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INTRODUÇÃO
O presente artigo visa dissertar sobre o instituto da responsabilidade civil prevista no código
de defesa do consumidor atentando para o novíssimo entendimento presente na jurisprudência
brasileira, chamado de Teoria dos Danos Punitivos (punitive damages) oriunda do Direito
norte americano, onde se busca impor ao causador do dano não apenas a obrigação de fazer
retornar a situação ao statu quo ante, mas também uma verdadeira sanção civil, ou seja, uma
indenização com finalidade de retribuir o mal causado ao ofensor.
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O instituto da responsabilidade civil prevista no código de defesa do consumidor é objetiva,
sendo assim torna-se desnecessário o questionamento sobre a existência ou não da culpa.
Conforme Salienta o ilustre Professor Sergio Cavalieri, por mais paradoxal que possa parecer,
o grande desenvolvimento tecnológico e científico trouxe inúmeros benefícios à sociedade,
porém, como um efeito colateral, surgiram também outros tantos danos ao consumidor em
geral. Em sua obra, o professor traz citações de alguns dos casos mais relevantes na história:
Tivemos o caso dos vinhos italiano (1981) que por excesso de metanol causaram
intoxicação em milhares de consumidores; do azeite espanhol que causou
pneumonia atípica em centenas de pessoas; da vaca-louca na Inglaterra, com mais de
cento e oitenta mil casos registrado; do silicone nos Estados Unidos, causador de
câncer em milhares de usuárias; dos pneus com defeito da Firestone, que ensejaram
centenas de acidentes fatais.(CAVALIERI, 2012, pag 512)
O estudo sobre o dano talvez seja o ponto mais culminante no âmbito da Responsabilidade
Civil, pois sem dano não há o que se reparar. Tamanha é a sua importância que lhe foi
conferido caráter constitucional, previsto no artigo 5º, V e X, da Carta Mágna. Vejamos:
É possível observar ainda que os artigos 927 e 186 do Código Civil formam a principal
fundamentação legal para a responsabilidade civil no ordenamento jurídico brasileiro e ambos
são claros quanto à necessidade de efetiva lesão trazendo sempre a expressão “causar dano”.
Veja bem:
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato
ilícito.
(...)
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Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica
obrigado a repara-lo.
Em relação ao caso também podemos citar a súmula 37, do STJ, que pacificou o
entendimento de que é possível se cumular indenizações por dano material e dano moral
decorrente do mesmo fato. Traz a súmula que:
37. São cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral oriundos do
mesmo fato.
Começa a surgir no nosso direito pátrio a aplicação de uma doutrina de origem norte-
americana chamada de “punitive damages” e sua outra vertente chamada de “exemplary
damages”. Por aqui já foi chamada por sua tradução literal de teoria dos danos punitivos ou
também de teoria do desestímulo.
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Parágrafo único. O consumidor cobrado em quantia indevida tem direito à repetição
do indébito, por valor igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescido de
correção monetária e juros legais, salvo hipótese de engano justificável. (grifei)
Por uma análise histórica, percebemos que as penas não tinham o objetivo apenas de retribuir
o mal causado, mas também de evitar que outras pessoas cogitassem cometer os mesmos atos.
Sendo assim, não se punia só o ofensor, mas também os inocentes através de uma ameaça
forjada. Por tal motivo a publicidade da execução era uma característica intrínseca das penas.
Vemos que ambas as vertentes da teoria americana se aproximam um pouco de outra teoria
(igualmente americana) no âmbito do direito penal, a chamada teoria da janela quebrada ou
tolerância zero. A semelhança com o direito penal se torna mais clara quando verificamos o
princípio da razoabilidade no momento da aplicação, vejamos a seguir um trecho que fala
sobre a referida teoria dos danos punitivos:
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Vejamos agora um trecho do artigo 104 Código Penal Iraniano, país que adota a lapidação
como espécie de pena.
“as pedras não devem ser tão grandes de modo a
provocar a morte pelo golpe de apenas uma ou duas delas, nem tão
pequenas que não possam ser chamadas de pedras”
O cálculo ardiloso é feito da seguinte forma: uma pesquisa jurisprudencial mostra uma média
do valor das indenizações pagas. Esse valor é multiplicado por um número que representa um
prognóstico sobre a quantidade média de clientes que efetivamente ajuizarão ações. O
resultado dessa conta é comparado ao lucro total diante do ato ilícito. Muitas das vezes as
empresas assumem o risco e praticam os ilícitos. Aumentar o valor das indenizações como
forma de punir o ofensor é uma formar de coibir essa prática.
Em recente entrevista publicada no site Espaço Vital, o juiz Mauro Caum Gonçalves assim
asseverou:
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Considerações Finais
Com base nas explanações acima, podemos verificar pontos favoráveis a aplicação da teoria
em questão, porem fica claro também um grande risco: a aproximação com as sanções penais
que em regra pertencem a chamada “ultima ratio”.
Adotamos então o entendimento do professor Cavalieri, entendendo que a teoria deve ser
aplicada desde que exista uma reiteração da conduta ilícita ou ao menos fique evidenciado o
intuito lucrativo fundado na má fé. Vejamos um trecho do autor:
Sobretudo, no caso da relação de consumo, o artigo que serve de base para aplicação dos
“punitive damages” (Art. 42, CDC), é claro ao dizer no final que em hipótese de engano
justificável a indenização em dobro não deve ser aplicada.
159. Cobrança excessiva, mas de boa-fe, não dá lugar às sanções do art. 1.531 do
Código Civil (artigo 940, do atual Código Civil).