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1. O CONCEITO DE ARQUÉTIPO
O conceito de arquétipo de Jung está na tradição das idéias platônicas, com sua
definição “de que a idéia é preexistente e supra-ordenada aos fenômenos em geral”, presentes
também nas mentes dos deuses, e que servem como modelos para todas as entidades no reino
humano. As categorias iniciais da percepção de Kant, e os protótipos de Schopenhauer, são
também conceitos precursores utilizados por Jung na teoria dos arquétipos.
Jacobi (1957) foi quem melhor sistematizou o conceito de arquétipo a partir da obra de
Jung. Segundo a autora, é importante apresentar a questão do arquétipo, antes de mais nada,
muito mais como uma idéia, do que como um conceito fixo. Nas palavras de Jacobi:
Não é fácil estabelecer uma definição exata de arquétipo; talvez seja até bom
entender o termo "esboçar" em seu sentido mais amplo de "circunscrever" e não de
"descrever", porque o arquétipo representa um enigma profundo, que ultrapassa a
nossa capacidade racional de compreender (JACOBI, 1957, p. 37).
Dessa forma, entende-se seu caráter vivo e dinâmico e o quão profundo ele se encontra
na natureza humana. A origem do arquétipo é o inconsciente coletivo e seu acesso não se dá
de forma direta, apenas por meio das manifestações da psique. Jung (1948) diz o seguinte:
Vejamos o trecho no qual Jung utiliza o termo arquétipo pela primeira vez:
É estabelecido que todos os processos psíquicos têm por base os arquétipos, formas à
priori. O instinto é um impulso para ação, que Jung difere dos processos de percepção,
apreensão e intuição que são atividades do arquétipo. Nota-se que percepção, intuição e
apreensão são atividades de mediação com o instinto.
Os arquétipos ligam-se ao consciente por meio dos símbolos. Segundo Jung (apud
Jacobi, 1957, p. 72): "A alma é para si mesma a experiência única e imediata e a conditio sine
qua non da realidade subjetiva do mundo em geral. Ela cria símbolos, cuja base é o arquétipo
inconsciente e cuja figura visível resulta das imagens adquiridas pelo consciente". Os
símbolos apresentam-se como uma forma manifesta, como uma espécie de arquétipo
"encarnado". Jacobi (1957, p. 73) refere-se ao símbolo como um arquétipo que por meio
daquele recebe um "corpo", uma "forma plástica". O símbolo apresenta-se como uma
possibilidade de tradução, de trazer para o consciente um conteúdo que é originalmente
encontrado no inconsciente coletivo.
No período de 1918 e 1919, Jung afirma que o cérebro carrega o inconsciente coletivo
(que inclui arquétipos e instintos). Ele considerava que as fantasias dos nossos antepassados e
figuras referentes à história psíquica da humanidade ficavam gravadas na estrutura cerebral.
Ou seja, que o arquétipo se construiu com “a sedimentação da função psíquica dos ancestrais”
(JUNG, 1919, §589, VIII/2). Nas palavras de Jung:
De onde procedem então essas fantasias mitológicas, se não têm qualquer origem
no inconsciente pessoal e por conseguinte nas experiências da vida pessoal? Sem
dúvida provêm do cérebro – precisamente do cérebro e não de vestígios de
recordações pessoais, mas da estrutura hereditária do cérebro. [...] Sabe-se que
juntamente com o nosso corpo recebemos um cérebro altamente desenvolvido que
traz consigo toda a sua história [...] esta estrutura conta sua história que é a história
da humanidade: o mito indeterminável da morte e do renascimento e da
multiplicidade de figuras que estão envolvidas neste mistério. (JUNG, 1918, X/3,
§12).
Em 1919, quando Jung falou sobre “a sedimentação da função psíquica”, ele estava
tentando explicar como os arquétipos surgiram, progressivamente. Posteriormente ele propõe
a ideia da imutabilidade do arquétipo, a que se refere ao arquétipo em si (a imagem
arquetípica foi construída, o arquétipo em si, não). Jacobi (1961) argumenta que os arquétipos
não são imagens herdadas (assim como Jung o fez). Seria impossível que fossem, já que
características adquiridas não são transmitidas hereditariamente. Ela afirma que os padrões
recorrentes do funcionamento psíquico não se dão por causa da existência de imagens comuns
a todos os seres humanos, mas porque haveria um princípio formal que, desde sempre, é
inerente à psique; e que as experiências fundamentais de vida que os arquétipos promovem
abrangem a experiência humana em toda sua amplitude, do emocional ao cognitivo.
Em 1946, Jung insiste na necessidade de se compreender separadamente o arquétipo em si (an
sich) e a imagem arquetípica. O arquétipo em si não é perceptível, enquanto a imagem é uma
representação possível do arquétipo em si, portanto perceptível (JACOBI, 1961). Os
arquétipos são elementos autônomos da psique e considerados em si, constituem uma
estrutura inalterável (JUNG, 1945, §451, IX/1).
Continua Jung: “‘Imagens’ expressam não só a forma da atividade a ser exercida, mas
também, simultaneamente, a situação típica na qual se desencadeia a atividade. Tais imagens
são ‘imagens primordiais’, uma vez que são peculiares à espécie, e, se alguma vez foram
‘criadas’, a criação coincide no mínimo com o início da espécie. O típico específico já está
contido no germe. A idéia de que ele não é herdado, mas, criado de novo em cada ser
humano, seria tão absurda quanto a concepção primitiva de que o Sol que nasce pela manhã é
diferente daquele que se pôs na véspera” (JUNG, 1945, §152, IX/1).
3. PRINCIPAIS ARQUÉTIPOS
Persona – é o arquétipo da adaptação social. “Como seu nome revela, é uma simples
máscara da psique coletiva, máscara que aparenta uma individualidade, procurando convencer
aos outros e a si mesma que é uma individualidade, quando, na realidade, não passa de um
papel, no qual fala a psique coletiva” (JUNG, 1985, p. 32). É a forma pela qual nos
apresentamos ao mundo. Jung chamou também a persona de "arquétipo da conformidade".
Ela representa um compromisso entre o indivíduo e a sociedade, acerca daquilo que alguém
parece ser, como: nome, título, ocupação, etc. (JUNG, 1994a). Ou seja, a persona é um
instrumento precioso para a comunicação com o mundo externo, de acordo os papéis
exigidos. No sentido negativo da persona, há o perigo de o indivíduo se identificar com o
papel por ele desempenhado, fazendo com que a pessoa se distancie de sua própria natureza.
Self ou Si-mesmo – Jung designou Self como sendo a totalidade da psique, o arquétipo
central. Contempla a organização e a unificação assim como o caos, o informe e o virtual. "O
Self não é apenas o centro, mas também toda a circunferência que abarca tanto o consciente
quanto o inconsciente” (Jung, 1936, p. 41). Constitui com o ego o eixo ego-self, por onde
participa da função transcendente. O Self é com frequência figurado em sonhos ou imagens de
forma impessoal – como um círculo, mandala, cristal ou pedra; ou pessoal – como um casal
real, uma criança divina, ou na forma de outro símbolo de divindade. Segundo Murray Stein
(1998), o Si-mesmo (Self) está o tempo todo agindo na integração psíquica, já que é o
arquétipo central, mas a partir da metade da vida há um surgimento mais explícito do Si-
mesmo na consciência.
Na Mitologia, Grande Mãe é aquela que nos dá a vida através da gestação, mantém-
nos vivos através da nutrição e protege-nos com seu carinho, amparo e amor. É aquela que
nos guia, que nos ensina e que nos aconselha. É também a sempre presente e atenta, a que
intercede por nós, a que nos transforma, aquela que nos pune e nos castiga quando erramos.
O arquétipo da Grande Mãe e da maternidade é uma constante no universo pesquisado
e reflete uma visão que tem como fundamento a imagem feminina universal, que "representa
a mulher como eterno ventre e eterna provedora". Tais particularidades são absorvidas como
símbolos de um poder divino feminino maternal que habita o inconsciente humano e
proporciona tanto conforto e proteção quanto medo e redenção.
Jung considera que o arquétipo materno, como todo arquétipo, possui uma variedade
incalculável de aspectos, e sobre os traços essenciais, menciona:
Como todo o arquétipo, o arquétipo da Grande Mãe tem duas polaridades: o caráter
elementar positivo e o caráter elementar negativo, que podem apresentar-se de inúmeras
formas, revestidos por uma infinidade de imagens. Para Neumann, esses dois aspectos podem
ser a chave para desvendarmos as deusas e seus mitos, e através deles, podemos constatar que
a “Mãe boa-má” é a maneira mais completa de interpretarmos o arquétipo da Grande Mãe.
5. REFERÊNCIAS
HALL, S. Calvin & NORDBY. Introdução à Psicologia Junguiana. São Paulo: Cultrix, 1986.
JUNG, C. G. Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo. Vol. IX/1. Rio Janeiro: Vozes, 2000.
SILVEIRA, N. Jung: Vida & Obra. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997.
STEIN, M. Jung: O Mapa da Alma. 12. ed., São Paulo: Cultrix, 1998.