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Do Candomblé ao Ibilé: Patrimonialização de um terreiro paulista

Paula Neto Homem de Montes


Universidade de São Paulo/FFLCH
paula.homemdemontes@gmail.com

Resumo:
Esta pesquisa tem por objetivo investigar o processo de patrimonialização do terreiro Ilê Axé Odé Lorecy,
situado na cidade de Embu, na região metropolitana de São Paulo, liderado pelo pai de santo Léo de
Logunedé, ou Ogundarê. Trata-se de um terreiro da nação queto, uma das nações do tronco iorubá,
constituinte do candomblé, tradicionalmente representada pelos terreiros mais conhecidos da Bahia. Esse
processo articula-se com um movimento maior que vem ocorrendo nos últimos trinta nos, de
reconhecimento de Terreiros de Candomblé como postulantes de uma cultura que deve ser preservada e
reconhecida como Patrimônio para o país.

Palavras- chave: candomblé, patrimônio, reafricanização

Abstract:
This research aims to investigate the process of patrimonialization the “terreiro” Ile Axé Ode Lorecy, located
in Embu, in the metropolitan region of São Paulo, led by the “pai de santo”. Leo the Logunedé or Ogundare.
This is a Queto nation`s “terreiro”, one of the nations from the Yoruba`s trunk, a constituent of Candomblé,
traditionally represented by popular “terreiros” from Bahia. This process is linked to a larger movement that
has taken place in the last thirty years: the recognition of the Candomblé`s “terreiros” as postulants of a
culture that should be preserved and recognized as a Heritage for the country.

Key Words: Candomblé,,patrimonialization, reafricanization

SIICUSP 2014 – 22º Simpósio Internacional de Iniciação Científica e Tecnológica da USP


Introdução
Da criação do IPHAN até os anos dois mil, só eram reconhecidos como Patrimônio, os bens pertencentes a
cultura material, ou seja: bens imóveis como os núcleos urbanos, sítios arqueológicos e paisagísticos e
bens individuais; e móveis como coleções arqueológicas, acervos museológicos, documentais,
bibliográficos, arquivísticos, videográficos, fotográficos e cinematográficos. Em 1988, na escrita da nova
constituição, já se passa a dividir o Patrimônio Cultural, em duas grandes frentes, o material e o imaterial.
Porém, só no dois mil, decorrente de pesquisas que visavam atender as novas demandas surgidas na
década de 1980, é escrito o Decreto de Lei n° 3551, que estabelece normas e cria instrumentos adequados
para a preservação do Patrimônio Imaterial, o qual se entende como práticas e domínios da vida social que
se manifestam em saberes, ofícios e modos de fazer; celebrações; formas de expressão cênicas, plásticas,
musicais ou lúdicas; e nos lugares (como mercados, feiras e santuários que abrigam práticas culturais
coletivas).
Os processos de tombamento de bens pertencentes à cultura afro-brasileira, ocorridos sobretudo a partir
dos últimos governos federais, têm feito crescer a demanda ou reivindicação por reconhecimento de
terreiros como patrimônio cultural. Este processo implica a ideia de que os terreiros postulantes são
detentores e ou produtores de “cultura”, tal como é discutida por Manuela Carneiro da Cunha (2009), e pela
pretensão de tombamento afirmam uma identidade e argumentam serem filiados a tradições específicas
que justificam a petição.
O reconhecimento de templos das religiões de matriz africana como algo que deve ser inscrito na História
oficial do país através de seu tombamento, aponta para uma mudança do olhar que a esfera pública lança
sobre a população afro-descendente. Nessa chave, esta pesquisa busca investigar o processo
patrimonialização do terreiro Ilê Axé Odé Lorecy, situado na cidade de Embu, na região metropolitana de
São Paulo, liderado pelo pai-de-santo Léo de Logunedé, ou Baba Ogundarê, e sua relação com esse
processo amplo de patrimonialização da cultura afro-brasileira

Objetivos:
Fazer um levantamento etnográfico do Ilê Afro-brasileiro Odé Lorecy com o propósito de identificar os
argumentos históricos e antropológicos com os quais o Terreiro irá pleitear o seu Tombamento é o objetivo
desta pesquisa.
A partir dos dados coletados no trabalho de campo, levanto e hipótese de que o motivo que mais pode se
destacar na alegação do tombamento do Ilê Asé Odé Lorecy seria o processo de “reafricanização” da
religião praticada na casa.

Metodologia
O material a ser analisado foi proveniente das entrevistas transcritas, das observações de campo anotadas
em diário de campo escrito, da documentação resultante de registro audiovisual (decorrente de filmagens,
fotografias e gravações de áudio) e de outros materiais que perfazem a documentação particular dos
membros do terreiro (fotos, mapas, etc.). O material levantado até o momento conta com mais 20 hs de
gravação audiovisual de festas e cerimônias privadas, dezenas de fotos e cerca de 200 páginas de
entrevistas transcritas
1
A etnografia organizada segundo os métodos de descrição densa tal como proposta por Cliffoord Geertz ,
que considera a cultura como uma rede de significados hierarquizados e a antropologia uma ciência
interpretativa que busca não apenas registrar os fatos, mas interpretá-los tendo como ponto de partida a
interpretação que os próprios agentes da cultura fazem de suas ações. Interpretar é, portanto, buscar os
significados contidos em seus atos, ritos, performances, e não apenas descrevê-los. Mas os significados
atribuídos pelo antropólogo aos significados coletados em primeira mão serão sempre uma interpretação da
interpretação.

1
GEERTZ, Clifford - A interpretação das culturas.

SIICUSP 2014 – 22º Simpósio Internacional de Iniciação Científica e Tecnológica da USP


Resultados

Etnografia do terreiro

O trabalho etnográfico contemplou a observação e registro descritivo da organização espacial e ritual do


terreiro. Há uma ordem lógica organizacional dessas suas esferas, que chama-se xirê, e é fundamentada
pela mitologia que envolve os orixás. Apesar de haver variação de nação para nação, casa para casa, há
algumas convenções nessa organização, que sempre começa por Exu e termina com Oxalá.
No terreiro estudado, os orixás são cultuados na seguinte ordem: Exu, Ogum, Oxossi, Omolu, Ossaim,
Oxumaré, Nanã, Irôko, Oriokê, Logunedé, Oxum, Ibejis, Yewá, Oyá, Obá, Okô, Iemanja, Xangô e Oxalá.
A cultura material do espaço, que envolve a distribuição espacial e a iconografia do sagrado, está
organizada segundo essa lógica simbólica.Cada uma dessas divindades, que são consideradas “energias
da natureza”, requer uma representação material para o exercício de sua louvação. Essa sacralização dá-se
através das especificidades de cada orixá. Os que possuem uma ligação maior com a natureza devem ser
assentados ao ar livre, como, por exemplo, Irôco. Outros, preferivelmente devem estar mais isolados dos
demais, como Omolu e os Egunguns. Por prover de uma grande área, no Ilê Asé Odé Lorecy pode
organizar-se estruturalmente de uma forma a respeitar estritamente essa espacialização feita através da
mitologia ioruba.
As festas públicas e os rituais privados, além de centrais para a religião, são eventos a partir dos quais a
estrutura da religião se realiza, se manifesta, daí sua relevância para o estudo do sistema simbólico do
candomblé (Sahlins, 1990; Silva, 1995). A estrutura ritual, portanto, nos revela muito da visão de mundo da
religião e de sua prática e a observação etnográfica de como essa estrutura toma forma a partir de um
evento é método chave para a análise dessa dimensão.
A mesma lógica fundamentada na mitologia Iorubá que sustenta a organização espacial do templo, pode
ser observada em seu “calendário” festivo. O ano começa com festival para Exu e Ogum, com data próxima
aos meses de Março e Abril, a seguinte, “Fogueira de Xangô”, é dedicada à Xangô, Iansã, Obá, Orixá Okô e
Oriokê, todos ligados ao elemento fogo, no mês de Junho. Em Agosto o Olubajé, que homenageia
Obaluaiê, e os outros orixás ligados ao elemento terra; Nanã, Ossaim, Oxumaré e Yewá. Em Outubro,
acontece o Ipete de Oxum, maior festa da casa que homenageia Oxum, e seu marido e filho mitológicos,
Oxóssi e Logunedé. O ciclo festivo se encerra com as Águas de Oxalá, em Dezembro, quando Oxalá e
Iemanjá, orixás ligados à criação, são louvados.

Análise de laudos Antropológicos

Para entrar com pedido de Tombamento junto a algum órgão do governo federal, estadual ou municipal, é
necessário endossar documentos com dados do proprietário e do terreno, plantas e também um documento
que ressalte o valor histórico e social do bem ao qual se pretende tombar. No caso de Terreiros, são
produzidos laudos, nos quais antropólogos apresentam um breve histórico da casa e uma pequena
etnografia e levantam motivos através dos quais argumentam que esse templo é postulante de uma cultura
que deve ser preservada. Através da leitura e análise dos laudos antropológicos dos pedidos de
Tombamento dos terreiros já registrados como patrimônio, pude perceber que os motivos alegados são
diversos, embora muitas vezes recorrentes.
Os principais argumentos que levantados são: Antiguidade,Terreiro foi fundado há muito tempo e ainda se
encontra em funcionamento. Sua origem remonta aos séculos XVIII, XIX e início do XX, Histórico e
Cultural, sendo antigo, ou não tanto, a história da casa em questão tem importância e relação com a
História do Brasil e/ou do negro no Brasil e/ou das Religiões Afro-brasileiras, assim como na formação
cultura e da identidade brasileira),Nação, pode ser um indicador étnico, ou seja, lugar de origem dos cultos,
mas também pode se referir a um modelo litúrgico. Assim a casa aponta que é herdeira de uma tradição
vinda da África e que é expoente e/ou referência e/ou exportadora e/ou matriz de certo tipo de culto
religioso afro-brasileiro. Legado de uma Tradição africana, Terreiro pode ser considerado um monumento
vivo, um precioso legado que preserva no Brasil a cultura e a prática religiosa de origem africana. Como por
exemplo, da civilização Iorubana, Associação com outros Terreiros, a Casa em questão mantém vínculos
com outros Terreiros de Candomblé, da mesma nação ou de nações diferentes, Importância na vida civil
da população afro-brasileira, devido ao prestígio que a casa de Candomblé tem e também por se tratar de
um lugar de referência de luta e união, alguns membros do egbé (comunidade de terreiro) tiverem destaque
nas iniciativas positivas em relação à sociedade civil que envolve a população negra e mestiça, Risco de
destruição, nas religiões afro-brasileiras, o espaço físico em que se instala um terreiro é considerado um
“ser vivo” , é um local sacralizado onde se pratica um rito e também onde, muitas vezes, residem membros
importantes da comunidade .Por diversos motivos, como problemas com impostos, construção de estradas,
falta de dinheiro, intolerância religiosa, entre outros o terreno onde se encontra o templo e o próprio espaço
físico do culto correm algum risco de destruição,Personalidades e Intelectuais, sua existência e
importância foram registradas por muitos intelectuais e estudiosos desde o começo do século XX, como
Nina Rodrigues, Arthur Ramos, Roger Batisde, Pierre Verger, Vivaldo da Costa Lima, Renato da Silveira.
Assim como foi\ é frequentado por pessoas do meio artístico, fazendo parte do Egbé do Terreiro e/ou o
retratando-os em suas obras de arte (Jorge Amado, Pierre Verger, Dorival Caymmi, Caetano Veloso,
Gilberto Gil, Carybé) e Prestígio, o Terreiro possui prestígio popular e também prestígio dentro dos cultos
afro-brasileiros.

Conclusões
Mediante a constatação desse processo crescente de patrimonialização da cultura afro-brasileira e da
análise dos laudos antropológicos e dados coletados no trabalho de campo, permite-se levantar e
hipótese de que o principal motivo para alegação do tombamento do Ilê Asé Odé Lorecy seria o processo
de “reafricanização” da religião praticada na casa. Reafricanização ou “iorubanização” (adoção de rituais de
acordo com modelos da tradição ioruba coletados diretamente nos locais de sua prática na África) significa
que o terreiro adota uma organização espacial, ritos e liturgia fortemente influenciados pela visão de mundo
iorubá negando inclusive que ali se pratica o “candomblé”. O pai-de-santo do Odé Lorecy, ou Baba
Ogundaré como ele prefere ser chamado, refere-se seu culto de “ Isèsè Ibilé”, termo que, segundo ele,
designa na África a religião da terra (natureza), ou seja, o culto aos orixás.
Se dizer detentor de um legado, de uma tradição africana é o discurso de legitimação desse Candomblé
paulista. A África é o repertório identitário ao qual recorre a comunidade deste terreiro, de forma a distinguir-
se dos demais terreiros de Candomblé brasileiros e assim afirmar-se como religião e como grupo.

Referências Bibliográficas
FERRETI, Sergio.CASA DAS MINAS- O Espaço e o Culto. Laudo Antropológico. Disponível em:
http://www.museuafro.ufma.br/arquivos/46d3740c5700342dd1a590a769ee9d3e.pdf
GEERTZ, Clifford - A interpretação das culturas. Rio de Janeiro, Zahar,1978.
SERRA, Ordep. ILÊ AXÉ IYÁ NASSÔ OKÁ. Terreiro da Casa Branca do Engenho Velho. Laudo
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________ILÊ AXÉ IÁ MIN IAMASSÊ. Terreiro do Gantois. Laudo antropológico. Salvador, 2008. Disponível
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http://ordepserra.files.wordpress.com/2008/09/laudo-bate-folha.pdf

______TERREIRO DO BOGUM. Zoogodô Bogum Malê Rundó. Laudo Antropológico. Salvador, 2008.
Disponível em: http://ordepserra.files.wordpress.com/2008/09/bogum-vii.pdf

SILVA, Vagner GONÇALVES DA. Candomblé e Umbanda – caminhos da devoção brasileira. São Paulo:
Selo Negro, 2005.
________. Orixás da metrópole. Petrópolis: Vozes, 1995.
________Laudo sobre a relevância do “Terreiro de Candomblé Santa Bárbara” para preservação da História
e Memória e do candomblé de rito angola do estado de São Paulo”.
__________________. Orixás da metrópole. Petrópolis: Vozes, 1995.

SIICUSP 2014 – 22º Simpósio Internacional de Iniciação Científica e Tecnológica da USP

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