Humana Pós-Graduação em Direitos Humanos na América Latina
Unila/Unioeste
Prof. Júlio S. Moreira
11 nov. 2017 Plano do curso 11/11 (1) Elementos histórico-críticos da formação dos direitos humanos 11/11 (2) As três vertentes da proteção internacional dos direitos da pessoa humana 24/11 Sistema Global (ONU) de proteção aos direitos humanos + Trabalho em grupos 09/12 Sistemas regionais e sistema interamericano de proteção aos direitos humanos 09/12 Direito Constitucional Internacional + Avaliação Onde se fala de e se praticam os DH? • Estado • Sociedade civil • Acontece que essa forma de tratar já é uma forma incorporada ao sistema social e aparato jurídico-institucional que sustenta os DH apenas para alcançar legitimidade e os continuar violando • Exemplos disso??? Devemos colocar a questão dos DH em outros termos: • Esfera da luta de classes (conflitos sociais, perspectiva da história, materialismo histórico e dialético) • Esfera da representação cooptada pelo sistema (discurso acadêmico, discurso estatal, discurso das organizações internacionais) • Esfera da vulgarização (mídia, discurso policial, senso comum) • “O sistema das Nações Unidas precisa ser visto como um guarda-chuva institucional para o imperialismo como capitalismo monopolista, cuja arquitetura é fundada nos seguintes pilares: (1) os órgãos político-militares; (2) as agências econômicas; e (3) o meio pelo qual as instituições e a legislação doméstica dos EUA são sincronizadas com as constituições das agências para assegurar a liderança dos EUA” • Radha D’Souza • “A jurisprudência reflete não apenas os atos presentes das potências, mas também seus objetivos para o futuro, já que isto não é apenas o espelho do que fazem, mas também um meio utilizado para a obtenção desses objetivos. A legitimação de certas ações, a imposição de sua vontade e a institucionalização desta imposição requerem, tanto na forma jurídica quanto sob o ponto de vista operacional, uma estrutura legislativa. Assim, a jurisprudência, enquanto meio de expressão, adquire uma função de ocultamento, dissimulação.” • Hakan Karakus • “O Direito Internacional moderno é a forma jurídica da luta dos Estados capitalistas entre si pela dominação sobre o resto do mundo.” • Pashukanis • A importância e o paradoxo dos defensores dos direitos humanos • “Os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos. As distinções sociais só podem fundamentar-se na utilidade comum.” • Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, Assembleia Francesa, 1789 • “Em uma certa etapa de seu desenvolvimento, as forças produtivas materiais da sociedade entram em contradição com as relações de produção existentes ou, o que nada mais é do que sua expressão jurídica, com as relações de propriedade dentro das quais aquelas até então se tinham movido. De formas de desenvolvimento das forças produtivas estas relações se transformam em seus grilhões. Sobrevém então uma época de revolução social.” • Karl Marx • A igualdade jurídica é condição para a universalização dos direitos proclamados pela burguesia. Dizer que todos são “iguais em direitos” significa que o direito é o mesmo para todos pela simples condição de humanos. • A liberdade e a igualdade são traçadas como os mais essenciais atributos naturais do homem, e ainda hoje são o ponto de partida para a legitimação do discurso jurídico. • Ao binômio liberdade e igualdade, acrescenta-se outro conceito fundamental para a ordem jurídica capitalista: a propriedade. • Rousseau => contrato social => liberdade não pode ser vendida
• Poder arbitrário X Poder legitimado
Filosofia política moderna • Base individualista e abstrata • Superação do feudalismo • “Homem” como figura ideal, separada do contexto social • Sociedade atomizada • Indivíduo opõe seu direito contra outro indivíduo • Liberdade / Igualdade / Propriedade: abstrações jurídicas • “No Estado, onde é olhado como ser genérico, o homem é o membro ilusório de uma soberania imaginária, despojado da sua vida real individual, e dotado de universalidade irreal” • Karl Marx • “A essência humana não é abstrata residindo no indivíduo único. Em sua efetividade é o conjunto das relações sociais” • Karl Marx, 6ª Tese sobre Feuerbach • Os direitos humanos proclamados na declaração de 1789, “constituem apenas os direitos de um membro da sociedade civil, ou seja, do homem egoísta, do homem separado dos outros homens e da comunidade” • Karl Marx • A liberdade está fundada no indivíduo, e sua regra básica é fazer tudo que não prejudique o próximo; assim, dissocia o homem da própria sociedade. • A igualdade jurídica proclama que a lei é a mesma para todos, que todos nascem iguais em direitos, mas, na prática, apenas define que todos os homens são igualmente seres egoístas, voltados para si mesmos, no plano da liberdade individual. • A segurança, por fim, “é o supremo conceito social da sociedade civil, o conceito da polícia” Revolução burguesa e revolução popular • De revolucionária, a classe burguesa se converte em contrarrevolucionária, passa a oprimir as classes populares, “desarma o povo que ela própria armara, prende, tortura e mata os chefes populares e encerra, pela força, o processo revolucionário” • Marilena Chauí • [a burguesia alemã] no momento em que se ergueu ameaçadora em face do feudalismo e do absolutismo, percebeu diante dela o proletariado ameaçador, bem como todas as frações da burguesia cujas ideias e interesses são aparentados aos do proletariado. E tinha não apenas uma classe detrás de si, diante dela toda a Europa a olhava com hostilidade. • Karl Marx • As revoluções burguesas “têm vida curta, chegam rapidamente ao seu apogeu e um longo mal-estar se apodera da sociedade, antes de ter aprendido a apropriar-se serenamente dos resultados dos seus períodos de ímpeto e tempestade” • Karl Marx Na Filosofia Jurídica... • Passsagem do • Direito natural para o • Positivismo jurídico e normativismo Economia política e forma jurídica • “Assim como não se julga o que um indivíduo é a partir do julgamento que ele faz de si mesmo, da mesma maneira não se pode julgar uma época de transformação a partir de sua própria consciência; ao contrário, é preciso explicar esta consciência a partir das contradições da vida material, a partir do conflito existente entre as forças produtivas sociais e as relações de produção.” • Karl Marx • Forma elementar do capitalismo: mercadoria • Forma elementar do direito no capitalismo: forma jurídica, associada à mercadoria = contrato = sujeito de direito = abstração da igualdade jurídica • O Código Civil brasileiro, por exemplo, considera viciado o negócio jurídico celebrado mediante coação (o que ofende a liberdade) e por lesão (o que ofende a igualdade), valendo destacar seu art. 157: “ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta. • O contrato representa o vínculo da exploração social na sociedade capitalista • A equivalência é a primeira expressão do Direito no capitalismo mercantil: a troca de mercadorias deve ser proporcional, equivalente, e, portanto, justa.5 A forma jurídica acompanha o capitalismo desde seu elemento nuclear – a mercadoria – expressa na medida de equivalência ou igualdade. • “Para que seu possuidor [da força de trabalho] venda-a como mercadoria, ele deve poder dispor dela, ser, portanto, livre proprietário de sua capacidade de trabalho, de sua pessoa. Ele e o possuidor de dinheiro se encontram no mercado e entram em relação um com o outro como possuidores de mercadorias, iguais por origem, só se diferenciando por um ser comprador e o outro, vendedor, sendo portanto ambos pessoas juridicamente iguais” • Karl Marx • “O processo de abstração e de igualização dentro do próprio processo de trabalho, esta autonomização e privatização dos indivíduos dentro do próprio processo de troca e as formas de propriedade privada e de concorrência que daí resultam correspondem, no nível político, aos valores de liberdade e igualdade formais e abstratos e à “separação” da sociedade civil e do Estado” • Poulantzas • Ter, abstratamente, propriedade, liberdade e igualdade, na acepção mercantil desses termos, não significa a emancipação humana. A redução do sujeito à condição de livre proprietário abstrato é a redução à condição de livre proprietário de si mesmo, podendo se oferecer como mercadoria ao possuidor de dinheiro. • “O capitalismo é um sistema em que os bens e serviços, inclusive as necessidades mais básicas da vida, são produzidos para fins de troca lucrativa; em que até a capacidade humana de trabalho é uma mercadoria à venda no mercado; e em que, como todos os agentes econômicos dependem do mercado, os requisitos da competição e da maximização do lucro são as regras fundamentais da vida” • Elen Wood • “onde quer que chegue o direito moderno, chegará por meio da lógica mercantil que lhe é própria” • Alisson Mascaro
• “o culto da forma mercantil assume caráter
universal na sociedade capitalista e atinge todas as relações humanas, sejam elas produtivas ou não” • Silvio Almeida • A esfera da circulação de mercadorias (relações de troca mediadas pelo conceito de justo, onde se inclui a força de trabalho oferecida como mercadoria) realiza os direitos fundamentais de liberdade, igualdade e propriedade; ela é, portanto, “um verdadeiro éden dos direitos naturais do homem” • Karl Marx • Ao se adentrar na esfera da produção, onde a mais-valia é produzida para depois ser apropriada, a relação se desiguala: de um lado, o capitalista, “cheio de importância, sorriso satisfeito e ávido por negócios”, de outro, o trabalhador, “tímido, contrafeito, como alguém que levou a sua própria pele para o mercado e agora não tem mais nada a esperar, exceto o – curtume” • Karl Marx Os direitos e liberdades no capitalismo • Propriedade – O trabalhador, que se relaciona como proprietário abstrato (proprietário da força de trabalho de que dispõe), é, na prática, um expropriado. É a privação da propriedade (meios de produção) que faz o trabalhador vender sua força de trabalho mediante salário • “A forma jurídica da propriedade não está em contradição com a expropriação de um grande número de cidadãos, pois a condição de ser sujeito de direito é uma condição puramente formal. Ela define todas as pessoas como igualmente ‘dignas’ de serem proprietárias, não obstante não as torne proprietárias.” • Pashukanis • Liberdade – O trabalhador não é livre para vender sua força de trabalho. Ele o faz não por liberdade, mas por necessidade, porque o dinheiro que chega na forma de salário é um pressuposto para sua subsistência. Por isso Marx chama essa liberdade de escravidão assalariada • para viver, [o operário] tem apenas o seu salário, de modo que é obrigado a aceitar o trabalho quando, onde e como se lhe apresenta. Já o ponto de partida não é equitativo para o operário. A fome representa para ele uma terrível desvantagem. • Friedrich Engels • Igualdade – A igualdade jurídica, conceito fundamental deste trabalho, é a reprodução e universalização da troca equivalente de mercadorias. A universalização da forma • jurídica é a universalização e aprofundamento da desigualdade material, ou desigualdade social. Ideologia Jurídica • Será que o direito é pura ideologia? • Debate entre Pashukanis e Rejsner • O significado da ideologia no mundo do direito: fetichismo jurídico • “Se a realidade não está de acordo com a lei, mudemos a lei” Oi?? • Marx e Engels: Liga dos Comunistas • Manifesto do Partido Comunista (1848) – Crítica à Liga dos Justos (1836) • 1887: Socialismo Jurídico (Engels) – Menger: “A questão social é na realidade, antes de tudo e, sobretudo, um problema da ciência do Estado e do Direito” • Rosa Luxemburgo: Reforma ou Revolução – Crítica Bernstein (SPD Alemão; 2ª Internacional; Socialismo Democrático) • Marx: Salário, Preço e Lucro – Significado das lutas reivindicativas (lutas econômicas) • “A internacionalização dos direitos humanos constitui, assim, um movimento extremamente recente na história, que surgiu a partir do pós- guerra, como resposta às atrocidades e aos horrores cometidos durante o nazismo. Apresentando o Estado como o grande violador de direitos humanos, a Era Hitler foi marcada pela lógica da destruição e da descartabilidade da pessoa humana, o que resultou no extermínio de onze milhões de pessoas.” • Flávia Piovesan