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A luta de

Miguel cristobal
Leon Trotsky classes
Vladimir I. LÊNin e os
Sindicatos

“A TEORIA SE

TRANSFORMA E

5
FORÇA MATERIAL

QUANDO PENETRA

NAS MASSAS”

kARL mARX

Coleção Coleção
Estudos Estudos
Revolucionários Revolucionários
112 1
zado em setembro de 1938.
Título: A Luta de Classes e os Sindicatos 4 – A Velha Federação e a Nova. A velha Federação Operária
Americana (AFL, American Federation of Labor) e o recém-fun-
dado Congresso de Organizações Industriais (CIO, Congress of
Nota da edição: Industrial Organizations).
O presente caderno foi organizado em 2002 por Everaldo de Andrade para
a comissão de formação da Corrente O Trabalho do PT.
O texto de Miguel Cristobal foi publicado originalmente numa edição espe-
cial da Revista A Verdade destinada a preparação do Quarto Congresso
Mundial da 4ª Internacional.
Os demais textos públicados fazem parte dos livros “Sobre os Sindicatos:
do Vladimir I. Lênin e “A Questão dos Sindicatos” de Leon Trotsky.

•••

Responsável: Markus Sokol


Edição, notas e diagramação: Alexandre Linares

Comissão de Formação da Corrente O Trabalho do PT,


seção brasileira da 4ª Internacional

São Paulo - Fevereiro de 2005

© Copyleft – É permitida a reprodução parcial ou total


desta obra desde que mantida esta nota.

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NOTAS:

1 – Bonapartismo: forma de dominação assumida pelo Estado


burguês, definida pela primeira vez por Marx em O 18 Brumário SUMÁRIO
de Luiz Bonaparte. As condições sociais para o surgimento do
Estado bonapartista são: a) equilíbrio entre as várias forças so-
ciais, em especial entre as diversas frações da burguesia, incapazes
de exercer uma dominação hegemônica (crise de hegemonia); b)
ascenso do movimento de massas, em contraste com a relativa SOBRE A QUESTÃO DOS SINDICATOS
desorganização política do proletariado; c) surgimento de uma Miguel Cristóbal..........................................................................5
classe-apoio, formada por algum estrato da pequena burguesia,
que serve de base social para o poder de Estado, embora este É POSSÍVEL DAR FACE HUMANA À GLOBALIZAÇÃO E À GUERRA?
continue atendendo aos interesses históricos da classe dominante; Sindicalistas brasileiros...............................................................42
d) formação de um aparelho de Estado centralizado, burocrático
e repressivo, sendo que o poder assume a forma de liderança car- A QUESTÃO DA UNIDADE SINDICAL
ismática e personalizada na figura de um “Bonaparte”, que surge, Leon Trotsky.............................................................................52
na aparência, como árbitro eqüidistante entre as várias classes.
Apesar de o modelo estar baseado na situação política francesa A NEUTRALIDADE DOS SINDICATOS
de meados do século XIX, o bonapartismo reaparecerá, segundo Vladimr I. Lênin ........................................................................ 65
Trotsky, com muita freqüência, após a I Guerra Mundial - já na
fase imperialista - em vários países atrasados e semicoloniais, in- OS REVOLUCIONÁRIOS DEVEM ATUAR NOS
cluindo-se os da América Latina, onde assumirá formas nacionais SINDICATOS REACIONÁRIOS?
específicas, com a presença de traços concretos do nacionalismo Vladimr I. Lênin ........................................................................ 79
burguês.
PARTIDO E SINDICATO
2 – Ultimatista: o vício político de lançar bandeiras, programas e
Vladimr I. Lênin ....................................................................... 91
posições para as massas como se fossem ultimatum, ou seja, de
forma peremptória, de “pegar ou largar”, sem considerar o nível
OS SINDICATOS NA ÉPOCA DA DECADÊNCIA IMPERIALISTA
de compreensão dos operários ou suas expectativas sobre o as-
Leon Trotsky.............................................................................99
sunto.
3 – Trata-se do Congresso de fundação da 4ª Internacional reali-
110 3
voltar ao estado democrático burguês, tampouco é possível voltar
à velha democracia operária. O destino de uma reflete o da outra.
Na realidade, a independência de classe dos sindicatos quanto às
suas relações com o Estado burguês somente pode garanti-Ia, nas
condições atuais, uma direção revolucionária, isto é, a da Quarta
Internacional. Naturalmente, essa direção deve e pode ser racion-
al e assegurar aos sindicatos o máximo de democracia concebível
sob as condições concretas atuais. Mas sem a direção política da
IV Internacional a independência dos sindicatos é impossível.

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organizações operárias, não tem nada a ver com o controle op-
erário da indústria, porque em última instância a administração se SOBRE A QUESTÃO DOS
faz por meio da burocracia trabalhista, que é independente dos
operários, mas que depende totalmente do estado burguês. Essa SINDICATOS
medida tem, por parte da classe dominante, o objetivo de disci-
plinar a classe operária fazendo-a trabalhar mais a serviço dos Miguel Cristóbal
“interesses comuns” do Estado, que superficialmente parecem
coincidir com os da própria classe operaria. Na realidade, a tarefa O Secretariado Internacional ampliado propôs que o Quarto Con-
da burguesia consiste em liquidar os sindicatos como organismos gresso da 4ª Internacional1 tivesse um ponto específico da ordem do
da luta de classes e substituí-los pela burocracia, como organis- dia sobre os sindicatos. Vale à pena colocá-lo para evitar toda con-
mos de dominação dos operários pelo estado burguês. Em tais fusão. A 4ª Internacional e seu congresso não são uma “fração sin-
condições, a tarefa da vanguarda revolucionária consiste em em- dical internacional” e menos ainda uma instância cuja vocação seja
preender a luta pela total independência dos sindicatos e pela cri- constituir-se em instância “alternativa” às organizações e instâncias
ação de um verdadeiro controle operário sobre a atual burocracia internacionais que agrupam os sindicatos, nem um “centro” que pre-
sindical, que foi transformada em administração das estradas de tenda ditar aos sindicatos o que estes devam fazer.
ferro, das empresas petrolíferas e outras. Propusemos que a questão dos sindicatos fosse colocada na or-
Os acontecimentos dos últimos tempos (antes da guerra) dem do dia no momento em que a questão dos sindicatos, da sua
demonstraram muito claramente que o anarquismo, que em teo- sobrevivência como organização independente, dos meios que
ria não é mais que um liberalismo levado às últimas conseqüên- são utilizados para destruí-los, se converteram num componente
cias, não era na prática mais que propaganda pacífica dentro da essencial e permanente da atividade das instâncias que reúnem as
república democrática, cuja proteção necessitava. Se deixarmos mais altas esferas dos que dirigem o mundo. Não se celebra uma
de lado os atos de terrorismo individual etc., o anarquismo, como só reunião da OCDE2, da Organização Mundial do Comércio
movimento de massa e de ação política, não exerceu mais que (OMC), da APEC3, do Fundo Monetário Internacional (FMI), do
uma atividade propagandística sob a proteção da legalidade. Em Banco Mundial, da União Européia que não se aborde a questão
situações de crise os anarquistas sempre fazem o contrário do do presente e do futuro dos sindicatos. Em cada uma destas re-
que pregam em tempos de paz. Isso o próprio Marx já havia assi- uniões, a questão dos sindicatos é objeto de uma diplomacia pa-
nalado, referindo-se à Comuna de Paris. E se repetiu em muito ralela cujo fim declarado é fazer dos sindicatos simples instâncias
maior escala na experiência da Revolução Espanhola. de aplicação dos planos criminosos que adotam.
Os sindicatos democráticos, no velho sentido do termo - de or- Na Europa, por exemplo, esta orientação, que é um compo-
ganismos no quadro dos quais lutavam no seio da mesma organi- nente necessário da plena aplicação dos Tratados de Maastricht e
zação de massas, mais ou menos livremente, diferentes tendências Amsterdã4, passa pelo papel designado à Confederação Européia
-, já não podem mais existir. Do mesmo modo que não se pode de Sindicatos (CES). Contrariamente ao que pretendem suas
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siglas, esta confederação não é uma organização sindical, senão civil não atenua sua significação. A guerra não é mais que uma
uma engrenagem das instituições européias destinada a desnatu- continuação da política. Acelera processos, deixa à mostra seus
ralizar as organizações sindicais nacionais a ela filiadas, para sub- traços essenciais, destroem o corrompido, o falso, o equívoco e
metê-las aos critérios antisociais e anti-operários da Europa de deixa o explícito, o essencial. A virada à esquerda dos sindicatos
Maastricht. deve-se à agudização das contradições de classe e internacion-
Assim, reunidos em janeiro de 1999, em Sallaumines (França), ais. Os dirigentes do movimento sindical sentiram, entenderam
delegados de 18 países europeus constataram que: “em cada país, (ou os fizeram entender), que não é momento de brincar com a
na forma de “pactos sociais”, de “pactos pôr empregos” ou de oposição. Todo movimento de oposição dentro do movimento
diversos tipos de “comitês de diálogos sociais”, os governos sub- sindical, especialmente nas altas esferas, ameaça provocar uma
sidiários - que não tem nenhuma capacidade de decisão a não ser tempestuosa mobilização das massas e criar dificuldades ao impe-
para aplicar as diretrizes do Banco Central Europeu, da Organiza- rialismo nacional. Daí a virada à direita e a supressão da democra-
ção Mundial do Comercio e do Fundo Monetário Internacional - cia operária nos sindicatos, a evolução para um regime totalitário,
pretendem impor às organizações operárias que se integrem nesta característica fundamental do período.
política e se convertam em organizadores da mesma”. Deveríamos também considerar a Holanda, onde não apenas
Esta ofensiva é a expressão política concentrada das tentativas o movimento sindical reformista era o mais seguro suporte do
do sistema podre da propriedade privada dos meios de produção capitalismo imperialista, como também a chamada organização
de impor a destruição generalizada das principais conquistas so- anarco-sindicalista estava na realidade sob o controle do governo
ciais, das liberdades, dos direitos democráticos e organizar uma imperialista. O secretário dessa organização, Sneevliet, apesar de
evolução para o caos e a barbárie. sua simpatia platônica pela Quarta Internacional, estava muito
Neste sentido, a defesa das organizações sindicais e de sua in- preocupado, como deputado do parlamento holandês, em que a
dependência é uma questão política de primeira ordem: não é cas- cólera do governo não caísse sobre sua organização sindical.
ualidade que fosse o tema central da Conferência Mundial Aberta Nos Estados Unidos, o Departamento do Trabalho, com sua
do ano 2000, convocada conjuntamente pelo Comitê de Acom- burocracia esquerdista, tinha como tarefa a subordinação do
panhamento da Conferência de São Francisco, celebrada por ini- movimento sindical ao estado democrático, e é preciso dizer que
ciativa do Acordo Internacional dos Trabalhadores e dos Povos e até agora a realizou com êxito.
pela AFL-CIO5 de São Francisco. A nacionalização das estradas de ferro e dos campos petrolífer-
Em relação com a situação do movimento operário estaduni- os no México não tem, certamente, nada a ver com o socialismo.
dense, escrevia Trotsky: “O que define uma organização operária É uma medida de capitalismo de estado, num país atrasado, que
como sindicato é sua relação com a divisão de renda nacional”, é busca desse modo defender-se, por um lado do imperialismo es-
que, dentro de certos limites tem que dirigir “o combate dos tra- trangeiro e por outro de seu próprio proletariado. A administração
balhadores pelo aumento dos salários ou, ao menos, contra a di- das estradas de ferro, campos petrolíferos etc., sob controle das
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neira mais cínica e explícita. Transporta para um terreno virgem minuição da parte da renda nacional que lhes corresponde”. Hoje,
os métodos mais aperfeiçoados de sua tirânica dominação. as bases da sobrevivência do imperialismo senil, que se expressam
No último período pode-se notar no movimento sindical mun- sobretudo em buscar pôr todos os meios a “redução do custo
dial uma virada à direita e a supressão da democracia interna. Na do trabalho”, são incompatíveis com a existência de organizações
Inglaterra foi esmagado o Movimento da Minoria dos sindicatos que pretendam modificar, ou pelo menos manter, a “divisão da
(não sem a intervenção de Moscou); os dirigentes sindicais são renda nacional” a favor dos salários e portanto, em última instân-
hoje, especialmente no terreno da política exterior, fiéis agentes cia, a existência de organizações sindicais independentes.
do Partido Conservador. Na França não havia condições para a
existência independente de sindicatos stalinistas; uniram-se aos O LUGAR DAS ORGANIZAÇÕES SINDICAIS
chamados anarco-sindicalistas sob a direção de Jouhaux, e o re- Há 150 anos Karl Marx, numa resolução aprovada pelo Pri-
sultado dessa unificação não foi uma virada geral à esquerda, mas meiro Congresso da Associação Internacional dos Trabalhadores
sim à direita. A direção da CGT é o agente mais direto è aberto – (1ª Internacional - 1868), escrevia:
do capitalismo imperialista francês.
“O Capital é um poder social concentrado, enquanto que o
Nos Estados Unidos, o movimento sindical passou nos últi- operário não dispõe de nada mais que sua força de trabalho. O
mos anos, por seu período mais tempestuoso. O crescimento do combate entre o capital e o trabalho não pode, pois, basear-se
CIO (Congresso de Organizações Industriais) é uma evidência em condições eqüitativas, nem sequer equilibradas, no seio de
irrebatível da existência de tendências revolucionárias nas massas uma sociedade que põe num lado a posse dos meios mate-
operárias. No entanto é significativo e muito importante assinalar riais de existência e de produção e, no lado oposto, as forças
o fato de que a nova organização sindical “de esquerda”, nem produtivas vivas.
bem se fundou, caiu no férreo abraço do estado imperialista. A
O único poder social do lado dos operários é a sua mas-
luta nas altas esferas entre a velha e a nova federação4 reduz-se,
sa. No entanto, o poder da massa se rompe com a desunião.
em grande medida, à luta pela simpatia e o apoio de Roosevelt e
A dispersão dos operários origina e mantém a sua inevitável
seu gabinete.
competição. Os sindicatos nasceram, a princípio, de esforços
Não menos significativo, se bem que num sentido diferente, é espontâneos dos operários que buscavam suprimir, ou ao
o desenvolvimento ou degeneração dos sindicatos na Espanha. menos restringir, esta competição, para arrancar condições de
Nos sindicatos socialistas todos os dirigentes, que em alguma me- trabalho contratuais que os elevassem pelo menos acima da
dida representavam a independência do movimento sindical, fo- condição de escravos. Por isso, seu objetivo imediato limitou-
ram afastados. Quanto aos sindicatos anarco-sindicalistas, trans- se às reivindicações diárias, aos meios para defender-se dos in-
formaram-se em instrumentos da burguesia republicana. Seus cessantes abusos do capital, em resumo, às questões de salário
dirigentes converteram-se em ministros burgueses conservadores. e tempo de trabalho. Esta atividade dos sindicatos não é só
Que essa metamorfose tivesse acontecido em condições de guerra legítima, senão também necessária. Não se pode prescindir
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dela enquanto subsista o modo de produção capitalista. Pelo A um certo grau de intensificação das contradições de classe
contrário, temos que generalizar criando sindicatos e unindo- dentro e cada país, dos antagonismos entre um país e outro, o
os em todos os países (...). capitalismo imperialista não pode tolerar (ao menos por certo
Se os sindicatos são indispensáveis na guerra de escaramuças tempo) uma burocracia reformista, a não ser que esta lhe sirva
cotidianas entre o capital e o trabalho, são ainda mais impor- diretamente como um pequeno, mas ativo acionista de suas em-
tantes como aparelhos organizados para apressar a abolição presas imperialistas, de seus planos e programas, tanto dentro do
do sistema assalariado (...). Mais além de seus fins primitivos, é país como no plano mundial. O social-reformismo deve transfor-
preciso que os sindicatos aprendam a atuar em seguida de ma- mar-se em social-imperialismo para poder prolongar sua existên-
neira mais concentrada como foco de organização da classe cia, mas para prolongá-la e nada mais. Esse caminho em geral não
operária, no interesse de sua emancipação completa. É preciso tem saída.
que apoiem todo o movimento social e político que tenha esse Isso significa que na era do imperialismo a existência de sindi-
fim. catos independentes é, em geral, impossível? Seria basicamente
Considerando-se eles mesmos e atuando como pioneiros e incorreto colocar assim esta questão. O que e impossível é á ex-
representantes de toda a classe, necessariamente conseguirão istência de sindicatos reformistas independentes ou semi-inde-
atrair os que ainda se mantém fora do sindicato. É preciso pendentes. É perfeitamente possível a existência de sindicatos
que se ocupem cuidadosamente dos interesses das camadas revolucionários, que não somente não sejam agentes da política
operárias mais mal pagas, pôr exemplo dos trabalhadores agrí- imperialista mas que também se coloquem como tarefa a destru-
colas aos quais circunstâncias particularmente desfavoráveis ição do capitalismo dominante. Na era da decadência imperi-
debilitaram sua força de resistência. É preciso que convençam alista, os sindicatos somente podem ser independentes na medida
o mundo inteiro da convicção de que seus esforços, longe de em que sejam conscientes de ser, na prática, os organismos da
serem egoístas e interesseiros, têm como fim à emancipação revolução proletária. Nesse sentido, o programa de transição ado-
das massas oprimidas.” tado pelo último congresso da 4ª Internacional3 não é apenas um
Em poucos parágrafos, esta resolução da 1ª Internacional definia programa para a atividade do partido, mas, em traços gerais, é o
claramente a importância política da construção das organizações programa para a atividade dos sindicatos.
sindicais ao mesmo tempo mostrava seu lugar específico. Os tra- O desenvolvimento dos países atrasados define-se por seu
balhadores constituíram suas organizações para dar uma resposta caráter combinado. Em outras palavras: a última palavra em tec-
coletiva de acordo com os interesses da classe operária. Limitação nologia, economia e política imperialistas combinam-se, nesses
da exploração capitalista graças às reivindicações, aos direitos e países, com o primitivismo e o atraso tradicionais. O cumprimento
garantias arrancados com a luta de classe a fim de cumprir a tarefa dessa lei pode ser observado nas esferas mais diversas do desen-
histórica do proletariado organizado como classe: a abolição de volvimento dos países coloniais e semi-coloniais, inclusive na do
propriedade privada dos meios de produção. Se não se inscreve movimento sindical. O capitalismo imperialista opera aqui de ma-

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ou mais proveitoso marchar lado a lado com o capital estrangeiro, no movimento organizado esta tarefa histórica, se encaminha
destroem as organizações operárias e implantam um regime mais para a destruição dos direitos e garantias. Tal é o fundamento da
ou menos totalitário. De modo que a debilidade da burguesia na- independência de classes.
cional, a ausência de uma tradição de governo próprio, a pressão Este é o contexto em que verdadeiramente se pode apreciar a
do capital estrangeiro e o crescimento relativamente rápido do relação entre a democracia e a luta de classes. Em 1931, Trotsky,
proletariado cortam pela raiz toda possibilidade de um regime de- escrevia em: “E agora”:
mocrático estável. O governo dos países atrasados, ou seja, co- “Durante muitas décadas, no seio da democracia burguesa,
loniais ou semi-coloniais, assume, no seu conjunto, um caráter servindo-se dela e lutando contra ela, os operários construíram
bonapartista ou semi-bonapartista. Diferem entre si porque en- suas fortificações, suas bases, seus focos de democracia pro-
quanto alguns tratam de se orientar para a democracia, buscando letária, sindicatos, partidos (sublinhemos o plural) clubes de
o apoio de operários e. camponeses, outros implantam uma rígida educação, organizações desportivas, cooperativas, etc. O pro-
ditadura policial-militar. Isso determina também a sorte dos sindi- letariado pode chegar ao poder não nos marcos formais da
catos: ou estão sob tutela do estado ou estão sujeitos a uma cruel democracia burguesa...”
perseguição. Essa tutela corresponde a duas tarefas antagônicas
Nestas poucas linhas se concentram as lições da história, das
às quais o estado deve encarar: em primeiro lugar atrair a classe
relações entre a “democracia”, a luta de classes e a revolução. Sem
operária para assim ganhar um ponto de apoio para a resistência
pretender esgotar todas as lições, nos limitaremos aqui aquelas
às pretensões excessivas por parte do imperialismo, e ao mesmo
que dizem respeito a discussão sobre os sindicatos. Se o direi-
tempo, disciplinar os mesmos operários colocando-os sob o con-
to a organização, condição das conquistas sociais, foi arrancado
trole de uma burocracia.
“dentro da democracia burguesa, servindo-se dela”, isto implica
a necessidade, para a luta da classe operária, de formular palavras
CAPITALISMO MONOPOLISTA de ordem que protejam “as fortificações , as bases, os focos de
E OS SINDICATOS democracia proletária” constituídos na época do capitalismo pro-
O capitalismo monopolista é cada vez menos capaz de con- gressivo. Na época do capitalismo apodrecido, essas fortificações,
viver com a independência dos sindicatos. Exige que a burocracia bases e focos de democracia proletária são questionados a cada
reformista e a aristocracia operária, que juntam as migalhas que passo: sua defesa implica também a necessidade de lutar dentro
caem de sua mesa, transformem-se em sua polícia política aos “das formas democráticas da dominação de classe da burguesia”
olhos da classe operária. Quando não consegue isso, suprime a , igualmente questionadas. Estas considerações estão na base do
burocracia operária, substituindo-a pelos fascistas. E, diga-se de combate em defesa das liberdades democráticas, em defesa da
passagem, todos os esforços que a aristocracia operária faça a separação das igrejas e do estado, em defesa da igualdade dos
serviço do imperialismo não poderão salvá-la por muito tempo cidadãos questionada pela descentralização; a regionalização e a
da destruição. reforma do estado. Essas reivindicações constituem um dos as-
pectos de nossa política de frente única.
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Trotsky, ao escrever que esses direitos à organização foram ar- ferramentas do movimento revolucionário do proletariado.
rancados “não nos marcos formais da democracia burguesa senão A neutralidade dos sindicatos é total e irreversivelmente coisa
pela via revolucionária”, não faz senão precisar o arcabouço da do passado. Desapareceu junto com a livre democracia burguesa.
resolução aprovada pela 1ª Internacional e na Carta de Amiens:
as reivindicações, “os direitos democráticos dos operários e suas
conquistas sociais” foram arrancados “dentro da democracia NECESSIDADE DO TRABALHO
burguesa” com os meios de luta de classes, organizados na per- DENTRO DOS SINDICATOS
spectiva da revolução emancipadora. De tudo que foi dito, depreende-se claramente que, apesar da
Por sua parte, a Carta de Amiens não diz outra coisa: “No tra- degeneração progressiva dos sindicatos e de seus vínculos cada
balho reivindicativo diário, o sindicalismo busca a coordenação vez mais estreitos com o Estado imperialista, o trabalho da de-
dos esforços operários, o aumento do bem estar mediante a reali- generação progressiva dos sindicatos e de seus vínculos com o
zação das melhorias imediatas. Mas esta tarefa não é mais que um Estado imperialista, o trabalho neles não só não perdeu sua im-
aspecto do trabalho do sindicalismo. “Os sindicatos preparam a portância, como é ainda maior para todo partido revolucionário.
emancipação integral que só pode realizar-se mediante a expro- Trata-se essencialmente de lutar para ganhar influência sobre a
priação capitalista.” O vínculo entre a luta “diária” em defesa dos classe operária. Toda organização, todo partido, toda fração que
direitos, garantias, conquistas sociais, se engloba necessariamente se permita ter uma posição ultimatista 2 com respeito aos sindica-
no “marco de uma perspectiva concreta, real, quer dizer, revolu- tos, o que implica voltar às costas a classe operária, somente por
cionária” (Programa de Transição). não estar de acordo com sua organização, está destinada a acabar.
E é bom frisar que merece acabar.
Repetimos: toda a história do movimento operário confirma
que jamais, em nenhuma circunstância, os capitalistas concederão
“de bom grado” as “melhorias imediatas”, as conquistas sociais; NOS PAÍSES ATRASADOS
por isso temos que defendê-las em todas as circunstâncias. Foi Como nos países atrasados quem joga o papel principal é o
a luta de classes que arrancou os direitos, garantias, conquistas capitalismo estrangeiro e não o nacional, a burguesia nacional
sociais. E para arrancá-las ao Capital, os operários precisaram ocupa, quanto à sua situação social, uma posição muito inferior à
construir suas organizações independentes no marco das formas que deveria ocupar em relação ao desenvolvimento da indústria.
democráticas de dominação de classe da burguesia. Essas organi- Como o capital estrangeiro não importa operários, mas proletariza
zações só podem construir-se e defender-se sobre a base da per- a população nativa, o proletariado nacional começa muito rapida-
spectiva revolucionária: “A emancipação integral que só pode re- mente a desempenhar o papel mais importante na vida nacional.
alizar-se mediante a expropriação capitalista”. Sob tais condições, na medida em que o governo nacional tenta
Sobre este fundamento organizam sua ação os militantes e oferecer alguma resistência ao capital estrangeiro, vê-se obrigado,
seções da 3ª Internacional. em maior ou menor grau, a se apoiar no proletariado. Por outro
lado, os governos dos países atrasados, que consideram inevitável
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porque dependam, direta ou indiretamente, do estado operário A OFENSIVA DO IMPERIALISMO
ou porque a burocracia não dá aos revolucionários a possibilidade SENIL CONTRA OS SINDICATOS.
de trabalhar livremente neles. Deve-se lutar sob todas essas con- Marx escreveu a resolução do Primeiro Congresso da 1ª In-
dições criadas pela evolução anterior, onde é necessário incluir os ternacional em um contexto em que o sistema de produção capi-
erros da classe operária e os crimes de seus dirigentes. Nos países talista se encontrava em sua fase ascendente, em que a conquista
fascistas e semi-fascistas é impossível concretizar um trabalho do mercado mundial assegurava a expansão das forças produti-
revolucionário que pão seja clandestino, ilegal, conspirativo. Nos vas. Nesta fase ascendente, as conquistas foram arrancadas pelo
sindicatos totalitários ou semi-totalitários é impossível ou quase desenvolvimento das forças produtivas.
impossível realizar um trabalho que não seja conspirativo. Temos Esta luta da classe operária está no centro da extensão das con-
de nos adaptar às condições existentes nos sindicatos de cada país quistas e liberdades democráticas (sufrágio universal).
para mobilizar as massas não apenas contra a burguesia, mas tam-
Depois, o desenvolvimento do sistema de exploração capitalis-
bém contra o regime totalitário dos próprios sindicatos e contra
ta conheceu uma evolução em que:
os dirigentes que sustentam esse regime. A primeira palavra de
ordem desta luta é: independência total e incondicional dos sin- • As forças produtivas deixam de crescer (Trotsky)
dicatos em relação ao Estado capitalista. Isso significa lutar para • As forças produtivas, na fase de decomposição do imperialis-
transformar os sindicatos em organismos das grandes massas ex- mo (imperialismo senil) retrocedem (ver diferentes contribuições
ploradas e não da aristocracia operária. e resoluções das últimas conferências da 4ª Internacional).
A segunda é: democracia sindical. Esta palavra de ordem deduz- Esta evolução questiona a existência mesmo do proletariado,
se diretamente da primeira e pressupõe para sua realização à inde- principal força produtiva da sociedade.
pendência total dos sindicatos em relação ao estado imperialista É uma revolução que toma sua forma mais extrema (ainda que
ou colonial. em absoluto isolada do curso geral) na África, onde às brutais e
Em outras palavras, os sindicatos atualmente não podem ser violentas formas de integração, de suas populações no mercado
simplesmente os órgãos da democracia como na época do capi- internacional do trabalho (escravidão, trabalhos forçados) sucede
talismo concorrencial e já não podem ser politicamente neutros, hoje uma política massiva e acelerada de destruição das popu-
ou seja, limitar-se às necessidades cotidianas da classe operária. Já lações.
não podem ser anarquistas, quer dizer, já não podem ignorar a in- A questão dos sindicatos, da luta por sua defesa, se encontra
fluência decisiva do estado na vida dos povos e das classes. Já não colocada numa situação em que um terço da população ativa
podem ser reformistas, porque as condições objetivas não dão mundial está expulsa da produção e o outro terço condenada a
espaço a nenhuma reforma séria e duradoura. Os sindicatos de trabalhar no chamado setor informal, superexplorada, que ade-
nosso tempo podem ou servir como ferramentas secundárias do mais não é criadora de riqueza alguma.
capitalismo imperialista para subordinar e disciplinar os operários A questão do sindicato encontra-se colocada em uma evolução
e para impedir a revolução ou, ao contrário, transformar-se nas
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concreta em que o poder social concentrado que é o capital im- ta influência na vida econômica e governamental. Mas enquanto o
põe, inclusive em países e regiões que o viram nascer, um retroc- imperialismo estrangeiro dominar o estado nacional e puder, com
esso acelerado do lugar do proletariado industrial, principal fonte a ajuda de forças reacionárias internas, derrubar a instável democ-
geradora de riquezas. racia e substituí-Ia por uma ditadura fascista declarada, a legis-
Assim, um estudo da Organização Internacional do Trabalho lação sindical pode transformar-se facilmente numa ferramenta
constata que, só no período que vai de 1970 a 1990, o fenômeno da ditadura imperialista.
de reestruturação econômica e de transformação tecnológica
que assistimos durante estas duas últimas décadas, levaram a uma PALAVRAS DE ORDEM PELA
contração da participação da indústria manufatureira no emprego INDEPENDÊNCIA DOS SINDICATOS
de todos os países. Com efeito, a desindustrialização progrediu À primeira vista, poder-se-ia deduzir do que foi dito que os
rapidamente no Reino Unido, nos EUA e na Itália, onde o índice sindicatos deixam de existir enquanto tal na época imperialista.
de trabalhadores dedicados a indústria de transformação passou, Quase não dão espaço à democracia operária que, nos bons tem-
entre 1970 e 1990, de 39% a 23%, de 26% a 18% e de 27% a 22% pos em que reinava o livre comércio, constituía a essência da vida
respectivamente. Enquanto isso, no mesmo período, esta por- interna das organizações operárias.
centagem diminuía de 26% a 24% e no Japão e de 39% a 32% --
Não existindo a democracia operária não há qualquer possibili-
em proporção ainda mais forte em relação a Alemanha, em 1987.
dade de lutar livremente para influir sobre os membros do sindica-
No Canadá e na França, o emprego na indústria manufatureira
to. Com isso desaparece, para os revolucionários, o campo princi-
diminuiu de 20% (em 1971) à 15% e de 29% a 21% respectiva-
pal de trabalho nos sindicatos. No entanto, essa posição seria falsa
mente.
até à medula. Não podemos escolher por nosso gosto e prazer o
Hoje, o sistema podre da propriedade privada “alimenta” sua campo de trabalho nem as condições em que desenvolveremos
ofensiva contra os sindicatos na destruição “do poder social dos nossa atividade. Lutar para conseguir influência sobre as mas-
trabalhadores que é seu número”. Em setores cada vez maiores da sas operárias dentro de um estado totalitário ou semi-totalitário
humanidade, o sistema tem se dês-responsabilizado da reprodução é infinitamente mais difícil que numa democracia. Isto também
da própria força de trabalho. Estados inteiros deixam de ser em- se aplica aos sindicatos cujo destino reflete a mudança produz-
pregadores e já não pagam os salários aos funcionários. ida no destino dos estados capitalistas. Não podemos renunciar
Ao mesmo tempo, a ofensiva geral contra os sindicatos “ali- à luta para conseguir influência sobre os operários alemães sim-
menta” esta evolução. Assim, a ofensiva geral contra as normas plesmente porque ali o regime totalitário torna essa tarefa muito
que protegiam (até certo ponto) os trabalhadores contra o desem- difícil. Do mesmo modo, não podemos renunciar à luta dentro
prego, já não buscam só precarizar os trabalhadores. Servem, cada das organizações trabalhistas compulsórias, criadas pelo fascismo.
vez mais, de base para fechar as fábricas e acelerar o desinvesti- Menos ainda podemos renunciar ao trabalho sistemático no inte-
mento industrial. rior dos sindicatos de tipo totalitário ou semi-totalitário somente
12 101
a necessidade que os sindicatos têm - enquanto se mantenham Na época em que Marx escrevia a resolução sobre os sindica-
numa posição reformista, ou seja, de adaptação à propriedade tos, a ação da maioria deles se situava na perspectiva política da
privada - de adaptar-se ao estado capitalista e de lutar pela sua abolição do trabalho assalariado através da destruição do sistema
cooperação. Aos olhos da burocracia sindical, a tarefa principal da propriedade privada dos meios de produção. Nas décadas que
é “liberar” o estado de suas amarras capitalistas, de debilitar sua se seguiram, esta orientação se concretizou no desenvolvimento
dependência dos monopólios e voltá-los a seu favor. Esta posição dos sindicatos, e aumentou o número de filiados, da proporção
harmoniza-se perfeitamente com a posição social da aristocracia de sindicalizados entre os trabalhadores, no tempo em que se re-
e da burocracia operárias, que lutam por obter algumas migalhas forçava a organização política da classe trabalhadora, ou melhor,
do sobre-lucro do imperialismo capitalista. Os burocratas fazem os partidos operários. As relações entre uns e outros variavam
todo o possível, em palavras e nos fatos, para demonstrar ao es- segundo os países.
tado “democrático” até que ponto são indispensáveis e dignos Assim, na Inglaterra o “Cartismo”, movimento político, con-
de confiança em tempos de paz e, especialmente, em tempos de stituiu os sindicatos. Depois foram os sindicatos que, por sua
guerra. O fascismo, ao transformar os sindicatos em organismos vez, constituíram o Labour Party (Partido Trabalhista) como sua
do estado, não inventou nada de novo: simplesmente levou até às representação política. Na França, durante o mesmo período, o
últimas conseqüências as tendências inerentes ao imperialismo. poder dos sindicatos se afirmou no marco de um programa que
Os países coloniais e semi-coloniais não estão sob o domínio defendia a independência deste em relação a todos os partidos,
de um capitalismo nativo, mas do imperialismo estrangeiro. Mas incluindo o partido operário. Porém, tanto em um caso como no
este fato fortalece, em vez de debilitar, a necessidade de laços outro, sua ação se desenrolava em um marco político de luta pela
diretos, diários e práticos entre os magnatas do capitalismo e os abolição do trabalho assalariado.
governos que deles dependem, nos países coloniais e semi-colo- Hoje, na época do capitalismo podre, do imperialismo senil,
niais. À medida que o capitalismo imperialista cria nas colônias e o que dá o conteúdo essencial às relações entre os aparelhos que
semi-colônias um estrato de aristocratas e burocratas operários, controlam os sindicatos e as organizações políticas é a submissão
estes necessitam o apoio dos governos coloniais e semi-coloniais, a partidos e organizações como a Internacional Socialista e a par-
que desempenhem o papel de protetores, de patrocinadores e às tidos surgidos do explosão do aparelho stalinista, que não só
vezes de árbitros. Esta é a base social mais importante do caráter abandonou toda a ação tendente à emancipação política e social
bonapartista e semi-bonapartista1 dos governos das colônias e do proletariado, senão que, pelo contrário, são os pilares de sus-
dos países atrasados em geral. Essa é também a base da depend- tentação do sistema e agentes ativos da ofensiva geral contra as
ência dos sindicatos reformistas em relação ao estado. conquistas dos trabalhadores.
No México, os sindicatos transformaram-se por lei em institu- A questão dos sindicatos, da luta pela sua preservação como
ições semi-estatais e assumiram, por isso, um caráter semi-total- organizações independentes, é indissociável da situação que viu a
itário. Segundo os legisladores, a estatização dos sindicatos fez-se degeneração da 2ª Internacional ao passar-se em 1914, com armas
em benefício dos interesses dos operários, para lhes assegurar cer-
100 13
e bagagens, a grande maioria das direções políticas e sindicais dos
países imperialistas para o lado de seu imperialismo. É inseparável OS SINDICATOS NA
da virada histórica que causou a guerra de 1914 a 1918, que abriu
a era das guerras e revoluções. A Revolução de Outubro abre a ÉPOCA DA DECADÊNCIA
perspectiva da revolução mundial e a luta de classes independente
do proletariado arranca muitas conquistas. Porém os aparelhos
IMPERIALISTA
operário-burgueses apoiam-se nas conquistas da luta de classe Agosto de 1940
para salvar a ordem burguesa. As derrotas da revolução mun-
dial consolidam a burocracia, que confisca em proveito próprio
as conquistas da Revolução de Outubro. A burocracia estalinista Leon Trotsky
usurpando o papel de continuadora da Revolução de Outubro,
constituirá, através de seu aparelho internacional, um fator con-
tra-revolucionário essencial.
A crise revolucionária engendrada pela 2ª Guerra Mundial A INTEGRAÇÃO DAS ORGANIZAÇÕES
(1939-1945) permite que o proletariado mundial arranque da bur- SINDICAIS AO PODER DO ESTADO
guesia amplas conquistas sociais. Há uma característica comum no desenvolvimento ou, para ser-
Essas conquistas são o resultado da onda revolucionária que mos mais exatos, na degeneração das modernas organizações sin-
marca o fim da 2ª Guerra Mundial, onda contida, porém não dicais de todo o mundo: sua a aproximação e sua vinculação cada
liquidada. São, de início, contraditórias com as necessidades do vez mais estreitas com o poder estatal. Esse processo é igualmente
imperialismo, tornando-se hoje um obstáculo intolerável para a característico dos sindicatos neutros, social-democratas, comuni-
sobrevivência do imperialismo senil. stas e anarquistas Somente este fato demonstra que a tendência a
Frente ao impulso do movimento das massas, a burocracia, at- “estreitar vínculos” não é própria desta ou daquela doutrina, mas
uando diretamente como agencia da restauração capitalista, abre provém de condições sociais comuns a todos os sindicatos.
caminho para a destruição e desagregação da União das Repub- O capitalismo monopolista não se baseia na concorrência e na
licas Socialistas Soviéticas (URSS). Abre-se uma situação mun- livre iniciativa privada, mas numa direção centralizada. As camaril-
dial em que se desencadeiam todos os fatores de decomposição has capitalistas, que encabeçam os poderosos trustes, monopólios,
econômica, política e social, gerada no mercado mundial, em que bancos etc., encaram a vida econômica da mesma perspectiva como
a sobrevivência do imperialismo senil não pode senão levar à de- o faz o poder estatal, e a cada passo exigem sua colaboração. Os
struição das forças produtivas (destruição da indústria, motor da sindicatos dos ramos mais importantes da indústria, nessas con-
civilização), a destruição da força de trabalho e em conseqüência, dições vêem-se privados da possibilidade de aproveitar a concor-
a destruição das conquistas sociais, que precisa da integração cor- rência entre as diversas empresas. Devem enfrentar um adversário
porativista dos sindicatos operários independentes. capitalista centralizado, infimamente ligado ao poder estatal Daí
14 99
tov, pelo contrario, as fronteiras do Partido ficam absolutamente A questão dos sindicatos, a luta pela sua preservação como or-
indeterminadas, porque “qualquer grevista” pode “declarar-se ganizações independentes, é indissociável da situação em que os
membro do Partido”. Qual o proveito de semelhante vacuidade? aparelhos, antes da Revolução de Outubro e hoje, mais ainda, ob-
A grande difusão do “titulo”. O que tem de nocivo consiste em struem o caminho da revolução, quando nas condições objetivas
que origina a idéia desorganizadora da confusão da classe com o do sistema podre da propriedade privada, a sociedade burguesa
Partido. vai de crise em crise (econômicas, financeiras políticas, intelec-
tuais, morais etc.).
É uma situação em que a crise de decomposição do movimen-
Trecho do livro Um passo adiante, dois passos atrás. to operário mundial engendra contraditoriamente, a partir da re-
Escrito em fev/maio de 1904. sistência das massas, a busca de saídas que provocam crises nos
Publicado em livro no mesmo ano em Genebra. aparelhos que, como tais, se submetem à decomposição organi-
zada pela crise de apodrecimento da sociedade burguesa e, com
isto dão lugar ao desprendimento de correntes, organizações, mil-
itantes que buscam saídas para resistir à decomposição.
Frente a decomposição, o proletariado, os explorados e oprimidos
se vêm obrigados, de algum modo, a refazer o caminho percorrido
desde que se constituíram como classe através da organização.

OS SINDICATOS E OS APARELHOS
Quem deu a base social e os fundamentos materiais dos aparel-
hos que controlam os sindicatos?
Na época do capitalismo ascendente, o reformismo como cor-
rente política primeiro, depois como aparelho passado direta-
mente como tal para o lado da ordem burguesa, encontrava sua
base social na situação de um setor limitado, porém real, do pro-
letariado. Lênin, fazendo um balanço da traição da social democ-
racia, escrevia:
“O oportunismo é a imolação dos interesses fundamentais
das massas aos interesses temporários de uma pequena minoria
de trabalhadores, ou em outros termos, a aliança de uma parte
dos operários com a burguesia contra as massas proletárias. O
98 15
oportunismo foi engendrado durante décadas pelas particular- madamente que grupos e organizações e por quais considerações
idades da época e do desenvolvimento do capitalismo, quando devem (ou não devem) ser admitidos no Partido: “Os grupos de
a existência relativamente pacífica e calma de uma camada de distribuidores devem pertencer ao POSDR e conhecer determi-
operários privilegiados os “aburguesava”, dando-lhes algumas nado numero de seus membros e de seus funcionários. Um grupo
migalhas dos lucros do seu capital nacional, os isolava do de- que estude condições profissionais do trabalho e elabore projetos
samparo, do sofrimento e das tendências revolucionárias das de reivindicações sindicais não tem obrigatoriamente que pert-
massas e do que se arruinavam”. encer ao POSDR. Um grupo de estudantes, de oficiais do exer-
A guerra imperialista, que mostrava um beco sem saída do sis- cito ou d empregados que trabalham em sua auto-educação com
tema baseado na propriedade privada dos meios de produção, a ajuda de dois membros do Partido, às vezes não tem nem por
mostrava brutalmente uma falsidade das ilusões de um desen- saber que estes pertencem ao Partido etc.” (p.18-19)
volvimento progressivo indefinido no seio do capitalismo. As ca- Ai tendes novos materiais para a questão de “viseira aberta”!
madas “privilegiadas” das classes trabalhadoras viam-se, como a Enquanto que a formula do projeto do camarada Martov nem
massa, jogadas às trincheiras. sequer tocava nas relações entre o Partido e as organizações, eu,
A evolução do imperialismo arruinou as bases da existência da quase um ano antes do congresso, já indicava que algumas organi-
“aristocracia operária”. No Segundo Congresso (1920) da Inter- zações deviam entrar no Partido e outras não. Na Carta e um Ca-
nacional Comunista (3ª Internacional) a resolução sobre os sindi- marada já se destaca claramente a idéia que defendi no Congresso.
catos formulava o que, com efeito, seria a linha geral do desen- A coisa poderia representar-se graficamente da seguinte maneira.
volvimento, assinalando que as direções ligadas às burguesias Pelo grau de organização em geral e pelo grau de clandestinidade
“apoiam-se no poder e nas tradições ideológicas da antiga aris- da organização em particular, podem distinguir-se aproximada-
tocracia operária, mesmo que esta última esteja sendo incessante- mente, as seguintes categorias: 1) organizações de revolucionários;
mente debilitada pela abolição dos privilégios de diversos grupos 2) organizações operarias, tão amplas e diversas quanto possíveis
do proletariado, esta abolição se expressa na decomposição geral (limito-me à classe operaria, supondo, como coisa que por si mes-
do capitalismo, a nivelação da situação de diversos elementos da ma se entende, que certos elementos das demais classes também
classe trabalhadora”. entrarão nessas organizações, em determinadas condições). Essas
Não é um processo que tenha se desenvolvido de maneira duas categorias constituem o Partido. Logo: 3) organizações op-
linear e sem contradições. Porém a “aristocracia operária” não erarias em contato com o Partido; 4) organizações operarias que
deixou de sofrer a mesma sorte que as massas de trabalhadores e não estão em contato com o Partido, mas subordinadas de fato
a camada afetada de maneira mais brutal pela reação imperialista a seu controle e direção; 5) elementos não organizados da classe
é, de certo modo, toda a camada superior, qualificada, da classe operaria, que em parte também se subordinam, pelo menos nos
operária: os trabalhadores do setor gráfico da siderurgia, dos es- casos de grandes manifestações da luta de classe, à direção da so-
taleiros e da aeronáutica, etc. cial-democracia. É assim, aproximadamente, como se apresentam
as coisas, na minha opinião. Do ponto de vista do camarada Mar-
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é absurdo e prejudicial confundir estas organizações com a dos Os milhões de postos de trabalho eliminados nestes vinte últi-
revolucionários, apagar entre elas as fronteiras...”(p.96) mos anos pertenciam ao mais seleto da indústria européia e esta-
Esta passagem mostra quão pouco a propósito o camarada dunidense. São os setores em que a desqualificação tem feito um
Martov que lembrou que a organização de revolucionários devia trabalho mais destrutivo; em nome da revolução tecnológica, cen-
ficar cercada d amplas organizações operarias. Já assinalei em Que tenas de milhares de trabalhadores qualificados, que eram as bases
Fazer? e na Carta a um Camarada desenvolvi esta idéia de modo das organizações sindicais e que, em outros tempos, constituíam as
mais concreto. Os círculos das fabricas – dizia na carta – “tem camadas superiores do proletariado em que a burguesia procurava
especial importância para nos: com efeito, toda a força principal apoiar a colaboração de classes, perderam suas categorias, foram
do movimento reside no grau em que estejam organizados os op- descartados.
erários das grandes fabricas, pois as grandes oficinas e fabricas Os aparelhos que se constituíram e se elevaram pôr cima das
contem a parte da classe operaria predominante não só por seu organizações trabalhadoras e se apoiaram no que Lênin definiu
numero, como, mais ainda por sua influencia, seu desenvolvimen- como a “aristocracia operária”. Porém, os lugar tenentes operários
to e sua capacidade de luta. Cada fabrica, o maior numero possível da burguesia não são idênticos a essa camada da classe operária.
de operários numa rede de toda espécie de círculos (ou agentes)... Trotsky, em “Depois de Munique” (1938), analisando a degener-
Todos os grupos , círculos, sub-comitês etc. , devem considerar-se ação da 2ª Internacional, estabeleceu bem esta diferença: “A ex-
organismos dependentes do comitê ou seções filiais dele. Alguns pansão do capitalismo, que prosseguiu após inevitáveis oscilações
deles declararão francamente o desejo de ingressas no Partido até 1913, permitiu a burguesia, pôr uma parte elevar um pouco o
Operário Social-Democrata da Rússia e, sob condições de serem nível de vida de certas camadas do proletariado e, pôr outra, of-
aprovados pelo Comitê, passarão a formar parte do Partido, as- erecer ganhos consideráveis à burocracia operária. A burocracia
sumirão determinadas funções (por determinação do comitê ou sindical e parlamentar cujo ‘problema social’ parecia ‘próximo a
de acordo com ele), se comprometerão a submeter-se às diretrizes uma solução’ estavam em uma situação em que podia mostrar às
dos organismos do Partido, obterão os direitos de todos os mem- massas miragens de uma melhora de suas condições de vida, esta
bros do Partido, se considerarão os candidatos mais próximos a é a base social do reformismo (oportunismo) como sistema de
membro do Comitê etc. Outros não passarão a formar parte do ilusões das massas e como sistema de engano por parte da buro-
POSDR, permanecendo na situação de círculos, organizados por cracia operária”.
membros do Partido ou em contato com este ou outro grupo A base social e política dos aparelhos têm sido até hoje, a gestão,
do Partido etc.” (pp. 17-18) As palavras que grifei indicam com no marco da manutenção da ordem burguesa, das conquistas pro-
particular clareza que a idéia da formulação que dei ao artigo pri- cedentes da luta de classes do proletariado; esta gestão servia tam-
meiro já estava totalmente expressa na Carta a um Camarada. Ali bém para resolver o “problema social” dos aparelhos, dando as
estão claramente indicadas as condições de admissão no Partido, costas à organização do sindicato por parte dos mesmos filiados.
a saber: 1) Certo grau de organização, e 2) Confirmação por um Hoje, orientando seus capitais para os investimentos especu-
Comitê do Partido. Uma pagina adiante indico também aproxi-
96 17
lativos e liquidando ao mesmo tempo regiões industriais inteiras, democratas. Mas, partir daí para dar a todos os membros desses
questionando de cima a baixo, todas as relações estabelecidas no sindicatos o direito de “declarar-se” membros do Partido Social-
seio mesmo da classe trabalhadora há muitas décadas, a burguesia Democrata seria um absurdo evidente e representaria a ameaça de
do imperialismo senil mina as bases com que haviam contado até um duplo prejuízo: reduzir as proporções do movimento sindical
agora, nos períodos tranqüilos, para impor, com a colaboração de e debilitar a solidariedade operaria neste terreno, por um lado.
classes, a defesa da ordem burguesa. Por outro lado, isto abriria as portas do Partido Social-Democrata
Em outros termos, o que está diretamente ameaçado são as aos confusos e vacilantes. A social-democracia alemã viu-se na
conquistas. O que significa isto para os que assumem sua gestão? situação de resolver um problema semelhante, apresentado d for-
A burguesia já não pode tolerar aparelhos de colaboração de ma concreta, quando surgiu o celebre incidente dos pedreiros de
classes cujo poder e peso político se assentam nas organizações Hamburgo, que trabalhavam por empreitada. Nem um instante a
de classes independentes. A burguesia e o estado querem “asso- social-democracia vacilou em reconhecer que a conduta dos fura-
ciar” os dirigentes à destruição das conquistas operárias das or- greve era indigna do ponto de vista de um social-democrata, isto
ganizações independentes, dos sindicatos estruturados sob essas e, em reconhecer a direção das greves, em apóia-las como coisa
conquistas e que constituem a classe trabalhadora como classe, sua, mas, ao mesmo tempo, e com a mesma decisão, rechaçou a
politicamente. exigência de identificar os interesses do Partido com os interess-
Este marco foi “institucionalizado” na “Cúpula Social Mun- es dos diferentes sindicatos. O Partido deve, e procurará imbuir
dial” organizada pela ONU em 1985, os mecanismos do que disto seu espírito, submeter à sua influencia os sindicatos, mas,
chamam “dimensão social de ajuste” introduzidos pelo FMI e precisamente em nome dessa influencia, deve distinguir-se nesses
pelo Banco Mundial, a preparação da “Cúpula Mundial” do ano sindicatos os elementos plenamente social-democratas (integran-
2000. A distribuição mafiosa dos fundos para os “projetos das tes do Partido Social-Democrata ) dos elementos que não tem
ONGs”; o lugar designado às cúpulas sindicais na gestão patronal plena consciência nem plena atividade política, e não confundir
das formas mais desqualificadas, precarizadas, superexploradas uns e outros, como quer o camarada Axelrod.
de trabalho (“empregos juvenis”, assalariamento precário das “as- “(...) A centralização das funções mais clandestinas pela organi-
sociações” que substituem os serviços públicos). Enfim, o lugar zação dos revolucionários não debilitara, mas sim fortalecera a
dado aos aparelhos, através dos fundos de pensão, na gestão da amplitude e o conteúdo da atividade de uma grande quantidade de
especulação e dos lucros realizados sobre a base de destruição da outras organizações destinadas ao grande publico e, por conseg-
força de trabalho. uinte, o menos regulamentadas e clandestinas possíveis: sindicatos
Esta evolução está na raiz das contradições e dos desgarramen- operários, círculos operários intrusivos e de leitura de publicações
tos que acontecem nos aparelhos. Uma de suas expressões é anal- ilegais, círculos socialistas, círculos democráticos para todos os
isada no projeto de informe ao IV Congresso da IV Internacional demais setores da população etc, etc. Tais círculos, sindicatos e
sobre o sindicalismo nos EUA. organizações são necessários em toda parte; é preciso que sejam
os mais numerosos e suas funções as mais variadas possíveis, mas
18 95
centava - “para mim uma organização de conspiradores só tem POR QUE COLOCAM EM QUESTÃO
sentido quando cercada por um amplo partido operário social- AS CONVENÇÕES DA OIT?
democrata”. (p.239) Para ser exato, deveria dizer: quando cer- O que os donos do sistema podre da propriedade privada dos
cada por um amplo movimento operário social-democrata. E, meios de produção esperam dos aparelhos é que participem plena
nessa forma, a tese do camarada Martov não e só indiscutível, e totalmente, que coloquem em questão as “reformas” que mate-
como e um evidente acacianismo. Detenho-me neste ponto ap- rializam o poder da existência organizada como classe do prole-
enas porque no acacianismo do camarada Martov os oradores tariado na sociedade burguesa, e portanto, da luta contra ela.
seguintes deduziram o argumento muito corrente e muito vulgar
Neste marco se inscreve a ofensiva geral contra as convenções
de que Lênin queria “deduzir todo o conjunto de membros do
da OIT. Recapitulemos:
Partido a um conjunto de conspiradores”. Tanto o camarada Pos-
sadovski como o camarada Popov brandiram esta argumento, que Desestabilizadas, confrontadas à vitória da revolução russa e
não pode senão provocar um sorriso, e quando Martinov e Aki- à onda revolucionária que sacode algumas das principais potên-
mov tomaram-no para si seu verdadeiro caráter, isto e, o caráter cias imperialistas, as burguesias imperialistas se esforçam após a I
de frase oportunista, ficou delineado com toda a clareza. Atual- Guerra Mundial, em reconstruir um marco “oficial” das relações
mente, o camarada Axelrod desenvolve este argumento na nova com setores dirigentes do movimento operário.
Iskra, para fazer os leitores conhecerem os novos pontos de vista Este marco tinha que ser internacional para fazer frente à situ-
da nova redação em matéria de organização. Já no Congresso, na ação de depressão em que se encontravam muitos estados no pós
primeira sessão em que se tratou do artigo primeiro, observei que guerra. Se apoiaram na Internacional Sindical de Amsterdã, que
os oponentes queriam aproveitar-se de arma tão barata e por isso reunia dirigentes reformistas e centristas depois da cisão da 2ª
fiz em meu discurso a seguinte advertência (p.240): “Não se deve Internacional, que se havia produzido sob o peso da revolução,
pensar que as organizações do Partido terão de constar apenas pôr um lado, e do alinhamento da burocracia com as diferentes
de revolucionários profissionais. Necessitamos das organizações facções imperialistas em guerra, pôr outro.
mais variadas, de todos os tipos, categorias e matizes, começando Este marco se institucionalizou com a constituição da OIT
por organizações extraordinariamente reduzidas e conspirativas (Organização Internacional do Trabalho) em 1919.
e terminado por organizações muito amplas, livres, lose Organi- A aceitação da estrutura “tripartite” da OIT (que implicava
sationen”. Trata-se de uma verdade a tal ponto evidente e lógica, que o estado fosse reconhecido como representação do “inter-
que considerei supérfluo deter-me nela. esse geral”) oficializava o compromisso das direções sindicais re-
...Diremos de passagem que o exemplo dos sindicatos e partic- formistas com a preservação da estabilidade do estado e portan-
ularmente característico para esclarecer o problema em discussão to, do sistema da propriedade privada e dos meios de produção.
a respeito do artigo primeiro. Não pode haver entre social-de- Como contrapartida, o Estado se comprometia a que as relações
mocratas duas opiniões sobre o fato de que estes sindicatos de- entre sindicatos e representantes patronais evoluíssem até a ofi-
vem trabalhar “sob o controle e a direção”de organizações social- cialização de um certo número de conquistas (e sua gestão pela
94 19
burocracia reformista) arrancadas e postas na ordem do dia pela nos de qualquer grevista, qualquer manifestante, respondendo
atividade revolucionária do proletariado. Era o que recorria a Car- por seus atos, possa declarar-se membro do Partido.” (p.239) Será
ta Constitutiva da OIT e, depois sua Declaração de Princípios, mesmo? Qualquer grevista deve ter direito a declarar-se mem-
quando disse: bro do Partido? Com essa tese, o camarada Martov leva o seu
“Tendo em conta que uma paz universal e duradoura só erro ao absurdo, rebaixando o social-democratismo ao grevismo,
pode basear-se na justiça social. Tendo em conta que existem repetindo as desventuras de Akimov. Só podemos alegrar-nos
condições de trabalho que implicam para muitas pessoas a in- de que a social-democracia consiga dirigir cada greve, porque a
justiça, a miséria, e as privações, o que causa um desconten- obrigação direta e absoluta da social-democracia baseia-se em dir-
tamento tal que põe em perigo a paz e a harmonia universal, igir todas as manifestações da luta de classe do proletariado, e a
tendo em conta que é urgente melhorar as condições, pôr ex- greve e uma das manifestações mais profundas e poderosas desta
emplo, o que concerne à regulamentação de horas de trabalho. luta. Mas seremos seguidistas se consentirmos que esta forma ele-
A fixação de uma duração máxima da jornada de trabalho se- mentar de luta, ipso facto nada mais que forma trade-unionista, se
manal, e recrutamento de mão de obra, a luta contra a paral- identifique com a luta social-democrata, multilateral e consciente.
isação a garantia de um salário que assegure uma condição de De modo oportunista, consagraremos uma coisa manifestamente
existência conveniente, a proteção dos trabalhadores contra as falsa, se concedermos a todo grevista o direito de “declarar-se
doenças em geral as profissionais e os acidentes de trabalhos, membro do Partido”, pois semelhante “declaração”, numa imen-
a proteção às crianças e aos adolescentes e as mulheres, as sidade de casos, será uma declaração falsa. Dormiremos com son-
pensões à velhice e à invalidez, a defesa dos interesses dos tra- hos manilovianos se nos ocorrer assegurar a nos mesmos e aos
balhadores ocupados no estrangeiro, a afirmação do princípio demais que todo grevista pode ser social-democrata e membro
“a igual trabalho, igual salário”, a afirmação do ensino profis- do Partido Social-Democrata, em vista da infinita fragmentação,
sional e técnico e outras medidas análogas”. opressão e embrutecimento que, sob o capitalismo, pesarão inevi-
Este marco, questionado primeiro pelos regimes de exceção, de- tavelmente sobre setores muito amplos de operários “não espe-
pois pelo “esforço de guerra” demandado pelas potências em guerra cializados”, não qualificados. Justamente o exemplo do “grevista”
a partir de 1939, se restabeleceria ao acabar a 2ª Guerra Mundial. mostra com singular clareza a diferença entre a aspiração revolu-
Instrumento Internacional da colaboração entre as classe, a cionário a dirigir de modo social-democrata cada greve e a frase
OIT, ao mesmo tempo, inscreveria através das 170 convenções oportunista que declara membro do Partido de classe porquanto
adotadas, as conquistas arrancadas pôr mais de cem anos de luta de dirigimos, com efeito, de modo social-democrata, quase toda e
classe, com as quais a classe trabalhadora libertou-se da situação inclusive toda a classe do proletariado; mas só os Akimov podem
de massa desprotegida, inculta, miserável dizimada pelas doenças, deduzir daí que tenhamos de identificar em palavra o Partido e a
pôr acidentes, entregue ao alcoolismo, através do movimento que, classe.
sem haver eliminado a exploração, conseguiu limitar seu agrava- “Não me mete medo uma organização de conspiradores”
mento, melhorar e proteger suas condições de existência. - dizia o camarada Martov no mesmo discurso - , mas - acres-
20 93
ou a classe inteira possa algum dia, sob o capitalismo, elevar-se A partir de 1995, apoiando-se na Cúpula Social Mundial de
ao ponto de alcançar o grau de consciência e de atividade de seu Copenhague, estabelece-se um duplo mecanismo para arremeter
destacamento de vanguarda, de seu Partido Social-Democrata. contra as convenções da OIT:
Nenhum social-democrata judicioso jamais pôs em duvida que, – É mais fácil de compreender: a anulação das convenções
sob o capitalismo, nem mesmo a organização sindical (mas rudi- existentes mediante sua substituição de fato. Pôr exemplo, a in-
mentar, mas acessível ao grau de consciência das camadas menos trodução a partir deste ano (1999), junto ao convenção 138 que
desenvolvidas) esta em condições de englobar toda ou quase a proíbe o trabalho infantil, de uma nova convenção “que proíbe
classe operaria. Esquecer a diferença que existe entre o destaca- as formas mais intoleráveis” de trabalho infantil. Dado que essa
mento de vanguarda e toda a massa que gravita em torno dele, formas mais intoleráveis pertenciam, até o presente, ao terreno do
esquecer o dever constante que tem o destacamento de vanguarda Código Penal (prostituição infantil, etc...), é evidente que a ratifi-
de elevar camadas cada vez mais amplas ate seu avançado nível, cação desta nova convenção vai em detrimento da ratificação do
apenas enganar a si próprio, fechar os olhos diante da imensidade que proíbe o trabalho infantil.
de nossas tarefas, restringir nossas tarefas. E exatamente assim os – Paralelamente a esta via da substituição, se utiliza outra for-
olhos se fecham e tal é o esquecimento que se comete quando se ma, mais “sofisticada” e ao mesmo tempo, mais profunda. Con-
apaga a diferença que existe entre os que estão em contato e os vém seguir seu desenvolvimento passo a passo.
que ingressam, entre os conscientes e os ativos, por um lado, e os
Vejamos pois, ponto pôr ponto:
que ajudam, por outro.
A OIT aprovou as 170 convenções. Há algumas décadas, tem
Alegar que somos um partido de classe para justificar a di-
empenhado-se em separar deste conjunto cinco convenções(os
fusão orgânica, para justificar a confusão entre organização e de-
que se referem a igualdade entre homens e mulheres, a proibição
sorganização, significa repetir o erro de Nadiejdin, que confun-
do trabalho forçado, o direito à existência dos sindicatos, ao di-
dia “a questão filosófica e histórica-social das ‘profundas raízes’
reito a negociação coletiva e, pôr último a proibição do trabalho
do movimento com uma questão técnica de organização”. (Que
infantil, logo substituída por um convenção que proíbe as formas
Fazer?, p. 91). E justamente esta confusão, que com tanta sorte o
mais extremas do trabalho infantil).
camarada Axelrod iniciou, repetiram-na depois dezenas de vezes
os oradores que defenderam a formulação do camarada Martov. Estes cinco foram declarados “convenções fundamentais”,
“Quanto mais se amplie o titulo de membro do Partido melhor”, com o que se começa a marginalizar outros convenções. Estes
diz Martov, sem explicar, não obstante, qual a vantagem result- outros são os que dão um conteúdo concreto as cinco convenções
ante da ampla difusão de um titulo que não corresponde a seu “fundamentais”. Com efeito, a queda da convenção sobre os di-
conteúdo. Pode-se negar que uma ficção o controle dos membros reitos sindicais sem a convenção que protege os delegados dos
do Partido que não formam parte de sua organização? A ampla trabalhadores, é o que faz dos trabalhadores, credores prioritários
difusão de uma ficção e nociva, e não útil. “Só podemos alegrar- em caso de paralisação ou quebra da empresa?
– Em segundo lugar (em 1998), deu-se um novo passo ao separar
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“os princípios” destas “cinco convenções fundamentais” partindo
da convenção propriamente dita, estruturando uma “declaração PARTIDO E SINDICATO
de princípios” cujo reconhecimento pêlos estados membros não Fevereiro/Maio de 1904
implica na ratificação dos convenções porque estes princípios in-
spiram-se na legislação dos estados nacionais membros da OIT. Vladimir I. Lênin
A diferença fundamental entre convenções submetidas à ratifi-
cação nacional, inscritos nas leis nacionais e o “reconhecimento
de princípios”, é ilustrado no fato de que os EUA, os maiores Porque não se pode, na realidade, confundir o Partido, desta-
defensores destes “princípios”, não ratificaram mais que uma das camento de vanguarda da classe operária, com toda a classe. E
cinco convenções fundamentais na legislação estadunidense. é exatamente essa a confusão (própria de todo economicismo
oportunista, em geral) em que cai o camarada Axelrod, quando
diz: “E claro que antes de mais nada constituímos uma organi-
A OFENSIVA DE INTEGRAÇÃO DOS SINDICATOS zação dos elementos mais ativos do Partido, uma organização de
TEM UM CONTEÚDO CORPORATIVISTA revolucionários, mas, de vez que somos um partido de classe e,
Se exige dos Sindicatos, de modo absolutamente oficial, que devemos pensar em fazer as coisas de modo que não fiquem fora
cumpram um papel de acordo com o processo de pauperização dele pessoas que, de um modo consciente, ainda que talvez não
das massas trabalhadoras. com plena atividade, estão em contato com esse partido”. Em
A integração vertical dos sindicatos na cúpula das instituições primeiro lugar, entre os elementos ativos do Partido Operário So-
financeiras ou políticas internacionais (FMI, Banco Mundial, cial-Democrata de modo algum figurão apenas as organizações
OMC, União Européia) está na ordem do dia, da mesma forma de revolucionários, mas sim toda uma serie de organizações op-
que sua integração vertical nos centros de decisão das empresas. erarias reconhecidas como organizações do Partido. Em segundo
O que dá uma expressão mais avançada a esta ofensiva corpora- lugar: por qual motivo e em virtude de que lógica podia deduzir-
tivista mundial é, como assinalamos anteriormente, a Confeder- se, do fato de sermos um partido de classe, a conseqüência de que
ação Européia dos Sindicatos, que responde assim à ordem da não é preciso estabelecer uma distinção entre os que integram o
Comissão Européia. Partido e os que estão em contato com ele? Muito pelo contrario:
“No marco dos novos procedimentos necessários para in- justamente porque há diferenças no grau de consciência e no grau
strumentalizar o governo econômico europeu”, é preciso que os de atividade, e necessário estabelecer uma diferença no grau de
agentes sociais vejam reforçadas suas posições, o que poderia se proximidade do Partido. Somos o partido da classe e, por isso,
atingir através de uma reforma radical do atual Comitê Perma- quase toda classe (e em tempo de guerra, em época de guerra civil,
nente de Emprego. Seria necessário transformar este órgão em a classe inteira) deve atuar sob a direção de nosso Partido, deve
um comitê de “concertação social” que englobasse a ECFIN e o manter com nosso Partido a ligação mais estreita possível; mas se-
Conselho de Assuntos Sociais, a Comissão e os agentes sociais eu- ria manivolismo e “seguidismo” acreditar que quase toda a classe
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NOTAS ropeus para assegurar a consulta sobre as diretrizes macroeconômi-
cas e as que se referem ao emprego, buscando a indispensável
1 – Aliança político-militar entre Inglaterra, França e Rússia em
integração. A consulta a este comitê deveria ser obrigatória antes
oposição à Tríplice Aliança entre Alemanha, Áutria-hungria e
de qualquer decisão dos Conselhos correspondentes.” (Resolução
Itália às vésperas da I Guerra Mundial (1914-1918)/
Geral sobre Política Sindical, CES 18 de janeiro de 1999.)
2 – Industrial Works World (IWW), em português: Trabalhadores Não é pôr acaso que a CES constitui a forma mais avançada da
Industriais do Mundo. Organização operária dos EUA fundada integração corporativista. A CES é uma instituição que “funde”
em 1905. Lênin, ao mesmo tempo em que reconhecia tratar-se de os sindicatos operários e os “sindicatos cristãos’.
“um movimento de massas e profundamente proletário”, criticou O corporativismo como “doutrina” elaborada pela igreja é a nega-
a orientação sectária de seus dirigentes que se negavam a atuar tiva a considerar que a sociedade está dividida em classes antagôni-
entre as massas ligadas aos sindicatos reacionários. cas. O Estado é a representação do interesse geral (o que hoje se
3 – Os Gompers, os Henderson, os Jouhausx e os Legien nada faz extensivo ao papel assinalado a BM ao FMI, a OMC e a UE).
mais são que os Zubátov, diferenciando-se por seus trajes eu- A empresa é uma “comunidade de interesses” que tem um “ papel
ropeus, seu porte elegante e os refinados processos aparente- social” (códigos de boa conduta, empresa cidadã). O corporativismo
mente democráticos e civilizados que empregam para realizar sua substitui a democracia representativa. O critério da democracia de
abominável política. (Nota original de Lênin). participação em torno dos “atores” da vida política e social implica
sua participação na elaboração das políticas “pelo bem de todos”.
4 – Partido Social-democrata Independente da Alemanha, fun-
O corporativismo considera que quando as contradições surgem
dado em abril de 1917 a partir dos membros oposicionistas do
abertamente, seja na escala da empresa, do país ou internacional,
Partido Social-democrata Alemão. Em dezembro de 1920 uma
isto não se deve à natureza de classe da sociedade, senão a uma
parte de seus membros uniu-se ao Partido Comunista Alemão.
“disfunção”. Esta “disfunção”, pode-se atribuir à existência das
mesmas organizações de classe (ilegítimas e desestabilizadoras),
ou a uma falta de associação dos” agentes sociais”(isto é o que dá
hoje seu conteúdo mais concreto à atual ofensiva corporativista).
A noção de “sociedade civil” que está no centro da reforma
da ONU, tem sua origem na negação da existência mesma da
luta de classe. Com efeito, até, agora, as relações trabalhistas e
as legislações que as regiam (códigos trabalhistas, leis de relações
industriais, etc...) codificavam as relações entre assalariados e em-
pregadores.
A reforma da OIT e da ONU que está se levando a cabo tem
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como objetivo a quebra deste marco (que, em si mesmo, compor- etrar nos sindicatos, neles permanecer e ali realizar, custe o que
ta o reconhecimento das classes com seus interesses fundamen- custar, um trabalho comunista. Sobre o regime czarista, até 1905,
talmente contraditórios ), em benefício de outro marco “plural” não tivemos nenhuma “possibilidade legal”; mas quando o poli-
como o que propôs Miguel Hansenue (diretor da OIT) há algum cial Zubatóv organizou suas assembléias e associações operárias
tempo atrás, em uma reunião da CES: “o lugar central da nego- ultra-reacionárias com o objetivo de perseguir os revolucionários
ciação ou da concentração já não seria unicamente na empresa, e lutar contra eles, enviamos para ali membros de nosso partido
senão a realidade local, (municípios, organizações de emprego, (lembro entre eles o camarada Babushkin, destacado operário de
etc.); os interlocutores seriam mais numerosos (interlocutores so- Petersburgo, fuzilado em 1906 pelos generais czaristas), que esta-
ciais clássicos, atores da formação, agentes de socialização ou de beleceram contato com a massa, conseguiram agitá-la e arrancar
reinserção, dirigentes da economia social ou solidária, etc...), os os operários da influência dos agentes de Zubátov3. Naturalmente
modos de ação seriam diferentes”. é mais difícil atuar assim nos países da Europa ocidental, particu-
“Superar as relações” entre as classes e suas organizações em larmente impregnados de preconceitos legalistas, constitucion-
beneficio dos atores “múltiplos” unidos em um só país; a socie- alistas e democrático-burgueses muito arraigados. Mas se pode e
dade civil “em que sindicatos, associações, ONG`s e igrejas, em- deve-se fazer isso de modo sistemático.
presas multinacionais convergem ao “bem comum”. Isto é o que O comitê executivo da 3ª Internacional deve, na minha opinião,
da conteúdo à reforma da OIT, da ONU. É a generalização em condenar abertamente e propor ao próximo congresso da Inter-
escala mundial do que H.W. Schuster ,denunciava assim: nacional Comunista que condene em geral a política de não par-
A colaboração institucionalizada dos sindicatos com o capital ticipação nos sindicatos reacionários (explicando detalhadamente
no marco dos pactos pôr empregos, sob a égide do governo, com a insensatez que representa esta não participação e o imenso pre-
decisões obrigatórias que os sindicatos devem impor. Porém re- juízo que causa à revolução proletária) e, em particular, a linha
cordemos o que aconteceu na Alemanha em 1933. O Presidente de conduta de alguns membros do Partido Comunista Holandês,
do sindicato declarava então que os sindicatos estavam completa- que (direta ou indiretamente, às claras ou disfarçadamente, total
mente dispostos a ir muito além da luta no terreno do salário e das ou parcialmente, tanto faz) realizaram esta política falsa. A 3ª In-
condições de trabalho, inclusive a colaborar com as organizações ternacional deve romper com a prática da 2ª Internacional e não
patronais sob o controle dos órgãos do Estado, já que isto poderia encobrir nem ocultar as questões escabrosas, mas colocá-las cru-
ser favorável para os sindicatos. Esta declaração data da época de amente. Dissemos cara a cara toda a verdade aos “independentes”
Hitler, de 21 de Março de 1933. Não se trata de dizer aqui que a (Partido Social-democrata Independente da Alemanha4); do mes-
ameaça fascista está na ordem do dia de imediato. mo modo, é preciso dizê-la aos comunistas “de esquerda”.
Porém é preciso se compreender o perigo mortal que cerca a
democracia com o corporativismo, o perigo mortal que isto con- Escrito em abril e maio de 1920 como parte do livro
stitui para as organizações independentes dos trabalhadores, para “Esquerdismo, a doença infantil do comunismo”.
seu direito de formular reivindicações e defendê-las”.
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ventam uma “união operária” novinha em folha, pura, isenta de A ORIENTAÇÃO PARA O CORPORATIVISMO.
todo preconceito democrático-burguês, de todo pecado corpora- O que acontece hoje a este respeito?
tivo e de estreiteza profissional, que será (que será!), dizem, ampla Pôr uma parte, como temos visto antes, afirma-se uma políti-
e que exige dos seus aderentes somente (somente!) o “reconheci- ca corporativista que põe em questão as liberdades e conquistas
mento do sistema dos sovietes e da ditadura” (veja-se a citação políticas fundamentais. O conteúdo desta ofensiva tem, de fato
feita acima)!! uma dimensão “totalitária”. Porém ao mesmo tempo, vemos como
É impossível conceber a maior loucura, maior dano causado à desenrola-se uma situação em que os imperativos do sistema em
revolução pelos revolucionários “de esquerda”! Se hoje, na Rús- decomposição ( e dos EUA em particular) põe as garras de fora,
sia, depois de dois anos e meio de triunfos sem precedentes so- desloca os Estados que, anteriormente, eram os instrumentos da
bre a burguesia da Rússia e da Entente1 Estabelecêssemos como ofensiva de integração.
condição para o ingresso nos sindicatos o “reconhecimento da O processo de integração é enquadrado basicamente pelas or-
ditadura”, faríamos uma asneira, nossa influência sobre as massas ganizações “supranacionais”. “Fundamentalmente, é o marco
deixaria de existir, e ajudaríamos os mencheviques, pois a tarefa dos planos chamados de “acompanhamento social” do ajuste im-
dos comunistas consiste em saber convencer os mais atrasados, posto pelas instituições financeiras e políticas controladas pêlos
saber atuar entre eles e não em isolar-se deles através de palavras EUA: FMI, Banco Mundial e OMC.
de ordem sacadas da cabeça e infantilmente “esquerdistas”.
Neste contexto é necessário abordar um segundo aspecto da
Não há dúvida de que os senhores Gompers, Herdenson, Jou- “reforma da OIT”. A aplicação nacional das convenções interna-
haux e Legien ficarão muito agradecidos a esses revolucionários cionais da OIT se fazia no marco “tripartite” nacional. Esta estru-
“de esquerda”, que, como os da oposição “de princípio” alemã tura tripartite era o instrumento mediamente o qual a burguesia
(que céu nos livre de semelhantes “princípios”!) ou alguns rev- aplicava a “colaboração da classes” em proveito próprio.
olucionários dos Trabalhadores Industriais do Mundo2 nos Esta-
Agora a nova “declaração de princípios” da OIT está chamada a
dos Unidos, pregam a saída dos sindicatos reacionários e a renún-
encontrar sua materialização nas sanções ditadas pela OMC, ou seja,
cia à atuação neles. Não duvidamos de que os senhores “chefes”
as sanções comerciais decididas pêlos EUA a partir de seus próp-
do oportunismo recorrerão a todas as artimanhas da diplomacia
rios imperativos comerciais. Podemos ver o que sucede neste mo-
burguesa, a ajuda dos governantes burgueses, dos padres, da polí-
mento com Mianmar (nação do sudeste asiático): os EUA acabam
cia e dos tribunais para impedir a entrada dos comunistas nos
de “descobrir” que este país não respeita “os direitos dos homens
sindicatos, para expulsá-los de lá por todos os meios e tornar o
na empresa”, e o descobriram quando o governo desse país firmou
trabalho dos comunistas neles o mais desagradável possível, para
contratos com companhias rivais de multinacionais dos EUA.
ofendê-los, castigá-los e persegui-los. É preciso saber enfrentar
tudo isso, estar disposto a todos os sacrifícios, empregar inclusive O segundo modo de “controle” desses princípios não é menos
- em caso de necessidade - todos os estratagemas, ardis e proces- significativo. É o mecanismo de “controle” pelo “consumidor”,
sos ilegais, silenciar e ocultar a verdade com o objetivo de pen- ou seja, na realidade pelas ONG´s que tenham possibilidades de
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lançar campanhas de boicote da produção de tal ou qual empresa ou, não temer as dificuldades, mesquinharias, armadilhas, insultos e
pelo contrário, de recomendar com uma etiqueta a produção da out- perseguições dos “chefes” (que, sendo oportunistas e social-chau-
ra. Com toda a arbitrariedade e as manipulações que isto permite. vinistas, estão, na maioria dos casos relacionados direta ou indire-
É fácil compreender que nestas condições abandona-se o Di- tamente com a burguesia e a polícia), e deve-se trabalhar obriga-
reito para se cair na arbitrariedade total, assim como o ataque toriamente onde estejam as massas. É preciso saber fazer toda a
mortal que o sistema constitui para a existência dos sindicatos, sorte de sacrifícios e vencer os maiores obstáculos para realizar
obrigados a fazer campanha para que seu país ou sua firma obten- uma propaganda e uma agitação sistemática, tenaz, perseverante
ha um “visto bom”, sejam quais sejam as condições de trabalho, e paciente exatamente nas instituições, associações e sindicatos,
para não sofrer os efeitos do boicote ou da sanção comercial, a por mais reacionárias que sejam, onde haja massas proletárias ou
chamar o boicote e a sanção comercial, com todos os efeitos de- semi-proletários. E os sindicatos e as cooperativas operárias (estas
sastrosos na situação dos trabalhadores. últimas pelo menos em alguns casos) são precisamente as organi-
Entende-se assim a estreita relação entre a ofensiva corporativista zações onde as massas se encontram. Na Inglaterra, segundo os
e o direito “soberano “ dos EUA, que se exerce em detrimento da dados publicados pelo jornal sueco Folkets Dagblad Politiken a
soberania dos povos e das nações, em um processo que as desloca. 10 de março de 1920, o número de membros dos sindicatos, que
nos fins de 1917, era de 5.500.000, elevou-se nos fins de 1918 a 6
No lado oposto, toda a situação destaca o lugar da defesa das
milhões e 600.000, isto é, aumentou em 19%. Nos fins de 1919,
conquistas sociais, dos códigos trabalhistas e das organizações
seus efetivos atingiam, segundo cálculos, a 7 milhões e 500.000.
operárias independentes na resistência ao processo de desagre-
Não tenho em mãos as cifras correspondentes à França e Ale-
gação da força de trabalho, da capacidade produtiva e das nações
manha; mas alguns fatos, inteiramente indiscutíveis e conhecidas
mesmas, como formulou, por exemplo, uma recente Conferência
de todos, atestam o notável incremento do número de membros
Africana do Acordo Internacional dos Trabalhadores:
dos sindicatos também nesses países.
“Em um continente devastado pôr conflitos provocados
Esses fatos provam com toda clareza o que é confirmado por
de caráter regionalista, o Código do Trabalho que consagrava
outros milhares de sintomas: o crescimento da consciência e dos
direitos comuns aos trabalhadores, fossem quais fossem suas
anseios de organização justamente das massas proletárias, em suas
origens étnicas, é o último baluarte contra a desagregação
“camadas inferiores”, atrasadas. Na Inglaterra, França e Alemanha,
mortífera das guerras”.
milhões de operários passam pela primeira vez da completa falta
A catastrófica queda das condições materiais da força de trabal- de organização à forma mais elementar e inferior, mais simples e
ho se acentua com a política de desregulamentação e deslocação. acessível (para os que se acham ainda impregnados por completo
A crescente massa de desempregados não tem esperança de en- de preconceitos democrático-burgueses) de organização: os sin-
contrar novo emprego estável, pelo contrário, esta massa tende dicatos; os comunistas de esquerda, revolucionários, mas insensa-
a aumentar com o contínuo fluxo dos novos desempregados, em tos, ficam de lado, gritam: “Massa! Massa!”, mas se negam a atuar
relação com a destruição dos direitos e garantias adquiridas pela nos sindicatos (!!) pretextando seu “espírito reacionário” (!!) e in-
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- contra 9 milhões conseguidos pelos bolcheviques. Veja-se o meu luta de classe. Os jovens assalariados de todas as categorias, os
artigo As eleições para a Assembléia Constituinte e a Ditadura do técnicos, os quadros, os engenheiros, os intelectuais enfim os tra-
Proletariado, no número 7-8 de a Internacional Comunista.). balhadores qualificados vêm-se condenados, juntos, a condições
Mas sustentamos a luta contra a aristocracia operária em nome comparáveis, a mesma situação de precariedade generalizada.
das massas operárias e para ganhá-las para o nosso lado, sustenta- Mas, no entanto, inclusive nesta situação, a condição do capital
mos a luta contra os chefes oportunistas e social-chauvinistas para é o salário. Inclusive na época do imperialismo senil, o capital fi-
ganhar a classe operária. Seria estupidez esquecer esta verdade nanceiro não pode ir até o fim na destruição da classe trabalhado-
mais que elementar e mais que evidente. E é essa, precisamente, ra, porque isto suporia ser a destruição de toda a humanidade, da
a estupidez que cometem os comunistas alemães “de esquerda”, sociedade e mesmo do capital. Aí reside toda a contradição. O
que deduzem do caráter reacionário e contra-revolucionários dos capital pode ir muito longe na destruição da classe trabalhadora,
chefetes dos sindicatos que é preciso... Sair dos sindicatos!!! Re- no sentido da destruição de suas condições materiais, físicas e
nunciar ao trabalho neles!! Criar formas de organização operárias morais de existência; pode ir muito longe na destruição da classe
novas, inventadas!! Uma estupidez tão imperdoável, que equivale operária, no sentido da desvalorização da força de trabalho, de
ao melhor serviço que os comunistas podem emprestar à bur- deteriorar as condições de existência com o fim de abarcar partes
guesia. Isso porque nossos mencheviques, como todos os líderes cada vez maiores da mais-valia relativa para compensar, por esse
sindicais e oportunistas, social-chauvinistas e kautskistas, não são meio, o peso esmagador que exerce a especulação sobre a econo-
mais que “agentes da burguesia no movimento operário” (como mia mundial. Porém o capital não pode ir até o fim da destruição
sempre dissemos ao nos referir aos mencheviques) ou, em out- da classe trabalhadora, já que se fosse até o fim, isso significaria
ras palavras, os “lugar-tenentes operários da classe capitalista”, que ao destruir a classe trabalhadora, provocaria a destruição da
de acordo com a magnífica expressão, profundamente exata, dos produção de mercadorias. A produção de mercadorias é a con-
discípulos de Daniel de León nos Estados Unidos. Não atuar no dição da produção da mais-valia.
seio dos sindicatos reacionários significa abandonar as massas op- Destruir a produção de mercadorias seria destruir a possibili-
erárias insuficientemente desenvolvidas ou atrasadas à influência dade de produzir mais-valia e, dessa forma, destruir a possibili-
dos líderes reacionários, dos agentes da burguesia, dos operários dade apropriá-la. Aí reside a principal contradição.
aristocratas ou “operários aburguesados” (veja-se a carta de En- Em uma situação em que, mais do que antes, “a tendência da
gels a Marx em 1858 sobre os operários ingleses). produção capitalista não é elevar o nível médio dos salários senão
A absurda “teoria” da não participação dos comunistas nos sin- rebaixá-los, ou seja, levar mais ou menos o valor dos salários seu
dicatos reacionários é o que, precisamente, demonstra do modo limite mais baixo” (Marx - “Salário, Preço e Lucro”). O sistema po-
mais evidente com que leviandade estes comunistas “de esquerda” dre da sociedade privada dos meios de produção e o processo de
encaram a questão da influência sobre as massas e de que maneira integração corporativista dos sindicatos que ele provoca, dão aos
abusam de sua algazarra sobre as “massas”. Para saber a ajudar aparelhos um lugar que vai mais além de sua participação no des-
a “massa” e conquistar sua simpatia, a adesão e apoio é preciso mantelamento das conquistas sociais.
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A ONGuização dos sindicatos se leva a cabo no marco de sua e ampliar seu domínio, educando, instruindo e atraindo massas
participação direta na gestão das formas mais destrutivas, sub-ex- cada vez mais amplas de trabalhadores.
ploradas e desvalorizadas do trabalho assalariado, necessário para Prossigamos. Nos países mais adiantados que a Rússia se fez
produzir a mais-valia. sentir, e devia fazer-se sentir de modo muito mais acentuado,
Através das ONGs são integrados aparelhos sindicais que certamente, que no nosso, certo espírito reacionário dos sindi-
servem de base para as relações que acompanham, inclusive or- catos. Aqui, os mencheviques tinham (e em parte ainda têm um
ganizam a destruição das relações baseadas em normas consagra- pequeníssimo número de sindicatos) apoio entre os sindicatos,
das nas Lei Trabalhistas. As ONGs como vimos, são “ empre- graças, precisamente, a essa estreiteza corporativa, a esse egoísmo
gadoras” de empresas cujo caráter, supostamente “voluntário”, profissional e ao oportunismo. Os mencheviques do Ocidente
“humanitário”, justifica a não aplicação das normas. A base de “entrincheiram-se” muito mais solidamente dos sindicatos, e lá
ação das ONGs é o chamado setor “informal” é a pressão que surgiu uma camada muito mais forte do que em nosso país da ar-
as instituições financeiras exercem através das ONGs para que as istocracia operária” profissional, mesquinha, egoísta, desalmada,
organizações sindicais adaptem sua ação à negação da existência ávida, pequeno-burguesa, de espírito imperialista, subornada e
mesma de um trabalho assalariado regido por normas nacionais e corrompida pelo imperialismo”. Isto é indiscutível. A luta contra
internacionais. os Gompers, contra os senhores Jouhaux, Henderson, Merrheim,
Isto é válido para países dominados, porém cada vez ganha Legien e Cia., na Europa Ocidental é muito mais difícil que a luta
mais importância nos países “avançados”. contra nossos mencheviques, que representam um tipo social e
Na Europa, mais de cinco milhões de pessoas já se vêem obriga- político completamente homogêneo. É preciso desencadear essa
das a trabalhar nessas condições, em associações “co-gestionadas luta implacavelmente e continua-la de maneira obrigatória, como
pôr ONGs e sindicatos. o fizemos, até desmoralizar e desalojar dos sindicatos todos os
chefes incorrigíveis do oportunismo e do social-chauvinismo. É
impossível conquistar o poder político (e não se deve nem pensar
O CONFLITO QUE SE PREPARA em tomar o poder político) enquanto esta luta não tiver alcançado
O que caracteriza o período atual quanto aos sindicatos é que “certo grau”; este “certo grau” não é o mesmo em todos os países
inicia-se um conflito entre tudo o que, dentro do sindicato, sejam e em todas as condições, e só dirigentes políticos do proletari-
quais forem as posições de sua direção, o define ainda como um ado sensatos, experimentados e competentes podem determiná-
sindicato e o que o transforma em um instrumento da ofensiva lo com acerto em cada país. (Na Rússia as eleições de novembro
corporativista e integracionista. de 1917 para a Assembléia Constituinte, alguns dias depois da
Não é um conflito “sigiloso” que se desenvolve exclusivamente revolução proletária de 25 de outubro de 1917, entre outras coi-
nos salões das instituições financeiras e dos palácios governamen- sas, nos deram a medida exata do êxito nesta luta. Nas referidas
tais. Em um conflito em que as massas, os trabalhadores, os povos eleições, os mencheviques sofreram uma fragorosa derrota, ob-
tentam resistir, frear, deter com sua luta de classe o ataque às suas tendo 700.000 votos - 1.400.000 contando os da Transcaucásia
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se realizou e nem podia realizar-se em nenhum país de outra ma- conquistas. Essas lutas tem hoje um caráter fundamentalmente
neira senão por meio dos sindicatos e por sua ação conjunta com defensivo como conseqüência do peso exercido pelo aparelhos
o partido da classe operária. A conquista do poder político pelo mafiosos sobre as organizações trabalhadoras.
proletariado representa um progresso gigantesco deste, consid- É um conflito em que, contra esse movimento, os governos,
erado como classe, e o partido deve consagrar-se mais, de modo os donos privados de meios de produção, organizam o enfrenta-
novo e não apenas pelos processos antigos, a educar os sindicatos, mento violento contra a resistência.
a dirigi-los, sem esquecer também que esses são e serão durante Segundo um informe da CIOSL, constata-se que, a cada ano,
muito tempo uma necessária “escola de comunismo”, uma escola “aumenta o número de países que infringem os direitos sindic-
preparatória dos proletários para a realização de sua ditadura, a ais”. A CIOSL quantificava este número em 116 em 1997. Em
associação indispensável dos operários para a passagem gradual todo o mundo, em 1997, cerca de 300 sindicalistas foram assas-
da direção de toda a economia do país às mãos da classe operária sinados pôr haver defendido seus direitos, 1.681 foram torturados
(e não apenas de umas e outras profissões), primeiro, e depois, às ou mal tratados, 2.329 foram detidos e 3.369 foram vitimas de
mãos de todos os trabalhadores. intimidações.
Na ditadura do proletariado é inevitável certo “espírito rea- Esta violência não é exclusiva dos países dominados. O informe
cionário” dos sindicatos, no sentido assinalado. Não compreender lembra também que o governo australiano tem incentivado o re-
isso significa não compreender absolutamente as condições fun- crutamento de mercenários para romper a resistência dos estiva-
damentais da transição do capitalismo ao socialismo. Temer este dores em greve. Pôr outro lado, mesmo nos EUA “ao menos um
“espírito reacionário”, tentar prescindir dele, ignorá-lo, é uma simpatizante sindical de cada 10 que reclamaram a criação de um
grande tolice, pois equivale a temer o papel de vanguarda do pro- sindicato, foi despedido ilegalmente pelo empregador. Esta pro-
letariado, que consiste em instruir, ilustrar, educar, atrair para uma porção é de 1 (um) em cada 30 (trinta) no caso dos que votam pôr
vida nova as camadas e as massas mais atrasadas da classe operária um sindicato nas eleições sociais. Ao menos 1 (um) de cada 25
e do campesinato. Por outro lado, adiar a ditadura do proletariado (vinte e cinco) trabalhadores é despedido ilegalmente nas campan-
até que não reste um só operário de estreito espírito profissional, has de filiação, e segundo uma sondagem efetuada em 1994, 79%
nenhum operário com preconceitos corporativistas e sindicalistas, dos estadunidenses pensa que um trabalhador que tente fundar
seria um erro ainda mais grave. A arte do político (e a compreen- um sindicato em sua empresa corre o risco de ser despedido.” Re-
são acertada de seus deveres por parte do comunista) consiste, pressão policial, repressão patronal, repressão burocrática dentro
precisamente, em saber aquilatar com exatidão as condições e o das organizações operárias pôr um lado e, pôr outro, implantação
momento em que a vanguarda do proletariado pode tomar vito- de uma enorme máquina burocrática que elabora “argumentos” e
riosamente o poder; em que pode, durante a tomada do poder e “campanhas” para desviar a resistência para tentar canalizá-la para
depois dela, conseguir um apoio suficiente de setores bastante o “acompanhamento.” É o que chamamos de dimensão crítica do
amplos da classe operária e das massas trabalhadoras não pro- ajuste estrutural.
letárias; em que pode, uma vez obtido esse apoio, manter, garantir
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A “Cúpula Social Mundial de Copenhague” em sua preparação, erários, formadas no transcurso dos séculos, e, de outro os sin-
e a “ Cúpula Mundial do ano 2000” foram, antes de tudo, máqui- dicatos, que só muito lentamente, através dos anos, pode trans-
nas para dar esta “dimensão crítica”: formar-se, que se transformarão, em sindicatos de indústria mais
Multiplicam-se as declarações, os documentos, as iniciativas amplos, menos corporativos (que englobam indústrias inteiras e
sobre temas como “combater o capitalismo selvagem”...Esta di- não apenas corporações, ofícios e profissões). Depois, através dos
mensão “crítica” encontra sua prolongação em um terreno mais sindicatos de indústria, passar-se-á a suprimir a divisão do trabalho
especificamente “sindical”: “Superar o sindicalismo reivindicativo entre os homens e a educar, instruir e formar homens universal-
para fazer dele uma força de proposição.” “Não esquecer que as mente desenvolvidos e universalmente preparados, homens que
grandes empresas multinacionais junto com as responsabilidades saberão fazer tudo. O comunismo marcha e deve marchar para
econômicas, tem também responsabilidades sociais”. esse objetivo, que será atingido, mas somente dentro de muitos
anos. Tentar, atualmente, antecipar-se na prática a esse resultado
futuro de um comunismo que chegou ao fim de seu completo
O EIXO DA LUTA PELA desenvolvimento, solidez e formação, de sua total realização e de
UNIDADE DOS TRABALHADORES seu amadurecimento é o mesmo que querer ensinar matemáticas
Para a 4ª Internacional, a luta em defesa dos direitos e con- superiores a uma criança de quatro anos.
quistas que constituem o proletariado como classe dá o eixo do Podemos (e devemos) empreender a construção do socialismo
combate pela unidade do proletariado e suas organizações, pela não com um material humano fantástico nem especialmente cri-
independência das organizações sindicais em relação ao estado, ado por nós, mas com aquilo que o capitalista nos deixou como
o único que pode garantir a existência de bases de apoio político herança. Não é necessário dizer que isto é muito “difícil”; mas,
independentes do proletariado. qualquer outro modo de abordar o problema é tão pouco sério
As condições concretas que temos de buscar constantemente que nem vale a pena falar dele.
de aplicar esta orientação, podem resumir-se assim: Os sindicatos representam um progresso gigantesco da classe
– A tendência geral ligada à decomposição do imperialismo operária nos primeiros tempos do desenvolvimento do capital-
senil é a evolução para o corporativismo. As massas, em todo o ismo, uma vez que significavam a passagem da dispersão e da im-
mundo, buscam resistir. potência dos operários aos rudimentos da união de classe. Quan-
– A natureza do estalinismo e sua política contra revolucionária do a forma superior de união de classe dos proletários começou
durante décadas conduzem os aparelhos surgidos dele a em- a desenvolver-se, o partido revolucionário do proletariado (que
preender o caminho do corporativismo. Mercenários antes, esses não merecerá este nome enquanto não souberam ligar os líderes
aparelhos surgidos da decomposição do estalinismo proporcion- à classe e às massas em um todo único e indissolúvel), os sindica-
am mercenários experimentados a seus novos amos do FMI e das tos começaram a manifestar fatalmente certos traços reacionários,
ONG’s. certa estreiteza gremial, certa tendência ao apoliticismo, certo es-
pírito rotineiro, etc. Mas, o desenvolvimento do proletariado não
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aliza através dos sovietes, que agrupam as massas trabalhadoras, – Os aparelhos de origem reformista, pôr natureza, não tem
sem distinção de profissão. Os congressos de distritos dos sovietes vocação de mudar o estado burguês, porém, no marco da de-
representam uma instituição democrática como jamais se viu nas mocracia burguesa, dirigem centrais e sindicatos que não podem
melhores repúblicas democráticas do mundo burguês. Por meio sobreviver senão como sindicatos constituídos na luta de classe,
destes congressos (cujo trabalho o partido procura acompanhar como sindicatos independentes. A unicidade, o corporativismo
com a maior atenção possível) assim como através da designação significariam seu desaparecimento como sindicatos, e o desapa-
constante dos operários mais conscientes para diversos cargos recimento do aparelho reformista como tal.
nas povoações rurais, o proletariado exerce sua função dirigente Esta resistência, evidentemente, não é independente do movi-
com respeito ao campesinato, realiza-se a ditadura do proletariado mento geral das massas, o tempo que o alimentam. As massas
urbano, a luta sistemática contra os camponeses ricos, burgueses, procuram realizar sua mobilização no próprio terreno da luta de
exploradores e especuladores, etc. classe.
Esse é o mecanismo geral do poder estatal proletário examina- Essa pressão das massas que buscam um caminho de resistência
do “desde cima”, do ponto de vista da realização prática da dita- se exerce também sobre as organizações. E se exerce de maneira
dura. É de esperar que o leitor compreenda porque o bolchevique
contraditória: por um lado, consolida e fortalece as tendências que
russo, que conhece este mecanismo e o viu nascer dos pequenos
buscam, nos próprios aparelhos, resistir à integração corporativis-
círculos ilegais e clandestinos no decurso de 25 anos, não pode
ta; por outro lado, põe ainda mais na ordem do dia a constituição
deixar de achar ridículas, pueris e absurdas todas as discussões
da unicidade corporativista.
sobre a ditadura “de cima” ou “de baixo”, a ditadura dos chefes
ou a ditadura das massas, etc., do mesmo modo que seria ridículo, É o que dá conteúdo aos fenômenos que nos levam a carac-
pueril e absurda uma discussão sobre a maior ou menor utilidade terizar o processo de integração como um processo “inacabado”.
que a perna esquerda ou o braço direito tem para o homem. Nesta situação, nossa orientação não é de um suposto sindical-
Também não podemos deixar de achar um absurdo ridículo e ismo “revolucionário”, senão a defesa das organizações sindicais
pueril as argumentações ultra-sábias, empoladas e terrivelmente como organizações independentes, defesa que ligamos , sem fazer
revolucionárias dos esquerdistas alemães a respeito de idéias dela uma condição ou um requisito prévio, à perspectiva política
como: os comunistas não podem nem devem atuar nos sindica- que fundou o movimento operário: a luta para acabar com o sis-
tos reacionários; é lícito renunciar a semelhante atividade; é pre- tema baseado na propriedade privada dos meios de produção.
ciso sair dos sindicatos e organizar obrigatoriamente uma “união O que é um sindicato independente ? Para responder a esta
operária” completamente nova e completamente pura, inventada pergunta, voltemos a Trotsky, de quem utilizamos um breve tre-
pelos comunistas muito simpáticos (e na maioria dos casos, prov- cho na introdução:
avelmente, muito jovens), etc. “Do ponto de vista do nosso programa, o sindicato deve
O capitalismo lega inevitavelmente ao socialismo, de um lado, ser uma organização de luta de classe. Que atitude tomar então
as velhas diferenciações profissionais e corporativas entre os op- a respeito da AFL? Seus dirigentes são agentes da burguesia.
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Em todas as questões fundamentais, os senhores Green, Vol proletário, formalmente não comunista, flexível e relativamente
e Cia. levam uma política diretamente contraditória aos inter- amplo, poderosíssimo, por meio do qual o partido está ligado es-
esses do proletariado. Podemos levar mais longe a analogia e treitamente à classe e às massas e através do qual se exerce, sob a
declarar que sim, antes da formação do CIO, a AFL efetuava direção do partido, a ditadura da classe. É claro que nos teria sido
ainda, até certo ponto, um trabalho progressista, hoje, quan- impossível governar o país e exercer a ditadura, já não digo dois
do a atividade essencial da AFL consiste em lutar contra as anos e meio, nem sequer dois meses e meio, se não houvesse a
tendências progressistas (ou menos reacionárias) da CIO, o mais estreita ligação com os sindicatos, seu apoio entusiasta, seu
aparelho de Green converteu-se definitivamente em um fator abnegadíssimo trabalho tanto na organização econômica como na
reacionário. Seria perfeitamente justo. Porém nada diz que a militar. Como se pode compreender, esta estreita ligação significa
AFL deixe de ser uma organização sindical. O caráter de classe
na prática, um trabalho de propaganda e agitação muito complexo
do Estado o define em sua relação com as formas de proprie-
e variado, reuniões oportunas e freqüentes, não apenas com os
dade e os meios de produção.
dirigentes, mas em geral com os militantes que têm influência nos
O que define uma organização operária como sindicato é sindicatos, e também uma luta decidida contra os mencheviques,
sua relação com a repartição da renda nacional. que conservaram até hoje um certo número de partidários - muito
O fato de que Green e Cia defendam a propriedade pri- pequeno, é verdade - aos quais ensinam todas as artimanhas da
vada dos meios de produção os definem como burgueses. Se, contra-revolução, desde a defesa ideológica da democracia (bur-
além disso, estes senhores defendessem os lucros da burguesia guesa) e a pregação da “independência” dos sindicatos (independ-
contra todas as expectativas dos trabalhadores, ou seja, se lu- ência em relação ... ao poder estatal operário!) até a sabotagem à
tassem contra as greves, contra os aumentos salariais, contra o
disciplina proletária, etc.
subsídio de greve, teríamos que fazer frente a uma organização
amarela e não a um sindicato. Porém, por não romper com sua Reconhecemos que o contato com as “massas” através dos sin-
base, Green e Cia estão obrigados, dentro de certos limites, a dicatos não é suficiente. No transcorrer da revolução criou-se em
dirigir a luta dos trabalhadores por aumento de salários, ou nosso país, na prática, um organismo que procuramos a todo cus-
pelo menos, contra a diminuição de sua participação na renda to manter, desenvolver e ampliar: as conferências de operários e
nacional. camponeses sem partido., que nos permitem observar o estado de
Este sinal objetivo basta para que possamos traçar, em to- espírito das massas, aproximarmo-nos delas, corresponder a seus
das as ocasiões importantes, uma linha de demarcação entre anseios, promover seus melhores elementos aos postos do estado,
os sindicatos mais reacionários e as organizações amarelas”. etc.. Um decreto recente sobre a transformação do Comissari-
ado do Povo de Controle do Estado em “Inspeção Operária e
Precisamente este sinal objetivo fundamental é o que a bur-
Camponesa” concede a estas conferências sem partido o direito
guesia imperialista, em sua fase de reação em toda a linha, neces-
de eleger membros para o Controle do Estado, encarregados das
sita extirpar mediante a integração dos sindicatos nas instituições
mais diversas funções de revisão etc.
supranacionais.
Além disso, como é natural, todo o trabalho do partido se re-
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mesmo consideravelmente menor em 1918/1919. Receamos am- Nós partimos sempre dos princípios. Os princípios significam
pliar excessivamente o partido porque os arrivistas e aventureiros, que a apreciação de tal ou qual acordo consiste em saber se per-
que nada merecem além de ser fuzilados, tendem inevitavelmente mite melhorar a situação dos trabalhadores. Significa caracterizar
a infiltrar-se no partido governante. A última vez em que abri- um sindicato por sua relação com a repartição da renda nacional.
mos de par em par as portas do partido - exclusivamente para Porém, ao mesmo tempo não se pode separar a apreciação de
operários e camponeses - foi nos dias (inverno de 1919) em que um acordo ou da natureza da organização, da constatação da reali-
Iudenith estava há algumas verstas de Petrogrado e Deniken es- dade concreta da luta de classes. O acordo firmado pelo sindicato
tava em Oriol (a umas 350 verstas de Moscou), isto é, quando a UAW na General Motors ao final de julho de 1998, que punha fim
República Soviética corria um perigo terrível, mortal, e os aven- a uma greve de 8 semanas, era “bom acordo”? Havíamos escrito:
tureiros, arrivistas, aproveitadores e, em geral, todos os elementos “Ao aceitar fazer-se responsável pelo aumento da produtividade
instáveis não podiam, de modo algum, esperar fazer uma carreira em nome da manutenção das atividades da empresa ameaçada, a
vantajosa (a não ser contar com a forca e as torturas) se aderissem direção da UAW empreende um caminho perigoso: o sindicato
aos comunistas. O partido, que convoca congressos anuais (no não tem que participar na organização do trabalho, na gestão da
último a representação foi de um delegado para cada 1000 mili- exploração.”
tantes), é dirigido por um Comitê Central de 19 membros, eleito
No entanto, com razão, tivemos que constatar que nada estava
no congresso; a gestão dos assuntos cotidianos é exercida em
resolvido: “A General Motors não pode, por seu lado, contentar-
Moscou por dois organismos ainda mais restritos, denominados
birô de organização e birô político, eleitos em sessões plenárias do se com compromissos. Seus donos explicam que o “clima sin-
Comitê Central e de cada um desses dois organismos participam dical” que reina é contrário às exigências da competitividade. A
cinco membros do Comitê Central. Encontramo-nos, por con- realidade é que os trabalhadores de empresas não sindicalizados
seguinte em presença de uma verdadeira “oligarquia”. Nenhuma ganham 30% a menos que os trabalhadores sindicalizados. É o
questão importante, política ou de organização, é resolvida por sindicato que tem que ser destruído em nome da rentabilidade
qualquer instituição estatal de nossa República sem as diretrizes e da globalização. Porém o que querem os trabalhadores, e por
do Comitê Central do Partido. isso estão sindicalizados, é que “nós, nossos filhos, nossos netos
possam também trabalhar na Flint, e não a 8 dólares a hora como
Em seu trabalho, o partido apóia-se diretamente nos sindica-
cobram hoje os empregadores dos ‘fast-foods’”. Como explica
tos que têm agora, segundo os dados do último congresso (abril
de 1920), mais de quatro milhões de filiados e que, no aspecto um trabalhador citado pelo Le Point: “Efetivamente, a bola está
formal, são sem partido. De fato, todas as instituições dirigentes no alto...” (artigo publicado no jornal do PT francês Informations
da imensa maioria dos sindicatos e sobretudo, naturalmente, a Ouvieres nº 347).
central, ou Birô sindical de toda a Rússia (conselho central dos Nada está resolvido, isto porque este acordo firmado para
sindicatos da Rússia) compõe-se de comunistas que aplicam to- os patrões não é só o princípio de um novo período estável em
das as diretrizes do partido. Obtém-se, no conjunto, um aparelho suas relações com a UAW. É um passo a outro estágio em que os
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patrões exigirão o desaparecimento do sindicato.
Nesta situação de extrema dificuldade se desenvolvem num
OS REVOLUCIONÁRIOS
marco defensivo, os processos de lutas de resistência da classe op- DEVEM ATUAR NOS
erária. Neste contexto, em que se justapõem decomposição e rec-
omposição, é preciso localizar os processos de luta de classes... SINDICATOS REACIONÁRIOS?
A classe operária se constituiu em classe através de suas organi-
zações políticas e sindicais. Na maioria dos países, existem hoje Vladimir I. Lênin
varias organizações políticas e sindicais. Esta situação expressa,
de forma mais concreta, o modo em que os processos políticos Os “esquerdistas” alemães acham que podem responder a esta
mundiais encontram sua materialização nos processos específicos pergunta com uma negativa absoluta. Na sua opinião, os falatóri-
de cada país. os e os gritos encolerizados contra os sindicatos “reacionários” e
Seria fácil ver nesta “pluralidade” só a expressão da divisão, “contra-revolucionários” (K. Horner destaca-se pela “seriedade”
oposta à unidade do movimento operário. Na realidade, as coisas e estupidez com que faz isso) bastam para “demonstrar” a inutili-
são mais complexas. dade e até a inadmissibilidade da atuação dos revolucionários, os
comunistas, nos sindicatos amarelos, social-chauvinistas, concili-
Por um lado existem organizações sindicais cujas origens estão
adores e dos legienistas.
ligadas à história mesma da classe operária, que busca e encontra
os meios para construir-se em classe organizada. Há, pôr outro Mas por muito convencidos que estejam os “esquerdistas” do
lado, organizações que se constituíram sob a direção da Igreja caráter revolucionário de semelhante tática, ela é, na realidade,
como agências diretas das patronais no movimento operário: o profundamente errônea e não contém mais do que frases vazias.
sindicalismo de origem cristã. Para esclarecer o que digo partirei de nossa própria experiência,
Estas divisões, depois da Revolução Russa, resultaram da von- conforme o plano geral deste folheto, que tem por objetivo aplicar
tade dos dirigentes ligados à II Internacional de separar, de expul- à Europa Ocidental o que a história e a tática atual do bolchevismo
sar, das fileiras das organizações todos os que, dentro dos sindica- têm de aplicável, importante e obrigatório em toda a parte.
tos, se opunham à sua orientação pró-capitalista. Depois, houve A correlação entre os chefes, partido, classe e massas, ao mes-
a cristalização da divisão que resultava da política da burocracia mo tempo, a atitude da ditadura do proletariado e de seu partido
stalinista, que constituía seu próprio aparato internacional contra no que concerne aos sindicatos apresenta-se entre nós atualmente
revolucionário. da seguinte forma concreta: a ditadura é exercida pelo proletari-
Entre os dois momentos houve, no Terceiro Congresso da 3ª ado organizado nos sovietes e dirigido pelo Partido Comunista
Internacional o que, por nossa parte, definimos como um erro, a Bolchevique que, segundo os dados do último congresso (abril de
saber, a constituição da Internacional Sindical Vermelha. 1920) conta com 611.000 membros. O número de filiados oscilou
muito, tanto antes como depois da Revolução de Outubro, e foi
Ainda que partindo esta decisão de uma “boa intenção”, da
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NOTAS vontade da direção da III Internacional da época de dar um lugar
no agrupamento internacional do proletariado aos sindicatos dir-
igidos pôr correntes de origem anarcosindicalistas, foi um erro. O
1 - (Adiante) jornal operário de massas editado por Lênin ilegal- aparelho da Internacional Sindical Vermelha cristalizou a divisão
mente em Viborg entre setembro de 1906 e janeiro de 1908. do movimento sindical. Posteriormente, a Internacional Sindical
Vermelha se converteu em um instrumento de Stálin para sub-
2 - Aproximadamente 1500 pessoas assistiram ao comício. Veja-se ordinar à casta burocrática os partidos comunistas do mundo
a resenha no Boletim do Museu do Trabalho, n.º 2 de 26 de No- inteiro.
vembro de 1905 (a citação é de Znamia Trudá)
Ademais, a decisão de construir a Internacional Sindical Ver-
3 - É preciso dizer, no entanto, que os senhores mencheviques melha era contraditória com as orientações fundamentais da 3ª
compreenderam essa “independência em relação ao Partido “ de Internacional, que convém recordar como elemento de reflexão
modo bastante original: Seu informante ilustrou suas teses da seg- na situação atual. Em uma resolução do Segundo Congresso da 3ª
uinte maneira: ”um exemplo de solução acertada do problema Internacional (1920), se podia ler:
relativo à atitude diante do Partido é nos oferecidos pelo sindi- “Dada a tendência pronunciada de amplas massas trabal-
cato de impressores de Moscou, propondo aos camaradas que hadoras de incorporarem-se aos sindicatos e tendo em conta
ingressem individualmente no Partido Social-Democrata”. (Nota o caráter objetivo revolucionário das lutas que essas massas
de Znamia Trudá). sustentam apesar da burocracia profissional, é importante que
os comunistas de todos os países participem dos sindicatos e
4 - Os mencheviques não expuseram, em novembro de 1905, os trabalhem para fazer deles organismos conscientes de luta pela
pontos de vista ortodoxos da neutralidade, mas os pontos de vista destruição do regime capitalista e o triunfo do comunismo.
comuns. Que os senhores esserristas tenham isso em mente! Devem tomar a iniciativa da criação de sindicatos em todos os
locais onde ainda não existam.
5 - Agora, inclusive, alguns esserristas compreenderam isto e. por-
Toda deserção voluntária do movimento profissional, todo
tanto, deram um passo decidido para o marxismo. Veja-se o novo
a tentativa de criação oficial de sindicatos que não seja deter-
livro, muito interessante, dos camaradas Frisov e Iakobia, do qual
minada pelas violências excessivas da burocracia profissional
logo falaremos aos leitores de Proletari . (dissolução das filiais locais revolucionárias sindicais pêlos
6 - (pág.75, nº12 de Sovremienni Mir). centros oportunistas) ou por sua estreita política aristocrática
que fecham às grandes massas de trabalhadores pouco quali-
7 - (pág. 101, número de 7 de dezembro) ficados a entrada nos organismos sindicais, representa um
enorme perigo para o movimento comunista. Separa da massa
os operários mais avançados, os mais conscientes e os em-
purra na direção dos chefes oportunistas que trabalham pelos
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interesses da burguesia... As vacilações das massas operárias, luta e de entregar-se á mercê do capital, manifestaram-se toda
as indecisões políticas e a influência que sobre elas possuem a burguesia da Inglaterra, os fabianos, e o senhor E.P.; a favor
os líderes oportunistas só poderão ser vencidas com uma luta, da luta coletiva dos operários, pronunciaram-se todos os socialis-
cada vez mais encarniçada, na medida em que as camadas tas e os operários trade-unionistas. Continuara, agora, Plekhanov
profundas do proletariado aprendam por experiência, com as pregando a “neutralidade” em lugar da estreita aproximação dos
lições de suas vitórias e de suas derrotas, que jamais o sis-
sindicatos ao Partido Socialista?
tema econômico capitalista lhes permitirá obter condições de
vida humanas e suportáveis, na medida em que os operários
avançados comunistas aprendam, com a experiência de sua Publicado em Proletari nº 22,
luta econômica, a serem não só propagandistas teóricos de ( 3 de março ) 19 de fevereiro de 1908.
idéia comunista, como também executores decididos da ação Extraído de In Obras, tomo XIII, pág. 422/431.
econômica e sindical”.
Esta orientação foi reafirmada pelo Quinto Congresso da 3ª
Internacional, que, entretanto, constituiu a Internacional Sindi-
cal Vermelha:
“A cisão do movimento sindical, sobretudo nas condições at-
uais, representa o maior perigo para todo o movimento operário.
A cisão dos sindicatos operários faria voltar vários anos atrás a
classe trabalhadora, já que a burguesia poderia então, facilmente,
recuperar as conquistas mais elementares dos trabalhadores.
Custe o que custar, os comunistas devem impedir a cisão sindi-
cal. Pôr todos os meios, com todas as forças de sua organização
devem obstaculizar a criminosa ligeireza com que os reformistas
rompem a unidade sindical.”

UNIDADE DOS TRABALHADORES


E “UNICIDADE”
Vemos assim como a divisão das organizações tem suas raízes
nos processos que afetaram negativamente o movimentos op-
erário. Desta constatação, tiramos a conclusão de que toda cisão
é negativa e de que todo o processo de fusão é, pelo contrário,
positivo?
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bro carta de um ferroviário trade-unionista, que em resposta aos A estas perguntas só se pode responder concretamente. Exis-
elogios feitos a Bell pôr toda a imprensa capitalista (começando tem cisões (ou constituição de novas organizações) que jogaram
pelo radical Reynolds News-Paper e terminado pelo conservador um papel positivo em países e regiões marcadas pôr décadas de
Times), dizia que o convênio feito pôr ele é “o mais desprezível sindicalismo “único”, integrado em estados mais ou menos dita-
que se registra na história do trade-unionismo”, e qualificava Ri- toriais.
chard Bell de “marechal Bazaine do movimento trade-unionista”. Há países em que a queda de regimes ditatoriais encontrou seu
No mesmo número, outro ferroviário pede que “se responsabilize ponto de partida na resistência surgida do ex-sindicato único, da
Bell” pôr esse infeliz convênio, “que condena os operários a sete crise da relação entre este e o Estado. Países em que sindicatos
anos de trabalhos forçados”. E a redação desse jornal moderado, novos, que afirmavam sua independência a respeito do estado na-
em artigo de fundo do mesmo número, chama o convênio de cional, eram, sobretudo o corolário de uma total submissão às in-
“o Sedã do movimento trade-unionista britânico”. ”Jamais houve stituições financeiras internacionais e seus planos destrutivos (em
uma ocasião tão propícia para demonstrar na área nacional a força geral ONGs que se chamam sindicatos).
do trabalhador organizado”: entre os operários reinava um “entu- Há países em que o movimento para a independência afirmou-
siasmo extraordinário” e o desejo de luta. O artigo termina fazen- se tanto em organizações “novas” como em antigas organizações
do uma sarcástica comparação entre a miséria dos operários e o oficiais, ao mesmo tempo em que o movimento para as ONGs ou
ar triunfal “do senhor Lloyd-George (ministro que desempenhou a ONGuização se afirmava em uma ou outras.
o papel de lacaio dos capitalistas) e do senhor Bell, que andam
Hoje, a divisão e a unificação das organizações são componen-
preparando banquetes”.
tes da política das instalações supranacionais que coordenam a
Os únicos que aprovaram o convênio foram os oportunistas ofensiva de destruição das organizações sindicais como organi-
mais extremados, os Fabianos, organização puramente intelectual, zações sindicais independentes: causar divisão ali onde as organi-
fazendo corar de vergonha inclusive a revista The New Age, que zações resistem, apoiar os processos de “unicidade” em torno de
simpatizava com os fabianos e foi obrigada a reconhecer que, se, um marco comum determinado pelo Estado. Temos que voltar a
de um lado, o jornal burguês conservador Times reproduziu inte- nos referir aqui à “unicidade”, que nada tem a ver com a unidade
gralmente a correspondente declaração do Comitê Central dos da ação sindical pelas reivindicações, ou uma fusão entre organi-
fabianos, de outro, à exceção desses, “nem uma só organização zações realizada democraticamente pelos filiados.
socialista, nem uma só trade-union, nem um só líder destacado
O caso mais avançado, que se tem dado e se dá freqüentemente
dos operários”7 se pronunciou a favor do convênio.
como exemplo, é o da Itália, onde há mais de 10 anos as três
Eis ai um modelo de aplicação da neutralidade pôr um colabo- centrais, “na unidade” mais perfeita, participaram ativamente na
rador plekanovista, o senhor E.P. Não se trata de “divergências aplicação dos planos de destruição das conquistas sociais. Hoje, a
políticas”, mas da melhoria da situação dos operários na socie- burguesia italiana e as instituições européias impulsionam a unifi-
dade atual. A favor de uma “melhoria” à custa de renunciar à cação total das três centrais, conscientes de que, além, desta colab-
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oração, é preciso, a menos no que concerne a duas das três cen- não é casual, mas está vinculado na realidade ao neutralismo, que
trais, cortar toda continuidade com as bases que as constituíram. apresenta em primeiro lugar a união dos operários para melhorar
E isto é assim porque a natureza de classe das organizações sin- a sua situação, e não a união para uma luta capaz de servir à causa
dicais operárias está determinada por décadas e décadas de luta da emancipação do proletariado.
para constituí-las, para constituí-las frente ao inimigo de classe, Mas esse ponto de vista não corresponde nem mesmo ao
para preservá-las de seus golpes, para protegê-las apesar da políti- critério do socialismo inglês, que, sem dúvida, ficariam surpresos
ca de seus dirigentes. se soubessem que os apologistas de Bell escrevem, sem encon-
O conjunto dessas relações complexas permite definir a natu- trar objeções, na mesma revista em que colaboram mencheviques
reza dos sindicatos. Não pode reduzir-se a tomadas de posição e notórios como Plekhanov, Iordanski e Cia.
a atos dos dirigentes que campeiam em suas cúpulas. Nem sequer O jornal social-democrata inglês Justice, em editorial 16 de no-
quando, como na Itália, as coisas chegaram tão longe. vembro, escrevia a propósito do acordo de Bell com as companh-
Como se pode ver, as questões da unidade não são tranqüilas. ias ferroviárias: “estamos completamente de acordo com o a con-
Em todo o caso não se pode abordar fora das exigências próprias denação quase geral de que foi objeto por parte das trade-unions
da luta de classes, do combate contra os planos destruidores, ou o chamado convênio de paz” (...) “o referido convênio põe abaixo
seja, da unidade dos trabalhadores e suas organizações e, por isso, por completo a própria razão de ser das tradi-unions” (...) “este
das necessidades da luta de classe do proletariado. convênio absurdo ...não pode manietar os operários, que agirão
Seria errado considerar esses processos de modo unilateral. As bem ser ou rejeitarem.” E no número seguinte, de 23 tem novem-
coisas darão muitas voltas e mudanças, se apresentarão muitas bro, Bernet escrevia sobre isso em artigo intitulado Uma nova
situações em que será difícil discernir se pesa mais o positivo ou traição!: “Há 3 semanas, a associação de empregados de estradas
o negativo no resultado das ações de classe. Porém, seria errôneo de ferro era uma das tradin-unions mais poderosas da Inglaterra;
não se ver nesses processos a expressão de uma tendência de fun- agora está convertida numa sociedade de ajuda mútua.” “E essa
do, que coloca de novo, em uma escala mais ampla que nunca, a mudança não ocorreu porque os ferroviários tivessem lutado e
questão da construção de direções capazes de desbaratar a política sofrido uma derrota, e sim porque os seus lideres, premeditada-
dos aparelhos e, por fim, coloca de novo a responsabilidade da 4ª mente ou pôr ignorância, venderam-na aos capitalistas antes de
Internacional, que organiza sua intervenção nesse “processo em desencadear a luta”. E a reação do jornal acrescenta que recebeu
curso, porém inacabado”. uma carta análoga de um “operário assalariado da companhia fer-
“As leis da história são mais fortes que os aparelhos...”, ex- roviária Midland”.
plica o programa da fundação da 4ª Internacional. Hoje, frente Trata-se talvez de “exageros” de social-democratas “demasiado
a uma ofensiva sem precedentes, frente à degradação e à miséria revolucionários”? Não. Labour Leader, órgão do Partido Trabal-
que sofrem milhões e milhões de homens e mulheres, frente ao hista Independente (ILP), tão moderado que nem sequer deseja
que significam os planos do imperialismo decomposto, os trabal- intitular-se socialista, incluía em seu número de 15 de novem-
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agrário dos revisionistas, quando insistiu (em Essen) na diferença hadores se levantam, buscam o caminho da resistência. A política
de princípio entre guerra e ofensiva e quando esteve disposto a dos aparelhos levanta-se como um obstáculo, facilitando a marcha
transformar em princípio a “neutralidade” dos sindicatos. Acredi- para a barbárie...
tamos de bom grado que, se Plekhanov caísse no charco, mas pela
mão de Bebel, isso não lhe ocorreria freqüentemente e pôr muito BARBÁRIE OU SOCIALISMO
tempo. Acreditamos, no entanto, que não se deve imitar a Bebel
Em cada país e em condições históricas específicas, se coloca a
quando Bebel se equivoca.
questão da relação entre agrupamento político e sindical:
Diz-se – e Plekhânov insiste particularmente nisso – que a neu-
“Não existem duas lutas distintas da classe operária, uma de
tralidade é necessária para unir todos os operários que chegam a
caráter político e outra de caráter econômico. Só há uma luta de
compreender a necessidade de melhorar sua situação material. Mas
classe, a que busca limitar os efeitos da exploração capitalista e
os que dizem isso esquecem que a fase atual de desenvolvimento
suprimir esta exploração e a sociedade burguesa (...).”
das contradições de classe semeia, inevitável e infalivelmente, “di-
vergências políticas” mesmo na questão relativa a como se deve A classe operária, classe explorada nas relações sociais, na so-
conseguir essa melhora dentro da sociedade contemporânea. A ciedade capitalista, se vê empurrada objetivamente a revoltar-
teoria da neutralidade dos sindicatos, diferentemente da teoria so- se, a querer “ enfraquecer”, a competição que a divide. Através
bre a necessidade de estreita vinculação deles à social-democracia da organização realizada para levar este combate, os interesses
revolucionária, conduz inevitavelmente a preferir meios para al- econômicos do proletariado “adquirem” um caráter (mais ou
cançar esta melhora e que eqüivalem a amortecer a luta de classes menos) consciente, (mais ou menos) generalizado, entrando no
do proletariado. Um exemplo patente disso (relacionado, certa- terreno da política.
mente, com a valorização de um dos episódios mais interessantes Sem esta organização elementar independente do proletariado,
do movimento operário moderno) é-nos dado pôr esse mesmo construída no terreno da luta econômica (que é política), não há
caderno de Sovremienni Mir onde Plekhanov defende a neutrali- política proletária”. (Rosa Luxemburgo - Greves de massas, par-
dade. Junto com Plekhanov vemos aqui o senhor E.P., que louva tidos, sindicatos.).
o conhecimento líder dos operários ferroviários ingleses Richard Os sindicatos têm como tal um lugar indispensável no combate
Bell, o qual, através de acordo, pôs fim a um conflito entre os pela emancipação política e social. Não constituem um escalão
operários e os diretores das companhias. Bell é “a alma de todo o “inferior”. Sua defesa é um componente indissociável, indispen-
movimento operário ferroviário”. ”Não há nenhuma dúvida – es- sável, na luta pelo socialismo que salve a humanidade da barbárie.
creve o senhor E.P. – de que, graças à sua tática serena, pensada e Isto é o que determina a intervenção política para preservar os
prudente, Bell conquistou a confiança absoluta da associação de sindicatos como organizações independentes.
empregados de estrada de ferro, cujos membros estão dispostos, Certamente, como dissemos no princípio desta contribuição,
sem vacilação, a segui-lo pôr toda parte6?”. Esse ponto de vista as relações entre partidos políticos operários independentes, a luta
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pela sua construção e a defesa das organizações sindicais como classe da burguesia originam, inevitavelmente, o esforço em cir-
organizações independentes, está marcado pôr tradições nacionais cunscrever os sindicatos à atividade miúda e estreita no marco do
que não são idênticas. Não pretendemos definir uma linha geral, atual regime, em afastá-lo de qualquer vinculação com o socialis-
porém nas especificidades há traços que, no nosso entender, tem mo, e a teoria da neutralidade é a cobertura ideológica desse afã da
um conteúdo geral. burguesia. Os revisionistas no seio dos partidos social-democra-
Abordando as questões das relações com os sindicatos, a seção tas sempre abrirão caminho para si, de um ou de outro modo, na
francesa da 4ª Internacional, em 1984, aprovava uma resolução sociedade capitalista.
em que se podia ler: Naturalmente, na fase primária do movimento operário políti-
“O sindicato é uma organização operária que ocupa um co e sindical da Europa, podia-se defender a neutralidade dos sin-
lugar específico na luta de classes. Militar no sindicato implica dicatos, como meio de ampliar a base inicial da luta proletária,
na necessidade de atuar no terreno do lugar específico ocu- numa época em que ela estava relativamente pouco desenvolvida
pado pelo sindicato na luta de classes, respeitando seus méto- e não existia uma influência burguesa sistemática sobre os sin-
dos, suas instâncias. Um partido ocupa outro lugar na luta de dicatos. Atualmente, do ponto de vista da social-democracia in-
classes. Com outro programa, com outros métodos. “Fazer ternacional já é completamente inoportuno pregar a neutralidade
política” no sindicato significa respeitar o lugar do sindicato dos sindicatos. Só se pode sorrir lendo a afirmação de Plekhanov
na luta de classe, seus métodos de organização específicos.” de que “Marx, hoje defenderia na Alemanha a neutralidade dos
A forma nacional dos processos internacionais de luta de classe sindicatos”, sobretudo quando esse argumento se baseia em uma
toma formas profundamente diferentes na história das nações e interpretação unilateral de certa “citação” de Marx, fazendo caso
na história do movimento trabalhador. omisso de todo o conjunto das afirmações de Marx e de todo o
No entanto, ao mesmo tempo, hoje se impõe outra realidade espirito de sua doutrina.
que tende a atenuar as diferenças: as representações políticas ofi- “Pronuncio-me a favor da neutralidade, compreendida no sen-
ciais dos sindicatos (desde um ponto de vista internacional) são tido que lhe dá Bebel, e não como os revisionistas a entendem”,
partidos cuja orientação está na base da manutenção do regime escreve “Plekhanov. Falar assim eqüivale a escudar-se em Babel,
podre da propriedade privada dos meios de produção. sem deixar pôr isso de cair no charco. Não se pode nem mesmo
A está realidade se opõe o movimento das massas oprimidas dizer que Babel seja tão grande autoridade no movimento inter-
que, para sobreviver e fazer sobreviver as conquistas básicas da nacional do proletariado, um dirigente prático tão experimentado,
civilização humana e salvar-se a si mesmas da barbárie buscam um socialista tão sensível em relação às exigências da luta rev-
caminhos de resistência e de preservação de suas organizações, olucionária, que em noventa e nove pôr cento dos casos saiu do
ainda que a “terrível crise” que se impôs ao movimento operário charco quando deu algum tropeço dele retirando, além disso, to-
não leva só a uma constatação, senão também a uma forma de dos aqueles que quiseram segui-lo. Bebel equivocou-se quando,
prognóstico em relação com a evolução futura: a questão da em Breslave (em 1895), defendeu junto com Wollmar o programa

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saco os partidos das diferentes nacionalidades da Rússia. Em ter- preservação das organizações de classe como organizações inde-
ceiro lugar, a unificação dos partidos verdadeiramente socialistas pendentes não encontrará uma solução “decisiva” em um futuro
é questão à, parte; ao colocá-la, Plekhanov confunde as .coisas imediato, nem em um sentido nem em outro. É uma luta de longa
Devemos defender sempre, e em todo o lugar, a aproximação dos duração que se está se levando. E isto dá todo sentido à absoluta
sindicatos ao partido socialista da classe operária, mas determinar necessidade de se combater em todas as circunstâncias a alienação
qual partido é realmente socialista e realmente da classe operária, da independência de classe das organizações e a necessidade de
num ou noutro país, em tal ou qual nacionalidade, é questão â defender, centímetro a centímetro, as conquistas sociais arranca-
parte, que não será resolvida pôr resoluções de congressos in- das com a luta de classes.
ternacionais, e sim através da luta entre os partidos das diversas Ao mesmo tempo, a alternativa barbárie ou socialismo não é,
nacionalidades. para nós, uma alternativa já decidida de antemão no sentido da
O artigo do camarada Plekhânov no número 12 de 1907 de barbárie. O movimento da revolução está inscrito no movimento
Sovremienni Mir demonstra, com extraordinária clareza, até que dos trabalhadores e dos povos, em sua resistência.
ponto são errados os seus raciocínios nessa questão. Plekhanov
cita na página 55 a observação de Lunatcharski de que a neutrali-
dade dos sindicatos é defendida pêlos revisionistas alemães. Ple-
khanov responde a esta observação: “Os revisionistas dizem que os NOTAS
sindicatos devem ser neutros, mas insinuam com isso que é preciso
1 - Congresso realizando em Paris, abril de 1999.
utilizar os sindicatos para a luta contra o marxismo ortodoxo”. E
Plekhanov conclui: “ A supressão da neutralidade dos sindicatos 2 - Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico,
não servirá para nada. Se colocamos os sindicatos inclusive em es- organismo que envolve os 30 países mais ricos do mundo.
treita dependência formal do Partido, mas no Partido triunfa a “ide-
3 - Sigla para o tratado de livre comércio da Ásia e do Pacífico.
ologia” dos revisionistas, a supressão da neutralidade dos sindicatos
não será senão uma nova vitória dos “críticos de Marx”. 4 - Tratados de implementação da União Européia.
Esse pensamento representa um exemplo do costume, tão ha- 5 - Central Sindical dos EUA.
bitual em Plekhanov, de fugir ao problema e obscurecer a essência
da discussão. Se, efetivamente, triunfasse no Partido a ideologia
dos revisionistas, não seria ele um partido socialista da classe op-
erária. O X da questão não se encontra de modo algum em como
se forma um tal partido, que luta e que divisões nele ocorrerão.
O X da questão está em que existem em cada país capitalista um
partido socialista e certos sindicatos, e nossa tarefa consiste em
determinar as relações fundamentais entre eles. Os interesses de
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Carta Aberta aos militantes sindicais e populares caminho indireto... Muito bem, senhores esserristas! Em nome da
participantes do Fórum Social Mundial 2002 autoridade da Internacional operária, vocês têm o direito de exi-
gir-nos que realizemos esta campanha com tato e discrição, “sem
perder de vista a unidade da organização sindical”. “Nós recon-
hecemos isto com a maior boa vontade e exigimos que vocês tam-
É POSSÍVEL DAR bém o reconheçam, porém não renunciaremos a desenvolver a
campanha!
FACE HUMANA À Mas Plekhanov disse que é prejudicial semear divergências
GLOBALIZAÇÃO políticas no seio dos sindicatos...Sim, Plekhanov disse essa asnei-
ra, e, está claro, os senhores esserristas tinham que se agarrar a
E À GUERRA? ela, como se agarraram sempre a tudo aquilo que menos deve ser
tomado como modelo. Mas o que deve servir de guia não são as
palavras de Pleklanov, mas a resolução do Congresso, que não é
Companheiras e companheiros
possível ser posta em prática sem “semear divergências políticas”.
Nós, sindicalistas que assinamos esta carta, queremos abrir Eis aqui um pequeno exemplo. A resolução do Congresso diz
com vocês um diálogo. que os sindicatos não devem guiar-se “pela teoria da harmonia de
Vivemos uma situação terrível em todo o mundo. O governo interesses entre o trabalho e o capital”5. Nós, social-democratas ,
dos EUA, com a cobertura da ONU utiliza os condenáveis aten- afirmamos que um programa agrário, que exija uma distribuição
tados terroristas de 11 de setembro para intensificar uma política igualitária da terra na sociedade burguesa, está baseando na teoria
de guerra sem limites - como diz o próprio Bush - que começou da harmonia de interesses entre o trabalho e o capital?. Sempre
com os bombardeios no Afeganistão e está longe de terminar. nos oporemos a que, em virtude de tal divergência (e inclusive pôr
Na vizinha Argentina, o povo - depois de anos de governos uma divergência com operários monárquicos), se quebre a uni-
submissos às ordens do FMI, aplicando políticas de privatização, dade numa greve, etc., mas sempre “semearemos esta divergência
de destruição de direitos trabalhistas, de sangria da nação para pa- “ nos meios operários em geral e em todas as associações op-
gar a dívida externa - foi às ruas e derrubou o governo de “centro- erárias em particular.
esquerda” de Fernando De la Rua, deixando claro que não quer a Igualmente desonesta é a referência de Pleklanov à existência
continuidade de uma política que mergulhou na miséria e na fome de onze partidos. Em primeiro lugar a Rússia não é o único país
milhões de argentinos em nome da “modernidade”, das exigên- onde existem diferentes partidos socialistas. Em segundo lugar,
cias da globalização, do “livre comércio” regional no Mercosul, da na Rússia só existem dois partidos socialistas, que ocorreram en-
preparação do país para a ALCA! tre si de certa maneira importante, o social-democrata e o social-
Nesta situação, os “donos do mundo” - multinacionais, espe- revolucionário, já que é completamente absurdo atirar no mesmo
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imemente que não é assim que a resolução do Congresso deve culadores, governos a seu serviço e instituições como a OMC,
ser compreendida, que (eles “não impõem de modo algum aos Banco Mundial, FMI - declararam uma guerra econômica e políti-
sindicatos e aos seus filiados a obrigação de ser membro do Par- ca contra os trabalhadores, suas organizações e os povos, para
tido Social-Democrata”, isto é, eles, como também é indicado na destruir seus direitos e conquistas, para saquear recursos naturais,
resolução, exigem a “completa independência dos sindicatos”) (a para derrubar qualquer barreira à ganância e exploração dos capi-
notação é de Znamia Trudá) talistas e das multinacionais.
Senhores de Znamia Trudá, vocês são uns trapalhões! Na A luta de resistência contra esta política de terra arrasada coloca
comissão, um camarada belga perguntou se podiam obrigar os a questão da unidade dos trabalhadores de Norte a Sul, de Leste a
membros dos sindicatos a ingressarem no Partido Social–De- Oeste do planeta, da luta dos povos explorados e oprimidos para
mocrata, ao que todos responderam negativamente. Pôr outro barrar esta ofensiva de guerra e destruição que leva o mundo à
lado, Plekhanov apresentou a seguinte emenda à resolução: Além barbárie e, assim , abrir caminho para o futuro da humanidade.
disso, não podemos perder de vista a unidade da organização sin- Estamos certos que é este o sentimento que motiva muitos
dical”: esta emenda foi aceita mas não pôr unanimidade (o ca- companheiros e companheiras a participar da 2ª edição do Fórum
marada Voinov, que representava o ponto de vista do POSDR, Social Mundial (FSM) em Porto Alegre.
votou a favor da emenda e, em nossa opinião, com razão). Assim
Mas, a realidade do FSM corresponde a esta expectativa?
ocorreram os fatos.
Queremos levantar algumas questões e convidar os próprios
Os social-democratas nunca devem perder de vista a unidade
companheiros e companheiras a tirarem suas conclusões.
da organização sindical. Isso é perfeitamente justo. Mas isso se
refere também aos esserristas, aos quais convidamos a pensar na
referida “unidade da organização sindical” quando esta proclama A ARMADILHA DA “SOCIEDADE CIVIL”
sua estreita ligação com os social-democratas. Quanto à idéia de O FSM se apresenta, desde sua primeira edição, como um
“impor a obrigação” aos membros dos sindicatos de ingressarem fórum da “sociedade civil”. A própria noção de “sociedade civil”,
no partido social-democratas, nunca ninguém pensou em tal coi- tão na moda nos últimos tempos, apaga as fronteiras de classe
sa: o medo é que faz com que os esserristas pensem assim. Porém, que existem na sociedade concreta. Ou não cabem na “sociedade
é uma invenção afirmar que o congresso de Stuttgart proibiu aos civil” explorados e exploradores, patrões e empregados, opres-
sindicatos proclamarem sua estreita ligação com o partido social- sores e oprimidos, igrejas, ONGs, representantes de governos e
democrata ou tornar essa ligação praticamente efetiva. da ONU?
“Os social-democratas russos – diz Znamia Trudá – realizam a A comissão organizadora do FSM no Brasil é constituída por
mais firme e enérgica campanha para conquistar os sindicatos e entidades como a Associação Brasileira de Empresários pela Ci-
subordiná-los à direção de seu partido. Os bolcheviques fazem dadania (CIVES), a Associação Brasileira de ONGs (ABONG), ao
isso de maneira aberta e direta... Os mencheviques escolheram um lado, é certo, de entidades ligadas à luta dos explorados e oprimi-
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dos como a CUT e o MST. Não seria, ela mesma, uma expressão da ”neutralidade”, que serve de fato para reforçar a influência da
da política da “sociedade civil” como caminho para “um outro burguesia sobre o proletariado. Em vez de abordar essa questão
mundo possível”? de princípio, preferiram falar somente das relações específicas da
Tomemos o exemplo da luta em defesa dos direitos trabalhis- Rússia, onde existem vários partidos socialistas, e mais ainda, falar
tas contidos na CLT que desenvolvemos hoje. A CUT convoca à disso falseando o que em realidade ocorreu em Stuttgart. “Não
preparação de uma Greve Geral para março de 2002, para barrar há porque referir-se – escreve Znamia Trudá – à nebulosidade da
a aprovação do PL 4583 do ministro Dornelles, e está certa em resolução de Stuttgart, pois o senhor Plekhanov dissipou qualquer
fazê-lo. O que pensam dos direitos trabalhistas os “empresários nebulosidade e toda dúvida ao intervir no congresso internacional
progressistas”? O que pensam dos direitos trabalhistas ONGs que como representante oficial do Partido, e, até agora, não temos a
praticam “voluntariado” e outras formas de trabalho precário e declaração correspondente do Comitê Central social-democrata
desregulamentado, que substituem os serviços públicos que FHC dizendo que “esta intervenção do camarada Plekhanov desorgan-
vem destruindo aplicando as receitas do FMI? iza as fileiras do Partido único”...
A política da “sociedade civil” é hoje política oficial do Banco Senhores esserristas ! Vocês naturalmente, têm direito de fazer
Mundial (BIRD). Com que conteúdo? Julguem vocês mesmos: ironias porque o nosso Comitê Central chamou Plekhanov a or-
“é conveniente que as instituições financeiras prossigam seus es- dem. Têm direito de pensar que se pode estimar, pôr exemplo,
forços (...) para desenvolver um diálogo aberto e regular com as um partido que não condena oficialmente as ternuras do senhor
organizações da sociedade civil, em particular com as que rep- Guershuni para com os democratas-constitucionalistas. Mas pôr
resentam os pobres (...) é preciso reunir as partes contrárias em que dizer coisas que são evidentemente falsas? ‘Plekhanov não foi
fóruns formais e informais, canalizando suas energias por inter- ao Congresso de Stuttgart como representante do Partido Social-
médio de processos políticos, ao invés de deixar o confronto como Democrata, mas sim como um dos 33 delegados deste. E não rep-
única saída”. (“Relatório do BIRD sobre o desenvolvimento no resentava os pontos de vista do Partido Social-Democrata, mas os
mundo 2000-2001”) da atual oposição menchevique com respeito ao Partido Social-
Seria uma casualidade que, entre as fontes financiadoras do Democrata e às decisões do seu Congresso de Londres. Os es-
FSM, esteja a Fundação Ford? Ou que a página Internet do Banco serristas não podem pelo menos deixar de saber isto e, portanto,
Mundial faça propaganda do Fórum de Porto Alegre? afirmam categoricamente uma coisa que não é certa.
“...Na comissão que examinou as relações entre os sindicatos e
o partido político, ele (Plekhanov) disse literalmente o seguinte::
QUAL O PAPEL DAS ONGS?
“Na Rússia existem onze organizações revolucionárias pois bem,
UM EXEMPLO CONCRETO com qual delas os sindicatos devem estabelecer contato?...Seria
Tanto no Fórum Econômico Mundial de Davos (que em 2002 prejudicial semear divergências políticas no seio dos sindicatos na
será em Nova Iorque), como no Fórum Social Mundial de Porto Rússia”. Diante disto os membros da comissão declararam unan-
Alegre, participam centenas de ONGs. Qual é o papel que os cen-
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e os sindicatos, que devem der dirigidos pôr aquele. Os esserristas, tros de poder no mundo atribuem às ONGs?
finalmente, exigiram uma rigorosa independência dos sindicatos No documento oficial “O Banco Mundial e a Sociedade Civ-
em relação ao Partido, para evitar a divisão no seio do proletari- il” (setembro de 2000), podemos ler: “mais de 70% dos projetos
ado, mas rejeitaram qualquer limitação das tarefas e da atividade apoiados pelo Banco Mundial aprovados no ano passado envolvi-
dos sindicatos a uma esfera estreita, formulando essa tarefa como am organizações não governamentais (ONGs) e a sociedade civil
uma luta contra o capital em toda extensão e, pôr conseguinte, de alguma maneira”.
como uma luta tanto econômica como política”. Há um ditado popular que diz “quem paga a banda,
Assim são os fatos apresentados pelo próprio Znamia Trudá! E escolhe a música”. O Banco Mundial, como sabemos, faz parte
só um cego ou quem seja absolutamente incapaz de pensar pode da santíssima trindade da globalização capitalista, ao lado do FMI
negar que esses três pontos de vista, o que fala da estreita união e da Organização Mundial do Comércio. Seriam estas
entre o Partido Social-Democrata e os sindicatos “foi confirmado
instituições “neutras”, ou expressariam os interesses do
pela resolução de Stuttgart, que recomenda a estreita vinculação
entre o Partido e os sindicatos”4?. capitalismo mundial?
Para baralhar a questão, clara demais, os esserristas confundiram Um exemplo concreto e atual. O Conselho Internacional do
do modo mais divertido a independência dos sindicatos na luta FSM reuniu-se em Dacar, capital do Senegal (África) nos dias 30
econômica com sua neutralidade em relação ao ‘Partido. “O Con- de outubro e 1º de novembro de 2001. A ONG Enda-3º Mundo
gresso de Stuttgart – escrevem – manifestou-se, também, termi- foi a organizadora do evento. O que faz a Enda?
nantemente, a favor da independência (neutralidade) dos sindica- Segundo seus próprios documentos, ela considera que “proi-
tos, isto é, rejeitou tanto o ponto de vista dos bolchevique como o bir o trabalho infantil significa privar as crianças, bem como suas
dos mencheviques”. Tiram esta conclusão das seguintes palavras da famílias, de um importante meio de subsistência. Levar em con-
resolução de Stuttgart: “Cada uma dessas duas organizações (o Par- ta a realidade sócio-econômica e lhes oferecer uma formação é
tido e o sindicato) possuem a esfera de ação que lhes é inerente pôr melhor do que condenar pura e simplesmente o trabalho infantil.
natureza e nela devem desenvolver seu trabalho com inteira inde- Enda combate para que sejam reconhecidos os direitos das cri-
pendência. Mas, ao mesmo tempo, existe uma esfera cada vez mais anças trabalhadoras.”
ampla” etc., como foi citado mais acima. Pois bem, há zombadores Em aberta contradição com as posições do sindicalismo mundial
que confundiram esta reivindicação de “independência” dos sindi- de que “piores formas são todas as formas de trabalho infantil”,
catos na esfera que lhes é inerente pôr natureza com a questão da com as posições da CUT de que “lugar de criança é na escola”, a
neutralidade dos sindicatos, ou de sua estreita aproximação do Par- Enda, uma das organizadoras do Fórum africano preparatório à
tido no terreno da política e das tarefas da revolução socialista! Porto Alegre, é a favor do trabalho infantil! Como se não bastasse,
Foi assim que nossos esserristas afastaram pôr completo o a Enda participa da privatização da água no Senegal, construindo
problema fundamental de princípio com a apreciação da teoria poços e cisternas e cobrando dos usuários as faturas pelo forneci-
mento de água (documento “Enda: água e pobreza urbana”).
68 45
E A TAXA TOBIN E ATTAC? contramos dois artigos consagrados ao movimento sindical. Ne-
Do nome do prêmio Nobel de economia, James Tobin - de- les os socialistas-revolucionários procuram, sobretudo, zombar da
clarado defensor do “livre comércio”, do FMI, do Banco Mundial afirmação feita pelo jornal social-democrata Vperiod1?, de que a
e da OMC - esta proposta visa criar uma taxa de 0,1% (ou 0,05%) resolução de Stuttgart resolveu o problema concernente à atitude
sobre as transações financeiras internacionais. O dinheiro assim do Partido diante dos sindicatos, precisamente do mesmo modo
recolhido serviria para criar um “fundo internacional” para ajudar com que o fez a resolução do Congresso de Londres, isto é, no
no “desenvolvimento e na luta contra a pobreza”. espírito do bolchevismo. Sobre isso diremos que os próprios so-
Para defender a adoção da Taxa Tobin foi criada ATTAC (As- cialistas-revolucionários, nesse mesmo número de Znamia Trudá,
sociação pela Taxação das Transações Financeiras e de Ajuda aos citavam fatos que constituíam uma demonstração indiscutível da
Cidadãos), primeiro na França (1998), depois em escala interna- justeza dessa apreciação.
cional. “Foi então – disse Znamia Trudá, referindo-se ao outono de
ATTAC é hoje, como todos sabem, um dos principais “atores” 1905, e isto é significativo – quando se defrontaram as três frações
do FSM de Porto Alegre. A Taxa Tobin, por seu lado, ganhou a socialistas russas: os social-democratas mencheviques, os social-
adesão de personagens como George Soros, o mega-especulador, democratas bolcheviques, e os esserristas, expondo seus respec-
Fernando Henrique Cardoso e outros do gênero. tivos pontos de vista sobre o movimento sindical. O birô de Mo-
scou, que foi encarregado de designar dentre os seus membros
Ora, se a taxa existiria para financiar um “fundo” internacional
o birô central, a quem caberá convocar o Congresso (dos Sindi-
para ajudar os pobres, quanto mais especulação financeira existir,
catos), organizou um grande comício dos operários filiados aos
melhor, pois assim o tal “fundo” teria mais recursos! Ou existiria
sindicatos, no teatro Olímpia2?. Os mencheviques defenderam a
outra explicação lógica?
idéia de uma definição marxista clássica e rigorosamente ortodoxa
Mas, além da Taxa Tobin, ATTAC hoje se dedica a outros vôos. dos fins do Partido e dos sindicatos. “A missão do Partido Social-
Propõe “mudar o mundo” através de um “maior controle sobre a Democrata consiste em implantar o regime socialista, suprimindo
globalização”. Mudar o mundo, sem questionar as relações funda- as relações capitalistas; a dos sindicatos consiste em melhorar as
mentais - a propriedade privada dos grandes meios de produção condições de trabalho dentro dos marcos do regime capitalista, a
- é possível? Um outro mundo é possível com a Taxa Tobin con- fim de conseguir condições de venda da força de trabalho vanta-
tribuindo para “controlar a globalização”? josas para os operários”; daí se pretendia Concluir sobre a inde-
Bernard Cassen, presidente do ATTAC-França e diretor do pendência dos sindicatos em relação ao Partido e a necessidade de
jornal “Le Monde Diplomatique” (cujo acionista majoritário é o agrupar neles ‘todos os operários de cada profissão’”3?.
grupo empresarial “Le Monde”), declarou no congresso que con- Os bolcheviques demonstraram que, atualmente, a separação
stituiu ATTAC-Alemanha (19 a 21 de outubro de 2001) que: “O entre a política e o movimento sindical não pode ser estabelec-
presidente Bush deu passos em direção às proposições de AT- ida de modo rigoroso, e pôr isso chegavam à conclusão de que
TAC depois do 11 de setembro de 2001. É claro que resta um “deve haver uma estreita união entre o Partido Social-Democrata
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formar dentro dos sindicatos células estreitamente unidas), e que longo caminho a percorrer. Mas é preciso constatar que (...) o Sr.
é preciso fundar sindicatos ilegais, uma vez que não são possíveis Bush agora está contra os paraísos fiscais. Registramos este fato.
os legais. Bush se aproximou de nossas posições sobre o papel do Estado,
Sem dúvida, o Congresso de Stuttgart influiu poderosamente investindo 120 bilhões de dólares na economia (...) Ele retoma
para essa aproximação de ambas as frações de nosso Partido na nossas posições sobre a anulação da dívida, o que estão fazendo,
questão relativa ao caráter do trabalho a ser realizado nos sindica- mesmo que por suas próprias razões. Eles acabam de anular a
tos. Como assinalou Kautsky em seu informe diante dos operários dívida do Paquistão. O que prova que é possível anular a dívida”.
de Leipzig, a resolução do Congresso de Stuttgart põe termo ao Então, Bush, no mesmo momento que faz a guerra, se aproxi-
relacionamento da neutralidade como princípio. O alto grau de ma das posições de ATTAC?
desenvolvimento das contradições de classe, seu aguçamento nos
últimos tempos em todos os países, a experiência de muitos anos “UM MUNDO SEM GUERRA É POSSÍVEL”
na Alemanha – onde a política de neutralidade acentuou o oportun-
Com este título uma Conferência especial foi introduzida na
ismo nos sindicatos, sem impedir de maneira alguma que surgissem
programação do FSM deste ano. Segundo a proposta, esta con-
sindicatos cristãos e liberais – (a ampliação da esfera particular da
ferência “pretende integrar representações sociais e/ou institu-
luta proletária que exige uma ação uma ação conjugada e unanime,
cionais das áreas de conflitos bélicos e Prêmios Nobel da Paz
tanto dos sindicatos como do partido político), (greve de massas e
num esforço conjunto de reflexão sobre a natureza das guerras e
insurreição armada na revolução russa, como protótipo das formas
a identificação de possibilidades capazes de orientar a elaboração
prováveis da revolução proletária no Ocidente), tudo isto privou
de planos de paz”. As seguintes “áreas” serão abordadas: Pales-
definitivamente de base a teoria da neutralidade.
tina, Cachemira, País Basco, Colômbia e Chiapas.
Entre os partidos proletários não parece que a questão da neu-
Curioso, os bombardeios no Afeganistão não fazem parte da
tralidade já possa suscitar grandes disputas. O mesmo não ocorre
pauta! Como se a “guerra total e ilimitada” anunciada por Bush,
entre os partidos não proletários quase-socialistas, como o de
que já tem em mira outros países (Iraque, Somália) não estivesse
nossos socialistas-revolucionários, que na realidade, representam
na ordem do dia!
a extrema esquerda do partido revolucionário-burguês dos in-
telectuais e dos camponeses avançados. A Palestina, que hoje vive uma situação dramática, com o Es-
tado de Israel atacando em todas as frentes numa guerra aberta,
É muitíssimo significativo que, depois do Congresso de Stutt-
ela sim será discutida, com o objetivo de “orientar a elaboração
gart, somente os socialistas-reolucionários e Plekhânov tenha de-
de planos de paz”.
fendido em nosso país a idéia da neutralidade. E defenderam-na
com bem pouca sorte. Mas, qual é a origem imediata da situação atual na Palestina? Ela
está nos Acordos de Oslo, patrocinados pelos EUA (Clinton, na
No último número (de 8 de dezembro de 1907) de Znamia
época) e legitimados pela ONU como um “plano de paz”. Acor-
Trudá, órgão central do partido do socialistas-revolucionários, en-
dos que criaram um pseudo “estado” palestino (a Autoridade Pal-
66 47
estina, cujos prédios são hoje bombardeados) formado por ilhas
de minúsculos territórios cercados pelo Estado de Israel. Por falar A NEUTRALIDADE DOS
em “Prêmios Nobel da Paz”, foram os Acordos de Oslo que ren-
deram esse prêmio para Arafat e para o chefe de Estado de Israel
SINDICATOS
na época (Shimon Peres). Alías, o secretário geral da ONU, Kofi 19 DE FEVEREIRO DE 1908
Annan, também foi agraciado com este prêmio, talvez em “hom-
enagem” ao papel que desempenhou no genocídio de Ruanda na Vladimir I. Lênin
África, pelo embargo que a ONU mantém no Iraque ou pela sua
cobertura aos bombardeios da OTAN na ex-Iugoslávia! Publicamos no número anterior de Proletari a resolução do
Perguntamos, negar o direito, como nega a ONU, ao povo pal- Comitê Central (CC) sobre os sindicatos, Nash Viek 54, ao infor-
estino de retornar à terra de onde foi expulso e nela constituir um mar os leitores a respeito, acrescentava que ela havia sido apro-
Estado democrático sobre todo o território histórico da Palestina, vada no CC pôr unanimidade, pois os mencheviques votaram a
seria uma saída para a paz? favor, em vista das concessões feitas em comparação com o pro-
jeto bolchevique inicial. Se essa informação é exata (Nash Viek, já
O CONTO DA “DEMOCRACIA PARTICIPATIVA” desaparecido, destacava-se habitualmente pôr estar perfeitamente
E DO ORÇAMENTO PARTICIPATIVO inteirado de tudo quanto se relacionava com o menchevismo),
O Banco Mundial criou um departamento internacional en- resta-nos apenas saudar de todo o coração o grande passo dado
carregado de aplicar a “democracia participativa” em 26 países. para a unificação do trabalho social-democrata num terreno tão
Ele também traduziu, publicou e distribui o livro “O Orçamento importante como o dos sindicatos. As concessões a que Nash Viek
Participativo: a experiência de Porto Alegre” de Tarso Genro e se referia, são totalmente insignificantes e não modificam em nada
Ubiratã de Souza. Propaganda desinteressada do Banco Mundial? os princípios fundamentais do projeto bolchevique. Publicado,
Ou, ao contrário, a “democracia participativa”, o “Orçamento certamente, no Nº 17 de Proletari, de 20 de outubro de 1907, ao
Participativo” (OP), se encaixam na estratégia citada acima de mesmo tempo em que um longo artigo com a explicação de mo-
“canalizar energias para evitar o confronto”? tivos, intitulado: Os Sindicatos e o Partido Social-Democrata.
Todos os documentos saídos do 1º FSM de Porto Alegre elo- Pôr conseguinte, todo nosso Partido reconheceu agora que
giam as avançadas experiências de “democracia participativa” que se deve trabalhar dentro dos sindicatos, não com o espírito de
existiriam na capital gaúcha. Esta 2ª edição continua na mesma neutralidade desses, mas com o espírito da mais estreita aproxi-
linha. Dentre as Conferências especiais previstas há uma intitulada mação possível entre os sindicatos e o Partido Social-Democrata.
“Orçamento Participativo Mundial” (nem mais, nem menos!), or- Reconheceu-se também que (o caráter político dos sindicatos
ganizada pelo Governo do RS “em parceria com movimentos”. deve ser alcançado, exclusivamente, através do trabalho dos so-
cial-democratas no seio deles, que os social-democratas devem
Mas como funciona o OP na realidade? Na voz insuspeita de
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fortalecendo suas próprias fileiras etc. E bem pode acontecer de, seu coordenador na cidade de São Paulo, como “um filtro para as
em seis meses ou em um ou dois anos, os comunistas se verem demandas populares”!
obrigados a repetir sua proposta de fusão das confederações sin- De fato, uma parcela do orçamento municipal (no caso de Porto
dicais, e colocar os reformistas numa posição mais difícil que da Alegre, cerca de 17%) é encaminhada para a discussão em Assem-
primeira vez. bléias de representantes de entidades populares (os conselheiros
A verdadeira política bolchevique deve ter precisamente este do OP) , para que estes definam as prioridades a serem atendidas.
caráter de tomar a ofensiva e ser ao mesmo tempo flexível e firme. Como os recursos são limitados, uns têm que disputar com out-
É a única forma de preservar o movimento do desgaste, de livrá- ros para onde vão as verbas que sobram para o OP (depois das
lo de formações parasitas e de acelerar a evolução da classe op- dívidas com a União e outras despesas já terem sido pagas). Os
erária para a revolução. conselheiros são obrigados a escolher qual reivindicação não será
atendida: se a criação de uma escola ou de um posto de saúde,
A lição proposta anteriormente não tem sentido e nem pode
se a pavimentação de ruas ou creches para seus filhos, etc. As-
progredir se a iniciativa não parte da CGTU e do Partido Comu-
sim a responsabilidade pelo não atendimento das reivindicações é
nista. A tarefa da Liga não consiste naturalmente em lançar inde-
jogada...para os próprios participantes do OP!
pendentemente a bandeira do congresso de unificação, enfrentan-
do tanto a CGTU como a CGT. A tarefa da liga é empurrar o Quem participa do OP? Ora, a “sociedade civil”! Numa assem-
partido Comunista oficial e a CGTU para uma política, estimula- bléia de OP, no município gaúcho de Camacuã, uma empreiteira
los a concretizar no momento propício (e no futuro haverá mui- mobilizou para a assembléia do OP e ganhou com cerca de 70%
tos) uma ofensiva para a fusão das organizações sindicais. dos votos a “prioridade” de pavimentar uma rodovia, em detri-
mento de todas as outras reivindicações!
Para realizar suas tarefas com o Partido Comunista, a Liga deve
(e este é seu primeiro dever) alinhar suas próprias fileiras no cam- Esta é “uma forma inovadora de democracia”? Ou, ao con-
po do movimento sindical. É uma tarefa que não pode ser poster- trário, uma armadilha que busca atrelar as associações e movi-
gada. Dever ser cumprida e o será. mentos populares ao governo local, responsabilizando-os pelas
“escolhas” que prejudicam outros movimentos populares e as-
sociações?
Que concepção de sociedade traz o OP? O de uma sociedade
sem conflitos, sem contradições, baseada no “consenso”. Não se-
ria isso o contrário da democracia, que exige o reconhecimento
de que existem interesses contraditórios numa sociedade de class-
es, logo o direito à organização independente dos explorados e
oprimidos diante do Estado e dos exploradores?
Não faltam vozes que dizem que os sindicatos “devem aprender
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a governar” entrando em tais fóruns “participativos”. Mas, o que Não pedimos mais e de nossa parte não prometemos nada mais.
seria, por exemplo, a participação de um sindicato de funcionários Suponhamos que o Partido Comunista, mesmo que não imedi-
públicos no OP? O delegado do sindicato defenderia aumento de atamente, siga nosso conselho. Como atuaria o seu comitê cen-
salários como prioridade, mas o da associação de moradores quer tral? Em primeiro lugar, deveria preparar cuidadosamente o plano
luz no seu bairro. Ao invés de dirigir suas reivindicações ao poder da campanha do partido, para discuti-lo nas frações sindicais ba-
público e se mobilizar para conquistá-las, um será jogado contra seado nas condições locais, de modo que a bandeira da unidade
o outro nas assembléias do OP. Ou não? possa ser lançada ao mesmo tempo de cima a baixo. Logo após
uma cuidadosa preparação e elaboração, e de haver eliminado to-
COMPANHEIROS E COMPANHEIRAS das as dúvidas e mal-entendidos dentro de suas próprias fileiras,
Nós, que assinamos esta Carta Aberta, participaremos da a direção da CGTU deveria dirigir-se à direção da confederação
Plenária sindical e popular que a CUT realiza em Porto Alegre reformista com propostas concretas: criar uma comissão paritária
no dia 1º de fevereiro para discutir a preparação da Greve Geral para a preparação – num prazo, por exemplo, de dois meses – do
para março. Mas não estaremos nos painéis, mesas e conferências congresso de unificação sindical, ao qual todas as organizações do
oficiais do Fórum Social Mundial. país devem ter acesso. Simultaneamente as organizações locais da
CGTU se dirigem às organizações locais da CGT com a mesma
Não estaremos porque estamos convencidos que a defesa das
proposta, formulada precisa e concretamente.
organizações que os trabalhadores construíram para lutar contra a
exploração capitalista é contraditória com a política da “sociedade O Partido Comunista deveria realizar uma grande agitação no
civil” que dissolve as fronteiras de classe, é contraditória com a país apoiando e explicando a iniciativa da CGTU. Por um certo
política de “dar face humana à globalização”, que, como sabemos, tempo deve-se concentrar a atenção de amplos setores operários,
não é um fenômeno da natureza, mas a globalização capitalista principalmente os da CGT, na simples idéia de que os comunistas
que destrói nossos empregos, salários e direitos, que destrói as propõem conseguir imediatamente a unidade das organizações
nações, a democracia e a soberania dos povos. sindicais. Qualquer que seja a atitude dos reformistas, quaisquer
que sejam as artimanhas a que recorram, os comunistas sairão
Nós, que afirmamos a defesa dos sindicatos como organismos
beneficiados dessa campanha, ainda que nessa primeira tentativa
de luta da classe trabalhadora, negamos qualquer
suas propostas não levem senão a uma demonstração de sua ati-
legitimidade e representatividade às ONGs para falar em nome tude.
dos explorados e oprimidos. Não somos donos da verdade,
Durante esse período, a luta em nome da frente única não para
apenas queremos expor nossos pontos de vista - o que faz um minuto. Os comunistas continuam atacando os reformistas
parte da democracia - e o submetemos à apreciação de todos os nas províncias e na metrópole, baseando-se na crescente atividade
companheiros e companheiras. dos operários, renovando suas propostas de ações combativas ba-
Podem contar conosco nos combates contra a Guerra e a Ex- seadas na política de frente única, desmascarando os reformistas,
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e aplicá-la na prática. Mas isso não nos exime do dever de colocar ploração; em defesa dos direitos sociais e trabalhistas contra a
com toda energia, no momento preciso, a questão da fusão das desregulamentação; em defesa da independência das organizações
confederações (ou das simples federações). sindicais, da democracia e da soberania nacional!
O problema consiste em saber se a direção comunista é capaz Podem contar conosco na luta contra a ALCA, pela retirada do
de efetuar agora uma manobra tão energética. O futuro dirá. Mas Brasil das negociações que visam implementá-la! Podem contar
se Partido Comunista e a direção da CGTU hoje se negam a seg- conosco na luta contra a privatização e em defesa dos serviços
uir o conselho da Liga (o que é mais provável), pode muito bem públicos! Podem contar conosco na preparação da Greve Geral
acontecer que sejam obrigados a seguir amanhã. Não é necessário para barrar a flexibilização e destruição dos direitos trabalhistas,
acrescentar que não fazemos fetiche da unidade sindical. Não para impor uma derrota ao governo FHC-FMI!
preterimos nada que signifique luta para quando se consiga a uni- Saudações militantes
dade. Para nós não é uma panacéia mas uma lição sobre coisas 2 de janeiro de 2002
importantes e decisivas que deve ser ensinada aos operários que a
esqueceram ou que não conhecem o passado. Julio Turra, executiva nacional da CUT;
Certamente para participar no Congresso de unificação não Hélcia de Oliveira, vice-presidente da CUT-DF;
colocaremos nenhuma condição de princípios. Josenildo Vieira, executiva da CUT-PE;
Maurício Rosa, executiva da CUT-SC;
Quando os palacianos da unidade, aos quais não envergonha a Mônica Giovanetti, executiva da CUT-PR;
fraseologia barata, dizem que a confederação unificada deve ba- Gardênia Baima, executiva da CUT-CE;
sear-se no princípio da luta de classes etc., estão fazendo acroba- Walter Matos, executiva da CUT-AM;
cias verbais em proveito dos oportunistas. Como se fosse possível Marília Penna, executiva da CUT-SP;
pedir seriamente a Jouhaux e Cia. que empreendam em nome da Luiz Gomes, executiva da CUT-AL;
unidade dos comunistas, o caminho da luta de classes, caminho Gilmar Gonçalves, executiva da CUT-MS;
Cláudio Santana, executiva da CONDSEF;
que esses cavalheiros abandonaram deliberadamente em nome da Jesualdo Campos, executiva da CONTEE;
unidade da burguesia. E estes mesmos palacianos, estes Monattes, Cely Taffarel, executiva do ANDES-SN;
Ziromskis e Dumoulins, que o entendem por “luta de classes”? Roque Ferreira, diretor da FNITST (ferroviários);
Não, nós estamos prontos para entrar no terreno da unidade sin- Jaqueline Albuquerque, executiva da FENAJUFE;
dical, mas não para “corrigir” (com a ajuda de fórmulas de curan- João Batista Gomes, diretor do SINDSEP (municipais - SP);
deiros) os mercenários do capital, mas para arrancar os operários Luis Bicalho, diretor do SINDSEP-DF (sevidores federais);
Verivaldo Mota, diretor do Sindicato dos Vidreiros-SP;
das influências de seus traidores. As únicas condições que im-
Nilton de Martins, diretor do Sindicato dos Radialistas-SP;
pomos são simplesmente garantias organizativas da democracia Roberto Luque, diretor do SINTSEF-CE (federais);
sindical, em primeiro lugar a liberdade de crítica para a minoria, Pedro Jacobs, 39º Núcleo do CPERS - Porto Alegre - RS;
sempre com a condição de que se submeta à disciplina sindical. Lourival Pereira, Presidente do SAGERS-RS
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usam essa bandeira contra os comunistas. Se a própria CGTU
A QUESTÃO DA propõe uma via para a unidade acertará um golpe mortal aos
UNIDADE SINDICAL monattistas e enfraquecerá os reformistas. Está claro?
Sabemos de antemão que, devido à resistência dos reformistas,
25 de março de 1931
a bandeira da unidade não obterá agora os resultados que seriam
possíveis no caso de uma verdadeira unidade das organizações
Leon Trotsky sindicais. Mas, sem dúvida, conseguirá resultados, ainda que limi-
tados, sempre que os comunistas sigam uma política correta. As
A questão das organizações operárias não é passível de uma grandes massas operárias verão quem está realmente pela unidade
solução simples, adequada para todas as formas organizativas e e quem está contra, e se convencerão de que os serviços dos pala-
para todas as situações. cianos não são necessários. Não há dúvida de que os monattistas
Com relação ao partido, a questão se resolve de maneira cat- terminarão reduzidos a nada, a CGTU fortalecida e a CGT debili-
egórica. Sua total independência é a condição elementar para a tada e mais instável.
ação revolucionária. Mas este princípio não dá, de antemão, uma Com as coisas colocadas assim, isso não parece mais uma
resposta pré-fabricada para todos os casos: quando e sob que manobra do que a intenção de conseguir uma unidade efetiva?
condições devem-se produzir um rompimento ou, por outro Essa objeção não nos assusta. Essa é a forma como os reformistas
lado, uma unificação com uma corrente próxima? Essas questões caracterizam nossa política de frente única: como eles não querem
se resolvem em cada caso com base numa análise concreta das se entregar declaram que nosso objetivo é fazer manobras.
tendências e das posições políticas. O critério principal pelo qual Seria totalmente errôneo fazer, de antemão, diferenças entre a
se orientar continua sendo a necessidade de que a vanguarda do política de frente única e a de fusão das organizações. Na medida
proletariado organizado, o partido, preserve sua total independ- em que os comunistas mantenham a total independência de seu
ência e autonomia baseado em um claro programa de ação. partido, de sua fração nos sindicatos, de toda sua política, a fusão
Mas justamente essa solução para o assunto, no que diz respeito das confederações não é mais do que uma forma da política de
ao partido, geralmente admite e, ainda mais, torna indispensável frente única. Uma forma mais ampla. Ao rejeitar nossa proposta
adotar uma atitude muito diferente com relação ao problema da os reformistas transformaram-na em uma “manobra”. Mas uma
unidade de outras organizações de massas da classe operária: sin- “manobra” legítima e indispensável de nossa parte: com mano-
dicatos, cooperativas, sovietes. bras assim se educa classe operária.
Cada uma destas organizações tem suas próprias tarefas e mé- O Comitê Executivo da Liga Comunista repetimos, tem toda
todos de trabalho, que são independentes dentro de certos lim- razão quando insiste em que a unidade de ação não pode se dar até
ites. Para o Partido Comunista todas essas organizações são, so- que se consiga a unificação das organizações sindicais. Tal como
bretudo, um campo propício para a organização revolucionária foi feito até agora, é necessário desenvolver essa idéia, explicá-la
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Para um marxista que pensa é bastante evidente que uma das de amplos setores operários e para o recrutamento dos operários
razões que contribuíram para os monstruosos erros da direção mais avançados. Quanto mais ampla abarca uma determinada or-
da CGTU provém da situação dada. Gente como Monmousseau, ganização, maiores são as possibilidades que oferece à vanguarda
Semard e outros, sem preparo teórico nem experiência revolu- revolucionária. É por isso que, geralmente, não é a ala comunista
cionária, autoproclamaram-se imediatamente “donos” de uma mas sim a reformista que toma a iniciativa de dividir as organiza-
organização independente e tiveram, portanto a possibilidade de ções de massa.
experimentá-la sob as ordens de Losovski, Manuilski e Cia. É in- Basta comparar a conduta dos bolcheviques em 1917 com a
dubitável que se os reformistas não tivessem provocado num pri- dos sindicatos ingleses nos últimos anos. Os bolcheviques não
meiro momento a ruptura da Confederação, Monmousseau e Cia. apenas permaneceram nos mesmos sindicatos com os menche-
teriam de contar efetivamente com as massas. Apenas esse fato viques, mas em alguns toleraram uma direção menchevique mes-
disciplinaria seu aventureirismo burocrático. Por isso as vantagens mo depois da Revolução de Outubro, ainda que os bolcheviques
da unidade seriam bem maiores que as desvantagens. Se a ala rev- tivessem uma esmagadora maioria nos sovietes. Por outro lado,
olucionária permanecesse um ou dois anos em minoria dentro os sindicatos britânicos por iniciativa dos trabalhistas, não apenas
da confederação unificada que reunisse cerca de um milhão de afastaram os comunistas do Partido Trabalhista, mas também,
operários, esses dois anos seriam sem dúvida muito mais frutífer- quando possível, dos sindicatos.
os, para a educação não apenas dos sindicalistas comunistas mas Na França a divisão dos sindicatos também foi fruto da inicia-
de todo o partido, do que cinco anos de ziguezagues “independ- tiva dos reformistas, e não é por acaso que a organização sindical
entes” numa CGTU cada vez mais frágil. revolucionária, obrigada a atuar de forma independente, adota o
São os reformistas, e não nós, que devem temer a unidade sin- nome de unitária.
dical. Se aceitarem um congresso unificado (não em palavras mas Então, exigimos que os comunistas abandonem agora as fileiras
de fato), estarão dadas as condições para tirar o movimento sin- da CGT? Absolutamente. Ao contrário, devemos fortalecer a ala
dical francês do seu beco sem saída. Precisamente por isso os revolucionária dentro da confederação de Jouhaux (CGT). Com
reformistas não aceitarão. isso demonstramos que para nós a divisão da organização sindi-
As condições da crise estão criando grandes dificuldades aos cal não é de forma nenhuma uma questão de princípios. Todas as
reformistas, principalmente no campo sindical. Por isso lhes é tão objeções ultra-esquerdistas prévias que se podem formular contra
imprescindível cobrir o flanco esquerdo, e os integrantes pala- a unidade sindical se aplicam em primeiro lugar na participação
cianos da unidade estão-se oferecendo como escudo. dos comunistas na CGT. Não obstante, todo o revolucionário
Agora uma das tarefas mais importantes e indispensáveis é des- que não tenha perdido contato com a realidade deve reconhecer
mascarar o trabalho divisionista dos reformistas e o parasitismo que a criação das frações comunistas nos sindicatos reformistas é
dos monattistas. A bandeira do congresso de unificação contribui uma tarefa de grande importância. Uma das tarefas dessas frações
muito para essa tarefa. Quando os monattistas falam de unidade, deve ser a defesa do CGTU ante os membros dos sindicatos re-
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formistas. Isso só será possível mostrando que os comunistas não dizer que “nós” permitiremos aos operários que voltem a entrar
querem dividir os sindicatos mas que, ao contrário, estão dispos- em nossas organizações. O que diz sobre isso a Confederação
tos a todo o momento a restabelecer a unidade sindical. revolucionária? “Não é atoa que nos chamamos Confederação
Se acreditasse por um instante sequer que o dever de contrapor unitária. Estamos prontos para realizar hoje mesmo a unificação
uma política revolucionária à dos reformistas impões aos comuni- das organizações sindicais. Mas para consegui-lo os operários
stas a divisão dos sindicatos, isto não se limitaria somente à França: não precisam de integrantes palacianos que não tem o respaldo
seria uma exigência geral que os comunistas rompessem, sem le- de nenhuma organização sindical e que se alimentam da divisão
var em consideração a correlação de forças, com os sindicatos como as bactérias de uma ferida infectada. Propomos que se pre-
reformistas e formassem seus próprios sindicatos na Alemanha, pare e se especifique o prazo para realização de um congresso de
na Inglaterra, nos Estados Unidos etc. Em alguns países os par- fusão baseado na democracia sindical”.
tidos comunistas adotaram concretamente essa linha. Há casos Essa forma de colocar a questão tirará imediatamente a base
específicos em que os reformistas não deixam realmente outra de sustentação dos monattistas que é um grupo político total-
possibilidade. Em outros, os comunistas cometem evidentemente mente estéril mas que pode semear muita confusão nas fileiras do
um erro ao responder às provocações reformistas. Mas até agora, proletariado. Não nos custará muito caro à liquidação do grupo
nunca e em lugar nenhum os comunistas provocaram um divisão de palaciano? Poder-se-ia objetar de os reformistas aceitarem um
por não admitir de antemão o trabalho junto aos reformistas nas congresso de unificação os comunistas poderiam ficar em mino-
organizações de massas proletárias. ria e a CGTU teria de ceder espaço a CGT.
Sem nos determos nas cooperativas - experiências que não Semelhante colocação só pode ser convincente para um buro-
acrescentam nada ao que já foi dito -, tomaremos como exem- crata sindical de esquerda que luta por sua “independência” per-
plo os sovietes. Estes surgem no momento mais revolucionários, dendo de vista as tarefas e as perspectivas do conjunto do movi-
quando os problemas se colocam com máxima agudeza. É possível mento operário. A unidade das duas organizações sindicais, ainda
imaginar, sequer por um momento, a criação de sovietes comuni- quando a ala revolucionária permanece em minoria por algum
stas em contra peso aos sovietes social-democratas? Seria liquidar tempo, logo demonstraria ser favorável ao comunismo. A unifi-
a idéia liquidar a própria idéia de sovietes. No início de 1917 os cação das confederações acarretaria um grande fluxo de novos
bolcheviques eram uma minoria insignificante dentro dos sovi- membros. Com isso a influência da crise refletir-se-ia mais pro-
etes. Durante meses (e numa etapa em que meses valiam por anos, funda e decisivamente nos sindicatos. Aproveitando essa nova
senão por décadas) toleraram uma maioria conciliadora nos sovi- onda, a ala esquerda poderia começar uma batalha decisiva para
etes, inclusive quando já representavam uma esmagadora maioria conquistar a confederação unitária. Somente os sectários ou os
no comitê de fábrica. Finalmente, mesmo depois da tomada de funcionários podem preferir uma maioria segura numa confeder-
poder, toleravam os mencheviques dentro dos sovietes enquanto ação sindical pequena e isolada em vez de um trabalho de oposição
eles representassem um setor da classe operária. Apenas quando numa confederação sindical ampla e realmente massiva; nunca os
revolucionários proletários.
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duas, dez vezes se necessário – que está sempre disposto a ajudá- os mencheviques se comprometeram e se isolaram totalmente,
los a reconstruir a unidade das organizações sindicais. E neste as- transformando-se numa camarilha, os sovietes os expulsaram.
pecto somos fiéis aos princípios essenciais da estratégia marxista: Na Espanha a bandeira dos sovietes pode estar na ordem do
a combinação da luta por reformas com a luta pela revolução. dia em um futuro próximo. A própria criação desses sovietes
Qual é a atitude das duas confederações para com a unidade? (conselhos), supondo que haja uma iniciativa energética e forte
Pode parecer idêntica para o conjunto dos operários. Na verdade dos comunistas, não se pode conceber senão mediante um acordo
o setor burocrático das duas organizações declarou que a unifi- técnico-organizativo com os sindicatos e com socialistas sobre o
cação só pode ser concebida “a partir das bases” e baseada nos método e os intervalos para eleição dos representantes operários.
princípios de cada uma delas. Afirmar, nestas condições, que é inadmissível trabalhar com os
Apoiando-se na bandeira da unidade pela base, que emprestou reformistas nas organizações de massas seria umas das formas
da CGTU, a confederação reformista explora a pouca memória da mais desastrosas de sectarismo.
classe operária e a ignorância da nova geração que não conhece a Como conciliar, então, uma atitude assim de nossa parte para
ação divisionista da Jouhaux, Dumoulin e Cia. Ao mesmo tempo com as organizações proletárias dirigidas pelos reformistas com
os monattistas ajudam Jouhaux ao substituir a atividade combati- nossa caracterização do reformismo como ala esquerda da bur-
va do movimento operário pela bandeira isolada da unidade sindi- guesia imperialista? Isso não é uma contradição formal, mas di-
cal. Como honestos integrantes palacianos, dirigem todos os seus alética, ou seja, que surge da própria dinâmica da luta de classes.
esforços contra a CGTU para arrancar-lhe o maior número pos- Uma parcela considerável da classe operária (em muitos países a
sível de sindicatos, nucleá-los ao seu redor e então negociar com maioria) rejeita nossa caracterização do reformismo. Em outros
os reformistas em pé de igualdade. nem ao menos se colocou essa questão. O problema consiste pre-
Pelo que posso julgar, pelo material que tenho, Vassart se cisamente em levar as massas a conclusões revolucionárias base-
pronunciou favoravelmente a que os próprios comunistas pro- adas em nossas experiências em comum com elas.
ponham a bandeira de um congresso unificador das duas con- Dizemos aos operários não comunistas ou anticomunistas:
federações sindicais. Sua proposta foi recusada categoricamente. “Hoje, no entanto, confiais nos dirigentes reformistas que nós
Quanto ao autor, acusaram-no de aderir às posições de Monatte. consideramos traidores. Não podemos nem queremos impor
Não posso me pronunciar sobre esta discussão por falta de dados, nosso ponto de vista pela força. Queremos vos convencer. Tente-
mas considero que os comunistas franceses não têm nenhum mo- mos então lutar juntos e examinaremos os métodos e resultados
tivo para abandonar a proposta de congresso de unificação. Pelo dessas lutas.” Isso que dizer: total liberdade para formar grupos
contrário. dentro dos sindicatos unificados em que a disciplina sindical ex-
Os monattistas dizem: “Ambos são fracionistas. Somos os ista para todos.
únicos que estamos pela unidade. Operários, sigam-nos”. Os re- Não se pode propor nenhuma outra posição de princípio.
formistas replicam: “nós estamos pela unidade pela base”. Quer Atualmente no Comitê Executivo da Liga Comunista (Oposição
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de Esquerda na França) está colocando, corretamente, em pri- caso não há dúvida de que somente desse modo a CGTU poderá
meiro lugar a questão da frente única. É a única forma de impedir mitigar as conseqüências da divisão da massas em duas organiza-
que os reformistas, e, sobretudo seus agentes da ala esquerda, os ções sindicais, fazer recair, sobre quem correspondem, a respon-
monattistas, contraponham a bandeira formal de unidade às tare- sabilidade da divisão colocar suas posições de luta.
fas práticas da luta de classes. Vassart, em contraposição à estéril A particularidade da situação francesa reside no fato de que
linha oficial, afirmou a idéia de frente única com as organizações durante muitos anos existiram duas centrais operárias separadas.
sindicais locais. A forma de colocar a questão é correta, no sen- Ante o refluxo do movimento nos últimos anos, acostumaram-se
tido de que em casos de greves locais o que se deve fazer primeiro à divisão. Muitas vezes até ficou esquecida. Certamente se pode
é trabalhar com sindicatos locais e com as correspondentes fed- prever que o revigoramento nas fileiras da classe reatualizará in-
erações. Também é certo que os estratos inferiores dos aparelhos evitavelmente a bandeira da unidade das organizações sindicais.
reformistas são mais sensíveis à pressão dos operários. Mas se- Se se considera que mais de noventa por cento do proletariado
ria errado fazer qualquer tipo de diferença de princípios entre os francês estão fora do sindicato fica evidente que ao acentuar-se
acordos com os oportunistas locais e os que se possam fazer com o ascenso crescerá a pressão dos não organizados. A bandeira da
os seus chefes. Depende das condições que se dêem da força de unidade não é mais que uma das primeiras conseqüências dessa
pressão que exerçam as massas e do caráter das tarefas que este- pressão. Se se leva uma política correta essa pressão atuará em
jam na ordem do dia. favor do Partido Comunista e da CGTU.
Fica claro que para lutar em cada caso específico não vamos Dado que uma política ativa de frente única é o método de
impor como condição indispensável e prévia o acordo com os princípio para o próximo período de estratégia sindical dos comu-
reformistas, local ou centralizado. Não nos guiamos pelos re- nistas franceses, seria um grande erro contrapô-lo à da unidade
formistas mas pelas circunstâncias objetivas e pelo estado de ân- das organizações sindicais.
imo das massas. O mesmo se aplica ao caráter das reivindicações É indubitável que a unidade da classe operária só se pode reali-
que se colocam. Seria fatal comprometermo-nos de antemão a zar-se sobre bases revolucionárias. A política de frente única é um
aceitar a frente única com as condições dos reformistas, ou seja, dos meios para libertar os operários da influência reformista e in-
com base nas reivindicações mínimas. As massas não sairão à luta clusive, em última instância, de avançar para a genuína unidade da
por reivindicações que lhes pareçam fantástica. Mas, por outro classe operária. Devemos explicar constantemente essa verdade
lado, se se limitam às exigências, os operários podem dizer: “Não marxista para os operários de vanguarda. Mas uma perspectiva
vale a pena”. histórica, mesmo correta, não pode substituir a experiência viva
A tarefa não consiste em sempre propor, formalmente, aos das massas. O partido é a vanguarda, mas em sua ação, especial-
reformistas a frente única, ,mas em impor-lhes em cada caso as mente em sua ação sindical, deve ser capaz de voltar-se para a
condições as condições que correspondam o melhor possível à retaguarda.
situação. Isso requer uma estratégia ativa e flexível. Em todo o Devemos demonstrar concretamente aos operários – uma,
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