Eric Hobsbawm inicia falando do próprio nome “Revolução Industrial”, o qual
reflete um impacto relativamente tardio sobre a Europa. O fato existia na Inglaterra antes do termo. A década de 1780 foi, segundo a maioria dos estudiosos, o ponto de “partida” para a Revolução, a qual não se pode dizer completa, visto que ainda prossegue. O avanço britânico não se deveu à superioridade tecnológica e científica, mesmo porque os franceses é que estavam à frente nesse quesito (produziam, por exemplo, melhores navios e o mais completo tear). As condições adequadas estavam visivelmente presentes na Grã-Bretanha: mais de um século se passara desde que o primeiro rei fora julgado e condenado; o lucro privado e o desenvolvimento econômico eram os supremos objetivos da política governamental; já não se falava em um “campesinato britânico”, pois as atividades agrícolas já estavam predominantemente dirigidas para o mercado; as manufaturas já se haviam disseminado por um interior não feudal. Além disso, a Grã-Bretanha possuía uma indústria admiravelmente ajustada à revolução industrial pioneira, em condições de se lançar à indústria algodoeira e à expansão colonial. O autor prossegue falando do comércio colonial, que criara a indústria algodoeira e continuava a alimentá-la. As plantações das Índias Ocidentais forneciam o grosso do algodão para a indústria britânica e, em troca, os plantadores compravam tecidos de algodão em apreciáveis quantidades. Entre 1750 e 1769, a exportação britânica de tecidos de algodão aumentou mais de dez vezes. Por volta de 1840, a Europa adquiriu 200 milhões de jardas de tecidos de algodão, enquanto as áreas “subdesenvolvidas” adquiriram 529 milhões; merecendo destaque a América Latina – já separada de Portugal e Espanha – e as Índias Orientais. O algodão, portanto, fornecia possibilidades astronômicas para tentar os empresários privados a se lançarem na aventura da revolução industrial. Com relação à maneira mais óbvia de se expandir a indústria no século XVIII, fala-se do sistema “doméstico”, no qual se trabalhava a matéria-prima nas casas, recebendo-a e entregando-a aos mercadores que estavam a caminho de se tornar patrões. Continuando, Hobsbawm diz que, em 1830, a “indústria” e a “fábrica” no sentido moderno ainda significavam quase que exclusivamente as áreas algodoeiras do Reino Unido. Se o algodão florescia, a economia florescia, se ele caía, também caía a economia. Só a agricultura tinha um poder comparável, embora estivesse em visível declínio. O progresso da indústria algodoeira, entretanto, gerava, entre 1830 e 1840, acentuada desaceleração no crescimento e até um declínio da renda nacional britânica nesse período, o que gerou descontentamento social. As crises periódicas da economia, que levavam ao desemprego, quedas na produção, bancarrotas, etc., eram bem conhecidas. Dando prosseguimento, fala-se da metalurgia, especialmente a do ferro, que permanecia modesta. Em 1790, a produção britânica suplantou a da França em somente 40%. Na verdade, a produção britânica de ferro, comparada à produção mundial, tendeu a afundar nas décadas seguintes. Já a mineração era forte no período: em 1800, a Grã-Bretanha deve ter produzido cerca de 10 milhões de toneladas de carvão, ou aproximadamente 90% da produção mundial. Essa imensa indústria estimulou a invenção básica que iria transformar as indústrias de bens de capital: a ferrovia. Mal tinham as ferrovias provado ser tecnicamente viáveis e lucrativas na Inglaterra (por volta de 1825-1830) e planos para sua construção já eram feitos na maioria dos países do mundo ocidental, embora sua execução fosse geralmente retardada. Se outra forma de investimento doméstico podia ter sido encontrada – por exemplo, na construção – é uma questão acadêmica para a qual a resposta permanece em dúvida. De fato, o capital encontrou as ferrovias, que não podiam ter sido construídas tão rapidamente e em tão grande escala sem essa torrente de capital, especialmente na metade da década de 1840. Era uma conjuntura feliz, pois, de imediato, as ferrovias resolveram virtualmente todos os problemas do crescimento econômico. Eric Hobsbawm dá continuidade dizendo que uma economia industrial significa um brusco declínio proporcional da produção agrícola (isto é, rural) e um brusco aumento da população não agrícola (isto é, crescentemente urbana), e, quase certamente, (como no período em apreço) um rápido aumento geral da população, o que, portanto, implica, em primeira instância, um brusco crescimento no fornecimento de alimentos, ou seja, uma “revolução agrícola”. Também é apontado o problema do fornecimento de mão de obra. Com efeito, conseguir um número suficiente de trabalhadores com as necessárias qualificações e habilidades era tarefa difícil. Todo operário tinha que aprender a trabalhar de uma maneira adequada à indústria: ritmo diário ininterrupto, por exemplo, diferente do trabalhador agrícola ou do artesão independente. Instaurava-se a disciplina do operariado, a fim de estabelecerem-se mecanismos de controle. Também era mais conveniente empregar as dóceis (e mais baratas) mulheres e crianças. O autor finaliza dizendo que tanto a Grã-Bretanha quanto o mundo sabiam que a revolução industrial lançada nestas ilhas, não só pelos comerciantes e empresários como através deles, cuja única lei era comprar no mercado mais barato e vender sem restrição no mais caro, estava transformando o mundo. Nada poderia detê-la. Os deuses e os reis do passado eram impotentes diante dos homens de negócios e das máquinas a vapor do presente.
A Revolução Industrial segundo Eric Hobsbawm
Para o historiador Eric Hobsbawm a Revolução Industrial ainda não teve o seu desfecho, pois ainda prossegue nos dias atuais. E a Grã-Bretanha não teve o pioneirismo na Revolução devido aos seus avanços científicos ou tecnológicos, pois outros países europeus encontravam-se afronte da Grã-Bretanha neste quesito. O que fez então com que a Grã- Bretanha detivesse o pioneirismo da Revolução? Para o historiador isto é simples de analisar, pois as condições pré-existentes para o surgimento dela já se encontravam presente na Grã- Bretanha um século antes de outros países, para darmos exemplo, é muito duvidoso que em 1750 ainda existisse um campesinato dono de terras em grandes partes da Inglaterra e é seguro que não podemos falar de uma agricultura de subsistência. O país já dispunha de capitais e homens dispostos a investir no progresso econômico, além de possuir um setor manufatureiro e comércio bastante desenvolvido, transporte e comunicação eram bastante baratos e os problemas tecnológicos do começo da Revolução eram bastante simples necessitando apenas de homens com escolaridade comum e alguma familiaridade com dispositivos mecânicos simples. Fazendo com que as barreiras fossem de fácil superação. Mas o estopim para a Revolução Industrial foi a expansão dos mercados consumidores, senão realmente a criação deste visto que é o mercado que define aquilo que um homem de negócios produzirá. Essa expansão de mercados se deu através do mercado interno ou mercado externo além do governo. O mercado interno por maior que fosse não significa um grande escoadouro para produtos industrializados. A diferença está não somente no aumento da população, mas principalmente no poder de compra desta na primeira metade do século XVIII. É provável que a renda inglesa tenha aumentado, as pessoas estavam em melhores condições de vida e podiam comprar mais; a crescente procura de alimentos e combustível fez com que investimentos fossem realizados em transportes, facilitando e barateando o transporte de produtos. Além do que o mercado interno com um maior poder de compra acabou por torna- se um grande escoadouro para produtos que mais tarde se tornariam em bens de capital como carvão vegetal que cresceu com o aumento das lareiras urbanas. O mercado interno tinha como principal vantagem o seu tamanho e consistência protegendo o país contra as oscilações do mercado externo. O mercado externo desenvolveu-se em grande parte devido à grande marinha inglesa que com o aval do governo realizavam a destruição dos concorrentes além da conquista de novos mercados consumidores, fazendo desenvolver um comércio internacional onde a Grã- Bretanha exportava produtos industrializados e importava matérias-primas e alimentos. Desenvolvendo uma relação de interdependência de outros países com a Grã-Bretanha. No início de sua produção industrial a Grã-Bretanha destacou-se na produção da indústria têxtil sendo está o seu maior expoente, principalmente a indústria algodoeira que foi criada e alimentada pelo comércio colonial. As Índias Ocidentais forneciam os insumos para a indústria britânica e recebiam em troca tecidos de algodão com preços acima do mercado. Entre 1750 e 1769, a exportação de tecidos da Grã-Bretanha para o mundo aumentou mais de dez vezes. Por volta de 1840 as áreas consideradas “subdesenvolvidas” representavam o maior mercado consumidor para a exportação de tecidos de algodão, destacando-se a América Latina e as Índias Orientais. O algodão foi, portanto, o combustível para que empresários e investidores se lançassem na Revolução Industrial que estava surgindo naquele momento. Assim no início da Revolução Industrial a Grã-Bretanha criou um sistema de interdependência de outras regiões do mundo com ela. Onde ela fornecia os produtos manufaturados e recebia as matérias-primas vindas de áreas subdesenvolvidas, principalmente colônias, criando um capitalismo difícil de ser sustentado. Seu principal rival, já então, eram os Estados Unidos, vindo a seguir a França, a Confederação Germânica e a Bélgica. Embora essas economias adiantadas fossem parceiras comerciais da Grã- Bretanha e no início de sua industrialização dependessem de maquinário e mão de obra inglesa, estes não abriam mão do protecionismo, começando pelos Estados Unidos em 1816 e a maioria dos demais países adiantados a partir da década de 1880. A exportação britânica para o “mundo adiantado” continuou a ser grande, mas começou a dar mostras de estacionar ou declinar. Após 1873 a situação do mundo “avançado” foi de rivalidade entre os países desenvolvidos; e, além disso, entre países com relação aos quais somente a Grã-Bretanha tinha interesse essencial em total liberdade de comércio. Nem os Estados Unidos, nem a Alemanha, nem a França dependiam em grau substancial de volumosas importações de alimentos e matérias-primas. Assim todos os países adiantados com exceção, em parte, da pequena Bélgica, achavam-se retardados no tocante a industrialização, mas já se fazia claro que se estes países e outros continuassem a se industrializar, a vantagem britânica diminuiria inevitavelmente. E assim aconteceu. No início da década de 1890, tanto os Estados Unidos como a Alemanha ultrapassaram a Grã-Bretanha na produção da mercadoria crucial da industrialização – o aço. A partir de então, a Grã-Bretanha passou a integrar um grupo de potências industriais, mas deixou de ter a liderança da industrialização. Na verdade, entre as nações industrializadas era a mais lenta e aquela que revelava sinais mais óbvios de declínio relativo. Com o aumento da participação de outros países no comercio internacional e a perda de fôlego da indústria britânica devido ao seu declínio técnico e científico a Grã-Bretanha deixou ao longo dos anos de ser o protagonista da economia mundial para ser apenas um dos seus coadjuvantes.