados-limites tltimas (que alguns preferem chamar de extados-limites de ruptura) correspondem a0 esgotamento da capacidade portante da estrutu- ‘a; por exemplo: esgotamento da capacidade de carga de uma sapata. Os estados-limites de wtilizagao correspondem a situagdes em que a estrutura deixa de satisfazer a requisitos Funcionais ou de durabi dade: por exemplo, recalques exce SEGURANGAOAS FuNDAGceS EEscAVAcoES | 197 5.3 A SEGURANCA NO PROJETO 5.3.1 Projeto = Concepcao + Andlise + Aplicagao dos critérios de seguranca Apés a fasz de concepgio, a primeira providén- cia para poder projetar uma estrutura econémica ¢, a0 mesmo tempo, garantir a sua seguranca é a previsio do seu comportamento sob as ages 2 que ela estar sujeita na sua vida Gtil. a fase do rojeto denominacla andlise (ou “cilculo"), na qual € quantificado 0 comportamento das estruturas. AAs grandezas que exprimem esse comportamento, podem, entio, ser submetidas aos critérios de pro- jeto ligados 3 seguranga. 1508 S10 os crtérios, caracterizando-se cada ‘um pela sistematica de introdugao da seguranca pela escolha do indicador da seguranga. Cada mé- todo procura sistematizar a verificagio da segu- ranga ¢ criar indices (ou coeficientes) que a tor- nem mensurivel, A razio de ser da distancia — medida por esses indices — entre as situagdes de utilizagao normal ¢ as situagdes de nuina é 2 variabi- lidade das geandezas envolvidas no projeto, além de outras incertezas ¢ erros que serio discutidos mais adiante. 5.3.2 Métodos deterministicos 5.3.2.1 © método das tensdes admissiveis (© método das tensdes acmissivels foi por muito tempo utilizado no estabelecimento de critérios de projcto ligados & seguranca, Segundo esse método, em nenhum ponto da estrutura a tensio deveria ultrapassar, em condicio de utilizagio, a tensio admissivel do material (afastada da tensio de es- ‘coamento ou ruptura por um apropriado coefici- cente de seguranca). Dada a freqiiente ndrlinearidade das relagdes entre agdes e tensées, particularmente nia iminéncia de um estado-limite ditimo, © método podia levar a solugdes excessivamente conservado- ras em certos casos (dle Zagottis, 1975). Esse método, no entanto, nunca chegou a ser largamente utilizado em Mecnica dos Solos e En« genharia de Fundagdes, exatamente pela dificul- dade hist6rica de determinagio das tensdes atuan- tes nas esiruturas de solo, que sdo em geral maci- {¢25, 10 contrdrio da grande maioria das estruturas de conereto ou de aco que, sendo reticuladas (vi- 2, pilares ete.), podem ser analisadas por méto- los simplificados. De fato, enquanto quase todas as estruturas de concreto e aco podiam ser analisa- das pela Resistencia dos Materiais, a Mecanica dos Solos tinha que recorrer diretamente & Teoria «la Elasticidade (Solugdes tipo Boussinesq, Newmark, Love ete.) ¢ & Teoria da Plasticidade (solugdes tipo Prandtl-Reissner, Kétter, Sokolovsky etc.) 198 | runcacdes:teomme reknca 5.3.2.2 © método do equilibriotimite e sua relagao com 0 método dos estadosslimites Na Engenharia Geotécnica 0 método mais frequentemente utilizado foi sempre 0 métouo do ‘equilibrio-limite. Nesse método 0 coeficiente de seguranga pode ser interpretado tanto como 0 majorador de agoes (coeficiente de seguranca ex- terno) quanto como 0 minorador de resisténcias (Coeficiente de seguranca interno) que cond 2 estrutura 2 iminéncia de colapso. ‘Trata-se da normalmente denominada “seguran- ‘a contra a ruptura”, traduzida nos critérios de pro- jeto relativos & capacidade de carga, Complemen- tarmente exige-se a verificagio contra deslocemen- tos excessivos: a “seguranga contra recalques" da Engenharia de Fundacoes. Casos hi, porém, em que a previsio de desloca- mentos (que exige, normalmente, recurso pelo ‘menos a solugdes da Teoria da Elasticidade) nao chegou a se incorporar s rotinas de projeto. Os muros de arrimo € as escavagdes escoradas enqua- dram-se nessa categoria. Nesses casos adotam-se regras empiricas de limitagio de deslocamentos, algumas das quais implicam Fusio dos dois eritérios de seguranga em um nico, ligndo ao equiliri-limi- te, conforme se discutiré mais adiante. A definigao do coeficiente de seguranca como externo ot interno deu-se por tradi¢io e pelos condicionantes fisicos: sempre que fazia sentido licar um carregamento por dois ou trés (como na avaliagdo da capacidade de carga de funda- ‘G0es), parecia licito aplicar um coeficiente de se- ‘guranga externo; por motivos Sbvios tal definigo no seria apropriada para situagdes em que 0 peso proprio fosse © principal carregamento (esiabili- dade de taludes, por exemplo). Dessa forma, consagraram-se coeficientes de seguranca muito diferentes para medir seguran- a5 supostamente semelhantes. O grafico da Fi- ‘gura 5.1 (Hoeg ¢ Murarka, 1974) apresenta a com- Vat 12 13 14 15 &, Figura 5.1 - Comparagao de cocficienter de seguranga externo interno paracio das duas possiveis definigdes do coefici- ente de seguranga, numa situagio em que, em Principio, ambos seriam aceitiveis (capacidade de canga de sapata). A nio linearidade se deve exata- mente 2 jf discutida nao linearidade entre ages ¢ tens6es. © método do equilibrio-limite da Engenharia Geotécnica encontra um paralelo bastante proxi- mo no método dos estados-limites adotado na fi xagio de critérios de seguranga clas estruturas de outros materiais (principalmente concreto € aco), embora este ditimo se restrinja essencialmente a coeficientes de seguranga externos. 5.3.2.3 Coeficientes de seguranca par primérdios dos métodos probabilisticos A indagacio quanto a solidez dos argumentos a favor da utilizacio de coeficientes de seguranga internos ou extemnos levou naturalmente a0 reco- nhecimento explicito do cariter aleat6rio das ages das resistencias e, consequentemente, a possibi- lidade de se utilizarem coeficientes de seguranga distribuidos entre as diversas variiveis e proporcio- nais &s respectivas incertezas. Brinch Hansen (1953, 1956, 1967) foi um pio- neiro dessa formulagio na Mecinica dos Solos, antes ainda que 0 assunto despertasse o interesse do CEB e de outras associagdes de normalizagao nacionais e internacionais. As idéias probabilisticas floresceram no CEB, principalmente gracas a Eduardo Torroja, cujas pesquisas em muito contribuiram para a expres- ‘slo desses conceitos dle seguranca na forma de regras praticas para a normalizagio, ‘© CEB tragou um caminho para a evolugio dos critérios de projeto relacionados a seguranca, de forma que eles se tornassem progressivamente mais racionais. Hachich (1978) apresenta um resumo dessa proposta. O primeiro passo seria o método semiprobabilistico. 5.3.2.4 © método semiprobabilistico A introdugdo do método semiprobabilistico para as estruturas de concreto e ago praticamente con- sagrou a utilizaclo de coeficientes de seguranca parciais. £ dificil fugir, atualmente, a essas formu- lagdes, mesmo na Engenharia Geotécnica. A NBR- 6122, por exemplo, admite tanto a utilizagio de co- eficientes de seguranca globais quanto parciais. A-esséncia do método semiprobabilistico é trans- formar valores caracteristicos das grandezas em valores de projeto (sto €, valores extremos) pela aplicagio de coeficientes' de ponderagio. O mé- todo semiprobabilistico introduz ciente de ponderagio, avaliado empiricamente, re- lacionado com as consegiiéncias da ruina. A con- digo de verificagto da seguranca é que as solici- tagdes de cilculo niio excedam as solicitagdes-li- mites de cilculo. Sempre que se utilizava um coeficiente de se- ‘guranga tinico ficava explicita uma medida da se- ‘guranga. A qualidade dessa medida era discutivel € discutida (Hachich, 1978, de Zagottis, 1975). O ‘grifico da Figura 5.2 (Lacasse ¢ Goulois, 1989) deixa claro que 0 coeficiente de seguranca real- mente nio mede a seguranca. A Figura 5.1 tam- bém ilustra uma outra situagao, com seguranca Gnica, que comportaria valores bastante diversos de coeficientes de seguranca, dependendo da de- finicio adotada. No entanto, € inegavel que os profissionais da frea ja estavam acostumados a conviver com as diferentes dlefinigces e com valo- res dos coeficientes de seguranga, cue dependiam do tipo de obra, das variabilidades etc. Com 0 método semiprobabilistico perdeu-se esse indicador nico. Na concepcio do CEB, porém, esse método era, num certo sentido, um aprimora mento do denominado Nivel I ¢ deveria ser visto apenas como uma etapa de transigio para os mé- todos probabilisticos de niveis Ile Ill. Lamentavel € que no dia-a-dia do projeto (e da utilizagio me- Cinica das normas) se perca de vista esse cariter de transicio € muitos dos conceitos probabilisticos que nortearam as recomendagées do CEB. 5, baixos 5s, altos y 1,0 15 (20) 25 Coeficiente de seguranga, F Densidade de probabilidade Figura 5.2 - Coeficiente de seguranca vs. seguranca 5.3.3 Métodos probabilisticos Ao mesmo tempo, diversas propostas de formu- lagio da seguranga em termos probabilisticos sur- n-no Ambito da Mecanica dos Solos ¢ Enge- nharia de Fundacdes, algumas das quais j4 correspondiam aos niveis mais avancados visualizados pelo CEB (Cornell, 1971, Wu ¢ Kraft, 1967, Wu, 1974, Hdeg © Murarka, 1974, Kay € Krizek, 1971, Lumb, 1970, Nascimento e’Faleao, 1971). A obra magistral de Benjamin ¢ Cornell 4970) é, sem divida, um dos marcos mais rele- vantes desse processo. © conjunto desses trabalhos também apontava para uma possivel evolugio em etapas: secunancapas FuNoaccese escavmcoes | 199 ‘*determinagic da variabilidade dos coeficientes de seguranga (isto é, seu desvio padrio, s,), panti- ccularmente através de métodos de primeira ordem € momentos de ordem 2 (First Order Second Moment) ou através de simulagdes (Monte Carlo}; + substituigio dos coeficientes de seguranca pres- critos por indices de seguranga prescritos, que jf incorporassem a variabilidade; 0 indice de se- guranga é definido como B = (m,- 1) /s,, onde m, € 5, Si0, respectivamente, a média e o desvio padrio do coeficiente de seguranca; B mede a distincia entre as situagdes de utilizagio (F = m) € de raina (F = 1) em unidades de desvio padrio (s,); como a variabilidade também esti incorporada ao indice, B guarda uma melhor re- lagio com a seguranca do que 0 coeficiente de seguranga, havendo portanto melhores chances de universalizagio de um valor prescrito tnico — ou quase tinico, jf que o indice nao incorpo- ra nem 0 tipo de distribuigao probabilistica nem. a responsabilidade da obra, ou seja, as conse- quiéncias de «uma eventual ruina — de B (valo- res proximos de 3 sto freqiientemente citados); *substituigio de indices de seguranga prescritos por probabilidades de nuina prescritas, apés a adogio criteriosa de funcdes clensidade de pro- babilidade para o cilculo da probabilidade de ruina, PIF<1) = p; ‘substituigio das probabilidades de ruina pres- critas por probabilidades de ruina decorrentes da minimizagio do custo esperado, C, = C,# p« C, onde C, € 0 custo inicial (cus to de cons:n.¢io) € C 0 eusto de uma eventual ruina, que pode sobrevir com probabilidade p; C, aumenta quando se impoe seguranca maior (p menor), mas a curva C, = f(p) passa por um minimo, que define a seguranca (p) economica- mente mais eficiente. Esse continua sendo, na opiniio do autor, um caminho seguro na diregao de melhores critérios de projeto relacionados & seguranca 5.4 TIPOS DE INCERTEZA As incertezas presentes nos projetos de fundagdes € escavagdes podem ser classificadas em: ‘intrinseca: € a incerteza natural ou fundamen- tal, proveniente da propria aleatoriedade dos fendmenos naturais (ventos miximos anuais, padroes geolégicos de deposigao ou de intemperismo etc.); ‘sestatistica: € a incerteza na estimativa dos parimetros dos modelos adotados (por exem- plo, resisténcia média do solo de fundacio), pro- veniente da falta ou insuficiéncia de dados ou informagdes; pode ser reduzida a custa de amostragens maiores; * de modelo: € a incerteza quanto ao mode- lo adotado para descrever 0 fendmeno; cabe aqui 200 | runcacoes:teoRne PeATICA ressaltar que ha dois tipos de modelo em jogo e que ha incertezas em ambos: + 0 modelo fisico de comportamento, por exem plo, os mecanismos de desenvolvimento de ‘empuxos em paredes de escavacdes; * 05 modelos probabilisticos (normal, log-nor- ‘mal, exponencial, binomial, Poisson etc.) ut lizados para descrever as variaveis aleatéri do modelo fisico (por exemplo, a distibui- si0 de resistencia do solo de fundacio). A incerteza de modelo também pode ser -edu- Zida pela obtenco de dados adicionais, mas rara- mente os beneficios potenciais para um projeto nico justificam o investimento necessirio para se obter essa reducio, Solugdes de Engenharia resultam sempre de uma simbiose entre racionalismo ¢ empirismo. O engenheiro em ge ral coneebe um modelo de comportamento — ba- seadlo em sua experiéncia — e adota solugdes com base nesse modelo, mesmo reconhecendo que modelos mais complexos talvez pudessem des- ‘crever melhor os fenémenos fisicos. Para que el concorde em utilizar modelos mais sofisticados, indispensavel que the sejam claramente indicadas as vantagens priticas dlesses modelos. E, como se sabe, modelos mais complexos exigem um maior niimero de parimetros. O custo dos ensaios adi- cionais necessirios 2 determinagio dos novos parimetros pode nao se justificar perante a redu- ‘lo das incertezas (sto é, perante a possibilidade de Utilizagio de coeficientes de seguranga menor). Entre as incertezas de modelo (ou de método de cilculo) hi uma que nao pode deixar de ser discutida aqui. Qual o significado dos coeficientes de seguran- 2 utilizados nos cilculos de empuxos? Segura- Mente nao est2o eles ligados exclusivamente as incertezas das variveis envolvidas no célculo das solicitagdes e das solicitagdes-limites. Hii um inte- resse inequivoco em forgar uma maior distincia em relagio ao estado-limite ditimo no pelos rscos impostos pela variabilidade das agdes resis- téncias, mas pela necessidade de limitagio de deslocamentos, Trata-se tipicamente da seguran- 4 contra um estado-limite de utilizagdo que esti sendo introduzida através de critérios aplicados 20 estado-limite diltimo, simplesmente devido a dificuldades de andlise ligadas 4 avaliagao do ‘campo de deslocamentos. Situagio semelhante ocorre no projeto de estru- turas de solo reforcado, quando se escolhem dife- rentes coeficientes parciais de seguranga, Uma hi- pptese bastante comum consiste em considerar um Coeficiente parcial muito elevado para a resisténcia do elemento de reforgo aos esforcos transversais Gorante ¢ fletor). No limite essa resistencia chega 4 ser desprezada (coeficiente com valor infinito). Essa restriclo ¢ claramente desproporcional a in- certeza na determinagdo dessas resistencias, No Brasil, a nao utilizagio de ensaios pressiométicos poderia justificar uma incerteza 1m pouco maior, mas é evidente que a explicaclo nao € essa, posto que 0 mesmo procedimento em retagao aos coefi- tes parciais prospera também na Europa. A pri- ica, conforme muito bem explicado por Cardoso e Fernandes (1986), se deve a0 fato de a resistencia A traglo nos elementos de reforgo ser mobilizada para pequenas deformacdes, enquanto deforma- Ses muito maiores sto necessirias para mobilizar a resistencia 3 flexao e ao conte. Assim sendo, quan- do se pretende que o talude tentia deslocamentos pequenos, convém impor que somente os esfor- cos de tracio desenvolvidos no reforgo sejam res- ponsiveis pela estabilidade, 0 que normalmente ‘se faz considerando apenas essa contribuigio do reforco na anilise de equilibrio-limite. £ essa, por exemplo, a hipétese do processo de Davis (Shen et al,, 1981). E, mais uma vez, a seguranga contra um estado-limite de utilizagio € introduzida num ctitério de estado-timite tikimo Conforme se pode observar, as incertezas in- corporadas aos indicadores de seguranga vio muito além da mera descricio da variabilidade das gran- dezas envolvidas. 5.5 O PAPEL DOS MODELOS PROBABILISTICOS 5.5.1 Consideracées preliminares Conforme jf se discutiu, diante do cariter incer- to dos pardimetros ¢ dos modelos fisicos que des- crevem 0 comportamento das fundagdes, 0s mo- delos probabillsticos estio no cere da ‘questo da seguranga e, certamente, estio no futuro da maioria das normas. A utilizagao de coeficientes de seguranca ou de coeficientes de ponderacio s6 pode ser vista como ‘uma etapa intermedia durante a qual nao é ain- da pritico (por falta de dadlos ou de familiarida- de) estabelecer prescri¢des em termos probabilisticos (Borges ¢ Castanheta, 1971). As preserigies de nomas devem, de fato, fazer re- comendagdes relacionadas com a seguranca que ga- rantam transicOes suaves para novos métoxios. De- ‘vem, a0 mesmo tempo, basear-se em informagbes as mais completas possiveis sobre cada assunto, Em particular quanto seguranca, nto i outra saa para a especificacio racional de coeficientes de segu- Tanga ¢ amostragem sendo a utilizacio de modelos probabilistcos, conforme se exemplificari a seguit. 5.5.2 Seguranca de grupos de estacas como um problema de confiabilidade de sistemas E freqiiente ouvir-se falar que estacas que tra- balham isoladamente, com cargas mais elevadas, representa um risco maior do que estacas me- nos carregadas, trabalhando em grupo. As normas, no entanto, dificilmente traduzem esse fato em recomendacdes priticas de coeficien- tes de seguranca mais elevados (sejam eles parciais, sejam eles globais) para estacas isoladas (ou em gru- os menores). Para que se possa chegar a uma recomendacio til € preciso passar das especulagées qualitativas As quantificagdes, para as quais os modelos probabilisticos si0 0 tinico caminho. Esse problema ¢ tratado a seguir na forma de um exemplo hipotético de escolhs entre grupos de cinco ou de duas estacas para suportar um pi lar com uma carga de trabalho de 2000 kN. As hipéteses que se fazem a seguir sio extre- ‘mamente simplistas e visam exclusivamente a cha- mar a atengio para 0 potencial de racionalizagio oferecido pelos modelos probal Admite-se que 0 estado-limite Gitimo de um pi- lar sera atingidlo se estacas responsiveis por pelo menos 33% da carga de trabalho do pilar at rem 0s respectivos estados-limites siltimos. A ru nna de blocos de até 3 estacas ji € caracterizada, portanto, pela ruina de uma tinica estaca, enquanto blocos dle 4 a 6 estacas ruirto se pelo menos 2 das estacas ruirem, ¢ assim por diante. Se se imaginasse que as probabilidades de rui- nna de cada estaca de um bloco fossem eventos independentes, seria muito significativa a redu- a0 das probabilidades de ruina dos blocos maio- res, mesmo para probabilidades de ruina indi uais relativamente altas. O gréfico da Figura 5.3, por exemplo, foi desenvolvido para PIE] = p = 0,02 = probabilidade de ruina individual da esta- ca (observar que 0 eixo das ordenadas esti em escala logaritmica), £ intuitivo que o efeito real do é tdo pronunciado; a questio est exatamen- te na hip6tese de independéncia. 1008-01 1,008-02: 1,008.03. 1,008.04 Probabilidade de ruina do bloco TQ nesta ars ‘Niimero de estacas no bloco canes Figura 5.3- Probabilidade de ruina de blocos de cestacas mutuamente independentes Quando se fala na ocorréncia de dois eventos, E, © E, (ruina da estaca 1 ¢ ruina da estaca 2), vale a'segiinte relacdo probabilistca seauranca ons runoacosseescavncoes | 201 P(E, O Eq] = PLE,|E,} © PIE,) Somente se os eventos sto independentes a pro- babilidade da intersegio seri igual a0 produto das probabilidades individuais, pois somente nesse ‘caso tem-se PIE, [Ej] = PIE,L. Observe-se, aliés, que no caso de dependéncia perfeita tem-se PIE, |E,] = Le, em conseqiiéncia, a probabilidade da inter- seco permanece exatamente igual 3 probabilida- de individual A hip6tese de independéncia nao se verifica, ‘em geral, para os grupos de estacas. De fato, ain: dda que seja licito admitir a indepencléncia quan- to a0 comportamento estrutural das estacas, 0 resultado final esti também influenciado pela interacdo estaca-solo ¢ a variabilidade relativa- mente pequena das condigées do subsolo sob tum tinico bloco certamente introduz um certo nivel de dependénc Para explorar esse ponto tatou-se a ruina de cada estaca como um problema de confiabilidade de sistema. Trata-se dle um sistema associado em série (como elos de uma corrente). A probabilida- de do evento E, ruina da estaca, pode ser calcula- da como a probabilidade da unio de dois even- tos: ruina do elemento estrutural (C) ou ruina da interface (S): PIE) = PISUC) = 1-PIs Ac), ‘onde S° e C® indicam as probabilidades comple- mentares (de ndo ocorréncia das ruinas respecti- vas). Como S e C podem ser considerados even- tos independentes, pode-se ainda eserever: PIE] = 1 - C1 PISD * (1 PICD = py # Pe= Py * Pe © raciocinio pode ser entio estendlido para duas estacas de um mesmo bloco. para se obter PIE, AE). Na dedugio admitiu-se PIC,|C = PIC), {sto é, comportamento estrutural independente, ¢ PIS, |S,) = p,*. A expressio final fica: PIE, 0 E,)= pelpc+2.p.C-P IMD, -P).A-2.P¢¢ PED Na Tabela 5.1 apresentam-se as probabilidades de ruina de duas estucas ¢ da estaca individual, calculadas a partir das expressées acima deduzidas, para diversas probabilidades de ruina do elemen- to estrutural € para uma probabilidade de ruina fixa da interface, Os valores escolhidos, mais uma vez, sio meramente ilustrativos. Admitiu-se uma variagio de p,* entre p, Cindependéncia) © 1 (de- pendéncia perfeita) Voltando a0 exemple hipotético, a nuina do blo- co de 5 estacas seria deflagrada pela ruina de pelo ‘menos duas delas, enquanto a nuina de uma Ginica jf bastaria para caracterizar a ruina do bloco de uma estaca. No intuito de nao complicar em de- masia 0 exercicio, adotou-se a probabilidade de de exaramente das estacas como se fosse a probabilidade de ruina de pelo menos duas esta- «as, Para probabilidades baixas como aquelas aqui consideradas 0 erro € pouco significativo. Como as conseqiiéncias da ruina de um bloco podem ser consideradas semelhantes, seja ele de duas ou de cinco estacas, um critério plausivel para se chegar a um projeto equilibrado seria im- Por que ambos os blocos tivessem a mesma pro- babilidade de ruina. Consiclerando-se que estives- sem adequadas as probabilidades de ruina do blo- co de 5 estacas, procuram-se portanto os coefici- centes de seguranga a serem aplicados ao bloco le 2 estacas para que a sua probabilidade de ruina seja reduzida aos mesmo nivei 5 calculos foram efetuados a partir dos dados da terceira coluna da Tabela 5.1, isto é, correspondem a PiC}=0,01. Além disso adotou-se como referéncia a situacto extrema de indeper déncia (segunda linha, correspondente ap,’ p, = 0,01), para a qual PIE, © E,! = 3,96 . 10°. inves: tigardo-se quais os incrementos de coeficiente dle seguranga necessirios para reduzir a esse mesmo valor as probabilidades de ruina das estacas de- ‘Tabela 5.1 Probabilidades de ruina de duas estacas e de estaca Unica em funcdo das probabilidades de ruina dos ‘componentes, P[C} {elemento estrutural} e PS [interface], para PIS] = P, = 0.01 Probabiidade de nd 100603 1.00602 5,008.02 1.00601 Pis2isiy 1.00602 T2604 396508 358603 T1902 2.00601 2.02.03 2.26603 5.26603 1.38602 4.00603 401603 |» 4.22603 7,085.03 1,506.02 6.00801 9.01603 6.18603 9.97603 1.67602 8.00601 3.00603 8.14603 107602 1.83602 1.00500 1,003.02 LoIe02 1.25602 1.99602 nica 1.10602 1.99602 5.95602 1,096.01 202 | runoacces:Teowne PeATICN pendentes (0,2 S p,* $ 1) € da estaca Gnica, Para tanto admitiu-se que todos os valores da Tabela 5.1 derivassem de um dinico tipo de distribuigio do coeficiente de seguranga € que a redugio das probabilidades fosse obtida exclusivamente pelo aumento do coeficiente de seguranca médio, mantida constante a dispersto. Adotou-se distr- buicio normal para 0s coeficientes dle seguranca, invocando 0 Teorema do Limite Central, Todas cessas hipdteses encontram respaldo na fisica da interagao estaca-solo. A Figura 5.4 apresenta os resultados obtidos, para trés valores de referéncia do coeficiente de seguranga médio, No eixo das abscissas a afinida- de entre as estacas do par é representada pela probabilidade condicional, p,*. Ss F (coeficiente de seguranga) 0 0,01 0,2 04 0,6 08 1,0 Unica Afinidade entre estacas do grupo (p’,) Figura 5.4 - Variagao do coeficiente de seguranga de blocos de estacas para manuten¢do da mesma sequ- ranga Conforme se pode observar, em alguns casos seriam necessirios incrementos significativos no coeficiente de seguranga. No entanto, mais do que os valores especificos, fica a proposta de uma ‘metodologia para tratamento quantitativo da ques- tao de seguranca de grupos de estacas. 5.5.3 Interpretacao de provas de carga 5. 1 Conceituagaio As provas de carga ocupam um lugar parte na questio da seguranga. Cabe discutir inicialmente, a diferenca entre pro- vas de carga destinadas a dirimir davidas sobre 0 comportamento de elementos de fundacio espe- cificos ¢ aquelas destinadas a verificar a conformi- dade da obra de fundagio executada as premis- sas do projeto. As primeiras merecem uma interpretacio “ad hoc” € as decisoes dependem das caracteristicas de cada caso especifico: reservas da fundagio sob © ponto de carga considerado, reservas da estru- tura e possibilidades de redistribugio de esfor- ¢g0s etc. Um resultado insatisfat6rio de uma prova de carga do primeiro tipo ndo é, via de regra, es- tendido a toda 4 obra; afinal, a prova de carga foi realizada porque foram levantadas suspeitas a res- peito cle um particular elemento. Nio € ponto pa- cifico, porém, que o eventual defeito esteja restri- to aquele elemento € muitos consultores s tam, na seqiéncia, provas de carga sobre outros elementos. J4as provas de carga do outro tipo destinam-se a confirmar se o elemento de fundzgio consegue suportar a carga de trabalho prevista, com o coe- ficiente de seguranca adequado (seguranca con- tra estado-limite Gitimo) e com deslocamentos acei- tiveis para a superestrutura (Seguranga contra es- tadlo-limite de utilizagao). Nese tipo de prova de carga espera-se que 0 re- sultado de um elemento de fundagio, seja ele satisfat6rio ou insatsfatorio, revele algo sobre o com- portamento de todos os clemais elementos. Afinal, ‘embora haja chances de o subsolo reservar surpre- sas de origem geol6gica, as estacas foram fabricadas, ‘eventualmente transportadas ¢ instaladas pelo mes- mo fornecedor, sendo de se esperar, portanto, algu- ma afinidade de comportamento ente elas. A interpretagio das provas de carga pode ser vista, nesse caso, como um problema de inferéncia estatistica, de indugo do comportamento da po- pulagio a partir do comportamento de uma amos tra, tal como se faz (com amostras bem maiores!), no controle tecnol6gico do conereto, para a ‘lo ou rejeicto de um lote. No ambito da Engenharia da Qualidade esse pro- blema recebe, em geral, um tratamento baseado nos testes de hipétese da Estatistica clissica. Al- temnativamente ele pode receber o tratamento da Estatistica bayesiana. O autor é francamente favo- rivel a esta Gltima, particularmente para situagdes de pequenas amostras ¢ de eventos Gnicos, aos ‘quais nio se aplica a definigio frectiencialista de probabilidade. A maior parte das decisdes da En- ‘genharia Civil esta ligada a eventos desse tipo, em ‘que a probabilidade s6 pode ser vista como’ um grau de convic¢io racional, ou grau de confir- magio (Borges ¢ Castanheta, 1971). raramente ‘como uma freqiéncia relativa. Para tas situagées a Inferéncia Bayesiana e a Anilise de Decisées parecem ser as ferramentas mais adequadas (Hachich, 1988). De qualquer forma, ambas as vi- 80es so apresentadas a seguir. 5.5.3.2 Provas de carga como um problema de inspesao por amostragem da Estatistica classica De acordo com os testes de hipétese da Estatist classica, em toda inspegio por amestragem todos correm algum risco: 0 fornecedor pode ver rejeitado SEGURANCADAS FuNoACOESE EscAvacoes | 203 um lote satistatrio (erro tipo I, com probabilidade 0); © consumidor pode aceitar um lote inadequado (erro tipo Il, com probabilidade B). Esse & 0 prego inevi- tvel de nao se fazer uma inspecdo 10036. Pior do que isso, quando se tenta reduzir 0 ‘co do fornecedor, reduzindo of, aumenta-se simultaneamente 0 risco do consumidor. Wonnacott ¢ Wonnacott (1977) apresentam una interessante analogia juridica: num caso de as- sassinato cabe ao jtiri decidir entre a hipétese de inocéncia ¢ a de culpa do acusado. Um erro tipo I sera cometido se um inocente for conde- nado, enquanto um erro tipo II resultara da ab- solvigio de um assassino. A adverténcia do ju a0 jai de que a culpa deve ser provada além de qualquer divida razoivel significa exatamente que 0 valor de @ deve ser muito pequeno. Di versas limitagdes ao trabalho da exemplo na obtengao de confissoes, visam exa- tamente reduzir c. Essas mesmas medidas, no entanto, aumentam B. A tinica forma de reduzir simultaneamente & € & com evidéncias adicio- ais. No caso da inspegio por amostragem, s6 com amostras maiores. Dado que fornecedor ¢ consumidor correm ris- cos na inspecio por amostragem, € que os objetivos slo conflitantes (nao se reduz. B sem aumentar @), & importante que as decisbes a serem tomadas em fun- ‘G20 dos resultados sejam claramente estabelecidas “a priori” e que essas decisoes sejam balanceadas, de modo a nic apenar desmesuradamente nenhu- ma das partes. A principal critica aos métodos da statistca classica esta exatamente na sua incapaci- dade de ponderar explicitamente essas decisoes part a fixigio do nivel do teste, a. Figura 5.5 compara duas curvas caracteristicas de operagio (CCO) de planos de amostragem, in- dicando os orrespondentes niveis de qualidade € riscos do pradutor e do consumidor. As CCO, que so a representacao grifica do plano de amostragem, sio obtidas a partir dos testes de hi- potese da Estatistica, de acordo com o modelo probabilistico do experimento. No caso de inspe- ‘lo por atributos, por exemplo, em que o resultado de cada ensaio & simplesmente sucesso ou fracasso, pode-se adotar © modelo de Poisson se as fragées de amostragem (razio entre 0 tamanho da amostra 0 tamanh d> lote) forem inferiores a 10%. Con- forme irdicade na figura, curvas mais ingremes re- duzem os riscos de ambas as partes, mas 86 podem ser obtidas através de pkanos de amostragem mais rigorosos: amostras maiores (maior n) ou critério de aceitagio menos complacente (menor a). Noma primeira aproximaclo poder-se-a pensa em estabelecer como meta a obtengio de um ni vel de seguranca semelhante para as diversas obras "A inspegio 100% $6 & economicamente vidvel em estacas eravadas, staves do monioramento dinimico. As conse Qléneias priticas da diferencs entre a inspeqlo por ‘onitoramento dinimico € 3 inspecio por prova de carga serlo disctidas no item $5.34 204 | runoacoes:teomne reAnCA B,= 108. Biase 1. a Figura 5.5 - Curvas caracteristicas de operagao de planos de amostragem de fundagdes, ou seja, garantir que 2 porcenta- gem de elementos defeituosos em uma obra, p, ino excedesse um certo limite (QL na Figura 5.5). Esse critério seré adotado temporariamente, até ‘que, mais adiante, se demonstre que hi outro mais concizente com a pritica em vigor. A probabilidade de 5% € muito utilizada, no con- texto da seguranca, para definir valores caracter ticos. Uma primeira idéia seria, portanto, fixar QL em 5%. Conforme se veri, porém, essa escolha levaria, segundo eritérios estatisticas eldssicos, a planos de amostragem totalmente incompative com a pritica atual. Nos exemplos a seguir apre- sentados adotar-se-4, por conveniéncia, QL*33%. Embora esse valor jd tenha sido adotado no item 5.5.2, no se trata de uma recomendago do au- tor. Pelo contririo, & primeira vista parece que 0 nivel de seguranca aceitivel deveria estar associ doa um valor bem menor. A intengio do autor ¢ ‘exatamente suscitar a discussio em torno das h poteses nio declaradas ¢ dos valores implicitos nos planos de amostragem vigentes. Considere-se, como referencia, uma obra com 60 estacas de um determinado tipo. Trés dessas estacas devem ser submetidas a provas de carga, de acordo com a NBR-6122 (em funcio do tipo de estaca escolhido e da carga de trabalho). A norma mao € explicita quanto 30 critério de aceitacio (como seria desejivel), mas supde-se que a obra 6 seri considerada segura se todas as trés provas de carga apresentarem resultados satisfat6rios. Com QL*33%, n=3 e a0 chega-se a B =30%: ha 30% de chance de 0 consumidor considerar fatGria uma obra com mais de 20 (33% dle 60) estacas defeituosas! Se a obra tivesse 200 estacas (6, portanto, 10 provas de carga). ter-se-ia B=!,8% Esses niimeros demonstram que a fragio de amostragem constante (5% no caso), com nivel de seguranca constante (QL.=33% no caso), no ga- ante riscos uniformes em obras de diferentes portes. Exemplos ilustrativos semelhantes a esse 'sio muito comuns nos textos clissicos de contro- le da qualidade Quran, 1980), sempre para desqualificar planos com’ fragio de amostragem constante. Mas é um fato que se utilizam amostras maiores em obras maiores, exatamente para re- duzir os riscos para ambas as partes (CCO mais fngreme na Figura 5.5). Ou seja, a meta basica parece niio estar relacionada simplesmente com 0 nivel de seguranca, mas também com o nivel de isco. A Estatistica clissica nao fornece, todavia, nenhum critério objetivo para a fixagio do nivel de risco. Esses niveis acabam sendo adotados por tradigio ou consenso, e vio sendo devidamente validados ¢ ajustados 0 longo dos anos, em fun- ‘go do desempenho obtido. E assim que se deve- ria proceder também no caso de fundagdes, caso se pretendesse evoluir num plano de amostragem fundamentado na Estatistica clissica. No que se segue se adotari provisoriamente B =10%, que & tum valor do erro tipo II freqlentemente encon- trado em controle da qualidade. Voltando agora & questo do valor de QL: se no exemplo acima se adotasse QL=5%, seriam neces- sirias 45 provas de carga para que B ficasse limita- do a 10%. Esse nimero de provas de carga corresponderia a uma fragio de amostragem de 759% na obra menor ¢ de 22,5% na obra maior (admitindo-se, para nao perder o foco da questio principal, que continuasse vilido 0 modelo robabilistico adotado)! Como ninguém pensaria seriamente em especificar um tal ntimero de pro- vas de carga, fica patente a necessidade de uma discussio técnica para fundamentar a fixagio de QL, ou seja, para definir o nivel de seguranga ace! tivel (além do nivel de risco, conforme discutido cima). Discute-se a seguir 0 ajuste da fracio de amostragem ao nivel de solicitagao das estacas. Retomando © exemplo da obra com 200 estacas € 10 provas de carga, e considerando agora B =10%, chega-se a QL=20%. Se aquelas 200 estacas fos- sem substituidas por 100 com carga de trabalho duplicada, seriam necessarias as mesmas 10 pro- vas dle carga, pois para estacas com cargas de tra- balho maiores a NBR-6122 recomenda fragio de amostragem de 10%. A essa recomendagao corresponde, portanto, o mesmo QL=20%, ou seja: apesur da maior responsabilidade das estacas com maior carga de trabalbo, 0 aumento da fragdo de amostragem nao foi suficiente para garantir uma redugio da fragio de estacas com comportamen- to insatisfat6rio. A melhor forma de se levar em conta a responsabilidade dos elementos de fun- 400] = 0,22 Matrizes de verossimithanga como aquela aci- ‘ma apresentada podem ser obtidas diretamente a partir de trabalhos como os de Aoki e Alonso 4989) e de Selby et al. (1989). O segundo desses trabalhos apresenta muito poucos casos de esta- cas de concreto € no primeiro diversas cargas de ruptura de provas de carga estiticas foram deter- minadas por extrapolacio. Esse fato nao invalida, em absoluto, a utiizagio daqueles resultados; re- ‘quer simplesmente que se acrescente um nivel adi- ional de imprecisio devido 4 extrapolacto (outra aplicagio do Teorema de Bayes e outra matriz de verossimilhanga). A dificuldade € meramente ‘operacional € de levantamento dle dados, jamais conceitual. © Teorema de Bayes permite, portanto, a for- mulagio de juizos probabilisticos corretos a res- peito do estado de um estaqueamento, através da combinagio dos resultados de ensaios de moritoramento dindmico com a expresso quan- titativa da imperfeicio desses ensaios, que é a stia fungio verossimilhanga, 5.6 BIBLIOGRAFIA AOKI, N, © ALONSO, U. R. (1989). Correlation between ‘different evaluation procedures of stale and dynamic load tests and rebound, Proceedings of the Twelfth International Conference on Soil Mechanics and Foundation Engineering, Vo. 2, Balkema, Rlo de Janet +0, 1988. BENJAMIN, J. Re SORNELL CA. (1970). “Probabilay, tats, ‘and Decision for Civil Engineers", MeGraw-Hil, 1970 BORGES, J. R.€ CASTANHETA, M. (197). Strctural Safety, segunda ed go, LNEC, margo, 1971 BRINCH HANSEN, J. (1953). Barth pressure calculation, Tse, “The Dan sh Geotechnical stitute, 1953, BRINCH HANSEN, J. (1956). 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