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Lua Nova no.28-29 São Paulo Apr.

1993

O desenvolvimento como expansão de capacidades*

Amartya Sen1

Em sua Fundamentação da Metafísica dos Costumes1 Immanuel Kant sustentou a


necessidade de considerar os seres humanos como fins em si mesmos, e não como
meios para outros fins: “age de tal maneira que uses a humanidade, tanto na sua pessoa
como na pessoa de qualquer outro, sempre e simultaneamente como fim e nunca
simplesmente como meio”. Esse princípio é importante em muitos contextos — mesmo
na análise da pobreza, do progresso e do planejamento. Os seres humanos são os
agentes, beneficiários e juízes do progresso, mas também são, direta ou indiretamente,
os meios primários de toda produção. Esse duplo papel dos seres humanos dá origem à
confusão entre fins e meios no planejamento e na elaboração de políticas. De fato, essa
confusão pode tomar — e frequentemente toma — a forma de uma noção da produção
e da prosperidade como a essência do progresso, considerando-se as pessoas como os
meios pelos quais tal progresso na produção é obtido (ao invés de considerar a vida das
pessoas como a finalidade última e tratar a produção e a prosperidade como meios, tão
somente, para atingi-la).

Com efeito, a ampla prevalência do aumento da renda real e do crescimento econômico


como critérios do desenvolvimento exitoso pode ser, precisamente, um aspecto do erro
contra o qual Kant nos chamou a atenção. Esse problema é particularmente importante
na avaliação e no planejamento do desenvolvimento econômico. O problema não está,
é claro, no fato de a busca da prosperidade econômica ser tipicamente considerada um
objetivo central do planejamento e do processo de formulação de políticas. Isso não é,
por si só, irrazoável. O problema refere-se ao nível no qual esse objetivo deve ser fixado.
Trata-se de um objetivo intermediário, cuja importância subordina-se ao que favorece
em última instância a vida humana? Ou se trata do objetivo último daquele exercício? É
na aceitação, usualmente implícita, dessa última proposição que a confusão entre fins e
meios se torna significativa e, mais que isso, flagrante.

O problema talvez carecesse de interesse prático se a prosperidade econômica se


relacionasse estreitamente — numa correspondência aproximada de um para um — ao

1
Professor de Economia e Filosofia da Universidade de Harvard

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enriquecimento da vida das pessoas. Se tal fosse o caso, a busca da prosperidade


econômica como um fim em si, embora errada no plano dos princípios, seria inseparável
da busca de prosperidade como meio para o enriquecimento da vida das pessoas. Mas
aquela correspondência estreita não se verifica. Países com altos PIBs per capita podem
apresentar índices espantosamente baixos de qualidade de vida, como mortalidade
prematura para a maioria da população, alta morbidade evitável, alta taxa de
analfabetismo e assim por diante.

Apenas para ilustrar um aspecto do problema, o quadro 1 apresenta o PIB per capita de
seis países e as respectivas esperanças de vida no momento do nascimento.

[QUADRO 1]

Um país pode ser muito rico em termos econômicos convencionais (isto é, em termos
do valor das mercadorias produzidas per capita) e, mesmo assim, ser muito pobre na
qualidade de vida dos seus habitantes. A África do Sul, que dispõe de um PIB per capita
cinco ou seis vezes maior que os do Sri Lanka ou da China, tem uma esperança de vida
muito menor, e a mesma observação aplica-se, de maneiras diversas, ao Brasil, México,
Oman e a vários outros países não incluídos na tabela.

Há, portanto, duas questões diferentes aqui. Primeira: a prosperidade econômica é


apenas um dos meios para enriquecer a vida das pessoas. É uma confusão no plano dos
princípios atribuir a ela o estatuto de objetivo a alcançar. Segunda: mesmo como um
meio, o mero aumento da riqueza econômica pode ser ineficaz na consecução de fins
realmente valiosos. Para evitar que o planejamento do desenvolvimento e o processo
de formulação de políticas em geral sejam afetados por custosas confusões de fins e
meios, teremos de enfrentar a questão da identificação dos fins, nos termos dos quais a
eficácia dos meios possa ser sistematicamente avaliada.

Este trabalho discute a natureza e as implicações dessa tarefa geral.

RAÍZES CONCEITUAIS

A linha de raciocínio desenvolvida aqui baseia-se na avaliação da mudança social em


termos do enriquecimento da vida humana dela resultante. A qualidade da vida
humana, contudo, é em si mesma uma questão muito complexa. O enfoque utilizado
aqui, às vezes denominado “enfoque da capacidade”, concebe a vida humana como um

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conjunto de “atividades” e de “modos de ser” que poderemos denominar “efetivações”


(functionings) — e relaciona o julgamento sobre a qualidade da vida à avaliação da
capacidade de funcionar ou de desempenhar funções. Tentei, em outro trabalho,
explorar esse enfoque em maior detalhe, tanto conceitualmente como em termos de
suas implicações empíricas2. As raízes desse enfoque estão em Adam Smith e Karl Marx,
remontando mesmo a Aristóteles.

Referindo-se ao problema da “distribuição política”, Aristóteles utilizou extensivamente


sua análise do “bem dos seres humanos”, na qual esse bem é ligado ao exame que faz
das “funções do homem” e da “vida no sentido de atividade”3. Certamente a teoria
aristotélica é muito ambiciosa e envolve elementos que ultrapassam essa questão
particular (por exemplo: ela adota uma posição específica com respeito à natureza
humana e a ela associa uma noção de bem — um bem objetivo). Mas o argumento no
sentido de se conceber a qualidade da vida em termos de atividades valorizadas e da
capacidade de desempenhar essas atividades tem relevância e aplicação muito mais
amplas.

Entre os autores clássicos da economia política, tanto Adam Smith quanto Karl Marx
discutem explicitamente a importância da efetivação e a capacidade para tanto como
determinantes do bem-estar4. O enfoque de Marx relaciona-se estreitamente à análise
aristotélica (e ao que parece foi diretamente influenciado por ela)5. Com efeito, uma
parte importante do programa marxista de reformulação dos fundamentos da economia
política claramente diz respeito à concepção do sucesso da vida humana em termos de
cumprimento das atividades humanas necessárias. Nos termos do próprio Marx: “em
lugar da riqueza e da pobreza da economia política, veremos surgir o rico ser humano e
a rica necessidade humana. O rico ser humano é simultaneamente o ser humano que
necessita de uma totalidade de atividades vitais — o ser humano em quem a auto-
realização existe como necessidade interior”6.

MERCADORIAS E CAPACIDADE

Se se concebe a vida como um conjunto de “atividades e modos de ser” que são valiosos,
a avaliação da qualidade da vida toma a forma de uma avaliação dessas efetivações e da
capacidade de efetuá-las. Essa avaliação não pode ser feita levando-se em conta apenas
as mercadorias ou rendimentos que auxiliam no desempenho daquelas atividades e na

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aquisição daquelas capacidades, como ocorre na aferição da qualidade de vida baseada


em mercadorias (envolvendo uma confusão de meios e fins). “A vida dedicada a ganhar
dinheiro”, disse Aristóteles, “é vivida sob compulsão, e a riqueza não é evidentemente
o que buscamos, pois a riqueza é meramente útil na consecução de outros bens”7. A
tarefa consiste em avaliar as várias efetivações na vida humana, superando o que, num
contexto diferente, embora relacionado, Marx denominou “fetichismo da mercadoria”8.
As efetivações terão, elas próprias, de ser examinadas e a capacidade da pessoa de
realizá-las terá de ser apropriadamente avaliada.

No argumento aqui desenvolvido, os elementos constitutivos da vida são vistos como


combinações de várias diferentes efetivações. Isso equivale a conceber a pessoa como
ativa, por assim dizer, e não passiva (embora nem os vários estados do ser e nem mesmo
as atividades devam necessariamente ser “atléticas”). Pode-se listar desde efetivações
elementares como evitar a morbidade ou a mortalidade precoce, alimentar-se
adequadamente, realizar os movimentos usuais, etc, até muitas efetivações complexas
tais como desenvolver o auto-respeito, tomar parte da vida da comunidade e
apresentar-se em público sem se envergonhar (essa última efetivação foi discutida de
maneira esclarecedora por Adam Smith9 como uma conquista valorizada em todas as
sociedades, embora as mercadorias necessárias para a sua consecução variassem de
uma sociedade a outra). O que se sustenta aqui é que as efetivações são constitutivas
do ser de uma pessoa, e que uma avaliação do bem-estar de uma pessoa tem de tomar
a forma de uma avaliação daqueles elementos constitutivos.

A noção básica nesse enfoque é a de efetivações, concebidas como elementos


constitutivos da vida. Uma efetivação é uma conquista de uma pessoa: é o que ela
consegue fazer ou ser e qualquer dessas efetivações reflete, por assim dizer, uma parte
do estado dessa pessoa. A capacidade de uma pessoa é uma noção derivada. Ela reflete
as várias combinações de efetivações (atividades e modos de ser) que uma pessoa pode
alcançar10. Isso envolve uma certa concepção da vida como uma combinação de várias
“atividades e modos de ser”. A capacidade reflete a liberdade pessoal de escolher entre
vários modos de viver. A motivação subjacente — o foco na liberdade — é bem
apreendida no argumento marxista de que o que necessitamos é “substituir o domínio

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das circunstâncias e do acaso sobre os indivíduos pelo domínio dos indivíduos sobre o
acaso e as circunstâncias”11.

CÁLCULO VERSUS PRIVAÇÃO

O enfoque da capacidade pode ser contrastado não somente com sistemas de avaliação
baseadas em mercadorias, mas também com avaliações baseadas num critério de
utilidade. A noção utilitarista de valor, que é invocado explícita ou implicitamente na
economia do bem-estar, percebe o valor, em última análise, somente na utilidade
individual que é definida em termos de uma condição mental tal como o prazer, a
felicidade, a satisfação dos desejos. Essa perspectiva subjetiva tem sido extensivamente
utilizada, mas pode ser enganosa, pois pode ser incapaz de refletir a real privação de
uma pessoa.

Uma pessoa indigente, levando uma vida muito pobre, poderia não estar mal em termos
de utilidade medida pelo seu estado mental, caso se verificasse que essa pessoa aceita
sua situação com silenciosa resignação. Em situações de privação por longos períodos,
as vítimas não persistem em queixas contínuas, com frequência fazem grandes esforços
para tirar prazer das mínimas coisas e reduzem seus desejos pessoais a proporções
muito modestas, “realistas”. A privação da pessoa pode não ser captada por escalas de
prazer, auto-realização, etc., mesmo que ela não consiga alimentar-se adequadamente,
vestir-se decentemente, ser minimamente educada e assim por diante12.

Ademais de sua relevância no plano dos princípios, essa questão pode ter um impacto
imediato na prática das políticas públicas. A acomodação resignada à privação
continuada e à vulnerabilidade é frequentemente apresentada como justificável com
base na ausência de uma forte demanda pública e de um desejo intensamente
manifestado de modificar essa situação13.

AMBIGÜIDADES, PRECISÃO E RELEVÂNCIA

Há muitas ambigüidades no quadro conceituai do enfoque da capacidade. A natureza


da vida humana e o conteúdo da liberdade humana são conceitos problemáticos. Não
pretendo varrer essas dificuldades para debaixo do tapete. Na medida em que há
genuínas ambigüidades nos objetos fundamentais de valor, elas se refletirão em
ambigüidades correspondentes na caracterização da capacidade. A necessidade disso

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relaciona-se a um ponto metodológico, que eu tentei defender em outro trabalho: o de


que se uma ideia básica apresenta uma ambiguidade essencial, uma formulação precisa
dessa ideia deve tentar captar essa ambiguidade e não tentar desfazer-se dela14. Mesmo
que a expressão precisa de uma ambiguidade revele-se difícil, isso não pode justificar o
esquecimento da natureza complexa do conceito nem servir de argumento para se
buscar em troca uma exatidão espuriamente estreita. Na pesquisa e mensuração sociais,
sem dúvida é mais importante ser vagamente correto do que precisamente errado15.

Convém notar também que há sempre um elemento de escolha real na descrição das
efetivações, uma vez que o formato das “atividades” e dos “modos de ser” permite que
se definam e incluam “conquistas” adicionais. Frequentemente as mesmas atividades e
modos de ser podem ser vistos de diferentes perspectivas, com variadas ênfases. Da
mesma forma, algumas efetivações são fáceis de descrever, mas sem grande interesse
no contexto relevante (por exemplo, usar um certo sabão em pó na lavagem de
roupas)16. Não se pode escapar do problema da avaliação quando se define uma classe
de efetivações como importantes e outras como não tão importantes. A avaliação não
pode ser plenamente realizada sem que se enfrentem explicitamente questões sobre
quais sejam as conquistas e liberdades valiosas e quais não o sejam. O foco escolhido
tem de ter relação com as preocupações e valores sociais subjacentes em termos dos
quais algumas efetivações e capacidades podem ser importantes e outras triviais e
negligenciáveis. A necessidade de selecionar e discriminar não é um estorvo nem uma
dificuldade peculiar para a conceituação da efetivação e capacidade17.

No contexto de alguns tipos de análise do bem-estar, por exemplo, ao tratar da pobreza


extrema em economias em desenvolvimento, é possível restringir-se, em boa parte da
análise, a um número relativamente pequeno de efetivações centralmente importantes
e das capacidades correspondentes, tais como a capacidade de se alimentar e morar
bem, a capacidade de não sofrer de morbidade evitável e de morbidade prematura e
assim por diante18. Em outros contextos, que incluem problemas mais gerais de
avaliação do desenvolvimento econômico e social, a lista será bem mais longa e mais
variada19. Tal especificação de efetivações e capacidades de realização deve ser
relacionada à sua motivação básica, bem como levar em conta os valores sociais
envolvidos.

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QUALIDADE DE VIDA E NECESSIDADES

Há uma ampla literatura sobre o desenvolvimento econômico que trata da avaliação da


qualidade de vida, do atendimento das necessidades básicas e de temas correlatos20.
Essa literatura foi muito influente nos últimos anos ao chamar a atenção para aspectos
descurados do desenvolvimento econômico e social. É justo dizer, no entanto, que tais
escritos têm sido, típica e amplamente, ignorados na teoria econômica do bem-estar,
que tende a considerar aquelas contribuições como sugestões ad hoc. Em parte, esse
tratamento reflete a preocupação, por parte dos teóricos do bem-estar, de que as
propostas não se baseiem tão somente na intuição, mas que sejam estruturadas e
fundamentadas. Ele reflete também o prestígio intelectual que enfoques tradicionais
como a avaliação utilitarista gozam na teoria do bem-estar, e que bloqueia a aceitação
de enfoques alternativos mesmo quando sejam atraentes. A incapacidade de avaliações
baseadas na utilidade de lidar com a privação persistente foi discutida anteriormente,
mas na literatura da economia do bem-estar o predomínio dessa tradição tem-se
revelado muito resistente à mudança.

A crítica dirigida à literatura sobre o desenvolvimento, segundo a qual ela trata de


situações pontuais, relaciona-se às diversas modalidades de argumento utilizadas pela
teoria do bem-estar por um lado, e pela teoria do desenvolvimento, por outro. Do ponto
de vista da estrutura normativa, essa última tende a ser imediata, valendo-se de fortes
intuições que parecem bastante óbvias. A teoria do bem-estar, de sua parte, tende a
tomar uma via mais indireta, com maior elaboração e sustentação dos fundamentos das
suas proposições. Para fazer a ponte entre elas, temos de comparar e contrastar as
características fundacionais da preocupação com a qualidade de vida, com as
necessidades básicas, etc. com os fundamentos dos enfoques mais tradicionais próprios
da economia do bem-estar e da filosofia moral, entre os quais o utilitarismo. É
precisamente nesse contexto que as vantagens do enfoque da capacidade tornaram-se
mais claras. A concepção da vida humana, como combinação de várias efetivações e
capacidades de realização, e a análise da liberdade humana, como característica central
da vida, proporcionam uma via básica diversamente fundamentada para o exercício da
avaliação. Essa fundamentação contrasta com as bases de avaliação incorporadas aos
fundamentos mais tradicionais utilizados na economia do bem-estar21.

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A literatura das “necessidades básicas” tem padecido um pouco das incertezas a


respeito de como se deve especificar essas necessidades. As formulações originais
frequentemente tomaram a forma de uma definição das necessidades básicas em
termos das necessidades de certas quantidades mínimas de mercadorias essenciais
como alimentos, roupas e moradias. Se a literatura utiliza esse tipo de formulação, então
ela permanece prisioneira da avaliação centrada em mercadorias, e pode, de fato, ser
acusada de adotar uma forma de “fetichismo da mercadoria”. Os objetos dotados de
valor dificilmente podem ser reduzidos à disponibilidade de mercadorias. Mesmo
considerada sob um ponto de vista meramente instrumental, a utilidade da perspectiva
das mercadorias é severamente comprometida pela variabilidade da conversão de
mercadorias em capacidade. Por exemplo, os requisitos de alimentação e nutrientes
para a capacidade de bem alimentar-se varia muito de pessoa a pessoa, dependendo de
características de metabolismo, tamanho do corpo, gênero, gravidez, idade, condições
climáticas, parasitoses e assim por diante22. A avaliação da posse de mercadorias ou de
rendimentos (com os quais se pode adquirir mercadorias) pode, no máximo, ser um
substituto das coisas que realmente importam; desafortunadamente, porém, na
maioria dos casos não é um substituto particularmente adequado23.

RAWLS, BENS PRIMÁRIOS E LIBERDADES

O foco nas mercadorias e nos meios de realização pessoal neste trabalho contrastado
ao enfoque da capacidade é também influente na moderna filosofia moral. Na notável
obra de John Rawls sobre a justiça — que pode ser considerada a mais importante
contribuição à filosofia moral nas últimas décadas — a atenção, no que concerne às
comparações interpessoais, recai nos “bens primários” à disposição de cada pessoa. Sua
teoria da justiça, e em particular o “princípio da diferença”, depende desse
procedimento para comparações interpessoais. Em parte, esse procedimento é baseado
em mercadorias, pois a lista dos “bens primários” inclui “rendimentos e riqueza”,
ademais das “liberdades básicas”, “poderes e prerrogativas de cargos e posições de
responsabilidade”, as “bases sociais do auto-respeito” e assim por diante24.

Na verdade, a lista completa dos “bens primários”, segundo Rawls, refere-se a meios e
não a fins; ela diz respeito a coisas que ajudam a realizar o que queremos, e não à
realização enquanto tal ou a liberdade de realização. Alimentar-se não consta da lista,

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mas dispor de rendimentos para comprar alimentos consta. Da mesma forma, a lista
inclui as bases sociais do auto-respeito, mas não o auto-respeito enquanto tal.

O fato de que diferentes pessoas têm objetivos diferentes e que as pessoas devem ser
livres para persegui-los não deve ser esquecido, segundo Rawls, no processo de
avaliação. Esse cuidado é realmente importante, e o enfoque da capacidade também
valoriza a liberdade nesse sentido. Na verdade, pode-se argumentar que o enfoque da
capacidade descreve melhor as liberdades realmente desfrutadas pelas pessoas que o
enfoque da disponibilidade de bens primários. Os bens primários são meios para as
liberdades, ao passo que as capacidades de realização são expressões das próprias
liberdades.

As motivações subjacentes à teoria de Rawls e ao enfoque da capacidade são similares,


mas o tratamento da questão é diferente. O problema com respeito ao argumento
rawlsiano está em que, mesmo tendo-se em vista os mesmos fins, a capacidade que as
pessoas têm de converter bens primários em realizações é diferente, de tal maneira que
uma comparação interpessoal baseada na disponibilidade de bens primários em geral
não tem como refletir também as liberdades reais de cada pessoa para perseguir um
dado objetivo, ou objetivos variáveis. A variabilidade das taxas de conversão segundo as
pessoas, para fins dados, é um problema inscrito no problema mais geral da
variabilidade dos bens primários requeridos por pessoas diferentes buscando seus
respectivos fins25. Segue-se disso que se pode aplicar ao argumento rawlsiano uma
crítica similar à que se faz à pane da literatura sobre as necessidades básicas, pela ênfase
nos meios (tais como mercadorias) por oposição à ênfase na realização ou na liberdade
de realização.

LIBERDADE, CAPACIDADE E INFORMAÇÕES

O conjunto de capacidades representa a liberdade pessoal de realizar várias


combinações de efetivações. Se a liberdade é intrinsecamente importante, as
combinações disponíveis para a escolha são todas relevantes para se avaliar o que é
vantajoso para uma pessoa, mesmo que ele ou ela escolha apenas uma alternativa.
Nessa perspectiva, a escolha é, em si mesma, uma característica valiosa da vida de uma
pessoa.

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Por outro lado, se entendermos que a liberdade é apenas instrumentalmente


importante, o interesse no conjunto de capacidades resume-se ao fato de que oferece
à pessoa oportunidades para alcançar várias situações desejáveis. Apenas as situações
alcançadas são valiosas em si mesmas, e não as oportunidades, que são valorizadas
apenas como meios com respeito ao fim de alcançar situações desejáveis.

O contraste entre as concepções que atribuem um valor intrínseco ou instrumental à


liberdade é bastante profundo. Discuti a importância dessa distinção em outro
trabalho26. Ambas as perspectivas podem ser acomodadas no enfoque da capacidade.
Na concepção instrumental, o conjunto de capacidade de realização é valorizado apenas
pela melhor alternativa disponível para escolha (ou pela alternativa efetivamente
escolhida). Essa maneira de avaliar um conjunto de capacidades pelo valor de um
elemento particularmente importante nele contido pode ser denominado “avaliação
elementar”27. Se, de outra parte, a liberdade é valorizada em si mesma, a avaliação
elementar será inadequada, pois a oportunidade de escolher outras alternativas é em si
mesma significativa. Para expressar claramente a distinção, pode-se notar que se todas
as alternativas que não a escolhida não estivessem disponíveis, haveria uma perda real
na perspectiva de liberdade como valor intrínseco, mas não na perspectiva instrumental,
pois a alternativa escolhida permaneceria disponível.

É muito mais difícil aplicar praticamente a perspectiva do valor intrínseco que a do valor
instrumental, pois nossas observações diretas dizem respeito ao que foi escolhido e
realizado. A consideração do que poderia ter sido escolhido, por sua própria natureza, é
mais problemática (envolvendo, em particular, suposições sobre as restrições reais com
as quais a pessoa se defronta). Os limites de cálculos práticos desse tipo são postos pela
limitação de informações, e isso torna particularmente difícil a representação dos
conjuntos completos de capacidades, por oposição à representação dos conjuntos de
capacidades a partir da realização observada de efetivações.

Não há perda real na utilização do enfoque da capacidade nessa forma reduzida no caso
de se adotar a perspectiva instrumental da liberdade, mas há perda se se adota a
perspectiva do valor intrínseco. Para esta última, uma representação do conjunto das
capacidades enquanto tal é importante.

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Na verdade, nem a perspectiva instrumental nem a intrínseca são plenamente


adequadas. Certamente a liberdade é um meio para a realização pessoal, seja ou não
também intrinsecamente importante, de tal maneira que a perspectiva instrumental
tem de estar presente, inter alia, em qualquer uso do enfoque da capacidade. Da mesma
forma, mesmo que, de modo geral, se considere a perspectiva instrumental bastante
adequada, haverá casos em que ela é extremamente limitada. Por exemplo, a pessoa
que jejua, isto é, passa fome por sua própria vontade, não pode ser considerada carente
como uma pessoa cuja única opção é passar fome devido à pobreza extrema. Ainda que
as efetivações observadas sejam as mesmas, pelo menos em representações grosseiras
delas, as dificuldades em que se encontram não são as mesmas.

Na prática, mesmo que em geral o enfoque da capacidade seja utilizado no forma


reduzida de concentração determinada de efetivações, uma complementação
sistemática seria necessária para levar em conta os casos em que a liberdade usufruída
pela pessoa é de um interesse claro e imediato. Em muitos casos pode não haver grande
dificuldade em tal suplementação, desde que o problema seja posto claramente e que
a coleta de informações seja bem dirigida e precisa. Algumas vezes pode ser útil redefinir
as efetivações de maneira “refinada”, para captar algumas das alternativas disponíveis
obviamente relevantes, embora não escolhidas. Jejuar é um exemplo de uma efetivação
“refinada”, em oposição à pouco refinada de “passar fome”, que não especifica se houve
ou não uma escolha28. O problema importante aqui não diz respeito à existência ou não
de uma palavra (como jejum) que expresse a efetivação refinada, pois isso é matéria de
invenção linguística, mas à avaliação de se tal refinamento seria central ao exercício em
questão e, se for central, trata-se de decidir como isso poderia ser feito.

Na verdade, a base informacional das efetivações é não obstante uma base de avaliação
muito mais fina da qualidade de vida e do progresso econômico que várias alternativas
mais comumente recomendadas, tais como as utilidades individuais ou a posse de
mercadorias. O fetichismo da mercadoria, neste último caso, e a métrica subjetivista, no
primeiro, fazem dessas alternativas algo profundamente problemático. Assim, o foco
nas efetivações desempenhadas tem méritos vis-à-vis aos critérios rivais factíveis
(mesmo que possa não se basear em tantas informações quantas seriam necessárias
para atribuir importância intrínseca à liberdade). E em termos de disponibilidade de

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dados, manter o registro das efetivações (incluindo as vitais, como alimentar-se bem e
evitar a morbidade evitável ou a morte prematura) tipicamente não é mais difícil — pelo
contrário, é muitas vezes mais fácil — do que obter informações a divisões no âmbito
da família, para não mencionar as informações sobre utilidades.

O enfoque da capacidade dessa maneira pode ser utilizado em vários níveis de


sofisticação, e o nível adotado dependerá em grande pane de considerações práticas
sobre que informações se pode ou não obter. Na medida em que a liberdade é tida como
intrinsecamente importante, a observação do feixe escolhido de efetivações não pode
ser em si mesma um guia adequado para o exército de avaliação, a despeito da liberdade
de escolher um feixe melhor, ao invés de um pior, poder ser considerado, em certa
medida, uma vantagem mesmo na perspectiva da liberdade29.

Esse ponto pode ser ilustrado por meio de um exemplo. Um aumento da longevidade é
tido, por comum acordo, como uma melhoria da qualidade de vida (embora, em termos
estritos, possamos considerá-lo como um aumento da quantidade de vida). Em parte,
isso ocorre porque viver mais tempo é uma realização valorizada. Em parte, isso ocorre
também porque outras realizações, tais como evitar as doenças, tendem a acompanhar
a longevidade (de modo que esta ainda serve como substituto para realizações que
também são intrinsecamente valorizadas). Mas uma longevidade maior também pode
ser vista como um aumento da liberdade de viver mais tempo. Frequentemente damos
isso por aceito como base no raciocínio sólido de que, havendo opção, as pessoas
valorizam viver mais tempo; assim, a realização observada de uma vida prolongada
reflete uma liberdade maior do que a que se desfrutou.

A questão interpretativa surge precisamente aqui. Por que o fato de uma pessoa viver
bastante, e não pouco, constitui a evidência de uma liberdade maior? Por que não
constitui simplesmente uma realização preferida, sem que nisso se envolva uma
diferença em termos de liberdade? Uma resposta consiste em dizer que uma pessoa
tem sempre a opção de suicidar-se, de modo que aumentar a longevidade aumenta as
opções à disposição da pessoa. Mas há uma outra questão aqui. Consideremos a
hipótese em que, por alguma razão (legal, psicológica ou outra), uma pessoa não pode
suicidar-se (a despeito da presença no mundo de venenos, facas, edifícios altos e outros
objetos úteis). Diríamos então que essa pessoa não tem mais liberdade em virtude de

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ser livre de viver mais, mas não menos? Pode-se argumentar que se uma pessoa valoriza,
prefere e deseja viver mais tempo, então a mudança em questão constitui de fato um
aumento da sua liberdade, dado que a avaliação da liberdade não pode ser dissociada
da consideração das opções reais em termos dos julgamentos avaliativos da pessoa30.

A ideia de liberdade leva-nos para além das realizações, mas isso não implica que a
avaliação da liberdade deva ser independente da avaliação das realizações. A liberdade
de viver o tipo de vida desejado tem uma importância que a liberdade de viver o tipo de
vida odiado não tem. Assim, a tentação de ver mais liberdade em maior longevidade
justifica-se de vários pontos de vista, incluindo-se a consideração da opção do suicídio e
a sensibilidade à estrutura avaliativa das realizações que afetam diretamente a métrica
da liberdade.

Isso tudo leva ao reconhecimento de que a utilização do enfoque da capacidade, mesmo


reduzido à concentração nas efetivações realizadas (longevidade, ausência de
morbidade, boa alimentação, etc), pode atribuir um papel mais importante ao valor da
liberdade do que de início poderia parecer.

DESIGUALDADE, CLASSE E GÊNERO

A escolha de um enfoque para a avaliação do bem-estar e da melhoria afeta muitos


exercícios, entre os quais a avaliação da eficiência e da desigualdade. A eficiência, tal
como normalmente definida, diz respeito “ao registro de melhorias globais; na teoria
econômica corrente, isso toma a forma de uma apreciação sobre se a posição de alguém
melhorou sem que a posição de outros tenha piorado”. Uma situação é eficiente se e
somente se não há alternativa factível na qual a posição de alguém é melhor e a de
ninguém é pior. Obviamente, o conteúdo desse critério depende crucialmente da
definição que adotamos de vantagem, ou melhoria, individual. Se a definirmos em
termos de utilidade, o critério da eficiência torna-se imediatamente o critério da
“otimalidade de Pareto” (ou “eficiência paretiana”, tal como é denominada às vezes com
mais acuidade). Por outro lado, a eficiência também pode ser definida em termos de
outras métricas, incluída a da qualidade de vida baseada na avaliação das funções e
capacidades de realização.

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Similarmente, também a avaliação da desigualdade depende da escolha do indicador de


melhoria individual. As medidas usuais encontráveis nos trabalhos empíricos tendem a
se concentrar nas desigualdades de renda e de riqueza31. Essas contribuições são
valiosas. Por outro lado, na medida em que renda e riqueza não expressam
adequadamente a qualidade de vida, temos boas razões para basear a avaliação da
desigualdade em informações relacionadas mais de perto aos padrões de vida.

Na verdade, as duas bases de informação não são excludentes. A desigualdade de


riqueza pode dizer-nos algo sobre a geração e a persistência de desigualdades de outros
tipos, mesmo se a nossa preocupação última disser respeito a desigualdades de padrões
e de qualidade de vida. Num contexto de permanência e rigidez de divisões sociais, as
informações sobre desigualdades entre classes em termos de riqueza e prosperidade
são especialmente importantes. Mas reconhecer isso não reduz a importância de levar
em conta indicadores de qualidade de vida para a avaliação de desigualdades entre
classes em termos de bem-estar e liberdade.

Um campo no qual as desigualdades são particularmente difíceis de avaliar é o das


diferenças de gênero. Dispomos de muitas evidências gerais de que frequentemente as
mulheres estão em muito pior situação que os homens, e que as meninas sofrem de
muito mais privação do que os meninos. Essas diferenças aparecem de várias maneiras,
algumas sutis, outras grosseiras, e em várias de suas formas podem ser observadas em
diversas partes do mundo, tanto em países ricos como pobres. Não é fácil, contudo,
decidir qual é o melhor indicador de melhorias em termos das quais essas diferenças de
gênero devem ser examinadas. Certamente não há necessidade de utilizar apenas uma
métrica; a necessidade de uma pluralidade de indicadores é tão forte aqui quanto em
outros campos. Mesmo assim, permanece a questão de escolher um enfoque do bem-
estar e da melhoria na avaliação das desigualdades entre os homens e as mulheres.

O enfoque da avaliação baseada na utilidade é particularmente limitador nesse


contexto, pois as desigualdades, em especial na família, são muitas vezes tornadas
“aceitáveis” por certas noções sociais a respeito de arranjos “normais”, e isso pode
afetar a percepção tanto de homens quanto de mulheres com respeito aos níveis
comparativos de bem-estar de que desfrutam. No contexto de alguns países em
desenvolvimento, como a Índia, por exemplo, observou-se que mulheres do meio rural

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podem não ter uma percepção clara de estarem desprovidas de bens de que os homens
dispõem, e podem não ser mais infelizes que os homens. Isso pode ou não ser verdade,
mas mesmo que for verdade pode-se argumentar que a métrica mental da utilidade
pode ser particularmente inadequada para a avaliação da desigualdade nesse contexto.
A presença de carências objetivas, sob a forma de maior desnutrição, enfermidades mais
frequentes, maior analfabetismo, etc, não podem ser tidos por irrelevantes com base
na aceitação silenciosa e resignada, por parte das mulheres, da sua situação de
carência32.

Ao rejeitar avaliações baseadas na utilidade, podemos ser tentados a levar em conta os


bens reais (de que usufruem mulheres e homens, respectivamente) para avaliar as
desigualdades entre eles. Deparamo-nos aqui com o problema, já discutido, da
inadequação das avaliações baseadas em mercadorias, porque estas são apenas meios
para a obtenção de bem-estar e liberdade, e não refletem a natureza das vidas que as
pessoas envolvidas podem levar. Ademais, temos o problema das dificuldades — às
vezes intransponíveis — para obter informações sobre como os bens pertencentes à
família são divididos entre homens e mulheres, e entre meninos e meninas.

Estudos sobre a divisão da comida na família, por exemplo, tendem a ser muito
problemáticos, porquanto a observação requerida para detectar quem está comendo
que quantidade é difícil de realizar com grau mínimo de precisão. Por outro lado, é
possível comparar os sintomas de desnutrição em meninos e meninas, determinar as
taxas respectivas de morbidade, etc; essas diferenças de funções são mais fáceis de
observar e, ao mesmo tempo, têm maior relevância intrínseca33.

De fato, há desigualdades entre homens e mulheres em termos de efetivações, e no


contexto de países em desenvolvimento o contraste pode ser agudo mesmo em
questões básicas de vida e morte, saúde e doença, educação e analfabetismo. Por
exemplo: a despeito do fato de que, quando homens e mulheres têm um tratamento
razoavelmente igual em termos de alimentação e cuidados de saúde (tal como tende a
ocorrer em países ricos, onde podem permanecer, não obstante, diferenças de gênero
em esferas menos elementares), as mulheres parecem exibir maior capacidade de
sobrevivência que os homens, na maioria dos países em desenvolvimento os homens
são muito mais numerosos que as mulheres. Ao passo que a relação do número de

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mulheres para o de homens na Europa e na América do Norte é de 1,06, essa mesma


relação é inferior a 0,95 no Oriente Médio (incluídos países da Ásia Ocidental e África do
Norte) na Ásia do Sul (incluídos índia, Paquistão e Bangladesh) e na China34. Esse número
bruto da relação entre homens e mulheres sobreviventes conta uma história de
considerável valor informativo para a avaliação das desigualdades de gênero. Às vezes
há fortes contrastes mesmo no interior de um país (na índia, por exemplo, a taxa cai de
1,03 no Kerala para 0,87 ou 0,88 no Punjab e Haryana). Tanto do ponto de vista do
estudo da situação real como do estudo das influências causais que geram
desigualdades de gênero, esses contrastes regionais podem ser particularmente
importantes.

Certamente, ser capaz de sobreviver é apenas uma capacidade entre outras (embora
sem dúvida uma capacitação básica), outras comparações podem ser feitas com base
em informações sobre saúde, morbidade, etc. A capacidade de ler e escrever também é
muito importante, e as taxas de analfabetismo são muitas vezes escandalosamente mais
altas entre as mulheres em diversas partes do mundo. O efeito combinado de uma alta
taxa de analfabetismo em geral (a carência de uma capacidade básica nos dois gêneros)
e de uma desigualdade de gênero nessa taxa (carência maior das mulheres com respeito
a essa capacidade básica) tende a ser desastroso para as mulheres. Aparentemente,
mesmo deixando de lado muitos países sobre os quais não dispomos de informações
confiáveis, em muitos outros a taxa de analfabetismo das mulheres é superior a 50%.
Na verdade, é superior mesmo a 70% em 26 países, a 80% em 16 e a 90% em pelo menos
535.

De modo geral, a perspectiva das efetivações e capacidade proporciona um enfoque


plausível para o exame das desigualdades de gênero. Ele não sofre do subjetivismo que
torna a avaliação baseada na utilidade particularmente obtusa no tratamento de
desigualdades consolidadas. Tampouco sofre da superconcentração nos meios, tal como
na avaliação baseada em bens; na verdade, suas fontes informativas no campo dos
estudos sobre desigualdades na família são melhores que as proporcionadas pelo
trabalho de adivinhação com respeito à distribuição de bens (por exemplo, informações
sobre quem come quanto). O caso das desigualdades de gênero é apenas uma
ilustração, por certo, das vantagens do enfoque da capacidade. Essa ilustração, porém,

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tem em si mesma uma particular relevância, dada a onipresença e renitente natureza


das diferenças entre homens e mulheres em várias partes do mundo.

CONCLUSÃO

A avaliação da realização e da melhoria dos membros da sociedade é parte essencial da


análise do desenvolvimento. Neste artigo, procurei discutir a maneira pela qual o
enfoque da capacidade pode ser utilizado para fundamentar os esforços de avaliação do
desenvolvimento humano. O foco na realização humana e na liberdade, bem como na
necessidade de uma avaliação reflexiva — e não mecânica —, constitui uma adaptação
de uma velha tradição que pode ser utilizada utilmente na formulação de uma base
conceituai para a análise das tarefas do desenvolvimento no mundo contemporâneo. A
importância fundacional das capacidades humanas proporciona uma sólida base para a
avaliação dos padrões e da qualidade de vida, e sugere também um formato geral em
termos do qual problemas de eficiência e igualdade podem ser discutidos.

O foco em distintas capacidades implica, por sua própria natureza, um enfoque


pluralista. De fato, ele aponta para a necessidade de conceber o desenvolvimento como
uma combinação de distintos processos, ao invés de concebê-lo como a expansão de
uma magnitude aparentemente homogênea, tal como a renda real ou a utilidade. As
coisas que as pessoas consideram valioso fazer ou ser podem ser muito diversas, e as
capacidades valiosas variam desde a liberdade elementar, tais como livrar-se da fome e
da desnutrição, até capacidades complexas, tais como a obtenção do auto-respeito e a
participação social. O desafio do desenvolvimento humano requer atenção a uma
variedade de questões setoriais e a uma combinação de processos sociais e econômicos.

Na distinção entre efetivações e capacidades, a ênfase recai na importância de se dispor


de liberdade de escolher um tipo de vida e não outro. Essa ênfase distingue o enfoque
da capacidade das avaliações baseadas apenas em realizações. Contudo, a capacidade
de exercer a liberdade pode depender diretamente, em grande medida, da educação
recebida, e assim sendo o desenvolvimento do setor da educação pode ter uma conexão
fundacional com o enfoque da capacidade.

De fato, a expansão educacional tem vários papéis que devem ser cuidadosamente
diferenciados. Em primeiro lugar, melhor educação pode aumentar a produtividade.

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Segundo, uma distribuição ampla do benefício educacional pode contribuir para uma
melhor distribuição de renda nacional agregada entre as pessoas. Terceiro, melhor
educação pode ajudar na conversão de rendas e recursos em funções e modos de vida
diversos. Por último (o que de modo algum significa o menos importante) a educação
também auxilia na escolha inteligente entre diferentes tipos de vida que uma pessoa
pode levar. Todas essas distintas influências podem afetar importantemente o
desenvolvimento de capacidades valiosas e, por isso mesmo, o processo de
desenvolvimento humano.

Há também outras conexões entre as diferentes áreas cobertas pela coleção. A boa
saúde, por exemplo, é uma realização em si mesma, ao mesmo tempo em que contribui
tanto para o aumento da produtividade como para a capacidade de converter rendas e
recursos em qualidade de vida. Ao enfocar as capacidades humanas como o padrão de
medida em termos do qual os êxitos e fracassos do desenvolvimento humano devem
ser avaliados, a atenção recai nessas conexões sociais. Se se dispõe de clareza quanto
aos fins (evitando-se, em particular, a armadilha de tratar os seres humanos como
meios), as instrumentabilidades sociais e econômicas envolvidas nas relações entre
meios e fins podem ser exploradas amplamente.

Uma das mais importantes tarefas de um sistema de avaliação é levar em conta nossos
valores humanos mais prezados. Q desafio do desenvolvimento humano não pode ser
plenamente compreendido sem que nós enfrentemos conscientemente essa questão e
prestemos atenção deliberada ao aumento das liberdades e capacidades de realização
que são mais importantes nas vidas que podemos viver. Ampliar as vidas limitadas das
quais, queiram ou não, a maioria dos seres humanos são prisioneiros por força das
circunstâncias, é o maior desafio do desenvolvimento humano no mundo
contemporâneo. Uma avaliação informada e inteligente tanto das vidas a que somos
forçados como das vidas que poderíamos escolher mediante reformas sociais é o
primeiro passo para o enfrentamento daquele desafio. É uma tarefa que temos de
enfrentar.

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Lua Nova no.28-29 São Paulo Apr. 1993

* Sen, Amartya. “Development as Capability Expansion”, Jounal of Development Planning, nº 19,


1989 (encarte especial sobre “Desenvolvimento humano a partir dos anos oitenta”) Tradução
Regis Castro Andrade.

1 Grundlegung (1785), seção II. Tradução inglesa Fundamental Principles of the Metaphysics of
Morals, in Kant 's Critique of Practical Reason and Other Works on the Theory of Ethics, 6ª edição
de T. K. Abbot, Longmans, Londres: 1909, p. 47. [ Links ]

2 Sen, Amartya. “Equality of what?” in Tanner Lectures on Human Values, edição de S. M.


McMurring, vol.1, Cambridge: Cambridge University Press, 1980, [ Links ]reimpresso em Choice,
Welfare and Measurement, Oxford: Blackwell, e Cambridge: MIT Press, 1982. [ Links ] Resources,
Values and Development, Oxford: Blackwell, e Cambridge: Harvard University Press, 1984.
[ Links ] Commodities and Capabilities, Amsterdam: North-Holland, 1985. [ Links ] ”Well Being,
Agency and Freedom: the Dewey Lectures 1984”, in Journal of Philosophy, 82, abril de 1985,
[ Links ] e “Capability and Weil-Being, WIDER paper, 1988.

3 Aristóteles, The Nicomachean Ethics, livro I, seção 7, tradução de David Ross, World's classics,
Oxford University Press, 1980, pp. 12-14. [ Links ] Note que o termo aristotélico “eudaimonia”,
mal traduzido freqüentemente por “felicidade”, expressa a plena realização da vida, que
ultrapassa de muito a perspectiva utilitarista. Ainda que o prazer possa resultar da realização,
isso é considerado urna conseqüência, e não a causa, da valorização da realização. Para um
exame do enfoque aristotélico e sua relação com trabalhos recentes sobre funções e
capacidades, ver Nussbaum: Martha. “Nature, Function and Capability: Aristotle on Political
Distribution”, Oxford Studies in Ancient Greek Philosophy, vol. suplementar, 1988. [ Links ]

4 Ver Smith, Adam, An Inquiry into the Nature and Causes of the Wealth of Nations, vol. I, livro
V, seção II, republicado, com edição de R.H.Campbell e A.S. Skinner, Oxford: Clarendon Press,
1976, pp. 869-872 e Marx, [ Links ] K., Economic and Philosophic Manuscripts of 1844, tradução
inglesa Moscou Progressive Publishers, 1977. [ Links ]

5 Ver de Sainte Croix, G.E.M., The Class Struggle in the Ancient Greek World, Londres:
Duckworth, 1981, [ Links ] e Nussbaum, Martha, “Nature, Function and Capability”, op.cit.

6 Marx, K., ”Economic and Philosophic Manuscripts of 1844” op.cit.

7 Aristóteles, op.cit., livro I, seção 5, na tradução de David Ross, p. 7.

8 Marx, K, Capital, vol. I, tradução inglesa de S. Moore e E. Aveling, Londres: Sonnenschein, 1887,
cap. I, seção 4, pp. 41-45. [ Links ] Ver também Marx, K., Economic and Philosophic Manuscripts
of 1844, op.cit.

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Lua Nova no.28-29 São Paulo Apr. 1993

9 Smith, A. op.cit., vol. II, livro V, cap.II, seção entitulada “Taxes upon Consumable
Commodities”, republicado na op.cit., pp. 469-471.

10 Neste artigo, não me preocuparei com questões formais, para cujo tratamento envio
a Commodities and Capabilities, op.cit., especialmente caps. 2,4 e 7.

11 Marx, K, e Engels, F., The German Ideology, 1846. [ Links ] 0 trecho citado foi tirado da
tradução de David Mclellan, Karl Marx: Selected Writings, Oxford: Oxford University Press, p.
190. [ Links ]

12 Ver Sen, Amartya, “Well Being, Agency and Freedom”, op.cit., e Commodities and
Capabilities, op.cit.

13 Presume-se às vezes que ir além dos desejos e prazeres reais de uma pessoa como padrão
de avaliação seria introduzir o paternalismo no exercício avaliativo. Essa posição negligencia o
importante fato de que ter prazer e desejar não são em si mesmas atividades valorativas, mesmo
que o desejo muitas vezes resulte da valorização de algo e o prazer resulte freqüentemente na
obtenção de algo valorizado. A utilidade de uma pessoa não deve ser confundida com a
valorização que ela mesma faz; assim, vincular o exercício de avaliação à utilidade da própria
pessoa é muito diferente de julgar o sucesso de uma pessoa em termos da valorização que ela
mesma faz. A distinção importante a fazer nesse contexto é a seguinte: uma pessoa pode não
ter coragem de desejar uma grande mudança social, presa às circunstâncias em que vive, desde
que tenha a oportunidade de avaliar a situação; contudo — o que caracteriza essencialmente
um exercício político nesse contexto —, a pessoa pode valorizar uma mudança. Uma vantagem
da valorização, por oposição ao sentimento, é a de que uma avaliação tem de ser um exercício
reflexivo — aberto ao exame crítico —, coisa que o sentimento não necessita ser (o requisito do
exame crítico não se aplica aos sentimentos da mesma forma como se aplica à avaliações
reflexivas). Essas questões, e outras relacionadas a elas, são discutidas em “Well Being, Agency
and Freedom”, op.cit.

14 Em muitos contextos, as representações formais assumirão a forma de ordenamentos


parciais, ou de hierarquias sobredeterminadas, ou de relações aproximadas. Este não é, por
ceno, um problema próprio do enfoque da capacidade; ele pertence, de modo geral, aos marcos
conceituais de teoria social. Ver, a respeito, Sen, Amartya, Collective Choice and Social Welfare,
São Francisco: Holden Day, 1970, [ Links ] republicado por Amsterdam: North-Holland, 1979,
e On Ethics and Economics, Oxford: Backwell, 1987. [ Links ] Ver também “Social Choice
Theory”, in Handbook of Mathematical Economics, editado por K.J.Arrow e M. Intriligator,

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Lua Nova no.28-29 São Paulo Apr. 1993

Amsterdam: North-Holland, 1985. [ Links ] Os problemas formais podem ser tratados em


diferentes níveis de precisão (ou seja, com representação maior ou menor das ambigüidades).

15 Ver Sen, Amartya, Choice, Welfare and Measurement, op.cit., ensaios 17-20.

16 Bernard Williams levanta essa questão nos seus comentários às Tanner Lectures sobre os
padrões de vida. Ver The Standard of Living, Tanner Lectures of Amartya Sen, com discussões de
John Muellebaner, Rawi Kanbur, Keith Hart e Bernard Williams, edição de Geoffrey Hawthorn,
Cambridge: Cambridge: University Press, 1987, pp. 98-101 e 108-109. [ Links ]

17 Tentei discutir algumas das questões metodológicas envolvidas na descrição em “Description


as Choice”, Oxford Economic Press, 32, 1980, [ Links ] reeditado em Choice, Welfare and
Measurement, op.cit..

18 Ver Sen, Amartya, Resources, Values and Development, cap. 15, 19 e 20, [ Links ] e “The
Conception of Development”, in Handbook of Development Economics, editado por H. Chenery
e T. N. Seimivasan, Amsterdam: North-Holland. [ Links ]

19 O número de funções e capacidades que podem ser de interesse para a avaliação do bem-
estar de uma pessoa pode ser muito grande. Ver Sen, Amartya, “Well Being, Agency and
Freedom”, op.cit.

20 Ver, entre outras contribuições, Lipton, Michael, Assessing Economic Performance, Londres:
Staples Press, 1968; [ Links ] Streeten, Paul, The Frontiers of Development Studies, Londres:
Macmillan, 1972; [ Links ] Adelman, Irma, e Tuft Morris, Cynthia, Economic Growth and Social
Equity in Developing Coutries, Stanford: Stanford University Press, 1973; [ Links ] Sen, Amartya,
“On the Development of Basic Income Indicators to Supplement GNP Measures”, Economic
Bulletin for Asia and the Far East, publicação das Nações Unidas, nº E. 74, II, F. 4; [ Links ] Chenery
H. e outros Redistribution With Growth, Londres: Oxford University Press, 1974;
[ Links ] Adelman, Irma, “Development Economics: a Reassessment of Goals”, American
Economic Review, Papers and Proceedings, 66, 1975; [ Links ] Grant, James P., Disparity
Reduction Rates in Social Indicators, Overseas Development Council, Washington D.C., 1978;
[ Links ] Griffin, Keith, e Hhan,Azizur Rahman, “Poverty in the Third World: Ugly Facts and Fancy
Models”, World Development, 6, 1978; [ Links ] Streeten, Paul, e Burbi, S.J., “Basic Needs: Some
Issues”, World Development, 6, 1978; [ Links ] Morris, D.Morris, Measuring the Conditions of the
World's Poor: the Physical Quality of Life Index, Oxford: Pergamon, 1979; [ Links ] Streeten,
Paul, Development Perspectives, Londres: Macmillan, 1981; [ Links ] Streeten, Paul e
outros, First Things First: Meeting Basic Needs in Developing Contries, Nova York: Oxford
University Press, 1981; [ Links ] Osmani, S.R., Economic inequality and Group Welfare, Oxford:

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Claredon Press, 1982; [ Links ] e Stewart, Frances, Planning to Meet Basic Needs, Londres:
Macmillan, 1985. [ Links ]

21 A questão geral dos fundamentos e das bases informacionais á discutida em Amartya Sen
“Informational Analysis of Moral Principles”, in Rational Action, editado por Ross Harrison,
Cambridge: Cambridge University Press, 1979; [ Links ] e “Well-Being, Agency and
Freedon, op.cit.. Nesta última análise, foram feitas algumas distinções (especialmente entre
função (agency) e bem-estar, e entre realização e liberdade) que vale a pena desenvolver um
tratamento mais elaborado dessa matéria; mas resistirei à tentação de trabalhar esses pontos
aqui.

22 Sobre essa questão e sobre a relação entre bens, características e funções, ver Sen,
Amartya, Commodities and Capabilities, op.cit., cap. 2.

23 Sobre esse ponto, ver Sen, Amartya, Resources» Values and Development, op.cit., ensaios 19
c 20; e Streeten, Paul, “Basic Needs: Some Unsettled Questions”, World Development, 17, 1984.
[ Links ]

24 Rawls, John, A Theory of Justice, Oxford: Clarendon Press, c Cambridge: Harvard University
Press, 1971, pp. 60-65. [ Links ]

25 Ver Sen, Amartya, “Equality of What? op.cit., e Resources, Values and Development, op.cit..

26 Ver Sen, Amartya, “Freedom of Choice: Concept and Content”, Alfred Marshall Secture na
Associação Econômica Européia, European Economic Review, 1988. [ Links ]

27 Ver Sen, Amartya, Commodities and Capabilities, pp. 60-67. [ Links ]

28 Ver Sen, Amartya, “Well-Being, Agency and Freedom”, op.cit., e “Freedom of Choice, Concept
and Content”» op.cit.

29 Sobre a questão da relação entre estados alcançados e a extensão de liberdade(freedom and


liberty), ver Sen, Amartya, “Liberty and Social Choice”', Journal of Phibsophy, 80, 1983. [ Links ]

30 De fato, não levar em conta a avaliação da própria pessoa com respeito ao estado de coisas
para o estabelecimento de uma medida da liberdade pode gerar uma concepção muito peculiar
da liberdade, contraditória com a tradição de valorização da liberdade. Sobre isso, ver Sen,
Amartya, “Liberty as Control: an Appraisal”, Midwest Studies in Philosophy, 7, 1982, [ Links ] e
“liberty and Social Choice” op.dt.

31 Ver, por exemplo, Atkinson, A.B., Unequal Shares: Wealth in Britain, Penguin, Londres, 1972,
[ Links ] e The Economics of Inequality, Oxford: Clarendon Press, 1975. [ Links ]

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32 Discuti essa questão em Commodities and Capabilities, op.cit., apêndice B, e também


em Resources, Values and Development, ensaios 15 e 16. A importância dos vieses de percepção
na permanência das desigualdades de gênero é discutida em “Gender and Cooperative
Conflicts”, documento de trabalho WIDER, in Persistent Inequalities, editado por Irene Tinker.

33 Para uma tentativa de fazer tais comparações baseadas em funções entre homens e
mulheres, ver Kynch, Jocelyn, e Sen, Amartya, “Indian Women: Weil-Being and
Survival”, Cambridge Journal of Economic, 7, 1983. [ Links ]

34 Ver Kynch, Jocelyn, “How Many Women Are Euronch: Sex Ratios and the Right to Life”, Third
World Affairs, 1985, [ Links ] Third World Foundation for Social and Economic Studies Londres,
1985. A esperança de vida parece ter evoluído em favor das mulheres segundo as estatísticas da
maioria dos países; ver The State of the World's Children 1988, United Nations Children's Fund,
Nova York: Oxford University Press, 1988, [Links] tabela 7; a reversão de vieses passados contra
as mulheres no que diz respeito à composição da população, contudo, é um processo de longa
duração.

35 The State of the World's Children 1988, United Nations Children's Fund, [Links] tabela 4.

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