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20/02/2018 Intervenção federal no Rio, a nova cara das ações militares que fracassam há décadas | Brasil | EL PAÍS Brasil

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INTERVENÇÃO FEDERAL NO RIO DE JANEIRO ›

Intervenção federal no Rio, a nova cara das ações militares que fracassam
há décadas
Moradores de comunidades e especialistas recordam problemas de ocupações passadas e
temem novas violações. Rio é apenas o décimo Estado mais violento do país
L. COELHO, M. V. RAMOS E M. T. CRUZ (PONTE)

18 FEV 2018 - 13:11 BRT

Ocupação das forças armadas na Rocinha, em setembro de 2017. VLADIMIR PLATONOW/AGÊNCIA BRASIL

Apresentada ontem pelo presidente Michel Temer (PMDB) como a solução para os problemas
MAIS INFORMAÇÕES
do Rio de Janeiro, o uso das Forças Armadas na segurança pública está longe de ser uma
novidade nas comunidades pobres do Rio e, para muitos de seus moradores, viraram
sinônimo de mortes e abusos.

A conveniente
Desde 2008, o Exército foi chamado a intervir com poder de polícia em 12 ocasiões, em
interrupção da
votação da reforma operações chamadas de GLO (Garantia da Lei e da Ordem). Além de não diminuir a
da Previdência criminalidade, as ações das Forças Armadas deixaram nas comunidades as lembranças de
constantes violações de direitos.

“Na Maré tivemos uma série de situações mal resolvidas, com denúncias e críticas muito
fortes da população à ocupação “ avalia o teólogo Ronilson Pacheco, ao recordar a ocupação
Quando até o cartão
postal denuncia o do Exército na favela da Maré entre 2014 e 2015. O objetivo oficial desta era preparar o terreno
inferno do Rio para a implementação de uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) na região, que acabou
não saindo do papel. A ocupação aconteceu às vésperas da realização da Copa do Mundo e
durou um ano e três meses.

  O músico Brunno DJ, morador do Parque União, lembra bem das limitações e opressões que
A PM que foi
proteger a Rocinha viveu durante a incursão das forças de segurança. “Não se podia fazer nada. Forró, pagode,
deixa um rastro de nada. O esculacho era geral, o tratamento não era diferenciado entre bandido e trabalhador.
denúncias por
Todo mundo tava errado pra eles”, conta o DJ.
abusos

Prisões em massa, o
motor das facções
que afetam a vida de
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Em pesquisa divulgada pela Redes da Maré em 2017, cerca de 75% dos moradores
consideraram regular, ruim ou péssima a ocupação do Exército no Complexo da Maré entre
2014 e 2015.

metade dos
brasileiros Para Irone Santiago, de 52 anos, há ainda um aspecto pessoal para seu desgosto com
intervenções semelhantes. A mãe de Vitor Santiago Borges, de 31 anos, viu seu filho ser
baleado por militares da Força de Pacificação do Complexo da Maré em fevereiro de 2015. Vitor acabou tendo sua
perna esquerda amputada e perdeu uma parte do pulmão. Inicialmente, o Exército nem ao menos aceitou
investigar o crime.

Para Irone, essa nova intervenção é um absurdo. “E agora os militares também tem a seu favor mudanças na Lei
13.491”, disse a costureira, referindo-se a lei no Código Penal Militar promulgada ano passado que permite que
crimes dolosos de militares contra civis sejam julgados na Justiça Militar. “Eu continuo lutando, mas tem horas
que bate o desespero, e aqui na Maré eu percebo cada vez mais gente desacreditada”.

Não é apenas para moradores da Maré que a perspectiva é negativa. Para a graduanda em direito Deize Carvalho,
moradora de uma comunidade em Copacabana, essa intervenção pode trazer ainda mais à tona a banalização da
vida do pobre e favelado. Outro que teme as consequências da intervenção é Deley, conhecido ativista da favela
de Acari. “Meu medo é que persistam as violações aos direitos humanos, que já são recorrentes”.

“Lógica de guerra”
A pesquisadora Lena Azevedo, da ONG Justiça Global, explica que a lógica das Forcas Armadas é de eliminação do
inimigo, que é muito diferente da lógica de segurança. “É uma lógica de guerra, de combate ao inimigo externo e
isso aplicado na segurança urbana vai causar muitas mortes. Um ano ocupando a Maré e foram mais de 20
mortos e mais uma dezena de sequelados e são crimes que não têm responsabilização. A Justiça militar é muito
pouco transparente”, afirma.

“O Rio parece um laboratório de todo mal, de toda perversidade. Tudo que querem experimentar de ruim na
política de segurança pública é no Rio. As UPPs [Unidades de Polícia Pacificadora], por exemplo”, critica a
pesquisadora.

Lena Azevedo lembra que, quando o Brasil usou pela primeira vez uma operação de Garantia da Lei e da Ordem
para colocar o Exército nas ruas, uma boa parte da sociedade ainda criticava a medida. Foi em 1992, também no
Rio, no que ficou conhecido como “Operação Verão”, que buscava combater os ainda recorrentes arrastões nas
areias das praias, especialmente da zona sul.

“Depois da ditadura, em 1992 foi a primeira vez que teve uma GLO no Rio de Janeiro e ela foi muito rechaçada pela
sociedade, porque tínhamos saído de um processo ditatorial, então a sociedade não aceitava de novo ficar sob a
lógica militarizada. Hoje as pessoas acham isso normalíssimo, mas não é. Isso é um estado de descaso”, afirma.

O decreto de intervenção federal também foi considerado “bastante preocupante” pela ONG Human Rights
Watch. “O Rio de Janeiro precisa aperfeiçoar a atuação da polícia e, para isso, precisa de um especialista em
polícia, não um especialista em guerra. A abordagem da segurança pública como um problema militar, baseada
 
em operações militares nas favelas, vem fracassando há décadas, causando uma enorme perda de vida de
moradores e policiais e exacerbando os problemas de violência no Rio”, afirmou a entidade, em nota.

Nos últimos sete anos, entre 2010 e 2017, foram 29 usos da GLO em todo o país, muitos em virtude dos Jogos
Olímpicos e da Copa do Mundo. A controversa prisão de 18 jovens no Centro Cultural São Paulo, com a presença

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de um capitão atuando como infiltrado em movimentos de oposição ao governo e assediando jovens, aconteceu
durante uma GLO preparada para a passagem da tocha olímpica na Avenida Paulista.

Intervenção inédita
O decreto assinado ontem pelo presidente Michel Temer, contudo, difere das outras 12 de vezes em que o
Exército foi chamado a intervir no Estado.

As operações anteriores eram amparadas pela GLO, que é prevista no artigo 142 da Constituição Federal e pela
Lei Complementar 97, de 1999, e pelo Decreto 3897, de 2001, que davam às Forças Armadas poder de polícia
para apoiar operações pontuais de combate ao tráfico de drogas e roubos de carga, por exemplo. O decreto de
intervenção federal assinado nesta sexta-feira (16/2), ao contrário, evoca os artigos 144 e 145, que tratam da
gestão da segurança pública – o que inclui traçar estratégias e destinar recursos – de um Estado da Federação.

Em evento no último dia 31 de janeiro, o ministro da Defesa, Raul Jungmann, ressaltou, no entanto, que o que
deveria ser uma medida extrema em casos extraordinários acabou virando rotina. “Estou há dezoito meses à
frente do Ministério da Defesa, e já estamos indo para a nossa 11ª Garantia da Lei e da Ordem”, lamentou o
ministro.

As 12 ações de GLO no Rio foram as seguintes: em outubro de 2008 (eleições municipais), de dezembro de 2010 a
junho de 2012 (Ocupação do Complexo do Alemão), julho de 2011 (V Jogos Mundias Militares), junho de 2012 (Rio
+ 20), outubro de 2012 (eleições municipais), julho de 2013 (Jornada Mundial da Juventude), julho de 2014 (Copa
do Mundo), de abril de 2014 até junho de 2015 (Ocupação do Complexo da Maré), agosto de 2016 (Jogos
Olímpicos), outubro de 2016 (eleições municipais), fevereiro de 2017 (votação do pacote de austeridade), e a
partir de julho passado, a implantação do Plano Nacional de Segurança no Rio.

A partir de julho, as operações do tipo Garantia de Lei e Ordem deram apoio em operações conjuntas e pontuais
com as polícias Civil e Militar para combater o tráfico de drogas e os roubos de carga. Desde então, houve
incursões nas favelas da Rocinha, Cidade de Deus, Jacarezinho, Mangueira, Tuiuti, Arará, Mandela 1 e 2, Barreira
do Vasco, Complexo do Salgueiro, Anaia, São Carlos, Zinco, Querosene e Mineira. Como parte da GLO do Plano
Nacional de Segurança, o Exército também foi usado na disputa de facções da Rocinha.

Embora a intervenção anunciada pelo presidente seja inédita, o ativista Ronilso Pacheco teme que as
consequências sejam as mesmas das GLO feitas desde 1992. Para ele, a mídia tem bastante influência nesse
processo que levou a decisão da intervenção, uma vez que o Rio é apenas o décimo Estado mais violento do país,
segundo o 11º Anuário de Segurança Pública.

“Essa intervenção atende a uma histeria e provê uma resposta rápida”, avalia, pontuando porém, que as
perspectivas não são boas. “Para os corpos pobres, que serão os corpos efetivamente controlados, para essa
comunidade, essa mudança é muito pouco significativa. É até negativa.”

Reportagem originalmente publicada no site Ponte Jornalismo.

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