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O poema “Horizonte” encontra-se na segunda parte de Mensagem, que tem o título de “Mar
Português”. Fernando Pessoa pretende nesta segunda parte falar da história dos Descobrimentos, de
como a nobreza que ele descreveu na primeira parte (“Brasão”) agiu agora e como os seus actos tiveram
importância, mas não esgotaram essa mesma nobreza. Pessoa – nas palavras de Agostinho da Silva em
Um Fernando Pessoa – conta agora uma história em “Mar Português”, mas avisa desde logo no poema
“Infante” que essa história não é a história de Portugal, mas “o seu interrompido prólogo”.
“Horizonte” enquadra-se nesse “contar da história”. Neste poema de grande lirismo e beleza,
Pessoa descreve o encantamento dos navegadores quando, ao aproximarem-se de desconhecidas
costas, tornavam concreto o que antes era apenas abstracto (mistério). O descobrimento como revelação,
segue o tema geral da Mensagem, que é uma obra eminentemente intelectual, ocultista, simbólica. Em
verdade, os navegadores não poderiam revelar conscientemente, porque não eram – crê-se – habilitados
para tal, pois não eram “iniciados” nas artes ocultas que Pessoa tão bem domina. Se revelam, é então
porque uma vontade superior os leva a tal e lhes controla o Destino. É caso para dizer que enquanto o
iniciado compreende, o não iniciado cumpre.
Confirma-se o que dissemos numa análise mais próxima do poema. “Ò mar anterior a nós” (os
descobridores), “teus medos tinham coral (…)” mas “desvendadas a noite (…) as tempestades passadas
e o mistério” (o desconhecido) “abria em flor o Longe” (o conhecimento) e o “Sul-sidério (re)splendia
sobre as naus da iniciação”. De uma maneira mais ou menos hermética e fechada, o que Pessoa nos diz
é: O mar anterior, o mar a que se referiam aqueles que o temiam por desconhecimento e medo, foi
desvendado, tiraram-lhe a noite (o escuro representa o medo e o desconhecido), e, passando pelas
dificuldades do caminho, revelou-se enfim o seu mistério. Abriu-se esse conhecimento quando para Sul
as naus dos iniciados (involuntários, mas iniciados) viajaram.
Lendo a segunda estrofe, há uma insistência no mesmo tema. “Linha severa da longínqua costa
(…) ergue-se a encosta (…) onde era só, de longe abstracta linha”. O abstracto torna-se concreto, com a
revelação do mistério.
Toda a descrição se realiza em pleno na terceira estrofe onde Pessoa, aproveitando o balanço
do raciocínio anterior, chega à conclusão que pode equiparar o sonho a ver essas “formas invisíveis da
distância imprecisa” (a linha distante da costa) e “buscar na linha fria do horizonte a árvore, a praia (…) os
beijos merecidos da Verdade”. A metáfora do sonho é de facto perfeita e o efeito poético pleno de
oportunidade e equilíbrio. Mas temos de nos lembrar que se “os navegadores sonharam”, foi “Deus quem
quis” (do poema “Infante”).
O Canto IX dos Lusíadas, dá-nos conta do regresso dos Portuguesas da Índia, onde pelo
caminho encontram a «Ilha dos Amores». A Ilha aparece como uma recompensa, mas também como
símbolo do povo Português ter tornado, pelos seus feitos, igual aos deuses que agora os homenageiam
de modo tão inesperado. A comparação possível entre este Canto IX e o poema “Horizonte” é a oposição
quase total entre o que Camões considera a “Recompensa” e Pessoa considera a “Verdade”. Camões
idealiza uma recompensa para os sentidos, um festim material, enquanto Pessoa quer algo mais alto e
frio – a verdade do conhecimento oculto.