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Palavra de
pioneiro
Tudo começou com o preço do petróleo, estável desde a Segunda
Guerra Mundial. Na década de 1970, o petróleo era uma
commodity estratégica, cujos custos os países consumidores
tentavam manter em níveis aceitáveis. Mas começaram a surgir
alguns indícios de mudanças. Pierre Wack, Kees van der Heijden e
outros planejadores da Shell perceberam isso e se dedicaram à
pesquisa dos eventuais fatores determinantes e seu possível
impacto sobre o futuro da empresa, lançando um conceito que
viria a se tornar fundamental no mundo dos negócios: o de
planejar por meio de cenários, ferramenta que ficou conhecida
como “planejamento de cenários”.
Em entrevista exclusiva a HSM Management, Van der Heijden
relembra a época. O grupo de planejadores apresentou à direção
da Shell dois cenários: um, o do preço estável, tradicionalmente
HSM Management/
aceito na empresa, e outro, que denominaram “crise do
Ano 4 /Número 20/ petróleo”, no qual os países produtores, já reunidos na
Maio - Junho 2000 Organização dos Países Produtores e Exportadores de Petróleo
(OPEP), desencadeavam o aumento dos preços, gerando
escassez. E a empresa pode preparar-se para ambos, mudando a
visão da realidade que os executivos tinham. A entrevista é de
Graciela Biondo e Andrea Cajaraville.
A partir daí, descobriu-se que de tempos em tempos a empresa gastava mais do que
produzia e perdia reservas. No jargão interno, chamavam esses períodos de “vento frio”.
Quando isso acontecia, a direção exigia a redução ou o adiamento dos gastos, o que
gerava tensão. E mais: ficava muito caro interromper os processos planejados,
principalmente quando se estava na iminência de concluí-los.
Para corrigir isso, decidiu-se tentar prever as posições de caixa e enviar uma mensagem
de alerta. A empresa começou a trabalhar com um sistema de “planejamento unificado”.
Todas as operações da Shell no mundo tinham de planejar seus fluxos de caixa e enviá-los
à sede central, onde eram elaboradas as projeções totais. Tratava-se de um conceito nunca
usado até então. As empresas davam seus primeiros passos sem nenhum tipo de
planejamento e administravam seu fluxo de recursos por trimestre. Participei desse
exercício pessoalmente. Não foi fácil: as pessoas achavam estranho falar sobre o preço do
petróleo dentro de cinco anos. Mas nós o fizemos.
Qual foi a reação das pessoas? Foi fácil incorporar o planejamento de cenários à cultura
da empresa?
Se até aquele momento as pessoas pensavam que aquele exercício informal era uma
bobagem, agora estavam convencidas de que só teriam mais trabalho, que nunca daria
resultados. Não podiam ainda perceber que a idéia era decifrar a mensagem que se
escondia por trás dos números. Apesar disso, quando as primeiras tentativas tiveram êxito,
notou-se uma grande mudança de atitude.
Isso parece sugerir um deslocamento relativo do poder: não é tão importante quem tem a
informação, mas quem a utiliza melhor.
Os jogos de poder são sempre difíceis de evitar. De qualquer forma, o trabalho com
cenários ajuda, fundamentalmente porque abre a possibilidade de levar em consideração
mais de um ponto de vista. Ao aceitar a possibilidade de haver mais de um futuro, todos
podem imaginar o seu.
E, assim, melhorar as perspectivas de quem não tem uma posição dominante na empresa?
É preciso que essas pessoas se certifiquem de deixar clara sua posição, de assegurar
seu cenário, já que, dessa forma, ele figurará na agenda de temas. Não se trata de defender
uma posição. Pode-se também prestar atenção a outros cenários, com absoluta sinceridade
e sem medos “territoriais”.
de algum assunto, mas, sim, em preparar o terreno para fazê-lo de maneira eficiente. A
realidade é ampla e, portanto, não é difícil perder o rumo – afinal, acontece muita coisa de
uma vez só.
Portanto, o segundo requisito é propor cenários relevantes para a situação. É
importante dedicar todo o tempo que for necessário para entender onde se encontra a
companhia e quais são seus objetivos. A partir daí é preciso ir um pouco mais além e
incorporar novas idéias ao exercício.
Que detalhe do processo de incorporação dessa arte à cultura da Shell o sr. acha interes-
sante destacar?
Em primeiro lugar, nem sempre tivemos sucesso. Quando entrei na empresa, eu me
propus estudar quais tinham sido os sucessos e quais os fracassos, a fim de aprender com
a pioneira em planejamento de cenários. Fiz uma lista de todos os cenários que tinham sido
desenvolvidos e pedi a todos que indicassem de quais se lembravam, quais tinham tido
algum impacto, vistos anos mais tarde. Foi um exercício muito interessante porque
descobri que havia alguns de que todos se lembravam e outros que tinham desaparecido
completamente de cena. Investiguei os motivos; havia muitos, mas o mais importante foi a
coerência. Descobri que os cenários mais lembrados eram aqueles cujos líderes foram
pessoas com a atitude de se colocar a serviço da equipe de trabalho. Foram esquecidos
aqueles sob a responsabilidade de líderes que tinham uma “agenda própria” ou apenas se
preocupavam em detectar e expor erros ou impor seu ponto de vista. Resumindo, aqueles
casos que eram uma conversa de surdos.