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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

Curso de Graduação em História

NINO XAVIER SIMAS

A Paraíba Aterrorizada: A atuação da Inquisição Portuguesa na Capitania


Paraibana

João Pessoa
2017
INTRODUÇÃO

A edição de 1578 do Directorium Inquisitorum, um tradicional manual inquisitorial, descreve o


seguinte propósito das punições inquisitoriais: “Pois a punição não ocorre primariamente e per se
pela correção e bem da pessoa punida, mas sim pelo bem público para que outros sejam
aterrorizados e assim afastados dos males que cometeriam”. A atuação do Santo Ofício da
Inquisição na Capitania da Paraíba, apesar de amplamente documentada e pouco analisada, nos
oferece um vislumbre do modo de agir dessa organização e no modo de pensar da população cristã
nas nascentes capitanias. Em seu artigo “A Inquisição na Paraíba” na Revista do Instituto Histórico
e Geográfico da Paraíba, o pesquisador Luiz Mott traz à tona os processos inquisitoriais, focando
a sua narrativa nos réus, como uma forma de expor os preconceitos de uma sociedade intimidada
e paranoica. O nosso trabalho busca resumir o seu artigo e adicionar informações sobre a estrutura
dos familiares da inquisição, ressaltando a sua cumplicidade e favorecimento.
DESENVOLVIMENTO

A atuação do Santo Ofício da Inquisição na Capitania da Paraíba foi fortemente


significativa no contexto brasileiro, sendo a terceira capitania com maior incidência de habitantes
denunciados ou processados. Entendendo a cobertura desse caso como “superficial e incompleta”,
o autor Luiz Mott (em seu artigo “A Inquisição na Paraíba” na Revista do Instituto Histórico e
Geográfico da Paraíba) busca compilar informações e criar uma lista completa dos paraibanos e
moradores da região processados por essa organização, assim lançando uma luz sobre a forma que
essa manifestação de ortodoxia religiosa encontrava a cultura popular da região.
Com a missão de investigar, expor e punir comportamentos fora da ortodoxia católica
(principalmente as heresias advindas de outras religiões e os “desvios na conduta sexual”), a
Inquisição era forçada a agir de maneira remota no Brasil – como nenhum de seus tribunais chegou
a ser aqui instalado, fazia-se necessário enviar Visitadores para as capitanias. Os atos do Visitador
Heitor Furtado de Mendonça, que chegou à cidade de Filipeia de Nossa Senhora das Neves em 6
de janeiro de 1595, expõe o modus operandi de seu cargo: Após a sua chegada previamente
anunciada via carta, ele é recebido com pompa pelo governador local e dois dias depois empreende
o “Ato de Publicação”, que consistia em uma procissão pela cidade culminando em uma missa na
Matriz de Nossa Senhora da Neves. A missa compreende uma pregação com o propósito de
informar o “Monitório” – uma lista com os crimes que seriam investigados e orientação para que
os culpados os confessassem ou que testemunhas denunciassem aqueles suspeitos de cometê-los.
Como de costume, foi oferecido um período de graça de 15 dias para que os culpados pudessem
se confessar voluntariamente.
A lista dos habitantes denunciados nessa Visitação mostra uma primazia dos casos de
blasfêmia quase “casuais” e questionamentos acerca dos dogmas católicos. Nesses casos os
Inquisidores frequentemente indagavam sobre o uso de vinho ou outras bebidas alcóolicas,
justificando a sua presença como atenuantes ou justificativas para o ato do crime – que por sua vez
era punido com uma repreensão formal e aconselhamento para que o comportamento não se
repetisse. A forma com a qual a blasfêmia se distingue das declarações heréticas é que a primeira
se manifesta como um insulto ou uso irreverente de expressões e objetos sagrados, enquanto que
a última professa ideias contrárias ao conjunto de crenças religiosas. A rigor de exemplo citamos
a acusação de blasfêmia direcionada a Cecília Fernandes, que teria dito que “não havia Deus no
mundo se Deus a não vingasse de quem ela pedia vingança”. Em contraponto, temos o caso de
Antônio Tomás, denunciado por heresia, que teria afirmado que “os Potiguaras não tinham alma”,
o que ia contra o dogma católico vigente.
Embora a sua incidência seja menor (e a sua investigação difícil, exigindo ao menos
testemunho de duas circunstâncias diferentes), o crime de sodomia carregava punições por demais
rigorosas, sendo comparado pela legislação portuguesa ao crime de lesa majestade e traição
nacional (e passível de ser punido com a morte). Apesar de amplamente condenadas pela tradição
judaico-cristã, manifestações de homossexualidade (e práticas similares à transsexualidade onde
indivíduos assumiam papéis e funções sociais de outro gênero) eram práticas comuns entre os
nativos indígenas. Curiosamente, apenas um índio foi denunciado pelo crime de sodomia na
primeira visitação, embora o português Baltazar da Lomba tenha sido denunciado e punido pelo
mesmo crime ao se associar com índios de maneira homoafetiva. Um padrão que surge repetidas
vezes é de imigrantes já julgados por esse mesmo crime em sua terra natal, sentenciados com o
envio para terras brasileiras e então denunciados novamente pelo mesmo crime, como se o envio
para uma terra distante fosse alterar a sua forma de comportamento. Um exemplo claro é o do
primeiro indivíduo a ser denunciado para a Inquisição na Paraíba, Salvador Romeiro, que,
morando na Ilha de São Tomé, em Angola, foi levado à Lisboa, processado e enviado para o Brasil
para reincidir em seu crime na Paraíba – sendo então degredado ao exaustivo trabalho nas galés
portuguesas por 8 anos. O crime da sodomia também não parece escolher classes: os denunciados
incluem militares (como Simão Ferreira da Silva Lagarto) e padres (Vicente Nogueira).
Em 1695 surge uma denúncia incomum até então: o Padre Pedro Homem da Costa é
acusado do crime de solicitação: utilizava-se do espaço da confissão para demandar serviços de
natureza sexual de suas penitentes. No século seguinte, perante uma grande torrente de atuação do
Santo Ofício, denúncias semelhantes se repetirão: entre 1744 e 1749 outros nove sacerdotes são
denunciados por solicitação.
A partir de 1729 a atividade inquisitorial, distribuída por Lisboa, Salvador e Rio de Janeiro,
traz de volta o seu olhar para a Paraíba com um foco especial para a investigação dos cristãos-
novos em busca de sinais de que mantinham crenças e rituais do judaísmo. As três décadas
seguintes veem 43 cristãos novos presos na Paraíba, muitos naturais da capitania descendentes
segunda e terceira geração de imigrantes e vários aparentados entre si, processados pela prática de
rituais judaicos, blasfêmia contra a religião católica ou desrespeito aos objetos de culto.
Durante os longos anos de atuação do Santo Ofício da Inquisição na Paraíba houveram
somente alguns poucos casos registrados de bigamia – o crime de casar-se novamente na igreja
possuindo previamente um outro cônjuge ainda vivo. As vastas e turbulentas distâncias entre
Portugal e Brasil facilitavam a execução dessa prática e dificultavam a sua averiguação. O caso do
governador da capitania, Antônio da Costa Almeida, é emblemático da situação: quando em
viagem a Lisboa, alegou ter recebido a notícia de que sua legítima esposa, Maria Simões, havia
morrido no parto. Casou-se então com a falsa viúva Filipa Barbosa (cujo marido, soldado servindo
na Índia, ainda era vivo) e, no retorno à Paraíba, encontrou sua primeira esposa ainda viva. Maria
Simões, por sua vez, confessou-se bígama durante o período de graça na primeira Visitação à
capitania – antes de casar-se com Antônio da Costa havia sido esposa do soldado Belchior
Fernandes, dado como morto na batalha de Alcacer-Quibir.
Dentro do contexto paraibano, a acusação de feitiçaria foi utilizada somente contra as
populações subjugadas – os negros e índios. Apenas três casos são reportados, entre 1761 e 1779;
Damião, nativo de Angola, e Domingos, do Congo, foram denunciados pelo administrador do
Engenho Camuratuba. O primeiro dizia que dera o seu sangue ao Diabo, que o retirara com uma
espada, enquanto o segundo soprava pós coloridos como uma maldição, condenando o seu alvo à
morte certa – feitiço esse aprendido de um índio Tabajara. Já o casal Francisco Alvares e Adriana,
ambos índios, usavam de uma “cruz de fumo” para conduzir rituais curativos que envolviam
clamar por Deus e Nossa Senhora com o acompanhamento de maracás, cantorias, danças e uma
determinada bebida oferecida para aqueles precisando livrar-se de feitiços. A última denúncia,
impressionante em sua quantidade de testemunhas (dez no total, incluindo um vigário, o capitão e
o cirurgião de um navio), apontava que a índia Lourença e seus irmãos haviam rogado alguma
espécie de malefício sobre José Inácio Deveras, que “anda botando bichos e paus pela via natural
do curso”.
O autor conclui o seu artigo arrolando os Familiares do Santo Ofício residentes na Paraíba
– uma força de cristãos leigos que servia à Inquisição como espiões, agentes, guardas e policiais,
inclusive recebendo o direito de portar armas (como espadas e adagas). Os seus deveres incluíam
espionar e investigar suspeitos denunciados pela população, efetuar as prisões e recolher seus bens.
Para receber a nomeação ao cargo, os postulantes ao cargo deveriam apresentar aos comissários
da inquisição a sua ascendência até a terceira geração – apenas aqueles com o sangue livre de
miscigenações eram aprovados, e mesmo rumores poderiam acabar com uma candidatura. Além
disso, eles deveriam provar-se capazes de sustentar-se de maneira independente (pois eram pagos
apenas por prisões realizadas). Em troca de seu serviço, porém, os familiares recebiam grande
distinção, prestígio, regalias e isenções, incluindo dispensa no pagamento de fintas, talhas, pedidos
e empréstimos, proteção de seus bens ao confisco e o direito de foro privativo – na maioria das
causas-crime seus juízes seriam inquisidores. A combinação de privilégios e requisitos favorecia
e era atraente para mercadores e negociantes, que no exercício comum de sua profissão viajavam
comprando e vendendo produtos e entravam em contato com pessoas de costumes e crenças
diversas, incluindo comerciantes de origem judaica. A lista de familiares na Paraíba, significativa
por sua quantidade, atesta para esse favorecimento: dos 13 listados, 7 são listados como
“negociantes”.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CALAINHO, Daniela Buono. Agentes da fé: familiares da Inquisição portuguesa no Brasil


Colonial. Bauru: Edusc, 2006. 208p

EYMERICH, Nicolau. Directorium Inquisitorum. Manual dos Inquisidores. Rio de Janeiro:


Rosa dos Tempos, 1993.

MOTT, Luiz. A Inquisição na Paraíba. In: Revista do Instituto de História e Geografia da


Paraíba, João Pessoa: IHGP, n. 31, julho 1999.

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