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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA

MOÇAMBIQUE

MÓDULO DE FORMAÇÃO
NOVO CURRÍCULO
O QUE É?

CRESCER

FORMAÇÃO DE PROFESSORES EM EXERCÍCIO

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FICHA TÉCNICA
TÍTULO NOVO CURRÍCULO O QUE É?

Autor A Tuzine

Direcção Agostinho Barreto Coetzee

Coordenação Fernando Rachide, Julie Reviere, Mary


Hooker

Revisão Cristina A. Tembe e Nobre dos Santos

Fotografia na capa Rede-Osuwela MEC

Impressão e acabamentos INSITEC, Moçambique

Local Maputo

Tiragem 25,000

Desenvolvimento do módulo Realizado com apoio de GTZ

Fiananciamento FASE

 2005, MEC
Reservados todos os direitos. É proibida a reprodução desta obra por qualquer meio (fotocópia,
offset, fotografia, etc.), sem o consentimento escrito do MEC.

A violação destas regras será passível de procedimento judicial, de acordo com o estipulado no
Código do Direito de Autor, Decreto-Lei 4, de 27 de Fevereiro de 2001.

W WW .M EC .G OV .M Z

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ÍNDICE

PREÂMBULO...................................................................................................................3

1. INTRODUÇÃO..............................................................................................................5
ESTRUTURA DO MÓDULO.........................................................................................6
RESULTADOS ESPERADOS........................................................................................6
2. CONTEXTUALIZAÇÃO..............................................................................................7
2.1 - POLÍTICO-ECONÓMICA.............................................................................................7
2.2 - SÓCIO-CULTURAL.....................................................................................................7
2.3 - EDUCATIVA...............................................................................................................8
ACTIVIDADE 1: Contextualização.............................................................................9
3. POLÍTICA GERAL.....................................................................................................10
3.1 - SISTEMA NACIONAL DE EDUCAÇÃO......................................................................10
ACTIVIDADE 2: Política Geral................................................................................11
3.2 - OBJECTIVOS GERAIS DO SISTEMA NACIONAL DE EDUCAÇÃO (SNE)...................11
3.3 - PERFIL DO GRADUADO DO ENSINO BÁSICO..........................................................11
ACTIVIDADE 3: Objectivos Gerais do SNE e Perfil do Graduado.........................12
4. NOVO CURRÍCULO..................................................................................................13
4.1. INOVAÇÕES..............................................................................................................13
4.1.1 - CICLOS DE APRENDIZAGEM................................................................................13
4.1.2 – ENSINO BÁSICO INTEGRADO..............................................................................14
ACTIVIDADE 4: Inovações......................................................................................15
4.1.3 - CURRÍCULO LOCAL.............................................................................................15
4.1.4 - DISTRIBUIÇÃO DE PROFESSORES........................................................................16
ACTIVIDADE 5: Inovações......................................................................................17
4.1.5 - PROMOÇÃO SEMI-AUTOMÁTICA OU PROGRESSÃO NORMAL..............................18
ACTIVIDADE 6: Inovações......................................................................................19
4.1.6 - INTRODUÇÃO DE LÍNGUAS MOÇAMBICANAS......................................................20
ACTIVIDADE 7: Inovações......................................................................................21
4.1.7 - INTRODUÇÃO DA LÍNGUA INGLESA....................................................................21
4.1.8 - INTRODUÇÃO DE OFÍCIOS...................................................................................22
4.1.9 - INTRODUÇÃO DE EDUCAÇÃO MORAL E CÍVICA.................................................22
ACTIVIDADE 8: Inovações......................................................................................23
5. ESTRUTURA CURRICULAR...................................................................................24
5.1. ÁREAS CURRICULARES...........................................................................................24
ACTIVIDADE 9: Inovações......................................................................................24
6. ESTRUTURA DOS PROGRAMAS.........................................................................25
ACTIVIDADE 10: Estrutura dos Programas............................................................26

REFERÊNCIAS.................................................................................................................27

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PREÂMBULO

Eu sei que não posso


ensinar nada a ninguém.

O que sei é que posso


criar
um ambiente favorável
a quem quer aprender!
Carl Rogers

Duma aprendizagem passiva a uma aprendizagem activa

Para tornar a prática pedagógica mais adequada ao processo de aprendizagem,


é preciso perceber, de facto, o que significa aprender? O processo de
aprendizagem pode ser sumariado como
um processo contínuo de fazer experiências e de dar sentido a
essas experiências, modificando ou ampliando, se for
necessário, as ideias previamente adquiridas, para acomodar e
compreender as novas experiências.

Sendo assim, as crianças aprendem a partir da sua própria experiência, usando


todos os seus sentidos: ver, ouvir, apalpar, etc. O pensamento das crianças, na
faixa etária correspondente ao 1º ciclo do ensino básico, “está fortemente ligado
à acção sobre os objectos concretos: as crianças aprendem fazendo e
aprendem pensando sobre o que fazem” (Gomes de Sá, p. 26), dando assim
sentido ao mundo que as rodeia.

Este processo não se limita à educação formal, o que significa que as crianças
não chegam à escola com uma “mente vazia”, mas tendo já as suas próprias
ideias e interpretações sobre objectos ou eventos ao seu redor, baseadas na
sua vida do dia a dia. Estas ideias não correspondem, necessariamente, às
ideias cientificamente estabelecidas, mas são, por enquanto, inteiramente úteis
para dar sentido à sua experiência da vida quotidiana.

Se não houver ligação entre as ideias, observações e experiências prévias das


crianças e os novos conceitos que elas devem aprender, o conteúdo da
aprendizagem terá pouco significado e não implicará, em consequência, numa
mudança na forma de pensar.

A memorização de conteúdos não inteligíveis não representa, pois, uma


construção mental activa por parte dos alunos e, consequentemente, traz pouca
ou nenhuma contribuição para o desenvolvimento do seu pensamento.
O que é, de facto, importante é o processo de raciocínio que encaminha o aluno
a chegar a um conceito.

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Neste sentido, os sete módulos de capacitação de professores neste ciclo de
formação não representam somente um conjunto de dados e de conceitos a
apresentar às crianças, mas também um processo de investigação e exploração
que liga a aprendizagem de novos conceitos à experiência que as crianças já
têm e que envolve diferentes habilidades que elas devem aprender.

Para o professor, isto significa uma mudança do seu papel de “detentor de


conhecimentos” a “facilitador do processo de aprendizagem”, pois um professor
que proporcione um ambiente favorável para quem quer aprender – é um
professor que:
 consegue motivar os alunos para investigarem um novo conceito;
 antes de introduzir um novo conceito, ausculta as ideias que as crianças
já trazem;
 deixa as crianças falarem livremente sobre as suas experiências;
 escuta as ideias das crianças, tentando pôr-se no lugar das crianças em
termos do seu raciocínio;
 organiza materiais concretos e actividades que guiam os alunos na
exploração de ideias;
 sabe fazer perguntas que seguem e encaminham o raciocínio dos alunos.

Por último, espero que os professores que se integrarem nestes ciclos de


formação consigam atingir os objectivos a que os módulos lhes propõem, rumo a
mudança para a melhoria de qualidade no processo de ensino aprendizagem em
Moçambique.

O Ministro da Educação e Cultura

Aires Bonifácio Baptista Ali

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1. INTRODUÇÃO

O presente módulo tem como objectivo dar a conhecer ao professor, ou


candidato a professor, em que consiste, na essência, o “Plano Curricular do
Ensino Básico”, vulgo PCEB, no que diz respeito à sua natureza, objectivos e
estrutura.

O PCEB constitui um pilar do Ensino Básico em Moçambique, pois


apresenta as linhas gerais que sustentam o novo currículo, assim como as
perspectivas da educação básica no país.

Através deste novo currículo, que reformula o introduzido em 1983, pela


lei nº 4/83, de 23 de Março, e revisto em 1992, pela lei 6/92, de 6 de Maio,
pretende-se tornar o ensino mais relevante, no sentido de formar cidadãos
capazes de contribuir para a melhoria da sua vida, da vida da sua família, da sua
comunidade e do país, dentro do espírito da preservação da unidade nacional,
manutenção da paz e estabilidade nacional, aprofundamento da democracia e
respeito pelos direitos humanos, bem como da promoção e valorização da
cultura moçambicana.

Um currículo relevante é aquele que considera e responde às


necessidades básicas de aprendizagem. Ele abrange tanto as ferramentas
essenciais para a aprendizagem básica (leitura e escrita, expressão oral,
cálculo, solução de problemas) como os seus conteúdos (conhecimentos
teóricos e práticos, valores e atitudes), necessários para que os seres humanos
possam sobreviver, desenvolver plenamente as suas capacidades, viver e
trabalhar com dignidade, participar plenamente no desenvolvimento do país,
melhorar a qualidade da sua vida, tomar decisões fundamentais e continuar a
aprender (Declaração Mundial de Educação para Todos).

Na elaboração do PCEB, foram tomados em consideração tanto os


diferentes estudos feitos na/sobre educação, como as reflexões de professores,
supervisores e inspectores educacionais. Por outro lado, foram recolhidas e
acomodadas sugestões vindas de diversos sectores da sociedade civil. A estas
reflexões e recomendações juntaram-se experiências curriculares de alguns
países da região austral de África e europeus.

O novo currículo do ensino básico, que vai entrar, formalmente, em vigor


em 2004, com a introdução simultânea das 1ª, 3ª e 6ª classes, em todo o
território nacional, é constituído por uma gama de disciplinas que proporcionam
à criança um conjunto de conhecimentos e habilidades, tendo uma componente
nacional, o Currículo Nacional propriamente dito, e uma componente local, o
Currrículo Local, ao qual estão reservados 20% do tempo total.

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ESTRUTURA DO MÓDULO

O presente módulo contém seis itens. O primeiro apresenta uma breve


Introdução, seguido da Contextualização que está na origem da realização da
Transformação Curricular (TC). O terceiro aborda a Política Geral da Educação
na base da qual assenta a TC e os Objectivos Gerais do Sistema Nacional de
Educação. O quarto dedica-se às Inovações que o PCEB introduz,
nomeadamente: os Ciclos de Aprendizagem, o Ensino Básico Integrado, o
Currículo Local, a Distribuição dos Professores do 3º Ciclo, a Promoção Semi-
Automática, as Línguas Moçambicanas, a Língua Inglesa, os Ofícios e a
Educação Moral e Cívica.

A Estrutura Curricular é apresentada no quinto item com as disciplinas


agrupadas em três áreas curriculares a saber: Comunicação e Ciências Sociais;
Matemática e Ciências Naturais; e Actividades Práticas e Tecnológicas.

Deste modo, matérias não menos relevantes com ele relacionadas tais
como sistema de avaliação, estratégias de implementação, formação de
professores e tabelas de distribuição da carga horária, não serão objecto deste
módulo.

RESULTADOS ESPERADOS

Depois da leitura deste módulo, o professor deve ser capaz de:

• conhecer o essencial do novo Plano Curricular do Ensino


Básico;
• identificar as suas principais inovações;
• explicar em que consiste cada uma das inovações;
• compreender a nova estrutura dos programas de ensino.

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2. CONTEXTUALIZAÇÃO

2.1 - Político-económica

Moçambique, de acordo com o censo de 1997, tem uma população


estimada em 16.542.700 habitantes (INE, 1998: 23), sendo a sua população,
predominantemente, rural, cuja base de subsistência é a agricultura.

Desde os meados da década 80, o país tem vivido transformações


profundas com a introdução do Programa de Reabilitação Económica, que se
tem caracterizado, fundamentalmente, pela adopção das leis de economia do
mercado. Em 1990, introduz-se o sistema político multipartidário, e consagra-se
Moçambique como um Estado de Direito, através da adopção de uma nova
Constituição.

O fim da Guerra, no país, com a assinatura do Acordo Geral de Paz, em


Outubro de 1992, permitiu que muitas populações regressassem às suas zonas
de origem, dando início à normalização das suas vidas.

Com a nova realidade, a economia tem mostrado sinais de


crescimento. De 1994 a 1995, o PIB per capita aumentou 0,8%, para em 1997
atingir 11,5%. A taxa anual de inflação acumulada diminuiu de 56,9% em 1994
para 5,8% em 1997 (PNP, 1998:3). O orçamento alocado aos sectores sociais
tem vindo a aumentar, principalmente, nas áreas da Educação e Saúde.

2.2 - Sócio-cultural

Sendo Moçambique um país multicultural e habitado por diferentes


grupos etno-linguísticos, na sua maioria, de origem Bantu, não é de estranhar a
existência de um desfazamento da acção educativa relativamente à cultura e
tradições culturais o que influi no valor atribuído pelas comunidades à escola e
na consequente retenção/abandono escolar (Conceição, R. et all: 1998: 14). Os
principais factores culturais apontados são a língua de ensino, os ritos de
iniciação, as práticas sócio-económicas, a divisão social do trabalho e os
esteriótipos relacionados com o género.

A questão da língua é um dos factores que maior influência exerce no


processo de ensino-aprendizagem, sobretudo, nos primeiros anos de
escolaridade, na medida em que a maior parte dos alunos moçambicanos, que
entra na escola pela primeira vez, fala uma língua materna diferente da língua
de ensino. Este factor faz com que muitas das competências e habilidades,
sobretudo a competência comunicativa, adquiridas pelas crianças, antes de
entrarem na escola, não sejam aproveitadas (PEBIMO, 1996: 1).

Os ritos de iniciação, parte dos “sistemas de educação tradicional”, com o


objectivo de transmitir normas e valores de uma sociedade, preparando a

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criança para a vida adulta, são um outro factor cultural de conflito entre a escola
e as tradições culturais, dada a diferença entre a cultura tradicional e a que é
veiculada pela escola.

Muitas práticas sócio-económicas e a divisão social do trabalho na


comunidade, que constituem aprendizagens no âmbito da educação familiar, são
factores que, muitas vezes, condicionam a participação das crianças nas
actividades escolares e põem em causa o próprio valor da escola. Muitas
crianças, desde muito cedo, envolvem-se em actividades domésticas e
produtivas, desviando-se da frequência escolar.

Outro factor sócio-cultural que influencia o sistema de educação está


relacionado com a forma como são consideradas as diferenças de género pela
comunidade. Regra geral, os pais privilegiam a escolaridade dos rapazes. A
divisão social do trabalho, na base do género, atribui às meninas, desde muito
cedo, tarefas tradicionalmente consideradas da responsabilidade da mulher, o
que dificulta o seu acesso à escola.

Perante este cenário, torna-se premente o equacionamento destes e de


outros factores sócio-culturais no novo currículo. Consequentemente, afigura-se
ser de extrema importância o envolvimento efectivo da comunidade no processo
de ensino-aprendizagem, pois só ela pode garantir o acesso e a retenção dos
jovens na escola, em particular as raparigas.

2.3 - Educativa

No contexto da estratégia global de desenvolvimento, o Governo de


Moçambique adoptou, em 1995, a Política Nacional de Educação, que
operacionaliza o Sistema Nacional de Educação, introduzido em 1983, através
da lei 4/83, de 23 de Março e revista pela lei 6/92, de 6 de Maio.

A Política Nacional de Educação define a Educação Básica como a


primeira prioridade do Governo. Assim, através do Plano Estratégico da
Educação, o Ministério da Educação reafirma as prioridades definidas na Política
Nacional de Educação, com destaque para:

• o aumento do acesso às oportunidades educativas para todos


os moçambicanos, a todos os níveis do sistema educativo;
• a manutenção e melhoria da qualidade de educação;
• o desenvolvimento do quadro institucional (MINED, 1997:1).

A Educação Básica é de importância fundamental para a estratégia de


desenvolvimento do país porque:

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• é um elemento central de estratégia da redução da pobreza,
uma vez que, por um lado, a aquisição de conhecimentos
académicos, incluindo a alfabetização de adultos, irá alargar as
oportunidades de acesso ao emprego, auto-emprego e aos
meios de subsistência sustentáveis ao cidadão moçambicano e,
por outro, aumentar a equidade do sistema educativo;
• assegura o desenvolvimento dos recursos humanos, base para
o sucesso da economia nacional;
• é uma necessidade para o efectivo exercício da cidadania.

A estrutura e os conteúdos do currículo desenvolvidos nos princípios da


década 80 têm-se mostrado cada vez mais inadequados para uma economia em
rápida mudança e para as novas exigências sociais. A actual estrutura curricular
é demasiado rígida e prescritiva, deixando pouca margem para adaptações aos
níveis regional e local. A maior parte dos conteúdos, que se lecciona na escola,
é de uma relevância ou utilidade prática insignificante.

A manutenção do currículo do EP2, com sete professores para


cada turma, organizado na óptica das disciplinas e obedecendo a uma avaliação
selectiva, está aquém das possibilidades do Governo, sabido que uma parte
significativa do seu orçamento actual é coberto por fundos disponibilizados por
fontes externas.

Nestas circunstâncias, a expansão do acesso e a melhoria da qualidade


do ensino, para responder às crescentes exigências dos cidadãos
moçambicanos, não será possível, a menos que outros actores, incluindo os
grupos de interesse e representantes da sociedade civil, manifestem o desejo de
assumir uma parte ainda maior da responsabilidade pelo financiamento e gestão
do sistema educativo (MINED, 1997). Por isso,

é objectivo do Ministério da Educação construir um currículo que


proporcione aos cidadãos moçambicanos os conhecimentos e
habilidades de que eles necessitam para obterem meios de
sobrevivência sustentáveis, acelerar o crescimento da economia e
reduzir os índices de pobreza.

ACTIVIDADE 1: Contextualização

Trabalho em grupos ou aos pares


1.1. Discutam, em grupo ou aos pares, às seguintes questões:

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• o que é um currículo relevante?
• que mudanças determinaram a necessidade da transformação curricular?
• caracterizem cada uma delas.
1.2. Apresentem, em sessão plenária, usando cartões, as respostas obtidas.

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3. POLÍTICA GERAL

3.1 - Sistema Nacional de Educação

Em 1983, Moçambique introduziu o Sistema Nacional de Educação


(SNE) através da lei 4/83, de 23 de Março e revista pela lei 6/92, de 6 de Maio. A
sua introdução foi gradual (uma classe por ano), tendo-se iniciado com a 1ª
classe em 1983, possuindo sete classes organizadas em dois graus. O 1º grau
(EP1) compreende cinco classes (da 1ª à 5ª classe) e o 2º (EP2) duas classes
(6ª e 7ª). A idade de ingresso para o Ensino Básico é de 6 anos.

No EP1, um só professor lecciona todas as disciplinas curriculares


enquanto no EP2, cada disciplina é leccionada por um único professor.

No EP1, para cada disciplina foram elaborados um livro do aluno e


um manual do professor. O manual do professor apresenta, de uma forma
detalhada, as actividades que o professor deve realizar em cada aula bem como
as propostas de avaliação.

Esta organização dos manuais tinha por objectivo facilitar o


trabalho do professor, visto que se tinha a consciência da sua fraca preparação
didáctico-pedagógica.

Entretanto, estudos efectuados para avaliar a implementação do


SNE têm dado indicações de que os objectivos não estão sendo, cabalmente,
atingidos, apresentando-se como factores:

• falta de interdisciplinaridade pois os programas de ensino e os livros


concebidos para os alunos, bem como os manuais dos professores
tratam das matérias de modo compartimentalizado;

• ausência de etapas intermédias fundamentais do processo de ensino-


aprendizagem o que, consequentemente, não atende ao princípio
pedagógico de diferenciação que reconhece os diferentes rítmos e
interesses de aprendizagem dos alunos;

• abordagem uniforme e homogénea, em todo o país, de conteúdos


temáticos, pois o currículo em vigor, não abre, de uma forma explícita, a
possibilidade de integração do currículo local;

• avaliação pedagógica predominantemente sumativa, desempenhando


exclusivamente a função selectiva: não havendo, praticamente,
harmonização e integração do carácter formativo e sumativo da
avaliação pedagógica, um dos princípios fundamentais da prática do

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ensino eficaz e efectivo;
• falta de correspondência entre o currículo da formação de professores
e as reais exigências do ensino;

• baixo nível de ingresso dos futuros professores aos centros de


formação;

• predomínio da teoria nos programas de formação o que não permite ao


formando a aquisição de capacidades para uma melhor gestão do
processo de ensino-aprendizagem.

A actividade de ensino-aprendizagem limita-se ao tempo de contacto


entre o professor e o aluno na escola ou em ambiente similar formal, de
harmonia com o horário escolar estabelecido, não havendo lugar ao incentivo de
círculos de interesse. Por conseguinte, no currículo vigente,

o ensino é mecanizado, apelando-se apenas para a


memorização, em detrimento de um processo pedagógico activo,
orientado para a aquisição de competencies e desenvolvimento
de conhecimentos e habilidades, quer dizer, para o
desenvolvimento integral e harmonioso do aluno.

ACTIVIDADE 2: Política Geral

Trabalho em grupos ou aos pares

2.1.Discutam, em grupo ou aos pares, sobre os aspectos críticos do currículo


vigente;
2.1.1.Apresentem, através de uma grelha, a lista dos aspectos considerados
fracos deste currículo;
2.1.2.Exemplifiquem ou relatem casos/situações que ilustrem alguns desses
aspectos.

3.2 - Objectivos Gerais do Sistema Nacional de Educação (SNE)

De harmonia com a lei nº 6/92, os objectivos gerais do Sistema Nacional


de Educação traduzem-se em três grandes áreas: Educação para a cidadania;
Educação para o desenvolvimento económico e social; e Educação para as
práticas ocupacionais.

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3.3 - Perfil do Graduado do Ensino Básico

Como se referiu na parte introdutória deste documento, o principal


desafio deste currículo é tornar o ensino mais relevante. Assim, pretende-se que,
ao concluir o ensino básico, o graduado tenha adquirido conhecimentos,
habilidades e valores que lhe permitam uma inserção efectiva na sua
comunidade e na sociedade em geral.

Cabe ao Ensino Básico formar um aluno capaz de reflectir, ser


criativo, isto é, capaz de se questionar sobre a realidade, de
modo a intervir sobre ela, em benefício próprio e da sua
comunidade.

ACTIVIDADE 3: Objectivos Gerais do SNE e Perfil do Graduado

Trabalho em grupos ou aos pares

3.1.Discutam, em grupo ou aos pares, em que consistem:

• Educação para a cidadania


• Educação para o desenvolvimento económico e social
• Educação para as práticas ocupacionais

3.2.Comentem a afirmação que se segue:


“… o graduado deve ter adquirido conhecimentos, habilidades e valores
que lhe permitam uma inserção efectiva na sua comunidade e na sociedade em
geral.”

3.2.1. Apresentem, em sessão plenária, usando cartões, as vossas opiniões


sobre o tipo de conhecimentos, habilidades e valores que deve possuir o
graduado do ensino básico.

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4. NOVO CURRÍCULO

4.1. Inovações
Constituem inovações deste currículo, os Ciclos de Aprendizagem; o Ensino
Básico Integrado; o Currículo Local; a Distribuição dos Professores do 3º Ciclo; a
Promoção Semi-Automática e a Introdução de Línguas Moçambicanas, do
Inglês, de Ofícios e de Educação Moral e Cívica.

4.1.1 - Ciclos de Aprendizagem


O novo currículo do Ensino Básico é constituído por três ciclos de aprendizagem: o 1º
(1ª e 2ª classes) é de dois anos; o 2º (3ª, 4ª e 5ª classes) dura três anos; e o 3º e último (6ª
e 7ª classes) é de dois anos, como se pode ver no quadro seguinte:
Grau 1º 2º
Ciclo 1º 2º 3º
1ª 2ª 3ª 4ª 5ª 6ª 7ª
Classe
Idade 6 7 8 9 10 11 12

Os ciclos de aprendizagem são unidades de aprendizagem com o


objectivo de desenvolver habilidades e competências específicas. Assim, o 1º
ciclo desenvolve habilidades e competências de leitura e escrita, contagem de
números e realização das operações básicas: somar, subtrair, multiplicar e
dividir; observar e estimar distâncias, medir comprimentos; dar noções de
higiene pessoal, de relação com as outras pessoas, consigo próprio e com o
meio; o 2º ciclo aprofunda os conhecimentos e as habilidades desenvolvidos no
1º ciclo e introduz novas aprendizagens relativas às Ciências Sociais e Naturais,
bem como ao cálculo de superfícies e volumes; e o 3º e ultimo ciclo, para além
de consolidar e ampliar os conhecimentos e habilidades adquiridos nos ciclos
anteriores, prepara o aluno para a continuação dos estudos e/ou para a vida.

Note-se que é necessário ter em conta que os ritmos de aprendizagem e


desenvolvimento são variáveis de pessoa para pessoa, e isto também se deve
poder aplicar ao nível da escola, principalmente nos primeiros anos de
escolaridade (INDE, 1999:106/7).

Partindo do pressuposto de que o desenvolvimento cognitivo não é


uniforme para todas as crianças e depende de vários factores, é de considerar a
hipótese de providenciar mais tempo para que as crianças nos diferentes
estágios de crescimento atinjam diferentes estágios de desenvolvimento em
diferentes momentos.

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4.1.2 – Ensino Básico Integrado

O Ensino Básico Integrado, em Moçambique, consiste de sete classes,


articulado sob o ponto de vista de estrutura, objectivos, conteúdos, material
didáctico e da própria prática pedagógica. Caracteriza-se por desenvolver no
aluno habilidades, conhecimentos e valores de forma articulada e integrada de
todas as áreas de aprendizagem, que compõem o currículo, conjugados com as
actividades extra-curriculares e apoiado por um sistema de avaliação, que
integra as componentes sumativa e formativa.

Através do Ensino Básico Integrado, espera-se proporcionar ao educando


um conjunto de conhecimentos e competências sobre/em diferentes áreas e
matérias de uma forma integrada e harmoniosa.

A abordagem integrada das diferentes matérias, versadas pelos livros,


apoia consideravelmente o processo de ensino-aprendizagem na sala de aula,
isto é, a prática pedagógica.

Poder-se-ão intergrar matérias ou disciplinas que, não necessariamente


dentro dos padrões do currículo tradicional, em que as matérias ou disciplinas
são leccionadas de forma isolada ou compartimentada, guardam entre si algum
relacionamento. Assim, poderíamos, se a escola entendesse que os seus alunos
“aprenderiam melhor”, fazer integração de duas, três ou mais matérias
seleccionadas por sua significância, como se pode ver na figura seguinte:

Ciências Português
Sociais

Assim, tomando como ponto de partida um tema particular de Ciências


Sociais, “Estudo da comunidade onde os alunos são originários”, por exemplo,
pode-se motivar os alunos e permitir-lhes que relacionem este tema com
conteúdos de Português tais como descrição, relato, etc. A situação de
aprendizagem, neste exemplo, decorrerá ou desencadear-se-á a partir da
integração de conteúdos destas disciplinas, à qual outras matérias ou disciplinas
poderão eventualmente agregar-se.

Entretanto, o ensino integrado não consiste apenas na contemplação de


matérias ou conteúdos doutras disciplinas, compreende também a

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transformação das experiências dos alunos, do senso comum, em ciência com
que eles possam interpretar fenómenos e desenvolver o mundo que os rodeiam.

ACTIVIDADE 4: Inovações

Trabalho em grupos ou aos pares

4.1. Em grupo ou aos pares, digam:

• em que consistem os novos ciclos de aprendizagem?


• o que é ensino básico integrado?

4.2. Argumentem a favor ou contra a afirmação: “todos os conteúdos de uma


determinada disciplina, devem integrar-se, forçosamente, noutra(s)”.

4.3. Através de uma chuva de ideias, procurem esboçar uma “aula integrada”.

4.4. Em sessão plenária, cada grupo ou par apresenta a sua aula integrada.

4.1.3 - Currículo Local

Um dos grandes objectivos do presente currículo é formar cidadãos


capazes de contribuir para a melhoria da sua vida, a vida da sua família, da
comunidade e do país, tomando em consideração os sabers, práticas relevantes
e necessidades das comunidades onde a escola se situa. Para o efeito, os
programas de ensino devem prever uma carga horária de 20% do total do tempo
do currículo nacional para a acomodação do currículo local (CL).

Como serão seleccionados os conteúdos do CL?

Os conteúdos locais devem ser estabelecidos em conformidade com as


aspirações das comunidades, o que implica uma negociação permanente entre
as instituições educativas e as respectivas comunidades. Os critérios de
seleccão dos conteúdos do CL serão os seguintes:

- relevância sócio-cultural e económica para a comunidade;


- possibilidade de promoção de auto-emprego;
- desenvolvimento de habilidades para a vida.

As matérias, propostas para o currículo local, devem ser integradas nas


diferentes disciplinas curriculares, tendo em conta as particularidades de cada
disciplina, os objectivos de cada ciclo e a idade dos alunos.

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Como serão integrados os conteúdos do CL nas aulas?

Um dos aspectos cruciais na integração dos conteúdos do CL relaciona-


se com o “como” distribuí-los, por disciplina e por ciclo, de tal maneira que se
cubram os 20% alocados. O ponto de partida importante que se deve
compreender é que o CL não é uma disciplina; é um conjunto de conteúdos ou
matérias que versam sobre diversos aspectos da vida local.

Estes conteúdos ou matérias, uma vez seleccionados, devem ser


enquadrados nas diferentes disciplinas e ciclos, de acordo com a sua natureza,
especificidade e complexidade. Uma vez enquadrados nas diferentes disciplinas
e ciclos, estes conteúdos passarão a merecer o mesmo tipo de tratamento que
outros do currículo nacional, aos quais conferirão uma maior profundidade ou
extensão, complementaridade ou um carácter novo.

Não deverá haver lugar a avaliação ou tratamento exclusivo de conteúdos


do CL, pois estes estarão distribuídos em diferentes disciplinas e ciclos. Os 20%
são, por assim dizer, uma parte da carga horária das diferentes disciplinas do
ciclo.

Quem são os actores envolvidos na recolha dos conteúdos para o


CL?

- os professores (que fazem a recolha e sistematização da informação);


- líderes e autoridades locais; alunos, professores, pais e/ou
encarregados de educação; representantes de diferentes instituições
afins e organizações comunitárias (que sugerem conteúdos que
correspondam às necessidades locais de aprendizagem).

Como se avaliará o CL?

O currículo local será avaliado de forma integrada (envolvendo conteúdos


definidos central e localmente) através de provas escritas e orais. Nos exames
nacionais, incluir-se-ão questões cujas respostas se direccionem para
aspectos/conteúdos locais.

4.1.4 - Distribuição de Professores

As turmas do 1º e 2º ciclos do Ensino Básico serão leccionadas por um


professor cada; e as do 3º ciclo, por 3/4 professores. Cada professor do 3º ciclo
leccionará três a quatro disciplinas curriculares, podendo ser ou não da mesma
área, conforme a sua especialização ou inclinação.

Aos professores bivalentes, em exercício, ser-lhes-ão ministrados cursos


de capacitação para poderem leccionar mais uma ou duas disciplinas, de acordo
com a sua preferência e em função das necessidades da escola.

18
A redução do número de docentes por turma no EP2, de sete, para
três, tem, como pano de fundo, a organização do currículo em áreas
disciplinares. A presente opção tem em vista uma rápida expansão da rede do
EP2, a nível nacional, visto que o sistema de três professores para o EP2 se
afigura menos dispendioso.

Entretanto, quando se fala da distribuição de disciplinas pelos professores


do 3º ciclo, não se deve perder de vista que a sua formação foi sempre na
perspectiva de eles serem capazes de leccionar o ensino básico, e não,
necessariamente, para esta ou aquela disciplina.

É verdade que durante a sua formação pode ter vincado o carácter


bivalente do curso; contudo, isso não deve constituir nenhuma limitante ao ponto
de eles não poderem ensinar mais uma ou duas disciplinas do ensino básico.
Ademais, não será de surpreender que, no futuro, haja apenas um professor a
leccionar o 3º ciclo, a exemplo do que já acontece no 1º e 2º, pois ele possui
formação para leccionar todo o ensino básico.

ACTIVIDADE 5: Inovações

Trabalho em grupos ou aos pares

5.1. Através de uma chuva de ideias, sugiram e apresentem, em cartões, alguns


conteúdos locais que podem fazer parte do currículo local.

Currículo
Local

5.1.1. Por que razão seleccionaram estes conteúdos? Apresentem os vossos


argumentos, em sessão plenária.

5.1.2. Façam, através de uma grelha, a integração desses conteúdos nos


diferentes ciclos e disciplinas.

19
5.1.3. Planifiquem uma aula, em que integrem conteúdos do CL. Façam o vosso
plano num papel gigante e apresentem-no em sessão plenária.

5.2. Qual a principal alteração na distribuição dos professores do 3º ciclo?

5.2.1. Acham que esta inovação levará professores ao desemprego?


Fundamentem a vossa opinião, em sessão plenária.
.
5.3. Discutam as alterações na distribuição dos professores do 3º ciclo tendo
em conta:

• a situação sócio-económica do país;


• a realidade da vossa escola.

5.4. Em sessão plenária, cada grupo ou par apresenta as conclusões a que


chegou.

4.1.5 - Promoção Semi-automática ou Progressão Normal

A principal inovação no sistema de avaliação consistirá na adopção de


um sistema de promoção por ciclo de aprendizagem dos alunos que consiste na
transição destes, de um ciclo de aprendizagem para o outro. Para que isso
aconteça, é necessário que se criem condições de aprendizagem por forma a
que todos os alunos atinjam os objectivos mínimos de um determinado ciclo, o
que lhes possibilita a progressão para estágios seguintes.

Estas condições assentam, fundamentalmente, numa avaliação


predominantemente formativa, onde o processo de ensino-aprendizagem esteja
centrado no aluno, o que permite que se obtenha uma imagem com a maior
fiabilidade possível do desempenho do aluno em termos de competências
básicas descritas no currículo.

Uma vez assegurada a avaliação formativa, o que significa que


se providenciou a recuperação dos alunos com problemas na
aprendizagem, existem condições de base para os promover
para os estágios seguintes, mesmo que ainda existam algumas
dificuldades de percurso.

Excepcionalmente, poderá haver casos de repetência no final de cada


ciclo de aprendizagem. No entanto, isso somente acontece nos casos em que o
professor, o Director da Escola e os Pais/Encarregados de Educação cheguem à
conclusão que a criança, apesar de todo o esforço desencadeado por todos

20
eles, não atingiu as competências mínimas e, por isso, não beneficiará da
progressão para o estágio seguinte.

Para que este modelo de avaliação cumpra os objectivos esperados,


constituem condições essenciais as seguintes:

• preparação dos professores em matéria de avaliação o que poderá ser


realizado através da formação inicial e em exercício;
• disponibilidade de cadernos de exercícios que reflictam as competências
mínimas que os alunos devem desenvolver em cada estágio de
aprendizagem;
• gestão escolar efectiva;
• empenho e cometimento do professor e uma supervisão e inspecção
efectivas;
• disponibilização pelo MINED de instrumentos de recolha de informação
(qualitativa e quantitativa) sobre o desempenho do aluno que possibilitem
situar o seu estágio de desenvolvimento em termos de aptidões,
capacidades e habilidades e que permitam uma tomada de decisão com a
maior objectividade possível sobre o futuro do aluno.

ACTIVIDADE 6: Inovações

Trabalho em grupos ou aos pares

6.1. Em grupos ou aos pares, discutam a veracidade ou falsidade das seguintes


afirmações/situações:

• em condições normais, todas as crianças sujeitas à aprendizagem


reúnem semelhantes possibilidades para progredirem para o ciclo
seguinte;

• de acordo com o princípio da promoção semi-automática ou


progressão normal, todas as crianças que não tiverem frequentado todas
as aulas, devido à doença prolongada, ou por abandono temporário da
escola, passam para a classe/ciclo seguinte;

6.2. Prestem atenção ao seguinte episódio:

“Os pais do Jorge são camponeses e criadores de gado. Devido à falta de


mão-de-obra para lhes dar ajuda na sementeira, tiveram que recorrer à ajuda do
seu filho, Jorge, que na altura frequentava o 1º ciclo (2ª classe), na escola
Primária Completa de Mungoi, em Manjacaze. Assim, ele só esteve na escola
no primeiro e no último trimestre do ano lectivo. Como era de esperar, perdeu

21
muitas aulas e, consequentemente, não adquiriu as competências básicas que
se deviam atingir no final do 1º ciclo.”
6.2.1. A questão que se coloca é:

• O Jorge progride para o 2º ciclo ou repete o 1º?

6.2.2 Em sessão plenária, cada grupo ou par apresenta e argumenta a sua


resposta.

4.1.6 - Introdução de Línguas Moçambicanas

O processo educacional, em qualquer sociedade, só terá sucesso se for


conduzido através duma língua que o aprendente melhor conhece, respeitando-
se, deste modo, os pressupostos psico-pedagógicos e cognitivos, a preservação
da cultura e identidade do aluno e os seus direitos humanos.

Moçambique é um país que, à semelhança de vários países africanos,


possui zonas linguisticamente homogéneas (que são a maioria) e heterogéneas
(zonas urbanas e periurbanas). Nestas, há uma convergência de várias culturas
e, consequentemente, de várias línguas sendo este o cenário que caracteriza as
escolas que se localizam nestas zonas, cujos alunos falam Português como
língua materna (L1) ou como língua segunda (L2). Ora, em contextos linguísticos
desta natureza, não é possível aplicar o modelo bilingue proposto, porque para a
sua aplicação pressupõe-se que os alunos e o professor partilhem a mesma
língua.
A língua não é somente um instrumento de comunicação, mas também
um veículo de transmissão de aspectos culturais. Entre outros aspectos, o
vocabulário, as frases idiomáticas, as metáforas, são os que melhor expressam
essa cultura (Baker, 1993).

Porque a língua materna determina a identidade do indivíduo e da


comunidade linguística a que pertence, a sua preservação e desenvolvimento
são vistos como um direito humano.

A introdução das Línguas Moçambicanas, no ensino, observará


três modalidades, como se pode ver na grelha que se segue:

Modalidades Características
Programa de Educação Bilingue: Línguas A LM é língua de ensino e a LP é
Moçambicanas (LM)/L1 e Português disciplina.
(LP)/L2
Programa de Ensino Monolingue em LP/L2 A LP é língua de ensino e a LM
com recurso às LM/L1 funciona como recurso ou auxiliar de
ensino.
Programa de Ensino Monolingue em LP/L2 A LP é lingua de ensino e a LM

22
e LM/L1 como disciplina funciona como disciplina.
No programa bilingue, as primeiras classes são leccionadas na língua
moçambicana das crianças. A língua portuguesa é introduzida, desde a 1ª
classe, como disciplina e não como meio de ensino. Entretanto, a partir do 2º
ciclo regista-se um fenómeno inverso. A língua de ensino passa
progressivamente a ser o Português e a língua moçambicana uma disciplina.

No programa de ensino monolingue em LP/L2, com recurso às LM/L1,


estas funcionam como auxiliares do processo de ensino-aprendizagem, isto
justifica-se pelo facto de, o programa bilingue ainda não poder, a curto e médio
prazos, cobrir todo o país, sendo recomendável que se recorra às línguas
moçambicanas, como auxiliares do processo de ensino-aprendizagem,
sobretudo nas zonas rurais onde a oferta linguística do Português é quase
inexistente.

No programa de ensino monolingue em LP/L2 e LM/L1 como disciplina,


pressupõe-se que os alunos tenham oportunidade de acesso às línguas locais
como forma de estabelecer ou manter contacto com a sua cultura, bem como o
aumento da eficácia da comunicação num contexto multilingue, contribuindo
para o reforço da unidade nacional.

ACTIVIDADE 7: Inovações

Trabalho em grupos ou aos pares

6.1. Em grupo ou aos pares, discutam as questões que se seguem:

• o programa de educação bilingue será implementado em todas as


escolas do país?;
• o que acontecerá aos alunos/professores que forem transferidos de
uma escola/província que adoptou o programa bilingue para outro lugar?

• o que acontecerá aos alunos/professores que não falam a língua


usada pela escola/província que adoptou o programa bilingue?

6.2. Em que consiste o programa monolingue em português? Descrevam as


duas formas que ele pode assumir.

4.1.7 - Introdução da Língua Inglesa

O Inglês é uma língua de comunicação internacional, usada em vários


domínios tais como do conhecimento científico, transacções comerciais, entre
outras, o que torna imprescindível o seu domínio.
No contexto moçambicano, a introdução da língua inglesa no Ensino
Básico é justificada pelas seguintes razões:

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• contexto geográfico do país – a maioria dos países da África Austral
tem o inglês como Língua Oficial;
• Moçambique é membro da SADC e da Commonwealth onde o Inglês é
a principal língua de trabalho;
• fenómeno mundial da globalização – a maioria das interacções sociais
e económicas a nível mundial desenvolvem-se na e/ou através da língua
inglesa.

Assim, propõe-se a introdução da língua inglesa a partir do 3º ciclo, com o


objectivo de proporcionar ao aluno o vocabulário básico para a comunicação.

4.1.8 - Introdução de Ofícios

A introdução desta disciplina visa colmatar uma das grandes lacunas do


currículo actualmente em vigor: a ausência de actividades práticas que
capacitem o aluno a desenvolver, de forma independente e profissionalizante,
ofícios que possam ser úteis para a sua vida futura ou que que lhe permitam
responder ao mercado de emprego. Este objectivo só pode ser alcançado
através da aprendizagem de actividades práticas e tecnológicas, quer como
actividades curriculares, quer como extra-curriculares, com o envolvimento da
comunidade.

Assim, os Ofícios vão desenvolver no aluno habilidades e competências


em actividades tais como escultura, artesanato, culinária, lavoura, costura,
jardinagem, agro-pecuária, pesca, marcenaria e outras.

Para que as actividades propostas sejam relevantes, para a


formação de habilidades e competências, que facilitem a integração do aluno na
sua comunidade, devem ser organizadas, tomando em conta as particularidades
e as perspectivas de desenvolvimento social, económico e cultural de cada
região.

4.1.9 - Introdução de Educação Moral e Cívica

Investigações feitas sobre o sistema educativo moçambicano e sobre a


sociedade, em geral, têm demonstrado, cada vez mais, a necessidade de se
introduzir uma componente de Educação Moral e Cívica na formação do cidadão
para o respeito de valores morais, cívicos, patrióticos e religiosos.

No 1º e 2º ciclos do Ensino Básico, esta disciplina não possui uma carga


horária. No 2º ciclo está integrada nas Ciências Sociais. Entretanto, em ambos
os ciclos é tratada de uma forma transversal, em todas as outras disciplinas
curriculares e em todos os momentos do contacto professor/aluno, pais e
encarregados de educação/aluno.

24
No 3º ciclo do Ensino Básico, embora se mantenha o carácter transversal
da disciplina, vai funcionar como uma disciplina específica, com carga horária
própria.

ACTIVIDADE 8: Inovações

Trabalho em grupos ou aos pares

8.1. Em grupo ou aos pares, respondam às questões que se seguem:

• em que ciclo vão ser introduzidas as seguintes disciplinas:

- Língua Inglesa
- Educação Moral e Cívica

• quais as razões que estão por detrás da sua introdução?

8.2. Sabe-se que o nosso país debate-se com muitas dificuldades na aquisição
de material didáctico para a disciplina de Ofícios.

8.2.1. De que forma pensam que poderão minimizar estas dificuldades na vossa
escola?

8.2.2. Apresentem, usando cartolina, uma grelha contendo algumas sugestões


de materiais que poderão ser obtidos localmente para o desenvolvimento das
seguintes actividades:

Actividades Materiais locais


Escultura
Artesanato
Culinária
Lavoura
Costura
Jardinagem
Agro-pecuária
Pesca
Marcenaria

8.2.3. Relatem, em plenária, experiências bem sucedidas de colaboração entre a


comunidade e a escola válidas para a resolução da questão 8.2.1.

25
5. ESTRUTURA CURRICULAR

5.1. Áreas Curriculares

O Ensino Básico encontra-se organizado em três áreas curriculares


conforme se apresenta em seguida.

Áreas Curriculares Disciplinas


• Língua Portuguesa
• Línguas Moçambicanas
Comunicação e • Língua Inglesa
Ciências Sociais • Educação Musical
• Ciências Sociais1
• Educação Moral e Cívica
Matemática e • Matemática
Ciências Naturais • Ciências Naturais2
Actividades Práticas e • Ofícios
Tecnológicas • Educação Visual
• Educação Física

ACTIVIDADE 9: Inovações

Trabalho em grupos ou aos pares

9.1. Em grupo ou aos pares, respondam às questões que se seguem:

• em quantas áreas se organiza o novo currículo?

9.2. Apresentem, numa cartolina, a composição de cada área curricular.

1
As Ciências Sociais são constituídas, sobretudo, por conteúdos de História, Geografia e Educação Moral e
Cívica, e procuram desenvolver habilidades e competências básicas para reconhecer o passado;
compreender o processo histórico; situar os acontecimentos no espaço e no tempo; conhecer e localizar os
aspectos físico-geográficos e económicos do país, do continente e do mundo; conhecer os seus direitos e
deveres; respeitar os direitos e crenças dos outros e manifestar atitudes de tolerância e de solidariedade.
2
As Ciências Naturais são constituídas, sobretudo, por conteúdos elementares de Biologia, Química e
Física, e procuram desenvolver habilidades e competências como interpretação científica dos seres e
fenómenos naturais, assim como habilitar o aluno a usar os recursos naturais, tendo em conta a preservação
do ambiente.

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6. ESTRUTURA DOS PROGRAMAS

O Mapa Temático

Para efeitos de harmonização vertical da estrutura dos Programas das


diferentes disciplinas, apresenta-se a sua estrutura-base, através de um mapa
temático, que poderá variar ligeiramente de disciplina para disciplina,
dependendo da sua natureza específica, com os seguintes itens:

Unidade Objectivos Conteúdos Competências Sugestões Carga


Temática Específicos Básicas Metodológicas Horária

• Unidade Temática - designa o conjunto de unidades temáticas


constituídas por um ou mais temas.

• Objectivos Específicos - definem produtos específicos do processo de


ensino-aprendizagem, que podem denotar um conhecimento pontual, uma
habilidade e ainda, nalguns casos, uma competência específica. Estão
directamente ligados aos resultados da aprendizagem pela qual o aluno adquire
um conhecimento, uma competência ou desenvolve uma atitude.

• Conteúdos - é a informação que deve ser produzida ou transmitida no


processo de ensino-aprendizagem. As fontes dos conteúdos são os materiais
intelectuais de origem social, cultural e científica, as experiências do passado e
do presente, as conceptualizações acumuladas pela história da humanidade, em
constante renovação e extensão.

• Sugestões Metodológicas - é o conjunto de procedimentos


metodológicos a que o professor recorre na sala de aula com vista a atingir um
melhor desempenho das suas funções, o que se traduz tanto pelo uso adequado
dos meios auxiliares de ensino, variação das actividades, como pelo
cumprimento, com êxito, dos objectivos de aprendizagem visados. As Sugestões
metodológicas não assumem, necessariamente, um carácter obrigatório, ou de
lei, como o cumprimento das directrizes do Programa. O seu propósito é
estimular a criatividade do professor, de modo a permitir que o processo de
ensino-aprendizagem seja activo, dinâmico, diversificado e cativante.

• Competências Básicas – é a capacidade ou preparação para uma tarefa


concreta, isto é, no final de cada aula ou duma unidade temática, o aluno deve
ser capaz de revelar novos estágios do saber, do saber ser, estar e fazer, como
resultado do processo de ensino-aprendizagem (exemplo: demonstrar como se
filtra a água, ou explicar como a água se torna potável pela fervura).

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• Carga Horária – é a estimativa de tempo que vai ser necessário para a
realização das actividades da aula, tema ou unidade didáctica. A distribuição da
carga horária depende da extensão, profundidade e complexidade dos
conteúdos curriculares. Na sua definição, deve-se ter em conta o tempo
estabelecido no Plano de Estudos e nos calendários escolar e geral.

ACTIVIDADE 10: Estrutura dos Programas

Trabalho em grupos ou aos pares

10.1. Em grupo ou aos pares, respondam às questões que se seguem:

• em que se distinguem os itens objectivos específicos e


competências básicas, de acordo com o novo currículo?

• será verdade ou falso que as sugestões metodológicas são de


cumprimento obrigatório?

10.2. Pensem num conteúdo de uma disciplina qualquer e planifiquem uma


unidade didáctica, contendo todos os itens do mapa temático.

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Referências
BR nº 19, I série (1992). Lei 6/92 de 6 de Maio: Sistema Nacional de Educação. Maputo: Imprensa
Nacional.

Baker, R. (1998). Fundamentos de Educación Bilingue e Bilinguismo. Madrid.

Conceição, R. (1998). Relatório das Pesquisas Antropológicas Sobre a Interacção Entre a Cultura
Tradicional e a Escola Oficial, Realizadas nas Províncias de Nampula, Manica e Inhambane. Maputo: UEM.

Gomes, De Sá J. (1994). Renovar as Práticas no 1º Ciclo pela Vida das Ciências da Natureza. Porto. Porto
Editora Ltd.

Gómez, Miguel Buendia (1999). Educação Moçambicana - História de um Processo: 1992-1984. Maputo:
Livraria Universitária.

INDE (1997). Plano Estratégico da Educação: Projecto “Promoção da Transformação Curricular da


Educação Básica”. Maputo:INDE/MINED.

INDE (1999). Plano Curricular do Ensino Básico: Objectivos, Política, Estrutura, Plano de Estudos e
Estratégias de Implementação. Maputo:INDE/MINED.

INE (1998). II Recenseamento Geral da População e Habitação 1997: Resultados preliminares. Maputo.

INE (1997). Anuário Estatístico - 1997. Maputo.

MIPF (1998). Política Nacional da População. Maputo: DNP.

MINED (1996). Educação Básica em Moçambique: Situação actual e Perspectivas. Maputo.

MINED (1997). Plano Estratégico da Educação, 1997-2001: Combater a Exclusão, Renovar a Escola.
Maputo.

MINED (1998). Plano Estratégico da Educação: Projecto de “Promoção da Transformação Curricular da


Educação Básica”. Maputo.

PEBIMO (1996). Ensino Bilingue: Uma Alternativa para a Escolarização Inicial (EP1) nas Zonas Rurais.
Maputo: INDE.

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