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Do corpus à cognição:

aspectos cognitivos de semântica textual

Doutora Natália São José Sobral Vieira

Escola Superior de Educação de Viseu

RESUMO
A análise computacional de enunciados permite estabelecer e inventariar contiguidades estruturais reveladoras de aspectos
semânticos e cognitivos relevantes em estudos com objectivos situados e específicos.

Estes estudos tornam-se convenientes, no plano da rendibilização do esforço humano perante as necessidades de adquirir e
desenvolver o saber linguístico orientado por objectivos confinados de funcionalidade.

Neste estudo procura-se evidenciar, a partir de corpora fragmentários, a importância da perspectiva cognitiva do tratamento
semântico das línguas naturais como objectos de aprendizagem.

Do corpus à cognição: aspectos cognitivos de semântica textual

O computador constitui, na actualidade, um poderoso recurso no estudo das


línguas para fins específicos: ele permite analisar enunciados, inventariar
contiguidades estruturais relevantes, relacionáveis com as abordagens
cognitivas, permitindo desenvolver, sobretudo a partir do final da década de 70,
as próprias ciências cognitivas, a linguística, a filosofia e as neurociências.

O termo cognitivo reenvia-nos para as ciências ditas cognitivas, domínios de


investigação com desenvolvimentos muito recentes, que se alimentam em
grande medida das conquistas da inteligência artificial.

O computador tem-se revelado, com efeito, capaz de simular as condutas


inteligentes do homem, tais como compreender e conhecer, actividades até há
pouco julgadas intransferíveis.

Relacionando a psicologia cognitiva com a linguística computacional, interessa-


nos, neste momento, o conhecimento sobre as situações e acontecimentos
expressos pelos esquemas humanos.

O conceito de esquema foi utilizado por Piaget para designar um tipo de


estrutura assimiladora do conhecimento.
Bartlett, em 1932, usou-o para explicar as deformações sistemáticas
observadas na reprodução de histórias, portanto, também em actividades
ligadas à psicologia e às línguas.

Nas ciências cognitivas, a noção de esquema foi introduzida para salientar o


papel desempenhado pelos conhecimentos na compreensão, na memorização
e na produção de inferências. Esta noção foi usada por Schank e Abelson
(1977) para descrever os scripts ou organizações de eventos, de acções
finalizadas, cenas da vida quotidiana, tais como as realizadas nos restaurantes,
nos cafés, nos bares, nos supermercados, nos bancos, no consultório do
advogado ou do médico.

Naturalmente que as situações descritas pelos esquemas, tais como café,


restaurante, médico, podem ser representados por conceitos, formando uma
rede semântica. Todavia, o conteúdo cognitivo que deles se tem, quando se
pensa em termos de conceitos, não é o mesmo quando neles se pensa
enquanto esquemas:

- No primeiro caso, não existe qualquer informação sobre o cenário «tomar um


café no café» ou «consultar o médico no consultório»;

- No segundo caso, fica-se na posse de uma informação global sobre os


cenários. Este segundo aspecto levou Corson, (1987) a considerá-los como
blocos de conhecimento, recuperáveis em memória como tais. Por este motivo,
são considerados autónomos, tendo todo o sentido em si mesmos e definindo
as propriedades dos contextos mais frequentes ao serem estabilizados nos
conhecimentos de qualquer sujeito sobre o mundo e as suas situações - os
conhecimentos infra-linguísticos.

A psicologia cognitiva interessa-se pelo conhecimento que o ser humano


possui sobre eventos e cenas do mundo quotidiano, sobre lugares familiares,
sendo referidos três domínios: as histórias, os scripts e as cenas ou cenários.

- As histórias representam esquemas que se lêem, se ouvem ou se vêem.


Estão presentes no imaginário dos sujeitos e muitas vezes remontam a tempos
imemoriais.

- Os scripts representam eventos quotidianos, rotinas do lazer e trabalho diário.

- As cenas, por fim, representam lugares nos quais as rotinas diárias têm lugar.

Estes três tipos de estruturas, desprezadas durante séculos sob o ponto de


vista cognitivo, têm algo em comum, no que se refere à estrutura. É suposto
estarem representados na mente humana por formas esquemáticas de
organização.

Schank e Abelson (1977) usaram o termo script para se referirem a estruturas


de conhecimento estereotipadas. Assim, a estrutura do script café aproxima-se
da de restaurante, ida ao médico, ao advogado, nos aspectos mais sensíveis.
Cada script é concebido como tendo cabeça - o título, podendo este ser
dividido em cenas. Para os referidos autores, o esquema restaurante terá
quatro cenas: entrar, preparar-se para comer, comer, sair.

Cada cena envolve um número variável de acções. Assim, a cena entrar


consiste em o cliente entrar no restaurante, procurar a mesa, decidir onde
sentar-se, ir para a mesa, sentar-se. Preparar-se para comer consiste em
pegar no menu, lê-lo, chamar o empregado e encomendar. Associadas a estas
acções típicas, há igualmente os papéis típicos: do cliente, do empregado, e os
apoios típicos da mesa, cadeiras e menus.

A organização do conhecimento sobre as cenas e lugares possui


características comuns aos esquemas de eventos: a organização é hierárquica
e os esquemas menores estão encaixados nos maiores. Qualquer sujeito não
tem só o esquema de cozinha, quarto, supermercado ou parque mas também
das partes unitárias. Sabemos que há objectos obrigatórios.

Uma sala de jantar contém paredes, janelas, mesas, cadeiras, mas só quando
estas partes estão numa organização em que várias cenas emergem.

As relações, no esquema das cenas, são espaciais, não temporais. Algumas


parecem ser de carácter obrigatório, outras de carácter opcional: a mesa deve
estar assente no chão, as janelas nas paredes, enquanto o bufete pode estar à
esquerda ou à direita da mesa, sem especificação.

Na organização do conhecimento do esquema da cena, Johnson (1976) e


Mandler e Parcker (1976), referidos por Fayol (1985), consideraram existir dois
factores: o primeiro constituído pelo inventário da informação típica,
simbolicamente obrigatória; o segundo pelas informações de relações
espaciais, descrevendo um espaço igualmente típico para dispor a cena.

Quer para os esquemas de eventos, quer para os das cenas, há relações


obrigatórias e relações opcionais. Nos dois casos, umas são mais importantes
do que as outras, e têm diferentes efeitos na compreensão e na memória.

O domínio dos conhecimentos esquemáticos, nomeadamente os dos scripts,


cenas e histórias desenvolveu-se com o estudo das inferências. Cunningham
(1987) distingue inferências textuais, que se baseiam nos textos, de inferências
pragmáticas, que se baseiam nos conhecimentos do sujeito ou nos seus
esquemas.

Uma das características dos esquemas é que os mesmos são objectos


complexos, constituídos por objectos elementares (os conceitos, as acções, as
relações) ou ainda por esquemas mais gerais, que Schank (1982) designou por
M.O.P - memory organization packet (pacotes organizados em memória).
Assim, o esquema de evento ou script «ida ao médico» poderá conter um
esquema mais geral «consulta», este comportando marcação de vez,
deslocação ao consultório, espera na sala, encontro com o médico,
pagamento, saída.
Outra característica é que os esquemas são estruturas gerais e abstractas, que
se aplicam a situações concretas diferentes. Por isso, contêm um certo número
de variáveis, lugares vazios, lacunas destinados a ser preenchidos por
elementos de situações específicas pertencentes à situação mais geral
representada pelo esquema.

Um outro aspecto a considerar é que os esquemas exprimem conhecimentos


que não estão ligados a uma utilização particular: podem servir diferentes
utilizações, tais como compreender, realizar, fazer inferências.

Os esquemas podem ser utilizados para compreender, para construir uma


representação - sendo esta a questão-chave da psicologia cognitiva.

Se considerarmos a construção da representação pela particularização do


esquema, sabemos que a mesma consiste em seleccioná-lo, substituir as
variáveis do mesmo pelas informações específicas fornecidas sobre a situação.
É um processo guiado pelos conhecimentos em memória, e cujo resultado é
um esquema particularizado.

Para Richard (1990), o esquema tem duas funções possíveis: a de inferir, de


interpretar os elementos do texto, supondo que se possuem já as informações
que permitem seleccionar o esquema adequado e a de permitir integrar um
certo número de elementos de informação numa significação mais geral que os
resuma - a generalização.

No primeiro caso, interpretar os elementos dum texto significa dar-lhes um


lugar no esquema. Assim, se numa passagem narrativa, por exemplo, surgir
uma passagem com elementos como: marcação de consulta, chegada à hora
marcada, convite para entrar, existência de pessoas sentadas lendo revistas,
provavelmente, nessa passagem e em situações equivalentes, o esquema
Encontro profissional é activado e permite a qualquer sujeito, sem outros
detalhes textuais, compreender que a senhora que convidou para entrar era a
secretária, que as pessoas sentadas eram os clientes, permitindo também
inferir as informações em falta: haveria uma sala de espera, um cliente teria
sido atendido, teria certamente saído. Verifica-se, pois, que o enunciado não
precisa de conter explicitamente todas as informações a que o leitor tem
acesso, porque este não experimenta dificuldades na resolução do problema. É
que uma vez identificado o esquema, este permite inferir as informações em
falta.

A ausência de informações explícitas nos textos e a observação da capacidade


manifestada pelos sujeitos para resolverem as dificuldades, levou os
investigadores a colocarem a hipótese de que os sujeitos efectuariam
inferências à medida que tratam a informação nova, quando pretendem
compreender.

Estas inferências assentariam, em grande parte, nos conhecimentos que os


sujeitos possuem na memória a longo prazo, relativamente ao mundo
quotidiano, nos conhecimentos infra-linguísticos.
Se nos reportarmos, agora, à segunda das funções acima referidas, obtemos
uma significação mais geral, uma generalização. Assim, se lermos num
qualquer texto, que a Maria chegou à estação de caminho de ferro, comprou
um bilhete, consultou o horário, poderemos resumir as informações através da
frase: Maria vai viajar.

Estas funções do esquema levaram Abbott e Black (1985) a concluir que nos
scripts se pode ir do esquema às suas componentes, do geral ao particular, do
particular ao geral, podendo ocorrer os dois tipos de inferências.

Há sobre os esquemas duas questões julgadas importantes: a primeira diz


respeito ao modo como são seleccionados; a segunda aos conhecimentos que
podem ser introduzidos na representação.

Quanto à primeira, é suposto os esquemas poderem ser seleccionados


directamente a partir dum nome que os etiqueta, dum título ou expressão que
permite o acesso a estes.

A segunda questão respeita aos conhecimentos do esquema, que podem ser


introduzidos na representação.

Experiências efectuadas por Abott e Black (1985), levando os sujeitos a


reconhecer nos textos as acções pertencentes e as não pertencentes ao
esquema, conduziram os investigadores a concluir que a informação do
esquema é integrada na representação, mesmo quando explicitamente ausente
do texto. Outros investigadores, levando a efeito outras experiências com o
mesmo objectivo, concluíram igualmente que um esquema de situação seria
um bloco de conhecimento activado simultaneamente.

Passamos agora a referir uma breve experiência por nós realizada, propondo a
um número reduzido de sujeitos adultos que nos relatassem uma das suas idas
ao café. Dos trabalhos realizados seleccionámos 15 enunciados, verificando
que a frase, que constituiu a proposta, funcionou como título, como cabeça,
activando, em bloco, o esquema café: os eventos obrigatórios do esquema, as
cenas típicas, bem como os auxiliares obrigatórios das mesmas, que estão
presentes na maioria dos enunciados. A quase totalidade dos sujeitos referiu-
se às cenas típicas: entrar, sentar-se, tomar café e sair.

Nem todos pagaram, mas todos os sujeitos enunciados por eu ou por nós
procuraram uma mesa para se sentar, chamaram ou esperaram a chegada do
empregado. Verificou-se haver enunciados reduzidos às cenas típicas. Assim,
num deles lê-se: Sentei-me no café; Chamei o empregado de mesa; Pedi-lhe
que me trouxesse um café e um copo de água; Paguei a conta e saí.

Num outro lê-se: estávamos no H2O sentados numa mesa à espera que o
empregado nos servisse; A Teresa (a cliente) chamou o empregado e pediu um
guaraná; Pagou a bebida com uma nota de mil escudos; O empregado deu-lhe
o troco; A Teresa foi-se embora.
O esquema café permitiu também activar outros esquemas, como os de
Leitura, Encontro, pois sabe-se que o café é um lugar onde se tomam bebidas,
se comem bolos, se compram gelados, mas é igualmente um lugar de
distracção, de leitura, de convívio, de discussão de problemas.

Os dois esquemas referidos foram activados em alguns dos sujeitos. Num dos
enunciados lê-se: Ao canto, numa mesa, uma moça sozinha lia um livro com
capa amarela; Perguntei-lhe se me podia sentar à sua mesa; Começámos a
falar. Naturalmente que estas cenas não são obrigatórias no script café, são
facultativas e, por isso mesmo, mais dificilmente tratadas em memória.

No caso da aprendizagem de uma língua específica, a activação dos


conhecimentos dos alunos adquiridos no contacto com os livros pode facilitar a
aprendizagem, mas esta poderá ser facilitada, se forem activados os
conhecimentos adquiridos no contacto com o quotidiano.

É que, como salientou Cunningham (1987), as inferências podem ser textuais e


pragmáticas. E falar em inferências é pensar que os sujeitos vão além da
compreensão literal, vão além do que está explícito na superfície textual. É
necessário que o professor considere as duas categorias de inferências: as
baseadas no texto - inferências lógicas e as baseadas nos esquemas do sujeito
- inferências pragmáticas. Dado que as inferências se apoiam no conhecimento
dos sujeitos, quanto mais conhecimentos, mais inferências, não apenas
pragmáticas mas também criativas.

É sabido que a capacidade de inferir dos indivíduos se inicia na infância e se


vai desenvolvendo com a idade, contribuindo para o seu desenvolvimento as
inferências feitas no contacto com o quotidiano e também com os livros.

Giasson (1993) salienta que os sujeitos, sobretudo os mais novos podem fazer
inferências, ainda que, os mesmos sejam pouco organizados no seu percurso.

Conforme salienta Giasson, Johnson e Johnson (1986) classificaram as


inferências pragmáticas ou baseadas nos esquemas do sujeito em dez tipos:

de lugar, de agente, de tempo, de acção, de instrumento, de categoria, de


objecto, de causa-efeito, de problema-solução, sentimento-atitude.

Nos nossos enunciados, no script café, os 15 autores dos enunciados


activaram a inferência de lugar: Ao café; ao D. Inês; à Ópera; ao H2O; àquele
bar.

Também, mas em menor número, foi activada a inferência tempo: Depois do


almoço; Duas da tarde; depois de uma pratada de (...); Hoje.

A inferência agente da acção foi activada em todos os sujeitos: nós, eu, o


empregado, a Teresa, a Joana. Há casos em que o agente se mantém apenas
implícito;
As inferências pragmáticas de acção foram activadas em todos os sujeitos,
todos sabem o que fez o eu, o nós e o que fez o empregado: sentei-me, pedi
um café; pedi um café e um bolo; chamei o empregado; paguei a conta; O
empregado deu-lhe o troco.

Igualmente as inferências pragmáticas de problema-solução foram activadas:


situações como - esquecemo-nos de pagar/a D. Inês chamou a nossa atenção;
Foi mal servido/não pagou. Neste caso, saliente-se que, como nas histórias,
nem todos os problemas tiveram solução.

Surgem, aqui e além, activadas as inferências de sentimentos-atitudes: o


António exaltado; contrariada pedi; Qual foi o nosso espanto; ficámos irritados;
virei-lhe as costas; muito triste.

Como podemos concluir, a partir das reflexões apresentadas, há inferências


ligadas aos conhecimentos dos textos, outras ligadas aos conhecimentos dos
esquemas dos sujeitos.

Considerando a investigação aplicada, sabe-se haver menos pesquisas


realizadas sobre o estudo das inferências lógicas do que sobre o estudo das
inferências pragmáticas.

O professor, enquanto facilitador da aprendizagem, poderá, em situação de


ensino directo, continuar a enfrentar desafios, propondo aos seus alunos
actividades que lhe permitam conhecer bem a compreensão literal e a
compreensão inferencial dos seus alunos, levando-os a distinguir claramente
as inferências lógicas ou textuais das inferências pragmáticas.

Se as inferências pragmáticas geram esquemas que facilmente se activam a


partir do todo e também dos seus elementos, facilitando a compreensão, há
que pensar estratégias adequadas e facilitadoras da compreensão.

Embora a capacidade de inferir se desenvolva com a idade, a escola precisa


de gerar estratégias adequadas para ajudar os mais novos a desenvolver a
capacidade de inferir e de organizar as inferências.

Este breve estudo permitiu colocar a análise computacional de enunciados ao


serviço do estudo de um corpus e da abordagem deste em termos da
compreensão dos sujeitos, procurando evidenciar os elementos relevantes e
obrigatórios nos scripts e nas cenas, a partir da inventariação de contiguidades
estruturais reveladoras de aspectos semânticos e cognitivos. Todavia, esta
técnica apresenta limites: apenas é possível inventariar o que está explícito nos
enunciados.

BIBLIOGRAFIA
ABOTT & BLACK (1985) - The Representation of Scripts in Memory, Journal of
Memory and Language, 24

BARTLETT, F (1932) - Remmembering: a study in experimental and social


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CORSON, Y. (1987) - Récupération en mémoire d’informations thématiquement


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CUNNNNGHAM, J. (1987) - Towards Pedagogy of inferential comprehension


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FAYOL (1985) - Le récit et sa construction. Paris, Delachaux & Niestlé.

GIASSON, Jocelyne (1993) - A compreensão na Leitura. Lisboa: Asa

MANDLER, Jean Matter (1984) - Stories, scripts and scenes: aspects of


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RICHARD, J. F. (1990) - Les activités Mentales: comprendre, raisonner, trouver


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SCHANK, R. C. Abelson R. P. (1977) - Scripts, Plans, Goals and


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SCHANK, R. C. (1982) - Dynamic Memory, a Theory of Reminding and


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SUMÁRIO

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