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mais ousada (daí um primeiro filho malsucedido), conta em sua des-


cendência vários pares de gêmeos. *
A outra fórmula, que faz gêmeos do mesmo sexo - masculino
ou feminino -, responde à questão inversa da precedente. A,. dua-
lidade pode ser reabsorvida na imagem aproximada da unidade pe~ _,.c..
19 Ia qual é representada, ou apresenta um caráter irreversível, a pon-
A IDEOWGIA BIPAKFIDA to de a distância mínima entre seus termos dever fatalmente alargar-
se? Entre essas soluções extremas, os mitos concebem toda uma sé~
DOS AMERÍNDIOS rie de intermediários. lrredutível, a dualidade assumirá a forma da
antítese, um gêmeo bom e o outro mau; um associado à vida, o ou-
tro à morte; um ao céu, o outro à terra ou ao mundo subterrâneo.
Seguem sistemas em que a oposição entre os gêmeos perde seu cará-
ter absoluto em benefício de uma desigualdade relativa: esperto ou
A mitologia das duas Américas não é certamente a única em
tolo, jeitoso ou desajeitado, forte ou fraco etc. Os mitos america-
que a gemelaridade tem papel de destaque. Pode-se dizer o mesmo
nos apresentam uma boa amostra dessas soluções gradiadas, desde
dos mitos do mundo inteiro. A Índia védica coloca em cena gera-
o par antitético formado pelo bom e pelo mau demiurgo nos mitos
ções sucessivas de gêmeos, a religiãõde-toro~jtro baseia-se no par
da Califórnia do Sul I até os gêmeos respectivamente benfazejo e
antitético formado por Ormuz e Arimã, sem mencionar a rica mito-
malfazejo dos Iroqueses, passando pelos ilustrados num mito dos
logia da gemelaridade revelada por Griaule e Dieterlen entre os 120-__
Coeur-d'Alêne. Esse mito conta que uma mulher surpreendeu os fi-
. gon do Mali, em tudo conforme às crenças relativas aos gêmeos ob-
lhos gêmeos quando estes discutiam às escondidas. Um dizia: "É
servadas em toda a África.
melhor estar vivo", e o outro: "É melhor estar morto". Ao notar
Entretanto, é preciso distinguir duas fórmulas. Às vezes de
a presença da mãe calaram-se e, desde então, de tempos em tempos,
sexos opostos, os gêmeos estão destinados ao incesto, que já prefi-
as pessoas morrem. Sempre há uns que nascem e outros que falecem
gurava sua promiscuidade no seio materno. Esse casal em geral
no mesmo instante. Se, sem ser vista, a mulher tivesse deixado os
procria filhos meninos e meninas: de sua união, igualmente inces-
filhos terminarem sua discussão, um dos gêmeos teria vencido e não
tuosa, nascerá a primeira humanidade. Embora seja encontrado
haveria vida, ou não haveria morte. Um outro mito salish, mas da
também na América, deixei de lado esse tema mítico porque res-
costa, trata o tema dos gêmeos numa veia pitoresca: dois irmãos sia-
ponde a uma questão específica: como produzir a dualidade (a
meses estavam colados pelas costas de modo que um deles tinha de
dos sexos e aquela subseqüente, que a aliança matrimonial impli-
andar para trás quando o outro andava para a frente; armados de
ca) a partir da unidade ou, mais exatamente, a partir de uma ima-
arcos e flechas, eles sempre atiravam em direções opostas."
gem bastante ambígua da unidade para que se possa conceber que Na América do Sul, companheiros, gêmeos ou não, desigual-
a diversidade dela emerja? O Rigveda apresenta um primeiro exem- mente dotados física ou moralmente, vivem as mesmas aventuras
plo com o hino (x. 10) em que dialogam Yama e Yami, ou seja,
e cooperam entre si. O mais inteligente ou mais forte conserta os
"Gêmeo" e "Gêmea", ele dizendo as estrofes pares, ela as ímpa-
res; ambos nascidos de uma gêmea, esposa do Sol, de quem pro- (*) Izanagi e Izanarni uniram-se depois de lerem contornado, ele pela esquerda
cura fugir, em vão, por não suportar-lhe o calor (comparar supra: e ela pela direita, o pilar celeste, encontrando-se do outro lado. Mas a mulher come-
139 n.). Contudo, por obra do Sol ela teria gêmeos, os Asvin, teu o erro de falar primeiro em vec de deixar a iniciativa a seu parceiro masculino.
por sua vez progenitores de outros gêmeos. O texto não diz clara- Belo paralelo num mito chilcotin: "Eles viajaram e chegaram ao pé de uma
montanha alta. O irmão disse à irmã que eles deviam se separar e contornar a mon-
mente que Yami consegue convencer Yama a unir-se a ela; mas, tanha, ele por um lado e ela pelo outro; e que se dessem um com o outro iriam casar-
na antiga mitologia japonesa, a gêmea primordial, também por de- se, senão não poderiam fazê-lo" (Farrand 2: 22).

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erros ou imperícias do outro, e até o ressuscita, se ele morrer vítima que desempenham um papel apagado. Os autores dos hinos, nota
de sua própria incapacidade: assim, Pud e Pudleré dos Krahô, Kéri Dumézil, interessavam-se pouco na teologia diferencial; tudo se passa
e Kamé dos Bakairi, Méri e Ari dos Bororo, Dyoi e Epi dos Tuku- em seguida como se uma tendência constante tivesse levado o pensa-
na, Makunaíma e Pia dos Carib etc.' Mas, em geral, os mitos ame- mento indo-europeu a apagar a diferença entre os gêmeos, pois vá-
ricanos param por aí, como se renunciassem a tornar os gêmeos rios indícios sugerem que teria sido mais marcada na origem. O caso
homogêneos à maneira de Cástor e Pólux, famosos por sua amiza- de Rômulo e Remo atestaria a persistência de concepções antigas,
de fraterna e até, como diz Plutarco, "união indivisível que havia igualmente testemunhadas, sob uma forma bastante enfraquecida,
entre eles"; "par altamente igualitário", sublinha Marcel Detien- pelos talentos diversos atribuídos a Cástor e Pólux (um especialista
ne," ainda que gerado por pais diferentes, um humano e o outro di- em equitação e o outro em luta) e, num outro registro, pelos atributos
vino. Os Dióscuros anularam essa disparidade inicial compartilhando -respectivamente sabedoria e beleza - dos dois filhos dos Asvin.'
a mortalidade-de um e a imortalidade do outro. No início, sua si- Tratando de uma conjuntura idêntica - um gêmeo mortal re-
cebe sua sepultura; o outro, imortal, reside no céu sob a forma de
tuação era, portanto, semelhante à dos "gêmeos" americanos, nas-
um astro _,6 o mito grego rejeita essa disparidade e iguala as duas
cidos de casais, ou no mínimo de pais, diferentes (supra: 53). Na
condições, ao passo que o mito americ.:ano se adapta a ela sem achar
América, contudo, a desigualdade se mantém e ganha progressiva-
que deva mudá-Ia. Em toda a Europa, as idéias populares relativas
mente todos os domínios: a cosmologia e a sociologia indígenas lhe
aos gêmeos bordam sobre o tema de sua completa identidade: fisi-
devem sua mola mestra.
camente indistinguíveis um do outro a não ser recorrendo a artifí-
Em resposta ao problema da gemelaridade, o Velho Mundo fa-
cios cosméticos ou de vestuário, com os mesmos gostos, mesmos pen-
voreceu soluções extremas: seus gêmeos ou são antitéticos ou são.
samentos, mesmo caráter, apaixonados pela mesma mulher, ou tão
idênticos. O Novo Mundo prefere formas intermediárias, que os aIl- idênticos que a mulher de um o confunde com o irmão, doentes ao
tigos certamente não ignoraram; nos termos em que Platão o narra mesmo tempo, incapazes de sobreviver um ao outro etc. Dessas cren-
(Protágoras, 321), o mito de Prometeu e Epimeteu poderia ser bra- ças, La Petite Fadette oferece uma espécie de epítome.
sileiro ... Parece contudo que, na mitologia do Velho Mundo, tenha O pensamento ameríndio, por sua 'fez, recusa essa noção de gê-
re
permaneddü-bâIX-oü-'i ildimento", por assim dizer, dessaf6r-mu--- meos entre os quais reinaria urna perfeita identidade. Pais dos mes-
Ia que consiituiao contrário, uma espécie d~céhiTagerminarn_~~L mos gêmeos (como Zeus e Tíndaro dos Dióscuros), * Lince e Coiote
tologia do Novo Mundo. * foram originária ou temporariamente idênticos segundo um mito já
Dumézil insistiu longamente na igualdade, quando não indistin- citado (supra: 54). Convém acrescentar que povos tão diversos pela
ção, entre os gêmeos na tradição indo-européia. "Os hinos--védic~; língua e a cultura como os Kutenai, os Wichita e os Sia contam esse
tratam os Asvin ou Nãsatya como uma entidade; o Mãhãbharata mito nos mesmos termos, não obstante a distância que separa o Mon-
faz de seus filhos gêmeos Nakula e Sahadeva personagens modestas tana tanto do Novo México como de Oklahoma e do Texas:? mas
encontram-se, no intervalo, numerosas versões aparentadas. Lince,
(*) Segundo Cl. Voisena; (L 'homme, XXVIII, I), a mitologia grega associava a que tinha diferenças com Coiote, esticou o focinho, as orelhas e as
gerneiaridade à sujeira e ao excesso, conferindo-lhe, portanto, uma acepção negati- patas do inimigo. Em represália, Coiote afundou o focinho, as ore-
va. Mas deduz-se de seu artigo que tais conotações se evidenciam principalmente a
lhas e o rabo de Lince, razão pela qual esse canídeo e esse felino
partir de uma leitura da história "quente": efeitos retroativos da política sobre a
mitologia, e não o inverso. O caso de Esparta parece ser significativo. Pois é evidente se parecem tão pouco hoje em dia. ** Talvez fossem eles iguais ou-
que a prática de uma realeza duallá originou, de forma retroativa, o mito de origem
("Latria e Anaxandra [... ] eram gêmeas e, conseqüentemente, os filhos de Aristoderno (*) Sem esquecer que em outras tradições eles são filhos apenas de Zeus, ou
[Procles e Eurfstenes, troncos das duas dinastias de Esparta], também gêmeos, de um pai de dupla natureza, ao mesmo tempo divina e humana.
desposaram-nas", Pausânias, I1I, I, 7; I1I, XVI, 6). Certamente não é o mito que, em (00) Num estilo um pouco diferente, os Kaska, pequeno povo athapaskan do
Esparta em particular, se prolonga numa forma de organização política da qual são Norte da Colúmbia Britânica, contam que Lince amassou o próprio nariz numa pa-
conhecidos vários exemplos na própria Grécia (Michell, pp. 101-4) e em outras re- rede de gelo (Teit 8: 455). Habitantes de um vasto território em torno do lago Supe-
giões do mundo. rior, a meio caminho entre o Atlântico e o Pacífico (bem a leste, portanto, da região

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trora, ou o tenham sido durante esse curto momento em que, so- men filosófico para que em todo e qualquer setor C:ocosmos ou da
frendo transformações em sentidos inversos, seus respectivos físi- sociedade as coisas não permaneçam em seu estado iniciaie g,u:,
cos coincidiram. Em ambas as hipóteses, a identidade constitui um de um dualismo instável em qualquer nível que se o apreenda, ~em- ~
estado revogável ou provisório; não pode durar. pre resulte um outro dualísmo instável. Essa filosofia acompanhou-
O pensamento ameríndio dá assim à simetria um valor negati- nos em todo o percurso das duas vias paralelas que seguimos neste
vo, maléfico até. Discuti em L 'homme nu a conotação sinistra dos livro, e que desembocaram no tema da impossível gemelaridade: a
parélios, que os mitos relacionam a histórias de gêmeos, muitas ve- dos índios e brancos de um lado, do nevoeiro e do vento do outro.
zes saídos de uma personagem cortada ao meio no sentido vertical, Convergência de dois itinerários cuja prova seria fornecida pelas
e que se tornam incestuosos. * Quando um ser sobrenatural é deca- construções formalmente heterogêneas de um mito sobre a origem
pitado, dizem os Haida, a cabeça e o corpo voltam a se unir; mas, do nevoeiro, que reflete como um microcosmo o universo da mito-
se for fendido verticalmente e se colocar uma mó entre as metades, logia ameríndia, e de mitos sobre o regime dos ventos que conden-
o ser sobrenatural mói a si mesmo e se reduz a pó. Esse é o único
sam tudo o que os índios conheciam do folclore europeu (supra: 183).
procedimento capaz de destruir um ser sobrenatural."
Finalmente, é digno de nota que, na América, um dos gêmeos
quase sempre ocupe o posto de deceptor: o princípio do desequilí-
Sem dúvida, a importância que os pc vos dessa região da.Amé-
brio está situado no interior do par. Na Grécia antiga, que faz rei-
rica atribuem ao nevoeiro e ao vento se explica por razões objeti-
nar a harmonia entre os Dióscuros, o princípio do desequilíbrio só
vas. Na zona marítima, cortada por estreitos, golfos e fiordes que
pode se encontrar no exterior. O papel de deceptor cabe a uma ter-
penetram no coração das montanhas, dotada de um clima ameno
ceira personagem, Eurimas ou Eurimnos, qualificada por Ferecides
como diábolos (que traduz bastante bem deceptor), acerca da qual e de chuvas abundantes, o nevoeiro se impõe como um dado da ex-
não SI.! sabe infelizmente quase nada, a não ser que Pólux matou-a periência. O que também se aplica, ainda que em menor medida,
com um soco porque ela tentava jogá-lo contra o lrmão.l? ao planalto interior, onde a barreira formada pela cadeia costeira
Por conseguinte, ainda que os indo-europeus tenham tido uma impede o ar marítimo de penetrar. Reina ali um clima semidesértico
concepção arcaica da gernelaridade, próxima da dos ameríndios, (a média anual de precipitações é de 25 em r.o vale do rio Thompson
afastaram-na progressivamente. k diferença dos índios e como di- contra 275 em na costa ocidental da ilha Vancouver), com grandes
ria Dumézil, dela "não tiraram uma explicação do mundo";'! Pa- variações de temperatura entre o verão e o inverno. Indo do inte-
ra os indo-europeus, o ideal de uma gemelaridade perfeita podia rior para a costa, a média anual dos dias de nevoeiro denso eleva-se
realizar-se, a despeito de condições iniciais desfavoráveis. ** No. pen- de uma vintena para mais de 45, cora dois períodos máximos em
samento dos ameríndios, parece indispensável uma espécie de clinâ- março e outubro." Esses nevoeiros não são todos do mesmo tipo.
,
c Os meteorologistas distinguem vários, de irradiação, de advecção,
a que este livro se circunscreveu), os Ojibwa explicam por uma queimadura sofrida frios, quentes etc. Se Lince suscita um nevoeiro ínvernal que impos-
por Lince o fato de ele ter a cara feia, achatada e enrugada; e por que seus testículos,
sibilita a caça e causa fome (supra: 19), segundo outros mitos ape-
que ele mesmo enfiou para dentro do corpo, são hoje em dia pouco visíveis como
os do gato (W. Jones: 11, 125,705; Radin: 37; Speck: 67-8). Por esse fíSICOintrover- nas os irmãos Cães, dentre todos os animais, tiveram o poder mági-
tido, Lince se opõe a Coiote, que possui um físico extrovertido. co de pôr termo aos rigores do inverno e à falta de alimento: "Se
Uma última observação quanto à morfologia do Lince: se o Velho Mundo lhe conseguirmos", dizem, "quando vier a aurora cortinas de bruma
atribui visão aguçada, na América do Norte os Ojibwa dizem-no estrábico desde que
tentou abarcar com o olhar um panorama extenso demais (W. Jones: 11, 131).
subirão para os picos; a neve e o gelo derreterão, a terra se aquecerá,
(0) Um mito chinês segue o caminho inverso. Fala de irmãos incestuosos que
morrer aru e ressuscitaram na forma de uma personagem única dotada de duas cabe- América, uma personagem chamada Lince nos ter levado a gêmeos e de, na Grécia,
ças, quatro mãos e quatro pés.8 os gêmeos levarem a uma personagem cujo 1I0me deriva da palavra lince constitui
(00, Os Dióscuros gregos tiveram ao mesmo tempo como dublês e adversários um desses acasos de que a mitologia comparada fornece outros exemplos sem que
um par de irmãos, seus primos patrilai erais, chamados Idas e Linceu ... O fato de, na se possa, no mais das vezes, extrair disso nada além de satisfação poética.

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a chuva cairá e os cervídeos descerão para os vales. Teremos muito exército. A neve começa a derreter como uma esponja serrada, o ter-
o que comer, ninguém mais terá fome, será a primavera".'! A mu- mômetro pula para sessenta, e em menos de duas horas é o clima da
dança de estação, do tempo ameno ao frio ou do frio para o tempo Califórnia do Sul. Não é de espantar que os índios personifiquem esse
ameno, diz respeito, pois, a personagens - Lince de um lado, Cães vento. Nós mesmos o personificamos. I?
do outro -, protagonistas de mitos cujas respectivas estruturas tam- Para os povos pescadores da costa, o vento do Sul era, no en-
bém são, como vimos, correlatas e opostas (supra: capo 14). tanto, amedrontador. Contam que os animais lhe moveram guerra
Quanto aos ventos, sua importância no pensamento indígena e o venceram. Mas não o mataram, por isso ele sopra apenas du-
se mede pelo fato de os Twana de Puget Sound, por exemplo, defini- rante alguns dias seguidos, depois se acalma. 18 Segundo um outro
rem as direções do espaço em termos da rosa-das-ventos: "Num uso mito, o demiurgo teve de intervir para que cessasse a guerra entre
extensivo, esses termos designam os pontos cardeais; mas é evidente os irmãos Ventos-da-Nordeste e os irmãos Chinook. Moderou uns
que se referem inicialmente aos ventos" .14 Povos dessa região con-
e outros, mas deixou em vantagem os Chinook.
tam vários mitos acerca da guerra dos ventos, principalmente entre
o do Nordeste e o do Sudoeste, um frio e o outro quente (cf. L 'hom- E assim, hoje em dia, no perpétuo fluxo e refluxo dos oceanos celes-
me nu, M754' M7W M780'M78J' M78J OS índios do cabo Flattery, tes, quando o vento do Norte se desencadeia, varrendo tudo em seu
"admiráveis meteorologistas que prevêem a tempestade 011 acalmaria caminho desde o Canadá setentrional até a bacia do Colúmbia, seu
com a precisão de um barômetro ou quase", distinguem seis ven- domínio é apenas transitório. Pois, transcorridas algumas horas ou
tos: do Norte, do Sul, do Leste, do Sudeste, do Oeste, do Noroes- no máximo alguns dias, uma linha azul-escura aparece no horizonte
pelo sul. Rapidamente os picos se desnudam da neve que os cobria.
te." Nos relatos míticos os ventos constituem uma família. A dama
e é a libertação: na manhã seguinte, poderoso e ruidoso, o chinook
Vento-da-Oeste e o senhor Vento-da-Leste têm dois filhos, Venta-
abençoado chega do Sul e o domínio gelado do Norte funde como que
do-Norte e Vento-da-Sul (supra: 124); ou ainda, Vento-de-Chuva
sob o sopro de uma fornalha. A luta é breve e a vitória do chinook,
(o do Sudoeste) casa-se com a filha de Vento-Frio (Norte), que mata certa. 19
o genro. Vento-de- Tempestade, filho do morto, irá vingá-Io.P
O vento do Sudoeste, chamado chinook (do nome de um povo A guerra do vento quente contra o vento frio corresponde ri-
do estuário do rio Colúmbia), provém, como sugere seu nome, do gorosamente, num outro registro, à dos terráqueos contra ° povo
oceano. Tempestuoso e carregado de chuva "quando chega em celeste pela conquista do fogo (cf', '''L 'homme nu, 7 ~ parte, II): com
janeiro-fevereiro à costa, perde sua umidade ao ultrapassar as bar- efeito, se o vento quente do Sudoeste vem do mar, ou seja, de bai-
reiras montanhosas formadas pela cadeia costeira e pelas Cascades, xo, o vento frio do Nordeste mora no céu.2o O paralelismo fica evi-
depois pelas Rochosas. Transformado num vento quente e seco, so- dente numa versão shuswap. Outrora, os animais sofriam de frio
pra violentamente nas Planícies e provoca altas de temperatura es- [em vez de falta de fogo]. Lebre e Raposa partiram em expedição
petaculares, que já se fazem notar entre as Cascades e as Rochosas. para o Sul, onde viviam os senhores do vento chinook e do tempo
Um observador do início do século descreveu-as em termos líricos quente. Lá chegando, furaram o saco que continha o vento. O po-
na região antigamente chamada de território do Oregon (que com- vo do Sul tentou barrar-lhes a fuga provocando um calor abrasador
preende os atuais estados de Oregon, Washington, ldaho e parte de que se espalhou por todo o país, mas os dois heróis correrarn mais
Montana), de onde provêm vários dos mitos que utilizamos: depressa. "Doravante os ventos quentes soprarão até o Norte, fa-
zendo derreter a neve e secando a terra. O povo do frio não mais
É difícilimaginar em toda a natureza um espetáculo de um pitoresco
mais arrebatador do que o devido ao chinook. O termômetro pode mandará sozinho no tempo e seus rigores atenuados não farão os
ter caído a quase zero [Fahrenheit], a terra pode estar sepultada sob humanos sofrerem demais. "21
um pé de neve, sufocada pelo abraço mortal de um nevoeiro denso; Contudo, à diferença do outro ciclo, de onde resulta uma conse-
repentinamente, como que sob o efeito de uma poderosa aspiração, qüência irreversível, a ruptura da comunicação entre os dois mundos,
o nevoeiro se desagrega, revelando os cumes já em parte livres de ne- aqui o combate termina num acordo. Nenhum dos lados obtém uma
ve. Então, surdo e sibilante, o quente vento do Sul investe c0Il!0 um vitória decisiva, o vento frio e o vente quente irão alternar-se. Os

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Coeur-d' Alêne podem descrever a chegada do bom tempo em ter- Do mesmo modo, quando Maybury Lewis escreve que "a hie-
mos categóricos: "Assistimos ao assassinato do Frio por seu ir- rarquia não é incompatível nem lógica nem sociologicamente com
mão ... "; limitam em seguida a fórmula esclarecendo" ... a cada uma organização dualista sólida e duradoura (thoroughgoing and
primavera't.ê- persistent)" ,25 concordo ainda mais com ele na medida em que
num texto (ausente de sua bibliografia, assim como, aliás, o de J.
Christopher Crocker, escrito, como precisa seu autor, em prolon-
Essa noção fundamental de um dualismo em perpétuo desequi- gamento do meu) eu havia colocado o problema da relação entre
líbrio não transparece apenas na ideologia. Seja na América do Norte reciprocidade e híerarquía.ê'' Mostrava então que, se entre os Bo~
(onde a evidenciei entre os Winnebagoj-' ou na América do Sul, roro a.::metades estão ligadas por toda uma rede de direitos e de
reflete-se também na organização social de vastos grupos de popu-
obrigações recíprocas, encontram-se, no entanto, em desequilíbrio
lações. As tribos da família lingüística lê e outras, suas vizinhas no
dinâmico uma em relação à outra. * Eu sublinhava também que as
Brasil Central e oriental, ilustram-no.
metades sul-americanas não são "em nada comparáve's aos siste-
Uma obra coletiva recente, cujos autores tiveram o generoso
mas australianos, já que no primeiro caso jamais um par de meta-
pensamento de me dedicar (assim como à memória de W. H. R. Ri-
des desempenha o papel de classes matrimoniais" (p. 268). Final-
vers, o que constitui uma honra ainda mais opressiva), traz vários
mente, eu avançava as reflexões de Maybury Lewis ao escrever, ain-
fatos novos e análises penetrantes acerca do dualismo. Um dos res-
da no mesmo texto:
ponsáveis pelo volume ao lado de Uri Almagor, David Maybury Le-
wis, desenvolve, acerca da organização social dos Jê,visões que só Uma análise talvez unilateral da organização dualista muitas vezes
posso considerar judiciosas: avançou o princípio da reciprocidade como sua causa e seu principal
resultado [... ) Contudo, não se deve esquecer que um sistema de me-
As organizações dualistas do Brasil Central [... ) constituem teorias so-
tades pode expressar não apenas mecanismos de reciprocidade, mas
ciais globais (comprehensive social theories) unindo o cosmos e a socie-
também relações de subordinação." Mesmo nessas relações de su-
dade [... ) que não são particularmente dependentes de nenhuma institui-
bordinação, contudo, o princípio de reciprocidade está operando; pois
ção. Elas são capazes de gerar novas formas institucionais (new insti-
a subordinação é ela mesma recíproca: a metade que ganha a prima-
tutional arrangements) quando e onde isso se revela necessário.ê"
zia num plano a concede à metade oposta num outro.
O estranho é que o autor dessas linhas acredita afastar-se de mim
quando, há mais de quarenta anos, acerca das organizações dualis- (.) Fui acusado (Maybury Lewis, pp. 110-3) de ter dito que o dualisrno diame-
tas em geral e do Brasil Central em particular, não tenho dito ou tral era por essência estático, Mas é justamente por tê-Io demonstrado com base em
escrito senão exatamente isso. argumentos de ordem formal (Anthropologie structurale, p. 168; Anthropologie struc-
turale deux, p. 91) que pude concluir, contrariamente às visões de meus predecesso-
Já nas Structures élementaires de Ia parenté eu refutava a tese
res, que o dualismo diametral não constituía por si só um modelo adequado para
(a qual me foi atribuída) de que as sociedades dualistas seriam re- compreender o funcionamento das organizações dualistas, cujo dinamismo exige que
dutíveis aos sistemas de metades, e estes a um meio de garantir o se recorra a outros princípios. Todo o meu texto de 1944 já demonstrava que, em
equilíbrio das trocas matrimoniais: meu pensamento, uma sociedade como a dos Bororo tira seu dinamismo do jogo
entre a reciprocidade e a hierarquia,
A organização dualista não é, pois, primeiramente uma instituição [... ). (•• ) Seria, contudo, ingênuo restringir ao Brasil Central I) alcance de tais con-
É, antes de mais nada, um ~riI!<:ípjo de organização,capaz de receber siderações. Estando em 1983 em ilhotas do arquipélago das Ryúl.yü, observei os mes-
aplicações muito diversas e sobretudo mais ou menos avançadas. Em mos desequilfbrios alternados entre as metades, uma associada ao Leste, aos homens,
certos casos, o princípio aplica-se somente às competições esportivas; ao mundo profano, e a outra ao Oeste, às mulheres, ao sagrado, Na ordem política
em outros estende-se à vida política [... ); em outros casos ainda aplica-se e social, a superioridade cabe ao princípio masculino; cace ao princípio feminino
na ordem religiosa, Nas aldeias que visitei, o rito de luta da corda, no qual as duas
à vida religiosa e cerimonial. É possível enfim estendê-I o aos sistemas
metades se opõem, inspirava sentimentos ambíguos, A superioridade do time do Leste
de casamento. [P. 114 da edição brasileira, trad. Mariano Ferreira,
era reconhecida, mas a vitória do time do Oeste era considerada benéfica para a fe-
Petrópolis-São Paulo, Vozes-Edusp, 1976) cundidade humana e para a prosperidade das plantações (LS 15: 25-6; cf. Yoshida:

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Eu concluía: "É possível que os sistemas com múltiplos pares de Tudo isso é verdade. Mas se os Tupi não deram lugar ao dualis-
metades que se entrecortam, típicos da organização dualista na Amé- mo ne-fi'em sua organização social, nem em seu panteão, é o dua-
rica do Sul, se expliquem como uma tentativa de superar tais con- Iisrno que ordena sua mitologia. Demonstrei-o no capítulo 4 e no
tradições" (p. 268). final do capítulo 5. Quanto a isso, os Arawak tOS Carib, que tam-
Por conseguinte, num vasto conjunto de povos sul-americanos, bém possuem o ciclo dos gêmeos, em nada diferem dos Tupi; e vi-
uma organização social "em estreita correspondência com as idéias mos (cap. 5) que é possível passar por transformação da mitologia
metafísicas" (ibidem) parece ser ela também concebida nos moldes dos Tupi para a dos lê. Finalmente, a organização social das civili-
de um desequilíbrio dinâmico entre termos - seres, elementos, gru- zações andinas apresentava, na época da descoberta, analogias no-
pos sociais .- que seria tentador repartir em pares, pois que, à pri- táveis com a que ainda não desapareceu entre os Bororo e os lê.28
meira vista, e considerados dois a dois, parecem equivalentes, iguais, Contrariamente ao que Seeger irnagina.ê? não vejo na organi-
às vezes até mesmo idênticos. Reencontramos assim o tema desen- zação dualista um fenômeno universal resultante da natureza binária
volvido ao longo de todo este livro. do pensamento humano. Apenas constato que povos que ocupam
É fato que, entre as culturas chamadas "baixas" da América uma área geográfica certamente imensa, mas circunscrita, escolhe-
do Sul, esse tipo de organização social parece ser próprio apenas ram explicar o mundo pelo modelo de um dualismo em perpétuo
dos lê. Seeger notou com humor: desequilíbrio, cujos estados sucessivos se em butem uns nos outros:
li dualismo que se expressa de modo coerente, ora na mitologia, ora
A primeira reação de vários etnógrafos que trabalham nas terras bai-
!. na organização social, ora em ambas.
xas da América do Sul é dizer que o dualismo tal como foi descrito
entre os Jê não se aplica ao grupo estudado pelo próprio etnógrafo: Uma ilustração esquemática dessa forma particular de dualis-
"Isso não é tupi", objeta ele. Assim que alguém propõe um quadro mo me foca fornecida pelo-contraste entre os Dióscuros da tradição
geral para analisar um grupo de sociedades, um outro antropólogo salta greco-rornana e os gêmeos ameríndios. Desiguais pelo nascimento
e proclama que nada de semelhante existe em algum outro lugar (no nos dois casos, os primeiros conseguiram tornar-se e permanecer
Brasil, esse grupo inclui as famílias lingüísticas Tupi, Arawak e Carib). iguais; os outros, durante toda a sua vida terrestre e além, dedicam-
Sem dúvida, prossegue Seeger, se a aumentar a distância que havia entre eles. Inferir-se-a daí que,
no tocante à gemelaridade, sociedades quentes podem se contentar
o argumento "isso não é tupi" está perfeitamente correto. Em vez de com uma filosofia fria e que sociedades frias - talvez por serem-no
acentuar as distinções, os Tupi tendem a negá-Ias e unir os contrários.
- sentem necessidade de uma filosofia quente? Eu não iria tão longe,
Não se encontram, entre os Tupi da floresta, formações sociais com-
mesmo porque há muitas razões para crer que, em outros aspectos,
plexas e que se entrecortarn, como se observam entre os Jê; em vez
disso, espíritos (centenas deles) que não estão necessariamente orde-
os mitos iriam contradizer a hipótese. Nesse domínio ininterrupto
nados de um modo binário.27 que constitui idealmente a mitologia geral, formando uma rede co-
nexa demais para que significações dela se desprendam, às vezes
65,6). Na ilha mais meridional das Ryükyü, C. Ouwehand (pp. 26, 34, 137) notou acontece de um cruzamento brilhar com uma fosforescência fugi-
contradições análogas, inerentes ao sistema. Teriam inclusive desistido da luta da dia. Ela surpreende, paramos, lançamos um olhar curioso, tudo se
corda porque não conseguiam chegar a um acordo quanto à prioridade de uma das extingue e passamos. A mitologia dos gêmeos oferece um terreno
duas equipes, talvez porque a equipe do Leste tinha por símbolo o sol, e a do Oeste,
propício a esse tipo de ilusão.
a lua, sendo que o primeiro astro era considerado superior ao segundo.
Um artigo de T. Yoshida e A. Duff-Cooper (Cosmos, 5, 1989) evidencia bem, Entre os seus atributos sagrados, os Dióscuros possulam.uma
tanto em Okinawa como em vali, as relações dialéjicas entre sistemasde op~siç~~s- planta, o Silphion." à qual os antigos atribuíam virtudes extraor-
Norte/Sul, Oeste/Leste. ieminino/masculino, mar/montanha, externo/interno etc. dinárias. Da Líbia, onde crescia em estado selvagem, importavam-
- em que os valores relativos atribuídos aos termos de cada par se invertem quando se carregamentos dela para consumo alimentar e para diversos usos
se passa da esfera do sagrado à do profano, do mundo dos vivos ao mundo dos mar,
tos etc. Ali, como alhures, o dualismo se traduz por um movimento pendular entre
medicinais, Era considerada tão preciosa que, quando César se apo-
a reciprocidade e a hierarquia. derou do tesouro público de Roma, foram encontradas enormes

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quantidades de Silphion em conserva. Desde pelo menos o século de uma tal umbelífera, ou da composácea supracitada, para o pre-
• VI antes de nossa era a colheita do Silphion., no território em que paro ritual do primeiro salmão e principalmente a assimilação, fei-
crescia espontaneamente (nunca se conseguiu cultivá-Ia), foi subme- ta pelo pensamento indígena, entre gêmeos e salmões, é difícil evi-
tida a regras severas. Quando, por volta do final do século I a.C., tar uma certa perturbação. Tanto mais que, segundo os Kwakiutl,
os administradores locais relaxaram o controle por negligência ou os grãos de Peucedanum mascados e cuspidos afugentavam os mons-
interesse, a espécie, sobreexplorada, desapareceu em cinqüenta tros marinhos e, segundo os Thompson, dissipavam o vento e a tem-
anos.!' No inicio da era cristã os romanos só a conheciam de nome pestade; ou seja, as mesmas virtudes que os antigos atribuíam aos
e de reputação.F Dióscuros. Na América do Norte, o emprego de plantas resinosas
O Silphion não era o peucédano oficinal, conhecido e utilizado na culinária ritual se explica provavelmente por referência implícita
na Europa desde a Antiguidade (supra: 108 n.), mas, segundo L. ao fogo primordial (supra: 111). Os antigos também relacionavam
Hahn, provavelmente uma peucedânea.P de qualquer modo, uma os Dióscuros ao fogo " e, como se sabe, a meteoros luminosos.
umbelífera de um gênero vizinho, produtora de um suco resinoso. A aparente coerência de todos esses fatos levaria a crer c,ue,
Por detrás da crença que associa o Silphion aos Dióscuros, talvez por razões que nos escapam, tanto no Velho quanto no Novo Mun-
não haja senão uma alusão à passagem dos dois heróis por Cirene, do fazia-se uma associação entre certas umbelíferas e gêmeos. Cer-
cidade de onde se exportava o Silphion (a menos que essa visita tenha tamente isso não passa de uma ilusão de ótica. Mas as ilusões têm
sido inventada para dar mais corpo à própria crença). E dedicaremos seu charme e é perdoável que não se permaneça insensível a elas,
um interesse sobretudo anedótico à reutilização do termo Silphium, contanto que se saiba onde parar.
que ficara disponível (já que não se sabe qual a planta que designa- Seria possível que, em raras ocasiões, esse poderoso instrumento
va outrora), para nomear em linguagem científica uma composácea que é a análise estrutural consiga romper os limites de nosso mundo
americana que secreta uma goma (nomes populares: Rosinweed, próximo, e discernir na parte mais longínqua do céu da mitologia
Compass Plant).34 Sem saber, Lineu reproduzia nessa escolha, res- algo que, emprestando do vocabulário dos astro físicos, chamaríamos
trita à nomenclatura, * a escolha, feita pelos índios, de uma compo- de singularidades? Estas não teriam mais relação com as semelhanças
sácea de um gênero vizinho, dotada da mesma propriedade, para superficiais com que se satisfazia a antiga mitologia comparada do
substituir no ritual uma peucedânea ausente de seu território (su- que a que existe entre os objetos misteriosos revelados pelos radio-
pra: 109). Coincidência picante na qual seria possível perceber um telescópios e os corpos celestes que os primeiros astrônomos obser-
sinal de que o espectro do Silphion ronda pelas paragens ... vavam a olho nu.
Finalmente, se retivermos o valor tanto alimentar como mágico Diante dos fatos do gênero desses que evoquei, as categorias
e religioso atribuído no Noroeste da América do Norte a peucedâneas habituais do pensamento vacilam. Já não se sabe o que se busca.
(também diferentes de Peucedanum officinale L.), o uso obrigatório Uma comunidade de origem, indemonstrável já que tão tênues são
os vestígios que poderiam atestá-Ia? Ou uma estrutura, reduzida por
(*) "[ ... ] o verdadeiro silphium, cujo nome Lineu talvez tenha se equivocado generalizações sucessivas a contornos tão evanescentes que perde-
10 atribuir a um gênero da família das corimbíferas, originário da Louisiana, por mos as esperanças de apreendê-Ia? A menos que a mudança de es-
ambérn apresentar folhas aproximadas e até unidas por baixo" (Dictionnaire des cala permita entrever um aspecto do mundo moral no qual, como
ciences naturelles [... ] par plusieurs professeurs des jardins du roi etc., t. XLIX, art.
'Silphium ", Paris-Estrasburgo, Levrault, 1827). Mas não havia uma certa arnbigüi-
dizem ClS físicos acerca do infinitamente grande e do infinitamente
lade terminológica no espírito dos índios entre umbelíferas do gênero Peucedanum pequeno, o espaço, o tempo e a estrutura se confundem: mundo do
= Lomatium e uma composácea, vizinha do gênero Si/phium (cf. supra: 109 n.)? qual deveríamos nos limitar a conceber a existência de muito longe,
Uma espécie (Silphium lacinatum L.) era reverenciada pelos Omaha e pelos Pon- abandonando a ambição de penetrá-Io.
a, índios de língua siouan habitantes da região do Missouri. Eles evitavam acampar
nde a planta crescia, pois, segundo eles, ali caíam raios freqüentemente. Por outro
Ido, acreditavam poder afastá-Ios com a fumaça de um fogo feito com as raízes 1%9-90
.cas. Os Winnebago da região dos Grandes Lagos empregavam Silphium perfotia-
tm como ernético para fins de purificação ritual (Gilmore: 80).

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