nº06

out/2017

TRIBUTÁRIA

REFORMA TRIBUTÁRIA:
MAIS CEDO OU MAIS
TARDE TERÁ DE SER FEITA
Quem pretende Boas perspectivas Carga tributária
morar no exterior econômicas e x retorno de
deve informar à tributárias para serviços à
Receita Federal o País população
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 revista
GOVERNANÇA TRIBUTÁRIA editorial

A reforma tributária
revista
GOVERNANÇA
TRIBUTÁRIA
SUMÁRIO
05
possível para o Brasil
editorial
Dr. Gilberto Luiz do Amaral
A reforma tributária possível para o Brasil

reportagem de capa
06 Reforma tributária: mais cedo
Prezado
C
omo diria o economista Hans F. Sennholz (1922 – 2007), Enquanto na Espanha e na Finlândia a avaliação dos serviços
ou mais tarde terá de ser feita “confiar nosso dinheiro ao governo é como confiar nos- públicos é realizada com base na solução dos problemas, o Brasil

leitor, so pássaro a um gato faminto”. Infelizmente, essa triste

realidade faz com que nos perguntemos para onde está indo o
possui uma das cargas tributárias mais altas do mundo, mas é o
País que proporciona o pior retorno à população pelos tributos
dinheiro dos nossos impostos, os quais ficam embutidos em tudo arrecadados nas esferas federal, estadual e municipal. O desafio
o que adquirimos ou utilizamos. Eles estão em uma refeição, na para mudar essa triste realidade é, sem dúvida, uma reforma tribu-
10 Boas perspectivas
econômicas e tributárias 25 Planejamento
tributário: uma questão
passagem do ônibus para ir ao trabalho, no ingresso ao cinema,
na mensalidade da escola do filho e no material escolar...
tária, entretanto o Brasil nunca discutiu esse assunto em profun-
didade. Mal a discussão começa, é comum surgir uma briga sobre
para o País de sobrevivência quem ganha e quem perde. Tudo porque ocorre uma verdadeira
Pela lógica, os impostos existem para que o governo possa ga- guerra fiscal dos órgãos arrecadadores das três esferas de poder:
rantir a prestação de serviços perante a sociedade, como seguran- federal, estadual e municipal. Cada um quer sua fatia sem se preo-
ça pública, saúde, educação, saneamento básico. Segundo a RFB cupar com o bolo.

13 Sistema tributário brasileiro

beneficia super-ricos 28 Carga tributária x retorno
e serviços à população
(Receita Federal do Brasil), os impostos devem ser destinados a
programas de geração de emprego e de inclusão social, tais como: De fato, todo processo de reforma tributária tende a ser de-
plano de reforma agrária; crédito rural para expansão da agricultu- morado e conflituoso, por ser o resultado do confronto de ideias
ra familiar; plano de construção de habitação popular; saneamen- discrepantes sobre o melhor modelo fiscal a ser adotado. Diante
to e reurbanização de áreas degradadas nas cidades. Outra parte da importância do assunto, nesta edição da Revista Governança

32
Quem pretende dos impostos arrecadados, ainda segundo o fisco, tem de ser di- Tributária, renomados professores, advogados, economistas e es-
16 morar no exterior deve
informar à Receita Federal
Quanto custa o Brasil
para os brasileiros?
recionada à construção e recuperação de estradas; investimentos
em infraestrutura; construção de portos e aeroportos; incentivos
pecialistas no assunto afirmam que uma tributação que respeite
taxas proporcionais à distribuição de renda é a chance para o Bra-
para a produção agrícola e industrial; segurança pública; estímulo sil promover o crescimento e, principalmente, o desenvolvimento
à pesquisa científica; desenvolvimento de ciência e tecnologia; cul- econômico.
tura e esporte, e à defesa do meio ambiente.
Na publicação é possível conhecer também quanto custa
35
Para onde vai O PARAGUAI É LOGO ALI:
18 o dinheiro arrecadado
nesta sopa de letrinhas?
OPORTUNIDADES PARA
INVESTIMENTO NO PAÍS VIZINHO
Teoricamente, de acordo com o montante de impostos arreca-
dados todos os anos - no dia 3 de julho de 2017 o Impostômetro
o Brasil para cada brasileiro, os cuidados necessários para não
ter de pagar ainda mais impostos, os mitos e verdades de uma
atingiu a marca dos R$ 1,1 trilhão -, a sociedade brasileira deveria ter reforma tributária possível para o País nos dias atuais, entre
serviços públicos eficientes e de qualidade. Mas isso está muito lon- muitos outros temas de grande interesse.
ge da nossa realidade que reflete anos de uma cultura de governos
pouco ou nada produtiva para os cidadãos. Por quê? A Revista Governança Tributária traz ainda, nesta edição,

20 Complexidade tributária
atrapalha o consumo 40 A QUESTÃO DA REFORMA
TRIBUTÁRIA NO GOVERNO “TEMER” Primeiramente é preciso argumentar que os problemas, por
matérias exclusivas sobre o sistema tributário ideal e a razão dos
impostos no Brasil serem tão altos, além de artigos técnicos ela-
aqui, são inúmeros e um deles, em especial, merece maior destaque: borados pelos especialistas do IBPT.
os gestores públicos estão mal acostumados a tratar nosso dinhei-
ro como bem entendem. Para a esmagadora maioria, é como se o Nossa esperança é que haja uma reforma fiscal que assegure
dinheiro proveniente dos impostos, taxas e contribuições fosse um a redistribuição de renda, promova o desenvolvimento econômico,

22 O ICMS no e-commerce afetará

diretamente o consumidor 42 INSTITUCIONAL
recurso sem fim. Não há nenhuma preocupação em economizar. estimule a geração de empregos formais, incentive a atividade pro-
dutividade e respeite os encargos e os recursos arrecadados.
Outro aspecto importante é que paralelamente ao serviço
público, existe também a burocracia. É como se andassem de Boa leitura!
mãos dadas. Basta pararmos para pensar que é muito comum,
Instituto Brasileiro de Planejamento - IBPT por exemplo, que prefeitos ou secretários de saúde falem que
Presidente do Conselho Superior: Gilberto Luiz do Amaral - Presidente Executivo: João Eloi Olenike - Vice-Presidente Executiva: Letícia determinado posto atende a um número enorme de pessoas.
Mary Fernandes do Amaral - Diretor de Negócios: Cristiano Lisboa Yazbek - Diretor Jurídico: Otávio Augusto Fernandes do Amaral Mas eles nunca falam na eficácia do atendimento, afinal de que
adianta atender a milhares de munícipes, e não resolver o pro-
Expediente blema de nenhum deles efetivamente?
Conselho Editorial: Gilberto Luiz do Amaral, João Eloi Olenike, Letícia Mary Fernandes do Amaral e Cristiano Lisboa Yazbek - Coordenação Dr. Gilberto Luiz
Editorial: Adriana Cordeiro dos Santos - Editora e jornalista responsável: Lenilde Plá De León - Produção: De León Comunicações (11) 5017- Outra relevante questão é o salário. Apesar da estabilidade do Amaral,
7604 - contatos: http://www.deleon.com.br | e-mail: deleon@deleon.com.br - Redação: Bruna Raicoski, Danielle Ruas, Gilmara Santos ser um dos maiores atrativos do serviço público, a maioria dos sócio-presidente da Amaral,
e Katherine Coutinho - Diagramação: Ctrl S Comunicação - contatos: (41) 3042-7306 | kellysumeck@ctrlscomunicaco.com.br - Projeto servidores está descontente com a sua remuneração. Médicos Yazbek Advogados.
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revista
GOVERNANÇA TRIBUTÁRIA matéria de capa | entrevista – Gastão Toledo

Reforma
tributária:
mais cedo
ou mais
tarde terá
de ser feita
O presidente Michel Temer,
recentemente, prometeu que a reforma
tributária, finalmente, sairá do papel.
Em vídeo divulgado em suas redes
sociais, o chefe do Executivo Nacional
afirmou que fará uma simplificação
tributária “em brevíssimo tempo”

O
relator da reforma tributária na Câ-
mara Federal, o deputado Luiz Carlos
Hauly (PSDB-PR) anunciou que preten-
de extinguir o ICMS e outros tributos, como
o ISS, IPI, PIS e COFINS. Todos eles seriam
substituídos por três impostos: Valor Agre-
gado (IVA), de competência estadual e outro,
chamado de seletivo, destinado à União, que
incidiria sobre determinados produtos e pro-
pôs ainda a recriação de uma Contribuição so-
bre Movimentação Financeira nos moldes da
extinta CPMF, que teria o nome de Comfins, e
seria para compensar a redução das alíquotas
patronal e dos empregados para a Previdência
Social. Além disso, todos os tributos sobre o
patrimônio (IPTU, ITBI, ITCMD e ITR) seriam
transferidos para os municípios.
O deputado Hauly alegou que tem o
apoio dos presidentes da República, Michel
Temer, e da Câmara dos Deputados, Rodrigo
Maia, para fazer uma ampla mudança no sis-
tema tributário brasileiro que, segundo ele, é
um “manicômio tributário”. “Se esse sistema
que estou propondo for vencedor, ou próximo
dele, vamos crescer como a China,” disse.
alphaspirit/ Depositphotos.com

6 7
revista
GOVERNANÇA TRIBUTÁRIA matéria de capa | entrevista – Gastão Toledo

Para trazer maior clareza a estes pontos, faz uma alteração dessa ordem, que implicará Tudo passará por um processo de ne-
a Revista Governança Tributária entrevis- em mudanças constitucionais, da noite para o gociação política bastante complexo. Não é
tou, com exclusividade, o assessor especial da dia, sem ter a aprovação da maioria dos Esta- possível estimar quando seria viável a implan-
presidência da República para a reforma tri- dos e municípios. Caso contrário, não chega- tação desta reforma porque não é uma coisa
butária, o advogado Gastão Alves Toledo, que remos a lugar nenhum. Essa reforma abran- simples. Tudo que temos agora são propostas Este é um problema
esclareceu os principais entraves para que a ge todos os níveis da federação, portanto é e ideias que estão sendo costuradas e postas
reforma tributária finalmente seja aprovada, fundamental que haja concordância. É preciso no papel. A partir do momento que haja uma
político de grande
bem como o que deve ser feito para diminuir a salientar que tal reforma implicaria em uma proposta definitiva, poderemos começar a magnitude, então, para
burocracia no País. mudança de ânimo político e na forma de ar- discussão no Congresso Nacional, com todos que a reforma tributária
recadação atual. Reiterando: isso não se faz os atores envolvidos, o Executivo, o Ministé-
O cenário fiscal e econômico no Brasil é sem que todos os entes estejam de acordo. rio da Fazenda, entre outros. Tal trajetória é
ocorra é fundamental
preocupante em todos os níveis. Inclusive, Este é um problema político de grande mag- cheia de obstáculo e é fundamental um con- que haja consenso, pelo
vários Estados e municípios estão desequi- nitude, então, para que a reforma tributária senso para que ela ocorra. menos, a maioria tem
librados financeiramente. Uma reforma tri- ocorra é fundamental que haja consenso, pelo
butária poderia evitar esse abismo? menos, a maioria tem que ter assentido que Os setores produtivos reclamam muito da
que ter assentido que
isso é necessário. Outro problema é que nin- burocracia do sistema tributário. Sendo assim, isso é necessário. Outro
Não, imediatamente uma reforma tribu- guém vai querer perder receitas. o que será feito para minimizar o problema? problema é que ninguém
tária não minimizará essa situação, uma vez
vai querer perder receitas
que ela não visa aumentar a arrecadação. Seu O presidente Michel Temer sinalizou, Pelo menos a minimização da burocracia.
objetivo é racionalizar e adotar um sistema que após a reforma trabalhista e previden- Em um primeiro momento, a redução total é in- Gastão Alves Toledo, assessor
melhor para o País. O aumento da arrecada- ciária, seu próximo passo será fazer a refor- viável, mas a burocracia deve ser eliminada, uma especial da presidência da República
ção vai depender da melhoria da atividade ma tributária. Com isso, o senhor acredita vez que precisamos simplificar os procedimen- para a reforma tributária.
econômica e não da reforma tributária em si. que o processo será acelerado? tos, reduzir as obrigações acessórias que sacrifi-
cam as empresas e lhes impõe um custo adicio-
O deputado Luiz Carlos Hauly (PSDB Eu acredito que melhora a perspectiva, nal na administração tributária. A ideia principal
-PR) acena com a possibilidade da recria- qualquer reforma grande, por si só, já é difi- tem de ser simplificação dos custos do sistema,
ção de uma Contribuição sobre Movimen- cultada pela dimensão e todas as implicações, isso é evidente que precisa ser feito.
tação Financeira nos moldes da extinta sobretudo de ordem política. De qualquer for-
CPMF. Qual sua visão sobre isso? ma, a sinalização do presidente Temer é posi- Quais as consequências para a economia do
tiva, uma vez que deveremos ter avanço nos País se a reforma tributária não for aprovada? tária já vem de longa data, há mais de 20 anos
Não se cogita de ressuscitar nenhum tribu- estudos e nas propostas que estão sendo cos- que se discute isso. Já houve dois projetos na
to, nem a Contribuição Provisória sobre Movi- turadas. Não há nada definitivamente pronto, Nós teremos que esperar até que ela Câmara dos Deputados e um até do Execu-
mentação Financeira - CPMF e nenhum outro. mas os estudos sinalizam que chegaremos a aconteça (risos). O Brasil precisa da reforma tivo Nacional e nunca conseguimos chegar a
um bom senso. tributária. Nós precisamos racionalizar o sis- lugar nenhum. Por isso, é de conhecimento de
O que essa reforma contemplaria? tema, torná-lo mais palatável para todos e, todos que a reforma tributária é uma neces-
Há condições da reforma tributária principalmente, fazer com que atue em bene- sidade e se não sair agora, mais cedo ou mais
O deputado Luiz Carlos Hauly propõe avançar em meio ao atual cenário político? fício de todos. Essa questão da reforma tribu- tarde terá de ser feita.
uma reformulação na estrutura tributária do
País para termos um grande imposto com-
partilhado entre União, Estados e municípios

peshkov/ Depositphotos.com
na esfera do consumo, o que seria o Imposto
sobre Valor Agregado – IVA nacional. Isso sig-
nifica que o Imposto sobre Circulação de Mer-
cadorias e Prestação de Serviços – ICMS seria
substituído por um novo imposto com essas
características. Para esse efeito, seriam elimi-
nadas as contribuições sociais ou quase todas
elas. Sendo assim, seria possível estipular um
número bem menor de alíquotas. Além disso,
a guerra fiscal entre os Estados seria elimina-
da e as operações interestaduais se tornariam
muito mais simples.

Uma reforma tributária deve ser feita

tanto em nível federal quanto estadual e
municipal? Como estão os ânimos dos ges-
tores públicos em relação ao tema?

Isso terá que ser feito progressivamente

porque para se fazer uma reforma deste porte
é necessário ter o mínimo de consenso entre
os Estados, os municípios e a União. Não se Gastão Alves Toledo
8 9
revista
GOVERNANÇA TRIBUTÁRIA entrevista – Mário Amigo
Boas perspectivas
econômicas e
tributárias para o País
A complexidade do arcabouço tributário nacional traz um custo
implícito, tanto para o governo quanto para a sociedade
O
segundo semestre ainda será de gran-
de retração para a economia brasilei-
ra, mas com a expectativa de melhoria
na margem do País interna e externamente.
A avaliação é de Mário Amigo, professor de
finanças e mercado de capitais em cursos de
pós-graduação e MBA de renomadas escolas
de negócio do Brasil como Fipecafi, FIA, Fipe
e Saint Paul. É também mestre em Engenharia
pela Escola Politécnica da USP e possui exten-
são em Operador Avançado de Mercado Fi-
nanceiro pela Fundação Instituto de Adminis-
tração. Participou de grupos de pesquisa na
Escola Politécnica de São Paulo e do Instituto
de Estudos Avançados do CTA. “As perspec-
tivas para economia mudaram sensivelmente
nos últimos dois meses, principalmente com a
melhoria da confiança”, diz Amigo.
Em entrevista exclusiva à Revista Gover-
nança Tributária, Amigo avalia a situação
econômica do País e a carga tributária. Para
ele, “uma tributação mais justa é a que possa
ser facilmente quantificável, ou seja, simples
e transparente para qualquer pessoa física
ou jurídica”.
O que esperar do cenário econômico
neste segundo semestre?
O cenário para o 2° semestre de 2017
ainda é de retração da economia, mas com
expectativa de melhoria na margem. Dados
recentes mostram que a indústria está se re-
cuperando marginalmente da desaceleração
iniciada em 2013, enquanto os setores de
comércio e serviços também começam a apre-
sentar boas perspectivas.
O mercado de trabalho deve se manter
em tendência de melhora com a diminuição
gradativa do desemprego, e melhora dos sa-
10
lários, assim como do crédito - muito usado
como alavanca de crescimento no governo an-
terior. Este deve permanecer nos patamares
atuais já que as famílias e muitas empresas
estão em situação de endividamento elevado.
A confiança parece ser um dos poucos fatores
que reverteu a tendência apontando para um
otimismo, mas que no fundo está à espera da
agenda de ajuste fiscal do governo.
A confiança parece ser um dos poucos
fatores que reverteu a tendência apontando
para um otimismo, mas que no fundo está à
espera da agenda de ajuste fiscal do governo.
Como fica então a economia?
As perspectivas para a economia muda-
ram sensivelmente nos últimos meses, prin-
cipalmente com a melhoria da confiança. A
política monetária tem feito seu papel de
reancoragem das expectativas de inflação,
mesmo que a um custo de juro elevado. Con-
tudo, o foco continuará sendo o esforço que
o governo precisa fazer para aprovar as refor-
mas estruturais, como por exemplo, a previ-
denciária, e que são essenciais para a solvên-
cia do País e reversão da tendência de piora
da dívida pública.
Os fatores econômicos combinados re-
duziram o poder de compra das famílias.
Como solucionar este problema?
Juros altos, desemprego e escassez de
crédito, estes eventos combinados foram
resultantes de uma política de sobreaqueci-
mento do consumo sem melhoria dos fatores
de produção sem ganhos de escala e eficiên-
cia. O modelo de crescimento por consumo
parece ter chegado ao esgotamento e a per-
da da renda com o aumento do desempre-
go, por mais doloroso que seja, é necessário
para o ajuste dos exageros feitos por gover-
nos anteriores.
Somente uma série de medidas, mesmo
que impopulares para determinadas partes da
sociedade, podem promover o retorno ao equi-
líbrio. Ajuste das contas públicas, com uma
política fiscal e monetária firme, assim como
foco a melhorar o ambiente de negócios e tro-
cas com parceiros internacionais são ações
que acredito que combinadas podem ajudar a
melhorar substancialmente o cenário corrente.
Somente uma série
de medidas, mesmo
que impopulares para
determinadas partes
da sociedade, podem
promover o retorno
ao equilíbrio
Comentam os analistas que as taxas de
juros no Brasil ainda são muito elevadas.
Como resolver isso?
O diferencial de juros é reflexo de maior
desequilíbrio econômico que um País tem
frente a outros e que se demonstra num custo
maior de financiamento por uma séria de ris-
cos que o ambiente econômico reflete. A taxa
de juros é resultante de todos os fatores men-
cionados nas questões anteriores, ou seja,
com a implementação das medidas de ajuste
e melhoria do ambiente de negócios natural-
mente os juros reduzirão para um patamar
abaixo do atual.
Qual a sua avaliação sobre a carga tri-
butária brasileira?
Os impostos são necessários como fonte
de receita do governo, mas oneram a cadeia
de custo de produtos e serviços. Quando com-
paramos com outras economias emergentes,
segundo dados do Fundo Monetário Interna-
cional, a carga tributária no Brasil é elevada e
acima da média. A receita do governo em per-
centual do PIB no Brasil chega a 6% superior
a de Países como China e África do Sul e até
11% quando comparamos com Países como
México, Chile e Peru.
Adicionalmente existe uma complexidade
no arcabouço tributário nacional que adiciona
um custo implícito, tanto ao governo com seu
aparato de controle, quanto para a sociedade
que necessita monitorar e gerenciar o cumpri-
mento dos seus deveres.
Existe a possibilidade de no Brasil ha-
ver uma carga tributária mais justa?
Uma carga tributária mais justa no meu
entendimento permeia outros fatores além do
numerário. Seria uma que possa ser facilmen-
te quantificável, ou seja, simples e transpa-
rente para qualquer pessoa, física ou jurídica.
É evidente que uma alíquota mais baixa é um
vetor favorável ao investimento e consumo e
que tem resultante positiva para a economia.
Adicionalmente a sociedade deve con-
tinuar a exigir o uso eficiente dos recursos
com a melhoria contínua dos serviços pres-
tados. Sabemos que existe muito o que me-
lhorar em diversas áreas da administração
pública, como por exemplo, saúde e educa-
ção, além de ser uma forma de retorno para
o contribuinte mesmo que o mesmo julgasse
elevada a carga tributária.
A sociedade deve continuar a exigir o
uso eficiente dos recursos com a melho-
ria contínua dos serviços prestados. Nes-
te cenário, existe espaço para aumento
de impostos?
Esta resposta não é um simples dado que
o governo tem um déficit elevado e a tendência
é de crescimento no grau de endividamento. É
necessário o equilíbrio das contas e além do cor-
11
revista
GOVERNANÇA TRIBUTÁRIA entrevista – Mário Amigo
A sociedade brasileira deve ser o motor da transformação
de valores com vistas e exigir uma política pública de tolerância
zero à corrupção e má utilização dos recursos econômicos.
te de despesas a recomposição da receita pode
resultar em aumento adicional de imposto.
Esta elevação dos tributos pode vir a ser
necessária, mas deve-se ter em mente que virá
acompanhada de um ônus político. Uma saída
talvez seja aumentar os impostos por um pra-
zo determinado, dentro de limites que promo-
vam resultados efetivos para o equilíbrio das
contas públicas, mas com muita responsabili-
dade. Entenda-se por isto como cumprimento
rigoroso da carga tributária e prazo e previa-
mente acordado, sem delongas. Adicional-
mente a sociedade se sentirá mais confortável
em participar deste custeio adicional se notar
o esforço pelo lado da administração pública
do corte das despesas e melhoria da eficiência
da utilização dos recursos.
Na sua avaliação, os altos impostos
pioraram o cenário de falta de investimen-
to no País?
Não podemos dizer que a taxação é o úni-
co elemento da composição de custo das em-
presas. A complexidade do arcabouço tribu-
tário aliado a um ambiente incerto é também
altamente prejudicial para o investimento.
Não é fácil achar o ponto de equilíbrio
onde o governo maximiza sua receita, ou seja,
qual nível de imposto deverá ser cobrado sem
que desincentive os empresários e funcionários
a investir recursos e esforços para aumentar a
capacidade produtiva. Teorias como a curva de
Laffer demonstram que o aumento de impostos
não necessariamente é revertido em crescimen-
to de receita e deve-se ter o cuidado com que
o aumento excessivo prejudique novos inves-
12
timentos sem necessariamente reverter em re-
ceita adicional para o governo.
Do ponto de vista do investidor o aumento
dos impostos é um fator acional de desincenti-
vo a aporte adicional de recursos. Toda e qual-
quer ação de ajuste do governo deve ser feita
com muita responsabilidade e transparência
para que não afete negativamente a confiança.
A complexidade do arcabouço tributá-
rio aliado a um ambiente incerto é também
altamente prejudicial para o investimento.
O que o senhor acha da desoneração fiscal
como estratégia de governo?
A desoneração fiscal pode ser útil em situa-
ções pontuais para áreas específicas da econo-
mia. É uma forma de protecionismo que não é
sustentável por longos prazos dado que pode
incentivar ineficiências que são custeadas pela
sociedade. Setores estratégicos para a socieda-
de podem temporariamente receber este bene-
fício, mas o governo deve ter o controle para o
uso racional do mesmo e o benefício que este
pode gerar com o passar do tempo.
Como incentivar o consumo e ao mes-
mo tempo evitar que o endividamento pre-
judique a sociedade?
Essa é uma equação difícil de balancear,
sobretudo porque o modelo de crescimen-
to que tivemos no passado foi fortemente
alavancado pelo crédito. A família brasileira
já tem um alto nível de endividamento num
momento em que o desemprego ameaça ainda
mais o risco de inadimplência aliado à perda
do poder de compra. Devemos trabalhar num
revista
GOVERNANÇA TRIBUTÁRIA reportagem
ambiente maior para o investimento com me-
lhoria da eficiência, melhorando fatores de
produção e geração de riqueza, para que se
possa reverter esse cenário. Só o aumento
do poder de compra sustentado pela geração
efetiva de riqueza pode possibilitar que as fa-
mílias desalavanquem e até mesmo abram es-
paço para outra condição importante que é a
redução de juros que poderá ajudar pelo lado
do refinanciamento a um custo mais baixo.
Quando a inflação efetivamente cair, o efeito
de destruição da capacidade de compra reduz
e consequentemente haverá algum espaço
para corte de juros com consequentes condi-
ções mais favoráveis ao crédito.
Onde está o maior gargalo, na sua ava-
liação, da economia atualmente? NatashaFedorova/Depositphotos.com
O maior gargalo, no meu entender, não
está numa ação isolada de política pública
Sistema tributário
ou ajuste macroeconômico, mas sim ele é de
ordem social. A consciência social deve con-
tinuar o processo positivo de transformação
que vem vivenciando nos últimos três anos.
brasileiro beneficia
Para ser mais claro: a sociedade brasileira
deve ser o motor da transformação de valo-
res com vistas e exigir uma política pública de
tolerância zero à corrupção e má utilização
super-ricos
dos recursos econômicos. Deverá existir uma
canalização de esforços para que mudanças
estruturais ocorram com vistas a um ambiente
econômico mais próspero. Todos têm um pa-
pel importante de transformação, o governo
com a responsabilidade de realizar ajustes
Especialistas avaliam que o problema
A
impopulares no curto prazo, mas sustentáveis origem da palavra “imposto”, por si só,
no longo; e a sociedade com o exercício da ci- remete a algo que temos de cumprir, im-
dadania de respeitar o próximo e lutar pelo
bem-estar comum.
está na distribuição dos tributos e sobre positivo. Caso contrário, seria “opcional”.
A história não deixa dúvidas de que o imposto é
quem eles mais recaem: os pobres um exercício de domínio. Como diz o provérbio
português, “manda quem pode, obedece quem
13
revista
GOVERNANÇA TRIBUTÁRIA reportagem
tem juízo”. Há 4.000 a.C, na Mesopotâmia, im-
postos na forma de grãos eram entregues ao rei.
Alguns registros em escrita cuneiforme apontam
que, no berço da civilização, os sumérios, um
dos povos que viviam na região, tinham de tra-
balhar até cinco meses por ano para o rei.
No quesito impostos, há muita coincidên-
cia entre os sumérios e os brasileiros: segundo
o IBPT - Instituto Brasileiro de Planejamento e
Tributação, neste ano, 41,8% do rendimento
que os brasileiros ganham será para pagar tri-
butos, o que equivale a cinco meses e um dia
de trabalho. Mas, na opinião de especialistas, o
pagamento de tributos não é o maior problema.
O grande infortúnio é a distribuição dos tribu-
tos e sobre quem eles recaem, porque enquanto
o leão ronrona demais para os pobres, com os
ricos ele é bem manso, como explica o profes-
sor da FGV - Fundação Getúlio Vargas Direito
Rio, Linneu de Albuquerque Mello: “Nosso sis-
tema tributário é constituído por impostos que
incidem sobre o consumo, que são regressivos.
Aqueles que defendem que o tributo sobre o
consumo não é regressivo argumentam que o
rico consome mais, e por sua vez, é mais tributa-
do. No entanto, proporcionalmente á sua renda,
o pobre consome mais do que o rico. No final do
mês o que ganha menos consumiu quase toda
sua renda para sobreviver, enquanto o rico em-
prega uma pequena parcela do seu patrimônio”.
Ele sinaliza que a carga tributária no Brasil é
muito elevada, não pelo montante, mas sim pelo
retorno em benfeitorias à sociedade e tem aumen-
tado constantemente. “Calcula-se que o volume
tributário subiu, em média, 2,3% ao ano, nos 19
anos após a promulgação da Constituição Federal,
saltando de 24% em 1988 para 37% em 2007”.
Para o professor, a comparação das cargas
tributárias dos países não fornece qualquer in-
dicativo, se apenas realizada a análise pura e
simples dos números. Assim como o tamanho,
é importante a análise da qualidade da carga
tributária. “Um País pode ter alta carga tributá-
ria sem contudo gerar grandes sacrifícios para a
sociedade. No Brasil não é o tamanho da carga
tributária que assusta, mas o pouco retorno que
o cidadão recebe pelo que paga de impostos.”
Por sua vez, o presidente do Sindifisco - Sin-
dicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita
Federal do Brasil Nacional, Cláudio Damasce-
no, comenta que a carga tributária do Brasil, se
comparada com a da OCDE - Organização para
a Cooperação e Desenvolvimento Econômico é
semelhante à média dos países: são 33,74% da
OCDE contra 34,16% do Brasil. “Mas a nossa carga
é regressiva por ser centrada no consumo, quando
deveria ser focada na renda para vigorar o princí-
pio da progressividade: ganhou mais, pagou mais”.
14
No final do mês o que ganha menos consumiu
quase toda sua renda para sobreviver,
enquanto o rico emprega uma pequena
parcela do seu patrimônio
Linneu de Albuquerque Mello, Professor da FGV
LEVANTAMENTO
O Sindifisco Nacional apurou que, em 2014,
no Brasil, 55,15% da tributação incidiram sobre
o consumo; 27,65% sobre a renda; 4,09% sobre
o patrimônio e 13,11% vieram de outros tributos.
Nos países da OCDE, em 2013, a tributação so-
bre o consumo foi 10,97%, em média; 33,75%
sobre a renda; e 5,42% sobre o patrimônio. Ou
seja, aqui a incidência da tributação está inver-
tida. “É o retrato da desigualdade tributária no
Brasil”, argumenta Damasceno.
No parecer do professor Miguel Silva, do
escritório Miguel Silva & Yamashita Advogados,
o Brasil é um País pobre com carga tributária
de País rico e não há retorno à população dos
recursos arrecadados. “A pesquisa do Índice
de Retorno e Bem Estar à Sociedade – Irbes,
realizada pelo IBPT, comprova este fato. Não
podemos olhar somente a carga tributária em
si, seria uma análise míope. A carga tributária
é elevada ou não sob a ótica do retorno. Nossa
tributação é alta em relação ao PIB - Produto
Interno Bruto que fechou 2016 com queda de
3,6%. Países como a Finlândia e a Dinamarca
têm cargas tributárias elevadíssimas, contudo o
retorno por meio do bom desenvolvimento das
políticas públicas é notório e satisfatório para
suas populações.”
O especialista Miguel Silva comenta ain-
da que a alíquota de ICMS - Imposto sobre
Circulação de Mercadorias e Prestação de
Serviços que um cidadão abastado paga sobre
o pão, o leite e a energia elétrica, por exemplo,
é a mesma do cidadão pobre. “Considerando
que os pobres assalariados e a classe média
consomem quase tudo o que ganham, pagam
impostos sobre o consumo praticamente so-
bre toda a sua renda mensal. Já a classe rica
investe boa parte de suas remunerações, de
modo que os tributos sobre o consumo não
o afetam do mesmo modo. Mas, no Brasil a
carga tributária para os ricos também é alta
na medida em que não há retorno a eles. É
patente que o sistema tributário brasileiro
como um todo fere claramente o princípio da
capacidade contributiva dos contribuintes em
seus diferentes rendimentos.”
IMPOSTO
SOBRE GRANDES O sistema tributário brasileiro como
HERANÇAS um todo fere claramente o princípio da
capacidade contributiva dos contribuintes
em seus diferentes rendimentos
No ano passado, o governo federal pro- Miguel Silva, sócio fundador da
pôs tributar as heranças acima de R$ 5 mi- Miguel Silva & Yamashita Advogados
lhões e as doações acima de R$ 1 milhão para
compensar a perda de arrecadação com a
correção da tabela do Imposto de Renda em
5% a partir de 2017. O professor Miguel Silva
se diz favorável à tributação maior dos mais
abastados, mas ressalta que o executivo deve
ter cuidado na forma da cobrança porque é
perigoso que o tributo desande com o tempo,
como ocorreu na França: “O tiro pode sair pela
culatra e servir de desestímulo à capitalização
das empresas e a manutenção de recursos no
Brasil, provocando exílio das grandes fortunas
brasileiras, acarretando em redução da ativi-
dade econômica no País, eternizando a condi-
ção do Brasil como País emergente”.
Por sua vez, Damasceno ressalta que tudo
que está previsto na Constituição Federal deve
ser implementado, uma vez que amenizaria a
desigualdade. Já Mello, acredita que o IGF - Im-
posto sobre as Grandes Fortunas não funcionará
por ser necessário aprimorar a progressividade
do sistema tributário, simplificar as normas e
eliminar tributação sobre fatos que não deno-
tam capacidade contributiva, como faturamento
ou receita. “Ademais, não há consenso do que é A nossa carga é regressiva por ser centrada
“fortuna”, nem mesmo como conciliar tal imposto no consumo, quando deveria ser FOCADA
com a proibição de confisco. O Brasil não precisa
de mais tributos. Precisa melhorar seus gastos, na renda para vigorar o princípio da
pois tributo só é necessário para cobrir gastos”. progressividade: ganhou mais, pagou mais
Efeito econômico que o tributo exerce sobre Cláudio Damasceno, Presidente do Sindifisco
gasto idêntico em itens de consumo como, alimen-
tos e vestuário para o cidadão pobre e para o rico.
15
revista
GOVERNANÇA TRIBUTÁRIA reportagem
Quem pretende
morar no exterior
Faithie/Depositphotos.com
deve informar à
O
cenário de desemprego que se instalou no
País, com mais de 13 milhões de pessoas
Receita Federal
procurando uma vaga no mercado de tra-
balho, tem levado muitos brasileiros a buscar uma
oportunidade de emprego no exterior. Estimativas
mostram que o número de declarações de saída
definitiva do Brasil aumentou quase 40% em dois
anos. Para quem pretende optar por esta alterna-
tiva, especialistas alertam que é necessário ter cui-
Comunicação ao fisco evita pagamento duplicado dado para evitar problemas com o fisco brasileiro.
de tributos para quem vai morar no exterior Entre as preocupações de quem vai deixar
o País para morar no exterior destaque para a
16
questão tributária. Evitar o pagamento de im-
posto duas vezes, tanto no País em que vai morar
quanto no Brasil, é um dos objetivos de quem vai
morar fora. Além disso, é importante manter a si-
tuação fiscal em ordem para evitar o pagamento
de multas ou problemas com o fisco. Mas aque-
les que pensam em passar um tempo em outro
País, podem ficar tranquilo. Deixar o Brasil sem
ter problemas fiscais é muito simples, conforme
explicam os especialistas ouvidos pela Revista
Governança Tributária.
“Ao deixar o País, o contribuinte precisa fazer
uma comunicação de saída à Receita Federal. Fei-
ta a comunicação e a declaração no ano seguinte
ele não terá problemas fiscais”, alerta o supervi-
sor nacional do Imposto de Renda, Joaquim Adir.
Por sua vez, o advogado Fabio Brun Golds-
chmidt, sócio do escritório Andrade Maia, expli-
ca que no que diz respeito à parte formal, pro-
cede-se ao preenchimento de dois documentos,
que são a comunicação de saída definitiva e a
declaração de saída definitiva, ambos entregues
à Receita. “Da mesma maneira, informa-se às fon-
tes pagadoras, para que procedam à alteração na
forma de tributar, com as retenções pertinentes
aos não-residentes”, esclarece o advogado.
Até fevereiro do ano seguinte, o contribuinte
deve elaborar a comunicação de saída definitiva
do País. E até abril do ano seguinte, deve ser feita
a declaração de saída definitiva. “Se o contribuin-
te não prestar essas informações, poderá correr
o risco de ser tributado tanto no País em que
passou a residir quanto aqui no Brasil”, alerta o
advogado Alessandro Borges, especialista tribu-
tário do escritório Benício Advogados. “Se tomar
os cuidados necessários quanto ao cumprimento
das leis, a possibilidade de pagar o imposto duas
vezes torna-se mínima”, tranquiliza Borges.
“Se o contribuinte não prestar essas infor-
mações, poderá correr o risco de ser tributado
tanto no País em que passou a residir quanto
aqui no Brasil”.
Contudo, Goldschmidt alerta que, antes de
decidir morar no exterior, o contribuinte deve
avaliar o custo tributário dessa decisão. No caso
dos Estados Unidos, por exemplo, onde muitas
pessoas adquirem imóveis, é preciso contabilizar
o número de dias que se vai passar lá, que não
pode exceder a 183 por triênio (computando-se
todos os dias do ano em curso - com um mínimo
de 31, 1/3 dos dias do ano anterior e 1/6 dos dias
do segundo ano anterior). “Excedendo-se esse pra-
zo, chamado Substantial Presence Test, a pessoa
automaticamente passa a ser tributada pela Recei-
ta norte-americana em bases universais, ou seja,
sobre toda a renda, em qualquer lugar do mundo.
E a tributação americana da renda é pesada, pois
soma quase 40% de tributação federal, mais a
possibilidade de tributação estadual e municipal
(variáveis segundo o lugar), de modo que pode
se estimar uma tributação de 50% da renda. Em
outros lugares, como Portugal, pode-se pleitear o
Golden Visa, que possibilita uma isenção da tribu-
tação de fonte estrangeira por prazo determinado
e do acesso à tributação favorecida de 20% aos
rendimentos de fontes locais”, explica o advogado.
Fernando Segato Afonso, sócio da divisão de
auditoria e consultoria da Gorioux Faro, lembra
que, ao sair do Brasil, por mais de 181 dias em
um ano, o contribuinte deixará de ser considera-
do residente no País para fins fiscais. Para tal ele
deverá, no mínimo, fazer declaração de saída de-
finitiva do País e entregar à Receita Federal. Além
disso, é importante saber se permanecerá com
bens no País ou rendas. Sendo que cada item terá
um tratamento fiscal que deverá ser observado.
Para evitar a bitributação, o especialista
orienta que, primeiro é necessário verificar se
há acordo tributário entre os Países, se houver,
normalmente há regulamentações de como tratar
cada renda. “De qualquer forma é importante ob-
servar as legislações brasileiras sobre o assunto,
em geral o Brasil impõe tributações exclusivas na
fonte para rendas, isso quer dizer que paga-se im-
posto aqui no momento da renda, e, dependendo
do País, o valor é abatido ao chegar ao destino.”
Afonso alerta ainda que, salvo raras exce-
ções, a renda que for recebida no Brasil deverá
ser tributada aqui, na fonte. “Se o contribuinte
permanecer recebendo recursos aqui, ele deve-
rá comunicar à fonte pagadora e o imposto será
exclusivo na fonte, que descontará o IR como re-
sidente no exterior”, esclarece o supervisor nacio-
nal do Imposto de Renda, Joaquim Adir.
Se o contribuinte não
prestar informações ao
fisco, poderá correr o
risco de ser tributado
tanto no País em que
passou a residir quanto
aqui no Brasil
Alessandro Borges
17
revista
GOVERNANÇA TRIBUTÁRIA reportagem
Para onde vai o constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e
cobrada mediante atividade administrativa. Nos
dinheiro arrecadado
termos dos artigos 5º e 145, tributos são impos-
tos; taxas; e contribuição de melhoria. Há ainda as
contribuições previdenciárias, sociais, para a segu-
nesta sopa de letrinhas?
ridade social, as especiais - em favor da Ordem dos
Advogados do Brasil; Conselho Regional de Conta-
bilidade; Conselho Regional de Medicina e outros
órgãos de classe.
Por isso, é importante compreendemos me-
Os recursos arrecadados pelas três esferas de poder lhor o que são os principais impostos brasileiros
e qual o destino dado a eles. Todo o dinheiro
deveriam ser utilizados na gestão dos serviços públicos arrecadado com tributos pelas três esferas de
poder é usado (ou pelo menos deveria ser) para
gestão dos serviços públicos federais, estaduais
e municipais, tais como programas de educa-
ção, segurança pública, saúde, transportes, de-
senvolvimento social, obras de infraestrutura,
cultura e esportes. As verbas provenientes dos
impostos também são responsáveis pelo salário
de todos os servidores públicos, bem como ve-
readores, prefeitos, governadores, deputados,
ministros, secretários etc.
Imposto
de renda
O Imposto de Renda existe em pratica-
mente todos os Países do mundo e, no Brasil
é uma das principais fontes de arrecadação.
Tanto as pessoas físicas quanto as jurídicas
devem contribuir com uma porcentagem de
sua renda ou lucro. Existem diferentes moda-
lidades para arrecadar o IR, como o IRRF - Im-
posto de Renda Retido na Fonte, que se dá
pela forma de antecipação do tributo através
do recolhimento de taxas em salários e aliena-
ção de bens. No Imposto de Renda sobre o Lu-
cro Real, a empresa tem de pagar um imposto
antecipado com base em percentuais sobre a
receita bruta ou balancetes mensais. Por sua
vez, o IR sobre o Lucro Real trimestral ocorre
sobre balanços trimestrais, como o próprio
nome diz. Já o Imposto de Renda sobre o Lu-
cro Presumido é calculado sobre as receitas
escrituradas na Contabilidade.
SergPoznanskiy/Depositphotos.com Ao falarmos em Imposto de Renda, é co-
mum ouvirmos a expressão “prestar contas
ao leão”. A imagem do felino veio à tona em
C
omo disse certa vez a ex-ministra do Reino que os impostos pesam em nossos bolsos. Contu- Mas, o que, de fato, é tributo? De acordo 1979, quando a Receita Federal decidiu criar
Unido Margaret Thatcher: “Não existe di- do, no Brasil, pouco se sabe a respeito do destino com o artigo 3º do Código Tributário Nacional, é uma campanha publicitária para divulgar o
nheiro público. Existe apenas o dinheiro do dado ao que é retirado de nosso trabalho e produ- toda prestação pecuniária compulsória em moe-
pagador de impostos”. E ela tinha razão, uma vez ção e do que pagamos sobre o que consumimos. da ou cujo valor nela se possa exprimir, que não
18
tributo e decidiu que a imagem do animal
era ideal para a campanha por ele ser justo,
leal, forte e nada bobo.
Impostos
Federais
Além do IR - Imposto de Renda, no Brasil há
cinco impostos federais: o IOF - Imposto sobre
Operações de Crédito, Câmbio e Seguro ou relati-
vas a Títulos ou Valores Mobiliários. O fato gerador
deste tributo ocorre nas operações relativas a títu-
los mobiliários na emissão, pagamento, transmis-
são ou resgate destes títulos e nas operações de
câmbio, de seguro e crédito; o ITR - Imposto Ter-
ritorial Rural, que se dá quando existe o domínio
ou a posse de imóvel localizado fora do perímetro
urbano do município; o IPI - Imposto sobre Pro-
dutos Industrializados, previsto no artigo 153, IV
da Constituição Federal, o qual regulamenta sua
cobrança, fiscalização, arrecadação e administra-
ção; o IE - Imposto de Exportação que se dá sobre
os produtos exportados, incluindo o frete; e o II
- Imposto de Importação, cuja taxa ocorre sobre
produtos estrangeiros que entram no Brasil.
Há ainda o IGF - Imposto sobre Grandes
Fortunas, que está disposto na Constituição
Federal, que não o instituiu até hoje.
Impostos
estaduais
Todos os 26 Estados do Brasil e o Dis-
trito Federal têm os seguintes impostos:
ICMS (Imposto sobre Operações relativas à
Circulação de Mercadorias e Prestação de
Serviços de Transporte Interestadual, Inter-
municipal e de Comunicação) cujo fato para
sua incidência é a circulação de mercadorias,
mesmo que se tenha iniciado no exterior; o
IPVA (Imposto sobre Veículos Automotores)
que incide sobre a propriedade de veículos,
inclusive embarcações e aeronaves; e o IT-
CMD (Imposto sobre Transmissões Causa
Mortis e Doações de Qualquer Bem ou Direi-
to), que se dá sobre herança.
Impostos
municipais
Os impostos dos municípios são: IPTU - Impos-
to sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana,
cobrado sobre imóveis construídos ou sobre terre-
nos não edificados; o ITBI - Imposto sobre Trans-
missão Inter Vivos de Bens e Imóveis, que ocorre
sobre a propriedade ou domínio útil de bens imó-
veis; e o ISS - Imposto sobre Serviços de Qualquer
Natureza, que tem como fato gerador a prestação
de serviço por empresa ou profissional autônomo.
Contribuições
As contribuições são: INSS - Instituto Nacio-
nal do Seguro Social, efetivada por desconto na fo-
lha de pagamento antes de o funcionário receber
o valor total de seu salário; PIS/PASEP - Programa
de Integração Social/Programa de Formação do
Patrimônio do Servidor Público, destinado aos em-
pregados das empresas privadas e aos servidores
públicos; COFINS - Contribuição Social para o Fi-
nanciamento da Seguridade Social, a qual incide
sobre a receita bruta das empresas em geral, des-
tinada a financiar a seguridade social, a saúde e a
assistência social; CSLL - Contribuição Social sobre
o Lucro Líquido, reservada ao financiamento da
seguridade social, que recai sobre o lucro-líquido
do período-base das empresas e entes equipara-
dos pela legislação do Imposto de Renda; e as Con-
tribuição aos órgãos de fiscalização profissional,
como OAB, CRC, entre outros; Cide - Contribuição
de Intervenção do Domínio Econômico Combustí-
veis; Contribuição Sindical Laboral; Contribuição
Sindical Patronal, dentre outras.
Há ainda as contribuições ao: Sebrae - Serviço
Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas;
Senac - Serviço Nacional de Aprendizagem Comer-
cial; Senat - Serviço Nacional de Aprendizagem do
Transporte; Senai - Serviço Nacional de Aprendiza-
gem Industrial; Senar - Serviço Nacional de Apren-
dizagem Rural; Sesi - Serviço Nacional de Aprendi-
zagem do Cooperativismo Sescoop - Serviço Social
da Indústria; Sesc - Serviço Social do Comércio; e
Sest - Serviço Social do Transporte, entre outras.
19
revista
GOVERNANÇA TRIBUTÁRIA reportagem
Complexidade
tributária atrapalha
o consumo
A obrigatoriedade da discriminação do imposto da
nota evidenciou o quanto se paga de tributos no Brasil
“N
osso sistema tributário é complexo e
tributa de forma perversa quem pro-
duz.” Esta afirmação do presidente da
Unecs - União Nacional de Entidades do Comér-
cio e Serviços, Honório Pinheiro, traduz o senti-
mento da população brasileira em relação ao alto
custo dos impostos, que se refletem diretamen-
te no consumo. Essa percepção de que a carga
tributária é muito alta ficou ainda mais evidente
quando se tornou obrigatória a discriminação
em nota fiscal dos impostos pagos pelo produto
e serviço. Para especialistas, essa determinação
é positiva porque faz com que os consumidores
tenham uma noção mais real sobre o impacto
dos tributos no preço das mercadorias. No en-
tanto, o importante mesmo seria uma reforma na
tributação de consumo e, assim, contribuir para
que a economia volte a ter bom desempenho.
“A reforma tributária do consumo é um assun-
to antigo no Brasil. Há uma frente parlamentar
trabalhando nisso e acreditamos que estejam
sensibilizados com a situação. Mas o fato é que
avançou pouco e neste momento desafiador que
o País atravessa, a simplificação seria uma grande
saída”, considera Pinheiro. O fato é que os pre-
ços dos nossos produtos comparados com outros
países que vendem o mesmo item são maiores.
Isso significa que os nossos produtos são sempre
os mais caros.
O assessor jurídico da FecomercioSP - Fede-
ração do Comércio de Bens, Serviços e Turismo
do Estado de São Paulo, Alberto Borges, explica
que existem inúmeras reformas abarcando o sis-
tema de tributação do nosso consumo. No mo-
mento, a PEC 233/2008 preparada pelo governo
aborda a unificação do ICMS - Imposto sobre
Operações Relativas à Circulação de Mercado-
rias e sobre Prestações de Serviços de Transpor-
te Interestadual e Intermunicipal e de Comu-
nicação. Cabe informar que a PEC 233/2008,
20
tramita juntamente com a PEC 31/2007 que
trata do mesmo assunto. A proposta (PEC 233)
foi criada pelo então ministro na época Guido
Mantega, propondo tornar o sistema tributário
brasileiro mais desenvolvimentista, municipalis-
ta, federativo, justo e seguro.
Em um pano de fundo, explica Borges, a pro-
posta visa eliminar a CSLL - Contribuição Social
sobre o Lucro Liquido juntamente com a Cofins
- Contribuição para o Financiamento da Seguri-
dade Social, Cide-Combustíveis, a contribuição
do salário-educação e IPI - Imposto de Produto
Industrializado, bem como adapta o texto consti-
tucional para a extinção do PIS, em contrapartida
será criado um novo imposto federal, chamado de
IVA-F - Imposto sobre Valor Acrescentado Federal.
Com relação à CSLL será absorvida pelo
IRPJ - Imposto de Renda Pessoa Jurídica, pois
será criada uma alíquota diferenciada por setor
de atividade econômica. No entanto, a PEC pos-
sibilita que outros adicionais do IVA-F possam
ser criados para compensar a perda em função
da extinção da contribuição incidente sobre a
folha de pagamento recolhida pelo empregador,
além de possibilitar a criação do IGF - Imposto
de Grandes Fortunas pela União, mediante com-
petência residual. “Portanto, basicamente os
demais tributos da competência da União farão
parte da base a ser adicionado ao IVA-F.”
A proposta de emendar a Constituição
Federal prevê a criação de uma alíquota úni-
ca, chamada de “padrão” a ser observada nas
relações interestaduais, mais exatamente no
artigo 155-A, ou seja, a alíquota do ICMS nas
operações interestaduais será direcionada para
o Estado de destino, garantindo ao Estado de
origem apenas 2% da arrecadação do imposto
interestadual a título de compensação.
Basicamente a solução
será criar uma forma mais
simples de cobrança do
ICMS, sem os detalhamentos
e regras existentes
Alberto Borges
Desafios
Entre os principais desafios encontrados
pelo setor comercial está a falta de padroni-
zação e unificação do ICMS, pois estamos tra-
tando de um mesmo imposto que é cobrado
pelos 27 Estados, mas que cada um possui a sua
própria regra interna. Por fim, o setor comercial
entende que o ideal seria tributar a renda das
pessoas ao invés de tributar o consumo.
“Basicamente a solução será criar uma for-
ma mais simples de cobrança do ICMS, sem os
detalhamentos e regras existentes. Em um cená-
rio concreto, podemos sugerir que a tributação
seja maior na renda das pessoas para livrar o
Xb100/Freepik.com
Se a tributação se concentrasse no consumo, poderia
ser transparente e simples, além de mais democrática.
Fabio Brun Oldschmidt
consumo de bens e serviços da elevada carga O advogado Fabio Brun Goldschmidt, sócio além de mais democrática. Em um sistema ideal,
tributária”, diz Borges. Ao complementar que a do escritório Andrade Maia, no entanto, con- eu também reduziria a tributação da renda, para
entidade defende a redução da carga tributária sidera que “o mantra do ‘não à tributação em estimular o consumo. E concentraria a carga tri-
no País, além de criar um sistema transparente cascata’ é repetido, de forma irracional. “Parti- butária em apenas duas pontas: a da sucessão
de arrecadação tributária por parte dos gover- cularmente, vejo a sistemática não-cumulativa (que, do ponto de vista filosófico de Justiça, faz
nos e um sistema simples de arrecadação. “Vale como algo extremamente caro - para o contri- com que todos nasçam em uma posição original
também ressaltar, a importância de se alterar a buinte e para o fisco - e ineficiente”. Além de de igualdade de oportunidades, tornando o sis-
forma de tributação empregada no Brasil: nosso gerar intermináveis conflitos e multas que não tema mais meritocrático, em vez de hereditário,
sistema busca tributar mais o consumo do que a precisariam existir, sobre o que gera ou não di- obrigando as pessoas a gastar em vida) e a do
renda das pessoas. Essa distorção acaba desin- reito a crédito. Se a tributação se concentrasse consumo (que estimula o desenvolvimento e es-
centivando a compra de bens e serviços.” no consumo, poderia ser transparente e simples, coamento da produção)”, diz.
21
revista
GOVERNANÇA TRIBUTÁRIA reportagem
O ICMS no e-commerce
A
gora é lei: toda empresa que trabalha
afetará diretamente
com venda de produtos online precisa
estar adaptada às regras da Emenda
Constitucional nº 87, que ficou nacionalmen-
te conhecida como a Emenda do Comércio
o consumidor
Eletrônico e está em vigor desde 1º de janeiro
de 2016. A principal novidade desta norma é
que o valor arrecadado do ICMS - Imposto
sobre Circulação de Mercadorias e Prestação
de Serviços no e-commerce será repartido de
Mudança no principal imposto estadual forma gradual entre os Estados de destino e
os de origem, ou seja, onde o comprador mora
ocasiona dificuldades para as empresas e onde a loja virtual está localizada.
Estado de
Ano destino
2015 20%
2016 40%
2017 60%
2018 80%
2019 100%
Na opinião de especialistas, a medida não
é apenas burocrática, ela impacta diretamente
no bolso do contribuinte que, automaticamente,
tem repassado para si os custos deste imposto.
Ou seja: as mercadorias compradas pela inter-
net tendem a ficar cada vez mais caras.
A expectativa é que a Emenda resolva um
problema que há tempos importunava o sistema
tributário nacional: a injusta divisão do ICMS
entre os Estados. Entretanto, é muito comple-
xo para as empresas se adequarem a essa nova
exigência, uma vez que são 27 Unidades Federa-
tivas com o poder de legislar, editar e publicar
normas. O sócio da área de impostos da KPMG,
Elson Bueno, destaca que a medida tem reflexos
22 Foto: VIZAFOTO/Depositphotos.com | Fonte: MIGUEL SILVA
Na prática, desde quando essa lei passou
a vigorar, a divisão das receitas de aplicação
do diferencial de alíquotas do ICMS ocorre de
forma escalonada e, em 2019, toda receita do
ICMS caberá ao Estado de destino da mercado-
ria. Quando a regra foi criada, em 2015, a maior
parte do tributo era destinada ao Estado de ori-
gem da loja virtual, o que favorecia os grandes
centros urbanos que concentram a maior parte
desses negócios.
A repartição das receitas do novo diferen-
cial de alíquota será da seguinte forma:
Estado de
origem
80%
60%
40%
20%
0%
em todos os envolvidos nas transações entre os
Estados, ou seja, o vendedor, o comprador e o
governo. “O consumidor terá que arcar com mais
custos, visto que o imposto sempre acaba sendo
repassado para o preço do produto”.
Desde a vigência da nova norma, as alí-
quotas do ICMS nas operações interestaduais
destinadas a não contribuintes passaram a ser
de 12% nas operações ou prestações interesta-
duais que destinarem mercadorias ou serviços
à pessoa localizada nas regiões Sul e Sudeste; e
7% nas operações ou prestações interestaduais
que enviarem mercadorias ou serviços à pessoa
localizada no Norte, Nordeste e Centro-Oeste e
no Espírito Santo.
23
revista
GOVERNANÇA TRIBUTÁRIA reportagem
O consumidor terá
que arcar com mais
custos, visto que o
imposto sempre acaba
sendo repassado para
o preço do produto
Adaptação
Um estudo do Ministério do Desenvolvi-
mento, Indústria e Comércio Exterior mostra
que no Brasil, o setor de comércio eletrônico fa-
turou, em 2015, R$ 41,3 bilhões, um crescimento
de 15% na comparação com 2014. Entretanto,
este cenário pode estar prestes a mudar, por
conta da dificuldade que os lojistas virtuais têm
para se adaptar às regras do ICMS eletrônico.
De acordo com uma pesquisa realizada pela pla-
taforma Loja Integrada no ano passado, 30%
dos comerciantes desconheciam a nova forma
de cobrança do imposto.
A pesquisa mostrou ainda que 73% dos
lojistas acham que a burocracia para emis-
são das notas seja o fator que mais dificulta
o cumprimento da regra. Na avaliação da
consultora IOB, da Sage Brasil, Karin Botelho
Piccoli, a novidade é um verdadeiro pesadelo
para os comerciantes em geral, principalmente
aqueles que operam no e-commerce. Embora a
mudança pareça simples em um primeiro mo-
mento, tem gerado polêmica e acarretado no
fechamento de muitos estabelecimentos, o que
contribui para a desaceleração da economia.
“Exemplificando: uma empresa sediada
no Estado de São Paulo, até dezembro de
24
2015, venderia para pessoa física em qualquer
Estado com a alíquota de São Paulo a 18%.
Desde 1o de janeiro de 2016, o mesmo con-
tribuinte, ao comercializar um produto para
pessoa física em outra Unidade de Federação
deveria vender com a alíquota interestadual
– 4%, 7% ou 12%. Para isso, deve observar a
regra de origem e destino e recolher a diferen-
ça deste percentual para a alíquota interna do
Estado de destino, neste caso de 19%,” expli-
ca a especialista.
Além disso, o contribuinte deve identificar a
melhor forma de recolher este imposto, que pode
ser: “operação por operação”, nos casos em que
o remetente não possui inscrição na UF de desti-
no; e em “data fixa”, quando o remetente também
é inscrito como contribuinte de destino. “Numa
análise superficial, considerando que a empresa
opte por não se inscrever em todos os Estados e
no Distrito Federal, deverá fazer o cálculo para re-
colhimento do imposto (e respectivo repasse dos
valores) e recolhimento das guias de arrecadação
para enviar juntamente com a mercadoria, oca-
sionará, no mínimo, aumento no prazo de entrega
e no custo da operação”, informa Karin.
Simples
Nacional
O ICMS do e-commerce não está valendo
para as empresas do Simples Nacional desde
18 de fevereiro do ano passado, porque o mi-
nistro Dias Toffoli, do STF - Supremo Tribunal
Federal, concedeu liminar que livra as micro
e pequenas empresas das mudanças. A ad-
vogada tributarista do escritório A. Augusto
Grellert Advogados Associados, Viviane de
Carvalho Lima, lembra que o Simples Nacio-
nal prevê o recolhimento mensal unificado de
diversos tributos, mediante documento único
de arrecadação, dentre os quais já se encon-
tra embutido o ICMS devido pelas operações
próprias. “Assim sendo, a obrigatoriedade de
recolhimento de ICMS tanto para o Estado de
destino quanto para o de origem consiste em
bitributação. Além disso, desrespeita a previ-
revista
GOVERNANÇA TRIBUTÁRIA reportagem
são de que esse recolhimento deve se dar de
forma unificada e centralizada para as empre-
sas inseridas no regime, portanto a medida
era claramente inconstitucional”.
O diretor executivo da NTW Contabilida-
de Recife, Fábio Roberto Faros, explica que os
contribuintes do Simples Nacional terão de
arcar com diferentes alíquotas ano após ano,
até 2019, devendo, inclusive, ser devidamente
informado na Declaração de Substituição Tri-
butária, Diferencial de Alíquota e Antecipação.
Equívocos
Na visão de Faros, um dos principais pro-
blemas da EC no 87 é a falta de uma sistemáti-
ca automatizada e uniformizada para se fazer
o recolhimento das guias. “Como cada Estado
tem a sua plataforma própria de acesso com
login, senha, campos para emissão de guias,
cada venda feita a outro Estado torna-se uma
via-crúcis”. Em sua avaliação, a medida foi pressmaster/Depositphotos.com
justa com os Estados, mas gerou uma enorme
complexidade tributária, impactando os cus-
tos das operações.
Planejamento
“Diante desta situação, o fornecedor
precisará ter uma inscrição estadual na Se-
cretaria da Fazenda de cada Estado para o
tributário: uma questão
qual for vender”, disse Faros pontuando que
seus clientes estão com muitas dificuldades
e têm até quem já encerrou as atividades:
“Tanto quem vende quanto quem compra pela
de sobrevivência
internet está tendo problemas por conta des-
ta regra. Recentemente, um microempresário
iniciou uma plataforma de venda on-line de
bebidas, mas, diante de tantas incertezas na
economia, preferiu suspender os investimen-
tos previstos”.
Fábio Roberto Faros, Diretor
Empresas não precisam entrar em desespero por ter dívidas fiscais
executivo da NTW Contabilidade Recife
Elson Bueno,
N
Sócio da área de impostos da KPMG o Brasil, existem cerca de 100 diferentes peração Fiscal; Paes - Parcelamento Especial e tributária aliada à alta taxa de juros brasilei-
impostos, taxas e contribuições e todas Paex - Parcelamento Excepcional são capazes de ra. Diante desta realidade, muitos empresários
as pessoas, físicas ou jurídicas, são con- trazer placidez ao contribuinte. estão apropriando-se da ideia do economista
tribuintes destes encargos. No que diz respeito Delfim Neto, ministro de vários governos brasi-
às empresas, é fato que o nível de tributação é De fato, o endividamento fiscal, no Bra- leiros nas décadas de 70 e 80, que “dívida não
absurdo, e pode chegar até mesmo a dificultar sil, faz parte da administração financeira das se paga, dívida se rola”. À época, ele indicava
certos negócios. Com elevadas dívidas com as empresas. A origem deste problema é econô- que o Brasil deveria “rolar” sua dívida externa
três esferas de poder, muitos estabelecimentos mica e especialistas alertam que se dá por em vez de pagá-la. O pensamento era evitar
fecham suas portas e nem as ininterruptas re- conta da falta de planejamento e despreparo gastos com as reservas internacionais, em dó-
negociações como o Refis - Programa de Recu- do empreendedor frente a feroz e voraz carga lares, escassas no País.
25
revista
GOVERNANÇA TRIBUTÁRIA reportagem
Se antes o planejamento tributário era visto
como um instrumento complexo e encarado
com receio pelos empresários brasileiros,
hoje tem atraído cada vez mais o interesse
das empresas
Mario Berti, presidente da Fenacon
Voltando a 2017, diante desta trágica e
triste realidade dos empresários brasileiros, o
que fazer? “Primeiramente, é importante en-
fatizar que o simples atraso do pagamento de
valores junto aos órgãos arrecadatórios não é
considerado crime. Ou seja: não é necessário
entrar em desespero ao constatar que há débi-
tos com o sistema tributário nacional. Contu-
do, é necessário pagar a dívida.
Neste caso, a renegociação de dívidas
tributárias oferece a possibilidade de um aba-
FÓRMULA
Para o presidente da Fenacon (Federação
Nacional das Empresas de Serviços Contábeis
e das Empresas de Assessoramento, Perícias,
Informações e Pesquisas), Mario Berti, se an-
tes o planejamento tributário era visto como
um instrumento complexo e encarado com
26
timento no valor da multa. Dessa forma, mui-
tos empresários optam por “conviver” com os
débitos, administrando-os sem prejudicar a
saúde financeira dos negócios”, argumenta o
presidente executivo do IBPT- Instituto Brasi-
leiro de Planejamento e Tributação, João Eloi
Olenike comentando que esse círculo de endi-
vidamento tem sido assunto para muito estudo
e análises de vários ramos de atuação, como
Direito, Contabilidade, Economia e Administra-
ção. “Dentro deste contexto, merece especial
destaque o planejamento tributário”.
receio pelos empresários brasileiros, hoje tem
atraído cada vez mais o interesse das em-
presas, primeiro porque a carga tributária é
alta demais, o que leva o empresariado a se
sentir até lesado pelas atuais circunstâncias.
Segundo, porque um planejamento feito com
de tributos. Somente o ônus do Imposto de Renda e da Contribuição Social sobre
o Lucro das empresas pode corresponder a 51,51% do lucro líquido apurado. “Da
somatória dos custos e despesas, mais da metade do valor é representada pelos
tributos. Assim, torna-se imprescindível a adoção de um sistema de economia legal.”
critério e baseado em atributos legais, isto é,
sem milagres ou fórmulas meramente prote-
latórias de pagamento de impostos, pode ser
um importante aliado no fluxo de caixa e na
adequação mais apropriada das empresas.
Para ele, com uma máquina adminis-
trativa cada vez mais inchada e burocrática
como a brasileira, agravada ainda pelo des-
vio e má utilização dos recursos públicos, a
elevação da carga tributária se mostra como
uma tendência permanente. “O governo, de
forma geral, não sabe fazer a lição de casa.
Ao contrário da iniciativa privada que quando
se vê em dificuldades financeiras corta custos
e se adequa à nova realidade, o governo sim-
plesmente aumenta tributos, como se fosse a
única solução.
Olenike explica que o planejamento tri-
butário é um conjunto de sistemas legais cuja
meta é diminuir o pagamento de tributos.
“Todo contribuinte tem o direito de estruturar
seu negócio. Neste contexto, damos destaque
para a diminuição de gastos em geral, entre
eles os impostos. Se o planejamento tributá-
rio for lícito, a fazenda tem de respeitá-lo”,
afirma lembrando de dados do Instituto os
quais dizem que, em média, 33% do fatura-
mento empresarial é dirigido ao pagamento
Sonegação
fiscal
No parecer do advogado Mauro Scheer
Luís, do escritório Scheer Advogados & Asso-
ciados, o planejamento tributário não pode ser
interpretado como sonegação fiscal ou tentativa
ilícita de pagar menos impostos que o devido.
Pelo contrário, é um instrumento legal, admitido
pela legislação. Em seu parecer, o planejamento
tributário tem igual ou até maior importância
que o plano dos negócios. “A adoção do planeja-
mento tributário de forma legal leva a empresa
contribuinte a economizar, o que poderá possi-
bilitar menores preços em seus produtos, geran-
do maiores vendas e, por consequência, maiores
lucros e, ainda, a geração de empregos”, explica
Scheer. Para analisar qual a melhor forma de
tributação de uma empresa, diversas variáveis
devem ser consideradas. Algumas delas são: o
porte da empresa, atividade, tipo e volume de
despesas e receitas, localidade onde está se-
diada, se presta serviços ou comercializa seus
produtos, entre outras.
Todo contribuinte tem o direito de
estruturar seu negócio. Neste contexto, De acordo com o diretor executivo da Con-
firp Contabilidade, Richard Domingos, o empre-
damos destaque para a diminuição de sário deve ter em mente que o planejamento
gastos em geral, entre eles os impostos. tributário é meio preventivo, pois deve ser rea-
Se o planejamento tributário for lícito, lizado antes da ocorrência do fato gerador do
tributo. “Um exemplo deste tipo de ação é a
a fazenda tem de respeitá-lo mudança da empresa de um município ou esta-
do para outro que conceda benefícios fiscais”,
João Eloi Olenike, presidente excutivo do IBPT
orienta Richard Domingos.
Por fim, na avaliação do presidente da Fe-
nacon, o planejamento tributário é tão impor-
tante para a empresa quanto o processo de ca-
pacitação de seus empregados, o planejamento
logístico e o desenvolvimento de novos produ-
tos e serviços, mas não existe uma fórmula certa
para um bom planejamento tributário:
“A fórmula é composta pelo desenvolvi-
A adoção do planejamento tributário de mento de um diagnóstico preciso sobre o ar-
forma legal leva a empresa contribuinte cabouço tributário do cliente e, a partir daí,
a economizar, o que poderá possibilitar sair à busca de alternativas legais e viáveis
para oferecer a melhor solução. Neste sen-
menores preços em seus produtos, gerando tido, o trabalho do contador ganha muita
maiores vendas e, por consequência, maiores importância pois é ele que detém todas as
lucros e, ainda, a geração de empregos informações de seu cliente, conhece o regime
escolhido, além de identificar os pontos fra-
Mauro Scheer Luís cos e fortes, de modo a colaborar no planeja-
mento de forma efetiva e segura.”
27
revista
GOVERNANÇA TRIBUTÁRIA reportagem
Carga tributária x
M
uito se tem discutido acerca da carga
retorno e serviços
tributária no Brasil, onde em 2017 foi
preciso trabalhar até o mês de junho
apenas para pagar impostos, segundo estudo
do IBPT- Instituto Brasileiro de Planejamento
à população
e Tributação. A alta carga tributária não afeta
apenas as pessoas físicas, mas as empresas
também são altamente penalizadas pelo valor
exorbitante de tributos, que muitas vezes impe-
dem até mesmo o crescimento dos negócios. Em
A alta tributação provoca distorções não contrapartida, caso haja redução destes tribu-
tos, a arrecadação do governo, que já prevê um
apenas econômicas como também sociais déficit de R$ 155 bilhões, cairá ainda mais, o que
acarretará no aumento da inflação.
Para Carlos Alberto Pereira, doutor, mes-
tre e bacharel em Ciências Contábeis pela FEA/
USP e coordenador do MBA Gestão Tributária da
Faculdade Fipecafi, o sistema tributário é um im-
portante mecanismo tanto para arrecadação de
recursos quanto para regulação da atividade eco-
nômica, mas seus efeitos provocam distorções
não apenas econômicas como também sociais,
tendo em vista que os tributos afetam as pessoas
e empresas de maneiras diferentes. Em sua opi-
nião, um sistema tributário mais justo seria capaz
de amenizar esses efeitos e talvez ainda levar a
um aumento da arrecadação por meio, por exem-
plo, do estímulo à atividade econômica.
Um sistema tributário
mais justo seria capaz
de amenizar esses
efeitos e talvez ainda
levar a um aumento
da arrecadação por
meio do estimulo à
atividade econômica
Carlos Alberto Pereira,
professor da FEA/USP
“Existem países, como a Suécia, em que a
carga tributária é bem superior à brasileira, mas
há uma contrapartida com a oferta de serviços
públicos de qualidade, o que parece não ocorrer
no Brasil. Enquanto as classes de menor renda
sofrem com a qualidade do serviço público, a
classe média sofre por adquirir esses serviços da
alphaspirit/Depositphotos.com
iniciativa privada, tendo em vista que os servi-
ços públicos não atendem às suas expectativas
de qualidade, o que consome boa parte da sua
renda. Porém, além de pagar os impostos embu-
tidos no valor desses serviços, esses gastos nem
sempre são totalmente dedutíveis para fins de
imposto de renda, o que implica em pagar mais
imposto do que seria devido.”
O economista José Luiz Pagnussat, que foi
presidente do Conselho Federal de Economia -
Cofecon em 1996 e hoje atua como professor
da Escola Nacional de Administração Pública –
Enap concorda que os brasileiros pagam muito
imposto para os serviços públicos que recebem.
A carga tributária do Brasil equivale à média da
carga tributária dos países ricos e está muito
acima da média dos países em desenvolvimen-
to. Segundo o economista, o brasileiro gasta em
torno de 35% da sua renda com impostos, en-
quanto nos demais países em desenvolvimento
o gasto gira em torno de 26% e nos países ricos
37%. Comparando com alguns países, o brasilei-
ro gasta mais com impostos, em proporção da
sua renda, que os americanos, japoneses, aus-
tralianos, só para citar países que têm políticas
públicas de melhor qualidade que as brasileiras.
Mas o brasileiro paga menos imposto que o eu-
ropeu, que gasta quase 50% de sua renda com o
pagamento de impostos. Em 2015, os moradores
da Zona do Euro gastaram 47% da sua renda
com impostos. “Em síntese, considerando o es-
tágio de desenvolvimento brasileiro e a qualida-
de das políticas públicas no País pode-se con-
cluir que o brasileiro é o que paga mais imposto
entre a maioria dos países”, assegura.
REDUÇÃO
Para Pagnussat, é sim possível reduzir a
carga tributária brasileira. Para que não haja
desequilíbrio nas contas públicas e um cená-
rio de descontrole da dívida pública, primeiro
é necessário reduzir os gastos públicos, co-
meçando pelos desperdícios no setor público
federal, estadual e municipal. “A baixa quali-
dade do gasto público, a elevada corrupção,
a ausência de análise custo/benefícios nos
projetos públicos, a multiplicidade de proje-
tos iniciados e não concluídos, o descompro-
misso com o dinheiro público, indicam uma
“gordura” no gasto que pode ser eliminada
sem comprometimento da oferta das políticas
públicas e do atendimento ao cidadão. É ne-
cessário também reavaliar privilégios e “direi-
tos” que estão acima da capacidade fiscal do
Estado”, afirma.
Esta opinião é corroborada pelo presi-
dente do Sindicato das Empresas de Serviços
Contábeis e das Empresas de Assessoramen-
to, Perícias, Informações e Pesquisas no Esta-
do de São Paulo – Sescon-SP, Márcio Massao
Shimomoto, que acrescenta que um agravante
é o fato de a população não ter um controle
efetivo nos gastos do governo, apenas da arre-
cadação. O empresário defende a redução da
máquina pública, não reduzindo funcionários
concursados, mas sim os comissionados. “No
Brasil, o Estado atua com aproximadamente
300 mil comissionados, enquanto há cerca de
quatro mil nos Estados Unidos, 300 no Reino
Unido e 500 na Alemanha e na França”, opina.
No Brasil, o Estado atua
com aproximadamente
300 mil comissionados,
enquanto há cerca de
quatro mil nos Estados
Unidos, 300 no Reino
Unido e 500 na Alemanha
e na França
Márcio Massao Shimomoto,
presidente do Sescon-SP
Pagnussat acredita que, do lado da arreca-
dação, além da redução da carga tributária, é
necessário reduzir os custos do pagamento dos
impostos, portanto, reduzir a complexidade e o
excesso de impostos. “Hoje, a carga tributária é
desigual, os que ganham menos tem uma carga
tributária maior dos que os que ganham mais;
os que produzem e geram mais empregos pa-
gam mais impostos; os rentistas, que recebem
lucros e dividendos não pagam impostos. Ou
seja, a nossa carga tributária, além de elevada,
é injusta e penaliza o setor produtivo e a gera-
ção de empregos.”
O presidente do Sescon-SP concorda com
tal opinião e acrescenta: “É preciso que o go-
verno desenvolva uma forma de tributação
mais simples, para que todos paguem impostos,
reduzindo a carga de todos os que já pagam”,
defende Shimomoto.
revista
GOVERNANÇA TRIBUTÁRIA reportagem
PREVIDÊNCIA
A contribuição para a Previdência é o
maior tributo brasileiro, mas é o que garan-
te a renda do trabalhador na aposentadoria.
Os impostos sobre a produção e circulação de
mercadorias são elevados, quando compara-
dos com os de outros países, e acabam sen-
do repassados para os consumidores na sua
maior parte e de forma injusta. O consumidor
paga, por exemplo, no feijão e arroz, mais de
30% de imposto. Entre os impostos sobre a
produção e circulação, o ICMS é o maior vi-
lão e se caracteriza pela cobrança na origem
e não no destino, portanto quem arca com o
imposto não é quem se beneficia pelas políti-
cas financiadas pela arrecadação.
30
De acordo com José Luiz Pagnussat, os
impostos sobre a renda (lucro) tendem a não
ser repassados para os consumidores, pois
não alteram a decisão de produção que maxi-
miza o lucro, portanto a produção não se alte-
ra e nem o preço de mercado, não havendo o
repasse do imposto para o consumidor. “Ten-
dem a ser impostos mais justos quando com-
parados com os impostos sobre a produção”.
Criação de
impostos
Fantasma que tem rondado a população
desde 2014, a provável criação de um novo im-
posto tem sido cogitada frequentemente pela
equipe econômica. No entanto, apesar de nos
aproximarmos cada dia mais desta possibili-
dade, Carlos Alberto Pereira aponta que esta
não é a única saída para a crise econômica: “É
necessário se pensar também em uma reforma
administrativa ampla e séria, além de melhor
canalizar os recursos arrecadados para áreas
prioritárias, como educação, saúde, seguran-
ça. Isto requer uma revisão das políticas pú-
blicas em todas as esferas”.
Roberto Vertamatti, conselheiro da Associa-
ção Nacional dos Executivos de Finanças Admi-
nistração e Contabilidade – Anefac, declara ser
totalmente contrário à criação de qualquer novo
imposto ou aumento de tributos, pois acredita
que a economia brasileira não aguenta mais im-
postos. “Com esta carga tributária, altamente de-
sestimulante para o investimento, não há como
crescer de maneira consistente para chegarmos,
um dia, a ser desenvolvidos. Precisamos de mais
eficiência do governo, redução dos gastos públi-
cos, passar o que for possível para a iniciativa pri-
vada, reduzir o quadro de funcionários públicos.
Sem dúvida que são caminhos difíceis, mas pre-
alphaspirit/Depositphotos.com
cisamos de vontade política para implantá-los e,
de políticos que estejam realmente preocupados
com o povo e não consigo mesmos”, diz.
MAIS
AFETADOS
O professor da Fipecafi explica que, geral-
mente, as classes média e baixa sofrem mais
com os tributos. Existem tributos diretos, que
incidem sobre a renda e a propriedade e os
tributos indiretos, que incidem sobre o consu-
mo de bens e serviços. Geralmente,os tributos
indiretos, que representam a maior parte da
carga tributária brasileira, já estão embutidos
nos preços e, portanto, não há como evitá-los.
Assim, ao consumirem produtos similares em
termos de preços, as pessoas são afetadas
de modo diferente, porque o valor do impos-
to embutido nesses preços muitas vezes é o
mesmo, independentemente da renda ou clas-
se social do consumidor.
EMPRESAS
Os altos impostos afetam diretamente as
empresas, que também são penalizadas pela
burocracia, que eleva o custo de produção e
reduz a competitividade dos produtos brasi-
leiros. “Os impostos e a burocracia encarecem
os produtos brasileiros em comparação com
os importados. A diferença de custo (fora da
fábrica) representa mais de 16% em relação
aos produtos de outros países. De outro lado,
os consumidores são impactados de manei-
ra diferenciada pelos tributos: pagam mais
impostos os trabalhadores de menor renda;
porque a carga tributária sobre os produtos
essenciais é maior; ou seja, os mais pobres
são mais penalizados pelos impostos que os
mais ricos”, salienta o economista.
O conselheiro da Anefac explica que os
impostos que mais pesam no cofre das empre-
sas e, por consequência dos trabalhadores e
consumidores, são os seguintes: ICMS (esta-
É necessário se pensar também em uma reforma
administrativa ampla e séria, além de melhor
canalizar os recursos arrecadados para áreas
prioritárias. Isto requer uma revisão das políticas
públicas em todas as esferas
Carlos Alberto Pereira
Nossa legislação trabalhista é ultrapassada.
Se, por um lado, ela parece defender o
trabalhador, por outro é altamente
desestimulante com relação ao emprego
Roberto Vertamatti
dual) e INSS (federal), que representam algo
como 40% de todos os tributos arrecadados;
seguidos pelo Imposto de Renda (federal)
com 16% e o Cofins (federal) com 10%.
Vertamatti enfatiza ainda que não há
dúvida quanto a um ponto: o salário que o
brasileiro recebe não é alto, mas o seu custo,
em função dos impostos e benefícios, aca-
bam desestimulando as empresas a contra-
tarem mais funcionários. “Nossa legislação
trabalhista é ultrapassada. Se, por um lado,
ela parece defender o trabalhador, por outro
é altamente desestimulante com relação ao
emprego. Para se ter uma ideia, a carga sobre
salários na Inglaterra e Estados Unidos é da
ordem de 12%, e isto favorece um salário mais
justo ao trabalhador daqueles países. Preci-
samos sim caminhar para uma legislação que
premie a negociação”.
Outra grande dificuldade dos empresários
brasileiros está na folha de pagamento. Muitas
vezes nem pelo salário em si, mas pelo mon-
tante que precisa ser repassado ao governo.
“Parece que hoje as empresas são punidas
por contratar funcionários, devido ao alto cus-
to de uma contratação. O grande número de
benefícios ofertados aos trabalhadores acaba
criando uma rejeição nas empresas, que, por
exemplo, evitam contratar jovens na faixa dos
18 anos em virtude do serviço militar. Com isso,
cria-se um desemprego em determinadas fai-
xas”, relata o presidente do Sescon-SP.
Shimomoto destaca ainda a interferência
do Estado até mesmo em acordos firmados
entre os sindicatos patronais e as entidades
que representam os trabalhadores. Em sua
opinião, se ambos chegassem a um acordo
que beneficiasse tanto as empresas quanto
os funcionários, caberia ao governo fazer tal
acerto se sobrepor à legislação trabalhista, o
que deve acontecer agora com a nova legisla-
ção trabalhista, recentemente aprovada.
“Por ano, temos cerca de cinco milhões de
reclamações judiciais trabalhistas. Isto acar-
reta insegurança aos empresários, fazendo
com que muitas companhias de outros países
não queiram vir para o Brasil, por medo de
prejuízos neste sentido”, argumenta.
31
revista
GOVERNANÇA TRIBUTÁRIA reportagem

filipefrazao/Depositphotos.com

O governo deveria
tributar mais renda
e patrimônio e menos
a possibilidade de lucros,
como o faturamento
das empresas
João Eloi Olenike

A
enorme estrutura que o estado brasileiro
precisa sustentar aumenta a cada ano e o
resultado disso é que o custo do Brasil para
os contribuintes é elevado. Para se ter uma ideia,
neste ano, todos os rendimentos que os contribuin-
tes receberam até o dia 1º de junho serviram so-
mente para pagar impostos, taxas e contribuições.

E, para agravar ainda mais a situação, a cor-

rupção consumiu 29 dias de trabalho de cada um
dos cidadãos brasileiros. O cálculo da corrupção
apresentado no estudo do IBPT - Instituto Bra-
sileiro de Planejamento e Tributação, foi feito
tomando como base o resultado do Projeto Lupa
nas Compras Públicas, que monitora todas as
compras realizadas pelos órgãos governamentais
federais, estaduais e municipais e cruza o valor
pago pelos governos com o preço da mesma mer-
cadoria ou serviço comprado pelas empresas.
O brasileiro, nesse ano trabalhou 153 dias, ou
cinco meses e um dia somente para pagar tribu-
tos, ou seja, para engordar os cofres públicos. O
número é o mesmo do ano passado, que foi bis-
sexto, ou seja, com 366 dias no seu total. Isso quer
dizer que ano a ano estamos trabalhando cada vez
mais para o governo. Os cidadãos brasileiros tive-
ram ainda que destinar em média 41,80% do seu
rendimento bruto para pagar a tributação sobre os
rendimentos, consumo, patrimônio, o mesmo per-
centual de 2016.. Nos anos de 2014 e 2015 o índice
permaneceu o mesmo: de 41,37%.
Para ele, o governo tem nas mãos a possibili-
dade de aplicar mais recursos em investimentos e
menos em gastos correntes e, consequentemen-
te, reduzir esse impacto todo. Além do que pode-
ria fazer uma reforma tributária, com a simplifi-
cação do sistema, diminuição de impostos e uma
tributação mais justa, voltada à real capacidade
contributiva das empresas e dos cidadãos.
E lembra que “temos em nosso sistema
tributário, uma prevalência da tributação so-
bre o consumo, representando quase 70% de
toda a arrecadação”. Essa taxação é regressiva,
privilegiando os mais abastados, em relação
aos contribuintes de menor poder aquisitivo,
proporcionando uma distribuição de renda re-
versa, ou seja, tirando o poder de compra dos
pobres e transferindo-o para os mais ricos. “O
governo deveria tributar mais renda e patrimô-
nio e menos a possibilidade de lucros, como o
to é cobrado e bem empregado, não é ruim.
O problema é quando a carga é elevada e a
contrapartida baixa”, diz o professor. “Em-
bora a arrecadação por aqui esteja próxima
da dos países que estão no topo da lista dos
30 nações com as maiores cargas de tributo
do mundo, essa mesma realidade não ocorre
quando falamos na contrapartida dada à po-
pulação”, complementa.
Ele cita estudo do IBPT sobre arrecada-
ção tributária para mostrar que cada brasileiro
desembolsou em 2015 R$ 10.298 para pagar
impostos. Em 2014, foram R$ 9.112. “É um va-
lor expressivo, especialmente porque estamos
falando de toda a população, a que trabalha e a
que não trabalha”, destaca Formigoni. Para pio-
rar, o governo aplica mal esses recursos.

Quanto custa o Brasil

para os brasileiros?
Cidadão comum trabalha metade do ano só para pagar impostos
“A nossa carga tributária é alta, ficando em
torno de 34% do PIB (Produto Interno Bruto),
gastamos em torno de 1,5% do faturamento das
empresas, somente para cumprir as obrigações
tributárias acessórias. Temos grandes problemas
com logística, com estradas em péssimas condi-
ções, portos idem. Isso acarreta uma perda muito
grande de investimentos externos em nosso País,
contribuindo sobremaneira para uma estagnação
no desenvolvimento do Brasil”, considera o presi-
dente-executivo do IBPT, João Eloi Olenike.
faturamento das empresas. Essa situação enca-
rece muito os produtos na ponta de consumo,
fazendo com que haja uma aquisição de menos
mercadorias e serviços por parte da população”,
IMPACTO
EM CADEIA
enfatiza o presidente do IBPT.
Coordenador do mestrado profissional
em Controladoria Empresarial da Universida-
de Presbiteriana Mackenzie, Henrique Formi- O impacto de todo esse custo ocorre em ca-
goni, comenta que nem sempre o custo pago deia, começa pelas indústrias, passa pelo comér-
pelos contribuintes é tão nefasto. “Se o tribu- cio, serviços e acaba no consumidor final, a quem

32 33
revista
GOVERNANÇA TRIBUTÁRIA reportagem
cabe pagar essa alta conta comprando produtos
mais caros. O vice-presidente da Fiesp - Federa-
ção das Indústrias do Estado de São Paulo, José
Ricardo Roriz Coelho, comenta que a indústria de
transformação convive com os entraves burocrá-
ticos e de alta carga tributária há algum tempo.
De acordo com ele, entre 2008 e 2013, o Custo
Brasil respondeu, em média, por 25% de acrés-
cimo nos preços dos produtos industrializados,
quando incluímos a sobrevalorização do real, que
contribuiu com 14,6% de acréscimo nos preços,
chega-se a um diferencial médio de preços de
34,4% entre o produto nacional e o importado,
já considerando os custos de internacionalização
do produto importado, como o imposto de impor-
tação os fretes e os seguros.
“No cálculo do Custo Brasil incluímos com-
ponentes de custos que impactam o preço do
produto industrializado: a tributação é o principal
componente e inclui a carga tributária, a burocra-
cia para pagar tributos e os tributos irrecuperáveis,
respondendo por 14,6% do diferencial de preços;
os juros sobre o capital de giro, responde por 5,4%;
as matérias primas e energia, 2,5%; a infraestrutu-
ra logística, 1,5%; os benefícios que as empresas
pagam aos funcionários, como assistência médica,
porque o Estado não oferece serviços de quali-
dade, 0,7% e os serviços como aluguéis, 0,2%”,
34
destaca. Esses componentes do Custo Brasil re-
duziram a competitividade do setor e levaram à
desindustrialização.” Para se ter noção do que per-
demos é importante verificar o quanto a indústria
encolheu nas últimas décadas, em 1985, a indús-
tria de transformação respondia por 21,6% do PIB
e, em 2015, teve participação de somente 11,4%.
“Um dos problemas da elevada carga tri-
butária, que afeta nossa sociedade, é que o
Estado não devolve em quantidade e quali-
dade os serviços e bens públicos. Por exem-
plo, muita gente precisa pagar pela educação
e saúde em razão da baixa qualidade ou da
insuficiência de oferta desses serviços pelo
Estado. O mesmo se aplica à infraestrutura,
que dificulta o trânsito de mercadorias e pes-
soas. Na parte burocrática, existem dificul-
dades para abrir e fechar um negócio, além
da legislação tributária, que é extensa e com-
plexa, elevando os custos para as empresas
no pagamento de tributos”, diz. “Caso esses
entraves fossem mitigados, todos seriam be-
neficiados, com menores custos. Os preços
serão mais competitivos desde que o câmbio
seja favorável a esse repasse, não é um pro-
cesso automático, leva um tempo para ocor-
rer, pois depende de vários fatores para se
chegar a um equilíbrio.”
revista
GOVERNANÇA TRIBUTÁRIA artigo
gustavofrazao/Depositphotos.com
Precisamos de políticas
públicas emergenciais
estruturantes e
permanentes, essas são
as condições para que o
ambiente sistêmico do
País seja mais favorável à
produção
José Ricardo Roriz Coelho
O Custo Brasil e a valorização do real dei-
xam o produto nacional 34,4% mais caro do que
o importado dos 15 principais parceiros comer-
ciais: Alemanha, Argentina, Canadá, Chile, China,
Coreia do Sul, Espanha, Estados Unidos, França,
Índia, Itália, Japão, México, Suíça e Reino Unido.
“Precisamos de políticas públicas emergenciais
estruturantes e permanentes, essas são as condi-
ções para que o ambiente sistêmico do País seja
mais favorável à produção”, finaliza Roriz
O PARAGUAI É LOGO
ALI: OPORTUNIDADES
PARA INVESTIMENTO
NO PAÍS VIZINHO
A
o visualizar o Paraguai sob a ótima No que se refere à mão de obra, o cus- Não se pode deixar de ponderar também
de um possível interesse empresarial, to laboral é baixo em relação aos demais que a legislação trabalhista paraguaia prevê
não há como negar que motivos não países da América do Sul, sendo cerca de condições de contratação mais favoráveis ao
rbhavana/Depositphotos.com
faltam para que, pelo menos à primeira vista, 20,7% mais baixo do que aquele oferecido empregador, quando comparado às rígidas con-
o empreendedor encha os olhos com os be- no mercado brasileiro. O ponto negativo dições estabelecidas na legislação brasileira. A
nefícios trabalhistas e tributários previstos aqui é que, na maioria das vezes, a mão de título exemplificativo, eis algumas das caracte-
no país vizinho. obra não é especializada. rísticas da legislação laboral do Paraguai:
35
revista
GOVERNANÇA TRIBUTÁRIA artigo
Jornada de Trabalho
de 48 horas semanais
Incidência única dos seguintes
adicionais: 30% para o trabalho
noturno; 50% sobre a hora
extra em dias úteis e finais de
semana e 100% sobre a hora
extra em feriados (inexistem
adicionais de insalubridade,
periculosidade e 13º salário)
Regime de férias: 12 dias úteis
anuais até 5 anos de trabalho,
18 dias úteis anuais de 5 a 10
anos de trabalho e 30 dias úteis
acima de 10 anos de trabalho
Não existe Fundo de Garantia
por Tempo de Serviço e o núme-
ro de ações trabalhistas é baixo
36
Outro atrativo a ser considerado é o pre-
ço dos imóveis localizados no Paraguai, pois
os valores são extremamente acessíveis quan-
do comparados a outros países da América
do Sul. O preço do hectare é de cerca de USD
500 (quinhentos dólares) na Região Oriental
(Oeste) e entre USD 100 e 1000 (cem e mil
dólares) na Região Ocidental (Leste). A capital
paraguaia, Assunção, foi declarara a capital
mais barata do mundo pelo quinto ano conse-
cutivo, pela empresa britânica Mercer Human
Resource Consulting.
Existem benefícios tributários satisfató-
rios quando comparados aos brasileiros e ou-
tros mercados da América do Sul, de modo que
a instalação do negócio pode ser extremamen-
te vantajosa para os empresários estrangeiros.
O Paraguai produz a energia elétrica mais
barata do Mercosul (cerca de 70% mais bara-
ta do que a energia elétrica produzida no Bra-
sil), e as indústrias nacionais têm investido no
segmento eletro-intensivo e têm proporciona-
do, gradualmente, uma melhor infraestrutura
para satisfazer os requerimentos do desenvol-
vimento tecnológico.
Em relação à tributação no Paraguai, tra-
ta-se de um sistema jurídico extremamente
simplificado, eis que a totalidade da arrecada-
ção é direcionada unicamente ao Estado Fe-
deral. Em relação aos tributos em si, os mais
significativos são: IVA 10%, Imposto de Renda
(pessoa física ou jurídica) 10%, Maquila 1%,
Zona Franca 0,5%
Por conseguinte, ao se ater especifica-
mente na entrada de empresas estrangeiras
no território do Paraguai em busca de opor-
tunidades empresariais, deve-se ter a neces-
sidade de compreensão sobre a disposição
contida na chamada “Lei Maquila”, para que,
somente assim, seja possível proceder com
estudos de viabilidade sobre serem ou não vá-
lidos os investimentos naquele país.
Em linhas, em 13 de maio de 1997, o go-
verno paraguaio aprovou a Lei nº 1.064/97,
denominada Lei Maquila, que posteriormen-
te foi regulamentada por meio do Decreto nº
9.585 de 2000. Trata-se da principal lei dire-
cionada aos investimentos estrangeiros, que
institui incentivos para a instalação de empre-
sas no Paraguai que visem à exportação.
Maquila é um sistema de produção por
meio do qual as empresas localizadas no Pa-
raguai podem produzir bens e serviços para
serem exportados. Em síntese, permite que
empresas paraguaias e estrangeiras produzam
bens em seu território, podendo importar as
matérias primas necessárias para serem utili- É sempre necessário um estudo prévio de viabilidade econômica e comercial
zadas em um prazo máximo de 6 (meses), sem – o que exige visitas in loco – antes de que qualquer projeto seja concretizado.
tributação e aproveitar os custos internos
competitivos para posterior exportação.
Importante salientar que qualquer bem
produzido no Paraguai deve ter um conteúdo
regional de, pelo menos, 40%. Os outros 60%
podem ser originários de qualquer outro país. Contrato de Maquila:
Alcançando esse percentual, os bens produzi-
dos no Paraguai podem ingressar no mercado
I Contrato entre a empresa instalada no Paraguai (a empre-
sa Maquiladora) e uma empresa estrangeira destinatária
de qualquer dos outros membros do Mercosul dos bens ou serviços.
livre de tarifas e impostos.
Importante frisar que no Regime Maquila,
a empresa importa insumos com suspensão
dos impostos de importação, porém, deverá
Destino:
II
pagar as taxas portuárias e os honorários do
despachante. Trata-se, também, de uma ferra- A produção de bens ou a prestação de serviços seja des-
menta de complementação industrial ou enca- tinada para o mercado externo, ou seja, para fora do mer-
deamento industrial. cado paraguaio.
Em relação as formalidades necessárias
para abertura e funcionamento de empresa
Maquila no Paraguai, não há entraves dema-
siadamente burocráticos, de modo que para
Pessoa jurídica
III
abertura de pessoa jurídica no Paraguai deve
Criação de uma pessoa jurídica no Paraguai, mesmo que a
ser formalizado Contrato de Maquila entre a
extensão, braço ou divisão da empresa já esteja constituí-
empresa estrangeira e o Poder Público para-
da em outro país.
guaio e cumprir os seguintes requisitos:
Portanto, de acordo com a legislação para-
guaia existem benefícios tributários satisfató-
rios quando comparados aos brasileiros e ou-
IV
tros mercados da América do Sul, de modo que Mão de obra
a instalação do negócio pode ser extremamen- Utilização da mão de obra paraguaia e capacitação nacio-
te vantajosa para os empresários estrangeiros. nal necessária para a execução do Programa.
De acordo com a experiência de quem
já buscou o país vizinho como oportunidade
de investimento, a utilização da Maquila vale Letícia Mary
a pena para empresas industriais que tem a Fernandes do Amaral,
intenção de produzir e exportar do Paraguai Advogada, sócia da Amaral, Yazbek
Garantias aduaneiras
para outros países, e que pretendam utilizar
muita energia elétrica e mão de obra local, V Outorgar garantia suficiente à satisfação da Autoridade
Aduaneira paraguaia pelo montante dos gravames even-
Advogados, Vice-Presidente e
Coordenadora Acadêmica do IBPT
cujos custos são altamente competitivos em
tualmente aplicáveis, com o fim de assegurar o cumprimen-
relação ao Brasil. Ademais, deve-se atentar
to das obrigações que este regime impõe.
para a necessidade de adquirir ou alugar imó-
vel no Paraguai e ter, além de mão de obra,
sócio ou administrador paraguaio, o que exige
contatos locais confiáveis. Por fim, na dis-
tribuição de lucros para sócios estrangeiros
haverá uma retenção da fonte de imposto de
Proteção ao Meio Ambiente
VI
renda no percentual de 15%.
Observar os objetivos constitucionalmente consagrados de
Conclui-se, assim, que o Paraguai possui preservação, conservação, recomposição e melhoramento
grandes atrativos para quem busca oportuni- do Meio Ambiente, de forma a perseguir um ecossistema
dades de investimento direto no país vizinho. equilibrado e a sustentabilidade dos recursos naturais
Mas é sempre necessário um estudo prévio
de viabilidade econômica e comercial – o que André Dias e Oliveira,
exige visitas in loco – antes de que qualquer Advogado associado da Amaral,
projeto seja concretizado. Yazbek Advogados.
37
GT INFORME PUBLICITÁRIO
EMPRESÔMETRO LISTAS:
OFERECE INÚMERAS
POSSIBILIDADES DE NEGÓCIOS
T
otalmente voltada para o cam-
po de negócios, o Empresôme-
tro - IBPT, empresa especia-
lizada em Inteligência de Mercado,
intensifica ainda mais o fornecimen-
to de informações estratégicas para
que os empreendedores possam al-
cançar o sucesso desejado. Dentre
os novos produtos, disponíveis ao
mercado neste ano de 2017, a pla-
taforma foi enriquecida com o Em-
presômetro Listas, uma ferramen-
ta web que dá a possibilidade dos
usuários encontrarem potenciais
clientes e fornecedores.
O Empresômetro oferece a bus-
ca com perfil adequado, realiza
campanhas mais direcionadas de
acordo com o perfil das empresas,
verifica os dados cadastrais, além
de realizar uma pesquisa por nome
comercial para fins de abertura ou
alteração contratual.
Além disso, a ferramenta permite
a consulta mais detalhada por dados
cadastrais das empresas de todo o
Brasil; quantidade de empresas por
CNAE (principal ou secundário) ou
ramo de atividade, para abertura
de empresas ou criação de filiais;
E-mail; Telefone; Natureza jurídica
das empresas (MEI, LTDA, S/A, EI-
RELI, etc); Simples ou não; Idade das
Empresas; Matriz e filiais; Regulari-
dade Fiscal na RFB; e QSA (Quadro
de Sócios e Administradores).
Com o Empresômetro, os usuá-
rios tem benefícios como: base de
dados atualizada diariamente, acesso
aos dados das empresas de todo o
País e uma busca mais segmentada.
Em poucos minutos é possível sele-
cionar o perfil do público-alvo e fazer
38
INFORME PUBLICITÁRIO GT
o download da lista de empresas que
mais se enquadram às necessidades
de prospecção. Praticidade e autono-
mia em uma única ferramenta online
que pode ser utilizada em qualquer
hora e lugar. Além da credibilidade da
origem de dados atualizados e pron-
tos para uso. É uma solução de pros-
pecção segmentada, de baixo custo,
de maneira simples e rápida.
Este é um dos maiores produtos
desenvolvidos para monitorar em-
presas de todo o Brasil.
“As novas soluções da platafor-
ma reduzem o tempo e custo de
captação de novos clientes e forne-
cedores; otimiza o trabalho da equi-
pe e ajuda na construção de uma
estratégia sólida para o sucesso”,
argumenta Otávio Augusto Fernan-
des do Amaral, diretor do Empresô-
metro, enfatizando que “o principal
diferencial desta nova fase da ferra-
menta é atender as empresas que
precisam de um serviço cada vez
mais personalizado voltado para
captação de novos negócios, tudo
isso apenas com alguns cliques, o
que minimiza tempo, mão de obra
e gastos adicionais”.
Além do Listas web, o Empresô-
metro, em breve lançará o Empresô-
metro Listas versão mobile, para
telefones Android, com as mesmas
funcionalidades que permitem am-
pliar os negócios e obter todas as
empresas na palma da sua mão.
Também são realizados levan-
tamentos encomendados, que é um
serviço de consultoria personalizado,
montado de acordo com as necessi-
dades de cada cliente.
39
revista
GOVERNANÇA TRIBUTÁRIA artigo
A QUESTÃO DA É
de conhecimento da maioria dos brasilei-
ros, que estamos passando por uma si-
tuação sui generis, com respeito à nossa
REFORMA TRIBUTÁRIA
política, o que se reflete na atual estagnação
dos negócios, investimentos e empreendimen-
tos em nosso País.
NO GOVERNO “TEMER”
Temos hoje, um governo com pensamentos
e ideologias opostas à administração anterior,
sendo que essa gestão vem eivada de ideias
neoliberais e com sérias intenções de executar
programas de privatizações ou venda de parte
de grandes empresas estatais.
Também sabemos que o atual governo,
herdou do comando anterior, uma situação
caótica em todos os sentidos, com o País em
retrocesso econômico, índices de desempe-
nho desfavoráveis, inflação acima da meta e,
principalmente, com um grande “rombo” nas
contas públicas.
No dia 31 de agosto de 2016, o Senado
Federal aprovou o impeachment da presiden-
te Dilma Rousseff. Com este ato, consequen-
temente quem assumiu o comando do País
foi o vice- presidente Michel Temer, que tem
uma considerável missão pela frente, ou seja,
a de colocar o Brasil novamente no rumo
do desenvolvimento.
Assim como todos os brasileiros, o IBPT
-Instituto Brasileiro de Planejamento e Tribu-
tação, está na expectativa de que o governo
não apresente apenas os projetos já conheci-
dos, como por exemplo, o aumento de tribu-
tos, mas que venha a se dedicar à racionaliza-
ção do gasto público.
Estudos de nosso instituto, IBPT, compro-
vam que a inadimplência dos contribuintes
brasileiros cresceu 27% somente em 2015.
Consideramos que este é um fator que com-
prova que os cidadãos e empresas não têm
mais condições de suportar a enorme carga
tributária exigida pelo governo.
Estudos do IBPT, comprovam que a
inadimplência dos contribuintes brasileiros
cresceu 27% somente em 2015.
Diante deste cenário, sugerimos que se-
jam adotadas medidas para diminuir o impac-
to da carga tributária, principalmente para
as empresas. Entendemos que é necessário
projetar melhorias nestes próximos dois anos.
Entre elas reduzir pela metade as burocracias
existentes, evitar alterações na base de cálcu-
lo e alíquotas dos tributos e fazer uma racio-
nalização na legislação tributária.
É necessário projetar melhorias nestes
40 ktsdesign/Depositphotos.com
próximos dois anos. Entre elas reduzir pela
metade as burocracias existentes, evitar
alterações na base de cálculo e alíquotas
tribuir para a melhoria das condições de vida da
nossa população, que, infelizmente, encontra-se
em situação desesperadora.
dos tributos e fazer uma racionalização na
legislação tributária.
Como já citamos anteriormente, entende-
mos que, antes de se acenar com aumentos de
tributos, o novo governo deve fazer um grande
levantamento dos gastos públicos, e eliminar
tudo que for possível. Não temos dúvidas de
que há condições suficientes para isso, faltan-
do somente vontade política.
O País precisa parar, efetivamente, e de
uma vez por todas, de gastar mais do que ar-
recada, como foi feito em governos anteriores,
demonstrando-se certa indisciplina com o di- João Eloi Olenike,
nheiro público. Presidente Executivo do IBPT.
O país precisa parar, efetivamente, e de
uma vez por todas, de gastar mais do que
for arrecadado, como foi feito em governos
anteriores, demonstrando-se certa indisci-
plina com o dinheiro público.
É de nossa opinião que o governo, inde-
pendentemente de quem quer que sejam os
governantes, deve traçar uma meta para re-
duzir de maneira lenta e gradual todos os tri-
butos, exceto os de caráter regulatório, como,
imposto sobre operações de crédito, câmbio e
seguro, ou relativos a títulos mobiliários (IOF).
Com isso, precisamos preparar uma reforma
tributária ampla, simplificando o sistema tri-
butário, adotando bases de incidência mais
justas e que melhorem a confiança dos contri-
buintes e o cenário de negócios.
A reforma tributária em discussão deve ser
feita de maneira “fatiada”, ou seja, abrangen-
do alguns tributos de cada vez, mas que venha
efetivamente a diminuir o número de tributos,
minimizando a incidência de impostos sobre o
consumo e aumentando a abrangência sobre,
ganhos, lucros, renda e patrimônio. É mister
que tenhamos uma oneração tributária de
acordo com a real capacidade contributiva dos
cidadãos e empresas brasileiros.
Precisamos de uma reforma tributária,
que pode ser feita de forma “fatiada”, ou
seja, abrangendo alguns tributos de cada
vez, mas que venha efetivamente a dimi-
nuir o número de tributos.
Também precisamos de uma nova diretriz
quanto ao direcionamento dos gastos públicos,
previstos em orçamentos, que deveriam, em sua
grande maioria, estar voltados para aplicações
em obras de infraestrutura, saúde, educação,
transporte e segurança, os quais poderiam con-
41
revista
GOVERNANÇA TRIBUTÁRIA institucional
A
o completar 25 anos o IBPT torna-se referência
em inteligência tributária O Instituto Brasileiro
de Planejamento e Tributação - IBPT.
Desde 1992 vem atuando na área de inteligência tribu-
tária ao realizar pesquisas, estudos e análises, para gerar
conhecimento e esclarecer a população sobre o complexo
sistema tributário brasileiro. Ao mesmo tempo vem transmi-
tindo informações e dando consultoria estratégica sobre im-
postos, implementando sistemas de governança tributária e
desenvolvendo ferramentas e métodos a fim de incrementar
a lucratividade das empresas.
Em seus 25 anos de atuação o IBPT tornou-se referência
nacional no que se refere a tributos, consolidando também
sua decisiva participação na busca por justiça tributária e
conscientização da sociedade sobre os impactos dos impos-
tos tanto na vida dos cidadãos quanto das empresas.
Dentre as grandes lutas que encabeçou estão: a Frente
Brasileira Contra a Medida Provisória 232, em 2005, movimen-
to que iniciou com mais três importantes entidades representa-
tivas do setor de serviços e que por fim agregou cerca de 1600
entidades, que juntas lutaram contra o aumento de impostos.
Esta foi a primeira vez no Brasil que uma medida provisória fo-
cada em majorar tributos foi rejeitada no Congresso Nacional,
em razão de pressão da sociedade.
Em 2007, o IBPT engajou-se na luta pela extinção da
Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira-
CPMF, o famigerado “imposto do cheque”. O Instituto forne-
ceu estudos, dados e análises comprovando que a sociedade
poderia ficar sem mais este encargo. Em sessão definitiva
da notação no Senado Federal, a então relatora do projeto,
senadora Katia Abreu baseou-se em dados contidos no es-
tudo do IBPT para sensibilizar os parlamentares a derrubar
a CPMF. Neste momento histórico, o IBPT destacou-se pela
adoção de uma linguagem clara e precisa à sociedade sobre
a realidade tributária brasileira.
Em 2014, o Instituto também lançou bases e fundamen-
tos para viabilizar a lógica da transparência fiscal, promovendo
conscientização tributária no entendimento sobre um Estado
eficiente e foi um dos indutores da Lei da Transparência (Lei nº
12.527) que visa conscientizar a população sobre a quantidade
de tributos embutidos nos produtos e serviços consumidos.
Gestão tributária
= inteligência
AndreyPopov/Depositphotos.com de Negócios
INSTITUCIONAL
Nos últimos anos, o IBPT ampliou suas ações, passan-
do a atuar em três áreas estratégicas: institucional, no qual
42
se incluem as ferramentas e soluções desenvolvidas sobre a
tributação à sociedade; acadêmica, por meio da realização
de cursos, seminários, palestras, congressos e eventos, que
promovem o conhecimento técnico e cientifico sobre tribu-
tos; e desenvolvimento tecnológico de sistemas voltados a
uma eficiente gestão tributária para as empresas.
Entre os projetos desenvolvidos pelo IBPT está o Impos-
tômetro, um contador em tempo real do volume de impostos
que é arrecadado no País. Em 2013 lançou o Empresômetro, o
maior banco de dados sobre as empresas públicas e privadas
do Brasil, o que lhe possibilita traçar estratégias para reduzir
os custos e aumentar a competitividade das empresas, além
de funcionar como um censo que apresenta a totalidade das
empresas, entidades privadas e públicas abertas no Brasil em
tempo real.
Desenvolveu também a Lupa no Imposto... ferramenta
que visa apresentar à população a quantidade de tributos em-
butidos nos produtos e serviços consumidos.
Este é um site que originou a Lei da Transparência nº
12.527/2014 que permite aos comerciantes detalhar em etiquetas
os tributos dos produtos.
Outra ferramenta de grande relevância criada pelo IBPT é o
De Olho no Imposto, que é um manual de Integração que exi-
be a carga tributária de produtos e serviços que serão emitidos
em cupons e notas fiscais.
E mais recentemente o Instituto lançou o o IBPT Educação,
com objetivo de suprir a necessidade daqueles que trabalham
diariamente com questões tributárias e querem conhecer, es-
truturar e aplicar a teoria da governança tributária na sua ati-
vidade profissional, para obter resultados mais efetivos.
Através da “Governança Tributária” o IBPT tornou-se si-
nônimo de qualidade e excelência na elaboração de pesquisas
de mercado e estudos tributários sob encomenda, nas análises
feitas à sociedade sobre tributação e nos seus serviços presta-
dos na seara do planejamento empresarial e setorial.
Neste quarto de século o IBPT aprofundou suas raízes
nas áreas econômica, contábil, administrativa e tecnologia,
além do Direito Tributário, à medida que, para alcançar sua
missão – descomplicar a tributação, criar transparência e
propor os melhores cenários para pessoas, empresas e go-
verno - foi necessário entender todos os agentes econômi-
cos envolvidos, assim como suas relações que implicam em
consumo, produção, arrecadação e gasto público, somados
à evolução da tecnologia tributária e de gestão.
Sem questionamentos o IBPT hoje é o único Instituto
privado no Brasil que se dedica exclusivamente ao estudo da
tributação e à geração de informações estratégicas para a go-
vernança tributária, visando prestar serviços de relevante valor
para o setor produtivo, enquanto alerta os contribuintes sobre
a situação tributária brasileira permitindo à população exercer
o seu real papel de cidadania.
43
 Para atender às exigências da Lei 12.741/12 (Lei do Imposto na Nota)
o Empresômetro patrocina o Projeto de Olho no Imposto.

O Empresômetro fornece dados atualizados das empresas ao

De Olho no Imposto. O projeto possibilita que todos os estabelecimentos
informem a carga tributária no documento fiscal ao consumidor final de
forma rápida e acessível a todos os empreendedores do país

Patrocinador:
41 2117-7300
contato@empresometro.com.br
www.empresometro.com.br