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PONTÍFICIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

Programa de Especialização em Direito

Isabela Fernandes de Carvalho Rios

A FIGURA DO AMICUS CURIAE NO SISTEMA PROCESSUAL BRASILEIRO:


Aspectos Teórico-Críticos

Belo Horizonte
2017
2

Isabela Fernandes de Carvalho Rios

A FIGURA DO AMICUS CURIAE NO SISTEMA PROCESSUAL BRASILEIRO:


Aspectos Teórico-Críticos

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


ao Programa de Pós-graduação em Processo
da Pontifícia Universidade Católica de Minas
Gerais, como requisito parcial para obtenção
do título de Especialista em Processo.

Orientador: Prof. Francisco Rabelo Dourado de


Andrade

Belo Horizonte
2017
Isabela Fernandes de Carvalho Rios

A FIGURA DO AMICUS CURIAE NO SISTEMA PROCESSUAL BRASILEIRO:


Aspectos Teórico-Críticos

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


ao Programa de Pós-graduação em Processo
da Pontifícia Universidade Católica de Minas
Gerais, como requisito parcial para obtenção
do título de Especialista em Processo.

________________________________________________________
Prof. Francisco Rabelo Dourado de Andrade

________________________________________________________

_______________________________________________________

Belo Horizonte, _____ de _______________ de 2017.


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RESUMO

O presente trabalho fará uma analise crítica da figura do amicus curiae, instituto que
está presente no Novo Código de Processo Civil. Primeiramente se fará uma breve
análise sobre o tema de um modo geral, sua origem e sua história. Após, o trabalho
analisaráos artigos do NCPC, as formas como o amicus curiae poderá ser utilizado,
tendo em vista que este já existia em leis esparsas. O artigo fará, ainda, um estudo
desse instituto, tendo como objetivo analisar seus principais pontos e características.
O objeto principal de análise serão as características do amicus curiae no processo
civil, levando em considerações os princípios processuais constitucionais. Para atin-
gir tal questão, se fará uma análise doutrinária e jurisprudencial desse instituto para
se chegar à conclusão de que se faz necessária a observância do amicus curiae na
prática jurídica e como ele será usado, esperando, portanto, que novas jurisprudên-
cias dos tribunais superiores sejam publicadas, tendo em vista que ainda não há o
bastante para se ter o condão de indicar o futuro desse instituto e se ele realmente
fere os princípios constitucionais.

Palavras-chave: Processo civil. Novo código de processo civil. Amicus curiae. Prin-
cípio da Isonomia.
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ABSTRACT

The present work will make a critical analysis of the figure of the amicus curiae, an
institute that is present in the New Code of Civil Procedure. First, a brief analysis of
the theme in general, its origin and its history will be made. After, the work will ana-
lyze the article itself, the ways the amicus curiae can be used since it already existed
in sparse laws. The article will make an analysis of this institute, aiming to analyze its
main points and characteristics. The main object of analysis will be the characteristics
of the amicus curiae in the civil process, taking into consideration the constitutional
procedural principles. In order to arrive at such an issue, a doctrinal and jurispruden-
tial analysis of this institute will be carried out in order to reach the conclusion that it
is necessary to observe the amicus curiae in legal practice and how it will be used,
thus expecting that new jurisprudence of the higher courts will be published, I try in
view that there is still not enough to be able to indicate the future of this institute and
whether it really hurts the principle of isonomy or not.

Keyword: Civil proceedings. New civil process code. Amicus curiae. Principle of
Isonomy.
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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...................................................................................................... 09

2 CONTEXTO HISTÓRICO DO AMICUS CURIAE NA TRADIÇÃO ANGLO-


SAXÔNICA................................................................................................................ 11

3 A INSERÇÃO DO AMICUS CURIAE NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL: Tercei-


ro Parcial Ou Um Novo “Auxiliar Do Juízo”.......................................................... 15

4. ASPECTOS CRÍTICOS......................................................................................... 17
4.1 Ausência de procedimentalização e controle da lei ..................................... 17
4.2 A (im)possibilidade de "decisão irrecorrível”................................................. 19
4.3 A possível quebra do princípio da isonomia em favor de uma das partes.. 20

5 A POSSÍVEL INSTITUCIONALIZAÇÃO DO LOBBY ATRAVÉS DO AMICUS


CURIAE E A DISCRICIONARIEDADE JUDICIAL................................................... 25

6 CONCLUSÃO....................................................................................................... 29

REFERÊNCIAS................................................................................................... 31
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1 INTRODUÇÃO

Muito se tem debatido quanto ao Novo Código do Processo Civil e seus novos
conceitos. O objeto de analise aqui será o amicus curiae. Tal figura já existia em ou-
tras legislações e com o NCPC este veio a adentrar no processo civil de maneira ge-
ral.
Instituto já usado em diversos países, no Brasil o amicus curiae vem levan-
tando vários debates pois existem doutrinadores que afirmam que esta figura vai
contra os princípios constitucionais. Já há outra parte que defende tal instituto consi-
derando com um meio de obter decisões mais justas nos tribunais.
O objetivo aqui será trabalhar com pesquisas e artigos de doutrinadores, e
trabalhos de alunos que analisaram o instituto e fazer uma analise das possíveis
contradições e posições em relação ao tema debatido.
Varias são as questões levantadas e nesse trabalho será levantada algumas
deles, principalmente no que toca os princípios constitucionais.
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11

2 CONTEXTO HISTÓRICO DO AMICUS CURIAE NA TRADIÇÃO ANGLO-


SAXÔNICA

A figura do Amicus Curiae foi introduzida no código de processo civil brasileiro


e com ela vieram muitas dúvidas sobre esse “novo” instituto, apesar de não ser tão
novo assim tendo em vista que já estava em nosso sistema, em leis esparsas. Para
que fique clara a discussão, faz-se necessária uma breve análise sobre sua origem
e como esta vinha sendo usada até então.
Em relação a sua origem, há controvérsias. Alguns dizem que este instituto
veio da ideia do Consilium, tema retirado do Direito Romano (CRISCUOLI apud BU-
ENO, 2012, p.198). O trabalho desses Consilium era requisitado pelos magistrados
ou julgadores para que dessem suas opiniões sobre o caso concreto em analise.
Com o conhecimento dessa figura, poderia o juiz obter opinião sobre diversos te-
mas, como política, religião, finanças, dentre outras.
Mas aqui nota-se diferença em relação ao instituto do Amicus curiae, tendo
em vista que o consilium não tinha o poder de intervir nas decisões dos julgadores,
pois apenas fazia o papel de assessoramento dos monarcas em suas decisões, que
contavam com a ajuda de juristas romanos. Não poderia também o consilium reque-
rer sua participação no processo, tendo em vista que este só era chamado caso o
julgador achasse necessário.

A segunda teoria aponta outra origem da figura do amicus curiae, qual seja,
no direito romano, mais precisamente na figura do consilliarus, membro téc-
nico do consillium, órgão responsável por funções consultivas em geral: po-
lítica, financeira, religiosa, administrativa, militar, legislativa e judiciária, sen-
do que esta última tinha o condão de proporcionar o equilíbrio e ponderação
necessária ao julgador para uma decisão acertada. A atuação do consillium
foi bastante comum durante o período romano, da era arcaica à republicana
e ao longo de todo império. Sua semelhança com o amicus curiae é justifi-
cada pela natureza de sua intervenção, a qual dependia de convocação do
magistrado e seu auxílio era prestado de acordo com o seu próprio e livre
convencimento, observando os princípios do direito. (MENEZES, 2015,
p.67-68)

Por outro lado, há outros que concordam com a ideia de que o instituto do a-
micus curiae tem origem anglo-saxônica, surgindo na Inglaterra. Este veio com a
proposta de tirar a carga que se dava somente na produção de provas entre as par-
tes, e foi seguindo este sentido que a figura do Amicus curiae se expandiu.
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A figura do amicus curiae tem duas hipóteses de explicação de suas ori-


gens. A primeira, no direito inglês, mais precisamente no direito penal inglês
medieval, na qual este exercia a função de um colaborador neutro dos ma-
gistrados, nos casos em que sua resolução envolvia questões não estrita-
mente jurídicas, além de atuar no sentido de os juízes não cometerem erros
de julgamento, tendo como única obrigação o dever de lealdade para com
os juízes. Competia ao amicus a função de levantamento de precedentes
judiciais (cases) e leis (statutes), por quaisquer motivos desconhecidos pe-
los magistrados. (MENEZES, 2015, p.67)

Seguindo esta mesma lógica, foi nos Estados Unidos que veio a primeira no-
tícia da utilização, por uma Corte, do Amicus curiae. Bueno explica o caso, mostran-
do claramente que havia no juiz um poder discricionário, podendo negar ou não a
participação do “amigo da corte”:

[...] em 1686, Sir George Treby atuou, devidamente autorizado pela corte,
como amicus, dando detalhes das alterações de uma específica lei, consi-
derando que era membro do parlamento e, consequentemente, tinha co-
nhecimento pessoal de toda a evolução dos trabalhos legislativos. Também
que, em 1736, admitiu-se, no caso “Coxe vs. Phillips”, a presença de um
amicus que advertiu a corte de que a demanda era fraudulenta. Narrase, a
respeito desse caso, que o casamento de Mrs. Phillips e Mr. Muilman foi
declarado nulo ao se descobrir que ela já era casada. Mesmo depois de Mr.
Muilman já ter se casado novamente, Mrs. Phillips invocou seu casamento
com ele para alegar a incapacidade de se obrigar quando cobrada pelo não
pagamento de uma nota promissória. Como as razões de defesa invocadas
por ela podiam comprometer o então atual casamento de Mr. Muilman, a
corte permitiu, mesmo que ele não fosse parte ou interessado no processo,
que um amicus curiae representasse seus interesses naquela ação. A tese
do amicus foi acolhida, a ação de cobrança foi extinta e as partes, Mr. Coxe
e Mrs. Phillips, condenadas como litigantes de má fé [...]. (BUENO, 2012, p.
114-115).

No Brasil, sua primeira utilização se deu por certas entidades que tinham co-
mo função fiscalizar e regular, e deveriam ser intimadas para se manifestarem sobre
os processos judiciais com matérias relativos à sua competência.
Leis foram surgindo e aprimorando o instituto fazendo com que o amicus curi-
ae fosse sendo mais utilizado. A Lei 6.616/78 implantou o artigo 31 na lei 6.385/76,
que consagrou o CVM, Comissão de Valores Mobiliários, onde esses poderiam ser
intimados para prestarem pareceres e esclarecimentos.
Adiante, com a lei 8.884/94, em seu artigo 89, disciplina a intimação do CA-
DE, nos processos judiciais onde a discussão seria do seu interesse, podendo inter-
vir quando necessário.
Ademais, veio a lei 9.868/99 que disciplinava a legalização da intervenção do
amicus curiea aos processos de controle abstrato de constitucionalidade, com base
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na matéria a ser tratada e sua relevância. Assim ficou autorizado que o relator pode-
ria admitir outros órgão ou entidades, na qualidade de amicus curiae.
Com o passar do tempo o amicus curiae começou a ser autorizado até mes-
mo em casos dos Juizados Especiais Federais.
O instituto vinha com a função de esclarecer questões que fossem relevantes
no processo, podendo ser pessoa física ou jurídica, devendo ser estranha a causa,
mas não necessariamente neutra. Tem-se, portanto, que sua função era de auxílio à
corte quando da sua decisão. Seu objetivo seria enriquecer o debate jurídico medi-
ante a oportunidade de novos argumentos.
Com o advento da Lei 13.105/2015, o novo código de processo civil trouxe
consigo a figura do amicus curiae em seu artigo 138 e seus parágrafos. Segue o que
diz o artigo:

Art. 138. O juiz ou o relator, considerando a relevância da matéria, a especi-


ficidade do tema objeto da demanda ou a repercussão social da controvér-
sia, poderá, por decisão irrecorrível, de ofício ou a requerimento das partes
ou de quem pretenda manifestar-se, solicitar ou admitir a participação de
pessoa natural ou jurídica, órgão ou entidade especializada, com represen-
tatividade adequada, no prazo de 15 (quinze) dias de sua intimação.
§ 1º A intervenção de que trata o caput não implica alteração de competên-
cia nem autoriza a interposição de recursos, ressalvadas a oposição de em-
bargos de declaração e a hipótese do § 3o.
§ 2º Caberá ao juiz ou ao relator, na decisão que solicitar ou admitir a inter-
venção, definir os poderes do amicus curiae.
§ 3º O amicus curiae pode recorrer da decisão que julgar o incidente de re-
solução de demandas repetitivas. (BRASIL, 2015)

Sobre o artigo 138 do NCPC, este descreve que poderá o amicus curiae ser
pessoa física ou jurídica, a depender de uma cognição do julgador, podendo o caso
está sendo debatido na primeira ou segunda instância.
Segundo o mesmo artigo, poderá o amicus curiae intervir no processo quando
houver algum assunto a ser tratado na qual terá interesse, não sendo necessária a
demonstração de interdependência na causa, aspecto aqui que o difere da interven-
ção de terceiro, além de outros aspectos descritos no artigo 138 do NCPC.
Tal instituto tem semelhanças com a figura do assistente, mas a diferença es-
tá no detalhe de que este vem com a intenção de ajudar uma das partes a conseguir
que sua pretensão seja aceita. Já a figura do amicus curiae vem com a intenção de
sustentar uma tese jurídica, podendo ser que no futuro tal situação possa ser para
si, ou para uma entidade, favorável.
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Assim sendo, com o advento da figura do amicus curiae tornou-se possível


fazer uma análise específica e mais criteriosa de temas relevantes para a sociedade,
trazendo consigo a possibilidade de se ter uma decisão mais profissional e ampliada
de questões que podem, de alguma forma, influenciar na vida de uma sociedade.
15

3. A INSERÇÃO DO AMICUS CURIAE NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL:


TERCEIRO PARCIAL OU UM NOVO “AUXILIAR DO JUÍZO”?

Com a vigência do Novo Código de Processo Civil, e a entrada da figura do


amicus curiae, muito se discutiu em relação a esse novo (mas não tão novo assim)
instrumento.
Importante salientar que o amicus curiae tem parcialidade, pois está no pro-
cesso porque tem interesse. Mas o seu diferencial está nesse tal interesse, que terá
relação não só com o caso concreto em si, mas com sua repercussão na esfera jurí-
dica e na sociedade.

ue deve ser destacado ue a a irmação de ue o amicus terceiro


não pode ser entendida no sentido de ue assistente ou, mais amplamen-
te, ue o ser “terceiro” signi ica ue deva necessariamente assumir a uelas
espec icas modalidades de terceiro ue o nosso C digo de Processo Civil
conhece e, com alguns contornos diversos, sempre conheceu. Como se o
amicus pudesse pretender intervir no processo alheio somente a partir de
uma daquelas modalidades interventivas. Ser terceiro, aqui, quer significar,
apenas, ue o amicus não parte. amb m são terceiros os assistentes, os
opoentes, os nomeados, os denunciados e os chamados. as tamb m são
terceiros os peritos, os int rpretes e o pr prio inist rio Público uando a-
tuante na qualidade de iscal da lei. ssa circunst ncia, todavia, não apro-
xima, por si s , os amici da uelas outras iguras. penas revelam um traço
em comum. esse espec ico traço em comum deve ser entendido na exata
medida de sua exist ncia: todos são terceiros por ue, de orma mais ou
menos intensa, estão autori ados a atuar em processo alheio, ainda ue
não se am autores ou r us. mais: ainda ue o ob eto litigioso não lhes di-
ga respeito nem direta, nem indiretamente. (BUENO, 2012, p.427)

Segundo o professor Elpídio Donizette (2016), a figura do amicus curiae se


caracteri a não como “amigo da corte”, “amigo do ulgador”, mas sim como “amigo
da causa” “amigo da temática”, tendo em vista ue este se encontra no processo,
pois o assunto a ser tratado tem relevância temática para um grupo que futuramente
será atingido por tal decisão, logo terá repercussão em outros julgados.
Poderá sim o amigo da corte ser benéfico para os julgadores,uma vez que um
dos seus principais objetivos é justamente ajudar nas decisões, para que estas pos-
sam ser bem fundamentadas. Mas percebe-se também que o amigo da corte não
está lá por ter interesse em ajudar o julgador tão somente, e nem mesmo em ajudar
as partes puramente, mas sim em auxiliar que a causa em questão, na parte que o
tema lhe interessa, possa ser julgado do modo que o convém.
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Fica claro que a figura do amicus curiae não se resume a um simples auxiliar
da justiça, mas sim um terceiro com algum poder de intervir no processo e até mes-
mo de mudar o caminhar da decisão do juízo. Mas há de se esclarecer que é tam-
bém sua intenção suplementar, aumentando o âmbito de conhecimento dos julgado-
res.
Tal instituto veio para o sistema atual com uma grande carga de responsabili-
dade, tornando-se de grade relevância, tendo em vista que com o advento do novo
CPC, veio tamb m a imagem das “demandas repetitivas”, tornando as decisões nos
tribunais superiores com maior força, fazendo com que futuros processos possam
ser atingidos por tais decisões. Nota-se, portanto, que é de grande relevância a figu-
ra do amicus curiae, pois este irá engrandecer as decisões que poderão se tornara
base de outras decisões futuras.
Todos sabem que a elaboração do Código de Processo Civil atual foi fruto de
grandes debates, tendo como exemplo os fóruns de processualistas, que tiveram
como resultado um dispositivo congruente em toda sua forma, tendo em vista que
cada parte do código tende a se completar. Nesse raciocínio, fica claro a ideia do le-
gislador ao introduzir o amicus curiae em razão dos incidentes de demandas repeti-
tivas.
Grosso modo, tal instituto terá cabimento nos casos onde seja observado o
risco de controvérsias no julgamento de demandas que versem sobre as mesmas
questões de direito. Não se deve adentrar nesse tema, mas aqui fica clara sua im-
portância, tendo em vista ue a “decisão-padrão” deve ser boa de tal modo ue pos-
sa ser “ usta” nos outros processos ue será tida como base. Conse uentemente,
fica esclarecido que as decisões que tiverem maior abordagem temática terão tam-
bém uma decisão que seja mais apropriada para os casos concretos em questão.
Devido a tal abrangência, não se sabe ao certo qual seria a natureza jurídica
do amicus curiae. Alguns, o julgam como um terceiro interessado especial ou excep-
cional (CAMBI, 2011, p.22); outros, o defendem como um instituto constitucional de
garantia, baseado em Carl Marx (GONTIJO, 2008, p.69-70).
Fica evidente que o amicus curiae tem força dentro de um processo não po-
dendo ser comparado com um simples auxiliar, mas sim um terceiro com um objetivo
determinado dentro de uma ação. No processo a figura do amicus curiae se torna,
na verdade, um instrumento de garantias para toda a coletividade.
17

4 ASPECTOS CRÍTICOS

Como já foi tratado, o amicus curiae não é uma grande novidade no sistema
jurídico brasileiro, tendo em vista que antes do NCPC já havia outros dispositivos
que tratavam sobre o assunto.
Podemos usar como exemplo as leis 9.868 e 9.882, todas publicadas no ano
de 1999, e que tratam sobre as ações de inconstitucionalidade, as ADI, ADCT e as
ADPF. Conforme a lei 9.868:

Art. 7º Não se admitirá intervenção de terceiros no processo de ação direta


de inconstitucionalidade.
§ 1º (VETADO)
§ 2º O relator, considerando a relevância da matéria e a representatividade
dos postulantes, poderá, por despacho irrecorrível, admitir, observado o
prazo fixado no parágrafo anterior, a manifestação de outros órgãos ou en-
tidades. (BRASIL, 1999a)

Já a lei 9.882, dispõe que:

Art. 6º Apreciado o pedido de liminar, o relator solicitará as informações às


autoridades responsáveis pela prática do ato questionado, no prazo de dez
dias.
§ 1º Se entender necessário, poderá o relator ouvir as partes nos proces-
sos que ensejaram a argüição, requisitar informações adicionais, designar
perito ou comissão de peritos para que emita parecer sobre a questão, ou
ainda, fixar data para declarações, em audiência pública, de pessoas com
experiência e autoridade na matéria.
§ 2º Poderão ser autorizadas, a critério do relator, sustentação oral e junta-
da de memoriais, por requerimento dos interessados no processo. (BRASIL,
1999b)

Assim, percebe-se que as leis abrem o leque para a participação do terceiro


que tenha interesse no assunto.

4.1 Ausência de procedimentalização e controle da lei

Mas, há de se notar que tanto nesses dispositivos legais como no próprio Có-
digo Processual Civil, não houve por parte do legislador as considerações processu-
ais específicas, deixando nas mãos dos magistrados tal objeto.
É um instrumento de suma importância e seu alcance abrange tanto a primei-
ra inst ncia como as seguintes, uma ve ue o c digo utili a os termos “ ui ou rela-
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tor”. Portanto, permanece a suspeita de ue tal instituto possa não estar tão bem de-
limitado.
Alguns questionamentos se fazem presentes, quais sejam: será o caso de as-
sistência ou amicus curiae? O que seria essa grande relevância temática? Qual será
o procedimento a ser adotado?
Em relação à assistência, segundo o artigo 119 e 121 do NCPC, poderá o in-
teressado intervir no processo sendo um auxiliar da parte, recebendo todos os pode-
res e ônus referentes à parte principal.
Já no caso do amicus curiae, este tem interesse no assunto a ser debatido,
tendo como principal objetivo, pluralizar o debate e não a pluralidade de agentes.
Já os seus requisitos, elencados no artigo 138, podem ser divididos em obje-
tivos e subjetivos. Segundo determina enunciado 395 do FPPC1, são os subjetivos, a
representatividade adequada e a respeitabilidade e autoridade do terceiro.
ais re uisitos se prestarão como um “ iltro”, tendo em vista ue o ui anali-
sará se o terceiro tem o entendimento necessário e o conhecimento técnico sobre o
assunto para que possa participar efetivamente da causa. O segundo requisito sub-
jetivo, por sua vez, requer que o agente tenha autoridade reconhecida na matéria
que irá ser tratada.
Já os requisitos objetivos são a relevância da matéria, a repercussão social
da controvérsia e a especificidade do tema objeto da demanda.
Entende-se que a relevância da matéria e a repercussão social da controvér-
sia estão interligadas, já que uma poderá ser a consequência da outra (MOUZALAS;
TERCEIRO NETO; MADRUGA, 2016). A relevância da matéria se refere ao aspecto
qualitativo, enquanto a repercussão social é ligada à noção quantitativa. Logo, o de-
bate deve abranger temas complexos e conseguir ter efeitos amplos que interferirão
na sociedade, direta ou indiretamente.
Por fim, o terceiro requisito objetivo traz consigo a necessidade do caso em
questão ser de alto grau de complexidade, o que faz com que o amigo da corte seja
altamente especializado no assunto.
Por conseguinte, ao analisar o próprio artigo, fica claro que este ainda precisa
de uma regulamentação adequada. Basta fazer uma analise dos requisitos já elen-
cados nesse trabalho.

1
E.395: “ Os requisitos objetivos exigidos para a intervenção do amicus curiae são alternativos”
19

Um exemplo seriam as entidades ou órgãos elencados no artigo. Como o no-


vo CPC não especifica nada, presume-se que podem ser entidades públicas ou pri-
vadas. utro aspecto seria a id ia de “representatividade”, tendo em vista ue o ar-
tigo não é assertivo sobre o que seria uma representatividade aceitável.
Outra característica que demonstra tal obscuridade seria o requisito da rele-
vância da matéria, uma vez que não há uma padronização do que seria uma matéria
com relevância suficiente para se encaixar nesse caso.
Não está bem estabelecido no artigo, portanto, quais serão os passos a se-
rem seguidos, sendo que este põe grande carga ao juiz ou relator, que fica concer-
nindo a analisar o cabimento do amicus curiae no momento de sua admissão.
A resposta que se tem para tais indagações acaba sendo apenas uma, qual
seja, deve-se esperar que os agentes do direito comecem a fazer o uso de tal ins-
trumento quando acharem necessário para que venha o STJ e delimite o instituto.

4.2 A (im)possibilidade de "decisão irrecorrível”

Segundo o artigo 138 do novo CPC e seus parágrafos, fica aberta outra dis-
cussão: a recorribilidade.
Descreve tal dispositivo que depois de cumpridos os requisitos do artigo em
questão, caberá ao juiz admitir ou não a figura do amicus curiae. Desse pronuncia-
mento que admite ou não, não caberá recurso, salvo exceção dos parágrafos do
próprio artigo. Assim, conclui-se que não cabe recurso contra decisão que admita ou
não a utilização desse instituto, tornando-o irrecorrível.
Segundo o livro “Processo Civil: volume único”, este descreve ainda ue:

Se inadmitido, o amigo da corte não ingressará no processo. Eventual mani-


festação sua, que, por alguma circunstancia, tiver sido carreada aos autos,
será extirpada. Por outro lado, no caso de admissão, o amigo da corte será
intimado dessa decisão para, no prazo de 15 dias, ofereça sua manifesta-
ção sob pena de preclusão. (MOUZALAS; TERCEIRO NETO; MADRUGA,
2016, p.89)

Ouvindo professores e advogados atuantes, fica a questão da recorribilidade


quanto ao uso do amicus curiae obscura, pois, segundo o dispositivo, em uma anali-
se superficial, não terão as partes a chance de recorrer quando da negativa do pedi-
20

do. Desse modo, enfrentarão os juristas decisões em que terão de se contentar com
uma única decisão que não admita recurso.
Sobre os recursos cabíveis, pode-se perceber que caberão algumas interpo-
sições sobre a decisão do julgador, mas nota-se também que são bem específicas,
não podendo, portanto, a parte interpor recurso caso seu pedido de amicus curiae
seja negado. Consequentemente, poderão as partes preferirem o instituto da assis-
tência e não o amigo da corte, pois este poderá interpor recurso caso seja negado,
já o outro não.
Ainda no mesmo artigo, temos os parágrafos que abrem exceção à regra es-
tabelecida no caput e dispõem que haverá a possibilidade do amicus curiae interpor
embargos de declaração. Com esses incisos, pode-se estabelecer que há uma regra
que não cabe oposição, deixando assim um princípio básico do processo civil, o con-
traditório, sem amparo.
Nesse contexto, o autor que melhor explicou a situação do artigo 138 do Novo
CPC, divergindo dos demais, foi o professor Elípio Donizetti, em seu livro:

Assim, levando-se em conta a especialidade do art. 138, pode-se concluir


que a irrecorribilidade recai tão somente sobre a decisão que solicita (o pró-
prio juiz ou relator) ou admite (pedido formulado pelas partes ou pelo próprio
amicus curiae); quanto à decisão que indefere o pedido de intervenção, ca-
bível é o agravo de instrumento. (DONIZETTI, 2016, p.114-115)

Ou seja, segundo o autor e sua interpretação do artigo, a decisão não é de


todo irrecorrível, pois poderá o demandante recorrer caso o julgador negue o pedido
da participação do amicus curiae.
Seguindo tal interpretação pode se chegar á conclusão de que contra a deci-
são que indefere a participação do amicus curiae cabe recurso, além da leitura com-
binada do artigo 138, parágrafo primeiro em conjunto com o parágrafo terceiro, onde
caberão embargos de declaração e recursos contra acórdãos que julgar o incidente
recursal de demandas repetitivas.

4.3. A possível quebra do princípio da isonomia em favor de uma das partes

Baseando-se no artigo 5a da Constituição Brasileira, no seu caput e seu pri-


meiro inciso, existe em nosso sistema o princípio da isonomia ou igualdade, sendo
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este estudado e interpretado de maneiras diferentes por vários autores e modificado


de acordo com a evolução da sociedade.
O princípio da isonomia foi introduzido após a revolução industrial, tendo em
vista que apenas a ideia da liberdade negativa, vinda da primeira geração, ou o “não
a er” do stado, deixava à deriva pessoas com poucos recursos ue eram limitadas
a empregos desumanos. Com as revoluções, aparece a ideia da segunda gera-
ção/dimensão com o princípio da igualdade ou isonomia, e assim o poder/dever de
fazer do Estado.
O princípio da igualdade é um direito-garantia, conceituada pelo professor
Rosemiro Pereira Leal (2004), em seu livro “ eoria Geral do Processo”, como princí-
pio obrigat rio em todos os “procedimentos em contradit rio”. Logo, isonomia pode
ser definida como um tratamento de equilíbrio, sendo vedadas diferenciações injusti-
ficadas. Como já foi bem utilizado antigamente, e hoje em dia já é considerado anti-
quado, deveriam os iguais ser tratados igualmente e os desiguais, na medida de su-
as desigualdades.
Bernardo Gonçalves Fernandes leciona que:

Ora, tal premissa, todavia, nada tem de moderna, sendo tributária do pen-
samento de Aristóteles, em sua obra Ética a Nicômaco. No pensamento do
filosofo grego, primeiro poderíamos falar que uma igualdade aritmética é es-
tabelecer uma estrita relação entre a retribuição e a causa; ou, dito de outra
forma, nessa perspectiva cada indivíduo tem exatamente a mesma impor-
tância e consideração, pressupondo equivalência na importância de cada
um. Já a igualdade geométrica implica uma proporcionalidade definida a
partir da comunidade política; desse modo, o critério de merecimento é vari-
ável conforme o papel e a importância social do sujeito para a comunidade
grega. (FERNANDES, 2017, p.461-462)

Sendo assim, segundo o autor e seus relatos baseados na filosofia grega, tais
premissas de nada são atuais e, na verdade, são mais do que antiquadas. Com a
modernidade, os pensamentos mudaram e a isonomia, considerada apenas no âm-
bito formal, começou a ser entendida também no âmbito material.
Outro aspectoem que o principio da isonomia foi analisado considera tal prin-
cipio em duas premissas: a igualdade na lei e a igualdade perante a lei. Em um jul-
gado, o ministro Celso de Melo conceitua que:

o a
AI n 360.461 AgR. Rel. Min. Celso de Mello. Julg. Em 06.12.2005. 2 turma,
DJ 28.03.2008.(...) o principio da isonomia – cuja observância vincula todas
as manifestações do Poder Público – deve ser considerado, em sua precí-
pua função de obstar discriminações e de extinguir privilégios, sob duplo
22

aspecto: a) o da igualdade na lei e b) o da igualdade perante a lei. A igual-


dade na lei – que opera numa fase de generalidade puramente abstrata –
constitui exigência destinada ao legislador, que, no processo de formação
do ato legislativo, nele não poderá incluir fatores de discriminação respon-
sáveis pela ruptura da ordem isonômica. (...) A igualdade perante a lei, de
outro lado, pressupondo a lei já elaborada, traduz imposição destinada aos
demais poderes estatais, que na aplicação da norma legal, não poderão su-
bordiná-la a critérios que ensejem tratamento seletivo ou discriminatório. A
eventual inobservância desse postulado pelo legislador, em qualquer das
dimensões referidas, imporá, ao ato estatal por ele elaborado e produzido, a
eiva de inconstitucionalidade (BRASIL, 2008)

Novos conceitos foram dados a este princípio, como ensina Fredie Didier Jr,
em seu livro “Curso de Direito Processual Civil”. pro essor cita em sua obra ue
todos os participantes de um processo devem ser tratados igualmente, usando o
termo “paridade de armas”:

Os sujeitos processuais devem receber tratamento processual idêntico; de-


vem estar em combate com as mesmas armas, de modo a que possam lutar
em pé de igualdade. Chama-se a isso de paridade de armas: o procedimen-
to deve proporcionar às partes as mesmas armas para a luta. (DIDIER,
2012, p.55)

Nos dias atuais, já consagrados pelo Estado Democrático de Direito, o signifi-


cado do principio da isonomia toma parâmetros mais amplos. O professor Bernardo
Gonçalves Fernandes assim dispõe:

Voltando á diferenciação entre a igualdade formal e a matéria, certo é que já


é possível encontrar autores que apresentam uma visão mais ampla e ade-
quada do princípio da igualdade quando lido sob o prisma do Estado Demo-
crático de Direito. Com isso, estes irão afirmar um ir além da igualdade me-
ramente formal e da igualdade material, em favor de uma igualdade proce-
dimental, orientando-se para garantia da igual condição (opção) de partici-
pação do cidadão em todas as práticas estatais. Trata-se de uma igualdade
aritmeticamente inclusiva, já que viabiliza um número cada vez mais cres-
cente de cidadãos na simétrica participação da produção de políticas públi-
cas. (FERNANDES, 2017, p.463)

Seguindo tais pensamentos, devemos concluir que nos dias atuais já não se
acha um significado único quando se fala de igualdade. O professor Alexandre Gus-
tavo Bahia em uma dissertação sobre o tema escreve que:

Nossa tese é de que o direito de igualdade, há muito, não pode ser mais
compreendido apenas como direito à isonomia de tratamento (seja perante
o Estado, seja entre os indivíduos/empresas em seu trato privado), nem a-
penas como igualdade “material” como oposição à di erença (o ue chama-
remos de equidade), mas que vai significar, por vezes, o reconhecimento da
diversidade como elemento essencial à uele direito” (B HI , 2014, p.75)
23

Baseando-se nesses conceitos, deve ser entendido que o processo deve


sempre seguir normas constitucionais, tendo em vista que há hoje em dia o que se
chama de procedimentalização constitucional, ou seja, deve o processo seguir os
princípios elencados em seu próprio texto, mas deve também observar os princípios
basilares da constituição brasileira, levando em consideração, sempre, o princípio do
contraditório, da ampla defesa e da isonomia.
pro essor Francisco Rabelo Dourado de ndrade, em seu texto “Processo
Constitucional: o processo como espaço democrático-discursivo de legitimação da
aplicação do direito”, na conclusão, destacou ue:

Buscou-se demonstrar que a constitucionalização do processo está direta-


mente ligada à constitucionalização do próprio direito, como imperativo de
produção, interpretação e aplicação das normas (regras e princípios), sempre
tendente a viabilizar o exercício dos direitos fundamentais previstos na Cons-
tituição. (ANDRADE, 2015, p.295)

Porém, ao se falar de amicus curiae e princípio da isonomia, há certos argu-


mentos que devem ser listados para a discussão.
Podem ser citados os casos onde poderá haver o favorecimento de grandes
demandantes, por terem esses, condições de arcar com os grandes e renomados
advogados da área a ser discutida.
Por outro lado, poderiam também, os interessados no assunto, quando da de-
fesa daqueles que não teriam como arcar com advogados qualificados, se o caso ti-
ver grande repercussão, adentrar ao processo na figura do amicus curiae e defen-
der, não só os direitos da parte em questão, mas também os interesses da classe.
24
25

5. A POSSÍVEL INSTITUCIONALIZAÇÃO DO LOBBY ATRAVÉS DO AMICUS


CURIAE E A DISCRICIONARIEDADE JUDICIAL

Termo que surgiu da herança de conversas de pessoas influentes no lobby de


hotéis, o lobismo no Brasil tem, na maioria das vezes, uma visão pejorativa. Seu
conceito nada mais é do que aquele que, representando certos interesses, influencia
pessoas no poder público para que votem de acordo com suas vontades. Tal influ-
ência pode ser dada de várias maneiras, sendo a mais importante através de argu-
mentos, e a forma ilegal através da escolha em troca de vantagens.
Com o passar do tempo, o termo lobista passou a ser mais pejorativo, visto
com maus olhos, sendo até mesmo associado à corrupção. O lobby nos congressos
e mesas do legislativo se refere às pessoas que têm como objetivo influenciar os vo-
tos dos congressistas para que votem levando em consideração seus objetivos.

Lobby, segundo Aurélio Buarque de Holanda, é uma palavra de origem in-


glesa que representa um grupo de pessoas ou organização que tem como
atividade profissional buscar influenciar, aberta ou veladamente, decisões
do poder público, especialmente no legislativo, em favor de determinados
interesses privados. Traduz a representação política de interesses legítimos
em nome e em benefício de clientela identificável. O lobby é, portanto, ins-
trumento útil para o aprimoramento da qualidade das decisões políticas, ao
abordar diferentes pontos-de-vista para o processo decisório. (ZARATTINI,
2007, p.2)

Em países como Estados Unidos, o lobismo não só é utilizado, como legali-


zado. No Brasil já há um projeto de lei que visa legislar sobre o assunto, fazendo
com que sua área de atuação seja demarcada e legalizada, uma vez que quando
usado de forma adequada e dentro da legalidade, o lobismo pode ser muito bom.
Seguindo tão somente sua concepção, pode-se afirmar que sua interferência
na tomada de decisões em muito se parece com o papel do amicus curiae, agora le-
gislado pelo CPC/15.
Ora, a idéia do amicus Curiae não é intervir no poder de escolha dos julgado-
res levando em consideração que as pessoas que representam a classe podem ir ao
julgamento com a intenção de que a decisão seja favorável a seus interesses?
Outro aspecto que já foi discutido nesse trabalho seria a discricionariedade do
Juiz. Como se observa no próprio dispositivo, há em todos os momentos uma alter-
nativa que terá de ser passada pelas mãos do julgador. Assim, logo se percebe que
o artigo dá ao juiz poderes que dependem apenas de seus próprios entendimentos.
26

É sabido que os julgadores, antes até mesmo representados pelos reis e


monarcas soberanos, tinham um enorme conhecimento e, consequentemente, um
imenso poder; detinham em suas mãos o poder de julgar e condenar, muitas vezes
ligados aos seus próprios conhecimentos gerais.
Com o passar dos tempos, tal soberania veio perdendo forças e dando lugar
às leis e codificações mais rígidas, fazendo com que o juiz perdesse o poder absolu-
to e, a partir de então, ficasse a depender da autorização das normas. Se de um la-
do havia um julgador com poderes extremos, do outro havia apenas o leitor das leis.
Nos dias atuais, sabe-se que nossos julgadores não podem legislar, mas em
caso de omissão ou lacunas, terá o julgador certa liberdade para se utilizar da ana-
logia, dos costumes e dos princípios. Desse modo, não pode o juiz decidir como
bem entender, devendo respeitar os limites estabelecidos pela própria lei.
No caso do amicus curiae, fica claro que o legislador deixou em aberto várias
lacunas em que o julgador terá o poder absoluto de decisão.
A discricionariedade aparece no caput do artigo 138, que elenca três condi-
ções para que o amicus curiae seja aceito.
primeiro seria a “relev ncia da mat ria”. Não há ainda nada ue de ina o
que seria relevante ou não para um julgador, cabendo somente a ele fazer tal defini-
ção.
Serve para ilustrar uma jurisprudência atual que utiliza do assunto:

TJPR - Órgão Especial - A - 1556279-5/01 - Curitiba - Rel.: Telmo


Cherem - Unânime - - J. 20.03.2017. EMENTA: AÇÃO DIRETA DE
INCONSTITUCIONALIDADE - ARTS. 2º E 5º- §§ 1º-2º DA RESOLU-
ÇÃO Nº 309/2005 DA SECRETARIA DE ESTADO DA SEGURANÇA
PÚBLICA - PEDIDO DE INTERVENÇÃO, COMO "AMICUS CURIAE",
DO SINDICATO DOS POLICIAIS RODOVIÁRIOS FEDERAIS NO
ESTADO DO PARANÁ - AUSÊNCIA DOS REQUISITOS PARA SUA
ADMISSÃO (ART. 138- CAPUT DO CPC C/C ART. 7º-§ 2º DA LEI Nº
9.868/99)- RECURSO DESPROVIDO: "Sindicato dos Policiais Rodo-
viários Federais no Estado do Paraná (SINPRF-PR) pleiteia sua ad-
missão, como amicus curiae, na Ação Direta de Inconstitucionalidade
nº 1.556.279-5, promovida pela Associação dos Delegados de Polícia
do Estado do Paraná em face da Resolução nº 309/2005 da Secreta-
ria de Estado da Segurança Pública (SESP). Sustenta, para tanto,
que a matéria debatida [no feito] é de extrema relevância', atingindo
“diretamente” a classe de servidores públicos por ele representada.
Conforme orienta o PRETÓRIO EXC LS , `a intervenção do “amicus
curiae”, para legitimar-se, deve apoiar-se em razões que tornem de-
sejável e útil a sua atuação processual na causa, em ordem a propor-
cionar meios que viabilizem uma apropriada resolução do litígio cons-
titucional'. Nessa perspectiva, `a habilitação de entidades representa-
tivas se legitima sempre ue restar e etivamente demonstrado, “in
concreto”, o nexo de causalidade entre as finalidades institucionais da
27

entidade postulante e o objeto da ação direta'4. In casu, não se verifi-


ca pertinência temática entre as finalidades institucionais do Reque-
rente (organização defensora dos interesses dos policiais rodoviários
federais lotados no Paraná) e a questão de fundo ora debatida (lavra-
tura de Termo Circunstanciado de Infração Penal por policiais milita-
res estaduais). Ementa: DECISÃO: ACORDAM os Desembargadores
integrantes do Órgão Especial do Tribunal de Justiça do Paraná, por
unanimidade de votos, em NEGAR PROVIMENTO ao agravo.
(PARANÁ, 2017)

Casos de grande repercussão geral, como por exemplo, a eutanásia, aborto,


o uso de aplicativos para contratação de motoristas, como o caso do “uber”, e ou-
tros que repercutem em várias disciplinas, deveriam ser analisados de forma geral,
mas também específica, ouvindo as categorias que representam as partes. Mas ain-
da assim, poderá um julgador achar que tal situação não tem que ser analisada por
especialistas da área, tendo em vista que compete tão somente ao direito.
O segundo seria a repercussão social da controvérsia, cenário parecido com
o primeiro, por não ter nenhuma norma que descreva o que venha a ser tal situação.
Outra decisão que tem como base o amicus curiae:

TJPB - ACÓRDÃO/DECISÃO do Processo Nº 00000227420178150000, -


Não possui -, Relator DES. LEANDRO DOS SANTOS , j. em 27-01-2017).
Ementa: MANDADO DE SEGURANÇA. REQUERIMENTO DE INTERVEN-
ÇÃO DE TERCEIRO COMO "AMICUS CURIAE". INTERESSE INSTITUCIO-
NAL NÃO DEMONSTRADO. AUSÊNCIA DE ELEMENTOS APTOS A PLU-
RALIZAR O DEBATE. MEROS INTERESSES ECONÔMICOS QUE DIZEM
RESPEITO AOS PRÓPRIOS ADVOGADOS REQUERENTES. FALTA DE
REPRESENTATIVIDADE ADEQUADA. INDEFERIMENTO. - Para ingresso
no feito na qualidade de "Amicus Curiae", o Requerente deverá demonstrar
que possui representatividade, ou seja, que tem específico interesse institu-
cional na causa e, justamente em função disso, permitir a pluralização do de-
bate, fornecendo elementos ou informações úteis e necessárias para o profe-
rimento de melhor decisão jurisdicional. Meros interesses econômicos, que
dizem respeito apenas aos próprios Advogados requerentes que reclamam o
ingresso em Juízo, visando, tão somente, o deslinde da Ação em seu favor,
não são suficientes para sua admissão. - A participação de "Amigo da Corte",
visa ao aporte de informações relevantes ou dados técnicos, situação que
não se configura na hipótese dos autos, eis que os argumentos expostos no
presente requerimento, refogem aos estreitos limites da análise do mérito a
ser discutido na Ação mandamental ajuizada pelo Estado da Paraíba em que
se pretende examinar a necessária liquidez e certeza do direito invocado pelo
Impetrante, qual seja, a ilegalidade de provável ato de sequestro de valores
das contas do Estado para fins de quitação de precatórios. (PARAÍBA, 2017)

Já a terceira seria a especificidade do tema, outro aspecto que segue a mes-


ma lógica dos demais, ou seja, tem autoridade no tema debatido, mas não especifi-
ca os limites que se adéquam ao caso.
28

A figura do lobista, portanto, tem alguma semelhança com o amicus curiae,


mas apenas em sua base. Enquanto o lobista defende alguma parte específica que
esteja interessada no assunto, trazendo benefícios restritos apenas aos grupos e-
missários dos lobbies, este se diferencia do amicus curiae, pois a idéia aqui é de
uma representatividade de um grupo que tenha como debate temas de repercussão
geral para a sociedade, interesse “pro societate”.
29

6 CONCLUSÃO

Após a análise de pontos específicos sobre a figura do amicus curiae, levando


como base o artigo do NCPC, pode-se perceber que este veio com o intuito de am-
pliar o debate, fazendo com que terceiros com interesse na causa pudessem intervir,
ampliando o nível de conhecimento e fazendo com que as decisões possam ser
mais amplas, respaldadas por um conjunto de conhecimentos específicos sobre o
assunto.
Como a figura ainda pode ser considerada nova, muito se deve debater sobre
o tema para que fique mais claro o instituto, tendo em vista que há ainda muitas con-
trovérsias e conceitos com visão muito ampla, deixando todas as decisões nas mãos
de apenas um juiz.
Assim, são necessários novos debates para que uma figura de tão grande
importância tenha sues limites estabelecidos.
Ampliando o contraditório, o amicus curiae traz consigo um grande avanço
para uma sociedade que presa pela ideia do Estado Democrático de Direito.
30
31

REFERÊNCIAS

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