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Rev. Medicina Desportiva informa, 2014, 5 (6), pp.

15–18

de movimento, realizando desli-


zamentos em consonância com a
movimentação da articulação gleno-
Luxação da articulação
Tema 3
-umeral. Os meios de sustentação
e congruência são constituídos por
acromioclavicular cápsula, dois ligamentos principais
e um disco que pode ou não estar
Dr. Henrique Jones presente. A função primária da AC
Especialista em ortopedia e em medicina desportiva. Comité médico da UEFA. Setúbal.
é manter a relação entre a clavícula
e a escápula nos estadios iniciais
RESUMO / ABSTRACT de elevação do membro superior
A luxação acromioclavicular é uma das lesões mais frequentes no ombro do desportista, e permitir à escápula uma maior
nomeadamente nos desportos de combate, ciclismo e futebol. Nas luxações AC de tipo rotação no tórax nos estadios finais
I e II o tratamento é conservador e nos tipos IV,V e VI o tratamento cirúrgico é regra. A
de elevação.
controvérsia surge no tipo III, embora, na atualidade, seja quase consensual a abordagem
cirúrgica, sobretudo em trabalhadores braçais e desportistas, no sentido de melhor cicatri-
zação ligamentar e o tempo de regresso á atividade desportiva.
Etiopatogenia e classificação
The acromioclavicular dislocation is one of the most frequent shoulder injuries in sports, namely
in combat sports, cycling and soccer. In type I or II injuries the recommended treatment is
Os sistemas de classificação de
conservative. In type IV, V and VI the most recommended treatment is surgical and, despite the
controversy regarding the treatment approach in type III injury, it seems that, in athletes and
Allman e Tossy5 alargados por
young hard workers, the surgery must be the choice in order to have a better healing process and Rockwood em 19986, demonstram a
a faster return to sports. base anatómica da lesão e orien-
tam na conduta de tratamento
PALAVRAS-CHAVE / KEYWORDS apropriado das lesões acromiocla-
Acromioclavicular, luxação, ombro. viculares.
Acromioclavicular joint, dislocation, shoulder.
O mecanismo lesional mais
frequente é o traumatismo direto
(queda sobre o ombro com membro
Introdução Incidência superior em adução)6. Apesar de
menos frequente, o traumatismo
Desde a Grécia Antiga que as luxa- Futebol, râguebi, luta nas várias dis- indireto também poderá originar
ções acromioclaviculares desper- ciplinas, hóquei e ciclismo nas suas luxação AC – traumatismos ascen-
tam interesse no que diz respeito à diversas variantes são as modalida- dentes (queda sobre a mão com
abordagem terapêutica. Hipócrates des mais envolvidas. De acordo com cotovelo em extensão) ou descen-
(400 A.C.) propôs o tratamento com Rockwood2, o sexo masculino tem dentes (força de tração violenta ao
ligaduras compressivas1 e Galen, maior risco (são cinco a dez vezes longo do eixo do membro superior
em 129 D.C., documentou e tratou mais frequentes no género mas- ou queda de um objeto sobre o
a sua própria luxação acromiocla- culino, ocorrendo a maioria na 3ª ombro).
vicular (AC) após a prática de luta década de vida. Em média a para- Rockwood classifica a luxação
greco-romana1. Na atualidade esta gem desportiva varia entre 10 dias AC em 6 tipos, de acordo com a
lesão ocorre principalmente em e 10 semanas nos casos de maior extensão de dano infligido (Figura 1).
doentes jovens no contexto da prá- gravidade. Nestes casos a taxa de · Tipo I: rotura parcial dos liga-
tica desportiva, representando cerca tratamento cirúrgico (reparação/ mentos acromioclaviculares (os
de 40% a 50% de lesões no ombro reconstrução) ronda 71% de acordo ligamentos coracoclaviculares
do jovem atleta. O mecanismo de com o estudo de Pallis, Cameron
lesão é geralmente um trauma e colaboradores3. No estudo de
direto sobre a região súpero-lateral Eduardo Figueiredo e colaborado-
do ombro com o braço junto ao res, em 42 atletas as modalidades
corpo em acidentes com velocí- envolvidas foram bicicross (21,4%),
pedes nas várias modalidades e seguido de futebol e de basquetebol
na prática de outros desportos, (11,9%), jiu jitsu, atletismo e esqui
individuais ou coletivos. O incre- (9,5%), ténis (7,14%), musculação
mento dos desportos de verão e das (4,76%), judo, natação, golfe, voleibol,
atividades desportivas de inverno, motociclismo e remo (2,3%)4.
bem como a precocidade da prática
desportiva nas crianças, tem vindo
a aumentar o número destas lesões Anatomia
neste escalão etário.
A articulação AC une a escápula
à clavícula. É uma articulação Figura 1 – Tipologia da luxação AC de
sinovial plana com 3° de liberdade acordo com classificação de Rockwood

Revista de Medicina Desportiva informaNovembro 2014 · 15


depende do grau Tratamento
de deslocamento
clavicular). Poucas lesões em ortopedia tiveram
tantas e tão diferentes opções de
tratamento como as da articulação
Avaliação clínica e AC. Na realidade, são descritas mais
radiológica de 35 formas de tratamento conser-
A B vador e centenas de tipos de trata-
Figura 2 – A. Luxação AC tipo III; B. Luxação AC tipo IV O exame físico é mento cirúrgico estão referenciados
variável segundo na literatura8.
estão intactos e há estabilidade o tipo de lesão, observando-se desde É geralmente aceite que o tra-
da clavícula); deformidade discreta (nas lesões tamento das luxações dos tipos
· Tipo II: rotura completa dos liga- tipo I e II) a deformidade acentuada I e II é conservador. Os pacientes
mentos acromioclaviculares, com (nas lesões tipo III, IV e V), enquanto respondem bem ao tratamento
rotura parcial dos ligamentos na lesão do tipo VI o ombro apre- sintomático e a suspensão braquial
coracoclaviculares (a articulação senta deformação marcada e carac- pode ser prescrita para conforto.
pode apresentar instabilidade terística. Exercícios de reabilitação começam
ântero-posterior na manobra de Na luxação AC do tipo III, a logo que o paciente tolere e as
stress); ascensão da clavícula em relação infiltrações com anestésico ou
· Tipo III: rotura completa de ao acrómio (instabilidade vertical) corticoides podem ser usadas para
ambos os complexos ligamenta- é redutível por simples pressão de reduzir o desconforto. A maioria dos
res e, por vezes, desinserção do cima para baixo, reaparecendo ao pacientes com lesões do tipo I pode
trapézio e do deltoide da extre- deixar de fazer pressão (mobilidade retomar a sua atividade às 3 sema-
midade distal da clavícula (a arti- em “tecla de piano”) e pode verificar- nas, enquanto nas lesões de tipo II
culação apresenta instabilidade -se instabilidade ântero-posterior da o intervalo de recuperação é entre 2
vertical e horizontal, com deslo- clavícula distal. a 12 semanas. Estas lesões podem,
camento superior da clavícula e Há dor, não só na palpação local, ainda assim, estar associadas a
espaço coracoclavicular aumen- como à mobilização, especialmente incapacidade tardia e a problemas
tado em 25 a 100%); (Figura 2 A) nos movimentos de abdução. O teste crónicos de natureza degenerativa.
· Tipo IV: luxação posterior através de adução cross-arm ajuda a diferen- Estão descritos múltiplos procedi-
do músculo trapézio (desinserção ciar a lesão da acromioclavicular das mentos cirúrgicos para a reparação
dos músculos trapézio e deltoide lesões da glenoumeral. e a estabilização da luxação AC
da clavícula) (Figura 2B) A avaliação radiológica inclui Rx (tipos III, IV, V, e VI). A finalidade
· Tipo V: idêntico ao tipo III, mas com incidências ântero-posterior de qualquer um destes procedi-
com aumento do espaço cora- (Figura 2) e transaxilar. O Rx AP em mentos é a de redução da luxação,
coclavicular entre 100 a 300% stress é controverso. A incidência promoção de uma boa cicatrização
(desinserção do trapézio e do radiográfica AP de Zanca7 é realizada e estabilização da clavícula distal.
deltoide da metade distal da com 10 a 15° de inclinação cefálica e O recurso ao tratamento cirúrgico
clavícula); é o estudo radiológico mais apurado parece ser consensual nas luxações
· Tipo VI: lesão muito rara, com para a visualização da articulação dos tipos IV, V e VI. Nas luxações
luxação inferior da clavícula sob AC e extremidade distal da clavícula. tipo III, o tratamento suscita ainda
o acrómio ou coracoide (a integri- A ressonância magnética é um alguma controvérsia. Alguns autores
dade das inserções do músculo exame importante para avaliar com defendem sempre o método conser-
trapézio e deltoide da extremi- rigor a especificidade ligamentar vador, outros preconizam sempre
dade distal da clavícula e dos lesional ligamentar (Figura 3). a reparação cirúrgica e um terceiro
ligamentos coracoclaviculares grupo só intervém em situações

A B
Figura 3 – A. Rx em AP de luxação AC tipo III; B. RMN – Cortes Figura 4 – Algumas técnicas mais utilizadas: A. Técnica de
coronais, sequência T2 FS mostrando alargamento do espaço Phemister – redução e fixação com fios de Kirshner; B. Sis-
articular, elevação da clavícula em relação ao acrómio e tema Tight Rope.
indefinição dos ligamentos acromioclaviculares com derrame
articular presente e edema peri-articular.

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especiais, como na falência do cirúrgica, tendo como objetivos uma
tratamento conservador, em casos melhor qualidade cicatricial e um
de doentes jovens trabalhadores regresso mais precoce á atividade
braçais ou desportistas. Fixação desportiva.
com fios de Kirshner inicialmente
preconizada por Phemister9, botões
e suturas10, placas em gancho, para- Bibliografia
fusos coracoclaviculares, suturas
metálicas, são algumas das varian- 1. Galatz LM, Hollis Jr RF, Williams Jr GR.
tes utilizadas na cirurgia da luxação Acromioclavicular Joint Injuries. In Bucholz
RW, Court-Brown CM, Heckman JD, Torneta
AC (Figura 4).
P, editors. Rockwood and Green´s Fractures
Atualmente os procedimentos In Adults. Philadelphia: Wolters Kluwer,
artroscópicos, utilizando técnicas Lippincott Williams & Wilkins; 2010. p.
que reduzem o intervalo coracocla- 1210-1242.
vicular através do uso de dois botões 2. Rockwood CA. Injuries to the acromioclavi-
cular joint. In Rockwood CA, Greene (Hrsg)
metálicos interligados por uma
DP, editors. Fractures in Adults. Philadelphia:
sutura de alta resistência, não absor- Lippincott; 1984. p.: 869-872.
vível, começam a ganhar populari- 3. Pallis M, Cameron KL, Svoboda SJ, Owens
dade cada vez mais (Figura 5)11,12. BD. Epidemiology of acromioclavicular
Independentemente das correntes joint injury in young athletes-coraco clavi-
cular em atletas. Am J Sports Med. 2012
de opinião, parece-nos consensual
Sep;40(9):2072-7.
que no caso de desportistas de 4. Eduardo Figueiredo, Bernardo Terra, Carlos
competição a luxação AC tipo III, ou Marczky et al. Avaliação do tratamento cirúr-
de maior gravidade, deverá ter uma gico da luxação acromioclavicular grau III pela
abordagem cirúrgica no sentido de técnica de Weaver-Dunn modificada associada
ao amarrilho coraco-clavicular em atletas, RBV
uma adequada reparação ligamen-
Fev 11 V.68 Especial Ortopedia.
tar e de um regresso mais precoce á 5. 5.Tossy, J.D., Mead, N.C., Sigmond HM.
atividade desportiva. (1963) Acromioclavicular Separations: useful
and practical classification for treatment. Clin
Orthop 28: 111-119.
6. Rockwood, C. A., Williams, G.R., Young DC.
Conclusão
(1998) Disorders of the acromio – clavicular
joint. In The shoulder. 2a edição. Vol. 1. Phila-
A articulação acromioclavicular é, delphia, PA, USA: W.B. Saunders.
na atualidade, uma articulação com 7. Peter Zanca. Shoulder Pain: involvement of
uma incidência lesional elevada face the acromioclavicular joint (analysis of 1000
cases) AJR , July 1971, 112(3).
ao incremento da prática de despor-
8. Bishop, J.Y., Kaeding, C. Treatment of the
tos de contacto e de ciclismo, nas acute traumatic acromioclavicular separation.
suas diferentes variantes. A precoci- Sports Med Arthrosc. 2006 Dec; 14 (4):
dade da prática desportiva faz com 237-245.
que esta lesão comece a aumentar 9. Dallas, B. Phemister. The treatment of dis-
location of the acromioclavicular joint by open
na criança e no adolescente. Se no
reduction and threaded wire fixation. J Bone
caso das lesões mais frequentes e Joint Surg Am, 1942 Jan;24(1):166-168.
menos graves (tipos I e II) o trata- 10. Walz, L., Salzmann, G. M., Fabbro, T., Eich-
mento preferencial é conservador, horn, S., Imhoff, A. B. The anatomic recons-
a partir do tipo III a tendência é truction of acromioclavicular joint dislocations
using 2 TightRope devices: a biomechanical
cada vez mais para a abordagem
study. Am J Sports Med. 2008 Dec; 36 (12):
2398-2406.
11. Meira, Edgar et al. Tratamento artroscópico da
luxação acromioclavicular aguda: Revisão dos
13 primeiros casos. Rev. Port. Ortop. Traum.
2012, 20(4), pp. 415-423.
12. Boileau, P., Old, J., Gastaud, O., Brassart,
N., Roussanne, Y. All-arthroscopic Weaver-
-Dunn-Chuinard procedure with double-
-button fixation for chronic acromioclavicular
joint dislocation. Arthroscopy. 2010 Fev; 26
(2):149-160.

Figura 5 – Artroscopia no trata-


mento da luxação AC: botão metá-
lico na base da coracoide

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