Sei sulla pagina 1di 78

ARTE CONCEITUAI

MOVIMENTOS DA ARTE MODERNA

CONCEITUAI
PAULWOOD
Capa: Par a Fct c r c K m n

Kc i t h Ar n a t t
Áuto-cutcrro (Projcto Ác nUerJcrcm ia televisiva) 1969
( d e t a lh e d a fíg.29)

Frontispício:
Vi c t o r Bu r g i n
Posse 1976
( d ct a ííie cfa hg. 54 j

P u b l i c a d o o r i g i n a i m c n r c p ela
Tiít c P u b l i s h i n g , a d i vi s i o n o t
Tiit c En t e r p r is e s L t d .
M \ l l b . \ u k , Lo u d vc s SWM' 4RCI

© 2002 Ta t e
© 2002 Cosac & N a i f y l í d i ç õ e s
T o d o s os d i r e i t o s r eser vad o s.

Ca p a : Sl a t t c r - An d e r s o n , Lo n d r e s .
P r o je t o g r á íic o : Lsam b ar d T h o m a s

T r a d u ç ã o : Be t in a Bi s c h o f
P r e p a r a ç ã o : F^ íbio G o n ç a l v e s
Re vi s ã o : P a u lo Ro b e i t í í M . Sa r m e n t o

As m e d id a s s ã o d ad as c m c e n t í m e t r o s ,
a lt u r a x la r gu r a x p r o fu n d i d a d e

d m l o g a ç a o iiii [-01110 d o D c p - ir i- iin c n t o N.t cío n al d o ( , i vm

(Fiin d aç.io Bih lio t ccn N a cio iín !. R| . Br asil)

W o o d , Pau l
Kl i 58c Ar ce Co n c e i t u a i / P a u l W o o d
Tr a d u ç . i o : in clin a Bi s d i o í "
Sã o P a u lo : C"osac & N a i f y I-'d içõ cs, 2 0 0 2
So p .

t í u i l o o r i g i n a l : C'o n ccp U ia l A r t

ISBN 85-750 i -n o -4

I. Ar r e e u r o p e ia d o s é c u l o \ X ; 2. H i s t ó r i a
I. W o o d , Pa u l; II. T í t u l o ; 111. Sé r ie

C'D D 70 9 .4 0 9 . 1

CosAc: & N AI I - 1' [^ I)IÇÕ I:S

Ru a Ge n e r a l Jai-d im , 770, 2? a n d a r
0122^-010 - Sã o P a u lo - SP
Fo n e : (5511) ^218-1444
Fax: (5511)3255-^^64
i n fo @c o s a c n a i í ' y. c o m . b r
UMA INTRODUÇÃO À ARTE CONCEITUAI

PRECONDIÇÕES E PERSPECTIVAS

3
A VANGUARDA RECUPERADA

4
ARTE COMO IDEIA

5
POLÍTICA E REPRESENTAÇÃO

6
O LEGADO

Su g e s t õ e s d e Lc i t t i r a

í n d i c e Re m i s s i vo

Cr é d i t o s das Ilu st r a çõ e s
I

U m a I n t ro d u ç ã o à A r t e C o n c e i t u a i

C o m o c o n vé m a u m a a r t e d o p e n s a m e n t o , "a r t e c o n c e i t u a i " p r o p õ e p r o b l e m a s d esd e o


in ício . O q u e foi? Q u a n d o o co r r e u ? ( Es t a r á a in d a se n d o cr ia d a , h o je c m d i a , o u já se r á
coisa d o "p a s s a d o "?) O n d e o co r r e u ? Q u e m a p r o d u z i u ? ( D e ve m o s c o n s id e r a r " x " u m
a r t ist a c o n c e i t u a i , o u n ã o ?) E, e n fi m , a p e r g u n t a c e n t r a l: p o r q u ê ? P o r q u e p r o d u z i r u m a
fo r m a d e a r t e vis u a l b asead a n a d e s t r u i ç ã o d as d u as p r i n c i p a i s ca r a ct e r íst ica s d a a r t e t a l
c o m o ela c h e go u at é n ó s n a c u l t u r a o c i d e n t a l , o u seja, a p r o d u ç ã o d e o b je t o s q u e
p u d e sse m ser vist o s e o o l h a r c o n t e m p l a t i vo , p r o p r i a m e n t e d it o ? [ fi g . l ]
Esse n ã o é ap en as u m r e c u r so r e t ó r i c o p a r a i n i c i a r u m l i v r o s o b r e o a ssu n t o . Essas
q u e s t õ e s s ã o r eais. N ã o e st á d e m o d o a l g u m c la r o o n d e se d e ve m fixar os l i m i t e s d a
"a r t e c o n c e i t u a i ", q u a is os a r t ist a s e q u a is as o b r a s a s e r e m i n c l u í d o s . Se o b s e r va d a a
p a r t i r d c u m d e t e r m i n a d o â n g u l o , a a r t e c o n c e i t u a i acab a p o r se assem eYliar u m
p o u c o ao ga t o Ch c s h i r e d e Le w i s C a r r o l l — q u e aos p o u c o s se d is s o lve , a t é q u e n a d a
m a is r est e a n a o ser u m s o i n s o , ov\ x vm vp vK^ ^ jÀç» çkíTS&fcvVs&vxssxv^ ^ ^ wyia d t
p o u c o s a n o s p o r u m n ú m e r o r e s t r i t o d e a r t is t a s , o m a i s i m p o r t a n t e d o s q u a is l o g o se
p ô s a fazer o u t r a s co isa s. E n o e n t a n t o , q u a n d o o b s e r va d a s o b u m o u t r o a sp e ct o , a
a r t e c o n c e i t u a i p o d e a sso m a r c o m o o e ixo e m t o r n o d o q u a l o p a ssa d o se
t r a n s f o r m o u e m p r e se n t e : o p a ssa d o m o d e r n i s t a d a p i n t u r a vist a c o m o a a r t e p o r
\ 'cte«\ êx\ e\ a., Cl cMvo u d o ^ c se e st e n d e d e C é x a n n e a R o t K k o , c o n t r a p o s t o a o p r e se n t e

p ó s - m o d e r n o c m q u e e s p a ç o s c o n t e m p o r â n e o s d e e xp o s i ç õ e s e s t ã o r e p l e t o s d e t u d o
e d e q u a l q u e r co isa , d e t u b a r õ e s a fo t o g r a fi a s , d e p i l h a s d e l i x o a v í d e o s d e t elas
m ú l t i p l a s — r e p l e t o s , a o q u e p a r e ce , d e t u d o , e xce t o d e p i n t u r a m o d e r n a .
O le g a d o d a a r t e c o n c e i t u a i n ã o é a l é m d i s s o d e m o d o a l g u m c o n s e n s u a l .
G r a n d e p a r t e d o s e n vo l vi d o s e s t á a i n d a vi va e q u e s t õ e s c o m o s t a t u s e p r i o r i d a d e
s ã o d e fe n d id a s c o m e xt r e m o z e lo . E m m e a d o s d a d é c a d a d e 9 0 , m e m b r o s a n t i g o s e
a t u a is do g r u p o in glê s A r t e & Li n g u a g e m p r o m o v e r a m u m a g u e r r a ve r b a l n a
i m p r e n s a c o m r e l a ç ã o à h i s t ó r i a d e su as a t i vi d a d e s e m m e a d o s d a d é c a d a d e 70 . N o
c a t á l o g o d c 1989 d e d i c a d o à e x p o s i ç ã o Arte Conceituai n o C e n t r e P o m p i d o u , e m
P a r is — a p r i m e i r a g r a n d e e x p o s i ç ã o a r e c o n h e c e r a a r t e c o n c e i t u a i c o m o u m
f e n ó m e n o h i s t ó r i c o —, o a r t i s t a Jo s e p h Ko s u t h a c u s o u o h i s t o r i a d o r Be n j a m i n
Bu c h l o h d e ser p a r t i d á r i o e t e n d e n c i o s o , d e p o i s d e Bu c h l o h t ê - l o a c u s a d o d e
m e n t i r s o b r e seu ve r d a d e i r o p a p e l n as o r i g e n s d o m o v i m e n t o . M a s esse n ã o er a u m
f e n ó m e n o n o vo . Já e m 1975, o a r t i s t a a m e r i c a n o M e l Bo c h n e r r e c e b e u a t e n t a t i va d a
c r ít ic a L u c y L i p p a r d d e c a t a lo g a r os d e s e n v o l v i m e n t o s d a a r t e c o n c e i t u a i cie 1966 a
1972 e m seu l i v r o Six Years c o m u m a ve e m e n t e c o n d e n a ç ã o , p u b l i c a d a n as p á g i n a s d a
Artjonim , a m a i s i m p o r t a n t e r e vis t a d e a r t e d a q u e l e p e r í o d o . Se g u n d o Bo c h n e r , as
a n á l i s e s d e L i p p a r d e r a m "c o n f u s a s " e "a r b i t r á r i a s ", u m a t o d e " m á - f é " c u j o
r e s u l t a d o se r e s u m i a a p o u c o m a i s d o q u e u m a " p a r ó d i a " d a q u i l o c]ue r e a l m e n t e
a c o n t e c e r a . M u i t o m a is t ar eie, n a d é c a d a d e 9 0 , q u a n d o a a r t e c o n c e i t u a i
"h i s t ó r i c a " c o m e ç o u a se t o r n a r o b j c t o d e c u r a d o r i a s n u m a escala m a i o r , a p r ó p r i a
L i p p a r d v o l t o u a su a a t e n ç ã o p a r a a q u e le s q u e a go r a se m u l t i p l i c a v a m p a r a e xp l i c a r
a su a i m p o r t â n c i a , a f i r m a n d o , c m u m a r t i g o , cju e n ã o c o n fia va n e m n as m e m ó r i a s
d a q u e le s q u e h a v i a m e s t a d o lá , n e m n a s u p o s t a v i s ã o a u t o r i t á r i a d o s h i s t o r i a d o r e s
t ]u e n ã o t i n h a m vi s t o d e p e r t o o m o v i m e n t o .

T a m p o u c o s ã o co n se n su a is os r e la t o s h i s t ó r i c o s s u r g i d o s . O r e t r o s p e c t o d e
L i p p a r d n a r r a u m c o n j u n t o d e e s fo r ç o s — e m q u e é s ig n ific a t iva a p a r t i c i p a ç ã o d e
m u l h e r e s e a r t ist a s l a t i n o - a m e r i c a n o s — p a r a r o m p e r c o m os p r o t o c o l o s d o
m o d e r n i s m o , t i d o , ele p r ó p r i o , c o m o u m b o m c l i e n t e d as a m p l a s e s t r u t u r a s n o r t c -
a m e r ica n a s d e p o d e r . O c r í t i c o e h i s t o r i a d o r Ch a r le s H a r r i s o n vê a a r t e c o n c e i t u a i e
e s p e c ia lm e n t e o t r a b a l h o d o g r u p o A r t e & Li n g u a g e m n ã o c o m o u m a r u p t u r a e m
r e la ç ã o aos p r i n c í p i o s d o m o d e r n i s m o , e m n o m e d e u m n o vo e n g a ja m e n t o c o m a
m o d e r n i d a d e s o c ia l, m a s c o m o u m a n e c e s s á r ia r e f o r m u l a ç ã o d o s f u n d a m e n t o s d a
i n d e p e n d ê n c i a c r ít ic a cia a r t e . P a r a ele, o e n g a ja m e n t o c o m a m o d e r n i d a d e s o c i a l e a
i n d e p e n d ê n c i a e st é t ica n ã o s ã o o p o s t a s . Be n j a m i n Bu c h l o h , p o r su a ve z , j u l g o u a
o b r a d e p e l o m e n o s a lgu n s d o s m a is i m p o r t a n t e s a r t ist a s q u e p r o d u z i a m a r t e
c o n c e i t u a i c o m o u m a "e s t é t i c a d e a d m i n i s t r a ç ã o ", o u seja, u m r e fle xo d as e s t r u t u r a s
d o c a p i t a l i s m o o c i d e n t a l n a su a fase a d m i n i s t r a t i va e p ó s - i n d u s t r i a l ; p a r a Bu c h l o h , a
ú n i c a p r á t i c a "c o n c e i t u a i " a c e it á ve l se r ia a d e u m a c r ít ic a d as i n s t i t u i ç õ e s c u l t u r a i s .
Se r ia i n g é n u o , e m face d essas vi s õ e s c o n t r a s t a n t e s , s u p o r q u e esse l i v r o t e n h a a
p r e t e n s ã o d e c o n s t i t u i r u m a a n á lis e d e fi n i t i va s o b r e a a r t e c o n c e i t u a i .

Nomes
At é m e s m o o n o m e p r o p õ e , d e sd e o i n í c i o , u m a d i fi c u l d a d e . Já m e u t i l i z e i d a
e xp r e s s ã o "a r t e c o n c e i t u a i " p a r a fa z er r e fe r ê n c ia a u m a f o r m a h i s t ó r i c a d e va n gu a r d a
q u e floresceu n o final d a d é c a d a d e 6 0 e ao l o n g o d a d é c a d a s e gu in t e . O t e r m o era
c o r r e n t e m e n t e e m p r e g a d o n a é p o c a , p a r a d e s ign a r u m a m u l t i p l i c i d a d e d e a t ivid a d e s
c o m base n a l i n g u a g e m , fo t o g r a fi a e p r o ce sso s, as q u a is se e sq u iva va m d o e m b a t e q u e
e n t ã o se cfet u ava e n t r e , d e u m l a d o , a a r t e m i n i m a l i s t a e vá r ia s p r á t i c a s "a n t i f o r m a i s "
e, d e o u t r o , a i n s t i t u i ç ã o d o m o d e r n i s m o , n u m c o n t e xt o d e cr e sce n t e r a d i c a l i s m o
c u l t u r a l e p o l í t i c o . O a r t i s t a a m e r i c a n o So l L e W i t t p u b l i c o u os seu s "P a r á g r a fo s
s o b r e a r t e c o n c e i t u a i " e m 1967, s e gu id o s das "Se n t e n ç a s s o b r e a r t e c o n c e i t u a i " c m
1969. Ê t a m b é m desse a n o a p r i m e i r a p u b l i c a ç ã o d a r e vist a Ar t -I.ai i gi i age, q u e t r a z ia o
s u b t í t u l o "Re vi s t a d e a r t e c o n c e i t u a i ". P o r é m o p r i m e i r o a e m p r e ga r , d c fa t o , a
e xp r e s s ã o "a r t e c o n c e i t o " fo i o e s c r i t o r e m ú s i c o H e n r y F l y n t , já e m 1961, e m m e i o às
a t ivid a d e s associad as ao g r u p o Fl u xu s d e N o v a Yo r k . E m u m e n sa io p o s t e r i o r ,
p u b licad o n a Antholog)i d o Fl u xu s (19 6 3), F l y n t escr eveu q u e "a r t e c o n c e i t o " é a c i m a
d c t u d o u m a a r t e n a q u a l o m a t e r i a l s ã o os "c o n c e i t o s ", a r g u m e n t a n d o e m s e gu id a
q u e , " u m a vez q u e 'os c o n c e i t o s ' s ã o e s t r i t a m e n t e vi n c u l a d o s à l i n g u a g e m , a a r t e
c o n c e i t u a i é u m t i p o d c a r t e n a q u a l o m a t e r i a l é a l i n g u a g e m ". N o e n t a n t o u m a
figura in flu e n t e c o m o Lu c y L i p p a r d c o m e n t a r i a cjue a l e i t u r a d e F l y n t d a "a r t e

1
Joseph Kosuth
m e a n - i n g ( m ê n 'ip ) , n . 1. wh a t is m e a n t ; w h a t is i n - Intitulado (Arte como
t en d ed t o be, cr i n fact is, sign ified , in d ica t e d , referred ideia como ideia)
t o , or u n d e r st o o d : sign ificat io n , p u r p o r t , im p o r t , sense, [Sentidol 1967
or sign ifican ce: as, t h e m eaning of a wo r d . 2. [Ar ch a ic], Cópia fotostática sobre
in t e n t io n ; p u rp ose. adj. 1. t h a t h as m e a n in g; sign ifi- papel apoiada em
ca n t ; expressivo. madeira 119.4 x 119.4
Coleção Menii, Houston

c o n c e i t o " b asead a n o Fl u xu s t i n h a p o u c o s v í n c u l o s c o m o q u e ela a cr e d it a va


c o n s t i t u i r a a r t e c o n c e i t u a i d e va n gu a r d a e m N o v a Yo r k , n a s e gu n d a m e t a d e d a
d é c a d a d e 6 o : "p o u c o s d o s a r t ist a s c o m os q u a is est ive e n vo l vi d a t i n h a m
c o n h e c i m e n t o d i s t o , e d e t o d o m o d o , a q u e le era u m t i p o d i fe r e n t e d c ' c o n c e i t o ' ". O
p o n t o e m q u e s t ã o n ã o é se u m a c iis c u s s ã o d o s a n t e ce d e n t e s d e ve r ia ser e xc l u í d a d e
u m e s t u d o d a a r t e c o n c e i t u a i , m as s i m q u e , ao escr ever h i s t ó r i a s d a a r t e , d e ve r í a m o s
b u sca r est ab elece r vi n c u l a ç õ e s h i s t ó r i c o - a r t í s t i c a s p l a u s í ve i s , q u e t a lve z t e n h a m t i d o ,
n a r e a lid a d e , m e n o s i m p a c t o s o b r e a r e a l p r o d u ç ã o d a a r t e d a é p o c a cio q u e se
go st a r ia d e a cr e d it a r .
É c o m t a is q u e s t õ e s e m m e n t e q u e elevem os v o l t a r os o l h o s p a r a u m t e r c e ir o
t e r m o , q u e ve io a t e r a m p l a c i r c u l a ç ã o — o "c o n c e i t u a l i s m o " — e q u e ca r r e ga u m a
va r ie d a d e d e s ig n ific a d o s . T o m a n d o , p o r e xe m p l o , su a c o n o t a ç ã o n a i m p r e n s a : n a fase
i n i c i a l d o c o n c u r s o T u r n e r P r i z e 20 0 0 , n a Ta t e Br i t a i n , e m Lo n d r e s , u m d o s j o r n a i s
in gleses ( q u e n ã o era u m t a b l ó i d e ) vo l t o u - s e d e m a n e i r a n e g li g e n t e e z o m b e t e i r a ao
"c o n c e i t u a l i s m o cie a n i m a l m o r t o e ca m a s d e s a r r u m a d a s " d a a r t e c o n t e m p o r â n e a .
"C o n c e i t u a l i s m o ", ao q u e p a r e ce , p a s s o u a ser i d e n t i fi c a d o , e m a lgu n s r e d u t o s , c o m o
q u a l q u e r c o n j u n t o d e p r á t i c a s c o n t e m p o r â n e a s q u e n ã o se c o n f o r m a m às
e xp e ct a t iva s c o n ve n c io n a i s d e e xp o s i ç õ e s d e a r t e , i s t o é, q u e m o s t r e m o b je t o s fe it o s
p e l o a r t i s t a e vo l t a d o s à c o n t e m p l a ç ã o e s t é t ic a . U s a d o n est e s e n t i d o ,
"c o n c e i t u a l i s m o " t o r n a - s e u m a e s p é c i e d e r ó t u l o c o m u m p a r a a q u i l o q u e os
co n se r va d o r e s d o s t i p o s m a i s va r ia d o s r e p u d i a m n a a r t e c o n t e m p o r â n e a .
H á a in d a u m se n t id o d ia m e t r a lm e n t e o p o s t o d o t e r m o . T o r n o u - s e u m lu ga r - '
c o m u m d o p o l i t i c a m e n t e c o r r e t o a id eia d e q u e o m o d e r n i s m o se e st a b e le ce u c o m o a
a r t e d o O c i d e n t e e, e m p a r t i c u l a r , d a Am é r i c a d o N o r t e e d a E u r o p a O c i d e n t a l ,
a lé m d o m a is , u m a a r t e p r o d u z i d a p e lo s h o m e n s d esses lu gar es.. E, u m a ve z q u e a a r t e
c o n c e i t u a i p a r ece se c o l o c a r n a b r e c h a e n t r e a ú l t i m a fase d o m o d e r n i s m o e a q u i l o
q u e se s e gu iu , l a n ç a r a m - s e t e n t a t iva s d e a m p l i a r seu a lca n ce p a r a a lé m d o t e n t r o
a n g l o - a m e r i c a n o e m q u e ela se e st a b e le ce r a , e s p e c ia lm e n t e n a d é c a d a e n t r e 1965 e
1975. U m a r e ce n t e c o m p i l a ç ã o d e en sa io s i n t i t u l a d a Rewritiiig Conceptual Art a fi r m a q u e
u m a t a l a r t e c o n s t i t u i o t e r r e n o "s o b r e o q u a l cp a se t o d a a a r t e c o n t e m p o r â n e a
a d q u i r i u su a e xi s t ê n c i a ", e q u e , e m seu r e ce n t e florescimento, "o co n ce it u a lism o
t o r n o u - s e e xt r e m a m e n t e d i f u n d i d o , q u a n d o n ã o d o m i n a n t e , n o m u n d o d a a r t e ".
Vi s t o dessa p e r sp e ct iva , o "c o n c e i t u a l i s m o " a ssu m e u n i a d u p l a i d e n t i d a d e . U m a a r t e
c o n c e it u a i "a n a l í t i c a " é r e b a ixa d a , c o m o u m a a r t e fe it a p o r h o m e n s b ran cos
r a cio n a list a s, a t o l a d o s i i o p r ó p r i o m o d e r n i s m o q u e a l m e ja va m c r i t i c a r . A h i s t ó r i a
e xp a n d id a , p o r o u t r o l a d o , c o m e ç a a d e s e n t e r r a r u m e n o r m e c o n j u n t o d e a r t is t a s ,
t a n t o h o m e n s c o m o m u l h e r e s , q u e t e r i a m t r a b a l h a d o , a cr e d it a - se , d e u m a m a n e i r a
"c o n c e i t u a l i s t a " já a p a r t i r d a d é c a d a d e 50, e m u m a sé r ie d e t e m a s e m a n c i p a t ó r i o s
qu e a b a r ca va m d e sd e o i m p e r i a l i s m o at é a i d e n t i d a d e p e sso a l, e m lu ga r e s t ã o
d ist an t es e n t r e si q u a n t o a Am é r i c a La t i n a e o Ja p ã o , a Au s t r á l i a a b o r í g e n e c a R ú s s i a .
O r e su lt a d o é a d efesa d e u m Conceitualism o global — t í t u l o d e u m a i m p o r t a n t e
e xp o s iç ã o o r g a n iz a d a e m N o v a Yo r k e m 1999.

U m a das t ar efas d a p r e se n t e i n t r o d u ç ã o à a r t e c o n c e i t u a i , e n t ã o , é m a n t e r
sep arad os d o t e r m o c e n t r a l esses s e n t i d o s r iva is: ã b s t e n d o - s e d e a c e it a r colno n ão
p r o b le m á t ic a a h i p ó t e s e "c o n c e i t u a i " d e g r a n d e escala, m a s t a m b é m n ã o r e s t r i n g i n d o
a a t e n çã o a u m " c â n o n e " a n g l o - a m e r i c a n o ( e a go r a h i s t ó r i c o ) d o q u e se e n t e n d e
co m o c o n c e it u a i; e vi t a n d o , i g u a l m e n t e , e n xe r ga r a a r t e c o n c e i t u a i c o m o u m p ó s -
m o d e r n i s m o e n ga ja d o avant la lettre, m a s se m d e s c a m b a r p a r a o l a d o o p o s t o , q u e a vê
co m o u m eco e n fr a q u e c i d o d o m o d e r n i s m o b u r o c r á t i c o . O b s e r va r e m o s , com
cu id a d o , as vá r ia s t e n d ê n c i a s q u e t i ve r a m u m p a p e l s i g n i fi c a t i vo n a d é c a d a , c r u c i a l
para essa a r t e , q u e se e st e n d e d e m e a d o s d e 1960 a m e a d o s d e 1970. M a s , an t es d isso ,
é p r eciso vo lt a r os o l h o s p a r a a o r i g e m d a a r t e c o n c e i t u a i — vo lt a r - s e p a r a a su a "p r é -
h ist ó r ia ", p o r assim d iz e r . E, finalmente, c o n s id e r a r , b r e ve m e n t e , a q u e s t ã o d o seu
legad o c o m r e la çã o à a r t e c o n t e m p o r â n e a : a q u i , o q u e se d eve p e r g u n t a r é se a a r t e
co n ce it u a i t e r ia p r e p a r a d o , c o m e fe it o , o c a m i n h o p a r a u m "c o n c e i t u a l i s m o "
in t e r n a c io n a l b e m - s u c e d i d o . •
z

2
Kasimir Malevich

Quadrado preto
PRECONDIÇÕES E PERSPECTIVAS s ^^faigi s
óleo sobre tela
8 0 x8 0
Galeria Tretyakov,
Moscou
A r e la ç ã o e n t r e a a r t e c o n c e i t u a i e o m o d e r n i s m o é u m a s s u n t o fé r t il. O q u e se p o d e
a fir m a r c o m a l g u m a ce r t e z a é q u e o m o d e r n i s m o , n a f o r m a d o m i n a n t e q u e ve io a
a ssu m ir , ao m e n o s n o m u n d o a n g l o - a m e r i c a n o — o u seja, c o m o t e o r i z a d o p e l o
c r ít ic o C l e m e n t Gr e e n b e r g e d i g n i fi c a c io c o m u m " M " m a i ú s c u l o —, e n t r o u e m u m a
crise p r o f u n d a , t a lve z t e r m i n a l , n o fim d a d é c a d a d e 6 o . M a s essa q u e d a n ã o fo i a
p r i m e i r a — o m o v i m e n t o m o d e r n o já h a via p a ssa d o p o r u m a cr ise a n t e r i o r , d a q u a l
c o n s e gu iu se r e c o b r a r e d a q u a l e m e r g i u p a r a se t o r n a r d o m i n a n t e . E p r e c is o
est ab elecer u m a vi s ã o d e st e m o d e r n i s m o h e g e m ó n i c o p a r a m e l h o r c o m p r e e n d e r o
d esafio q u e a a r t e c o n c e i t u a i r e p r e s e n t o u e m r e l a ç ã o a ele. Pa r a t a n t o , é p r e c is o q u e
n os vo l t e m o s p a r a o " o u t r o " d o p r i m e i r o m o d e r n i s m o : a van gu ar cia h i s t ó r i c a ( u m a
d i s t i n ç ã o q u e d e vo ao h i s t o r i a d o r a l e m ã o Pe t e r Bú r g e r ) .

FORMA
O p r i m e i r o m o d e r n i s m o f o i t r a n s c u l t u r a l e t r a n s - h i s t ó r i c o c m seu i m p u l s o i n i c i a l .
O s c r í t i c o s d o g r u p o d e Bl o o m s b u r y , Cl i ve Be l l e Ro g e r Fr y, i s o l a r a m , n u m a •
d e fin iç ã o fa m o sa , a c a r a c t e r ís t ic a p r i n c i p a l d a a r t e c o m o " f o r m a " : " f o r m a
s i g n i fi c a n t e ", p ar a Be ll, " f o r m a e xp r e ssiva ", p a r a Fr y. D e a c o r d o c o m Be ll , F r y e
o u t r o s , a a r t e m o d e r n a , c o m o fo i est ab elecicla p o r C é z a n n e , o fe r e cia a p r o m e s s a d e
u m a l i b e r t a ç ã o d a t r a d i ç ã o a c a d é m i c a p o r m e i o d a ê n fa se so b r e a f o r m a p i c t ó r i c a .
Isso p o d e r i a t e r u m e fe it o so b r e as e m o ç õ e s d o e s p e c t a d o r s e n s íve l c o m p a r á v e l aos
efeit os d o s o m e m m ú s i c a ; o u seja, i n d e p e n d e n t e d a q u i l o q u e as fo r m a s p o d e r i a m
r ep r esen t a r . Essa c o n c e p ç ã o c o i n c i d i a c o m os m o v i m e n t o s t ]u e se c fe t iia va m , n a
p r á t ic a , e m d i r e ç ã o a u m a a r t e i n t e i r a m e n t e a b s t r a t a ; u m a a r t e "p u r i f i c a d a " d e t r a ç o s
n a r r a t ivo s o u d e s c r it ivo s , e q u e agia so b r e o e s p e c t a d o r c o m o "m t i s i c a vi s u a l ".
A o b r a q u e p ar ece t e r i n a u g u r a d o o m u n d o d a a r t e a b st r a t a , c o m o u m a e s p é c ie d e
m a n i fe s t o vis u a l, f o i o Quadm iopreto snprcuiatista d e Ka s i m i r M a l e v i c h , e x i b i d o e m
P e t r o g r a d o e m d e z e m b r o d e 1915 [ fi g . 2 ] . T a n t o M a l e v i c h q u a n t o M o n d r i a n
a p r o ve it a r a m - se d a a b e r t u r a leva d a a c a b o p e l o c u b i s m o e, a p a r t i r d o s p r i m e i r o s
e n c o n t r o s c o m esse m o v i m e n t o , p o r vo l t a d e 1911-12, a t é m a is o u m e n o s 1914-15,
d e r a m i n í c i o à a b s t r a ç ã o d e t r a ç o s r e c o n h e c í ve i s d o m u n d o , p o r m e i o d e su as
p i n t u r a s . Esse p r o c e s s o d e a n á lis e vi s u a l d e se n vo lve u - se , p o r é m , ap en a s a t é o p o n t o
d a c r ia ç ã o d e u m a a r t e "a b s t r a í d a " d a r e a lid a d e , m a s a i n d a e n r a iz a d a e m g é n e r o s
c o m o p a isa ge m , r e t r a t o e n a t u r e z a - m o r t a . O q u e ela p ar ece t e r fe i t o , ap esar d isso , f o i
cr ia r a p o s s ib ilic ia d e d e u m a a r t e i n t e i r a m e n t e a b s t r a t a , cu ja r e fe r e n cia p a r a c o m u m
m u n d o e xt e r i o r cfist in gu íve l t ivesse
s i d o e l i m i n a d a . A a b s t r a ç ã o falava d e
u m a b u s ca d a e s s ê n c ia p i c t ó r i c a e d e
u m a lib er t ação d o s lim it es t r a d icio n a is
qu e i n c i d i a m sob r e a ar t e.
Essa l i b e r d a d e , n o e n t a n t o ,
i m p l i c a v a a lg u n s p e r i g o s , o s q u a i s t ê m
r o n d a d o a art e ab st r at a ao l o n g o d a
su a e xi s t ê n c i a . Q u e m t e r i a a
a u t o r i d a d e p a r a d i z e r se u m a
e s p e c í fi c a c o n f i g u r a ç ã o d c f o r m a s c
co r e s c o n s t i t u i u m a " h a r m o n i a
f o r m a l " , u m " t o d o e s t é t i c o " — o u se
ela é fa lh a n a su a t e n t a t iva ? N a p r á t i c a ,
essa t o r n o u - s e u m a q u e s t ã o q u e
e n vo l vi a a q u i l o q u e o a r t i s t a a fi r m a va ,
o u , m a i s p r e c i s a m e n t e , a c ]u ilo q u e e r a
a fir m a d o p e lo cr ít ico d e ar t e. E u m
s is t e m a d e p e n d e n t e d e u m a
a u t o r id a d e cr ít ica é t a m b é m u m
s is t e m a c u jo s flancos se a b r e m a
sa r ca sm o s e à s a t i r i z a ç ã o . D a í a b r i n c a d e i r a d o s p r i m e i r o s va n gu a r cfist a s d e le va r u m
c r í t i c o a se d e r r a m a r , e m l i r i s m o , s o b r e u m a " p i n t u r a " a b s t r a t a fe it a c o m u m p i n c e l
a m a r r a d o a o r a b o d e u m b u r r o . F o i esse t i p o d e p r o b l e m a q u e M a r e e i D u c h a m p
r e s s a lt o u , d e m a n e i r a a g u d a , q u a n d o d o s u r g i m e n t o d a a b s t r a ç ã o p r o p r i a m e n t e
d i t a . T a i s o b r a s f o r a m , d e sd e e n t ã o , a m p l a m e n t e in ve s t iga d a s c o m o o s
p r e d e ce sso r e s d a a r t e c o n c e i t u a i : o s rcadyinaAes.

• CONTEXTO
D u c h a m p c o m e ç o u , já c m 1915, a r e c o l h e r o b je t o s q u e n ã o h a vi a m s i d o e la b o r a d o s
o r i g i n a l m e n t e c o m o o b je t o s d e a r t e , m a s s i m c o m o co isas c o m u n s e u t ilit á r ia s —
t r a n s p o n d o - o s e n t ã o d o seu c o n t e x t o u s u a l p a r a u m a m b i e n t e i n t e i r a m e n t e e s t r a n h o :
o c o n t e xt o d a a r t e . O p o n t o e m q u e s t ã o er a q u e , se P ica sso o u T i t l i n o u seja lá q u e m
fosse t ivesse e l a b o r a d o u m o b j e t o d e m e t a l e p a p e l ã o , o u a r a m e e m a cie ir a , p r o b l e m a s
p o t e n c i a l m e n t e c o m p le xo s i n c i d i a m so b r e a i d e n t i d a d e desse o b j e t o . T o m a r u m
o b j e t o d essa n a t u r e z a c o m o o b r a d e a r t e era u m fa t o p a r a o q u a l n ã o h a via
a n t e ce d e n t e s, fd o je é fácil ver a p o s s i b i l i d a d e d e u m e r r o c r u c i a l e n t r e o a t o d e
e st a b e le ce r a i d e n t i d a d e d e a lgo c o m o
u m a o b r a d e a r t e — c o m b ase n a "
q u a l i d a d e f o r m a l e sse n cia l q u e o •
o b j e t o p o s s u i e o o p o s t o t o t a l d isso :
t r at ar o o b je t o c o m o art e n ã o p o r
cau sa d e u m a "e s s ê n c i a " f o r m a l c o m ,a
q u a l t o d o s c o n c o r d a m o s , m as e m
d e c o r r ê n c i a d e fa t o r e s c o n t e xt u a i s , t a is
c o m o o fa t o d e a o b r a v i r a p ú b l i c o c m
u m a e xp o s iç ã o de ar t e o u de t er sid o
p r o d u z id a p o r algu ém a q u e m a
Mareei Duchamp
i d e n t i d a d e "a r t i s t a " já t ivesse s i d o
Suporte para Garrafas
c o n fe r i d a . O p r i m e i r o "readyiiiade sem 1914, réplica 1964
a s s i s t ê n c i a " cie D u c h a m p f o i u m Metal
s u p o r t e d e m e t a l p a r a ga r r a fa s [ fi g . 3]. Edição de oito
réplicas, altura 64,2
Ap e s a r d a su a a l e g a ç ã o d e q u e a
cada
e sco lh a d o o b j e t o t i n l i a s i d o a r b i t r á r i a , Arquivos de Mareei
Duchamp/ Edições
t a lve z ele t e n h a o p t a d o p o r a lgo
Arturo Sciiwarz, Milão
b a st a n t e p r ó x i m o d o t i p o d e e l e m e n t o s
qu e c o m e ç a va m a em er gir c o m o
fo r m a s e s c u l t ó r i c a s , c o m o o b j e t i vo d e Mareei Duchàh

fo r ç a r a cju e st ã o s o b r e o q u e era e n ã o Fonte 1917,


réplica 1964
era a r t e — o n d e t e r m i n a va o d o m í n i o
Porcelana
d o e s t é t i c o e c o m e ç a va o d o u t i l i t á r i o .
3 0 x4 8 x6 1
A ve r d a d e ir a c e le u m a s u r g i u a lgu n s Tate

a n o s m a is t a r d e c o m a Fonte d e '
D u c h a m p [ fi g . 4 ] . A h i s t ó r i a é
Jean-Léon Gérôme
c o n h e c i d a d e t o d o s . D u c h a m p , já
OPtiCien 1902
e n t ã o u m a r t ist a b cm -e st a b e le cid o , era
Óleo sobre tela
u m d o s m e m b r o s d o co m it é de se le çã o 8 7 x6 6
Coleção particular
e m u m a e x p o s i ç ã o a b e r t a d e e scu lt u r a s
e m N o v a Yo r k . Ele c o m p r o u u m u r i n o l
e m u m a l o j a d e fe r r a ge n s e o s u b m e t e u
c o m o e s c u lt u r a — a ssin a d a c o m o
p s e u d ó n i m o " R . M u t t " — aos o u t r o s
m e m b r o s d o co m it é. A ob r a fo i
r e je it a d a p e l o jú r i — ap esar d o s u p o s t o
c a r á t e r a b e r t o d a e xp o s i ç ã o , a c e s s íve l a
q u a l q u e r u m q u e p agasse a t a xa d e
in s c r iç ã o — e n ã o fo i e xi b i d a . As a l e g a ç õ e s e r a m d e q u e a o b r a era d e c e r t o m o d o
" i m o r a l " ; d e q u e se t r a t a va "s i m p l e s m e n t e " d e u m a p e ç a d e b a n h e i r o , c a ssim p o r
d ia n t e . A q u e s t ã o se fez a in d a m a is s e r ia m e n t e c ó m i c a p e la s e m e l h a n ç a f o r m a l e n t r e
o u r i n o l e as e scu lt u r a s a b st r a t a s o r g a n i c a m e n t e m o l d a d a s cie C o n s t a n t i n Br a n c u s i ,
a lgu m a s das q u a is já t i n h a m s i d o e xp o st a s n o s Es t a d o s U n i d o s .

12
LINGUAGEM
Du ch a m p m ar cou sua p osição com u m su p ort e para garrafas, um a pá dc neve e u m
u r in o l, em bora t am b ém ten h a u t iliz a d o a lin gu agem com o u m a crit ica à art e.
A relação da lin gu agem para co m a art e m od er n a é curiosa. N u m cert o n ível, o
m o d er n ism o expu rgou da arte a lin gu agem . A arte acad ém ica havia sid o altam en t e
t eorizad a, cen trada na p r oxim id ad e da arte e d a lit er at u r a — n o recon t ar, cm t erm os
visuais, de n arrat ivas p red om in an t em en t e clássicas e b íb licas. O m o d er n ism o rom p e
co m esse vín cu lo. N o ç õ e s com o a de u m "o l h o in ocen t e" o u de u m a arte que
apelasse apenas ao olh ar som aram -se a u m d o m ín io n o q u al a lin gu agem , co m as suas
con ot ações de n atureza m en t al e racion al, é elim in ad a. Em seu lugar são p r ior izad os
sen t im en t o e em oção. N u m o u t r o sen t id o, n o en t an t o, o m o d e r n ism o c perseguido
pela lin gu agem . Malevich , M o n d r i a n c Kan d in sky, t od os eles escreveram sobre a
t eoria d a abst ração. N o cu b ism o, as palavras aparecem nas p in t u r as e nas colagens
p r op r iam en t e d it as. Em geral, é
com o se a relação da lin gu agem
para com a arte m od er n a fosse a
de estabelecer os t erm os d o
en con t ro em ocion al d o
espectador e da obra.
O espectador seria p osicion ad o
pela t eoria, antes de estar livre
para sen tir. Part e da revolu ção d o
m o d er n ism o con sist iu em afastar
a arte de u m d o m ín io p ú bt íco de
lin gu agem e n arrativas
com p art ilh ad as, levan do-a para
u m a esfera de em oção e
sen t im en t os privad os, na qu al
esses ú lt im os são vistos de certa
for m a com o u m a in st ân cia m ais
fu n d am en t al d o que as palavras, c
mais "u n iver sal". U m a das
est rat égias de Du ch a m p era a de
prom over a con t am in ação d o

m u n d o dos sen t im en t os in efáveis com u m a série de t r ocad ilh os espirit u osos ( o u


t erríveis), com o o " L H O O Q " (qu e, sc lid o em voz alt a, soa com o elle a chand aii cid: "ela
t em u m a bu n d a q u e n t e ") , legen dan do u m a Mo n a lisa o u t r o r a casta e agora b igod u d a;
c o n om e que ele cr iou para o seu alt er ego fem in in o, Rrose Selavy (eros: c'est la vie;
"eros, a vid a é isso a í") — p er t u r b an d o, co m essas atitucies, a son oridacie d o cân on e e
da au t oria art íst ica. U m a das pret en sões d o p r im e ir o m o d e r n ism o era a ad oção, p o r
part e dos art ist as, d o papel r om ân t ico de profetas vision ários o u de b ob os sagrados.
Co m as suas in sin u ações sexuais e sua con t am in ação p o r aq u ilo que Kan d in sky
ch am ou de "o esp ir it u al na ar t e", Du ch a m p , p o r m eio de u m a série de objet os
u t ilit ários com u n s, força a ju n ção d aq u ilo que os sacerdotes separariam . O cart az de
loja d o p in t o r acad ém ico Jean -Leó n Gé r ô m e , baseado n u m t r o cad ilh o , co m certeza
não foi con cebid o p o r ele com o "a r t e " [fig. 5]. N a obra dc Du ch a m p , t r ocad ilh os e
brin cadeiras levan t am sérias qu est ões sobre as fron t eiras da art e.
O u t r o s artistas de vanguarda con t in u ar am a exercer essa espécie de jogo crít ico.
O d ad aíst a Faneis Picabia, ao p r o d u z ir u m a p in t u r a feit a quase que in t eiram en t e de
assinaturas, brin cava com a n oção de lin gu agem e de arte visu al co m o sistemas de
represen t ação d ist in t os, mas relacion ados [fig. 6 ]. Ma is t arde, o surrealist a Re n é
Ma gr it t e avan çou essas qu est ões co m a p in t u r a de u m cach im b o à q u al deu o t ít u lo
Isso não c um cachimbo. Dc m o d o sim ilar, na sua p in t u r a de u m espelho de m ão, aparece,
em vez d o reflexo de u m cor p o h u m an o, o equivalen te lin gu íst ico Corps bumainc
[fig. 7]. Jun tam en t e co m os d ad aíst as e surrealistas, ain d a que n u m regist ro d iferen t e,
os con st ru t ivist as soviét icos sc volt ar am para u m a crít ica à obra de art e esteticam en te
au t ón om a e à fo r m a de vid a que a sustentava. Co m a sua n oção de art e-em -
p rod u ção, rep u d iaram a art e com o u m
sin t om a da sociedade burguesa, P A U I "^t fim I Ot

susten tan do que a arte deveria ser DKBA


r í y ^ V LDEIL CACODYLATC
• su bst it u íd a p or con t rib u ições prát icas
.'K. v'.:i
à con st ru ção d o socialism o. A crít ica
ao in d ivid u alism o bu rgu ês a n im o u , em
igu al m ed id a, a vanguarda d o Leste e
DEUI L
d o Oeste, apesar das diferen tes
circu n st ân cias em que se en con t ravam .
• 10*

HISTÓRIA
Nas prim eiras décadas d o sécu lo o
m o d er n ism o t or n ou -se, dessa m an eira,
u m m o vim en t o estabelecido, co m a
realização de u m a arte au t ón om a e
in t eiram en t e abstrata. Por trás da
aparente au t orid ad e e au t o-su ficiên cia,
n o en t an t o, escondia-se u m a
in st abilid ad e con ceit u ai, que os
vanguardistas m ais crít icos logo
t rou xeram à lu z. M u i t o s dos temas
recorren tes da p r im eir a vanguarda,
com o a id en t id ad e da obra de art e, a
relação entre arte c lin gu agem , a
relação da arte co m o m u n d o da FRAMci j PI CABI A
p r od u ção de m ercadorias, con t r ap ost o
t a u m a id eologia de in d ep en d ên cia e de valor esp ir it u al, além dc pergun t ar-se o que
era exatamente aq u ilo que o art ist a fazia, p o d em ser vist os co m o prefiguradores da
p ost erior arte con ceit u ai. O m ais surpreen den t e é, t alvez, a rap id ez co m a q u al as
coisas for am cfctuadas. A alt u ra da Pr im eir a Gu erra M u n d i a l — t en d o, dc u m lad o, a
arte abstrata e, de o u t r o , o rcaiymadc —, os lim it es con ceit u ais t an t o d o essen cialism o
qu an t o d o con t ext u alism o já t in h a m sid o esb oçad os. Algu n s p ou cos anos m ais t arde,
p ost eriorm en t e à Revolu ção Bolch evist a, os con st ru t ivist as passariam a rejeit ar a art e
en qu an t o t al. O m o d er n ism o fo i, p o r assim d izer, estabelecido e t est ado até a
d est ru ição d en t ro dc u m m esm o p er ío d o h ist ór ico.

U m a d u p la pergu n t a se coloca, en t ão, de m an eira en fát ica. Sob cert os aspectos,


ela é u m a pergu n t a in gén ua, para a qu al n ão há resposta. Mas, p o r o u t r o lad o.
levan do-sc em con sid eração o c]ue já vim os, essa pergu n t a pode ser, t am b ém ,
in t r igan t e. Pr im eir o , com o é que o m o d e r n ism o sobreviveu? Segu n d o, p o r que a arte
con ceit u ai levou t an t o t e m p o para aparecer? Se os p ó lo s d o m o d e r n ism o e da
vanguarcia foram estabelecidos de m an eira t ão p rem at u ra, p o r que n ão v i m o s su rgir
um a arte con ceit u ai in t eiram en t e desen volvid a já p o r volt a de 1918, o u ain d a, na
d écad a de 20 , em lugar d o seu su r gim en t o, acon t ecid o som en t e p o r volt a de 1968 e
estendendo-se ao lon go da d écad a de 70 ? A resposta envolve o recon h ecim en t o de
que a arte n ão é sim plesm en t e u m sistema in d epen d en t e de sign ificação. Ela é, na
verdade, u m a p rát ica social, e a gama de p ossíveis sign ificados a sua d isp osição em
qu alqu er t em p o e p er ío d o é circu n scrit a p o r u m con t ext o h ist ór ico. Co m o se t o r n o u
pat en t e m ais t arde, a crise p olít ica d o in ício d o sécu lo XX n ão r esu lt ou n u m a nova
ord em m u n d ia l. O socialism o in t er n acio n al n ão acon teceu. O sistem a cap it alist a
h erdado d o sécu lo XIX e que se desfez
em 1914 fo i restabelecido na d écad a de
20, apenas para en t rar em u m a
p rolon gad a crise, m ais um a vez, cm
1929: u m a crise que n ão se resolveu até
Francis Picabia

i:oeil cacodyiate 1921


1945. Mas, depois da r u p t u r a p o r volt a

Ól eo sobre tel a e
de 1914-21, o status fio se viu em p o sição
col agem de restabelecer o con t r ole. Ao lon ao
148, 6x117, 4 o
Musée Nat i onal d' Art desse p er ío d o, a p rát ica da arte
Moder ne - Cent r e
Geor ges Pompi dou,
m od er n a parece t er se t r ian gu lad o dc
Pari s acordo com as op ções d o m o d e r n ism o ,
da vanguarda e d o realism o social,
algum as vezes cm suas form as puras,
René Magritte
algum as vezes de m an eira até cert o
O espelho mágico
1929 p o n t o h íb r id a. Deve-se m en cion ar,
Ól eo sobre tel a além disso, que o debate acon t ecia em
73x55
u m espaço r est r it o, à m ed id a que a
Tl i e Scot t i sh Nat i onal
Gal l eryof Moder n Ar t , d écad a de 30 avan çava: na Eu rO p a n ão -
Edi mbur go ocupada ( p r in cip a lm en t e Par is e, n u m a
escala m en or, Lon d r es) e nos Est ados
Un id o s (p r in cip alm en t e No va Yo r k ) ,
já que Ber lim e Mo sc o u t in h a m sc
t o r n ad o lugares bastante h ost is á
prát ica cia arte m od er n a. As s i m , p od em os respon d er à nossa p ergu n t a da seguin te
for m a: o m o d er n ism o , n aquela co n ju n t u r a, conteve o seu p ot en cial em an cip at ór io.
Con t r a u m pan o de fu n d o de fascism o e d it ad u r a, u m a arte in d ep en d en t e
desenvolve, em si e em relação a si m esm a, u m agu çad o cort e crít ico. O m o d e r n ism o
au t ón om o teve os seus "o u t r o s ", vir t u alm en t e a p a r t ir d o in ício cio m o vim e n t o , na
form a das vanguardas crít icas d o d ad á, su rrealism o e co n st r u t ivism o . Mas, n o t o d o ,
manteve-se h egem ón ico, en qu an t o as vanguardas eram o u su bord in ad as a ele o u
ext in t as. E com o sc, para que fosse rejeit ad o logicam en t e com o ob solet o e en t ão
su b st it u íd o — para que se desafiasse o que Mich a e l Fr ie d ch am ou de a sua "co n d içã o
p r im o r ciia l" ( o u seja, que a arte é feit a para ser olhada^ —, o m o d e r n ism o tivesse,
p rim eiram en t e, de fazer com que t o d o o seu p ot en cial fosse u t iliz a d o . Apesar d o
rcaiymadc e d o p r o d u t ivism o , isso am e ia n ão havia sid o feit o.

15
3

A VANGUARDA RECUPERADA

A crise p olít ica da d écad a de 30 p air ou am eaçad ora sobre o m o vim en t o m o d e r n o na


arte e as possibilid ad es que ele abria. As regras básicas apenas se m o d ificar iam ap ós a
recon figu ração d o m u n d o a p a r t ir d o final da d écad a de 4 0 , co m a d er r ot a d o
f-ascismo, o in ício da era n uclear e o com eço da Gu er ra Fria. Dep o is d o p er ío d o
in icial de recon st ru ção d o p ós-gu er r a, em m eados da d écad a de 50, o realism o
p ict ór ico passou a ser id en t ificad o co m a repressão e o con servad orism o p olít ico, ao
passo que o m o d er n ism o , p o r sua vez, t om ava fôlego, de m o d o espetacular, d an d o
origem à escola de N o va Yo r k . Jackson PoUock, Cliffo r d St ill, Barn et t N e w m a n ,
M a r k Ro t h k o e ou t ros passaram a p r o d u z ir arte abstrat a n u m a escala e co m t a l
seguran ça que pareciam dar m argem a algo n ovo, que n ão fora acessível a Piet
M o n d r ia n , Joan M i r ó e artistas abstratos de u m a geração an t erior. A t eoria m od er n a,
além disso, desenvolveu-se m ais n ot avelm en t e nos ensaios e crít icas de Clem en t
Green berg e, m ais tarde, de Mich a e l Fr ied . Alé m disso, p o r trás dessa realização
in ten sa, a base in st it u cio n al d o m o d er n ism o cscorava-se n u m a exp an são de galerias,
museus e p u blicações. A relação en tre a arte m od er n a e o seu su p or t e in st it u cio n a l
n ão é, n o en t an t o, d iret a. N a d écad a de 4 0 e in ício de 50, a p ost u ra de PoUock,
Ro t h k o e de ou t ros era decisivam en te de op osição . E d ifícil d izer que a arte deles
ten h a sid o feita para o m u n d o que a con su m ia; se algo pod e ser afirm ad o, c que ela
foi feita a despeito desse m u n d o , o u co m o part e de u m a t en t at iva de sobreviver a ele.
E n o en t an t o, m u it o s h ist oriad ores t o r n a r a m essa sep aração in d ist in t a , reagin d o às
reivin dicações de in d ep en d ên cia da arte m ed ian t e u m p o n t o de vista que vin culava a
arte m od ern a ao p od er am erican o. N a alt u ra da d écad a de 6 0 , n o con t ext o m u it o
diverso de o p o sição à gu erra d o Viet n ã, essa fo i a m a n e i r a pela q u al as coisas
passaram a ser vistas. N o p er ío d o d o im ed iat o p ós-gu er r a, n o en t an t o, a art e
m od er n a n ão t in h a ain d a sid o in t eir am en t e exaurida em seu p od er de crít ica.
Paralelam en te ao florescimento d o m o d e r n ism o , na d écad a dc 50, h ou ve
t am bém u m a regen eração da van guarda, em u m co n ju n t o de at ividades art íst icas
n ão vin culadas a u m m eio específico. As sementes de u m a arte con ceit u ai au t ó n o m a
p od em ser localizadas aqu i. O en t u lh o das guerras ( in clu in d o o da Gu erra Fr ia )
sot errara a vanguarda. A vanguarda soviétic,Tlcrr"STn Tplcsfflen t e elim in ad a. Apen as
' depois da p u b licação dc The Great Experiiiient, de Cam illa Gray, em 1962, é que se
t o r n o u visível a m agn it u d e daquele m o vim e n t o . O su rrealism o havia se rec-luzido, na
\ a m od er n a, ao im agin ário on ír ico de Salvad or D a l i e de Re n é M a gr it t e . M i r ó era
\ o com o u m art ist a m o d e r n o abst rat o, c ignorava-se o raciicalism o t écn ico de M a x
Er n st . Green berg ju lgo u os art ist as surrealistas co m o "rest auradores d o passado
lit e r a l" e "agentes avan çad os de u m a nova art e con fisrm ist a e volt ad a ao m er cad o ".
^7 W alt er Ben jam in , que em seu fam oso e n sa io "A obra dc art e na era de sua
r ep r o d u t ib ilid ad e t écn ica" afirm ara que o su rrealism o e o b olch evism o eram a
est ru t u ra básica c gém ea d o seu pen sam en t o crít ico, perm an eceu , até a t r ad u ção de
seu ensaio em fins da d écad a de 6 0 , t o t alm en t e d escon h ecid o nos países de lin gu a
inglesa. At é m esm o Du ch a m p teve que ser t r a z id o n ovam en te à baila pelos art ist as da
recém -su rgid a vanguarda de m eados d a d écad a de 50; Jasper joh n s, Ro b e r t
Rau sch en berg e Joh n Cage nos Est ad os U n id o s , e Rich a r d H a m i l t o n na In glat er r a.
• O que se passou, p or t od a p art e, foi m en os u m a qu est ão dc vanguardas origin ais
in sp ir an d o u m a nova geração, d o q u e a in ic ia t iva dessa geração de co n st r u ir suas
p róp rias posturas crít icas d ian t e dc u m m o d e r n ism o t r iu n fan t e (e de u m cap it alism o
con su m ist a t r iu n fan t e), red escob rin d o, nesse processo, os seus antecedentes.

RAUSCHENBERG
O m o d er n ism o d o p ós-gu er r a am erican o fo i, co m a n ot ável exceção de Bar n et t
N e wm a n , essencialm ente u m a c ^ o la de ab st ração gestual. Jackson Po llo ck, Cliffo r d
St ill, W i l l e m de Ko o n in g, Ar sh ile Go r k y, Fran z Klin e e m esm o M a r k Ro t h k o , t od os
d epen d em de u m a con vicção q u an t o à au t en t icid ad e in t u íd a e da necessidade de um a
m arca au t oral — a con vicção de que a sin gu larid ad e de u m d et er m in ad o t raço, feit o
p o r aquele d et er m in ad o in d ivíd u o, em resposta a u m a circu n st ân cia específica,
precisam ente p o r ser t ão verdadeiro e ú n ico, escapa à con t in gên cia e ascende a u m
p lan o un iversal de sen t im en t o. E en t ão, o que faz Ro b e r t Rausch en berg? De m an eira
con scien te c d eliberad a, ele p m t a a m esm a coisa duas vezes. Kietiiiii Ic Eictuin 11 [figs.
8-9 ] são obras com plexas. Rau sch en berg com eçara p r o d u z in d o "t elas com b in ad as",
em m eados da d écad a de 50, fazen do t ab u la rasa da especificiciade d o m eio da
' p in t u r a m od er n a: os seus t rabalh os apresentavam fot ografias, jor n ais, objet os
descartados, in clu in d o u m gran d e n ú m er o de an im ais em palh ad os e de d et r it o s .
au t om ot ivos. Ele p r o cu r o u , cm suas p r óp r ias palavras, operar n o lim ia r en tre a art e e
a vid a, o que talvez im p liq u e operar n o lim ia r en tre u m a m o d er n id ad e u rban a,
' con su m ist a c con d u zid a pela m id ia , e aq u ilo cpe Green berg ch am ou efe "p in t u r a de "
t ip o am erican o". Pelo p ad rão de algum as cias suas prociu ções m a is recentes, as obras •
Etctiiin Ic Ejctniii Z/ são relat ivam en t e m odest as. As p in t u r as rem et em , claram en t e, ao
carát er ú n ico da ob ra de art e, em part e p o r m eio da in co r p o r ação de fot ografias, em
part e p elo at o de d u p licar que ali t o m a co r p o , ele p r ó p r io r ep et id o de m an eira
recorren t e (d ois ed ifícios cm cliam ns p in t ad os duas vezes; d ois presiden tes
Hisenliovver, duas vezes; um a fot ograh a de duas ár\ 'orcs, duas vezes). As marcas da
arte p r op r iam en t e d it a são d u plicad as, n o en t an t o, dc u m m o d o ain da m ais
específico, nas repetidas obras, cobert as cie b or r ões e m anchas, das p in t u r as
expressionistas abstratas. Essas p in t u r as são um a prova de espon t an eidade^ a_
au t en t icid ad e c, a li, colocada en tre asjías^ A m at éria p r in cip al da obra é a—:
in st it u cion alização da espon t an eidade.
FiKtiiin I c Factiiiii / í necessitam um a da o u t r a. O sen t id o da obra emerge n o esp aço
entre as duas p in t u r as, o u , t alvez, en tre at]uele esp aço e u m t erceiro elem en t o; a

d escrição, ou t ip o , "p in t u r a abstrata gest u al". N o final da d écad a dc 50, co m o assim


ch am ado expression ism o abst rat o de "segu n da ge r a çã o ", a lu t a pela au t en t icid ad e
t orn ou -se u m est ilo. Q u a t r o anos antes, Rau sch en berg havia t eim ado um a espécie
diferen t e de d ist ân cia com relação à ab st ração gestual n o icon oclast a Desenho dc De "
Kooning Apci^^ado [fig. 10]. Rau sch en berg obteve u m desen h o de De Ko o n in g, com o
ap t )io desse ú lt im o (ele d ir ia mais tarde que escolheu u m b o m desen h o, para t o r n a r
difícil o seu apagam en t o) e en t ão se p ôs laboriosam en t e ao t rab alh o, esfregan do a
superfície d o cfesenho até ap agá-lo. Co m o u m a espécie de sím b o lo crít ico, o De
Ko o n in g apagado d ificilm en t e p od eria ser m ais eco n ó m ico : u san do o gesto para

18
ext in gu ir o gesto, u t iliz a n d o o m esm o recurso de con struç.ão dc scn ticio para desfazer
u m co n ju n t o dc sen t idos e in st it u ir u m o u t r o , d evolven d o a u n id ad e estética
alcan çada pela obra fin alizada à u n id ad e p r im o r d ia l on d e ela t em a sua origem — o
vazio da tela o u da folh a dc papel (se bem que visivelm en t e ímhalhaAo). De m od os
diversos, t an t o u m q u an t o o o u t r o t r ab alh o d cRau sch en b er g represen tam respostas
à qu est ão "Co m o prossegu ir?", u m a ve^z cant o lim it e cia expressão in d ivid u a l já fora
at in gid o e, além d o m ais, cod ificad o eir íiim sistem a.
Du ch a m p com en t ara, na d écad a dc 40 , que a sua in t en ção com os nadymaács, u m
q u ar t o dc sécu lo antes, fora a de fazer co m que a art e se voltasse ao pen sam en t o —
entediacfo que estava co m as lim it ações dc u m a art e a serviço apenas dos sen t id os.
Por m eio da sua am izade com o co m p o sit o r Joh n Cage, o legado de Du ch a m p
passou a ser associado a u m a geração m ais jovem dc art ist as, eles p r ó p r io s buscan do
u m cam in h o que se estendesse além d o m o d e r n ism o , m esm o t en d o co m o pan o de
Robert Rauschenberg fu n d o circu n st ân cias m u it o diversas daquelas enfrentadas p o r D u ch a m p às vésperas
Factml 1957 da Prim eir a Gu er ra M u n d i a l . O elem en t o c o m u m que anim ava o d ist an ciam en t o
Ól eo, nanqui m, cr ayon, crít ico das duas gerações em relação ao seu respectivo m o d e r n ism o era sua p ercep ção
papel , t eci do,
reproduções de j ornal e da arte com o u m sistem a. Apesar cia já m u it o ensaiada e rep et id a id eologia de
papel pi nt ado sobr e purificação e ciestilação, da necessidade de desfazer-se da bagagem cu lt u r al c descer
tel a
aos fu n d am en t os e â base da sign ificação, a art e abstrata, nas suas variadas form as,
155, 9x90, 2
Museumof op erou com u m sistem a in st it u cio n alizad o de p r o d u ção de sen t id o — co m
Cont empor ar y Art , Los p rod u t ores, d ist r ib u id or es e con su m id ores que circu lavam , de fo r m a in t erligad a, em
Angel es
Col eção Panza t o r n o uns dos ou t r os. A t eoria m od er n a via a "e xp r e ssã o " com o u m cort e na raiz da
"co m u n ica çã o ", com o ir r o m p e n d o , através das con ven ções, na d ireção da n at ureza
h um an a — u m a esfera sit uada, p or assim ciizer, n u m p lan o an t er ior à lin gu agem c às
Robert Rauschenberg
con ven ções. O am igo de Rau sch en berg e seu com p an h eir o nas artes Jasper Johns
f 3Cí um/ / 1957
resu m iu a d ist ân cia que m a n t in h a m em relação a essa p ost u ra na sua m áxim a
Ól eo, nanqui m, cr ayon,
"Co m e ç o a acredit ar que a p in t u r a seja u m a lin gu agem ". Johns dava in ício à t en t at iva
papel , t eci do,
reproduções de j ornal , de fazer u m a obra à lu z de u m a visão de sign ificad o ext raíd a da iilt im a fase da
e papel pi nt ado sobr e filosofia de Lu d wig W it t ge n st e in : "o sign ificad o é o u so". O u seja, as palavras
tel a
155, 9x90, 2 alcan çam o seu sen t id o n o con t ext o das sen t en ças em que são pron un ciacias, e n ão
TheMusemof Mqder n em d ecorrên cia dc algu m sign ificad o "a t ó m ic o " essencial t]ue elas pudessem possuir,
Art , Nova York
sim ples ou n at u ralm en t e. O sign ificad o é p r o d u z id o d u ran t e o t r ab alh o co m os
Aqui si ção e doação
anóni ma e doação con ju n t os dc con ven ções, p o r m eio de jogos em preen d id os co m a lin gu agem . Se isso
t est ament ári a de
se aplica t am b ém à art e, quais seriam suas im p licações para o m od ern ism o?
Loui se Rei nhardt Smi t h

EUROPA E JAPÃO

Sim u lt an eam en t e à prát ica dc Johns e Rau sch en berg nos HUA, alguns art ist as que
trabalh avam d o o u t r o lad o d o At lân t ico com eçaram , de u m m o d o sim ilar, a dar »
form a a um a at it u d e crít ica cm relação às con ven ções cia arte m od er n a d o m in an t e.
( A p r op ósit o, t an t o Johns q u an t o Rau sch en berg t in h a m estado na Eu r op a.) O
legado d o su rrealism o forn eceu o p o n t o de p ar t id a para m u it as in iciat ivas. O gr u p o
Cobra fo i fu n d ad o em 1948, e a In t er n a cio n al Sit u acion ist a, cm 1957. Asger Jor n ,
ativo em am bos os gr u p os, escreveu m ais t arde que as at ividades art íst icas desses
gru pos t in h a m com o premissa a crença de que "a art e visu al era u m m eio sem
u t ilid ad e para a criat ivid ad e e para o p en sam en t o", e cjue, ao con t rário disso, a "a r t e "
deveria se fun ciir d iret am en t c co m a vida social da cidade, t orn an d o-se in separável da
ação c d o pen sam en t o. N a Fran ça, Yves Kle in in icio u u m a série de m ovim en t os
crít icos n o que d iz respeit o aos gén eros art íst icos con ven cion ais: várias p in t u ras
idên t icas m on ocr om át icas azuis ( o p igm en t o pat en t eado com o Az jil'In t cr n a cio n a l
Kle in ) ven didas en t ão p o r diferen tes qu an t ias; p in t u r as feitas p d r m eio de t raços ,
deixados p o r corp os lam bu zad os em t in t a azu l; p in t u ras rcíílizadas co m fogo. U m
dos p rim eiros.esforços m ais claram en te id en t ificad os dessa t en d ên cia con ceit u ai veio
com a exp osição de Kle in in t it u lad a " O vazio ", em 1958, na galeria ír is Cle r t , em p
Paris. Visit an t es — recebidos, n o d ia da abert iu'a, p o r u m a ban da m ilit a r con t rat ad a
para a ocasião — passavam através de u m a co r t in a t in gid a dc Az u l In t er n acio n a l Kle in

10
Robert Rauschenberg

Desenho de De
Kooning apagado
1953
Si nai s de t i nt a e cr ayon
sobr e papel , cont endo
unna l egenda
manuscr i t a enn t i nt a, e
mol dur a f ol heada a
our o
64, 14x55, 25
San Fr anci sco l yi useum
of Moder n Ar t
Aqui si ção por mei o de
doação de Phyl l i s
Wat t i s

11
S a d a m a s a Motonoga

Água 1956

Co mo f oi r econst r uí do
par a a Bi enal de
Veneza de 1987
(Pegadas de Aki r a
Kamay ama e m pri mei ro
pl ano, embai xo de
Agua)

12
Píero M a n z o n i

Mer da d'artista n. 20
Met al e papel
4, 8x6, 5.
Col eção par t i cul ar ,
Mi l ão

c pen du rada na p o r t a da galeria, en t ran d o na "e xp o siçã o ": u m a galeria


com p let am en t e vazia.
Já o gr u p o Gu t a i, n o Jap ão, deu in ício a u i n a série de at ividades p erform át icas cm
1955/ 56, que in clu íam cam in h ar ao lon go cie u m a lin h a bran ca e colet ar água nas
d epressões de t iras de p lást ico pen duradas en tre árvores [fig. 11]. A revista que havia
p u b licad o o m an ifest o d o Gu t ai em 1956, Geipitsu-Shincho, t am bém estabeleceu
vín cu los com a vanguarda it alian a, p u b lican d o o ensaio de Picro M a n z o n i
"D im e n sã o livr e", n o qu al M a n z o n i com en t a: "Exp r e ssã o , im agin ação, abst ração.
j i ã o seriam elas p r óp r ias in ven ções vazias?". N a It ália, M a n z o n i en saiou a
t ran sform ação de pessoas vivas em "ob r as dc ar t e", ao assin á-las ( m H r u r a ) e co lo cá-
las em p lin t o s p ort át eis (escu lt u r a). Em 1959, co m p ô s u m a scpicae obras c]ue
con t in u ar iam a desafiar a "visu alid ad e" da art e visu al. As Linhas — co m o se ch am ou a
obra — eram desenhadas sobre u m r o lo de papel d u ran t e o t e m p o c]ue u m a m ác]uina
ficava ligada. O r o lo de papel sobre o q u al sc desen h ou a lin h a era en t ão gu ard ad o
n u m cd in d r o de p ap elão, co m u m pequ en o t rech o d o p ap el espetado para fora
servin d o, deste m o d o , de r ó t u lo o u
et iqueta — a qu al t razia u m a d escrição
t ext u al sobre o co m p r im e n t o da lin h a,
a data etc. O desenho p r op r iam en t e
d it o perm an ecia in visível. A "o b r a dc
ar t e" in cluía, deste m o d o , a ideia da
in visib ilid ad e co m o p art e de sua
m at éria p r in cip a l. A revelação m a is
extrema de M a n z o n i em relação ao
status cada vez m ais m er can t ilizad o da
arte su rgiu em 1961, com o seu Merda
({'artista: n oven ta latas con t en d o suas
Jgzes, e cu jo p reço de m ercado era
estabelecido p elo equivalen te ao seu
peso em ou r o [fig. 12].
A virada para a d écad a de 60
t est em u n h ou um a p r o fu n d a d ivisão na
arte. De u m lad o, havia o m o d e r n ism o ,
n o auge da sua in flu en cia. A arte
m od ern a baseava-sc n u m a
e£pí^iÍicidiKle de m eio; o u seja, na
exploração das propried ad es
expressivas d o m eio ( t in t a , pedra,
m adeira, m et al e t c ) , d irecion ad as para
a prod u ção de um a experiên cia est ét ica
centrada n o espectador. A ob ra m ad u ra
dc M a r k Ro t h k o representa t alvez a É ò mt Mu Há * a « * »
AU MATUMl
mais intensa realização dessa t rad ição,
Í ^ Õ ^ U W MIM »«•«»'**
ainda que n o com eço da d écad a de 6 0 a
afirm ação de c]ue o m o d e r n ism o n ão
havia ainda at in gid o seu fim era
sustentada pelo rccém -su rgid o
t iabalh o dos cham ados abst racion ist as
"p ós-p ict ór icos", in clu in d o M o r r i s Lo u is, Ken n et h N o l a n d e Jules O l i t s k i . A t eoria
que servia de fu n d am en t o para essa p in t u r a ccntrava-se n a colet ân ca de ensaios de
Greenberg Art and Culture, p u b licad a em 1961, à q u al fo r am acrescen tados, d ep ois,
outros en saios mais recentes com o "Aft er Ab st r act Exp r ession ism ", "Post Pa in t ciiy
Ab st r act ion " e, a cim a de t u d o , "M o d e r n i s t P a m t in g" ( o r igin a lm en t e escrit o em
1960, mas n ão in serid o em Art and Culture e aparecen do em sua fo r m a d efin it iva
apenas em 1965). Em m eados da d écad a dc 6 0 , os escrit os dc Green berg for am

2
com p lem en t ad os, p r in cip alm en t e pelo t r ab alh o de Mich a el Fr ied Essa ju n ção
aparentem ente in t egrad a dc t eoria e prát ica forn eceu o p o n t o de referên cia n egat ivo
para u m a serie m u it o m ais h et erogén ea cie atividades da "n eovan gu ard a", cujos
prot agon ist as t en d iam a se con siderar crít icos cie u m status quo t an t o social c]uanto
art íst ico, que, segun do eles, englobava igu alm en t e o m ociern ism o.
U m a das caract eríst icas m a is evidentes em relação às prát icas cie vanguarda
opost as, de u m a m an eira am p la, ao m o d e r n ism o c a ab olição, p o r part e dessa
vanguarda, daquela especificidade cie m eio que m en cion am os an t er ior m en t e. Alla n
Kap r ow escreveu: " O jovem art ist a de h oje n ão t em m a is que d izer 'Eu sou u m
p in t o r ' ou 'u m poet a' ou 'u m d an çar in o'. Ele c sim plesm en t e u m 'art ist a'. Tod as as
in st ân cias da vicia sc ab rirão a ele". Esse t ip o de at it u d e t en d ia a criar u m con t ext o
m u it o abert o, bastante diverso da exclusividade apregoada piela arte m od er n a. Essa
abert ura foi bem exem plificada pelo gr u p o Flu xu s. Co m o já observado, o p r im e ir o

13
Yoko Ono

Coí P/ ece 1964

Fot ogr af i a de
per f or mance e mQui oti

14
George M a c i u n a s

Manifesto Fluxus
1963
I mpr essão e mof f set
sobr e papel
20, 3x15, 2
Col eção Fl uxus de
Gi l ber t Lei l a Si l ver man

uso d o t er m o "art e co n ceit o " su rgiu n u m t ext o cie fd en ry Flyn t , em 1961, escrit o n o
âm b it o das atividades d o Flu xu s em No va Yo r k (ain d a que o gr u p o abrangesse
t am bém artistas da Asia e d a Eu r o p a ) . Yo ko O n o envolveu-se em m u it as cias^
atividades d o Flu xu s, t an t o cm No va Yo r k q u an t o n o seu país de or igem , o Jap ão.
Essas atividades abran giam desde "p in t u r a s d id át icas" e vocalizações em eventos de
"m ú sica con cret a", até perfiarm ances. / Mgumas dessas at ividades, n o uso que Yo ko
fiizia d o seu prcSprio cor p o c na evocação das relações de p od er en tre
h o m e m / m u lh e r , prefigu ram u m t r ab alh o que seria, n u m m o m e n t o p ost erior , m ais
abertam en te fem in ist a. U m exem plo vib ran t e foi o CIÍÍ Piece, n o qu al O n o se ajoelh ou
sobre o palco en qu an t o p art icip an t es d o sexo m ascu lin o cort avam , u m a u m , co m
u m a gran de tesoura, p ed aços de sua rou p a [fig. 13].
O et lios p r ed om in an t e d o Flu xu s con st it u ía-se cie u m a m ist u r a de agu çad a cr ít ica'
e de h u m o r extravagante — co m o in t u iu D i c k H iggin s q u an d o co m e n t o u q u e jn u it o s

2 2
artistas, n o ím al da década dc 50 c com eço dc 6 0 , com eçavam a acrcciitar que "xícaras
dc café p od em ser mais belas d o que elegantes e elaboradas escu lt u ras". Esse sen t id o
da beleza p ot en cial conticfa n o que c co m u m e cot iciian o ecoa u m a lon ga t rad ição de
at ividadc de vanguarda, afastando-sc da p om p a c d o p r o t o co lo da "alt a cu lt u r a "
vin culada d iret am en t c à burguesia. U m a fot ografia de 1965 m ost ra H e n r y Flyn t c u m
colega, Jack Sm it h , p rot est an d o, ao m o d o caract eríst ico da vanguarda, na p o r t a cie
entrada d o Mu seu de Ar t e Mo d e r n a em No va Yo r k , com frágeis cartazes
pen durados em seus p escoços nos quais se liam "D e st r u a m os Mu seu s de Ar t e !" e
"D e st r u a m a Cu lt u r a Sér ia!". George
Maciu n as, o criacior d o n om e Flu xu s,
Mani f e s t o :
ressaltou as im p licações sociop olít icas
dessa at it u d e em u m t ext o p u b licad o
2, TUalTcct, or bring to a certain statc, l.v suhiccline to,
ortreatinn with.a llui. "f/uj-f/intoaniilher •.vcir!.l.".s'uuí/i. com o o Manifesto d o gr u p o , cm 1963.
3. .tfeq. To cause a discharge from. as in puriíiruj.
Ilujt (flúks), n. [ O F . , fr. L . fiuxu», h~flueTe. fluzum, to Ar r a n ja d o à m an eira de u m a colagem —
flow. See F L U E . S T ; d . F L U S H , n. (of rarii.si.J 1. Med.
a .\ or fluid discharge from the iKiweU or other ju n t am en t e com defin ições ext raíd as
C Part: esp.. an excessive and morhidi
di.-ícharKe; a.s. the h]ooáy fiux, or! d o d icion ár io para a palavras "flu x"—,
d>-senter.v. b The matttr thus <lischar«ed. i
estava o t ext o de Maciu n as [fig. 14]:
"inklkàuol •; profesupria/ Zr com m erc,cr/ izé4
CUIfure, FUKGE the wot^ M of cfea^ Livrem o m u n do da doença burguesa,
art , imil'lfion , ar, da cultura "in t elect u al", profissional c
i f í vsi oni sf i c ar t , ma- f hemaf i col ar t j _ V comercializada. I^ivrcm o m u n do da arte,
PueóE TH6 WOZl V> of "EUKor Ah/ I SM - . •'
m ort a, da imitação, da arte artificial, da
( arte abstrata... Promovam uma arte viva,
uma antiarte, uma realidade não artística,
para ser compreendida por todos, não
\ s pelos críticos, diletantes c
,p r ofission ais... Aproxim em c amalgamem .
ANP TIT^I^ AfíT,
\ s revolucionários culturais, sociais c
PrtMoh Umrt^ a r t , aníi - art , pro^ot-c
NOkl Agr E E A L I T Y +O h€
políticos cm uma frente unida do ação.
ft^hj ^raspec( t"^ ali peopíes, n o t onlij
enfies, dilefarjhí <^nd profesííonals. Agora que a parafern ália d o Flu xu s
está sendo, cia p r óp r ia, m um ificacia nas
7. Chem.ii Melai, a An.v suftstance or miiiurt- u<í?rfõ
promote fusion, e^p. the fu.sion of metais or minerais. in st it u ições dc alta cu lt u r a, m u it as das
Lomraonmelalluriiical fl.uxesarésilicaand silicatos (acidic),
lime and limestone (basic), and fluorite (neutral), b .\nv suas ativiciacics parecem t er m ais em
sutoancç apphed to surfaccs to be joined by soiderini; o'r
aeldini!, just prior to or duriní the operation, to clean and
Iree lhem írom o^nle, Ihus promoiinc their union, as ro-in co m u m com M o n t y Pyt h o n d o cjue
co m u m a fren t e u n id a de ação
lie caclr^ s of culíuraij revolu cion ária. Mas m esm o esse p o n t o
social ic foh iical revoluj-fonanes n ão deveria ser su best im ad o, pois o
ihfo unij-eol froyit &- cxcfion.
exercício lú d ico fo i u m a réplica just a à
arregim en t ação e às caract eríst icas
pretensiosas da cu lt u ra d o p ós-gu erra. N o fim cie 1961, t rab alh an d o com o p rojet ist a
na Força Aérea Am erican a, Maciu n as fo i para a Alem an h a, oncie levou ao palco
diversos eventos baseados em m ú sica e perform an ces. En t r e as pessoas co in q u em
teve con t at o estava o art ist a corean o N a m Junc Paik. N o festival d o Flu xu s em
W iesbad en , em 1962, Paik apresen t ou Zenjor head, em c]ue ele arrastava a sua cabeça,
encharcada de t in t a, ao lon go de u m r o lo cie papel O live t t i para m áq u in a de escrever,
t en d o com o pan o dc fu n d o u m a peça de m ú sica com p ost a p o r La M o n t e You n g.
A peça foi in t it u lad a Composição # 10, 1960, t en d o com o su b t ít u lo a in scrição A Bob
Morris. Young foi t am bém eciitor da Antologia d o Flu xu s, que pu blicara a peça "/ Vrte
con ceit o", de Flyn t , assim com o u m t ext o de M o r r i s . En t r e aqueles que t am b ém se
en volveram co m o Flu xu s, na Alem an h a, estava Joseph Beuys [fig. 15]. Vale a pena
cit ar a d escrição que Troeis An d ersen fez da ação de Beuys, Eurásia, de 1966,
repu blicad a na an t ologia Six Ycars de Lip p a r d :

Ajoclhando-sc, Bcuys lentamente em purrou duas pequenas cruzes que estavam no


chão cm direção ao quadro-negro; sobre cada uma das cruzes, havia um relógio com um
alarme ajust,ivel. N o quadro-negro, clc desenhou uma cruz que então apagou,
parcialmente; embaixo, escreveu "Eu rásia". O resto da peça consistia cm Bcuys
manobrando, ao longo dc uma lin ha marcada, uma lebre m ort a cujas pernas c orelhas
tinham sido estendidas por longas c finas varas cobertas dc lã preta. Q uan do a lebre
" repousava sobre os seus om bros, as varas tocavam o solo. Beuys movcu-sc da parede para
,0 quadro-negro, onde depositou a lebre. N o caminho dc volta, três coisas aconteceram:
ele borrifou um pó branco entre as pernas da lebre, pôs um termómetro na sua boca e
assoprou para dentro dc um tubo. Depois disso, voltou-sc para o c]uadro-ncgro onde
fora desenhada a cruz agora parcialmente apagada c perm it iu que a lebre puxasse as suas
orelhas enquanto clc próprio deixava um pé, amarrado a u m disco dc ferro, flutuar por
, sobre um prato sim ilar, colocado sobre o chão. Esse foi o conteúdo prin cipal da ação.
Os símbolos são perfeitamente claros, c são, todos eles, passíveis dc tradução. A divisão
da cruz é a separação entre Ocidente e O rien te, Roma e Bizâncio. A meia cruz c a Un ião
Europeia c a Ásia, cm direção à qual a lebre está a caminho. O prato de ferro sobre o
chão é uma metáfora — o caminhar c difícil e o solo está congelado.

15
Por m eio de atividades com o essa, Beuys lo go se t o r n o u u m dos m ais Joseph Beuys
proem in en t es artistas da vanguarda in t er n acion al. A in cor p or ação dc an im ais em Eurásia 1966
suas ações e atividades com o a p lan t ação de árvores, com bin ad as a extensas sessões Fot ogr af i a de ação na
de "en sin am en t o", m in ist rad as n u m a fo r m a livre, con t r ib u ír am t am b ém para que ele Tal e Gal l er y

fosse vist o com o u m a figura sign ificat iva da p olít ica cu lt u r al, especialm en t e n o que
d iz respeito ao su rgim en t o d o m o vim e n t o "Ver d e", na Alem an h a. Mas é preciso
t am bém reconhecer que, p o r m ais sugestivas e in com u n s que sejam as suas at ividades,
elas possuem u m carát er am bivalen t e. Ain d a que a ação Eurásia possa fu n cion ar
alegoricam en te, é d u vid osa a afirm ação de que os seus sím b olo s sejam "in t eir am en t e
claros". Parte d o que ocor r eu n a m od er n id ad e fo i a fr at u ra d o sim b o lism o p ú b lico,
o u o seu en fraqu ecim en t o d ian t e dos t erm os e temas da m íd ia de massa. Alegorias
com o as que for am representadas aqu i requerem , para que possam fu n cion ar, que se
recorra a um a defin ição previam en t e est ipu lad a ( "A cru z apagada sign ifica...";
"A lebre m o r t a sign ifica..."; "Go r d u r a sign ifica X"; "Fe lt r o sign ifica Y" e assim p o r
d ian t e). E isso im p lica u m a aceit ação da au t orid ad e o u , m ais precisam en t e, da
au t orid ad e d o art ist a con cebid o com o u m xam ã. Beuys t alvez ofereça, realm en t e,
u m a crít ica ao m at erialism o da sociedade de con su m o e às relações de pod er.
N o en t an t o, ao falar u m a lin gu agem de h ab ilit ação e de o p o r t u n id a d e ( co m o n o seu
argu m en t o de que "N ã o apenas uns pou cos são ch am ados, mas t o d o s ") , ele usa u m a
au t orid ad e carism át ica para estabelecer o seu p o n t o de vist a. U m a das coisas que se
p od em d izer en t ão, talvez de m o d o "p erfeit am en t e clar o ", é que Beuys pod e ser
p osicion ad o n o in t er io r de u m a t en d ên cia ir r acio n a l da arte e d o pen sam en t o
alem ães que t em as suas raízes n o fim d o sécu lo XVIII o u , m ais precisam en t e, na
ciít ica rom ân t ica ao racion alism o ilu m in ist a. A qu est ão provoca u m a d iscu ssão
sem elhante àquela p r op ost a n o in ício desse t ext o: u m a d iscu ssão sobre a n at u reza da
arte con ceit u ai, sobre a sua relação co m a crít ica, co m a an álise e co m a
desm ist ificação das ideologias que con st it u em os pilares da art e. O m o d o co m o se
con cebem as at ividades d o Flu xu s, e dc Beuys, em p ar t icu lar , co m relação à art e
con ceit u ai é u m a q u est ão, em gran d e p ar t e, de d efin ições. Se r e st r in gir m o s a
im agem que fazem os da art e con ceit u ai a u m a m vest igação, baseada na lin gu agem .

r u íd o n o can al, u m parqu e de d iversões da b o é m ia in t e r n a cio n a l. Se, p o r o u t r o


lad o, am p liar m o s o n osso sen t id o de con ceit u alism o até qu e esse passe a abran ger
u m a am p la gam a de at ividades que possam ser u n ificadas pela a b o liçã o de u m a
especificiciade d o m eio, en t ão o Flu xu s é fu n d am en t al.
MORRIS
U m cio cru cial en tre a t rad ição de Du ch a m p , o Flu xu s e a art e con ceit u ai
p rop riam en t e d it a encontra-se na obra de Ro b er t M o r r i s , elaborada n o in ício dos
anos 6o . Som anclo-sc à obra co m base cm perform an ces que ele desen volvia
ju n t am en t e com Yvon n c Rain er — algumas das quais in clu íam os elem en tos
m odulares c|uc ele m ais tarde t ran sform aria em esculturas m in im alist as —, M o r r i s
trabalhava, n o in ício da d écad a de 6o , t am b ém n u m a série de en igm át icos objet os
d u ch am pian os, que en volviam elem en tos d o co t id ia n o ( co m o u m m o lh o de chaves,
ou u m a régu a) m old ad os cm ch u m b o ; u m deles u t ilizava-se de u m a fot ografia d o
cor p o d o art ist a; havia m old es de partes d o co r p o c t raços ( u m p u lso, pegadas).

EXHI 3 I T A

assim com o in ú m eras palavras correlat as. Algu n s desses t rabalh os eram
extrem am en te aut o-referen ciais, parecen do fazer paróciia da ob sessão m od er n ist a
au t on om ia d o ob jet o art íst ico. Co m u m pé na esfera d o readyiuade, Fichário
docum en t ava o processo da sua p r óp r ia p r od u ção p o r m eio de verbetes escritos em
um a série de 4 4 fichas organizadas alfabet icam en t e: dc Acid en t es a Tr ab alh o, d o
m o m en t o de con cep ção ("en q u an t o t om ava u m café na Bib liot eca Pt ib lica dc N o va
Yo r k ") ao p r ó p r io ato da com p r a d o fichário.
U m a área cen t ral da d isp u t a entre o m o d e r n ism o e a van guarda m ais diversificada
d iz respeit o ao status d o est ét ico. N ã o seria exagero afirm ar que, para os m od ern ist as, ^

26
t ) elem en t o est ét ico era o ob jet ivo e a fin aliciade lilt m ia da art e, a sua ú m ca e
apropriad a área de com p et ên cia. N o caso d o Flu xu s, o que estava em jogo era m en os
-u m a rejeição à n oção d o est ét ico d o que a am p liação d o raio dc ação dc suas
referên cias para além da especificidade d o m eio e da h a r m o n ia for m alm en t e
con st ru íd a da p in t u r a m od er n ist a, alcan çan d o, p ot en cialm en t e, qu alqu er coisa — u m
ob jet o, u m som o u u m a ação. N a arte con ceit u ai m a is recente, a qu est ão ligada ao
est ét ico foi estrategicam en te colocacia en tre parên t eses: n ão t an t o u m ob jet ivo da
arte crít ica, mas u m tem a a ser apon t acio p or ela. U m dos p on t os p r in cip ais d o
debate rclacionava-se a qu em com p et ia d izer se algo era ou n ão u m a obra de art e, se
tiiaha o u n ã o u m valor est ét ico. Essa qu est ão assom brava a arte desde a segunda
d écad a d o sécu lo XX. E m 1963, M o r r i s volt ou -se d iret am en t c a ela. A ob ra Litanisa,
m ost rad a em sua p r im eir a exp osição in d ivid u a l em No va Yo r k , con st it u ía-se de u m a
caixa cobert a de ch u m b o con t en d o u m bu raco de fechadura e u m m o lh o cie chaves —
para sempre fora d o alcance u m d o o u t r o (e assim apreendencio algo d o carát er
p oét ico associado aos p r im eir os objet os en igm át icos p r o d u zid os p o r artistas com o
Du ch am p , os surrealistas c, m ais t arde, Jasper Joh n s). A obra fo i com p rad a p o r
Ph ilip Joh n son , que n o ent.anto at rasou o pagam en t o, d an d o a M o r r i s , co m isso, a
o p o r t u n id ad e de in vert er a est rat égia d u ch am p ian a de con ferir u m status de arte a
objet os origin alm en t e p r o d u zid o s para ou t ros fins. M o r r i s co n st r u iu u m a peça
form ad a de duas partes: d o lad o d ir eit o , u m a im p ressão plan a em ch u m b o das
Litanias, t irad a a p a r t ir de dois ân gu los, fr o n t al e lat eral ( co m o u m a fot ografia
reservada para arcjuivos p o liciais), à q u al ele d eu o n om e de "O b je t o expost o A".
A esquerda cia fot ografia, mas en cerrada na m esm a m o ld u r a que circu n d ava a ob ra
com o u m t o d o , havia u m a folh a d at ilografad a, assinada p o r M o r r i s e co m firma
recon h ecida p o r u m t abelião. Sobre o papel, lia-se: " O abaixo assin ado, Ro b e r t
M o r r i s , n o papel d o co n st r u t o r cia est ru t u ra de m et al in t it u lad a Lit an ias, descrit a n o
O b je t o Exp ost o A anexo, p or m eio desta revoga em relação à referida est ru t u ra
qualquer qualiciade e con t eú d o est ét icos e declara que, a p a r t ir dessa data, a referida
est ru t u ra n ão t em tais c]ualidadcs e con t eú d o. Dat ad o 15 de n ovem b t o de 1963" [fig.
16]. Se a au t orid ad e d o art ist a fosse t od o-p od er osa, e se realm en t e fosse ve r d a d e ir o ^
afirm ar, com o fez D o n a l d Ju d d , que, "Se o ar t ist a d iz que algo é art e, en t ão isso é
ar t e", a alegação valeria t an t o para u m , q u an t o para o o u t r o lad o. M o r r i s está na
verciade d izen d o cjue, de m o d o sim ilar, se o art ist a dissesse que algo n ão era art e,
en t ão esse ob jet o n ão seria u m a obra de art e.

Mas o ob jet o con t in u ava a pert en cer ao âm b it o da art e. A afirm ação de M o r r i s ,


n ão m en os d o que n o caso dos objet os de uso d o m é st ico de D u ch a m p o u até m esm o
das fezes dc M a n z o n i, sim plesm en t e se so m o u a m ais u m lance en xad ríst ico n o
t abu leiro in fin it am en t e elást ico da art e. Em m eados da d écad a de 60 , desse m o d o , a
sit uação at in giu u m p o n t o cr it ico . A arte m od er n a era, p elo m en os de acord o com a
celeuma que a rodeava, o p o n t o cu lm in an t e dc u m a au t o-refcrên cia p u rificad a.
A p in t u r a em "all-over " o u a "p in t u r a cie cam p o de co r " h aviam forçad o o est ét ico
até u m n ível t ão ext rem o de sen sibilid ad e, que, para qu alqu er u m d esin for m ad o
sobre essa d iscu ssão, ela estaria t ot alm en t e in visível na ob ra. A van guarda, p o r sua
vez, d em on st rara, ao lon go de u m a h ist ória t ão lon ga t ]u an t o a p r óp r ia h ist ória d o
m od er n ism o, que os lim it es pot en ciais da arte eram de fat o ext rem am en t e am p los.
O p o n t o em que a arte se curvava sobre a sua p r ó p r ia id en t id ad e, t orn an d o-se
coextensiva a t u d o o m ais, era t ão perigoso q u an t o lib er t ad o r .
4

17
Frank Stella

Six Mile Bottom 19W


ARTE COMO I DEI A Ti nt a met ál i ca sobr e
t el a
300x182,2
A arte con ceit u ai cresceu n u m espaço criad o pela van guarda, c o u t iliz o u para Tale

est ru t u rar u m a crít ica aos pressupost os d o m o d e r n ism o art íst ico, em p ar t icu lar ao
seu foco exclusivamente d ir igid o ao est ét ico e às reivin d icações de a u t o n o m ia da art e.
O crít ico Clem en t Green berg, d iscu t in d o as origen s d o m o d e r n ism o n o fim d o
séctdo XIX, fala de u m processo de "in versão d ialét ica". Ele referia-se ao
d esen volvim en t o paradoxal n o q u al os artistas se lan çaram à t en t at iva de en con t rar
novas m aneiras de representar o seu m u n d o , o m u n d o m o d e r n o dos bulevares, cafés-
con cert o e est ações de t r em , e t e r m in a r a m p o r p r o d u z ir u m a art e de efeitos visuais
au t ón om os. Pode-se d izer que ocor r eu exatam ente o con t rário co m a art e con ceit u ai.
Afirm ações com o a de que a p in t u r a "apelava som en t e aos o lh o s" e que a "co n d içã o
p r im o r d ia l" da arte visu al era ser feita para ser olh ad a t orn aram -se t em a de u m n ovo
t ip o de reflexão. E o paradoxo, desta vez, con sist ia cm que, levan tan do-se qu est ões
co m relação à arte au t ón om a, abriu-se u m regist ro de qu est ões m u it o m ais am plas; o
m u n d o m o d er n o com eçou a r et or n ar ao foco de interesse da art e m od er n a.
Nin gu é m m en os d o que Jackson Pollock disse, em relação à sua art e abst rat a, que ela
era u m a resposta às demandas de u m a nova era. Mas com o é que a art e abstrat a
respon dia a esse n ovo m u n d o , c q u al a n at ureza da sua resposta, são qu est ões que se
t or n ar am cada vez m ais difusas, à m ed id a que o m o d e r n ism o se t ran sform ava em
"ab st ração p ict ó r ica". Nas con d ições em ráp id a t r an sfor m ação da d écad a de 6o ,
m u it os artistas t orn aram -se cét icos q u an t o ao que estava com eçan d o a assum ir a
aparên cia de u m a en carn ação m od er n a da arte pela art e. Co m o observou Claes
O ld én b u rg: "Sou a favor de u m a arte que faça algo m ais d o que sentar sobre a
p róp ria bu n d a n u m m u seu ". O t it u lo de im ia exp osição m on t ad a cm 1995 expressou
a nova ord em do dia: a arte con ceit u ai im p licava "Recon sid erar o o b je t ( iv) o da a r t e"
— o u seja, im plicava levantar qu est ões co m respeit o aos produtos da at ividade art íst ica e
aojiropósito da arte em relação à m ais am pla h ist ória da m od er n id ad e.

STELLA E O MINIMALISMO
A obra dc Fran k Stella representa o p o n t o cr u cial da frat u ra en tre o m o d e r n ism o e as
variadas prát icas con t ram od crn ist as de vanguarda c|ue deram or igem à art e
con ceit u ai. Já em 1959, St ella exib iu telas de
u m a abst ração t ão com p let a, e que
afirm avam a lógica m o d er n ist a cia red u ção
de m an eira t ão en fát ica, que chegavam a
an ular o o u t r o com p on en t e d o m o d e r n ism o
— a realização d o efeito expressivo. Suas
"Pin t u r as Ne gr a s", com post as de listas
pretas regulares acom p an h an d o o fo r m a t o
da tela — a t in t a aplicada plan a co m u m
p in cel dc d ecorad or —, in cor p or avam u m a
lit eralid ad e que am eaçava o aspecto
evocador da p in t u r a m od er n a m esm o
co n d u z in d o o seu m at er ialism o a u m n ovo
pat am ar. Esse m o vim en t o con firm ou -se à
m ed id a que St ella passou a usar t in t as cada
vez m ais art ificiais — alu m ín io, cobre —; à
m ed id a que au m en t ou a espessura dos
chassis até a p in t u r a se t o r n a r u m a laje
fixada paralelam en te à parede; e, acim a de
t u t io , en qu an t o trabalh ava a p r óp r ia t ela,
fazia entalhes e cort ava ân gu los e arestas
laterais de m o d o que a fo r m a d o t o d o
ecoasse a fo r m a in t er n a [fig. 17].
Essas obras, sign ificat ivam en t e, for am
defen didas t an t o pelo crít ico m od er n ist a
Fr ied q u an t o pelo escu lt or m in im a list a
D o n a ld Ju d d . Em u m a das suas t en t at ivas
para for jar u m a lin gu agem p r óp r ia para a.
p in t u r a m od er n a, n o ensaio "Sh apc as
Fo r m ", Fr ie d ar gu m en t ou que, ao eh m in ar a
lacuna entte a "fo r m a lit e r a l" da p in t u r a e a sua "fo r m a p in t a d a ", St ella alcan çou
uma un idade nova c m ais vigorosa, capaz dc p r o d u z ir u m a con vicção de valor
estético n o espectador. Para Ju d d , n o en t an t o, a lição parece t et sid o o op ost o.
N a sua op in ião, a p in t u r a de Barn et t N e wm a n e, ciepois dele, a de Ken n et h N o l a n d
t eriam levado a abst ração a u m n ovo pat am ar de in t egriciade e u n id ad e, que t eria
com o result ado, n o en t an t o, o fim da p in t u r a. Isso era t u d o que se p od eria fazer co m
uma superfície ret an gular paralela à parede. A ênfase de St ella na lit er alid ad e d o
suporte da p in t u r a p o r m eio das suas marcas profu n d as c de suas telas m old ad as
apontava para algo diverso: O-ato de t ir ar a obra da parede e in seri-la n u m espaço

29
t r id im en sion al. O result ado foi um a arte que Ju d d ch am ou de "O b je t o s esp ecíficos",
e que o m u n d o veio a conhecer com o m in im a lism o .
Para Fried isso equivalia a u m a d eclaração de guerra ao m o d e r n ism o — a in vasão,
n o âm b it o da art e, d aq u ilo que ele ch am ou de "t eat r alid ad e": u m t ip o de
perform an ce t eat ral con fron t ad a p elo espectador in co r p o r a d o à ação, n u m esp aço
lit er al e n u m t ein p o real, e n ão u m a elevação que resgata dessa con d ição o espectador,
lan çan d o-o em u m in st an t e de "p r esen t ificação" est ét ica. De acord o co m Fr ied , a
arte m od ern a t in h a com o caract eríst ica an ular o t em p o, d o m ín io da con t in gên cia;
deste m o d o , p o r t a n t o , red u zir a arte à con d ição de t u d o o m ais era algo com o u m a
t raição. Para m u it o s da geração de m eados dos anos 6o , p o r ém , essa t raição n ão
existia. Ela era, isso sim , u m r ep en t in o e fu n d am en t al m o vim e n t o de abert u ra da art e.
Esse fo i o u t r o daqueles m om en t os sat urados, t a l com o o o co r r id o p o r volt a de 1910-
15, qu an d o a arte abstrata, t od a ela fo r m a e essên cia t ran s-h ist órica, r esu lt ou n o
rcaAymadc, t o d o ele con t in gên cia e con t ext o. O ob jet o m in im a list a, ob jet o lit er al em
u m espaço real, d espojad o de qu alqu er co m p o sição e in t erven ção realizadas p o r

m eio da h ab ilid ad e m an u al d o art ist a — beco sem saíd a para a p r eocu p ação m od er n a
co m a for m a, atravessou o espelho e rap id am en t e deu or igem à an t ifo r m a: a obra de
arte com o qu alqu er coisa, p ed aços de lixo, felt ro, m at éria in d iferen ciad a, e até m esm o
n en h u m a "coisa", exccto ações e "id eias". Ma is u m a vez, com o q u an d o d o in ício da
abst ração, os p arâm et ros desse cam po pareciam t er sid o m apeados em u m m o m e n t o
— a p r im eir a m etade dos anos 60 — q u an d o o m o d e r n ism o r esu lt ou n o m in im a lism o
qu ê, p o r sua vez, resu lt ou na a n t ifo r m a . Esse m o m e n t o pod e ser vist o, agora, co m o o
p er íod o p r op r iam en t e d it o dc gest ação da art e con ceit u ai.

Pr NTURA

A p in t u r a de Ken n et h N o l a n d e Jules O li t s k i [fig. 18] forn eceu u m a espécie de


referência de precedentes. Para Mich a e l Fr ied , essa obra era exem plar em relação
àqu ilo a que o m o d er n ism o p od ia aspirar. Ta l com o nas obras dc St ella, ela
"p r o d u z ia u m a co n vicção ". A con vicção p r o d u z id a n o espect ador era a cie u m
sen t im en t o expresso e d est ilad o, equivalen te ao for n ecid o pela art e can ón ica d o

30
passado; podia-sc ser levado p o r essa con vicção a u m estado dc "gr a ça " e, p or ,'
^ im p licação, para fora de u m m u n d o m arcad o pelo t em p o , pela d ecad ên cia e pela
m o r t e. Para Lu cy Lip p a r d , n o en t an t o, a p in t u r a de O l i t s k i era u m "m u z a k visu al".
Lem brem os que, para os p r im eir os crít icos c artistas m od ern ist as, a_con dição da
m ú sica era algo a ser alm ejad o, u m a lib ert ação da arte q u an t o a sua forçosa
vin ct dação a u m a n arrat iva lit erária. A abst ração oferecia a esperan ça de u m
equivalente visual da m ú sica, u m a arte livre. "M u z a k " c o n om e d ad o à m ú sica
am bien t e, d o t ip o t ocad o com o fu n d o t ran cjú ilizad or em elevadores, aerop ort os e
superm ercados. Essa m ú sica serve a u m fim ; ela c u m au xiliar d o con su m o. Ver a arte
m od ern a com o u m m u zak visual era, deste m o d o , u m a afirm ação de que essa arte era
clien te de um a est ru t u ra de p od er en cobert a. Para m u it o s, o m o d e r n ism o se t or n ar a
n ão o representante d o est ét ico em u m m u n d o ciegradado, mas, precisam en te, u m a .
id e o lo gia an est ésica.
o com en t ário de Lip p a r d era o ju lgam en t o de u m crít ico. Mas os p r im eir os
artistas con ceit uais já analisavam, e até m esm o parod iavam , em sua prát ica cie art e, a
les Olitski abst ração. E esse fo i t am bém u m fen óm en o in t er n acion al, com o tantas out ras
J3S vezes desarmado

t a acríl i ca sobr e t el a
i 3, 3x 666, 8
et ropol i t an Mus eum
Art
j ação do Sr . e Sr a.
T h e conl ci i t of i hi s i xi i i i t i ng
j gene M. Schwar t z
is i nvi si bl c; l he chai acl c r
and ( l i mc ns i on of t he ccxi l cni l
ar e t o I x: kept pcr mai í ei i l l y
. secr et , k n o wn onl y t o l he
lei Ramsden
ar l i sl .
intura secreta
J67-8
ijitex sobr e t el a
, 12x122
:pÍ3 f ot ost át i ca
xl 22
•;ção Br uno
i l i of berger, Zur i que in cursões da vanguarda. N a In glat erra, já em 1965, Mich a e l Bald win est icou u m a
folh a dc m at éria plást ica sin t ét ica e reflexiva, para p r o d u z ir "p in t u r as espelh o" — o
m o n o cr o m o absolut am en t e sem m ist u r a que capturava o m u n d o que passava d ian t e
dele na sua su perfície pu ra. M e l Ram sd en p r o d u z iu , em No va Yo r k , em 1968, u m a
tela sobre cu jo fu n d o cin za foram t rabalh ad os, p o r m eio de est ên cil, os n ú m eros
"9 4 %" e "6 %"; a tela fo i en t ão in t it u lad a 100% Abstrata. Pou co antes, ele havia
parod iad o t am bém a m íst ica que acom pan h ava a abst ração em Pintura surda
( 19 6 7/ 8 ) . N u m t r ib u t o ao m o m e n t o origin ário da abst ração, o t r ab alh o con sist ia
n um a obra em duas partes — u m quacirado n egro e u m t ext o anexo n o qu al se lia:
" O con t et id o dessa p in t u r a é in visível; a n at ureza c as d im en sões d o con t eúcio devem
ser m an t idas perm an en t em en t e em segredo, con h ecidas apenas d o ar t ist a " [fig. 19].
Tam b ém em 19 6 7/ 8, na Califór n ia, Joh n Baldessari p rociu ziria u m a série de p in t u r as
form adas de cit ações ext raídas da crít ica de art e o u de livros d ed icad os à art e,
reprod u zid as na escala cia abst ração m od er n ist a [fig. 20 ] . N a Alem an h a, liem t o d a a
arte era refém d o m ist icism o : cm 1969, Sigm ar Polke p a r o d io u o gén ero c:om
Instâncias superiores ordenam: pinte o canto direito dc preto! [fio. zi'j. •
IDEIAS

H á u m gesto que resume a m u d an ça d o clim a com o u m t o d o . Em agosto de 1966, o


art ist a in glês Joh n Lat h am , professor ad ju n t o da St. M a r t in s Sch ool o f Ar t , em
Lon d res — escola cm cu jo en sin o o m o d er n ism o t in h a am p la in fluên cia —, t o m o u
em prestada, da b ib liot eca da faculdade, u m a cóp ia d o livr o Arte e Gdttira de
Green berg. Co n vid o u en t ão artistas e al.unos co m ideias parecidas às suas para u m a
"m a st iga çã o " (p ar o d ian d o as aulas e palestras daquele t e m p o ) — que en volvia

STUDY THE COMP OS I T I ON OF PAI NTI NGS. A S K 20


YOURSELF QUEST I ONS WHEN STANDI NG I N FRONT John B a l d e s s a r i

OF A WELL C OMP OS E D PI CTURE. WHAT FORMAT Compondo sobre te'J


1966- 8
I S USED ? WHAT I STHE PROPORTI ON OF HEI GHTTO Ti nt a acrí l i ca sobr e te;
WI DTH ? WHAT I S THE CENTRAL OBJ ECT ? WHERE I S 289, 6x243, 8
Mus eum of
I T SI TUATED ? HOW I S I T RELATED TO THE F ORMAT ? Cont empor ar y Art ,
WHAT ARE THE MAI N DI RECTI ONAL F ORCES ?THE San Di ego
Doação do arti sta
MI NOR ONE S ? H OW ARE THE SHADES OF DARK
AND LI GHT DI STRI BUTED ? WHERE ARE THE DARK 21
S P OT S CONCENT RAT ED ? THE LI GHT SPOT S ? HOW S i g m a r Polke

ARE THE EDGES OF THE PI CTURE DRAWN I NTO THE Instâncias superiom
ordenam: pinte o a-
PI CTURE I TSELF ? ANSWER THESE QUESTI ONS FOR direito de preto! 191:

YOURSELF WHI LE L OOKI NG AT A FAI RLV U N C OM - Laca sobr e tel a


150x 125, 5
PLI CATED PI CTURE.
Col eção Joseph
Fr oehl i ch, Stuttgart

escolher u m a p ágin a, arran cá-la, m ast igá-la e cu sp ir o resu lt ad o em u m recep t ácu lo


preparado para aquele fim. La t h am em seguida d eco m p ô s a pasta em u m líq u id o
com u m a m ist u r a de p r o d u t o s q u ím icos aos quais acrescen tou levedo. Q u a n d o a
b ib liot eca r eq u isit ou de volt a o livr o, foi-lh c entregue u m t u b o de ensaio con t en d o
i álcool: Lat h am t in h a "d e st ila d o " Arte e Cultura. O professor fo i devidam en t e
despedido, e a arte h erd ou u m ícon e con ceit u ai na fo r m a de u m a m alet a dc aparên cia
d u ch am pian a con t en d o u m exem plar d o livr o, os frascos e p r o d u t o s q u ím icos
u t ilizad os c a carta dc cicm issão dc Lat h am [fig. 22]. Co m o u m m arco da
subsct]úen tc t ran sform ação levada a cabo pela arte con ceit u ai, é interessante observar
c]ue n ão apenas a m aleta dc Lat h a m reside, h oje, n o Mu se u de Ar t e M o d e r n a cie
Nova Yo r k, com o t am bém t]uc, n o ano 20 0 0 , ela foi exibid a na en t rada da exp osição
dedicada à arte d o final d o sécu lo XX, organ izada p or ac]uelc m useu.
Assistia-se a u m p er íod o de m u d an ças. Sea arte acad ém ica explorara a sua
afin idade para com a lit er at u r a organ izan do-se em t o r n o de n arrat ivas, o

Hòhere Wesen b e f a h l e n : r e c h t e o b e r e Ecke schwarz


ma l en

m od er n ism o se ergueu com o um a art e das sen sações, algo que aspirava a reter o
apren dizado e a lit erat u ra n o n ível das em oções. Mas agora a d esvin cu lação de arte e
in t elect o parecia cada vez m ais suspeita. A ideia passou a ser o cen t ro. A crise d o
m od er n ism o e a p roliferação de m ovim en t os in u sit ad os dc vanguarda im p licavam a
necessidade de levantar qu est ões em relação ao "o b je t ( i v) o " da art e; o que fp ],feit o _
de m o d o cru cial, n ão p o r acad ém icos, crít icos, h ist oriad ores o u filósofos, mas pelos
p róp rios artistas. A t eoria, p o r assim cfizer, torn ava-se u m assun to prát ico, o '/
Temas en volven do a represen t ação e a p ercep ção ad c]u irn am u m papel cen t ral.
O art ist a h olan d ês Jan D ib b ct t s p r o d u z iu um a série dc "co r r eçõ es de perspect n 'a" ao
t raçar lin h as n u m a parecie recuada, o u sobre o p lan o dc u m a paisagem , de t al m o d o
que, q u an t o fot ografadas, cias dessem a im p ressão de u m qu ad rad o paralelo ao p lan o
da fot ografia [fig. 23]. Em fòfo/n/Art, Vi c t o r Bu r gin fo t o gr afo u u m p ed aço d o ch ão de
u m có m o d o , am p lian d o as fot os m o n o cr o m át ica s até u m t am an h o n at u r al c
colocan d o-as en t ão n ovam en t e sobre o ch ão o r igin a l. Afirm a-se que as "P r o t o -
in vest igações" efe Joseph Ko su t h — placas dc vid r o , luzes n eon c obras com post as
en volven do objet os, fot ografias c palavras [fig. 24 ] — for am realizadas
con ccit u alm en t e — com o "id eias" — já
22
em 1965, em bora só t en h am sid o
John L a t h a m
exibidas m ais à fren t e. Seja com o for, V
Arte e cultura 1966
as obras são representativas de u m a \
Assemblage: mal a d
I in d agação con ceit u ai em relação ao cour o cont endo livro,
car t as, cópi as
o b jet o art íst ico. Em Um c cinco relógios,"
f ot ost át i cas et c. e
Uma c ires cadeiras c obras an álogas, pequenos f rascos
Ko su d i ch am ou a at en ção para a r ot ul ados cont endo
e l í qui dos
relação en tre u m ob jet o físico e 7, 9x28, 2x25, 3
diferen t es t ip os de rep resen t ação desse The Mus eumof Moí
Ar t , Nova Yor k
o b jet o : visu al, n o caso das fot ografias,
Bl anchet t e Rockef e:
verbal, n o que d iz respeit o às Fund

d efin ições cio d icion ár io [fig. 24 ] .


A ob ra in icial dc Ko su t h fazia part e
dc u m a t en d ên cia m ais am pla su t gid a 23
Jan Dibbetts
cm No va Yo r k. U m a exp osição
Correção de
organ izada p o r M e l Boch n er n o final perspectiva 1969

de 1966 d e lim it o u partes d o t erren o. Fot ogr af i a da


U m a centena cie ciesenhos dc t ip os I nst al ação

diversos foi reu n id a para um a


exp osição de fim cie ano na Eiscola de
24
Ar t es Visu ais. U m im p e d im e n t o
J o s e p h Kosuth
b u rocrát ico, n o en t an t o, d e t e r m in o u Relógio (umecine-
c]ue os desen hos n ão p o d er iam ser Ver são i ngl ês/l ati u
1965 ( ver são da
em old u r ad os dc acord o com o
exposi ção 1997)
p r o ced im en t o u su al. A solu ção cie
Rel ógi o, fotografi a
Boch n er foi a de usar a en t ão recém - t ext o i mpr esso sot
surgida t ecn ologia Xer ox para t ir ar papel
I at e
cóp ias dos desen h os, n o t am an h o
p ad rão e qu at ro vezes m aior , "exp o n cio" en t ão os desenhos em t]u at ro grancies
cadern os de folh as soltas, d ispost os na galeria sobre o t ip o dc p lin t o u t ilizacio para
esculturas [fig. 25]. N u m a m ist u r a dc acaso c p lan ejam en t o, Boch n er or q u est r ou u m
evento que o cu p o u o p r ó p r io t er r it ór io cm d ireção ao q u al pareciam se d ir igir as
atividades de vanguarda — a região em cjue a art e se en con trava co m m u it as form as dc
n ão-art c, c tornava-se ciifícil estabelecer u m a d iferen ça. O status p r ob lem át ico da
Tn stalação sustentava-se pela in t eração dos seus elem en t os con st it u t ivos; a variedade
dos "d esen h os" p r op r iam en t e d it o s, desde diagram as c esb oços de art ist as com o Sol
Le W i t t e D o n | u d d — passando p o r faturas, cálcu los m at em át icos c u m a p a r t it u r a de
John Cage — até a in ckisão da plan t a d o piso da galen a e de u m diagram a da
fot ocop iad ora u t ilizad a para cop iar as obras; t u d o isso co m b in ad o a u m m o d o dc
expor "p r ó p r io da ar t e"; e, com im p or t ân cia igu alm en t e sign ificat iva, o t it u lo —
Desenhos e outras coisas visíveis que não têm necessariamente de ser vistas como arte, para t o r n a r
m anifesta a in st ân cia in d et erm in ad a em c]ue a "o b r a dc ar t e" havia se t r an sfiir m ad o .
Em b or a a arte "co n ce it u a i" n ão existisse em 1966 co m o u m "m o vim e n t o " co m esse
n om e, a exp osição de Boch n er parece in d icar a d ireção em que as coisas cam in h avam .
Em 1967, Ko su t h o r ga n iz o u as exp o siçõ es Arte não antropomórfica e Arte normal em
espaços t em p orariam en t e alugados, em No va Yo r k. As duas exp osições in clu íam
obras d o p r ó p r io Ko su t h c de Ch r ist in e Ko zlo v — cujas con t rib u ições são geralm en t e
u t ilizad as para exem plificar o papel que, desde cedo, as m ulh eres artistas
desem pen haram n o con ceit u alism o. N a p r im eir a exp osição, ela exib iu Composições para
estruturas de áudio, "d esen h os" fot ocop iad os represcntancfo son s; e, na segu n d aaiois
rolos de filmes, u m p ret o, o o u t r o t ran sparen t e. Ma is t arde, ela exib iria u m gravador
com u m cir cu it o co n t in u o , gravan do, r e p r o d u z in d o o que gravara c apagan do os sons

. . ^ . , •b).<i.i-..i.--.»<ti.>.í[™,.i
A o í / ' n 12 Í N •
t" 2- / " » \\- z::\:íi.X::z::iitM:iÁ..r^
•9 (-9 - V— 3 - : 5=: r ,™,::2". i „ - . - ; r . - i „ ; ; i - ^jj^~.^-ri£ír^f.^^ s: „7: r„í -: i ; , ' r-, ri í ; : . ' . ; i í -Ji -
\• \ ; ri . -; =vrr; i -. ' ! rrj -_-j í : í r; ~ : ' l Hl HE i 4 - i £ x '^::Th".^-:i^j'-.C-zr^

C n o p r óp r io espaço da exibição [fig. 26 ]. N a mesm a ép oca, M e l Ram sd en c Ian Bu r n


j p rociu ziram Soft tape, u m t r ab alh o con st it u íd o p o r u m gravador que r ep r od u zia sons
n u m a região p ou co abaixo d o lim iar dc au d ib ilid ad c, c cu jo ob jet ivo era o de in jet ar
"t en são e possibilid acic" na t roca dc in form ações (c, p o r im p licação, p er t u r b ar a
' -Y'' con ven ção da "co n t e m p la çã o " da obra de ar t e). Em todas essas obras, a ferram en t a
u t ilizad a t in h a im p ort ân cia relat ivam en te m en or. A sit u ação ch egou ao p o n t o que,
com o cscteveu Kosu t h nas n otas que acom p an h am a exp osição NÍÍO antropomórfica,
-— "As verdadeiras obras de arte são as id eias".

{ DESMATERIALIZAÇÃO ^
Em final dos anos 60 , Ko su t h , ju n t am en t e com Ro b er t Barry, Dou glas H u cb le r c
• Lawren ceW ein er, associou-se ao marchand Scd i Siegelaub, p r o d u z in d o u m t rab alh o
que indagava o que, exatam ente, era u m a exp osição, o que fazia u m art ist a e os
lim it es d aq u ilo que p od eria ser t id o com o u m a obra dc art e. Siegelaub desafiou as
expectativas con ven cion ais ao organ izar exp osições t]uc in ver t iam a relação usual

35
entre a obra exposta e o cat álogo. N a exp osição Janeiro, cie 1969, cn c]uan to algun s
exemplos m at eriais de obra eram m ost rad os em p r éd ios alugados, o verdacieiro
e s p aço da exp osição era o catálo gcSí^ quc, nos t erm os dc Siegelaub, t or n ou -se
in form ação "p r im á r ia " e n ão m ais "se cu n d á r ia ". Em u m a t r an sfor m ação n ot ável, a
obra de arte passava a ser vista com o "in fo r m a çã o " que se p od ia fazer circu lar m ais
eficien tem en te através cio m eio con st it u íd o p o r t ext os e fot ografias d o que p o r
in t erm éd io d o t r an sp or t e cie objet os m at eriais p r o p r iam en t e d it o s.
A afirm ação de que a t en d ên cia que um a a vanguarda con ceit u ai era a 25
Mel B o c h n e r
"d esm at er ialização" cio o b jet o art íst ico — u m a tese an t ecipada p o r Lu cy Lip p a r d c
Desenlios e outras
jo h n Ch an d ler em Arts Magazine em fevereiro dc 1968 — fo i est im u lad a, precisam en t e, coisas visíveis que IT:

pelo t rabalh o desses art ist as. O exem plo m a is lit er al dessa est rat égia cie têm necessariamenli
cie ser vistas comos:
"d esm at er ialização" nos é for n ecid o pela obra de Ro b e r t Barry. Ele com eçou 1966
p en d u ran d o pet]uenas telas m o n o cr o m át icas em p on t os d íspares cia parede da Quat r o cader nos d
galeria, c]ue, em e x p o s i ç ã o , p a re c i a m f ol has sol t as i dênti ccí
c om as mes mas 1
colocar em m o vim e n t o o esp aço en tre f ot ocópi as de not asc
elas. Dep o is passou a lid ar com fios. at el i ê, esboços e
di agr amas escoHi i do;
Não intitulado, dc 1968, com preen cic u m
f ot ocopi ados pel o
fio de n ylo n estenciido pelo peso de u m art i st a e expost oser
disco de aço, alon gan do-sc de m an eira quat r o bases
30 x 28 X 10 fi chai :;:
quase in visível, a p a r t ir d o t et o. O s fios 30, 5x63, 5x91, 4
con st it u íam o p o n t o m á x i m o q u e a bases
Cor t esi a da Sonrat ; '
m at éria sólid a p od eria at in gir n a esfera
Gal l er y, Nova York
da t ran sp arên cia. O p r ó xim o passo era,
n u m cam in h o kSgico, o gás. A série Gás 26
inerte, dc 1969, u t iliz o u gases com o C h r i s t i n e Kozlov

n cón io, xên io e h élio. N p t ext o para Informação não tec:


1970
Hélio lê-sc: " E m algu m m o m e n t o da
Gr avador edecl arcj
m an h ã d e 4 de m ar ço de 1969, m eio Cor t esi a do arti sta
m et r o c ú b i c o de h élio será lan çad o na
at m osfera". O even to foi d o cu m en t ad o 27
n u m a fot ografia da ação [fig. 27] . R o b e r t Barry

O u t r o s t rabalh os ain da m ais Série de gás íneití


(Hélio): de um mt
"d esm at er ializad os" de Barry in clu em medido a uma
Peça telepática, "algo p r ó xim o n o esp aço expansão indefínic.-
1969
e n o t em p o mas que ain da n ão m c foi d ad o con h ecer", e a afirm ação dc que, "n o
No di a 4 de mar ço:
p er íod o em que d u rar a exp osição, a galeria p erm an ecerá fech ada", u m t r ab alh o que 1969, mei o met ro
fo i sim u lt an eam en t e "m o s t t a d o " cm diversos locais nos Est ad os U n id o s e Eu r op a. cúbi co de hél i o foi
devol vi do à atmo:' ' :
Lawren ceW ein er d eclarou a sua p osição com relação ao carát er ob solet o dos no deser t o de Mc; ;
objet os m at eriais com m u it o m a is ap r u m o . Ele havia or igin alm en t e t rabalh acio com Cal i f órni a
Fot o cort esi a doe' .
p in t u r a, p r o d u z in d o telas geom et ricam en t e riscadas o u m o n o cr o m át ica s e m old ad as,
do in ício até m eados dos anos 6 0 , e elaboran d o, t am b ém , algum as obras escult urais
mais "exp lo r at ó r ias", que e n vo l vi am a r em oção, m ais d o cjue a in st alação da m at éria,
— a criação de buracos, co m a ajuda dc d in a m it e , n o desert o. A p a r t ir de 1968, W ein er
com eçou a apresentar u m a série dc p r ojct os en igm át icos relacion ad os a ações
sim ilares àqu elas. Esses in clu íam " U m bu raco n o ch ão, dc ap roxim ad am en t e 30 cm x
50 cm X 30 cm . U m galão de t in t a à base dc água lan çad o d en t r o desse b u r aco "
(Declar ação 010, 1968); "D o i s m in u t o s de t in t a spray aplicada d iret am en t c sobre o

36
ch ão, com um a lata co m u m dc t in t a aerossol" (Afir m ação 017, 1968). Par t in d o
dac]uiIo que fora o seu t r ab alh o an t erior, W ein er com eço u t am bém a rem over
m at éria, ao invés de in st alá-la: "U m a r em oção i m x i m d o reboco o u d o estuque o u
d o revest im en t o dc u m a pared e" (Declar ação 021, 1968) [fig. 28 ]; "U m a rem oção em
for m a de qu ad rad o de u m tapete em u so" (Declar ação 0 54, 1969). A caract eríst ica
in co m u m que W ein er i m p r i m iu a esse t ip o de t rab alh o, a p ar t u ' de 1969 — q u an d o se
p u b lico u , pela p r im eir a vez, o cat álogo Janeiro, de Siegelaub —, foi anexar a cada
Declaração u m apên d ice t ríplice: " i . O art ist a t e m a p ossib ilid ad e de co n st r u ir a
obra. 2. A obra pode ser fabricada; 5. A obra n ão t em dc ser con st r u íd a." O u seja, a
. "o b r a " está na ideia. Ela n ão t em de ser fisicamente
realizada para ob t er o status de u m a "o b r a de ar t e".
E, além disso, se ela fosse fisicamente realizada, a

1
realização n ão t eria de ser feit a pela m ão d o art ist a.
Nesses p r im eir os t rabalh os, W ein er in vest igou os
lim it es de algum as premissas cen trais q u an t o à
n at ureza dos artistas e das obras de art e, ain d a que
parecesse estar realizan d o t ão p ou co. E n isso reside,
se n ão a "a r t e ", pelo m en os m u it o da atitucic que
dava à obra o seu ím p et o. E m algum as das obras
m ais in st igan t es das p rim eiras m an ifest ações da art e
con ceit u ai, pode-se sen t ir u m tênUe vest ígio de u m a
serenidade zen , aliada a u m a espécie curiosa de
h u m o r , que t an t o absorveu aqueles em t o r n o de
Cage nos idos da d écad a de 50, d ifcrcn cian d o-os das
ações d ion isíacas d o expression ism o abst rat o.
A at it u d e de certa fo r m a relaxada da con t r acu lt u r a
m ais am pla, a sua caract eríst ica ligeiram en t e
n óm ad e, assim co m o a p ost u ra u n iversal de
resist ên cia ao b r ilh o c ao con su m o, pairavam sobre
m u it as das m an ifest ações con ceit u ais. U m a varian t e
inglesa ocorre na leit u r a que Ke it h Ar n a t t fez da
d esm at erialização — o seu Auto-cnterro, de 1969 [fig.
29 ]. Ar n a t t escreveu que "a referên cia con t ín u a ao
desaparecim en to d o ob jet o de art e t rou xe a m i m a
su gest ão d o even tual desaparecim en t o d o p r ó p r io
a r t ist a ". Auto-enterro é u m ret rat o ir ón ico d o d est in o
d o au t or m od er n ist a nas m ãos da arte con ceit u ai.

REPETIÇÃO ^
"Ar t e con ceit u ai", com o n om e, su rgiu pela p r im eir a vez cm 1967, q u an d o Sol
Le W i t t p u b lico u os seus "Par ágr afos sobre a arte co n ceit u ai", na Artfonmi, n o verão
daquele m esm o ano. Le W i t t estivera p r o d u z in d o est ru t u t as m od u lat es em três
dim en sões d u ran t e algu m t em p o , e estava pat a envolver-se co m os desenhos de
parede que, ju n t os, co n t in u ar iam a fo r m a r o cen t ro da sua p r od u ção [fig. 30 ].
Nen h u m a dessas obras se apoia sobre con ven ções com o o t r ab alh o artesan al o u a
t r ad icion al au t oria art íst ica. As con st ru ções c os desen hos, uns com o os ou t r os, são
fabricados p o r assistentes que seguem as in st ru ções de Le W i t t . Seus "Pa r á gr a fo s"

37
con st it u íram a afirm ação can ón ica dc u m a abordagem con ccit u alist a un iversal: "N a
arte con ceit u ai, a ideia ou con ceit o é o aspecto m ais im p o r t a n t e da ob ra. Q u a n d o u m
art ist a se u t iliza cie u m a fo r m a con ceit u ai em art e, isso sign ifica que t odas as^dccisõcs
e plan ejam en t o são feit os de an t em ão e a execu ção é u m assun to p er fu n ct ó r io "i
Co m o clc declarou : "A ideia t orn a-sc a m áqu in a que p r o d u z a ar t e". . ^
Le W i t t , n o en t an t o, t en t o u evitar que a sua n oção dc arte con ceit u ai fosse '
associada a u m t ip o dc aridez in t elect u al, ao fazer afirm ações com o "A arte
con ceit u ai n ão c necessariamente ló gica" e "As ideias n ão têm de ser com plexas.
A m aiorias das boas ideias é r id icu lam en t e sim p les". De fiito, para Le W i t t , com o
en fat izado nas "Sen t en ças sobre art e co n ceit u ai" dc igóg escritas logo d epois, os
"art ist as con ceit uais são m ais m íst icos d o que racion alist as. Eles p roced em p o r
saltos, at in gin d o con clu sões quo n ão p od em ser alcan çad as pela lógica, lu lgam en t os
racion ais repetem ju lgam en t os racion ais. Ju lgam en t os ilógicos levam a novas
exp eriên cias". Essa d escon fian ça peran te o racion al n ão deveria causar surpresa, u m a 28
L a w r e n c e Weiner

Uma remoção deli


Im do reboco ou
estuque ou
revestimento de um
parede 1968

Fot ogr af i a da
i nst al ação na
exposi ção de 5 a31í í
j anei r o de 1969
Col eção e arqui vos
Si egel aub da Funda; ;
St i cht i ng Egr ess,
Amst er dã

29
Keitli Arnatt

Auto-enterro (Projetc
interferência televis.
1969

Nove f ot ograf i as so;


pai nel
46, 7x46, 7 cada
pai nel
Tat e
vez que o racion alism o, sob a m áscara de p lan ejam en t o, de t eoria de sistem as e
an álise cien tífica, estava sen do aliciad o para que se con tin uasse a guerra d o Vict n ã .
A variação de lin h as, cubos e geom et ria exaustivam ente rep et id a p o r Le W i t t parece
n ão fazer m ais d o que ap on t ar a in san idade in eren t e à obsessiva busca p elo racion al.
Co m o d em on st r ou Rosalin d Krauss, as suas est rat égias devem m ais às rep et ições
insanam ente obsessivas das personagens de Sam u el Becket t , d o que ao racion alism o
cien t ífico (sem falar n o dos plan ejadores d o Pen t ágo n o ).
O interesse p o r est rat égias repet it ivas sem elhan tes a m an t ras, perseguidas at ravés
da obsessão — e além dela — p o r u m t ip o de m ed it ação est ran h am en t e repousan t c
sobre o t em p o, con st it u i u m a t en d ên cia n ot ável em t o d o o raio de ação da arte
con ceit u ai — t en d ên cia que, adem ais, parece t er t ran sp ost o os con t in en t es. Le W i t t
estava, àqu ela alt u ra, t rab alh an d o nos Est ados U n id o s . Ro m a n O p a lk a , u m art ist a
descendente de polon eses e residen te na Fran ça, com eçou , em 1965, a co m p o r u m a
tela. A tela fo i p in t ad a de p r et o, 195 cm de alt u ra e 135 de largu ra. N o can t o su p erior
39
esquerdo, com u m p in cel m ergu lh ad o em t in t a bran ca, ele inscreveu o n ú m ero " i " .
Ao seu lad o, escreveu "2 ". A série Do um ao infinito con t in u a. A ép oca da exp osição
Conceitualismo global, em 1999, o t rab alh o de O p a lk a ali represen tado t razia o t it u lo
1896116 — 1916613. O art ist a p r on u n cia os n ú m eros em p olon ês en qu an t o os
p in t a, c a fita cassete fiiz part e d o t rab alh o. A art ist a alem ã Fdanne Darb oven
com eçou a t rabalh ar co m sequ ên cias de n ú m eros em m eados da d écad a de 6 0 . Suas
in st alações t in h a m a fo r m a de prateleiras con t en d o gran des volu m es, cujas págin as
eram , p or vezes, cobert as co m sequ ên cias dc n ú m eros m arcados à m ão o u
co n t in h am , cm ou t ras part es, apenas u m n ú m er o; com o n o t r ab alh o con st it u íd o p o r
t od os os dias de u m sécu lo: 365 volum es de cem folhas cada [fig. 31]. As p ágin as d o
p r im e ir o volu m e con t êm t od os os
]3rim eiros de jan eiro; o segun do, t od os 30
Sol LeWitt
os dias d ois de jan eiro, e assim p o r
Dois cubos modulares
d ian t e, até alcan çar t od os os dias t r in t a
abertos 1972
e u m de d ezem b ro. Em u m a exp osição
Al umí ni o esmal t ado

J
w- T v em D ú sse ld o r f em 1971, u m volu m e fo i 160x 305, 4x 233
Tat e

31
H a n n e Darboven

' ^ expost o, abert o e em sequ ên cia, Livros. Um século 1971

^ tt Mfc co b r in d o cacia d ia entre p r im e ir o cie Fot ogr af i a de


^ Hj jan eiro e 31 de d ezem b ro. i nst al ação com livros e
prat el ei ra
E provável que as obras m ais Museu de Ar t e
con h ecidas deste "gé n e r o " sejam as Moder na, Vi ena

p in t u ras de datas d o art ist a jap on ês O n


Kawara, in iciadas em 4 de jan eit o de 32
On K a w a r a
1966. Ta m b é m esse t r ab alh o teve
Três pinturas de datss:
con t in u id ad e, apresentancio n ú m eros Jan. 15,1966 (Essa

sem pre ligeiram en t e diferen tes, t od os própria pintura é 15 de


janeiro de 1966):
p in t ad os à m ão, n u m a prát ica d iária Jan. 18, 1966 (Eu sou
desde aquele p r im e ir o d ia, cada u m essa pintura); Jan.l9,
1966 (Da Chambers
deles acom p an h ad o de u m a p ágin a de
St 123 para a E1311}
jo r n a l d o d ia que estava sen do St 405) 1966

regist rad o [fig. 32]. O u t r as séries de Li qui t ex sobr e tel a


Kawara, an álogas a essa, in clu em 20, 5x 25, 5x 4 cada
St aat sgal er i e Stuttgart
cart ões-p ost ais m an d ad os pelo cor r eio
para in divíciuos d o m u n d o art íst ico
regist ran d o a h ora em que ele acord ou
( "Eu acord ei..."), o u q u em ele
en con t rara n u m d ia específico ( "Eu
en con t rei..."); e, talvez o m ais com oven t e, "Eu ain d a est ou vivo — O n Kawara". Esse é
o t ip o de m an ifest ação que testa a paciên cia dos cép t icos. Ir on icam en t e, d ian t e
desses m ovim en t os da arte con ceit u ai, n ão se pod e fazer m u it o m ais d o que ecoar a
afirm ação de Mich a e l Fr ied co m relação á p in t u r a m od ern a: se algu ém n ão sente que
essas são "p in t u r as m agn íficas", en t ão "n ã o há n en h u m argu m en t o crít ico que possa^-
su b st it u ir esse sen t im en t o ". O que sign ifica exatam ente sentir-se persu ad id o da ^
im p ort ân cia de u m a série in fin it a dc n ú m eros, o u de u m a parede cheia de livros
fechados que, sabc-sc, n ão con t êm nada m ais que datas, o u d o papel que desem pen h a
u m a série de telas diferen tes entre si, cm suas m in ú cias é u m a qu est ão que perm an ece
em abert o. Se existe u m a resposta, ela talvez esteja situada na esfera de nossa r esp ost a-
ao su blim e, u m sen t id o da nossa lim itaç.ão ante o ilim it a d o , o oceiin ico; assim com o
de um a certa h u m ild ad e, q u an d o a nossa r ot in a d iária se depara co m a qu iet u d e de
u m sen t id o m on ást ico de d evoção, c|ue se t o r n a ain d a m ais in acessível pela t o t a l
ausên cia de qu alqu er d ivin d ad e que pudesse valid á-lo. Ao con t rário, o que c evocado
pod eria bem ser t om ad o p o r u m t ip o de an t i-su b lim e: algo com o o enfacionho
t rab alh o na lin h a de m on t agem , o ciclo sem fim da p r od u ção-p ela-p r od u ção .

/
ANÁLISE
^ y^ A abordagem de Joseph Ko su t h fez-se cada vez m ais agu çad a, forçan d o o r i t m o em
lim a série de obras que se t o r n a r a m ícon es da arte con ceit u ai. Em 1967 ele exib iu
obras d o t am an h o de p in t u ras — "Pr im e ir a in vest igação" —, con sist in d o n ão de

JAN. 15J96< JAN. ] 8J?é< JAN. 19J96Ó

imagens visuais em qu alqu er fo r m a, mas de palavras: negativos de cóp ias fot ost át icas,
bran co sobre p r et o, t razen d o as defin ições d icion arizad as de m u it o s dos t er m os-
chave presentes n o debate sobre a n at ureza e status da art e m od er n a — "sign ificad o ",
"o b je t o ", "r ep r esen t ação", "t e o r ia " [fig. i ] . Co m o se n u m recon h ecim en t o d o eco
ain da presente da p in t u r a, Ko su t h , n u m a rad icalização p ost er ior da sua est rat égia,
rejeit ou nos anos seguintes o pan o de fu n d o n egro das cópias fot ost át icas, passando
a in serir verbetes lexicais em lugares an t er ior m en t e n ão associados à at ividade
art íst ica, com o cartazes de m u ros da cidade e seções de propagan da nos jor n ais.
O su b t ít u lo de Ko su t h , "Ar t e com o ideia com o id eia", ap on t a a n at ureza
am bígu a dessa t en d ên cia em relação ao m o d e r n ism o . A frase é t om ad a de A d
Rein h ard t , cujas p in t u r as, na sua lógica im p lacável, represen tam u m caso lim it e n o
m od er n ism o. Ab solu t am en t e ign orad o pelos crít icos green bergian os, Rein h ar d t
lealizou a proeza im provável dc ju st ap or u m a in t ran sigen t e p olít ica dc esquerda co m
um a arte abstrata cru elm en t e desbastada. As suas p in t u ras negras fin am en t e
h arm on izad as, dos anos 60 , quase, mas n ão in t eiram en t e m on ocr om át icas — u m a
cat act et íst ica que se revela apenas à con t em p lação p rolon gad a e de fat o in visível em
rep rod u ções fot ográficas —, for am con cebidas de acord o co m u m a r u b r ica exclusiva:
"H á apenas u m a coisa a ser d it a sobre a art e: e a ú n ica coisa a ser d it a sobre a arte é
qiãe èiã é u m a coisa. A arte é art e-pela-art e e o resto é o r est o". O exem plo avesso à
VOLUME I NUMBER 1 MAY 1969

Art -Lan g u ag e
The Journal of conceptual art
Edited by Terry Atkinson, David Bainbridge.
Michael Baldwin, Harold Hurrell

Contents
Introduction I
Sentences on conceptual art Sol LeWitt 11
Poem-schema Dan Graham 14
Statements Lawrence Weiner 17
Notes on MI (1) David Bainbridge 19
Notes on Ml Michael Baldwin 23
Notes on Mi (2) David Bainbridge 30

Art-Language is p u h l i s h e d three times a y e a r hy

A r t & L a n g u a g e Press 84 J u h i l e e C r e s c e n t , C o v e n t r y C V 6 3 E T

E n g l a n d , t o which address a l i mss a n d l e t t e r s s h o u l d be sent.

Pr ice 7s.6d U K , 'i^l.50 U S A A I I r i g h t s reserved

Prin t ed in Great Br it ain


sen t im en t alid ad e de Rein h ar d t , ju n t am en t e com as p róp rias p in t u r as p r od u zid as
nessa n egação ao sen t im en t alism o, teve u m im p act o sobre ac]ueles que p rocu ravam
u m cam in h o que se estendesse para alem d o m o d er n ism o , sem c]ue para isso
tivessem, sim plesm en t e, de rc-visit ar o que já sc m ost rava, àquela alt u ra, com o os
cam in h os in t eiram en t e p er cor r id os e b at id os dos m ovim en t os de vanguarda em que
t u d o era válid o e aceit ável. As Investigações de Ko su t h receberam o m ais cfet ivo su p or t e
t eórico do ensaio que ele p u b lico u na ed ição de o u t u b r o cie 1969 cio p er iód ico Studio
International, u m t ext o n o qu al ele recon h eceu a in fluên cia t an t o de Rein h ar d t q u an t o
cie Du ch am p . "Ar t e depois da filosofia" pod e sc con siderar a m ais extensa d eclaração
t eórica feita p or u m art ist a con ceit u ai até aquela alt u ra. Nesse t ext o, Ko su t h sustenta
um a d ist in ção entre arte e est ét ica e rejeit a tocia a arte con ven cion al desde Du ch a m p .
"Ele t am b ém vê a an álise lin gu íst ica com o m arcan d o o fim da filosofia t r a d icio n a l.
—- o
Sua con clu são é que a arte n ão m ais requer a feit u ra de objet os, sendo, en t ão, u m
assunto p r op osicion al: ist o é, u m a p r op osição co m relação à con sequ ên cia de que esta
é u m a obra dc art e. N a prát ica a obra cie arte seria u m a p r op osição an alít ica, u m a
t au t ologia, an áloga a " U m t riân gu lo t em três lad os". Co m o escreveu Ko su t h , "A
'm ais p u ra' defin ição de arte con ceit u ai seria a de que ela é u m a in d agação dos
fu n d am en t os d o con ceit o 'ar t e"'. Ma is à fren t e, escritores fam iliarizad os co m a
filosofia for am ráp id os em in d icar as falhas con t id as n o raciocín io de Ko su t h . Peter
O sb or n e ap o n t o u para a inct:)nsistência que en volvia reivin d icar o status de u m a
p r op osição an alít ica para um a obra dc art e, ao m esm o t em p o que se argum en tava
que essa obra at in gia esse status som en te q u an d o apresentacia cm u m con t ext o de
art e. De qu alqu er m o d o , a obra de Ko su t h represen t ou u m p o n t o chave na evolu ção
da arte con ceit u ai: o ne phis ultra d o r cd u cio n ism o m od er n ist a c, sim u lt an eam en t e,
-uma inciagação, en qu an t o art e, com respeit o ao cjue era a art e.
O que significava ser u m art ist a e o que u m art ist a su post am en t e fazia t o r n a r a m -
se qu est ões que n ão sc p od er iam m ais evitar. O m o d e r n ism o havia r e p r im id o a
d im en são cogn it iva da art e. Agora, nas ru ín as d o m o d e r n ism o , a lin gu agem
ret orn ava, vin gat ivam en t e. O gr u p o Ar t e & Lin gu agem — in icialm en t e baseado em
Coven t ry, In glat erra — com eçou a t rabalh ar nessas ru ín as, co m o in t u it o cie buscar
u m a nova fo r m a de prát ica crít ica, cert am en t e diferen t e d aq u ilo que fora o
m od er n ism o, mas t am b ém n ão m en os crít ica em relação ao legado van guardist a
d u ch am p ian o. Aqueles que com pu seram a p r im e ir a geração d o Ar t e & Lin gu agem ,
Ter r y At k in so n , Mich a e l Ba ld win , D a vid Bain brid ge e b ia r o ld H u r r e l l , fo r m a r a m
u m gr u p o , em 19 6 6 / 7 — em bora o n om e só t en h a sid o ad ot ad o cm 1968 e a p r im eir a
edição cia revista Art-Language só ten h a aparecido em m aio de 1969 [fig. 53]. En t r e os
t rabalh os in iciais m ais sign ificat ivos está u m a lon ga série cu jo ob jet ivo era o de
investigar as im p licações referentes ao at o de p ost u lar, com o p ossíveis can d id at os ao
status de "o b r a cie art e, objet os cada vez m ais com p lexos", A frase im p o r t a n t e nesta
lilt im a sen t en ça é "in vest igar as im p licaçõ es". Porque a clássica est rat égia
d u ch am pian a da "n o m e a çã o " t in h a se t o r n a d o , se n ão exatam ente desacreditada,
red u n d an t e, ociosa. Dep o is de u m cert o p o n t o , n ão há "se n t id o " em afirm ar que
um a ou t ra pá dc neve, u m a ou t ra p ilh a de ram os n o t o p o de Ben Nevis o u u m ou t r a
idéia lu m in osa con st it u am u m a obra dc art e. At k in s o n e Bald win ( o n om e "Ar t e &
Lin gu agem " n ão havia ain da sid o cicsignado com o o "a u t o r " desses t rabalh os
in iciais) post u lavam tais "o b je t o s" de m an eira m ais sist em át ica, n u m a or d em
crescente de com p lexid ad e, buscan do suscitar qu est ões sobre a o n t o lo gia da art e.
O s itens cm jogo in clu iam ; um a colu n a de ar ( m a t ct ia, em estado gasoso); o con d ad o
de O xfo r d (imaa área irregu lar, espacialm en t e ciemarcada; mas c c]uanto à t erceira
dim en são? Q u ã o profu n d a?); o exércit o fran cês (u m a en t idade com plexa, form ad a de
vários h om en s e m áqu in as, con t in u am en t e t r ocan d o as suas part es con st it u t ivas mas
m an t en d o a sua id en t id ad e ao lon go d o t e m p o ) ; a afit m ação de que a parede ain d a
n ão con st ru íd a entre as casas n ú m eros 25 e 26 da ru a Su n n yb an k é u m a obra de arte

34

Quando atitudes
tomam-se forma

Fot ogr af i a da
i nst al ação na
exposi ção do Instilnte
of Cont empor ar y Arts,
t ondr es, 1969 ( com
Fototrilfia de Vi t or
Bur gi n no cent r o em
pr i mei r o pl ano)

35
Keith Arnatt

Peça Calça-Palam
1972

Fot ogr af i a e t ext o


ritl 100, 5 x 100, 5 cada
pai nel
•toHli AmMt Tat e
TROUSER-WORD PIECE
'It ii uiually ihoughi. and I dart aav usuaHy (Ighlfy thougm. that whal
ane mighi call the aHirmative use of a lerm is baiic - ihai. to undarsiancj 36
¥M Míd to know what ii is to bo x. or to be an x, and ihai knowing
Ihis apprises uí il whai ii is not lo be x, noi to be on x. Bui wHh 'real' John Hilliard
. .. . it ií lhe n«g*tlv* usa lhai wears lhe tfoufer». Thai is, a deltmte
sanae aiiaches to tho asserlion ihai somathing is real, a reai such-and- Camera registrando!
such, only in the light of a specilic way in which it might be. or migh(
hav« been. not rt^l. Areal duck'dillers from lhe simpifi 'a duck'onlyin sua própria condiçsa
that it is used 10 exclude various ways of being nol a rcai duck - bui a
dummy. o loy. a Picture, a decov.ec,;and morcovcf I don'i knawJuM
T MA (/aberturas, 10
how 10 lake the assenion that ifs a real duck unieas I knowinat whai. velocidades, 2
on that pailicular occasion, the spcaker hsd it in mind to exclude
(The) lunclion oi 'real' is not to contribuis posilively lo lhe characteri-
satioh ot anylhing. but to exclude possible way* of beiog not real - and
I REAL espelhos) 1971

these ways are both nurnerous ior particular kinds ol ihing*. and liabte Fot ogr af i as sobr e
to ba quite diHetom (or Ihings of diflerenl kinds. It is ihis identity ot
general lunction combined wilh immense divcrsily in spccific applico- • ART I S I ^ car t ão sobr e Perspei
tions which gives 10 lhe wofd 'real' lhe, at fifsi sighl, baffling leaiuie ol
having neilhor one single 'meôning.' nor yet ombiguiiy, a number ot 216, 2x183, 2
ditfeient meanings ' Tat e
John Austin. 'Senso and Sensibilia.'

11
( i . e., u m fu t u r o co n d icio n a l); c, com o u m t ip o de caso-lim it e, a afirm ação de que o
ensaio em qu est ão era, ele p r ó p r io, u m ob jet o de art e.
N a Gr ã-Br et an h a, a art e con ceit u ai "an alít ica " t orn ou -se u m a força pod erosa n o
fin al dos anos 60 e com eço dos 70 , abarcan do o t rab alh o de u m n ú m ero con sid erável
de artistas. H avia exp osições t od os os anos, in clu in d o t an t o a ret rospect iva
in t ern acion al Quando atitudes tornain-seforma, em 1969 [fig. 34], q u an t o exem plos m ais
localm en t e focados, tais com o Estruturas dc idéia, em 1970 , Exposição de parede, n a Lisson

44
Galler y em 1971, Retrospectiva da vanguarda, em 1972, e a im p o r t a n t e Nova arte na
H a ywa r d Gallery, n o m esm o ano. H avia t am b ém um a am pla variedacie de revistas,
que iam desde Art-Language, p u blicad a pela p r im eir a vez em m aio de 1969, a Control e a
Fraineworks, cm Lon d res — e out ras p rod u zid as p o r u m a geração reçém -su rgid a,
in clu in d o Analytical Art, a série d o Gr u p o de N e w p o r t , e, u m p ou co m ais t arde, em
m eados da d écad a de 70 , Issue, Ratcatcher e Ostricb, a iilt im a delas relacion ada a u m a
in iciat iva d o Ar t e & Lin gu agem que visava em preen der u m t r ab alh o crít ico nas
in st it u ições de en sin o da art e, sob o t ít u lo abtan gen te de -Vf/;oo/. Boa part e dessa ob r a
m ais recente com eçou a dar co r p o a um a crít ica à in st it u ição da art e, volt an d o-se, na
segunda m etade dos anos 70 , para u m a esfera além da arte — u m a rede de prát icas
radicais n o âm b it o da cu lt u r a c da p olít ica. A fase an t erior, n o en t an t o, viu su rgir
-^ um a am pla série de obras com base n o t ext o e na fot ografia, realizadas pelo gr u p o
/ Ar t e & Lin gu agem , p o r Keit h Ar n a t t , John Stezaker, Vi c t o r Bu r gin , Mich a e l Cr aig-
M a r t i n e ou t ros. Mu it a s dessas obras suscitavam qu est ões sobre a n at ureza da obra
de art e, o papel d o art ist a c d o observad on Ar n a t t em pregou u m t ext o do filósofo
J.L.Au st in para analisar e ir o n izar as qu est ões sobre o que era
u m "ver d ad eir o" art ist a [fig. 55]. As in st ru ções dc Bu r gin
fixadas na parede im p e lia m o observad or a se t o r n a r
con scien te d o processo n o qu al ele estava en gajado naquele
m o m e n t o . Câuicra registrando a sua própria condição, de Joh n
H i lli a r d , con vid a a u m a con sciên cia m ais am pla q u an t o à
represen t ação visu al relativa às afirm ações efe ob jet ivid ad e e
"fact u alid ad e" que en volvem a fot ografia [fig. 36].

FOTO-TEXTO
A fot ografia represen t ou para os artist as con ceit u ais, desde o
in ício, u m recurso cen t ral, Ut ilizacio com frec]iiência
^^•^^J^^J^^J ju n t am en t e co m diferen tes t ip os de t ext o. Jeff W a ll a fir m o u ,
^^I ^^I ^^I ^ ^ H até m esm o, que ela fo i "essen cial" às realizações da arte
BjH H H ^ BH ^ ^ H con ceit u ai. Ele argum en t a que a vanguarda crit ica "n ã o
sentia m ais a necessidade — t al cp al a art e an t er ior — de se
d ist an ciar d o p o p u la r p o r m eio da aq u isição de h abilid ad es e
sen sibilidades enraizadas em um a exclusividade art íst ica dc cor p or ação e de o fício ".
Ma is cio que isso: "era, de fat o, absolut.am ente n ecessário n ão proceder cicste m o d o ,
mas, em vez disso, an im ar, com u m a criat ivid ad e rad ical, aquelas t écn icas e
h abilid ad es com u n s que a m od er n id ad e t o r n o u , ela m esm a, acessíveis". O cu p a n d o o
p r im eir o lugar entre essa t écn icas estava a fot ografia, e n ão a "fot ogr afia-d e-ar t e",
mas um a fot ografia am ad oríst ica e de massa. Para W a ll, o precu rsor m ais im p o r t a n t e
neste âm b it o foi Ed Rusch a, que com eçara a sua serie de livros de fot ografias em
1965, com Vinte e seis postos de gasolina [fig. 57], d a n d o co n t in u id a d e ao t em a em / l/^i(/i5
' apartamentos de Los Angeles, c Todos os prédios de Sunset Strip. A fot ogr afia co m e ço u a ser
u t ilizad a cacia vez m ais para d ocu m en t ar a variedade de ações e perform an ces que
form avam u m com p lem en t o que via crescer a sua in fluên cia no que se refere à arte
con ceit u ai m ais estreitam en te "an alít ica". At ivid ad es t ão diversas q u an t o aquelas
levadas a cabo p or Gilb e r t e George e Rich ar d Lo n g na Gr ã-Br et an h a [fig. 38],
Ro b er t Sm it h son c Bruce N a u m a n nos Est ados U n id o s, apoiavam -se, t odas elas,
sobre a fot ografia para firmar a sua presen ça, quer em exp osições, c]uer nas págin as cie
livros c revistas. O status de t odas essas atividades era m arcadam en te in st ável à ép oca
d o seu su rgim en t o. N a u m a n relata que levou u m t em p o bastan te gran de reavalian do
exatamente o t]ue u m art ist a deveria fazer, e que o seu p r im e ir o livr o con st it u ía-se de
atividades tais com o café d erram ad o, fazer voltas e voltas n o est ú d io c a ssim p o r
dian t e [fig. 59]. A ú n ica m an eira, su st en t ou ele, de cfescobrir sc algo era o u n ão art e,
estava con t id a na realização d o ob jet o o u ação cm qu est ão. N a u m a n ad m it e, n o
en t an t o, que m u it a con fu são se in st alou à m edicia que se t orn ava pat en te que a arte
"n ão requer habilidac-lcs para ciescnhar, o u p in t ar, o u con hecer as cores — ela n ão
a'equer, para ser interessante, n en h u m a daquelas in st ân cias específicas que fazem
Jjarte da d iscip lin a ". E, n o en t an t o, sem a exist ên cia de h abilid ad es o u de u m a
'r ealização dc algu m t ip o , n ão haveria nacia a com u n icar. Co m o clc observou , o que
era interessante era "o esp aço en t r e" essas duas c o n d i ç õ e s ^
Em m eados dos anos 6 0 , D a n Gr ah am envolvcu-se na p r od u ção dc obras c]uc
apresentavam u m a id en t id ad e ext rem am en t e in st ável, àqu ela ép oca. A classificação
com o arte, desses t rabalh os, era ext rem am en te am b ígu a c, n o en t an t o, a eles fo i
o
conceciicio, subsec]uentemente, u m status exem plar d en t r o cio cân on e con ceit u ai.
37
Ed Ruscha

Union, Needles,
Califórnia
(de Vinte e seis posta
de gasolina) 1963

Cor t esi a da col eçãoe


ar qui vos Si egel aub di
Fundação St i t chi ng
Egr ess, Amst er dã

38
R i c h a r d Long

Uma linha feita pelo


caminhar, Inglatens
1967

Ant hony d' Of f ay


Gal l er y, Londr es

Grah am dava curso à ocu p ação usual cie escrever t ext os e fazer crít ica — u m a área que
vivia sob a in fluên cia da poesia e da art e e que dava fo r m a à vida n o in t er io r da
vanguarda dc No va Yo r k — sem pre lu t an d o para p u b licar aq u ilo que prociu zia. Trinta c
um Ác março de ig66 era u m a obra form ad a cie on ze "lin h a s", expressando a d ist ân cia
desde o lim it e d o un iverso con h ecid o até a p r óp r ia ret in a dc Gr ah am , passando pelas
dist ân cias até W ash in gt o n DC, Tim e s Square, cm No va Yo r k, a p róp ria p o r t a cia casa
de Grah am e a folh a dc papel sobre a m áq u in a cie escrever. A m ist u r a dc u m in síp id o
lit eralism o e dc um a m cciit ação im agin at iva cheia dc pecu liaridades c argú cia,
in cid in d o sobre o processo cio olh ar o u sobre o processo cia escrita, é caract eríst ica: a
econ om ia de m eios de Grah am serve com o u m ím p et o m aio r à iciéia. Em ciuas
inversões h ab ilm en t e elaboradas da cu lt u ra dc con su m o, n o que se refere a sexo e
com pras, Grah am in seriu u m t ext o m éd ico sobre a im p ot ên cia m ascu lin a e u m a n ot a
de su p erm ercad o cm , respect ivam en t e, a New York Review of Sex c a Harper's Bazaar.

Em igóójile p t o d iiz it ia , t am b ém , o am b icioso Casas para a América, u m t ip o dc


en saiofor m ad o p o r fot os e t ext o cuja elab oração visava, igu alm en t e, à p u b licação
n um a revista glam ou rosa com o a Harpers [fig. 4 0 ] . O p r ojet o n ão vin go u ( o que

46
parece, aliás, ter acon t ccicio co m m u it o s cios p r ojct os cie Gr a h a m ) ; u m a versão fo i
p o r fim p u blicad a, de fo r m a m u t ilacia, na ed ição de d ezem b ro de 19 6 6 / jan eir o de
1967 da revista Arts. A peça c agora u su alm en t e r ep r o d u zid a d o m o d o com o está
aqui — em duas partes, de acord o co m o fo r m a t o o r igin a l id ealizad o p o r Gr ah am .
Classificar a peça — que, se n ão é exatam en te u m sim ples ar t igo de revista, t am b ém
n ão é, em t od a a sua ext en são, u m a reprociu ção de arte — co n t in u a sen do u m a tarefa
d ifícil. O t r ab allio con st it u i-se de u m a série de t r in t a e cp a t r o "b lo co s" de t am an h o
sim ilar, organ izados cm seis colun as vert icais, três cm cada "p á gin a ". Algu n s dos
blocos t razem o t ext o de Gr ah am — um a d escrição calcu ladam en t e inexpressiva dos
pan fletos de propagan d a im ob iliária e que se pod e sit u ar co m o algo en t re u m a
broch u ra e u m levan t am en t o so cio ló gico . O u t r o s blocos in clu em t ip o s diferen tes de
t ext o: u m a list a cios variacios desenhos de casas à d isp osição ( A: "A Son at a", B: " O
Co n ce r t o ") ; um a list a das p ossíveis cores exteriores (5: "Verd e Gr a m a d o "; 7: "Rosa
Co r a l") ; o resultacio cie u m levan t am en t o das preferên cias e rejeições de clien tes
m ascu lin os c fem in in os q u an t o à gam a de cores; u m su m ário alfabet icam en t e
organ izad o das p ossíveis variações dos
diferen tes estilos dc casa q u an d o
con st r u íd as cm blocos dc o it o
( A A B B C C D D , A A B B C C D D , AABBCCt )D...).

O u t r o s "b lo co s" na r ep r od u ção cie


Gr ah am são visuais em sua n at u reza —
na sua m aio r ia, fot ografias e cores.
Algu n s são for m ad os p o r séries
com pact as cie casas. O u t r o s referem-se
a detalhes ext eriores, tais com o os
degraus que levam às p ort as; o u t r o s,
ameia, co m p õ em -se de detalhes
in t er n os, co m o u m q u ar t o , b iá ain da
blocos que se teferem a lojas dc
d escon t o, on d e o co n su m id o r p od e
co m p r ar os bens d u ráveis a ser
ut ilizacios nas "Casas para a Am é r ica ". O c]ue-Graham fez, de fat o, fo i apropriar-sc
d o arran jo m o d u lar en t ão associado ao est ilo cen t ral de van guarda, o m in im a lism o , c
t ran sferi-lo para a p ágin a. Co m esse p r o ced im en t o, n o en t an t o, ele im p r im e ao
t rabalh o d ois diferen tes t ip os de in flexão, que t êm co m o efeit o empirestar u m a nova
id en t id ad e à peça. U m deles é t rat ar palavras e imagens co m o equivalen tes. O
segundo é, dc m an eira en fát ica, ab r ir a u m a m od ern iciad e m ais am p la o fo r m a t o
m od u lar da escult ura m in im a list a — exp on d o à vid a social am erican a os m o vim en t os
aparentem ente h erm ét icos da art e m o d er n a. U m a cias caract eríst icas da art e
con ceit u ai bem -sucedida é ciar curso a u m a gran d e m ucian ça com o m ín im o de m eios
— com o se u m fazer c| iie resvalasse piara o nacia pudesse, sc as circu n st ân cias são as
corretas, girar o m u n d o em seu eixo. O h ist o r ia d o r Th o m a s Cr o w ressalt ou que a
im plicação crít ica das in t erven ções aparen t em en t e sem im p or t ân cia dc Gr ah am vai
além dc levar a for m a van guardista para os arrabaldes das aran dcs cidades. An t es, ao
revelar a con ciição in d u st r ializad a e segm entada até m esm o da vicia d om ést ica
con t em p orân ea, Grah am t raz à lu z a p r in cip a l e essencial razão p o r t rás da crise d o
jn o d cr n ism o . A ret órica cia au t o-cxp rcssão, a valorização d o sen t im en t o in d ivid u a l e.
acim a de t u d o , da au t on om ia ela p r óp r ia n ão estão con form es co m o m o d o de vid a
con t em p orân eo, n o q u al a p r óp r ia su bjet ivid ad e se apresenta com o u m p r o d u t o de
massa. O m o d er n ism o age, de certa fo r m a, id eologicam en t e d ian t e da m od er n id ad e.
Ele en cobre, n o que d iz respeit o à vid a social, a .ausência dos seus p r óp r ios valores.
Em vez de oferecer u m a gen u ín a t ran scen d ên cia em relação ao que é con t in gen t e, o
m od er n ism o in st it u cion alizad o fu n cion a com o p art e da m áscara id eológica a serviço
de um a or d em social m an ip u lad or a e in capacit an t e.
Sabe-se que n en h u m a arte pocie escapar às con d ições d o seu t em p o — p o r m eio
das quais t o m a co r p o a m o ld u r a que dá fo r m a a essa art e. Mas, p o r essa ép oca, h avia
u m sen t im en t o d ifu n d id o en tre jovens artistas de que o p reço da especificidade de
.m eio e, co m efeito, da d ivisão de t r ab alh o — relacion ada a essa especificidade — en tre
o art ist a c o crít ico m od ern ist as (p in t or es sim plesm en t e p in t avam ) con t rib u ía para
criar u m a arte que se t or n ar a afirm at iva — e n ão crít ica — da sua m a t t iz social. Ro b er t
Sm it h son , m ais con h ecid o pelos seus t rabalh os em gran de escala co m t erra feit os n o
com eço da d écad a de 70 , t am b ém
p r o d u z iu , p o r essa ép oca, peças que se
u t ilizavam de t ext o e fot ografia [fig.
41]. A in fluên cia de Sm it h so n teve u m
efeito fu n ciam cn t al sobre boa part e da
arte con ceit u ai, em seu in ício, em bora
ele m esm o n ão ten h a desen volvido,
p ost eriorm en t e, n en h u m a sim p at ia
especial p o r essa art e, con sid eran d o o
uso rest rit o da lin gu agem com o u m
m eio, u m a fo r m a de id ealism o. N o s
Monumentos de Passaie (igCiy^ Sm it h so n
m ist u r o u n airat iva, cit ações e
fot ografia em u m relat o das atividades
de u m d ia, n u m a sob r ep osição de
camadas cu jo resu lt ado é, ain da assim ,
in crivelm en t e lím p id o. Ele n arra a sua
h ist ória com eçan d o pela com p r a d o

filme e pela viagem - sain do de N o va Yo r k , de ôn ib u s, co m a sua câm era in st am át ica


— até o lugar on de nasceu, a cidade in d u st r ia l de Passaic, em No va Jersey. Ah ele se
p õe a fot ografar espaços p red om in an t em en t e in d u st riais com o se as in d ú st rias
fossem m on u m en t os an t i-h eróicos dedicados a u m a m o r ib u n d a m od er n id ad e
in d u st r ial. As fot ografias, banais, e o t ext o t ediosam en t e d escrit ivo que in corp orava
as especificações con t id as na caixa d o filme, assim com o u m a crít ica - su b-
rept iciam en t e in serida n o t rab alh o — à p in t u r a m od er n a, sob a fo r m a de u m
com en t ário a u m t ext o crít ico p u b licad o cm jo r n a l p o r ocasião dc u m a exp osição de
O lit s k i e lid o p o r ele n o ón ib u s, t u d o con flu i para p r o d u z ir u m a obra m u lt ip la m e n t e
ttansgressiva: transgressiva q u an t o àquelas mesmas regras que a geração de Sm it h so n
passou a sen t ir com o lim it ad or as, d en t r o d o m o d e r n ism o . Sm it h so n a r t icu lo u a
perspectiva de m o d o con ciso, d an d o fo r m a a u m a am p la gam a de prát icas
"con ceit u ais" livres em u m t ext o u m p ou co p ost erior, de 1972, escrit o à ép oca da
realização da Do cu m e n t a na Alem an h a. A Documenta y fo i u m a exp osição gigantesca
que represen t ou, m u it o provavelm en te, o p o n t o alt o da p r im eir a arte con ceit u ai, o
p on r o que a tran sf-orm aria, dc u m a força crít ica c dc op osição, n u m p od er
h egem ón ico n o que d iz respeit o ao cen ário art íst ico ín t crn acion aL A con t rib u ição dc
Sm it h son in clu i u m t ext o cu r t o sobre o tem a d o "co n fin am cn t o cu lt u r a l",
observan do que, sc o art ist a n ão era capaz de olh ar para alem da in st it u ição da
cu lt u ra já con st it u íd a, en t ão t an t o o art ist a de vanguarda q u an t o o m od er n ist a
con servador se t ran sform avam em ratos de lab or at ór io, "fazen d o pequen os e
com p licad os t r u q u es" n o local reservado à sua realização. Co n t o afirm a Sm it h son
n u m a frase que toca o ethos de t o d o o nexo crít ico-con ceit u al, '"m e lh o r d o que criar
um a ilusão dc libcrdacfe seria a revelação cia exist ên cia cio co n lm a m e n t o ".

ÍNDICE

Já n o com eço da década de 70 , a abert u ra con ferid a à sit u ação dc vanguarda


am eaçava t ran sform ar-se em sua p r óp r ia p risão. Ap o n t a r essa con ciição t or n ou -se a
39
p r in cip al p reocu p ação d o expan ciido gr u p o Ar t e & Lin gu agem , at ivo, naquela época,
Bruce Nauman
t an t o em u m q u an t o n o o u t r o lad o d o At lân t ico. Joseph Ko su t h t orn ara-se ed it o r em
Café jogado fora
porque estava muito 1970, e h m Bu r n c M e l l^amscien in co r p o r ar am a sua p róp ria "Socieciacie para a Ar t e
frio 1967
Teó r ica" ao agora m ais am p lo Ar t e & Lin gu agem , que ch egou a abatcar
Edi ção de oi l o
aproxim ad am en t e vin t e in d ivíd u os. Em 1970, Bu r n e Ram sd en escreveram u m t ext o
50, 8x61
de Onze fotografias n o qual afirm avam que, sc u m ob jet o dc arte p od ia, àquela alt u ra, "ser
coloridas 1966/ 7- con ccbivclm en t e qu alqu er coisa sobre a face d o p lan et a", en t ão "seria u m a bobagem
1970
Ál bum de onze
in sist ir cm n om ear um a con st r u ção an alít ica de arte ( i . e., esse t ext o ) com o 'obra de
foografl as col ori das ar t e"'. An t es, era t em p o dc os artistas con ceit uais volt arcm -sc, n ão à "p r olifer ação dc
Cortesi a de . Sper one
sign ificados d esign ad os", mas sim ao "m osaico se m ió t ico " d o qu al se ext raía o
W
est v/ at er, Nova Yor k
sen t id o. O que im p or t ava, realm en t e, eram as "m u d an ças fu n ciam en t ais" na
"est r u t u ra sign ica con ceit u ai d o co n t in u u m p r op r iam en t e d i t o ". A lin gu agem é
FRóxif.i,; PÁGINA DUPLA;
d iib ia, mas acaba p or sc d efron t ar com u m p roblem a real. Co m o fazer a
40
Dan Graliam t ran sform ação d o "c o n t i n u u m ", d o sistem a, da e st r u t u r a -co m o -u m -t o d o ,
Casas para a América p rop riam en re d it a, cm con t eiid o da obra? O Iiiilicc 0 1 , p r o d u z id o pelo Ar t e &
1966-7
Lin gu agem para a Documenta dc 1972, foi um a t en t at iva am biciosa cie ir além das
Texto i mpr esso e
fotografi as sobr e várias est rat égias con ceit ualist as dc "n o m e a çã o ", origin árias da t rad ição
cart ão, doi s pai néi s du ch am pian a dos reaAymaÁcs; um a t en t at iva de ultrapassar, na verdade, as específicas
101X 76 cada '
Mari on Goodman
"obras de arte con ceit u ais" en qu an t o t ais, d irecion an d o-se en t ão para a prociu ção de
Gal l ery, Nova Yor k um a espécie de obra gen érica [fig. 4 2] .
O índice desafiou con ven ções cm todas as frentes: a n at ureza cio art ist a ( fo i ~
p r o d u z id o colct ivam cn t e); a n atureza da obra (era fo r m a d o p o r objet os e t ext os); e a
natureza d o espectador (a obra foi feita para ser lid a). A in st alação con sist ia n u m
gr u p o dc o it o fichários con t en d o 87 t ext os ext raíd os da revista Art-Language, assim
com o ou t ros t ext os, publicacios ou n ão, escritos p o r m em b ros cio gr u p o . Na s paredes
circun dan t es foi colocad o u m ín dice que p e r m it ia que cacia t ext o fosse classificacio
em relação a tocios os ou t r os. A com p ar ação se fazia de acord o co m três relações:
"co m p a t íve l" (-b ), "in co m p a t íve l" ( - ) e "t r a n sfo r m a çã o " ( T ) . Essa t erceira relação é
claram ente a m ais p rob lem át ica, ain da que pareça reter o m a io r p ot en cial dc
interesse. As anexas "In st r u ções para usar o Ín d ice" afirm am que a ú lt im a cláusula
sign ifica "im p ossível com parar sem que sc cfetue algum a t ran sform ação n os
fu n d am en t os da co m p a r a çã o ". Esse p o n t o parece an álogo àquele co n t id o n u m a
ou t ra afirm ação d o / \ rt e & Lin gu agem , t om ad a ao filósofo Ru d o l f Carn ap : "o m o d o
pelo qual se faz a escolha d et er m in a aq u ilo que se escolh e".

49
r .

Homes for Tbc , ,

America
D. GRAHAM

B«t l «pl ai n Gar dan City [•:;icli hoxisv iti ;i i l i vcl upi i i cnl is a lif;lilly ti>n-
Br ooki awn Qar dan Ci t y Par k sti ufl cd ' shci r altli<nij;li lliis fiicl is ullcii l ui i -
Col óni a Gr aanl awn VVAU-I\ Wikr [hi.lf-slnn.-) Ij hck w:l\U. SMh
Col óni a Manor I sl and Par k i-.u, \H- i i ddrd ..r Mi!>tr;ifli>d ci si l v. -i-li.' siaiiíli.nl
Fai r Havan Lavi t own iiiiit i' ol I :
Fai r Lawn Middi avi i l a IcTiiptu.xislv <M ll<-d •l.iIll.o^..s.• W l i f u (lie I.O -;
Oraant i al da Vi l l aga Naw City Par k h:is A sl urpi v <il.li(|LK. runfit is t^dl cd a (:;l|.<- Cnd.
Gr aan Vi l l aga Pi na Lawn W l i ci . it is' ioiincr tliaii xvi d.' il is n •rancli.' A
Pl ai nsboro Pl ai nvi aw
Pl aat ant Gr ova Pl andoma Manor
Pl aasant Pi at nt Pl aacaht al da
Sunsat Hil l Gar dan Pl aasanl vl l l a
The i ogi c rekti i i g each setl i oned pari lo tlic cn-
tire pl an foi l ows a systemati c pi a». Adt vel op-
ment coiitaiiis a l i mited. set numbcr of Í HIHM'
i nodfi s. For i nst ance, Ca[ w Coral , a Floritla prn-
j et t , i i dvcrl i scs •'•t;lit di íTercnt iiiodol.s;
slitiitf (lie iiínv ci ty, Tiit-y art' l otated cverv-
wht TC. They urc iM it |>ttrticiitarty I M U I I K I ti) c\ist-
iuf, comtnun' i (i «; tlivy fali tt^ (ltvcli)]i citlicr rc-
^ÍI»M\ sorsqwrateidcnlitx'. TUvsc A Tl i c Soiiiita
•pni j wts" dat f f rom tlk; L-m\* Wdritl War II li Ti i e Coi tccrto
wlicih insoiitlicni Calífiiniia spctiilalor.s < CTl i c Ovcrti i rc
crativf"liuildcTsadapti^d iiiass proiliicliim D Tl i c Bal l et
ii(fisi' tl)(jiijtkly liíild m:mv lioiiscs for tlit; df - E riu- Prel i .dc
fci i w wiirkt-rs ovcr<'oiici.'nÍr,it<'(l i fi erc. 'I"liis F Tlie Scrcnftdr
' Cal i fmni a Mol l mU" «msi sl i -d .sirnply ol" dctt-r- C. ']'lic Notti i i i e
iiiiiiillK >t< l uKai i cc (liL- cvact arnouti t and iciigllis i rUi f l l l i apsody
o[ *p«vps of Itm i l xT ai i d m
iilliplyiiifí llioni !)>• tlic
iliim iífr of.j 4i i i i (br<IÍ/cd IKMISCS lò ÍM- Í H I Í I Í . A
cuttiiif; yarJ was scI iip noar l he silo ol ' tho pfo-
j wt to ^awrinij;li Inmli i T iiito lluisr si/.cs. Hy
iiiass ÍHiyi ng, j^rfalcr osc of niacliiiifs and fatl ory
priKlini' <I ]>arls, assciiiltlv iinv siaiiilardi/.aliuii.
iniiilíplc iiiiils wvii- .•asily' fal>ritat<'d,

\, Cr^,^*^,

tw«)-«l«r\ IKMI**- is iwiiallv cal l cd col oni al .' li' ri


consi NlN of (.'ontigiioii^i; l i oxcs wi l h oní; sli^^tilly
hi di er devati oi i tl is tt "split Icvol .' Suel i .sU líslic
di ncrcnl i ati on is a[lvanta);t' 4tos to tlw liasio sl ni t-
iLire (vvitli l\u- possi bl f (•«•cptíoii ort he split l c\cl
wliM .sc ])laii si i npj íncs eoostrtictioii on díscon-
liiiiioos groi i nd Ittvfis). In addi ti ol i , thcre is a choí ec of ei ght eMeri or
(•(.lor.s;
1 W i i i tf
2 Moi >nst onc Grey
:! Ni ckl e
' l' luTi' is a rífcnl trt-iid l oward ' tuo l umit' hoi ni -s'
wli i ch are I wo ÍK)\ f s split i)y adjoíiiii)); wal l s ai i d
havi íi j ; .sí^ratí- ontrai i fcs,' TIR- ki t and rii;ht
liaiid iiiiits arr iiiirror reprcHliictioiís ofci cl i otli-
(T. CXtei i sol d as pri vatr iinits are .strii)j;s of
apartrnent-Iikf,' , (|uasi-<iíscTt'tc (•ells l onnod
suhdi vi di Ti s; latt-rally an .-.vl endcd r<-<.>taiif;i.laV
paral l fl opi nft! iiito a-; ni any as Ion or Usrhi ? sep-
aral c dwcl í ni gs,

4 Seaf o^mCreei i
Tl Lawn Greei i
(i Hamhoo
7 Coral Pi nk
0(.' \ctopíTS iisnally hi i i l d, iari:*' líroiips of i ndi - H Col oni al Red
vi dual honi LS sliariiif; si m i l ar l i cor plaiis and
wli ose ovcral i yroi i pi íi g i xttsesses a di scrctc i l o«'
pl ai i . Hcgi oi uíl shoppi íi j ; ceiittn-s aiid i ndustri al
parks are soi nrt í mei iiit^grateil l u wf ! i i nl o tlic
j ;cnfral sohci i nr. E«c)i devel opi nont is sítl i oi ícd As tli<' col or seri es usnal l \ cari es i ndcpendei i tl v
i nl o hi ockcd-oi i t area-i contaíi i íng a .series oí' i<k' n- of tlie I I K K I C I scii.-s, a hl wk ofeiíílil hi mscs iitií-
lical or .se<pietitiat)y rt?late<l t ypes ofl i oi ni cs ali of i/iiiií four mudei s and l onr t ol ms might li,uc
wliicli have uiiiforin or st aceerwl sft-l »«cks atid Ibily-einlit linicíi forty-ei ght or 2.iÍ<K ixissililc ai-
l andpl ol s, ^ ranj íei nenl s.

50
•llie 8 col or \' arial>lfs wer c cíj i m l l y di^tribtited
ani oi íg tlic l i onsf cvteri ors. Tl i c first Ij uyers wer c
mor e l i kcl y to l i avc ol i tai ni d thei r (írst choi ec iii
eoi or. Fai ni l y iiiiits had to ni akc u choi ce based
on t he avui l i i bl e col ors whi ch al so t ook account
of l>otli hnshai i d and wi f es likes and di di kes.
Adi i l t mal e an<l fci nal e eol or likcs and di sl tkes
wcr e t oi npared in a si i rvey ofl l i e l i oni i -owii crs:

Mal e Femal e
SkywayBhi e
" col oni al Red Lawn Grcei i
E.itli bl ock of houscs is a sei f-conl ai i i cd scciiiiím
.c Páti o W hi t e Ni cki e
- tliere is no devel opment — sel etted froni iUv Yel l owChi non Col oni al Red
jwjísilile acct-ptable arrai i gemei i ts. As an e\ Ui wn Creeu Vel i ow Chi fToi i
ampl e, if a sectioii was to contai n eiglit housf s ol ' Ni cki e Patío W l i i te
«liich four model types wcr e to I » uscd. anv of Fawn MiKHi st one Gr cv
Iline i >ennut«ttoni J poisibílities coul d be usetl : Mouost one Gr ey Fawn

'Pá
AABBCCDD ABCDABCD
AABBDDCC ABDCABDC:
AACCBBDD ACBDACBD
AACCDDBB ACDBACDB Al t hough t hcre is perhaps some aesi hcti c pre-
AADDCCBB ADBCADBC cedci K-e ín t he r ow houscs whi ch are i ndi geníni s
AADDBBCC ADCBADCB to i nany ol der cities al ong l he east coast . and
BBAADDCX l i ACDBACD Tv- f—u„ , t v_ 5+,í^ i r,,„j_ A--/. hui l t wil l i uni f onn façadcs and set-l wcks earl y
BBCCAADD BCADBCAD tlils cei íturj ' , housi ng dc\ ' el opment s as an archi -
BBCCDDA. \ BCDABCDA tectiiral phenomenon seempecul i arl y gral i i i l ous.
BBDDAACC BDACBDAC They exi st apart f rompri or st andards of ' eood'
BBDDCCAA BDCABDCA archi tecture. They wer e not buíl t to sati sfv in-
CCAABBDD CABDCABD di vi díi al needs or tastes. The owner is compl et e-
CCAADDBB CADBCADB ly l angcnti ul to t he prmittets coi npl rt i on. Hi s
CCBBDDAA CBADCBAD líoiiie isn' t real l y poswssabl e in t he ol d j ensc; it
CCBBAADD CBDACBDA Mal e Fi i i i al e wasnt desi gi i cdto *Iast for gei íerati ons' ; and wi t-
CCDDAABJi CDAI i CDAB si<le of its i mmedi at e ' herc and i i ow' i -ontcxt it is
CCDDUHAA CDBACDBA LawnCr een Páti o W hi t e i i sei ess. desi gi i ed to l>e throsvi i away. Bot h ar-
DD. AABBCt : DACBDACB Col oni al Ked Fawi , chi tecture and eraftsi nanshi p as valiies are suh-
DDAACCBB DABCDABC Páti o W hi t e Col oni al Red \erted by tlie dependence on si mpl i fi cd and
DDBBAACC DBACDBAC Mooi í st onc Grt McKmsI mi e Gr cv easi l y di i pl i cal cd tecl mifi ues of fabri cati on and
DDBBCCAA Fawn Vdl owChi l Ton standardi zetl mo<l ul ar pi aus. Cont i ngmci es
DDCCAABB DBCADBC:A
Vel i ow Chi l l on I,aw.i t;r.-en such as mti ss producl i on tee^l nol og^• and l and
DI Xi CBBAA DCABDC;AB
Ni ekl e Sk\ wa\ e use ec<i nomics muke t he fi nal decí si ons. denyi ng
D C B A D C B A
Skvwav Bi ne Ni cki e t he archi l ect hi s fori ner ' unitiiie' rol e. Devcl op-
nieiits st and in an al tcred rel uttonshi p to thei r
ei i vi ronni enl . Desi gned to fill in dead l and
áreas, t he houscs neeí hi t adapt to or attei npt to
witlistaiid Nat nrc. Ther e is uo l i rgani e uni tv
coni i ecti ng t he l and site and t he bom.-. Bot h are
wi t bout roots — sei >aratc parts tn a l arger, pre-
det ermincd, syntheti c order.

A gi ve.1 devel opni ent might use. perl i aps, / pur


oi tlicse• ix[Xissih
ilililies as an arhi trary schei ne for
differeiít sectors; tlu-ii scl cct foiír troin anothei
. i cheme whi ch utilizes t he rei nai i i i ng four unustnl
model s and col ors; tlien sel ect four f romam)t her
schr me whi ch uti l i zes ali ci ght ni odel s and ci ght
col ors; thei i four f rom aiiotlier schei ne wliieli
uti l i zes u si ngl e i mxl el and all ei ght col ors {or l our
or t wo col ors): and finally utilize that si ngl e
scheme for <me iniKlel and one col or. Thi s vcrial
l ogi c might fol l owcoi i si stentl y uiitil, at t he cdges.
it is abruptl y t emii nat ed by pre-exi stcnt hi gh-
ways. Ixi wli ng al l eys. shoppi ng pl asuK, car hoj K.
di scoi ni t lioiiscs. Ii tml>eryards or faetori es. ARTSMAdAZI NE/ l W
i i i U-r lUM
í-Jai.ii
T i l a d o s d e seu s c o n t e xt o s , esses c o m e n t á r i o s p o d e m n ã o e vi d e n c i a r a su a p r ó p r i a
i m p o r t â n c i a , m a s, c ]u a n d o d e s ve n d a d o s , s ã o cap azes cie r e fl c t i r u m a m u c i a n ç a n as
p r i o r i d a d e s c u l t u r a i s d o p e r í o d o . O s e fe it o s se fi z e r a m s e n t i r s o b r e as h i s t ó r i a s d a
a r t e , d a c iê n c ia e d a l i t e r a t u r a , s o b r e o a in d a n a sce n t e c a m p o d o s e s t u d o s c u l t u r a i s e
so b r e as c iê n c ia s so cia is, a ssim c o m o e m r e l a ç ã o à p r á t i c a a r t í s t i c a . Esse p e r í o d o
t e s t e m u n h o u , d e u m l a d o , o i n í c i o d o i m p a c t o e xe r c id o p e la t e o r i a fr a n ce sa s o b r e os
e st u d o s c u l t u t a i s d e l í n g u a in gle sa . N ã o se r á e xa ge r o a fi r m a r c]uc fo r m a s d e a n á lis e
d e ve d o r a s d a t e o r i a l i n g u í s t i c a cie F e r d i n a n d d e Sa u ssu r e , p o r m e i o d a o b r a d c
R o l a n d Ba r t h e s , t o r n a r a m - s e d o m i n a n t e s e m t o cia a esfera d as a r t e s. A t e r m i n o l o g i a
d e "s i g n i fi c a n t e s " e "s i g n i fi c a d o s ", "s i g n o s ", "s e m i ó t i c a " ( c , m a is t areie, u m s e m -
n ú m e r o d e o u t r o s t e t m o s , q u e c o b r i a m d a " d c s c o n s t r u ç ã o " à "d i f e r e n ç a ") t o r n o u - s e
a lí n g u a fr a n c a d o d e b a t e c u l t u r a l . Essa é p o c a t e s t e m u n h o u t a m b é m o s u r g i m e n t o d e
u m a t e n d ê n c i a ao s o c i o l o g i s m o q u e i m p l i c a va u m a m u d a n ç a n o fo c o d e in t e r e sse , d o
" t e x t o " p a r a o "c o n t e x t o ". D e s t e m o d o , a h i s t ó r i a s o c i a l d a a r t e a r t i c u l a u m a c r ít ic a
c m r e la ç ã o ao fo c o e xclu sivo d o m o d e r n i s m o n o e fe it o vis u a l d a o b r a d c a r t e ,

e n fa t i z a n d o , c m seu lu ga r , a c o n s t e l a ç ã o d e
cau sas so cia is a p a r t i r cias q u a is se c o n s t i t u í a a 41
Robert S m i t h s o n
o b r a . A a ssim c h a m a d a "s o c i o l o g i a d o
O Monumento da fonte
c o n h e c i m e n t o " s u r g i u t a m b é m n essa é p o c a .
- Vista aérea
P a r t i c u l a r m e n t e s i g n i fi c a t i vo fo i u m de Monumentos a
Passaic 1967
d e s e n vo l vi m e n t o n o c a m p o d a filosofia da
c iê n c ia a sso cia cio à n o ç ã o , ciescn vo lvicia p o r Fot ogr af i a
Museu Naci onal de
T . S. K u h n , d c "r e v o l u ç õ e s n o p a r a d i g m a ". Ar t e Cont empor ânea,
A a r g u m e n t a ç ã o d e K u h n era a cie q u e o Osl o

c o n h e c i m e n t o c ie n t ífic o n ã o p r o g r i d e d e
42
m o d o c u m u l a t i v o , m a s s i m e m d e c o r r ê n c i a cie
Arte & Linguagem
u m a sé r ie d e sa lt o s. Al g u m a s b r e ch a s c r u c ia is
índice 011972
e s t a b e le c e r ia m u m p l a n o d c cst u cio s q u e
Fot ogr af i a da
c ie n t is t a s p o s t e r i o r e s c o n t i n u a r i a m a e xp l o r a r . i nst al ação na Gal eri e
Nat i onal e du l eu de
Ev e n t u a l m e n t e , as e xp e r i ê n c i a s a c a b a r i a m por
Paume, Par i s, 1994
p r o d u z i r a lgu n s r e s u lt a d o s a n ó m a l o s , q u e ,
c o m o t e m p o , c o m e ç a r i a m a a m e a ç a r a c o e r ê n c i a g l o b a l d o s is t e m a . D e p o i s d e u m
p e r í o d o d e in ce r t e z a s d u r a n t e o q u a l o s is t e m a ser ia s u b m e t i d o a u m
q u e s t i o n a m e n t o fu n c i a m c n t a l , o c o r r e r i a u m a " m u d a n ç a d e p a r a d i g m a ". A p r á t i c a
cie n t ífica t e r ia d e ser r e c o n fi g u r a d a p a r a q u e p u d e sse fo r n e c e r r e sp o st a s, b asead as e m
e xp e r i ê n c i a , p ar a u m n o v o c o n j u n t o d e q u e s t õ e s . A t e o r i a d c K u h n i n t r o c i u z i u , cicst e
m o d o , u m a ce r t a d o se d e r e l a t i vi s m o n o c a m p o d o c o n h e c i m e n t o c ie n t ífic o . N o
p l a n o c u l t u r a l , a r e vis ã o t e ó r i c a cie K u h n t eve u m i m p a c t o p r o n u n c i a d o , p a r e c e n d o
d a r s u p o r t e a u m a n a sce n t e e p e n e t r a n t e r e l a t i vi z a ç ã o d e va lo r e s.

O g r u p o A r t e & Li n g u a g e m t e n d i a a o l h a r c o m c c t i c i s m o a vo ga cia t e o r i a
fr a n ce sa , a l i m e n t a n d o - s c , ao in vé s d is s o , d a t r a d i ç ã o a n a lí t i c a c m filosofia. Mas a
t e o r i a cie K u h n p a r e cia ser i n s t a n t a n e a m e n t e a p l i c á ve l â a r t e , u m d i s p o s i t i v o
l i b e r t a d o r p a r a p e n sa r a t r a n s f o r m a ç ã o t r a z i d a p e la a r t e c o n c e i t u a i às p r e m issa s q u e
fo r m a v a m os fu n d a m e n t o s d a a t t e m o d e r n a . U m t e xt o d e A t k i n s o n c Ba l d w i n
p u b l i c a d o n a Studio lutcrimtioual, c m 1970, e xp l o r a as c o n s e q u ê n c i a s d o a fa s t a m e n t o da
a r t e c o n c e i t u a i e m r e l a ç ã o à q u i l o q u e sc d e fi n i u c o m o o "MC:POP" (O c a r á t e r m a t e r i a l
c o p a r a d i g m a o b j e t o - fí s i c o d a a r t e ) : o r e c o n h e c i m e n t o e x p l i c i t a d o p e la p r o p o s i ç ã o

52
d o Ar t e & Li n g u a g e m é d e e]iie o c r it é r i o c]iic sc u t i l i z a p a r a cla ssifica r o im in d c:i t e r á
u m e fe it o d e t e r m i n a n t e so b r e o t i p o d e m u n d o cjue se é ca p a z d c classificar .
O m u n d o , o u a a r t e , s ã o i n s t â n c i a s q u e n ã o e s t ã o d i vi d i d a s e m t i p o s n a t u r a l m e n t e
d e t e r m i n a d o s ( o b j e t o - d e - a r t e / n ã o - o b j e t o - d e - a r t e ) ; a n t e s, a n o ssa l i n g u a g e m c, p o r
e xt e n s ã o , as e s t r u t u r a s c o n c e it u a i s q u e e m p r e g a m o s a j u d a m a f o r m u l a r o q u e ve m o s
c o m o a lgo ( c o m o a r t e ; c o m o c r i t i c a dc a r t e ; c o m o p o l i t i c a ) . A r e l a ç ã o
"t r a n s f o r m a c i o n a l " d o índice d á t e s t e m u n h o d e u m a p e r c e p ç ã o s i m i l a r . N ã o é
su ficie n t e d i z e r q u e A é c o m p a t í v e l c o m B, o u i n c o m p a t í v e l c o m X ; t e m o s cjue
le va n t a r q u e s t õ e s s o b r e esse caso, l a n ç a r i n t e r r o g a ç õ e s e, a o final, ch e ga r a
t r a n s fo r m a r o p r ó p r i o f u n d a m e n t o so b r e o q u a l se a r t i c u l a m e le m e n t o s e i n s t â n c i a s
t ais c o m o c o m p a r a ç õ e s o u i m p u t a ç õ e s d e i d e n t i d a d e . O i t e m i p o d e ser u m a o b r a d e
a r t e , o I t e m z , u m a p e ç a d e c r ít ic a d c a r t e , o I t e m 5, u m a p r o p o s i ç ã o filosófica, m a s ,
ao t r a n s fo r m a r a d e fin iç ã o d i s c i p l i n a r d a q u a l d e p e n d e m a q u e la s c o m p a r a ç õ e s , é

p o s s í ve l c]ue se veja a e m e r g ê n c i a dc u m m a p a i n t e i r a m e n t e d i fe r e n c i a d o do t e r r e n o .
N e s t e caso, u m a c o n t i n u a d a p r á t ic a a r t í s t i c a p o d e , t a lve z , ser c o n s t i t u í d a a p a r t i r d o
d i á l o g o d o s seu s p a r t i c i p a n t e s , u m a "p r á t i c a t e ó r i c a " c o le t iva i n f o r m a d a p o r u m a
va r ie d a d e d e r e cu r so s filosóficos, lin gu íst ico s o u at é m e s m o d e cu lt u r a p o p u la r .
C o m o t a l , essa p r á t i c a d c a r t e n ã o t e r ia c o m o finalidade a p r o d u ç ã o d e i n fi n i t o s
o b je t o s c]ue sc c o lo c a s s e m a s e r vi ç o d o p r a z e r e s t é t ic o , n e m seria vist a cc5mo o
p r o d u t o d c u m a u t o r i n d i v i d u a l "a r t í s t i c o ". O q u e n ã o c]u cr d i z e r q u e u m s e n t i d o
t r a n s fo r m a d o d o e s t é t ic o n ã o p u d e sse p e r m a n e c e r e m a b e r t o , c o m o u m a
p o s s i b i l i d a d e . Sign ific a , isso s i m , c o n c e b e r a a r t e c o m o p o t e n c i a l m e n t e u m t i p o d e
p r á t ic a c r ít ic a , c o g n i t i va c, a c im a d e t u d o , s o c ia l, q u e p u d e sse p e r m i t i r o a lca n ce d e
u m a a u t o c o n s c i ê n c i a c r ít ic a n o m u n d o , i n fl u e n c i a n d o , t a lve z , a t é m e s m o , a
c o n s t r u ç ã o d e u m t a l m u n d o . N e m é p r e c is o d iz e r , c o n t u c i o , q u e t a l t r a n s f o r m a ç ã o
n a h is t ó r ia r e q u e r m a is d o q u e u m a m o d e l a g e m e m a r t e .

53
5

POLÍ TI CA E REPRESENTAÇÃO

A h i s t ó r i a d a a r t e m o d e r n a t r a z m u i t o s e xe m p lo s d e p r o j e t o s q u e t e n t a r a m vi s u a l i z a r
u m m u n d o t r a n s f o r m a d o . O s m a i s e vid e n t e s s ã o a q u e le s a sso cia d o s ao
c o n s t r u t i v i s m o s o vi é t i c o d o s a n o s 20 , e m b o r a t e n h a h a v i d o o u t r o s . O c a p i t a l i s m o
i n t e r n a c i o n a l , c o n t u d o , n ã o fic a r ia c o n fi n a d o à h i s t ó r i a d e p o i s d o O u t u b r o
Bo lc h e vis t a . N e m o r a d i c a l i s m o d o fi n a l d as d é c a d a s d c 6 0 e 70 r e s u lt a r i a e m
q u a lc]u e r t r a n s f o r m a ç ã o p o l i t i c a f u n d a m e n t a l . N u m a r t i g o e s c r it o c m 1975, Lu c y
Li p p a r d la m e n t a va a a b s o r ç ã o d o s i m p u l s o s r a d ic a is d a a r t e c o n c e i t u a i : o m o c i o
c o m o at e m e s m o fo lh a s d e p a p e l d a t i l o g r a f a d o e st a va m s e n d o c o m e r c i a l i z a d a s n o
m e r ca cio d c a r t e , e o m o d o c o m o c o n c e i t u a li s t a s d e p o n t a h a vi a m c o n s t r u i d o
ca r r e ir a s d e su cesso n o â m b i t o d a já e xist e n t e e s t r u t u r a d e m e r c a d o . I a n Bu r n
escr eveu , e m 1981, q u e "a co isa m a is s ig n ific a t iva q u e s c p o d e d i z e r e m fa vo t d a a r t e
c o n c e i t u a i é, t a lve z , o fa t o d e ela t e r f a l h a d o ". N e s t e s e n t i d o , ' c o m o ela p o d e r i a n ã o
t e r fa lh a d o , le va n d o - se e m c o n t a o g e n e r a l i z a d o fr a ca sso d a " c o n t r a c u l t u r a " , d a q u a l
a a r t e c o n c e i t u a i fa z ia p a r t e ? E, n o e n t a n t o , a p esar d e os fu n d a m e n t o s d o c a p i t a l i s m o
n ã o t e r e m s i d o a b a la d o s d e m o d o s u b s t a n c i a l , a h i s t ó t i a , p o r su a vez, e st á e m
c o n s t a n t e m o v i m e n t o ; m u d a n ç a s so cia is c c u l t u r a i s o c o r r e m . A a r t e c o n c e i t u a i , n u m
s e n t i d o m a i s l i m i t a d o , fa z ia p a r t e d e u m a m u d a n ç a s i g n i fi c a t i va AJn i a d as.
c a r a c t e r ís t ic a s c e n t r a is d a a r t e c o n c e i t u a i i i o s a n o s 70 f o i a s u a c r e s c e n t e j p o l i t i z a ç ã ^
Par a a lgu n s, i n c l u i n d o Bu r n , isso sign ifica va q u e essa a r t e er a t r a n s i t ó r i a : e m r e l a ç ã o à
p r ó p r i a a r t e e a m p l i a n d o - s c p a r a u m a esfera m a i o r d e p r á t i c a s c u l t u r a i s e n ga ja d a s,
a lé m d o u n i ve r s o a r t í s t i c o , c m a t ivid a d e s r e la c io n a d a s à e d i t o r a ç ã o , à t e l e vi s ã o , às
c o m u n i d a d e s o u aos s i n d i c a t o s . Pa r a o u t r o s , c o n t u d o , o s e n t i d o q u e se d e s e n vo lvia
d c u m a p o l í t i c a d a t e p r c s c n t a ç ã o r e su lt a va n u m a m u d a n ç a d c co n ccp çcã o cie vi d a
p r o p r i a m e n t e d i t a ; u m a m u d a n ç a q u e H a l Fo s t e t r e s u m i u q u a n d o o b s e r vo u q u e o
a r t is t a p ó s - m o d c r n o era m e n o s u m p r o d u t o r d e o b je t o s d o q u e u m m a n i p u l a d o r d e
s ign o s , e n ga ja d o c r i t i c a m e n t e c o m a a m p l a esfera d a r e p r e s e n t a ç ã o .
Te m - s e a i m p r e s s ã o , às vezes, cie q u e os a sp e ct o s r e l a c i o n a d o s à a r t e c o n c e i t u a i
s ã o c o m p l e xo s c p a s s í ve i s d e d i s c u s s ã o c d ú v i d a . A q u e s t ã o q u e a b o r cia a d i m e n s ã o
p o l í t i c a d o c o n c e i t u a l i s m o r e q u e r , c e r t a m e n t e , u m a b o a d o se d c ca u t e la . In d a ga - s e ,
p o f e xe m p lo , q u ã o a b e r t a c p ú b l i c a cicvc ser u m a p r á t i c a p a r a q u e p o ssa ser vis t a
c o m o "p o l í t i c a ", o u se a r e cu sa t io s e s t e r e ó t i p o s d c u m a p r á t i c a d e a r t e p o d e ser t icia ,
ela p r ó p r i a , c o m o "p o l í t i c a ". N o s p a í s e s d e l i n g u a in gle sa , a a r t e c o n c e i t u a i n ã o
p ar ece t e r se vo lt a c io e xp r e ssa m e n t e p a r a c]u e st õ cs "p o l í t i c a s " c n c ] u a n t o t a is a t é o
c o m e ç o d a d é c a d a d c 70 . O cieb at e n o m u n d o d a a r t e , n o e n t a n t o , t o r n a va - s e cacia
vez m a is p o l i t i z a d o n o final d a d é c a d a cie 60 e, c m o u t r a s p a r t e s, a lg u m a s p r á t i c a s
a n á l o g a s a b a r c a va m u m a p o s t u r a p o l í t i c a e xp l í c i t a já e m u m a d a t a b e m p r e c o c e .

EUROPA •
N a Eu r o p a , Fr a n ç a e I t á l i a p a ssa vam p o r c o n vu l s õ e s so cia is, q u e c u l m i n a r i a m n o
M a i o d e 1968, e m Pa r is e n o m a i s l o n g o O u t o n o Q u e n t e , e m 1969, n a I t á l i a . N a
Fr a n ç a , os s it u a c io n is t a s d e s e n vo lve r a m u m a c o n c e p ç ã o d a m o d e r n a so cie cia d e d e
c o n s u m o q u e a p o n t a va o p a p e l e xe r c id o p e la c o n f o r m i d a d e i d e o l ó g i c a aos va lo r e s
d o m i n a n t e s n a m a n u t e n ç ã o d o s is t e m a . Is s o c o n d u z i u a u m a m u d a n ç a n o fo c o d a
a t ivid a d e r e vo l u c i o n á r i a , q u e p a s s o u cie u m a t i a d i c i o n a l o r i e n t a ç ã o m a r xi s t a vo l t a d a
à e c o n o m i a e à p o l í t i c a , p a r a u m a m a i o r ê n fa s e n a c u l t u r a e n a i d e o l o g i a . N o s a n o s
60 , os s it u a c io n is t a s c h e ga r a m a d e s e m p e n h a r u m i m p o r t a n t e p a p e l q u a n t o à
r a d i c a l i z a ç ã o d o s e st u d a n t e s fia n ce se s. Ap e s a r cie t e r t r a b a lh a c io i n i c i a l m e n t e c o m
a r t ist a s c o m o As ge r Jo r n , o g r u p o ve io a r e p u d i a r a a r t e c o m o u m p o s s í ve l e s p a ç o cie
l u t a r e vo l u c i o n á r i a . O c i n e m a era u m a a r m a c u l t u r a l m a is p o d e r o s a , c o m o n a o b r a cie
Je a n - Lu c G o d a r d . N o e n t a n t o , p a r a o m e n t o r filosófico d os sit u acio n ist as, Gu y
eviseun
, J e l ' -' ' M
f)-i

m m s .

m Êm
D c b o i d , a a i t c c i a u m e l e m e n t o i t r e d i m í v c l d a "s o c i e d a d e do e s p e t á c u l o ' , e os seu s
n i l T t J S ^ c i r i n d i vi d u a l i s m o e a u t o - e x p i e s s ã o , c o n t t a r i a m c n t e à e l a b o r a ç ã o d e u m
c a m i n h o l i b e r t a d o r , f o r m a v a m p a r t e d a t ] u i l o q u e m a n t i n h a as m assas escravas d o
c o n s u m o . N ã o o b s t a n t e , h a via a r t is t a s d e s e n vo l ve n d o u m p r o g r a m a r a d i c a l , q u e
i n c o r p o r a va a sp e ct o s d a p o l e m i c a c u l t u r a l s i t t i a c i o n i s t a ao c a m p o d as a r t e s visu a is.
D a n i e l Bu r e n est ava e n t r e os q u e sc d i s t a n c i a r a m d o t e r m o "a r t e c o n c e i t u a i ", m a s
cu jas a t ivid a d e s c e r t a m e n t e se e n c a i xa m n o â m b i t o d c u m a m a i s a m p l a c o r r e n t e d e
o p o s i ç ã o . Ju n t a m e n t e c o m O l i v i e r M o s s e t , M i c h e l P a r m e n t i c r e N i e l e T o r o n i , Bu r e n
o r g a n i z o u u m a d e m o n s t r a ç ã o n o Sa l o n de la Je u n e P e i n t u r e e m ] de ja n e i r o d e 1967.
O s q u a t r o a r t is t a s t i n h a m , ca d a u m d e le s, a d o t a d o u m e s t i l o i m p e s s o a l : o e s t i l o d e
Bu r e n c o n s i s t i n d o e m list a s ve r m e lh a s e b r a n c a s ve r t i c a i s , o d e M o s s e t , e m u m
c i r c u l o p r e t o s o b r e u m f u n d o b r a n c o , o d e P a r m e n t i c r , e m fa ixa s h o r i z o n t a i s e m
c in z a e b r a n c o , e o d c T o r o n i , m a r ca s q u a cir a d a s feit a s c o m u m p i n c e l d e t a m a n h o
p a d r ã o c o b e c t o d e t i n t a a z u l [ fi g . 4 ; ] . N o d i a s e gu in t e , os a r t is t a s r e m o v e r a m as su as
o b r a s, c o l o c a n d o c m seu lu g a r u m a f a i x a n a t]u a l sc h a "Bu r e n , M c is s e t , P a r m e n t i c r ,
T o r o n i n ã o e s t ã o m a is e x p o n d o ". E m u m p a n fl e t o d i s t r i b u í d o à m e s m a é p o c a , eles •
a fi r m a va m " N ó s n ã o s o m o s p i n t o r e s ", o fe r e c e n d o u m a va r ie d a d e d e m o t i v o s
r e la c i o n a d o s às m a is c o n ve n c i o n a i s s u p o s i ç õ e s e m r e l a ç ã o à c o m p o s i ç ã o , à
r e p r e s e n t a ç ã o d e o b je t o s , à c o m p e n s a ç ã o e s p i r i t u a l e ao m o d o p e l o q u a l a p i n t u r a
c o n fe r ia va l o r e s t é t i c o a u m a sé r ie d e fa t o r e s, e n t r e os q u a is " o e r o t i s m o , o a m b i e n t e
c o t i d i a n o . . . a p s i c a n á l i s e e a g u e r r a d o Vi c t n ã ".
ni el Bur en
O o b j e t i vo era c h a m a r a a t e n ç ã o , n ã o p a r a as p i n t u r a s p r o j i r i a m e n t e d i t a s , m a s
iclage saiivage
p a r a as e xp e ct a t iva s p r o c i u z i d a s p e l o c o n t e x t o a r t í s t i c o . A Bu r e n , p a r t i c u l a r m e n t e , fo i
[m de cart azes
ôtóri a) d a d o in \ ' c r t e r a r e l a ç ã o u s u a l e n t r e a o b r a d e a r t e e o e s p a ç o d e e xi b i ç ã o . Se g u n d o a
ril 1968 c o n ve n ç ã o , u m a ga le r ia p e r m a n e c e r á m a is o u m e n o s a m e s m a e n q u a n t o as o b r a s
lografia de part e da
e xp o st a s se m o d i f i c a m . Bu r e n , n o e n t a n t o , m a n t e ve - s e fiel à su a m a r c a p e sso a l d e
ra msííu
c o l o r i d a s list a s ve r t ic a is e m d ife r e n t e s s i t u a ç õ e s , q u e a b r a n g i a m d e sd e ga le r ia s —
p a ssa n d o p e l o e xt e r i o r d e e d i fí c i o s e p o r ca r t a z e s d e r u a — a t é as p á g i n a s d e u m a
r e vist a [ fi g . 4 4 ] . O o b j e t i v o d a o b r a era f u n c i o n a r p o r m e i o d e u m c o n j u n t o d c
n e g a ç õ e s — n e g a ç ã o d e in t er esse f o r m a l , n e g a ç ã o d o a p e lo e s t é t i c o , n e g a ç ã o d e u m
c o n t e i i d o e m o c i o n a l , c a ssim p o r d i a n t e , t r a n s f e r i n d o a a t e n ç ã o , c o m u m e n t e vo lt acfa
à ob r a de art e, para o e sp a ço cir cu n d an t e.

A o b r a d c Bu r e n c o n s t i t u i - s e d e st a m a n e i r a n u m a i n s t â n c i a p r e c o c e d o q u e sc
Jo r i i a r i a , m a i s t a i vi e ^ jt m a xa r a c t e r í s t i c a c e n t r a l d a a r t e c o n c e i t u a i p o l i t i z a d a : a c r í t i c a
à i n s t i t u i ç ã o . N o e n t a n t o , q u a n d o fo i c o n v i d a d o p c l ó ^ S w f n o fr a n c ê s , e m 1986, para
r e c o n fi g u r a r o p á t i o d o Palais Ro ya l c e m Pa r is c o m as su as list a s c a r a c t e r í s t i c a s , su a
v i r t u d e c r ít ica — q u e p o r vo l t a d e 1968 a n d a va p a r a p a r c o m a p r á t i c a — p a r e cia t e r
e va p o r a d o . A d e s p e i t o d o q u e a go r a p o d e m o s en ,xergar n o p a ssa d o , o p o n t o c m
q u e s t ã o é q u e o p a p e l d as i n s t i t u i ç õ e s c o m e ç a v a a se t o r n a r m a t é r i a d e u m e s t u d o
c r ít ic o . N o final d o s a n o s 60 , o filósofo m a r xi s t a fr a n c ê s Lo u i s Al t h u s s c r i n t r o d u z i u
a n o ç ã o de "a p a r a t o i d e o l ó g i c o d o e s t a d o " c o m o p a r t e d e u m a t e n t a t i va d e e n t e n d e r
o m o d o p e lo q u a l as i n s t i t u i ç õ e s t a n t o fo r m a i s q u a n d o i n f o r m a i s — t a is c o m o
e d u c a ç ã o c fa m í li a — c o n t r i b u í a m p a r a a r e p r o d u ç ã o d as r e l a ç õ e s d e p r o d u ç ã o . •'
vige n t e s. A o b r a d c M i c h e l F o u c a u l t , p a r t i c u l a r m e n t e , \ ' o l t o u o seu e n fo q u e p a r a a
r e la ç ã o d e c o n h e c i m e n t o e p o d e r n a s o c ie d a d e . O s a r t is t a s r a p i d a m e n t e c o m e ç a r a m a
a p lic a r esse r a c i o c í n i o às fu n ç õ e s d a a r t e p r o p r i a m e n t e d i t a e às i n s t i t u i ç õ e s q u e a
su st en t am — p r in c ip a lm e n t e o m er cad o e o m u seu . , ;/ ; ,

57
U m a das p r i m e i r a s o b r a s d e a r t e vo lt a d a s ao t e m a d o m u s e u fo i o Miisce d'Art
MoAcrnc, Dcpartcnicnt desAigles, d e M a r e e i Br o o d t h a e r s [íig. 4 5] . Br o o d t h a e r s era u m
p o e t a b e lga q u e se b a n d e a r a p a r a os l a d o s d a a r t e e m m e a d o s d o s a n o s 6 0 ,
p r o d u z i n d o u m a ser ie e c lé t ic a d e o b je t o s , fo t o g r a fi a s , l i vr o s e fi lm e s . I n i c i a d o c m
1968 c e xi b i d o n a su a f o r m a final n a Documenta 5, c m 1972, o e s q u e m a d o ficcional
" M u s e u das Á g u i a s " era, c m su a e s s ê n c ia , s i m p l e s . C o m e ç a n d o c o m c a r t õ c s - p o s t a i s

1 45
M a r e e i Broodthaers
t . if
Musée d'Aft Moderne.
Département des
Aigles, Section
Publicite 1972

Fot ogr af i a da
i nst al ação na
Documenta 5, Kassel ,
Al emant i a

46
J a n i s KounelMs

Sem titulo (Doze


cavalos) 1969

I nst al ação na Gal l eri a


f At t i co, Roma

47
M á r i o Merz

C/ 7eFcí f e?( 0que


f azer ?) 1969
Tubos de met al , vi dro,
gesso 8 f ei xes de
gal hos
150x 250x 320
Ar chi vi o Mer z

d e p i n t o r e s a c a d é m i c o s d o s é c u l o XIX, Br o o c it b a e r s c u id a c io s a m c n t e r e u n i u u m
r e p e r t ó r i o d e im a ge n s e xt r a í d a s d a c u l t u r a p o p u l a r e d a p r o p a g a n d a . A e sc o lh a d a
á gu ia p e r m i t i u u m a m i r í a d e cie r e p r e s e n t a ç õ e s , p o i s i m p l i c a va u m a r i c a m i t o l o g i a
cu lt u r al: s ím b o lo n acio n al, s ím b o lo m ilit a r , s í m b o lo de fisrtaleza e d e p e r c e p ç .ã o ,
m e t á fo r a p a r a a ge n ia licia d c et c. R e u n i n d o essas vá r ia s r e p r e s e n t a ç õ e s , Br o o c it b a e r s
p r o d u z i u , n a ve r d a d e , u m a r e p r e se n t a ç.ã o d e s e g u n d a o r d e m — u m a r e p r e s e n t a ç ã o n ã o
cie u m b a n d o d e aves, m a s d o f u n c i o n a m e n t o d e u m s is t e m a c l a s s i fi c a t ó r i o .
As á g u i a s c o n o t a m c a r a c t e r í s t i c a s va r ia d a s c o n f o r m e n ó s as ve m o s — va lo r , p o d e r
et c. Ela s t a m b é m d e m o n s t r a m , a t r a vé s d o m e i o d a p i n t u r a a c a c iê m ic a , c o m o a a r t e
r e cicla a i d e o l o g i a . M a s o p o n t o c m c| u est ão é c]uc a e sc o lh a p o d e r i a t e r r e c a í d o s o b r e
q u a k ] u c r co isa : o q u e p a r e ce est ar e m j o g o é o fa t o d e q u e o s sist e m a s c la s s i fi c a t ó r i o s
i m p õ e m o r d e m e e st r u t u r a sob r e a q u i lo d c q u e s ã o c o m p o s t o s . D e s c o n s t r u i r o -
m u s e u t o r n o u - s e , a ssim , u m a e s t r a t é gia r e c o r r e n t e d o s e s t u d o s c u l t u r a i s ; a p a r ó d i a d e
Br o o d t h a e r s , n o e n t a n t o , m a is i n fl u e n c i a d a p o r Bo r ge s d o q u e p e la s o c i o l o g i a , t e m a
va n t a g e m d e a p r e se n t a r u m sen so h u m o r í s t i c o t ]u c va i a l é m d o p a t a m a r a l c a n ç a d o
p o r m u i t o s d e seu s su cessor es m a is s é r i o s — c o m o se a su a i n t e r ve n ç ã o est ivesse a
sa lvo d o r e c o n h e c i m e n t o r e s p e it o s o p r e c is a m e n t e p o r r e sva la r p a r a o a r b i t r á r i o . E m
u m t e xt o q u e a c o m p a n h a va a i n s t a l a ç ã o d a Documenta, Br o o d t h a e r s escr eveu : "Esse
m u s e u é u m a ficção. El e p o d e , n u m m o m e n t o , c ic s e m p e n h a r o p a p e l d e u m a p a r ó d i a
p o l í t i c a d c e ve n t o s a r t í s t i c o s e, e m o u t r o , o d e u m a p a r ó d i a a r t ís t ic a d e e ve n t o s
p o l í t i c o s . O q u e n ã o d e ixa d e ser, d e fa t o , o q u e m u s e u s o fic ia is c i n s t i t u i ç õ e s c o m o a
D o c u m e n t a fa z e m . C o m u m a d i fe r e n ç a : a ficção p o s s i b i l i t a q u e sc ap r een cia t a n t o a
r ealiciad e q u a n t o as i n s t â n c i a s q u e ela e n c o b r e ".

N a I t á lia , o c r í t i c o G e r m a n o C e l a n t u n i u u m a va n g u a r d a
r e c é m - s u r g i d a s o b a b a n d e i r a d a arte povera, e m 1967. O
n o m e , q u e d e r iva d o d o t e a t r o d o d i r e t o r p o l o n ê s Jc r z y
G r o t o w s k i , i m p l i c a u m a c r ít ic a à r ic]u e z a . I m p u l s i o n a d a p o r
u m c c t i c i s m o c m r e l a ç ã o a o m e i o t r a d i c i o n a l d as "b e l a s -
a r t e s ", a va n gu a r d a i t a l i a n a a b r a ç o u u m a a m p l a e
h e t e r o g é n e a g a m a d e m a t e r i a i s c o m o s q u a is se p u d e sse
p r o c i u z i r a r t e : t i j o l o s , p ccir as, m a d e i r a , p a p e l ã o , p a p e l .
C o m o escr eveu Ce l a n t , "An i m a i s , ve ge t a is e m i n e r a i s fa z e m
p a r t e d o m u n d o d a a r t e ". C o m o se c o n f i r m a n d o esse
p e n s a m e n t o , Jan n is Ko u n e l l i s , e m su a i n s t a l a ç ã o e m R o m a ,
e m 1969, c o l o c o u n a ga le r ia d o z e ca va lo s, e m e s t á b u l o s [ fi g .
4 6 ] . H á u m p a r a le lo e n t r e essas a t ivid a d e s e as d e t i p o antiforma, q u e o c o r r i a m e n t ã o
n a a r t e a n g l o - a m c r i c a n a . D a d a a s i t u a ç ã o d a I t á lia , n o e n t a n t o , n ã o cau sa s u r p r e s a
e n c o n t r a r u m vié s a b e r t a m e n t e p o l í t i c o c m a lg u m a s cias m a n i fe s t a ç õ e s a r t í s t i c a s a l i
p r o d u z i d a s . O s iglu s d e M á r i o M e r z t ê m c o m o a lvo os a sp e ct o s d a t e o t i a d a a r t e
p o ve r a q u e e xa lt a m o n ó m a d e c o n ã o - o c i d c n t a l e m d e t r i m e n t o d o c a p i t a l i s m o d e
c o n s u m o d o O c i d e n t e . E m u m e xe m p l o , a fr ase "O q u e fa z e r ?" fo i p a ssa d a , d c f o r m a
a le a t ó r ia , p o r e n t r e g a lh o s d e á r vo r e s s o b r e os q u a is se t i n h a c o n s t r u í d o u m i g l u [ fi g .
4 7] . Esse er a o t í t u l o d e u m t e xt o d e Le n i n , d e 190 2, n o q u a l ele d i s c u t i a o p a p e l d o s
in t e le c t u a is n o p a r t i d o r e vo l u c i o n á r i o . Le va n d o - s e e m c o n t a as c o r r e n t e s
p r e d o m i n a n t e m e n t e a n a r q u ist a s d a e sq u e r d a i t a l i a n a , n ã o m e n o s c r ít ic a s e m r e l a ç ã o
ao p a r t i c i o c o m u n i s t a o fi c i a l q u e a o c a p i t a l i s m o d c c o n s u m o , o ge st o cie M c r z p o d e
s ign ific a r u m r a d i c a l i s m o c u l t u r a l m a is a m p l o d o q u e a q u e le q u e e n vo l via a p e n a s
u m a p o s i ç ã o p o l í t i c a d c csc]u cr d a. Al i g h i e r o Bo e t t i p r o d u z i u u m a sé r ie d e
d a g u e r r e ó t ip o s / á g u a s - fo t t e s d e cob r e r e p r e se n t a n d o m ap as d c p a íse s e m gu er r a,
i n c l u i n d o Lí b i a , Isr a e l e I r l a n d a . O Zoo d e M i c h e l a n g e l o P i s t o l e t t o i n c o r p o r o u
c o l e t i va m e n t e u m a t e a t r a l i d a d e a n a r q u i s t a n u m a va r ie d a d e d e p e r fo r m a n c e s cie r u a .
Ce l a n t v i u a t e n d ê n c i a g l o b a l d a o b r a c o m o a r e p r e s e n t a ç ã o d c " i j m j j i o d o

59
a s s i s t c m á t i c o d c e xis t ê n c i a n u m m u n d o n o t]u a l o s is t e m a é t u c i o ". C o m e fe it o , n u m a
e scr it a m a r c a d a p o r u m e s t ilo h i p e r b ó l i c o , clc d e s i g n o u a a r t e p o ve r a , r c t o r i c a m c n t e ,
c o m e r "n o t a s p a r a u m a g u e r r i l h a ". P o d e - se a r g u m e n t a r t]u e a fr ase n ã o p assa d e u m
r a sgo d e e xp r e s s ã o , e q u e a ve r d a d e ir a fo r ç a d a a r t e p o ve r a r e sid e n o r a d i c a l i s m o )
^ Ji- ,,Té cn ico d o s seu s m a t e r i a i s e m é t o d o s d e e l a b o r a ç ã o . I ^ o e n t a n t o , a q u e s t ã o a p o n t a
p a r a as m a t r i z e s c r ít ic a s , t a n t o so cia is q u a n t o a r t í s t i c a s , d as a t i t u d e s q u e p e r m e i a m a
n o va a r t e . O p o n t o , t a lve z , se r ia n ã o i n s i s t i r e m se p a r a r os d o i s a sp e ct o s: o in t e r e sse
c o n t í n u o d a a r t e p o ve r a e st a r ia , p r e c i s a m e n t e , n a c o m b i n a ç ã o d esses d o i s fa t o r e s .

AMÉRICA LATINA
Ar t i s t a s a l u a n d o e m lu ga t e s c m q u e d c fa t o h o u ve u m a g u e r r i l h a s e n t i r a m q u e a
s i t u a ç ã o d e m a n d a va r e sp o st a s p o l í t i c a s mais d ir e t a s d o q u e ac]u elas q u e p a r e c i a m
su ficie n t e s à va n gu a r d a r a d i c a l n a Am é r i c a d o N o r t e e n a E u r o p a O c i d e n t a l . Lu c y
Li p p a r d s i t u o u a su a p r ó p r i a p o l i t i z a ç ã o a p a r t i r d e u m a vi a g e m à Am é r i c a d o Su l ,
e m n o v e m b r o d e 1968, d u r a n t e a q u a l c o n h e c e u u m g r u p o d e a r t is t a s e m Ro s a r i o q u e
t r a b a lh a va e m c o n j u n t o com a CC"iT a r g e n t i n a . P o r r a z õ e s h i s t ó r i c a s , r e l a c i o n a d a s ao
e s p a ç o e xt r e m a m e n t e r e s t r i t o r e se r va d o a u m d e b a t e p o l í t i c o , a va n g u a i d a n a
Am é r i c a La t i n a t o r n o u - s e u m f ó r u m p a r a
i n t e r ve n ç õ e s p o l í t i c o - c u l t u r a i s . Essas i n t e r ve n ç õ e s
a b a r ca va m d o " M e d i a - A r t M a n i f e s t o " p u b l i c a d o
c m Bu e n o s Ai r e s e m j u l h o d e 1966 — e c u j o
o b j e t i vo er a l a n ç a r n a m í d i a falsas i n f o r m a ç õ e s
so b r e a a r t e , p a r a s u b l i n h a r as i m p l i c a ç õ e s q u e a t
a r t e m a n t i n h a c o m a p u b l i c i d a d e c as n o t í c i a s — a t é

1
d e m o n s t r a ç õ e s cad a ve z m a is p o l í t i c a s n as g r a n d e s
e xp o s i ç õ e s c o m o as d a Bi e n a l d e C ó r d o b a . E m b o r a
n ã o se t ivesse e m p r e g a d o o t e r m o "a r t e
c o n c e i t u a i " a t é os a n o s 70 p a r a d e scr e ve r esse
m o v i m e n t o , essa a r t e ve io , n ã o o b s t a n t e , a ser
p o s i c i o n a d a r e t r o s p e c t i va m e n t e c o m o p a r t e c e n t r a l .
d c u m "c o n c e i t u a l i s m o g l o b a l ". N a s p a la vr a s d e M a n C a r m e n Ra m i r e z , o
c o n c e i t u a l i s m o d a Am é r i c a La t i n a n ã o era " u m r e fle xo , d e r i va ç ã o o u r é p l i c a cia a r t e
- ^ , c o n c e i t u a i r e a liz a d a n o c e n t r o ", m a s r e p r e se n t a va , a n t e s, u m a sé r ie d e "r e s p o s t a s
• . • lo ca is às c o n t r a d i ç õ e s ger a d as p e l o fr a ca sso d o s p r o j c t o s d e m o d e r n i z a ç ã o p ó s
Se g u n d a Gu e r r a c d o s m o d e l o s a r t í s t i c o s a d o r a d o s n a r e g i ã o ". C o m e fe it o , p a r a
Ra m i r e z , essa a r t e o r ie n t a va - se descfe o i n í c i o p a r a a ssu n t o s r e la t ivo s a uma esfera
p ú b l i c a m a is a m p l a , e n ã o p a r a a i n s t i t u i ç ã o d a a r t e ( m o d e r n a ) p r o p r i a m e n t e d i t a ,
p o d e n d o e n t ã o ser vist a c o m o t e n d o "c l a r a m e n t e a n t e c i p a d o " a vi r a d a p o l í t i c a n a
va n gu a r d a d a a r t e o c o r r i d a n o c h a m a d o p r i m e i r o m u n d o n o s a n o s 70 . A o b r a q u e
Li p p a r d e n c o n t r o u c m Ro s a r i o é r e p r e s e n t a t iva d o a s s u n t o e m q u e s t ã o . O s a r t is t a s sc
d e fr o n t a va m a l i , d esd e m e a d o s d o s a n o s 6 0 , c o m o a p a r e n t e fr a ca sso cias i n s t i t u i ç õ e s
a r t ís t ic a s e m l i d a r c o m u m a s i t u a ç ã o d c cr e sce n t e ce n su r a e r e p r e s s ã o p o l í t i c a . Essa
s i t u a ç ã o c u l m i n o u c o m os a c o n t e c i m e n t o s d a p r o ví n c i a d c T u c a m á n , c m q u e
p o l í t i c a s e c o n ó m i c a s d o g o ve r n a t i ve r a m c o m o c o n s e q i i ê n c i a e n o r m e d e s e m p r e g o e
m is é r ia . As c o n d i ç õ e s f o r a m e xa ce r b a d a s p e la c e n su r a d e i n f o r m a ç õ e s n a i m p r e n s a
c o m r e la ç ã o às c o n d i ç õ e s d a p r o ví n c i a . E m 1968, cer ca d c t r i n t a a r t is t a s e n ga ja r a m - se
n u m p r o j e t o r e a liz a d o j u n t a m e n t e c o m o s i n d i c a t o p a r a p e s q u is a r e t o r n a r p ú b l i c a s

60
as c o n d i ç õ e s lo ca is. lissc t r a b a l l i o c t i l n i i n o i i n a e x p o s i ç ã o íiiuiiihíii arde, in s t a la d a n o
p r é d i o d a C d I cm Ro s a r it ) . A e x p o s i ç ã o l o i d e scr it a p o r Ale x A l b e r r o c o m o "iim
a m b i e n t e i n t e r n o q u e t u d o a b a ixa va ", e n o c]t ial os vis it a n t e s se viam c o n f r o n t a d o s
c o m u m a i n s t a la ç ã o m u l t i m i d i a d e i n f o r m a ç õ e s q u e t i n h a m c o m o base o t e xt o , n a
fo r m a d e slo ga n s, p a n l l e t o s c p ó s t e r e s , b e m c o m o c o m l i l m e s c fo t o g r a h a s a m p lia d as
cm g r a n d e escala [ fi g . 4 8 ] . A o r o m p e r c o m o c o n t e i i d o c o n ve n c i o n a l d e u m a
e xp o s i ç ã o d e a r t e , cfcsvm ct ila n d o - s c d a ga le n a e i m i s c u i n d o - s e n u m a e s p é c i e d ive r sa
d e o r g a n i z a ç ã o s o c ia l, os p a r t i c i p a n t e s t i n h a m c o m o i n t u i t o p r o d u z i r u m a o b r a q u e
r eflct issc a r e a lid a d e six-ial m a is a m p l a n a q u a l a a r t e t e m a su a e xi s t ê n c i a .

m án arde 1968

i l ação mul t i mi di a,
l a no pr édi o da cor
arti stas e
i cal i stas em
i mán. Ar gent i na
ção Graci el a
l eval e

o Meireles

rções em circuitos
ilógicos: Projeto
a-Cola 1970

af as de Coca- Col a
texto apl i cado
l e al t ura
esi a do art i st a
Gal eri e Lel ong,
a York

N t ) Br a sil, C i l d o M e i r e l e s r efez a t r a d iç ã t ) d o readyiiiade c o m a sua sé r ie , i n i c i a d a


e m 1961), das Inserções cm circuitos ideológicos. A o p e r a ç ã o c o n s is t ia e m r e t i r a r t ) b ]cfo s d e
u m sist e m a d c c i r c u l a ç ã o , "i n t e r f e r i r " s o b r e eles e e n t ã o i n s c n - l o s , n o va m e n t e , n o
sist e m a . U m e xe m p lo era c o n s t i t u i c fo d e m e n sa ge n s p o l i t i c a s cst am p acfas c o m u m a
m a t r i z d e b o r r a c h a so b r e n o t a s c m c i r c u l a ç ã o . O e.vcm p lo m a is c o n h e c i d o , n o
e n t a n t o , a l c a n ç o u d c u m m o d o m a is sagaz o e fe it o p r e t e n d i d o [ h g . 49 [ N t ) l^rojeto
Coca-Cola, d e 1970, M e i r e l e s a p o d e r o t i - s c d e ga r r a fa s \ 'azias d e Co ca -C Aila — as q u a is
se r ia m , t a b c z , o s í m b o l o d o c a p i t a l i s m o a m e r i c a n o d e c o n s u m o . N e ssa s ga r r a la s ,
e s t a m p o u en t .ão m e n sa ge n s p o l í t i c a s , u t iliz a n c fo - s c d a m e s m a t m t a b r a n c a c o m a

61
q u a l SC e scr e ve m as m f o r m a ç õ e s n o r m a i s d o r ó t u l o . N e s t a e t a p a , as m e n sa ge n s
p e r m a n e c i a m m a is o u m e n o s d e s p e r c e b id a s. M e i r e l e s , n o e n t a n t o , r e i n t r o d u z i u as
gar r afas n o s is t e m a . Ela s v o l t a r a m p a r a a fá b r i c a d a f o r m a u s u a l, o n d e f o r a m lavad as
e n o va m e n t e p r e e n cb icia s. L o g o q u e o líqu ic-lo m a r r o m p assava a a gir c o m o p a n o d e
f u n d o p a r a as le t r a s b r a n c a s, a m e n s a g e m a n t i i m p e r i a l i s t a so b r e ssa ia .

UNIÃO SOVIÉTICA

Ar t i s t a s n ã o o fic ia is d a U n i ã o So vi é t i c a t i n h a m u m a r e l a ç ã o d i fe r e n t e , p o r é m
i g u a l m e n t e c o n t r a d i t ó t i a , e m r e l a ç ã o à va n gu a r cia o c i d e n t a l . E n q u a n t o n a Am é r i c a
La t i n a os a r t ist a s t e n d i a m a r e s is t ir aos e st ilo s d c a r t e c]uc ju l g a va m r e p r e s e n t a t ivo s
50
d o i m p e r i a l i s m o o c i d e n t a l , a r t is t a s n ã o o fic ia is d o b l o c o s o vi é t i c o i n c l i n a va m - s e a Ilya Kabakov
a b r a ç a r o i n d i v i d u a l i s m o "e xp r e s s i o n i s t a " o c i d e n t a l c o m o p a r t e d a su a e xp r e s s ã o d e Levando a lata de lixo
r e je iç ã o ao r e a l i s m o s o c ia lis t a . Esse q u a d r o n ã o se m o d i f i c a r i a a t é o s u r g i m e n t o d o s para fora 1980

Esmal t e sobr e
compensado de. .
madei r a

ÚUHOta noMOunoio
Pacnucaniie ffe9j)a„o 9ouv^2ino9i,e3Õ^6
150 X 210
Fundação Emanuel
Hof f mann, em
vjuua uji.S.SapduHa M3K.^S SayMaucKoto p-na.
empr ést i mo
Cf»ma*pb0smsbpb
1979, per manent e ao Museu
de ar t e Cont empor ânea
da Basi l ei a

Jlttpm .Upmb
1980,.
fiuM: JimuK
CmoCtiM..,3i rmm>à.a 51
ilitUt1í>JHUtfJ.^íi
ã ílpimpomJt Mierle L a d e m i a n
Ukeles
Jtdpm .tnpejb
19 8U. Lavando
Cabia ^XSMmuHlC .,21
TmíbU. ^ iimSa.U. Jí 5UtiswniioFJ...,2l % CmoéfíJUí .,25 rastros/Manutenção:
Jl ã ItÕmCÍ J6 5 Tm/uimM Jlt 6 lirmlilU. JS. B nmiHPHKútLr.Jt interior 1973
«5„.-
MJ,Ciuimii.ÕI.% iamfaIII. ,S•^-Coi),mmlUI...3ÍJimba
.MI -Ji-J, U .ã!
Mfípm .4npi>ji>Má Hum llbjb .Ifíinrm Fot ogr af i a de
V J S Z u
SUCMÍIUMÍ: TlpmfMUJt 5 CmoiíC .,20 JammlC Jí per f or mance no
..JmoSaia íopomiHllà JimbfJ. i>plMia.U. .Jí £ .hwívimã..2l CiaotaM. -3 Wadswor t h At heneum,
JmbHlC ._ 2i S Miiina JiiiimaHllíi.4lô B JfrjifíiJÍC_ . ^laimiabSÍ. J16
Cmaliam. J5 % OuimíM. JS haHlaia,.
S J9i raponuHlIM. ...
:SÍJimba J2 Har t f or d, Connect i cut
Jlapiii .iiipiuh llim UM.
srniapb tpmpajb Cor t esi a Ronal d

(
19837.
IJ JaiiuiílHtúi.^
'i.MfS 3íaumlLC«Zê IbmrmíiJlUfB Oupíff. Fel dman Fi ne Ar t s,
» himeaia ,.19II afmmia. ma.. .,39 Jiuarj. ,,27 » .lumermUJl Nova Yor k
...BCmoHU. .JÚ%JamKlr. 2í\iUeeiifiia._-- -'- TumimU. ,M
Jli UmHtimSI.,11 CHJ1H0Ú.ÍJL SlSSum.,2!'falíS ,S íopoKWtSJl ,,23
SHSfípbS^paib Mapm .íiipejb Maú lltoHb Cmníapb õxmsopb ^bSeKoopb
1984t. 52
Adrian Piper

Caí âV/ se/ f 1970- 1

Per f or mance de rua,


Nova Yor k

"c o n c e i t u a l i s t a s d e M o s c o u " , e m 1970. M a i s u m a vez, o n o m e f o i a p l i c a d o


r e t r o s p e c t i va m e n t e p e l o c r i t i c o Bó r i s Gr o ys , e m 1979. Er i c Bu l a t o v e a d u p l a Ko m a r e
M e l a m i d d e s e n vo lve r a m u m a f o r m a h i b r i c i a cie p i n t u r a — b a se a d a , e m p a r t e s igu a is ,
n o r e a lis m o so cia list a s o vi é t i c o e n o m o v i m e n t o p o p n o r t e - a m e r i c a n o — c o m o
i n t u i t o d e in ve st iga r as c o n ve n ç õ e s cie r e p r e s e n t a ç ã o u t i l i z a d a s p e la i d e o l o g i a
s o vié t ic a o fi c i a l . I l ya Ka b a k o v a d o t o u u m a e s t r a t é g i a d ive r sa , n a q u a l se vê e m
in flu e n c ia s d a a r t e c o n c e i t u a i o c i d e n t a l m i s t u r a d a s à su a e xp e r i ê n c i a c o m o i l u s t r a d o r
o fic ia l d c li vr o s i n fa n t i s . N o i n í c i o d o s a n o s 70 , ele p r o d u z i u u m a sé r ie d e " Á l b u n s " ,
c o n s t t u í d o s , ca d a u m d e le s, e m t o r n o cie u m p e r s o n a g e m ficcional — u m a r t i s t a .
O r e c u r so t o r n a va p o s s í ve l i n s e r i r ciifcr e n t cs esco las d e va n gu a r d a , a s s im c o m o os
c o m c n t á t i o s c r í t i c o s e m r e l a ç ã o a elas, n o â m b i t o d o p r ó p r i o t r a b a l h o : u m a p r á t i c a

62
d e s e g u n d a o r d e m q u e a b r a n g i a os m o v i m e n t o s t e m e r o s o s d a va n g u a r d a dc p r i m e i r a
o r d e m — e ia a l é m d eles — p o r m e i o d a d i s r u p ç ã o cju e o r e c u r s o t r a z i a ao c o n c e i t o d a
"a u t ê n t i c a " vo z a u t o t a l . A c o m b i n a ç ã o d e i m a g e m e t e x t o e m p r e g a d a p o r Ka b a k o v
n o s á l b u n s n a r r a t i vo s e v o l u i u p a r a u m a s é r ie d e a m p l a s p i n t u r a s n o final d a d é c a d a
d c 70 . Essas p i n t u r a s g u a r d a va m u m a s e m e l h a n ç a c o m os ca r t a z e s o fic ia is e
f o r m u l á r i o s b u r o c r á t i c o s , a m p l i a d o s n u m a escala m a i o r . Levando a lata de lixo para fora
[fig- 50] p a r o d i a a o b s e s s ã o e c o n ó m i c a d o c o m a n d o c o m o p l a n e j a m e n t o ao l i s t a r a
r o t a p a r a d e s fi z c r - s c d as la t a s d e l i xo d c u m a p a r t a m e n t o
^
c o m u n a l p e lo s p r ó x i m o s seis a n o s . D u r a n t e a p e r e s t r ó i c a
d o s a n o s 80 , Ka b a k o v t eve p e r m i s s ã o p a r a e xp o r fo r a d a
U n i ã o So vi é t i c a , d e i xa n d o finalmente o p a is e m i g Sg . D e s d e
e n t ã o , as su as c o m p l e xa s i n s t a l a ç õ e s f o r a m a d o r a d a s p e l o
p a n t e ã o d o "c o n c e i t u a l i s m o g l o b a l " . E m u m a cias m a i o r e s
i r o n i a s d a c u l t u r a , a figura q u e ficara m a r g i n a l i z a d a p o r
d é c a d a s , vi ve n d o s o b a p e r e n e a m e a ç a dc ser i m p e d i d o d c
t r a b a l h a r , p o r u m a b u r o c r a c i a e st a t a l h o s t i l , r e p r e s e n t o u d c
m o d o t r i u n f a l a Ri i s s i a n a Bi e n a l d e Ve n e z a d e 1993.

ESTADOS UNIDOS
N o c e n t r o cio i m p é r i o , p o r su a ve z , n a vi r a d a p a r a a d é c a d a
d c 70 , o m u n d o d a a r t e c o m e ç a v a a ser a i e t a d o p e l o m a i s
a m p lo r ad icalism o d o p e r ío d o . A Co a liz a ç ã o dos
T r a b a l l i a d o r e s d c A r t e ( A W C ) f o r m o u - s e e m N o v a Yo r k e m
ja n e i r o cie 1969, v i n d o a a b a r ca r , r a p i d a m e n t e , u m c o n j u n t o
d c cau sas r a ciica is. A p r e o c u p a ç ã o o r i g i n a l d a AWC d i r i g i a - s e
ap en as aos d i r e i t o s d o s a r t is t a s s o b r e os t r a b a l h o s e xp o s t o s .
N o e n t a n t o , esse a s p e c t o l o g o i n c l u i u u m e n v o l v i m e n t o c o m
o m o v i m e n t o c o n t r á r i o à a u c r r a d o Vi c t n ã e u m a c r í t i c a
a e n e r a liz a d a ao r a c i s m o e ao m a c h i s m o , a m b o s
o
d e s e n vo l vi d o s n o â m b i t o d a a r t e e, n u m a escala m a i o r , n a
s o c ie d a d e p r o p r i a m e n t e d i t a . E m 1969, M i e r l e La d e r m a n
U k e l e s e l a b o r o u o Mainfesto da arte de manutenção. N e l e , d e fi n i u
fiirmas d c t r a b a l h o c o n v e n c i o n a l m e n t e b a ixa s — e m a i s
fr e q u e n t e m e n t e a sso cia d a s às m u l h e r e s , c o m o c o z i n h a r ,
l i m p a r , fa z e r c o m p r a s et c. — c o m o u m t r a b a l h o d c
" m a n u t e n ç ã o " , d i fe r e n t e , e m su a f o r m a , d c t r a b a l h o s m a i s
c o m u m e n t e r e c o n h e c i d o s c o m o d e "d e s e n v o l v i m e n t o ",
d e fe n d e n d o , e n t ã o , q u e se ciever ia c o n fe r i r t a m b é m ao
p r i m e i r o t i p o u m status e q u i va l e n t e . E m p e r fo r m a n c e s n o
W a d s w o r t h A t h e n e u m , ela e sfr e go u o c h ã o e as escad as,
p o l i u as vi t r i n a s d c e xi b i ç ã o e fe c h o u os e s c r i t ó r i o s , a f i r m a n d o o c a r á t e r d c "a r t e d e
m a n u t e n ç ã o " cie t o d o s esses t r a b a l h o s [ fi g . 51].
En t r e os a r t is t a s c o n c e i t u a i s , a o b r a d e A d r i a n P i p e r o fe r e ce a i n d a u m e xe m p l o
d a í n d o l e ca d a vez m a is r a d i c a l q u e est ava e m c u r s o . N o final d a d é c a d a d c 60 , ela
p r o d u z i r a u m a a r t e c o n c e i t u a i t i p i c a m e n t e a u t o - r e fe r e n c i a l e b a se a d a n a l i n g u a g e m ,
m a s d e p o i s vo l t o u - s e p a r a O J J S O _ C Í D p r ó p r i o c o r p o , d o c u m e n t a n d o , p o r e xe m p l o ,
a q u i l o q u e ela ob scrv.ava e m u m m o m e n t o e s p e c í fi c o , o u p a r t i c i p a n d o d c s i t u a ç õ e s

A 63
sociais usuais, com o descer i m i a ru a ou se u t ilizar d o t r an sp or t e p ú b lico, ao m esm o
t em p o c]uc executava u m a serie dc ações in u sit adas. Catálise I I I m ost ra u m a viagem de
ôn ibu s pela cidade, mas com u m am p lo pan o bran co sain d o de sua boca; em Catálise
IV, ela fazia com pras na loja de d ep art am en t os M a c ys vest in d o roupas que t in h a m
sido empapadas com t in t a [fig. 52]. Em 1970, Pip er r e t ir o u a sua p rop ost a de
p art icip ação na exp osição d o N e w Yo r k Cu lt u r a l Ccn t er, Arte eoiieeitual e aspectos
conceituais. O at o fo i pen sado com o u m a resposta à ciet erioração da sit u ação p o lit ica
n o país, da t ju al a ord em dc at irar nos estudantes na Un iversiciadc Est ad u al de Ken t ,
qu an d o esses prot est avam con t ra a recru d escim en t o da gu erra n o sudeste asiát ico, era
u m exem plo con t u n d en t e. A carta de revogação de Pip er foi en t ão in cor p or ad a aos
cadernos que form avam Contexto #8 c Contexto # 9 , t en d o com o su b t ít u lo,
respectivam en te, "In fo r m a çã o t ext u al volu n t ar iam en t e forn ecid a a m i m d u ran t e o

Sensation ContraDiction

Create a little sensation "fòuVegotit Everything you hay says something about you
Feel the dilference that everyone can see Yoa want to keep it Som e thingsyoubuysay more thanyou realise
Something yoa can touch Naturally. Th at^ conservation One thing you buy says everything
Property It conserves those who can t have it Property
There's nothing to touch it They ãorít want to be conserved Either you have itor you don^t
Lo gicallxthat^ contradiction

p eríod o cie 30 de ab r il a 30 de m aio de 19 70 " e "In fo r m a çã o t ext u al arran cada dc m i m


n o p eríod o de 15 dc m aio a 15 de ju n h o dc 19 70 ". Pip er m ais tarde afir m o u , sobre sua
obra daquela época, que ela se estendia "d o m eu co r p o — com o u m im ed iat o c
in st an t ân eo ob jet o dc art e, con ceit u ai e t cm p o-esp acialm cn t e d et er m in ad o — á
m in h a pessoa, com o u m a m ercad oria de arte sexual e et n icam en t e est ereot ipad a".

REINO UNIDO

D o o u t r o lado t fo At lân t ico, o cu t so an alít ico dc gran de part e da arte con ceit u ai
brit ân ica estava sen do ferm en t ad o pelo in flu xo da t eoria francesa. O ano de 1967
testem un h ara a t rad u ção para o in glês t fo Elementos de semiótica, de Rolan d Barth es,
assim com o d o seu in flu en t e ensaio sobre "A m o r t e d o a u t o r ". O seu livr o cie ensaios
Mitologias, su rgid o t ard iam en t e na In glat er r a, em 1972, con t in h a a sua famosa an álise
dos diferentes n íveis dc sign ificad t i na fottígrafia — especialm en te a m od t í pelo q u al
u m a im,agem con st ru íd a pode desencadear cadeias de con ot ações in con scien t es n o
espectador, e m ais ainda se a im agem parece in t eiram en t e n at u r al. Por algima t em p o ,
con ceitualistas "cr it ico s" volt aram -se para u m a con sciên cia n ão apenas da art e, mas
de u m regist ro m ais am p lo c geral d o "visu a l" com o u m esp aço cen t ral da p r od u ção
e rep rod u ção social d o sen t id o.
Nm gt iém vin ct d ou a sem iót ica a u m a crít ica da it ieologia de m ocio m ais coerente
d o que Vi c t o r Bu r gin . Em u m a série cie obras, ele avan çou , dc m ed it ações gerais sobre
o fu n cion am en t o id eológico da im agem visual [fig. 53], até p rojet os especificam ente
in t et ven cion ist as qu an t o ao despert ar da con sciên cia. Grancic part e dessas obras
alcan çou o seu m aio r im p act o p or m eio de u m a com b in ação n ão esperada de t ext o e
im agem , que u t ilizava t od os os recursos dc persu asão da propagan d a. Dest e m o d o ,
u m a im agem m elosa dc u m a fam ília burguesa ext raída de u m a propagan d a era
forçada a ficar lacio a lad o com u m a h o m ilia m aoíst a sobre a su b or d in ação dos
desejos in d ivid u ais em favor d o bem m aior da colct ivid ad c. Ma is à fren t e, Bu r gin

53
Victor Burgin

ieasação 1975

I mpr essão f ot ográf i ca e


texto
118x222
Col eção part i cul ar,
Londr es

54
Victor Burgin

Possessão 19 76
Póst er
109x84
Domi ni o públ i co

UM
(fotografi a da obr a ín
Si tu, Newcast l e- upon-
Tyne)

I
ju st ap ôs imagens fot ojorn alíst icas cie m ulh eres operárias m al-rem un eracias, o u cie '
um a mãe m iserável com u m car r in h o dc bebe na d esolação cie u m abrigo, co m
dizeres ext raíd os de luxuosas propagan das dc perfum es, carros e con gén eres. Em . u m :
exem plo de 1976, as imagens forarir rep rod u zid as com o póst eres, c colacias em lugares
espalhacios pela ciciade dc Ncwcast le [fig. 54 ]. A figura ressalta u m con t rast e m i i l t i p l o
entte a im agem de u m belo casal que se abraça, a n oção cie "Posse", com a sua d u p la
sugest ão dc d om in ação sexual e dc p od er econ óm ico , c o fat o, ain da, dc t]uc u m a
pequena parcela da p op u lação d et ém quase t od a a riqu eza d o p aís.
O gr u p o Ar t e & Lingu,agem t iesem pen h ou u m papel com p lexo na p olit ização da
arte con ceit u ai. Em m eados dos anos 70 , o Ar t e & Lin gu agem estava lon ge dc ser
um a en tidade u n ificada. N a Gr ã-Br et an h a havia m ais de u m a geração en volvid a, c os
m ais jovens com eçavam a desenvolver interesses e expectativas diferen tes daqueles
prat icados origin alm en t e pela "ar t e co n ceit u ai". A facção de No va Yo t k t in h a-sc

65
enredado, alem disso, n u m a d isp u t a com o gr u p o mglcs que levaria à sua ciissoluç.ão.
A p ar t ir de 1974, esse gr u p o envolveu-se com a a p r od u ção de Tlx Fox, u m a revista
que coexist iu , p or u m breve t e m p o e n u m a relação tensa, com a o r igin a l Art-Language
[fig. 55]. O t ít u lo l o i ext raíd o de um a d ist in ção estabelecida p o r Isaiab Bcr lin en tre "o
p or co-esp in h o", que sabia "u m a grancic coisa", c "a rap osa", que sabia "m u it a s
pequenas coisas". Apesar d o fat o de Bcr lin referir-sc, nessa expressão, aos m en t o s
con trastan tes d cTo lst ó i e D o st o icvsk i, o con ceit o p od e ser vist o com o alegorizan d o
um a diferen ça entre o m o d e r n ism o (Green berg: "o valor est ét ico c u m , n ão m u i t o s ") 55

e u m a abordagem m arxist a at en ta às con t in gên cias dc 77)e Fox, vol , 1, n. 1,


1975
:ally jf/ccthig the society they werc opposed tò. u m a prát ica social in serida na h ist ória. Q u a n t o ao
his light "art for art's sake" bccomcs an attcmr Publ i cada e m Nova
:sub!ish anothcr society of sorts. Í\1SO, it's i) con t eiicio pu blicacio, The Fox t in h a u m alcance m aio r Yor k
•sting that Dada, onc radical attempt by arr'
iffcct society dhcctly, cspouscd what cor d o que a Art-Language, assim com o u m t o m p olít ico
:allcd the Roniantic ideal of cmotional
)f coiírsc ihc contrast to both this ic m ais en fát ico. N o ano seauin te, Te r r v At k in s o n 56
ectivity and Dada is the radical tac o ' J
md the P.'.ris Commune, which ichw jidcntal Arte & Linguagem
ealism, in facing social issues of I aban d on aria o gr u p o in glês, passando a t rabalh ar,
eresting, I suppose, that the .icovcring o: de Dezpóst er es 1977
tas gcnerally been ovcrlook olc of criticisr in icialm en t e, com o u m art ist a de víd eo e volt an d o-sc,
!iivcii what had becomc ? _jP,somc kitjd of Seri graf i a sobr e papei
lowcver, Tcchnicians v , .icory, its task is t m ais tareie, para a prociu ção cie desenhos e p in t u r as 108x 80
ect thcmsclvesaship' ndividuals (crcatinj
nent stíU holds liw ,^".he worthincss of thin com u m co n t ct id o exp licit am en t e p olít ico, vinculacias
ú,n$, the art w 110 intthod, and nial<
norc niass-culf ' iciples and conimitments- a temas que abarcavam desde a Pr im eir a Gu erra 57
)lc (substituf- uld bc to dcstroy its spccio
icrent cliti: , iius appt-ars, sínce it mak« nc M u n d i a l até o co n flit o na Irlan d a cio N o r t e [fig. 56 ]. S i n d i c a t o s Unidos
his mora' /"oxpíicit but rdics on being a Contra o R a c i s m o /
íunctionary, as unassailable. It ha At | u clcs que perm an eceram passaram a fu n cion ar
signiíicancc, dcarly. For instancc Gregor C u l l e n e
:i as "rational," a right Cod-givcn, tha com o u m a espécie dc areia nas engrenagens da R e d b a c k Graffix
,ic "appraisc" arl-work. But suppose th<
should critieize the eritie? If so, it is ihos
iten off as sour grapes. Undcr this kind of m áqu in a cia art e, con servan do u m in fat igável O local de trabalho não
•Ic-dogmatism, thcrc are sundards of intelligi é lugar para racismo
cct icism o t an t o em relação ao en t usiasm o p o lít ico d o
1985
gr u p o dc No va Yo r k ligad o a The Fox, q u an t o n o qu e
Póst er
se refere a art ist as e in t elect u ais ingleses cujas prát icas Si dney
ART - L ANGUAGE p olit izad as levavam a m arca da t eoria francesa.
O gr u p o Ar t e & Lin gu agem in glês via o PRÓXIMA PÁGINA DUPLA:
1
y
l i ke ANVONE aSE wi t l i oat wt i i et hi s TEHt OR i s
con ceit u alism o p o lít ico — na verdade, a oncia cie 58
GB/ mirrous-suiciDAi at ividades in t elect u ais c raciicalizadas n o cam p o d os
Hans Haacke

Schapolsky et al.
estudos cu lt u rais — co m suspeita, com o se ele Os bens imobiliários de
representasse, cm vez cie u m a prát ica gen u in am en t e Nova York: um sistema
social em tempo real.
t r an sfor m ad or a, u m con t r ole social exercido p or u m a como em primeiro de
"nova etapa d o geren ciam en t o cu lt u r al. maio de 1971
( det al he) 1971

PRÁTICA DE TRANSIÇÃO Fot ogr af i as e f ol has


dat i l ogr af adas com
Esse co n t u r b ad o cen ário h ist ór ico v i u su rgir dados
atividades que t in h a m m ais sem elh an ça co m o 50, 8x19, 1
cada f ot ograf i a
con ceit o de Ian Bu r n da arte con ceit u ai com o
Cor t esi a do art i st a
"t r a n sit ó r ia ". M u i t o s com eçat am a ult t apassar o
espaço de um a prát ica de arte en qu an t o t a l, com as suas galerias, marchauAs c esp aços
sociais recon h ecidam en t e burgueses, d irigin cio-se en t ão para u m a esfera — m ais
difusa c d ifícil dc classificar — dc p rát icas cu lt u rais radicais, freqiien t em en t c
t rab alh an t io em co n ju n t o co m gr u p os com u n it ár ios, sin d icat os e assim p or d ian t e.
N o s Est ados U n id o s, remanescentes d o gr u p o vin cu lad o a The Fox i<\v.c sc
desin t egrara), in clu in d o Mich a e l Co r r is, Carolc Con d e, Ka r l Bcveridge e ou t r os,
fu n d aram Red Lderring, ou t r a p u b licação co m u m a p rop ost a d cclarat iam en t e rad ical,
t rabalh an d o, na expressão de Co r r is, "n o am bien t e dc esquerda e u lt rá-csqu erd a das

66
o r g a n i z a ç õ e s d c 'm a ssa ' e fo r m a ç õ e s ' p r c - p a r t i d o ' m a o í s r a s ". E m E d i m b u r g o ,
Es c ó c i a , D a ve Ru s l i r o n e c u , e n t r e o u t r o s , d e m o s c o n t i n u i d a d e à School Press. O
t r a b a l h o t i n h a c o m o i n t u i t o d e se n h a r e p r o d u z i r p ó s t e r e s , p a n fle t o s e b r o c h u r a s p a r a
g r u p o s d c s in d ic a t o s p o p u l a r e s e p ar a c a m p a n h a s t a is c o m o Ro c k c o n t r a o Ra c i s m o ,
assim c o m o p ar a c o r p o r a ç õ e s p o l i t i c a s , i n c l u i n d o o P a r t i d o So c ia lis t a d o s
T r a b a l h a d o r e s . Q u a n d o o A r t e & Li n g u a g e m d e N o v a Yo r k se d e sfe z , o p r ó p r i o I a n
Bu r n d ei.xou os Es t a d o s U n i d o s e v o l t o u p a t a a Au s t r á l i a , c m p a r t e e n c o r a ja d o p e lo
p o t e n c i a l q u e se a b r ia c o m a e l e i ç ã o d o g o ve r n o so cia list a d e W h i t l a m . Bu r n
p a r t i c i p o u d o Se r v i ç o cie M í d i a cio Si n d i c a t o c t r a b a l h o u c o m N i g c l L e n d o n , T e r r y
Sm i t h , Sa n d y Ki r b y e o u t r o s n o p r o j e t o A r t e e V i d a O p e r á r i a . Esse p r o j e t o p r o c i u z i u
i g u a l m e n t e p ó s t e r e s e b r o c h u r a s p a r a u m ser ie d e s i n d i c a t o s e g r u p o s c o m u n i t á r i o s ,
c o m e ç a n d o a cn vo lve r - se , t a m b é m , c o m a ssu n t o s e s p e c i h c a m e n t e a u s t r a lia n o s , t a is
c o m o a c a m p a n h a p e lo s d i r e i t o s d o s a b o r ige n e s [ fi g . 57].

WORKPLACE

V.

I S N O P L A C E F O R R A C I S M

Support the Combined Unions Against Racism Campaign

T o d a s essas in ic ia t iva s s u r g i r a m d i r e t a m e n t c d as fo r m a s d e u m a a r t e c o n c e i t u a i
p o l i t i z a d a , e m b o r a os e n vo l vi d o s sc visse m , d e p o i s d o seu r o m p i m e n t o c o m o
e xe r c íc io d a a r t e e n q u a n t o t a l , t o t a l m e n t e d e svin cu la cio s d essa esfera, c m n o m e d e
u m e n v o l v i m e n t o m a is p r á t i c o c o m as m a i s a m p l a s i n s t â n c i a s so cia is. N a s su as
" M e m ó r i a s d e u m e x- a r t is t a c o n c e i t u a i ", d e i g Si , Bu r n i s o l o u c i n c o c a r a c t e r í s t i c a s
p r o gr e ssiva s d a a r t e c o n c e i t u a i : u m a r c a ç ã o c o n t r a o sist e m a d e m e r c a d o ; u m a
t e n d ê n c ia a u sar fo r m a s m a is d e m o c r á t i c a s d e m i d i a c c o m u n i c a ç ã o ; u m a a t e n ç ã o
m a i o r c o m r e la ç ã o aos r e l a c i o n a m e n t o s h u m a n o s r eais; u m a ê n fa s e e m m é t o d o s cie
t r a b a l h o o r g a n i z a d o s d e m a n e i r a c o le t iva ; e u m in t er esse e m e d u c a ç ã o , lc\ 'a n d o a u m a
\ o d a a r t e e a u m a cr e sce n t e c o n s c i ê n c i a d o p a p e l q u e a a r t e

d e s e m p e n h a n o sist e m a s o c ia l. El e c o n c l u i u : " O r e a l va l o r d a a r t e c o n c e i t u a i est á n o


seu c a r á t e r t r a n s i t ó r i o , n ã o n o e s t ilo p r o p r i a m e n t e d i t o " .

67
68
292 E 3 S t .
B l c c k 57" l o t 19

ÍS x'9Õ,'' ••.'•i::--,;p c l . ; i ' , , - .^r. r::t


E».-r:sI Po5lt7 ItíC. 60S E 11 S t . inC : Boalty C o r p - , GC8 E 11 S t . . fíTC
Coi-.tr.-,c,:- ! Sejnour ' J « i i J 4 1 d , P r c r i a s n S Ov.ncd by Vost ::o. 10 Foalt;- Co::.., ÕCS z 11 r,t., .nc
A l f r « d ?ttyar, Vicoprosident Contracta al-^cá by r.oxtin S h a r o l s k j , ppoe.CG'^}
J . Ghoco:5fc7C:ic;c(K>lias to Real "^-tr-jc
/ T M ;ohi Tb» ^r.ptict J o u n í f t t i o a
Uk of Kev l o r k , e3 V a l i E t . XYO E i r c c t o r j of I-i.nhi.t;Bn>
000.- { « i M 5 athar p i ^ p o r C l r s ) ,
AorjHlrtfd 3-11-1965 f - o c rCO E e a l t y C o r u . ,
- Mrtcase C«l30 cn 5 otfcer Fropovtip'?) a t tv; 5ce r n s t . , K T C , • '
e c o . - eortE[«S» at G;: i i . t c r « 8 t , \C- 22- 19 6 5, b « l d by
u or 6-19-196} flue =-19-1963 Th» K l n i s t o r » . n J ! - Í 3 a i o n » r i e a Eor.«fÍC B««nS or The c o n t r a c t s « i r n e d by Vrrrj J . Cli^.polaky, Í ^ T ' ^ - • ' ' . ' O / õ ' , )
!bc Ki:iiat»ra Md i l i s s i o r . n r i í s E « n « r i t l-toari o í Acoricwi E a p t í i i t r a ; i v í n l i i . r . , R i v ; r - i i e e D r i v e , HTC F e a r l 6!:O?O1B>7-, P r e s . ; ' C - V: ; 5 / - 1 7 J
MD E*pti;'.í Convar.tíQ-, -vy^ RiventidG E r , ::VC ( n l s o on 312 E 3 S t . ) _ . . D o n d i Shcrzan, V i c c ; r o ; . < '7 1)
Uai Y3iu. SE 0 0 0 . - t o t e l ZSS 0 0 0 . -C19 71) . ^ : ' i : : c i F - l ; . ; r r y J . Sfcapolaky(:^cc3ríÍTiB t o He-' 7 ^ t « t «

1 1 - 2 7 - 1 9 6 4 , bold ttire^cr- " ^ ^ i n n í c n t ,


-o Ko:ilty C o r r - . COH E 11 S t . , :;rG,
1 S7 :':--rry J . ?í;r.Folr>VT, P r é s . í ' € 1 / 3 / 5 / = ; ,

1 tl2 e c o . - (19?]

69
CRÍTICA INSTITUCIONAL

Essa ve r s ã o , n o e n t a n t o , est á l o n g e dc a b a r ca r a h i s t ó r i a t o d a . A p o l i t i z a ç ã o d a a r t e
c o n c e i t u a i q u e v i m o s a q u i c o r r e s p o n d e a u m s e n t i d o r e l a t i va m e n t e p a d r ã o e
e sq u e r d ist a d a q u i l o d o q u e c t i d o c o m o " p o l i t i c o " . N o e n t a n t o , o p r ó p r i o
e n t e n d i m e n t o d o q u e era " p o l í t i c o " p assava p o r u m a t r a n s f o r m a ç ã o , á m e d i d a c| uc
q u e s t õ e s c m r e la ç ã o a r a ç a e sexo sc c h o c a va m c o m a t r a d i c i o n a l p r e o c u p a ç ã o d a
e sq u e r d a c o m o t e m a d as classes. N e m t o d o s e r a m d a o p i n i ã o d e q u e se fa z ia
n e c e s s á r i o a b a n d o n a r o â m b i t o d a a r t e p a r a m a n t e r u m a p r á t i c a c r ít ic a s u s t e n t á ve l .
A o b r a dc H a n s H a a c k e c in t e r e ssa n t e n esse s e n t i d o , c sc cst cn cicu ciesde a
o r g a n i z a ç ã o d e sist e m a s c i n é t i c o s — a c i r c u l a ç ã o d c l í q u i d o s e m c a n o s , o p r o c e s s o
r e p e t i d o d e c o n d e n s a ç ã o e e v a p o r a ç ã o d e n t r o d e u m c u b o d c v i d r o fe c h a d o — a t é
sist e m a s m a is a b e r t o s , q u e e n v o l v i a m d a r a l i m e n t o s aos p á s s a r o s e p l a n t a r g r a m a . E m
1970 ele ]á se vo l t a r a p a r a sist e m a s so cia is. C o m o v i m o s c o m P í p c r , a r e s p o s t a d o
m u n d o d a a r t e à g u e r r a n o su d e st e a s i á t i c o cr e scia ca d a ve z m a is e, e m 22 d c m a i o , a
59
Gr e ve d c A r t e d e N o v a Yo r k e n vo lve u p i q u e t e s n o M e t r o p o l i t a n M u s e u m . Par a a
H a n s Haacl<e
e x p o s i ç ã o liijormaçõcs do M u s e u d c A r t e Um dos set e pai néi s
M o d e r n a , n a q u e le ve r ã o , H a a c k e i ndi vi dual ment e
emol dur ados de
i n s t a l o u u m a c a b in e d e v o t a ç ã o
Uma lintiagem ã parte
co n st it u ícfa p o r d u a s u r n a s , " S i m " e
1978
" N ã o " , m o n t a d a s sob u m a p e r gu n t a : Fot ogr af i as sobr e papel
" O fa t o d c o G o v e r n a d o r Ro c k e fe l l e r mont ado e m pai nel
9 1 x 9 1 cada pai nel
n ã o t er co n d e n a d o a p o lít ica d o
Tat e
p r esid en t e N i x o n c m r e la çã o à
I n c i o c h i n a se r ia u m a r a z ã o p a r a vo c ê 60
n ã o v o t a r n ele c m n o v e m b r o ? ". D o i s M a r t h a Rosler

t e r ç o s cfaqu eles q u e p a r t i c i p a r a m d a Semiótica da cozinlia


1975
p e sq u isa d e H a a c k e v o t a r a m "Si m ".
Frame de um vi deo em
A p r ó xi m a e xp o s iç ã o d c H a a ck e br anco e pr et o ( 6
d e ve r ia t e r s i d o Sistemas, n o M u s e u mi nut os)
Cor t esi a da art i st a
Ley l and Vehi cl es. Not hi ng c a n s t op u s n o w G u g g e n h e i m , e m a b r i l dc 1971. A p e ç a
p r i n c i p a l ser ia u m a d o c u m e n t a ç ã o e m
fo t o g r a fi a e t e xt o d a q u i l o q u e H a a c k e
c h a m o u Um sistema social cm tempo real, fo r m a c fo p elas p r o p r i e d a d e s i m o b i l i á r i a s e m
M a n h a t t a n d c "Sh a p o l s k y et a l " , p r o p r i e t á r i o s cie c o r t i ç o s e n vo l vi d o s n a e x p l o r a ç ã o
d e c o m u n i d a d e s a fr o - a m e r ic a n a s c p o r t o - r i q u e n h a s [ fi g . 58 ]. A p r o p o s t a a r r a n c o u
d as a u t o r i d a d e s d o G u g g e n h e i m u m a d e c l a r a ç ã o d o q u e se co n sicfcr ava o l i m i t e d e
a c e i t a b i li d a d e p a r a u m a d i m e n s ã o p o l í t i c a e m a r t e , l i m i t e q u e a o b r a d c H a a c k e
c la r a m e n t e u lt r a p a ssa va . Essa c ie c la t a ç ã o r e c o n h e c i a q u e "a a r t e p o d e t e r
c o n s e q u ê n c i a s so cia is c p o l i t i c a s ", a r g u m e n t a n d o , n o e n t a n t o , q u e essas cie vcr ia m ser
p r o d u z i d a s " p o r u m p r o c e d i m e n t o i n d i r c t o , c p e la fo r ç a ge r a l e e xe m p la r q u e as
o b r a s d e a r t e p o d e m v i r a exer cer s o b r e o a m b i e n t e ", e n ã o , c o m o n a p r o p o s t a dc
H a a c k e , "u t i l i z a n d o - s e d e m e i o s p o l í t i c o s p a r a o a lca n ce cie fin s p o l í t i c o s ". O a t o
d e l i b e r a d o d e H a a c k e , cf c s r e s p e it a n d o os l i m i t e s e n t r e p o l í t i c a c a r t e , fo i excessivo
p ar a u m a c u l t u r a cu ja i c i c o lo g i a e m r e l a ç ã o à a r t e ccn t r a va - sc n a su a i n d e p e n d ê n c i a ,
p o r m a is q u e essa i n d e p e n d ê n c i a est ivesse c o m p r o m e t i d a p e l o status quo. A o fi n a l , o
m u s e u ve t o u a e xp o s i ç ã o , d e s p e d i n d o t a m b é m o seu p r o vá ve l cu r a cfo r — o q u e t o r n o u
: H a a c k e a figura d e p o n t a d e u m a a r t e c o n c e i t u a i p o l i t i z a d a . ^ ,

70
Em 1974, Haacke p r o d u z iu um a peça que deralliava o interesse com ercial dos
curadores d o Gu ggen h eim , e desde en t ão vem segu m d o u m a carreira cie "cr ít ico das
in st it u ições", jogan cio lu z sobre as filiações p olít icas de Saatchis e ou t ras
com pan h ias de p o n t a [fig. 59]. È d iíicíl d izer se a prát ica dc Haacke é u m a t o r m a
m od ern a de em preen der u m a crít ica p olít ica b reclit ian a ou apenas u m a est rat égia
arciilosa para m an ter-se u m art ist a bem -su ccciid o. E in egável, n q en t an t o, c]tie as
obras aqu i m en cion adas t orn aram -se can ón icas, in cor p or an d o-se à coleção dc
grandes m useus. N o m at er ial in t r od u t ór io à sua e.vposição realizada pela Serpen t m c
Gallery e pelo Vic t o r ia & Alb e r t Mu se u m cm Lon d res, cm z o o i, H aacke é cHescrito,
sem meias palavras (pelas p r óp r ias in st it u ições que ele desm ascara), co m o "u m dos
artistas con ceit u ais m ais em in en t es em t o d o o m u n d o ". Le m b r a n d o o com en t ár io
de Ian Bu r n , talvez sc chegue a pensar, co m efi^ito, que n ão há fracasso m aio r d o que
o co m p let o sucesso.

POLITICA DE IDENTIDADE
O u t r o s percorreram um a t rajet ória sim ilar, t en d en d o, n o en t an t o, a su b st it u ir u m
sen t ido da p olít ica relat ivo à classe e às gran des empresas, pela recém -su rgid a p olít ica
da id en t id ad e, mais especificamente em relação a c]ucstões c]ue en volvem se.xo,
sexualidade e r a ça / o r igem ét n ica. M a r t h a Rosler respon d eu , ela m esm a, à crítica de
Mich ael Eried em relação à "t eat r alid ad e" na arte co m u m a exclam ação de "Bin go !
E isso aí". O s resultados são vistos em t rabalh os cm vid eo com o Semiótica dc cozinha
[fig. 6 0 ] . Dc pé cm frente a u m a mesa de cozin h a cobert a co m u t en sílios, Rosler pega
cada u m deles, em or d em alfabét ica, en t oan d o o seu n om e e fazen do a m ím ica d o seu
uso. Ao final, p or ém , vem os a art ist a b r a n d in d o a faca e expressan do as fru st t ações
de um a id en t id ad e con fin ad a pelas t rad icion ais d efin ições de sexo c gén ero.
En t re aqueles que in sist ir am nas im p licações de u m a arte con ceit u ai desvin cu lad a
de um a especificidade de m eio, e que servisse a u m a reflíexão sobre as cp cst ões da
representaç.ão e da con st r u ção da id en t id ad e, estava M a r y Kelly. Co m u m t r ab alh o
que t em p or base as in t erven ções sociais de H aacke e t am b ém a ob ra de Pip er
vin cu lad a ao t em a da id en t id ad e, Kelly dest acou ain d a algum as potcn cialidacfes
61
con t idas na in st alação Liílíce d o gr u p o Ar t e & Lin gu agem , o u , m ais precisam en t e, M a r g a r e t Harrison,
Kay Fido Hunt, IVIary
aq u ilo que viu com o as ausên cias n aquela in st alação. "A im p or t ân cia da relação en tre
Kelly
o p síq u ico e o social t or n ou -se eviden t e para m i m pela sua ausên cia n o t r ab alh o d o
Mulheres no trabalho
Ar t e & Lin gu agem ... Eu vi aquele esp aço com o u m esp aço em abert o." A sua 1975
Docuinentafão pós-parto ( 19 73-9 ) é d efin it iva n o en t relaçam en t o d o psíc| Uico e d o sociaL Vi st a da i nst al ação na
En q u an t o t rabalh ava n a obra, Kelly envolveu-se t am b ém n u m p r o je t o "p o lít ic o " Sout h London Gal l ery

62
IVIary Kelly

Um dos oi t o pai néi s


i ndi vi dual ment e
emol dur ados de

Documentação
pós-parto
(Documentação IV):
objetos transiclonais,
diário e diagrama 1976

Col agem, gesso e


al godão c omt ext o
dat i l ogr af ado
27, 9x35, 6
Kunst haus, Zur i que

63
Mary Kelly

Um dos t r eze pai néi s


i ndi vi dual ment e
emol dur ados de
Documentação
pós-parto
(Documentação III):
mais con ven cion al, d ocu m en t an d o a sit u ação h ist órica das m ulh eres n a força de marcaçóes analisadas
e esquema perspectivo-
t rabalh o. Mulheres trabalhando, de Kay Fid o H u n t , Mar gar et H a r r i s o n e Kelly era u m a
diário 1975
in st alação de fot ografias, d ocu m en t os e fitas son oras com p arável à in st alação
Col agem, l ápi s, cr ayon,
Tueanián arde c ao p r o jet o d o Ar t e & Vid a O p er ár ia au st ralian o [fig. 61]. A in st alação gi z e di agr amas
i mpr essos sobr e papei
ocupava a área fron t eiriça en tre u m a d ocu m en t ação h ist ór ico-p olít ica ( c o m raízes na
28, 5x 36
obra Observação de massa da décacia de 30 ) e u m a in st alação de arte con ceit u ai Tat e
con t em p orân ea — am b igu id ad e que fazia p art e da sua essên cia.
KDocumentação post-partum de Kelly fu n d am en t ou -se, igu alm en t e, nos m ecan ism os
de represen t ação d o con ceit u alism o a fim de p r o d u z ir u m t r ab alh o que desafiasse o
sen t id o co m u m da aparên cia e da u n id ad e da ob r a de arte [figs. 6 2-3]. O seu t em a
era, de m an eira ostensiva, em t u d o d iferen t e d o m u n d o d o t r ab alh o in d u st r ia l,
excetuando-se o fato de c]ue, para Kelly, a peça vin culava-se est reit am en t e à d ivisão
sexual do t rab alh o na sociedade. A ob ra t em seis part es, con sist in d o de m ais de cem
"in sígn ias" in d ivid u ais, que t raçam a evolu ção d o seu filho, d o n ascim en t o —

72
passando pela aqu isição da lin gu agem —
até a ob t en ção da capacidade de escrever o
seu p r ó p r io n om e. A peça em prega u m a
am pla gam a de sign os — os rabiscos da
crian ça, marcas dc pé, m anchas e assun
p o r d ian t e — , mas evita im agens icón icas.
H á t am b ém u m a variedade de t ext os:
t ran scrições das conversas da crian ça,
reflexões da m ãe em fo r m a de d iário,
exem plos da t eoria psican alít ica de Jacques
Lacan , que serviu com o base para o
p r o jet o com o u m t o d o . O t r ab alh o
distan cia-se, deste m o d o , da obra de art e
m od er n a au t ón om a, t o m a n d o d ist ân cia,
igu alm en t e, da obra con ceit u ai an alít ica
Coalne back t T 9 \ que reflet ia sobre a con d ição da art e. Kelly
work thi» w««»i *
r«*ll««d th»* I . ^ . ^ u t iliz o u o p ot en cial ab ert o pela nova arte
— ""at thlBldJag para, com o ela d iz , "levan t ar qu est ões
ottt, ar walW*« relacion adas aos m ovim en t os sociais da
; M «UI I go* - é p o ca ". O u t alvez a in st alação, t en h a
. a b i t S ! ^ *í ' com eçad o a d isp or os "m o vim e n t o s
sociais da é p o ca " p o r trás de u m a série
•d t h i s t o M i n * ' ^
m ais subjet iva dc qu est ões vin culadas à
d i ffi c u l t con st r u ção da icienticiade. Ta m b é m Vi c t o r
cauae ve laav»
with othor pao?^? „ Bu r gin ciistan ciou-se, n u m regist ro sim ilar,
a l o t ..?S5 f i f dos já en fraquecidos esforços de agit ação
ooaxtrary, * -
^c a u *« we 'ra <» e propagan d a, cot n o em Posse, para
htB too « MO h *.
t rabalh ar co m cp est ões ligadas à
sexualidade (em Zoo), co m cu lt u r a p o p u la r
c, n o caso dc Escritório à noite, co m a
im p licação das "belas-art es" n a
con st r u ção da id en t id ad e sexual. N o
com eço dos anos 8o, artistas co m o Bu r gin
e Kelly viam -se op eran d o crit icam en t e em
u m t erren o em que im perava a
represen t ação em geral — u m lugar em que
o visu al, o con ceit u ai e o p olít ico estavam '
in t et ligad os. Se o p r o jet o Ar t e e Vid a
O p er ár ia de Bu r n in corp orava u m
m o vim e n t o de esquetda que se estendia
pata além da art e en qu an t o t a l ( in c lu in d o -
se, aí, a arte con ceit u ai), a Documentação
post-partinu fo i sin t om át ica q u an t o à
m u d an ça da p olít ica da No va Esqu erd a
para a p olít ica de id en t id ad e, c]ue veio a
d o m in a r a arte p ó s-m o d e r n a d o t ilt im o
q u ar t o d o sécu lo XX.
0S2 28 MOS,

73
6

O LEGADO
"^M. _ • . ^ - '

Vár ias t écn icas c est rat égias associadas à art e con ceit u ai d ifu n d ir am -se, p en et ran d o
t o d o o âm b it o cia ai-te con t em p orân ea. O em prego da lin gu agem p o r Jenny H o lz e r c
um a delas. A crit ica fot ográfica da or igin alid ad e em preen d id a p o r Sh errie Levin e é
ou t ra. O jogo de Cin d y Sh erm an co m a id en t id ad e é ain da u m a dessas p rát icas. O
uso dc t ext o e fistografia p o r Barbara Kr t iger seria in con cebível sem a exist ên cia da
arte con ceit u ai, e assim p o r d ian t e. En q u an t o o t r ab alh o de m u it o s artistas é
perm eado p o r u m a p olít ica da diferen ça, a arte realizada p o r ou t r os foca-se, p or sua
vez, na p rod u ção social e in st it u cio n al d o sen t id o. Esses d ois filamentos, ju n t o s,
t ran sform aram em h ist óricas as reivin d icações, feitas pela arte m ociern ist a, de
essencialism o e de au t on om ia da art e, dc u m a fo r m a c|uc lem b ra o que o
m od er n ism o ele p r óp r io fizera em relação ao ethos acad ém ico. Sct ia, n o en t an t o,
in adequado fechar u m livr o sobre arte con ceit u ai co m a con clu são dc cjue o seu
p r in cip al legado foi o de u m aspecto p olit icam en t e cor r et o, m arcad o p o r u m a
excessiva con vicção ética desprovida de h u m o r . Seria igu alm en t e in a p r o p r ia d o
celebrar sem ju lgam en t o crít ico afirm ações d o t ip o "o con ceit u alism o t or n ou -se
extrem am en te d ifu n d id o , se n ão cfom in an t e, n o m uncfo da ar t e". E, n o en t an t o, sob
u m aspecto isso talvez seja verdadeiro. Em resposta a u m a crít ica que n ão alcan çara a
com p reen são da sua obra, Da m ie n H i r s t co m en t o u , cm 20 0 0 : "N ã o acred it o t]uc a
m ão d o art ist a seja im p o r t a n t e , em qu alqu er n ível, apenas p orqu e se está t en t an d o
com u n icar u m a id éia". A "id é ia ", m ais d o c]ue o ob jet o feit o art esan alm en t e, t o r n o u -
se a m oeda corren t e da arte con t em p or ân ea in t er n acion al. Mas a relação dessa arte
com o seu con t ext o in st it u cion al é m u it o m ais firme e estável d o que havia o co r r id o
com a arte con ceit u ai c]uanc"io su rgiu , in st it u ições gigantes tais co m o Ta t e M o d e r n .
Gu ggen h eim Bilbao, Tcm p o r ar y Co n t e m p o r a r y c ou t ras s.ão m on u m en t o s ao espaço
t]ue a arte con t em p ot ân ea veio a ocu par na cu lt u r a cie u m m o d o geral. O crít ico c
jorn alist a M a t t h c w Collin gs estabelece os lim it es desse m o d ism o qu an d o reconhece
t]ue "As iciéias n.ão são n un ca im p or t an t es e n em m esm o são ideias verdadeiras, e sim
n oções, tais com o as n oções em p rop agan d a". Collin gs ad m ira a arte con t em p orân ea
porqu e, com o cie afirm a, "ela c exatam ente o que a vida é h oje cm d ia ", u m a vid a
assolada p or pergun tas com o "Ter á sucesso? Falh ará? At in gir á preços elevados?
Aparecerá na t ele\ 'isão?". O am or d evot ad o p o r Co llin gs à t r ivialid ad e d o que c
con t em p or ân eo co n st it u i o o u t r o lad o da m oeda d o p olit icam en t e cor r et o m aqu iad o
(e com o qu al a con vivên cia é m u it o m ais fácil). Mas a qu est ão c que n en h u m ciesses
dois aspectos se vin cu la d iret am en t c ao esp írit o que o r igin o u a arte con ceit u ai.
Co m o reconheceu Bruce N a u m a n , n aquela época n ão sc sabia, de m ocio algu m , o
que sc deveria fazer; e, com o afir m o u o Ar t e & Lin gu agem , o status alcan çad o pelo
result ado t am bém n ão era, dc m o d o algu m , claro. N o com eço deste livr o, afirm ei ser
im p o r t an t e cfiferenciar os \ 'ariados sen t idos ligados ao nosso t e r m o chave,
"co n ce it u a i". U m cicies, vin cu lad o à vanguarda e ao Flu xu s, sugeria u m a gama de
atividades n ão d et erm in ad as pela especificidade d o m eio — o que, p o r sua vez, n u m a
expressão talvez u m p ou co vaga, vin cu lou -se à idéia de um a criat ivid ad e h u m an a
un iversal, afastando a idéia de u m a prát ica est ét ica especializada, b io u vc t am b ém
um a "art e con ceit u ai" au t ocon scicn t c c m ais rigorosam en t e t eorizad a, surgida n o
final dos anos 6o c que dedicou-se in icialm en t e a u m exame crít ico das premissas d o
m od er n ism o c da arte de vanguarda, evolu in d o, nos anos 70 , para um a prát ica
crít ico-p olít ica voltacia para u m cam p o m ais am p lo de represen t ação, fissa arte
con ceit u ai in co r p o r o u , ela m esm a, difirren tes filamentos, alguns m ais an alít icos e
fu n dam en t ados na lin gu agem , ou t ros m ais p ixixim os das at ividades d o Flu xu s e de
elem entos de perform an ce, lisses d ois aspectos representavam u m interesse volt ad o
para, respectivam en te, m en t e e cor p o. Por m u it as razões, das quais n ão se deve
csc]ueccr o fem in ism o, o ú lt im o q u ar t o d o sécu lo XX t est em u n h ou um a m u d an ça
decisiva n o interesse cm relação ao cor p o. Tor n ou -se possível descart ar a an álise e a
crit ica racion al com o reféns de u m a m asculin idacie ultrapassada. O veio an alít ico da
arte con ceit u ai, vin cu lad o a um a p olít ica de classes de esquerda, foi eclipsado p o r u m
fervilh ar dc atividades guiadas p or um a p olít ica dc id en t id ad e. Essa m u d an ça está
p or trás da n oção de "co n ce it u a lism o " que su rgiu para descrever a gama de
atividades baseadas em perform an ces, vid cot ecn ologia e in st alações que d o m in a h oje
a cena art íst ica in t er n acion al. "Co n ce it u a lism o ", nesse sen t id o, é efetivam en te u m
sm ôn im o pata "p éis-m o d er n ism o ". As fron t eiras en tre essas diferen tes form as dc
ativiciacic t orn aram -se in d ist in t as, c seria u m erro t en t ar im p o r , nesse cam p o,
defin ições rígid as o u ciescuidadas. Corre-se o risco dc chegar à sit u ação rid ícu la dc
aplicar testes q u ím icos para d escobrir sc o Ar t ist a X, ou a O b r a de Ar t e Y, sc encaixa
ou n ão nos requ isit os para o seu passaport e "co n ce it u a i". D i t o isso, algum as
d ist in ções, n ão obst an t e p rovisórias, são n ecessárias para que n em t u d o su bm erja cm
u m lam açal de on de n ão seria m ais possível d iferen ciar prát icas crít icas interessantes,
e, ousarei d izê-lo, progressistas, de ou t ras prát icas em que im p era u m iionscnsc vazio,
m ist ificad or c au t op rop agad or.

Em qualquer ép oca, boa parcela cia arte p r o d u zid a n ão t em m aior interesse. Isso
é t ão verdadeiro em relação à art e con ceit u ai q u an t o ao p éis-m od crn ism o
con t em p orân eo o u à art e acad ém ica. N o passado, u m desgaste n at u r al dava con t a da
qu est ão. Mas, à m ed id a que a in st it u ição da art e se dilat ava na m od er n a sociedade
ocid en t al, e à m ed id a que o in vest im en t o nessa art e — culttu-al c financeiro — se
m u lt ip licava, t or n ou -se cada vez m ais d ificil d izer, co m precisão, q u an d o c que o
Im p er ad or está vest in d o as suas roupas novas. A força m aio r da arte con ceit u ai c que
talvez ela ten h a sid o u m m o vim en t o c]ue, p o r u m breve p er íod o, t en h a se volt ad o
con t ra a ín d ole de t u d o isso. Nest e p er íod o, alguns artistas t o m ar am a si a
respon sabilidade de verificar o que era exatam ente a arte e que papel desem penhava
na sociedade m od er n a. Seria u m erro, acred it o, m ist u r ar essa espécie de prát ica
crít ica ao eclet ism o que se t o r n o u o t raço m ais visível da art e na virada para o sécu lo
XXI. A arte con ceit u ai pod e, sob alguns aspectos, ser resp on sável p o r essa sit u ação —
p or t et d cst fu íd o as barreiras d o su post o m eio da art e. Em ou t r os sen t id os, n o
en t an t o, essa respon sabilidade n ão existe. Já m en cion ei o im p act o c|uc a t eot ia das
revoluções parad igm át icas d cT. S. Ku h n exerceu sobre o d esen volvim en t o da arte
con ceit u ai. Ku h n defen dia que, na m aio r part e d o t em p o , a ciên cia p r o gr id e p o r
acu m u lação, até que se desenvolvam an om alias e t od a a est ru t u ra seja sacudida, t en d o
en tão in ício u m n ovo p er íod o de n or m alid ad e. O t raço m ais eviden te da arte à q u al
se aplica o t e r m o "co n ccit u alist a", seja posit iva o u n egativam en te, é que ela c, p o r
assim dizer, u m a "ciên cia n o r m a l". Ela é o m o d o com o as coisas são agora, assim
com o a arte acad ém ica in corporava o m o d o com o as coisas eram em m eados d o
sécu lo XIX, o m esm o acon tecen do co m a arte m od er n ist a cm relação ao sécu lo X.X.
Deixan d o de lad o h ip érboles c u t op ias, há u m sen t id o com relação ao qu al a arte
con ceit u ai fo i u m m o d o de ação gu er r ilh eira con t r a os poderes estabelecidos,
m an ifestos na fo r m a de u m m o d er n ism o in st it u cio n alizad o , t an t o n o âm b it o d o
m ercado q u an t o das un iversidades nas quais se ensinava e r ep r od u zia a art e. M e l
Ram sd en certa vez observou que a art e con ceit u ai estava m en os vin cu lad a ao at o de
colocar escritos na parede, d o que a u m esp ir it o de cct icism o e ir on ia. Se o
"co n ceit u alism o " t or n ou -se, co m efeit o, o status quo d o in flacion ad o m u n d o da art e
con t em p orân ea, en t ão é cert o con clu ir que ele t em m en os em c o m u m co m o esp írit o
da arte con ceit u ai h ist órica d o que co m a academ ia m od er n a da q u al aqueles artistas
h aviam t o m ad o d ist ân cia, bdoje, n u m a ép oca de glob alização, nos é d it o que "som os
t od os capitalistas, agora" - capitalistas liberais, está claro. Julga-se, além disso, que
deveríam os t od os ser, cu lt u t alm cn t e , p ós-m od cr n ist as. Ao final da p aráb ola de
George O r we ll em A revolução dos bichos (1945), os an im ais o lh am pela janela da casa em
que os seus líderes, os porcos, com em à m esm a mesa que os fazen deiros h u m an os:

Enquanto os animais externos olhavam, fixamente, aquela cena, parccia-lhes c]uc


algo estranho ocorria. O que era c]uc sc tinha alterado nos rostos, o que era que parecia
estar sc fun din do c se transformando? Nã o havia dúvicfas, agora, quanto ao que h.avia
acontecido. As criaturas de fora olharam , do porco ao hom em , e do hom em ao porco, e
mais uma vez do porco ao hom em , mas já nÃo era possível dist in gui-los.

N ã o há d ú vid a, a arte crít ica con t in u a a ser feit a, mas apenas em u m sen t id o
orwellian o se p od eria sustentar que "som os t od os con ceit ualist as agora".
Docunicnia 10. car. cxp., K a s s c l . Earl com cptuel, cat. cxp., M u s c c
BIBLIOGRAFIA '997 d ' A r t M o d e r n e d c la V i l l e d c
Paris. 19 8 9
F o s r c r , H a l ( e d . ) , Dtscussions in
Conleniporaty Cullure, Seartle, L i p p a r d , L u c y , Six Years: The
1987 Dem atevialization of the Art Ohject
igój lo igyz — whcn attitudcs from ig66 lo igji, 2a . ed.,
hecam cjorm , cat. cxp., Kcttlcs F r i e d , M i c h a e l , Art and
Berkcley, 19 9 7
Yard, Cambridge, 19 8 4 Ohjecthood, C h i c a g o , 199S
JAVC in your Head: Concept and
Alberro, Alexander and F r i e d m a n , K c n ( e d . ) , The
Experim cnt in England
Patrícia N o r v c l l (cds.), Fluxus Readcr, C h i c h e s r e r , 19 9 8
igô^ -igj^ , cat. cxp.,
Rccording Conceptual Ari, . W h i t c c h a p c l Gallery,
Clobal Conceptualism : Points of
Bcrkcley, 20 0 1 Londres, 20 0 0
Origin ig^ os— igSos, car. cxp.,

Alberro, Alexander and Blake Queens M u s e u m oí Art,


Eive in your hiead: W hcn Attitudcs
S t i m s o n ( e d s . ) , Conceptual Ari: Nova York, 19 9 9
Becom c Form , cat. cxp., Instirurc
Á CrilicidAnthology, of Conrcmporarj' Arts,
G o d f r e y , T o n y , Conceptual Art,
Cambridge, Mass., 20 0 0 Londres, 19 6 9
Londres, 19 9 8

Altshiilcr, B r u c e , The Avant- M u l l e r , G r c g o i r c , The New


Goldstein, A n n and A n n e
Carde iu Exhihilioii, Berkcley, Avant-Carde: Issues for lhe Art of
R o r i m c r ( e d s . ) , Reconsiderino the
1994 tlx Seventies, L o n d r e s , 19 72
Ohject ofArt igó^ -igj^ , cat.

Baldwin, M i c h a e l . C h a r l e s cxp., M u s e u m of
N e w m a n , M i c h a e l and Jon
Harrison and M e l R a m s d e n Contemporary Art, Los
B i r d ( c d s . ) , Rcwriting Conceptual
Angeles, 19 9 6
feds.), Art íir L(iní>uaot - in Art, L o n d r e s , 19 9 9
Practicc, 1 vols., B a i x e l o n a ,
G r c c n b c r i í . C l e m e n t , Ari and
R o b e r t s , J o h n ( e d . ) , Tke
'999 Culture, Boston, 1961
Im possihle Docuuienl: Pholography
Buchloh, B e n j a m i n , NeO" and Conceptual Ari in Britain
G r e e n b e r g , C l e m e n t , The
iivaut^ arde and Culture Industry, igóó— igyô, Londres, 19 9 7
Collected Essays and Crííicism ,
C a m b r i d g e, M a s s . , 2 0 0 0
4 vols., ed. J o h n 0 ' B r i a n ,
S m i t h s o n , R o b e r t , The
Bíirgcr, Peter, Thcoiy oj the C h i c a g o , 19 S6 — 19 9 Í
Collected W ritings, c d . J a c k F i a m ,
Avant-Gardc, trad. M i c h a e l Berkclcv, 19 9 6
Groys, Bóris, D a v i d R o s s and
Shaw, M i n c á p o l i s , 19 8 4
I w o n a B l a z w i c k ( c d s . ) , Ilya
Srilcs, Kristine and Peter S c l z
Burgin, V i c t o r , The End of Art Kalhikov, Londres, 19 9 8
( e d s . ) , Thcorics and Docum ents of
Iheory: Criticisnt and Contem porary Art. B e r k c l e y ,
H a r r i s o n , C-harlcs, Essays on
Posttiwdcrnily, L o n d r e s . igS6 19 9 6
Art &• language, Oxford, 1991

Celant. G e r m a n o , Art Ihvcra: W a l l i s , B r i a n (ed.), An After


H a r r i s o n , Charles and Paul
Conceptual, Actual or Inipossihle Modernism , Nova York 19 8 4
W o o d ( c d s . ) , Art in Theory
Ari?, M i l ã o c L o n d r e s , 19 6 9
Í 9 0 0 -/ 9 9 0 , O x f o r d . 19 9 2
W o o d , P a u l ( e d . ) , The Challengc
Christov-Bakargicv, C a r o l y n of the Avanl-Carde, New Havcn
H o p k i n s , D a \ ' i d , Afler Modern
(ed.), Aric Povera, Londres, e Londres, 19 9 9
An igj.^ ~zooo, Oxford, 20 0 0
1999
W o o d , P a u l ( e d . ) , Modernism in
In lhe Spirit of Fluxus, car. cxp.,
C r o w , T h o m a s , Modern Ari in Dispute: Art sincc the Forties, N I c w
W a l k e r A r t CAMit r c,
lhe Com m on Culture, New Havcn e Londres, 1993
Mincápolis, 199^
H.ivcn c L o n d r e s , 19 9 6
K o s u d i , J o s e p h , An afler
C r o w , T h o m a s , The Rtse of lhe
Philosophy and After: Collected
Sixties, L o n d r e s , 1996
IVritings igGG-iggo,

Dc D u v c . T h i c r r y , Kant Afler Cambridge, M a s s . and

Diichauip, C a m b r i d g e , M a s s . , Londres, 1991

1996
K r a u s s , R o s a l i n d , T7:r

DccHm ciita \ . cx p., K a s s c I , Originality of the Avant-Cardc and

1972 Other Modernist Myths,


Cambridge, Mass., 1985
Broodthaers, M a r e e i Itrnst, M a x 17 H u e b l e r . Doui^l as í5
Í NDICE Musée {{'An Moíienie, esctíla de N o v a Y o r k 16—17 H u n t , K a \ k i d o 72; íii^.^i

especificidade de m e u i 21. 12. H in -rcll. H a r o l d 4 ;


REMISSIVO Dêparliineut des Aigles 58—9;

fig-45 essencialismo [ 4 . 74

Buchloh, Benjamin 7 I'.stadt)s LJnid( ) s 8, [6—19. 22. 4 6 , i d é i a . arte c o m o 28—5^

n b s r o ç n o gestual 17, uS Bulatov, | - r i c 62 6í-4 imaginação 10

abstração pós-pictórica i i Buren, H a n i e l 57 esrérica. sratus da 7. 9. 17. 21, 30, índice 4 9 . $í. 72; íiií.42
abstrairão n. i ^ . 17.18, 10. i 8 . • Ajfiehage sauvage 57; l i g - 4 4 4 í - 75 i n s t a l a ç õ e s Í4—7. 4 0 , 4 9 . 59. 6^ .
Miuiifestitção II. I 57; fig.4} e x p r e s s ã o 19. 26 7^
Alcnianlia 2 , - 4 . ,1, 4 8 Biirçíer, IVrer 10 e x p r e s s i o n i s m o absrraro 18, ^7 Issue. revista 45
Alrluisscr, L o u i s 57 B u r a i n , Victoi" í 4 , 45, 65, 7^ Itália 20 . 55. 59—60
A i n c n c a L a n n a 9. 60— ] Fololnlhii í4 f e m i n i s m o 22, 75

/ bm lyliciil An, rc\'isra 43 Posse 65, 7^; fig.54 ri u .vus 8. i i - 5 . 26 - 7, 7s ; ( i g s . i í , | a p à o 9. 19—iei, 4 0

Anderson, TrooLs 24 SciiSii(ihi 65; liiJ.SÍ 14 Jolms. laspcr 17, 19, 27

antiforma 6, jo. 59 B u r n , Ian ÍS- 4 8 . 54, 66—7. 71. 7^ I-lynr. H e n r y 6 - 8 . 22-4 ]orn. AsiTor 19. 55

A r n a t t . Keirli ^7. 45 Foiiíe 12; | u d d , D o n a l d 27. n.)—]o. ].{

Aiilo-cnlcno ^7; íig.29 C:agc, j o h n 17 19. 57 [•osrer. H a l 5$

/'•('Ií pii!iivrii-i'al(a 4^ ; fig-15 C'arnap, R u d o l f 4 9 fottigrafia 7. ^ 4. ^6, 4 5 - 9 Kabaktiv, Il\'a 62—Í

A n e &: L i n g u a g e m 7, 4^ -5, 4 9 , C x l a n t , G e r m a n o $9 Poucaulr, M i c h e l 57 Levando d lata de liso {nni fora

$2-í, 6 5 - 7 72; Hg.56 ( A v a n n e , Paul 6, 10 f-nuneworks. r e visr a 45 6 2 - Í ; hg.so

arre a b o r í g e n e australiana 9 (Hiandler. lolin í6 k r a n ç a 19, ^8. $5-58 Kandinsky. Wassily ^

arle conceituai c n i c m a 55 I-Vicd. M i c l i a e l i > 16, 20 . 29 . K a p r o w . A l l a n 22

legado 6, 9. 74— (Coalizão dosTrabaliiadorcs d a í o - 1. 4 0 . 71 Kawara. O n 4 0

uso do termo 7—9, 2i—Í, ^7 Arte 6 í I r v , R o ^ c r 10 Pinturas dc datas 4 0 ; Iit!;.í2

Arre c V i d a O p e r á r i a 67, 7^; C o l l i n g s , M a t t h c w 75 Kelly Mary 72- ^

Iigõ7 c o n c e i t u a l i s m o a n a l í t i c o 42—5, Górónic, |ean-Léon Doaiuicnio pós-parlo yi— y,

A r r e I\n'era 59 - 6 0 7T () Pli O c i i j : ; ; fig.5 figs .6 i. 6 í

Anfonini, revista 7, ^7 c o n c e i t u a l i s m o t!;U)bai 9. 4 0 . 6 0 . G i l h e r t e Cieorgc 45 Mulheres trabalhando 72; fio,6i

Art-l.ivioiuiot \ a 8. 44—5. 4 9 . G o d a r d , I c a n - L u c 55 Kirb\' , S a n d \ 6 7

60: lig-ís conceitualistas de M o s c o u 62 CK)rk\'. A r s h i l e 17 K l c i n . "^'ves 19 - 20

A r k Í n . s o n . T e r r \ 4^—4. í i — í , 66 ('onde. Ciaroie 6 6 G r ã - B r e t a n h a [7, j i , 4 2, 45, 6 4 - 6 K l i n c , P r a n z 17

Austin. ].[.. 45 c o n s t r u t í v i s n n ) 15. 54 G r a h a m , D a n 46—7 (^ íisiis piini a K o m a r c M c l a m l d 62

e o n t c x u i a l i s m o 14 / luiéncii 47—8; lig-4o K o s u t h . [osepli 7. 34—5. 41—í. 49

hainbridgc, O a v i d 4^ Contiol. revista 4^ Cjray, C^amilla 17 " P r o t o i n w s t i i j a ç õ e s " ^ 4;

IVildessari, [olm ÍI—2 CAJr n s. M i c h a e l 66 Cjrcenberg. (Clement 10. 16. 17. hg- - 4
C ' r a i i j - M a r i i n . M i c h a e l 45 21. 28 , í 2, 41. 6 6 Intitulado (Arte eonio idéia com o

Baldwin, M i c i i a c I 4^—4. 52—Í C r o w . 1 liomas 4 7 Aneeeiiliiini ^2—Í; lig.22 idéia) [Sentido] 6. 4 1: lig.i

Barr\-, R t í b e r t ^ 5-6 c u b i s m o n. i - ; G r o t t n v s k i . j e r / y 5S) K o u n e l l i s , [ a n n i s 58—9

Sá-ic ihgás innk 36; íig.27 Cjro\'s, B ó r i s 6 2 Sem título fDoje cavalos) 59;

Barthes, R o l a n d 52, 6 4 d a d a í s m o 15 g r u p o CAíbra 19 fig 4 6

Beckett. S a m u e l ^8 H a l i . S a l v a d o r 17 G r u p t ) de N e w p o r t 4^ KozIo^'. C h r i s t i n e

Bell. Clive 10 narbo\'cn. Hanne 4 0 g r u p o G u t a i i o ; Uo.u híforuhição não teoria ^5; lig.26

Benjamin, W a l t e r 17 livros, liii séeulo 4 0 ; liií-^ i Ciuerra kria 16—17 K r a u s s . R t í s a l i n d ^8

Berlin, Isaiah 66 D c K o o n i n g . W i l i c m 17. 18, 20 K r u a c r , i i a i b a i a 74

Beuys, [oscph 24—5 D c b o r d , G m ' =55 H a a c k e , H a n s 7 0 - 1, jz: fig.58 K u h n . T . S . 52. 76

linrásia 24 ; hg.15 d c s c o n s t r u ç ã o 52 H a m i l t o n . R i c h a r d 17

i^o\'ci-Ídge, K a r l 66 dcsmatcriallxação ^ 5-7 H a r r i s o n , C"harles 7 I.'ar! lonccplucl, expe>sição

Bodincr, M c l 7 ^ 4-5 D i b b e t t s . jan ^4 H a r r i s o n , Margaret 72; fig.6i ( 19 8 9 ) 7

DiSinhoi c oiílras loisa.s Coyre^ ão de pevspecíiví] ^ 4; h a . 2í Higgins. Dick iz L a c a n , |acques 75

visíveis... 54: liij.-is Doeum eiihi > ( 19 7 2 ) 4 8 - 9 . 18 - 9 Hilliard. john L a t h a m . lohn

Boctri. A l i g l i i c ro 59 n i i c l i a m p . M a r e e i u, \ i. 17, (ytiiieiii irgisliiiiido ,1 siiii piópnii An and Culínre 1,1— 1,'- fisí.22
bolchevismo 14, 17 54 19. 26 , 2 7 4 í eoiidi(ão 45; íiií-56 Lendon. N í g e l 67
Borges, Jori^c L u i s ^9 H i r s t , D a m i e n 74 L e n i n , V I . 59
Brancusi. Cxíiistantín \ i Holzci", jenny 74 L e v i n e , S h e r r i c 74
Briiish l.iyhiihi 71; liij.sg

78
L c W i r r . Sol 7, ^4 . 37- 8 M o n d r i a n . P i e t 11. i ^ . 16 I^"per. A d r i a n 6^—4. 70 . 72 S i n i f h . s o n . R o b e r t 4 6 . 48—9

D.vs aihos iiioiiiibm uhcrtos ^7; M o r r i s , R o l x r r 21. 2Í. 24—7 séi'ie Catáliscb^ ; U-^ .=ii Monum entos de Passaic 4 8 ;

lig.^ > IXvinncnIo i-j; Iig.i6 P i s l o l e t l c í , M i c h e l a n g e l o 59 fíg.41

IIKHH) l í - 14 M o s s e i . OI[^•ler 57; 1H];.4Í p o l í t i c a d e i d e n t i d a d e 71—í S o c i e d a d e para a / \ r t e

lingungoiii M o t o n o g a . Sadamas a Polke. Sigmar Teórica 49

Ar i i - I l i n g u a g e m 7. 4^—5. Aoitii 20 ; hçT.M Instâncias superiores s o c i o l o g i s m o 52

4 g, 6 s-6 , 6 7 72. 75 m o \ ' i i n e m o " \ ' e i ' d e " 24 oiJcnani... ^ 2; fia.21 S t e l l a , [ ' r a n k 29—30

di-S.uissurc. r c o r i a dc 52 m u l h e r e s a r r i s t a s 7, 9 . 22, 55 P o l l o c k . l a c k s o n 16. 17, 28 5i-\ Mile Boit oni 29 ; lig.17

obi"as hascadas c m m ú s i c a c o n c r e t a 22 p ó s - m o d e r n i s n i o 9 . 74 . 75 S t e z a k e r , | * i h n 45

liiigii;iiiL- in 7 45. 74 p i x í d i í t i v i s n i o 15 S t i l l . C d y f l o r d 16, 17

r e l a ç ã o ci>m a arre Nam [une I ' a Í k 1^ Suporte para garrafas 12; IK;.Í

niodc]'iia [ í—14 /.rn Ior hcai'! 11, r a c i o n a l i s m o 2 4 . Í8 s u r r e a l i s m o 15. 17. 19

L i p p ; i r d , L i k - \ 7 8, 24 . í o , í 6 . N a u m a n , B r u c e 45—6, 75 r a d i c a l i s m o p o l í t i c o 7, ^4—7^. 75

54, 6 0 ( ) íLY fotografias coloriílas 4 6 ; R a i n e r , Y v o n n e 26 Tariín, V l a d i m i r n

L o n a , R i c h a r d 45 ('iiui linha játa Iíg--i9 Ramirez. M a n ("armen 60 t e o r i a francesa, i n l l u ê n c i a da

para úuiiinhai; hiohucrra 4 6 ; Ramsden. M e l ^ i , 4 9 , 76 64. 66


N e w m a n . B a r n e t t 16-17. - 9
llgíS N o l a n d . K e n n e t h 21. 29 . ÍO Pintura scLirta ^i; lli^-K) lhe Fox, revista 6 6 ; lig.ss

!,ouis. JViorns 11 Katcalchcr. revista 45 T o i o n i , N i c l e 57; l i t ;. 4 í

Ohjelos l'specíhcos ;o Rauschenberg, Robert 17 Fucam án arde (\ 60—1, 72;

Mnciiinas. ( i c o r g c o b r a s baseadas e m Desenho Ác Dc Kooning hg. 48

ManijiSlo /7/j.vn> 24 ; iig.14 im'isii:a 22—Í apagado 18—19; ''g-''"'

M i i a r i r r c . Rcnc 17 o b r a s baseadas c m 1'acluni I a n d / / 17—18; h g . 8 U k e l e s . M í e d e L a d e r m a n 6 Í;

( ) ('x/fi^Z/v' iiiiUj^ iiO 14; ha.7 n ú m e r o s 40—r readyniades 11—IÍ. 19. 2$—6. 27. 4 9 hgõi
M a l c v i d i . K a s i m i r i i . IÍ o b r . i s baseadas e m r e a l i s m o s t i c i a l i s t a i ^ . 62

OiiaJraJopirtc saprcm alisla i i ; p c r l o r m a n c c s 20 . 2^. 24—s. r e a l i s u K) 16 U n i ã o S o v i é t i c a 9 . 14. 17. 62—

lig.i ( M . 7Í; figs-'v '5- 5" Red I lerriiig. revista 6 6

Maniicsto Midia-.-\rrc 60 o b r a s baseadas c m pi-ocessos 7 R e i n h a r d t . A d 4 1. 4-; W a l l . | e i r4 5


Weiner, Lawrence 7
M a n z o n i . P i c r o 20—1 obras coletivas 4 9 r e v o l u ç õ e s n<i p a r a d i g m a S2

MnJa Jarlifla i\ ; liCAi O b s e r v a ç ã o de M a s s a 72 Rcwritino Conceptual Ari 9 Uiua rem oção dc I .\ ni do

M C P O P ( c a r á t e r nia[ci-ial c O l d é n b u r g , C l i e s 28 Ko s l a - . M m - r h a rchoco ou cstUipic... ^7; fiii. 28

paradioina o h | c t o - l i s i c o da O l i t s k i . j u l e s 21. ío-i Seuliótiía da cosiuha 71—2: Qudiidc atitudes tornain-se

arre: 52-^ Duas \ r.Y5 Jcsannaiío ^o; fii^.i8 / o r j m i ( i 9 6 9 ) 45; I l g . i 4

Meireles. t : i l d o 61-62 O n o . ^ o k o 22 R . i i h k o . M a r k 6 . 16. 17 21 W i t t o c n s t c i n , L u d w i g 19

lnsi)(Cisan liirititos Càil Piúr 22; l i a . i í Ruscha. i : d 4 0

iJicló:^ iícs 61: fig.4'.) O p a l k a . K o m a i i ^8. 4 0 li\ 'r o s d e fotos 46; Ii^ .í7
Y o u n g . L a M*>nte
M e r / . K i a r i o ^9 O s b o r n e . Peter 4^ R u s h t o n , Dave 6 7

(),/ H,-;;í.Tr,= l i g . 4 7 (hirifh, re\'ista 45

i n i n i i n . i l i s i i i o 26—7, 1,0. 4 7 Saussure, h e r d m a n d d e 52

M i r ó , joan 16. 17 i b r m e i H i e r , M i c h e l 57: l i g . 4 í ,SV/:ee/ Press 6 7

m n d c r n i s n u ) 7. 9—1> [6—17. 28 Pic.ibia. I r a n c i s School 45

c e x p r e s s ã o 19 l.W ilúhOitxlatr [ 4 ; I10.6 s e m i ó t i c a 52. 64—5. 71

cspecilicidade dc m e i o 21 Picasso. P a b l o 11 S i e g e l a u b . S c d i ^ 5- 6 . ^7

r e l i ç ã o c o m a arte p i n t u r a de t i p o a m e r i c a n o 17 s i t u a c i o n i s t a s 19, 55. , 7

conceinial 10, 28. 41, 45 p i n t u r a s i n s t r u t i v a s 22 S m i l h . [ a c k 1^

status da e s t é t i c a 26 - 7 Smith. Terry 67

Potrebbero piacerti anche