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Esta nova coletânea traz como novidade a apresentação

2004 O Projeto Desenvolvendo Casos de Sucesso no Sebrae


dos casos por área temática, visando facilitar a consulta teve sua origem em 2002 com o objetivo de disseminar
e melhor entendimento do conteúdo. 2004 as melhores práticas vivenciadas por empreendedores
e empresários de diversos segmentos e setores,
O primeiro volume da nova edição descreve casos participantes dos programas e projetos do Sebrae
vinculados aos temas de artesanato, turismo e cultura, em vários Estados do Brasil.
empreendedorismo social e cidadania. O segundo relata
histórias sobre agronegócios e extrativismo, indústria, A primeira fase do projeto, estruturada para escrever estudos
comércio e serviços. E o terceiro aborda exclusivamente de caso sobre empreendedorismo coletivo, publicou em
casos com foco em inovação tecnológica. 2003 a coletânea Histórias de Sucesso – Experiências

Os resultados obtidos com o projeto Desenvolvendo


Histórias de Sucesso Empreendedoras, em três livros integrados de 1.200
páginas, que contou 80 casos desenvolvidos em
Casos de Sucesso, desde sua concepção e implantação, Experiências Empreendedoras diferentes localidades e vários setores, abrangendo as
têm estimulado a elaboração de novos estudos sobre cinco regiões: Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Norte e
histórias de empreendedorismo coletivo e individual, e, Nordeste. Participaram 90 escritores, provenientes do
conseqüentemente, têm fortalecido o processo de Gestão quadro técnico interno ou externo do Sebrae.

Histórias de Sucesso
do Conhecimento Institucional. Contribui-se assim, de forma
significativa, para levar ao meio acadêmico e empresarial Esta segunda edição da coletânea Histórias de Sucesso –
o conhecimento acerca de pequenos negócios bem- Experiências Empreendedoras – 2004, composta de três
sucedidos, visando potencializar novas experiências volumes que totalizam cerca de 1.100 páginas, contou com
que possam ser adotadas e implementadas no Brasil. a participação de 89 escritores e vários profissionais de
todos os Estados brasileiros, que escreveram os 76 casos.
Para ampliar o acesso dos leitores interessados em utilizar
os estudos de caso, o Sebrae desenvolveu em seu portal A continuidade do projeto reitera a importância da
(www.sebrae.com.br) o site Casos de Sucesso, onde o disseminação das melhores práticas observadas no âmbito
usuário pode acessar na íntegra todos os 156 estudos de atuação do Sistema Sebrae e de sua multiplicação para
das duas coletâneas por tema, região ou projeto, bem o público interno, rede de parceiros, consultores, professores
como fotos, vídeos e reportagens. e meio empresarial.

Todos os casos do projeto foram desenvolvidos sob a orientação


de professores tutores, atuantes no meio acadêmico e em
diversas instituições brasileiras, que auxiliaram os autores
a pesquisar dados, entrevistar pessoas e escrever os casos,
de acordo com a metodologia elaborada pelo Sebrae.

Foto do site do Sebrae. Casos de Sucesso.

Esperamos que essas histórias de sucesso possam


produzir novos conhecimentos e contribuir para fortalecer
os pequenos negócios e demonstrar sua importância
econômica no País.
Série Histórias
Boa leitura e aprendizado! de Sucesso.
Primeira edição 2003.
COPYRIGHT © 2004, SEBRAE – SERVIÇO DE APOIO ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS – É permitida a reprodução total ou parcial, de qualquer


forma ou por qualquer meio, desde que divulgadas as fontes.

SEBRAE – Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas


Presidente do Conselho Deliberativo Nacional
Armando Monteiro Neto
Diretor-Presidente
Silvano Gianni
Diretor de Administração e Finanças
Paulo Tarciso Okamotto
Diretor Técnico
Luiz Carlos Barboza
Gerente da Unidade de Estratégias e Diretrizes
Gustavo Henrique de Faria Morelli
Coordenação do Projeto Desenvolvendo Casos de Sucesso
Renata Barbosa de Araújo Duarte
Comitê Gestor do Projeto Desenvolvendo Casos de Sucesso
Cezar Kirszenblatt, SEBRAE/RJ; Daniela Almeida Teixeira, SEBRAE/MG; Mara Regina Veit, SEBRAE/MG;
Renata Maurício Macedo Cabral, SEBRAE/RJ; Rosana Carla de Figueiredo Lima, SEBRAE Nacional
Orientação Metodológica
Daniela Abrantes Serpa – M.Sc., Sandra Regina H. Mariano – D.Sc., Verônica Feder Mayer – M.Sc.
Diagramação
Adesign
Produção Editorial
Buscato Informação Corporativa

D812h Histórias de sucesso: experiências empreendedoras / Organizado


por Renata Barbosa de Araújo Duarte – Brasília: Sebrae, 2004.

412 p. : il. – (Casos de Sucesso, v.2)

Publicação originada do projeto Desenvolvendo Casos de


Sucesso do Sistema Sebrae.
ISBN 85-7333-386-3
1. Empreendedorismo 2. Estudo de caso 3. Agronegócio
4. Extrativismo 5. Indústria, comércio e serviço I. Duarte, Renata
Barbosa de Araújo II. Série

CDU 65.016:001.87

BRASÍLIA
SEPN – Quadra 515, Bloco C, Loja 32 – Asa Norte
70.770-900 – Brasília
Tel.: (61) 348-7100 – Fax: (61) 347-4120
www.sebrae.com.br
PROJETO DESENVOLVENDO CASOS DE SUCESSO

OBJETIVO
O Projeto Desenvolvendo Casos de Sucesso foi concebido em 2002 a partir das prioridades
estratégicas do Sistema SEBRAE com a finalidade de disseminar na própria organização, nas
instituições de ensino e na sociedade as melhores práticas de empreendedorismo individual e
coletivo observadas no âmbito de atuação do SEBRAE e de seus parceiros, estimulando sua
multiplicação e fortalecendo a Gestão do Conhecimento do SEBRAE.

METODOLOGIA “DESENVOLVENDO CASOS DE SUCESSO”


A metodologia adotada pelo projeto é uma adaptação do consagrado método de estudos
de caso aplicado em Babson College e Harvard Business School, que se baseia na história
real de um protagonista, que, em dado contexto, se encontra diante de um problema ou de
um dilema que precisa ser solucionado. Esse método estimula o empreendedor, o aluno ou a
instituição parceira a vivenciar uma situação real, convidando-o a assumir a perspectiva do
protagonista.

O LIVRO HISTÓRIAS DE SUCESSO – Edição 2004


Esse trabalho é o resultado de uma das ações do projeto Desenvolvendo Casos de Su-
cesso, elaborado por colaboradores do Sistema SEBRAE, consultores e professores de ins-
tituições de ensino parceiras. Esta edição é composta por três volumes, em que se
descrevem 76 estudos de casos de empreendedorismo, divididos por área temática:
• Volume 1 – Artesanato, Turismo e Cultura, Empreendedorismo Social e Cidadania.
• Volume 2 – Agronegócios e Extrativismo, Indústria, Comércio e Serviço.
• Volume 3 – Difusão Tecnológica, Soluções Tecnológicas, Inovação, Empreendedorismo e
Inovação.

DISSEMINAÇÃO DOS CASOS DE SUCESSO DO SEBRAE


O site Casos de Sucesso do SEBRAE (www.casosdesucesso.sebrae.com.br) visa divulgar as
experiências geradas a partir das diversas situações apresentadas nos casos, bem como suas
soluções, tornando-as ao alcance dos meios empresariais e acadêmicos.
O site apresenta todos os estudos de caso das edições 2003 e 2004, organizados por área de
conhecimento, região, municípios, palavras-chave e contém, ainda, vídeos, fotos, artigos de
jornal, que ajudam a compreender o cenário onde os casos se passam. Oferece também um
manual com orientações para instrutores, professores e alunos de como utilizar o estudo de caso
na sala de aula.
As experiências relatadas ilustram iniciativas criativas e empreendedoras no enfrentamento
de problemas tipicamente brasileiros, podendo inspirar a disseminação e aplicação dessas
soluções em contextos similares. Esses estudos estão em sintonia com a crescente importância
que os pequenos negócios vêm adquirindo como promotores do desenvolvimento e da geração
de emprego e renda no Brasil.
Boa leitura e aprendizado!

Gustavo Morelli
Gerente da Unidade de Estratégias e Diretrizes
Renata Barbosa de Araújo Duarte
Coordenadora do Projeto Desenvolvendo Casos de Sucesso

HISTÓRIAS DE SUCESSO – EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2004


MANDIOCA, RAIZ DAS NOSSAS RAÍZES
MARANHÃO
MUNICÍPIO: VITORINO FREIRE

INTRODUÇÃO

A lguém já viu um gaúcho que não goste de chimarrão? Dificilmente.


Pois é, com o maranhense é a farinha de mandioca, popularmente
chamada farinha d’água, produzida da raiz da mandioca. Maranhense que
é maranhense tem de ter farinha de mandioca em casa. A situação é tão
séria, que, se ele vive em algum Estado fora do Nordeste, sempre que
sabe que algum conterrâneo está indo viajar para o sul, já vai encomen-
dando alguns quilos.
Definitivamente é paixão estadual.
Em Juçaral dos Saraivas, povoado do município maranhense de Vi-
torino Freire, como em tantos outros do Estado, essa tradição ia além
do hábito do consumo, ela também era uma das fontes de renda da
comunidade.
Em 2002, Maria do Amparo Bringel, moradora do povoado, traba-
lhava na lavoura cultivando mandioca com os ensinamentos que seus
pais lhe haviam transmitido. A falta de uma área maior de terra para
plantar, a baixa qualidade da farinha produzida e a dificuldade para
comercializar repercutiam em sua renda familiar. Os atravessadores
eram o elo de ligação entre o agricultor e o consumidor, obtendo a
maior margem de remuneração na cadeia produtiva, pois compravam
o quilo da mandioca por R$ 0,30 e revendiam por até R$ 1,50.

Dulcileide Oliveira Gonçalves, técnica do SEBRAE/MA, elaborou o estudo de caso sob a orientação
da professora Isabel Marques de Brito, da Faculdade Atenas Maranhense, integrando as atividades
do Projeto Desenvolvendo Casos de Sucesso do SEBRAE.

HISTÓRIAS DE SUCESSO – EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2004 1


Acervo SEBRAE/MA

AGRICULTORES DA COMUNIDADE PARTICIPANDO


DE FEIRA DE NEGÓCIOS
Acervo SEBRAE/MA

APRESENTAÇÃO DA FARINHA EM
EMBALAGEM APROPRIADA
MANDIOCA, RAIZ DAS NOSSAS RAÍZES – SEBRAE/MA

A MASSA QUE EU FALO É A QUE PASSA FOME, MÃE1

“Moinho de homens que nem girimuns amassados


Mansos meninos domados, massa de medos iguais” 2

A raiz da mandioca é, desde remotas épocas, um dos alimentos bá-


sicos da população brasileira, principalmente para a de baixa
renda. Sua cultura, tipicamente tropical, esteve ligada à própria histó-
ria do Brasil, que a consome desde o período colonial. Ela já consta-
va da narração de Pero Vaz de Caminha sobre o descobrimento do
Brasil, e a primeira Constituição brasileira ficou conhecida como
“Constituição da Mandioca”, mostrando quanto essa raiz simboliza a
identidade nacional. Em suas pesquisas, Teresa Corção3 indica que
“cerca de 4 milhões de brasileiros dependem direta ou indiretamente
das lavouras de mandioca”.
Para Cecília Mendes4: “A mandioca é uma cultura adequada ao clima
brasileiro, e muito resistente às pragas e à seca; necessita de poucos
nutrientes, e sobrevive aos rigores do clima. O seu plantio se ajusta
perfeitamente às pequenas propriedades, valorizando a agricultura
familiar e fixando o homem no campo. A época de colheita é flexível, e
a raiz permanece fresca no solo por até 18 meses”.
O uso da mandioca na culinária é uma tradição indígena, cujo co-
nhecimento sobre o plantio e o uso culinário tem sido transmitido de
uma geração a outra. Existe uma lenda entre os índios que ilustra a im-
portância dessa raiz para eles. Conta-se que na tribo Manau, chefiada
pelo tuxaua Ambori, sua filha Itaci engravidou sem nunca ter tido con-
tato com nenhum homem, mas o pai, não acreditando, quis sacrificá-la.
Porém foi avisado em sonhos por um caruana5 que ela era inocente e
deveria permanecer na tribo. Dessa gravidez, nasceu uma menina muito

1
Trecho da música “A massa”, de Jorge Portugal e Raimundo Sodré, este último poeta nascido na
cidade de Ipirá, zona limítrofe entre o Sertão e o Recôncavo baiano. Sua música é de cunho popular
e recheada de nordestinidade. Despontou para o Brasil com o hit “A massa”, terceiro lugar no
Festival MPB de 1980.
2
SODRÉ, Raimundo; PORTUGAL, Jorge. A massa. São Paulo, 1980.
3
CORÇÃO, Teresa. Projeto Mandioca. Disponível em: <http://www.planetaorganico.com.br/viva
mandioca.htm>. Acesso em: 25 jun. 2004.
4
MENDES, Cecília. Seminário SEBRAE/RJ e Planeta Orgânico. A mandioca e suas múltiplas qualidades.
Disponível em: <http://www.planetaorganico.com.br/sebrae-mand.htm>. Acesso em: 29 jun. 2004.
5
Gênio benfazejo e serviçal que os indígenas crêem habitar o fundo dos rios e igarapés.

HISTÓRIAS DE SUCESSO – EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2004 3


AGRONEGÓCIO E EXTRATIVISMO

branca, a quem deram o nome de Mani. Essa criança, já em tenra idade,


passou a ensinar ao seu povo o plantio dos primeiros alimentos de uso
doméstico destinados à subsistência da tribo. Ao completar três anos de
vida, misteriosamente, sem qualquer sinal de doença, Mani faleceu. No lo-
cal em que foi enterrada, nasceu uma planta desconhecida da tribo e, de
sua raiz, tão branca quanto Mani, os índios fizeram bebidas e prepararam
alimentos. Daí vem o nome da planta, manioca, que na língua indígena
significa “corpo de Mani”.
A tradição de seu consumo pelos maranhenses, em especial da Região
dos Cocais, só se iguala ao da palmeira de babaçu, de onde o povo ex-
trai matéria-prima para produzir sabonete, óleo, ração para animais, car-
vão, produtos alimentícios e medicinais, e ainda utiliza sua palha para
cobrir as casas, fazer esteira, cesto, abanador e tantos outros utensílios.
Da mandioca é possível utilizar desde a raiz até as folhas: da raiz apro-
veita-se a polpa no preparo de pães, farinha, cuscuz, polvilho ou como
acompanhamento de outros pratos, principalmente carne; a casca é usa-
da para fazer ração, de uma parte do caule retira-se a semente e do res-
tante produz-se a ração. Por sua composição, a mandioca é boa fonte de
calorias e contém grande quantidade de vitaminas do complexo B e hi-
drato de carbono. Além disso, possui vários sais minerais, como cálcio,
fósforo, ferro e potássio. Tem poucas proteínas e quase nenhuma gordu-
ra. As principais características de sua raiz são casca rugosa, de cor mar-
rom e de polpa branca ou amarelada.
Com tradição na cultura de mandioca, o Maranhão possui uma área
plantada superior a 300 mil hectares, porém com baixa produtividade,
obtendo-se em média 6 toneladas por hectare. Em 2003, foram colhidas
cerca de 27 mil toneladas no Estado, e para 2004 a previsão é de que a
safra talvez não alcance a produtividade média obtida no ano anterior,
devido aos altos índices de chuva, que prejudicaram as plantações. A
produção brasileira era de, aproximadamente, 23 milhões de toneladas
por ano. Esse volume representava algo em torno de 14% da produção
mundial da raiz. O País é o segundo maior produtor mundial e sua cul-
tura guarda a importante característica de ser produzida em todas as uni-
dades da Federação; estima-se que o consumo médio nas principais
capitais seja de 7 kg por habitante 6.
6
GAMEIRO, Augusto Hauber. A importância da mandioca no Brasil. Piracicaba: Centro de Estudos
Avançados em Economia Aplicada da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da
Universidade de São Paulo, 2002.

4 EDIÇÃO 2004 HISTÓRIAS DE SUCESSO – EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS


MANDIOCA, RAIZ DAS NOSSAS RAÍZES – SEBRAE/MA

O povoado de Juçaral dos Saraivas pertence ao município de


Vitorino Freire, que dista 197 quilômetros da capital São Luís. Esse
município foi criado em 1952 e localiza-se na Região dos Cocais –
Microrregião do Pindaré. Sua população é, segundo o último Censo
do IBGE 7, de 29.831 habitantes, dos quais 13.868 vivem na área rural.
Seu Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), de 0,594, cresceu nos
últimos dez anos 18,56%, sendo que a dimensão renda contribuiu com
essa elevação com apenas 8,2%, ao passo que a educação foi de 57,7%
e longevidade 34,1%.
Mesmo havendo esse crescimento no índice, com essa taxa de de-
senvolvimento, o município levará 22 anos para alcançar São Caetano
do Sul (SP), o município com melhor IDH do Brasil, e 14 anos para al-
cançar São Luís (MA). Com essa classificação, ela é considerada de mé-
dio desenvolvimento humano, ocupando a 4.764ª posição dentre os
outros municípios do Brasil e a 75ª posição dentre os 217 municípios
do Estado8.
O valor do Produto Interno Bruto (PIB) do município é de R$ 20,27
milhões, sendo a agropecuária responsável por 51,2% 9.Comparando-se
os dados levantados pelo PNUD e com os do BNDES, verifica-se que,
mesmo a renda sendo baixa, existe um potencial agropecuário, ou seja,
é possível melhorar o IDH do município a partir de atividades rurais.
O povoado de Juçaral dos Saraivas possuía, em 2003, aproximada-
mente, 300 famílias. Sua infra-estrutura era bastante precária, possuía
apenas uma escola de ensino fundamental completo, o posto de saúde
estava desativado. A estrada de acesso era de terra batida e utilizada ba-
sicamente por veículos pequenos de aluguel. Tinha fornecimento de
energia elétrica e água potável. A renda familiar variava de R$ 100,00 a
R$ 200,00, obtida com a venda de produtos agropecuários, dentre eles
a farinha de mandioca, da aposentadoria e do trabalho como diarista.
A produção de farinha de mandioca no município era de 60 tonela-
das ao ano, sendo que 30% eram utilizados para consumo próprio; do

7
BRASIL, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo 2000. Sistema IBGE de Recuperação
Automática. Disponível em: <http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/pesquisas/cdru/default.asp>. Acesso
em: 22 jun. 2004.
8
BRASIL, Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Atlas do desenvolvimento humano
no Brasil. Disponível em: <http://www.ippur.ufrj.br/observatorio/atlas_pnud.htm>. Acesso em: 30
jun. 2004.
9
BRASIL, Banco Nacional de Desenvolvimento ES. Município em dados. Disponível em:
<http://www.ma.gov.br/cidadao/estado/municipios/index.php>. Acesso em: 22 jun. 2004.

HISTÓRIAS DE SUCESSO – EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2004 5


AGRONEGÓCIO E EXTRATIVISMO

restante, 90% eram vendidos para atravessadores ao valor de R$ 0,80


o quilo, ou seja, R$ 40,00 o saco de 50 kg. O sistema de plantio era o
solteiro, isto é, cultivava-se uma única cultura, com uso de mecanização
agrícola e algumas técnicas de plantio. Não eram realizadas análises do
solo. Outras culturas, como milho e feijão, eram trabalhadas no siste-
ma de monocultivo.
Os produtores familiares, em sua maioria arrendatários, não pos-
suíam terra própria para o cultivo e, como o plantio da mandioca não
lhes dava maiores retornos, foram gradativamente diminuindo as áreas
de plantio dessa cultura por outras. Tinham deixado de acreditar no
potencial da produção da farinha como perspectiva de melhorar suas
condições de vida.
A venda da farinha de mandioca não era significativa, por vários fa-
tores, dentre eles, Maria do Amparo10 destaca o fato de que “a farinha
de mandioca feita por eles carecia de qualidade, além de precisarem
melhorar as condições de higiene das casas de farinha”.
Com o crescimento da pecuária na região, que se apresentava
como atividade mais rentável que o plantio da mandioca, os donos
das terras arrendadas pelos moradores foram retomando as áreas de
plantio após as colheitas de arroz e milho, que antecediam a plantação
da mandioca.
Em 2003, a comunidade enfrentava várias dificuldades, entre as
quais: a falta de higiene na produção da farinha, o que demonstrava
desconhecimento quanto às normas de segurança alimentar; a presen-
ça de animais no local de produção da farinha; dependência direta do
atravessador no processo de comercialização11. A partir da apresenta-
ção desse diagnóstico para a comunidade, os moradores se sensibili-
zaram e passaram a tentar melhorar as condições de trabalho e
produção da farinha e, conseqüentemente, as de vida.
Maria do Carmo foi uma das que se sentiu motivada após o diag-
nóstico realizado pelo SEBRAE, pois, ao identificar os problemas, fica-
va mais fácil encontrar as soluções para melhorar a qualidade do
produto e aumentar seu valor de venda.

10
Presidente da Associação dos Pequenos Produtores Rurais do Juçaral dos Saraivas.
11
MARANHÃO, Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Maranhão. Situação da produção
e consumo de derivados de mandioca dos municípios de Bacabal, Lago da Pedra, Lago do Junco,
São Luís Gonzaga e Vitorino Freire. Antonio Bernardo Pinheiro Lobo (Coord.). Bacabal, MA:
SEBRAE/Raiz Consultoria e Projetos, 2003.

6 EDIÇÃO 2004 HISTÓRIAS DE SUCESSO – EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS


MANDIOCA, RAIZ DAS NOSSAS RAÍZES – SEBRAE/MA

DA MASSA QUE PLANTA A MANDIOCA, MÃE12

Amassando a massa, a mão que amassa a comida


Esculpe, modela e castiga a massa dos homens normais
Quando eu lembro da massa da mandioca mãe, da massa13

C omo superar os obstáculos aos ganhos de qualidade e produtividade


e melhorar sua rentabilidade para garantir a prosperidade e o desen-
volvimento do seu trabalho? Essas eram as questões que assaltavam o sono
de Maria do Carmo.
É característica do nordestino acreditar no dia de amanhã, mesmo que
as intempéries da vida queiram lhe provar o contrário. São lutadores de
nascença. Em Juçaral dos Saraivas, pessoas como seu João Martins, Maria
do Amparo, dentre outros, resolveram arregaçar as mangas e buscar um
futuro melhor.
Tendo como ponto de partida o diagnóstico realizado pelo SEBRAE,
foram feitas várias reuniões com os moradores para discutir os problemas
e identificar soluções. Do resultado desses encontros, foram idealizadas
várias ações com o intuito de reverter a situação.
Uma das primeiras medidas tomadas pelos participantes foi a criação da
Associação dos Pequenos Produtores Rurais do Juçaral dos Saraivas, que
centralizaria a organização das principais ações. Os produtores constataram
que, se agissem individualmente, não conseguiriam resolver seus problemas,
uma vez que cada um sozinho não possuía terra suficiente para plantar e
atender a demanda do mercado. Além disso, seria mais fácil realizarem
negociações como pessoa jurídica do que como pessoa física.
Como parte do programa de revitalização da cultura da mandioca, o
SEBRAE realizou um seminário sobre desenvolvimento local integrado sus-
tentável. Na seqüência, por solicitação da comunidade, foram ministrados
cursos de associativismo e cooperativismo, que serviram para fortalecer as
bases já estabelecidas com a criação da associação.
Após os ciclos de capacitações, as instalações físicas da casa de farinha
foram melhoradas: o piso, antes de terra batida, foi totalmente cimentado; os

12
SODRÉ, Raimundo; PORTUGAL, Jorge. A massa.
13
Ibid.

HISTÓRIAS DE SUCESSO – EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2004 7


AGRONEGÓCIO E EXTRATIVISMO

tanques de pubagem (local onde são depositadas as raízes descascadas para


amolecer) foram reformados; a água dos tanques, antes continuamente
reaproveitada, passou a ser renovada cada nova pubagem; ao redor da pren-
sa onde era retirado o excesso de água (tucupi) da massa, que antes ficava
empossada ao pé da prensa, foi construído um pequeno tanque com escoa-
mento para a parte externa da casa; o cocho, onde era posta a massa para
misturar com o corante, passou a ser limpo após cada sessão de farinhada,
os animais foram retirados do local e levados para áreas apropriadas.
Para essas mudanças, foi fundamental o acompanhamento realizado
pelos consultores agrônomos do SEBRAE, que ministraram cursos de “Me-
lhoria de farinha” e “Melhoria de produção de mandioca”.
Ao ver os esforços realizados pelos produtores, o sr. Joaquim Belizaro,
proprietário de grande extensão de terra, acreditando no projeto, propôs
ceder, sem nenhum ônus para os produtores, 20 hectares de suas terras
pelo período de dois anos. Essa cessão temporária minimizou significati-
vamente a falta de terra que eles tinham disponíveis para plantar. Então
gradativamente a cultura do plantio da mandioca foi retomada.
Um consultor orientou o plantio e novas técnicas foram introduzidas,
como a capina química, que é realizada com herbicida emergencial na fai-
xa verde, é biodegradável e, no prazo de 20 dias, tem seu poder residual
desintegrado. Outra inovação foi a introdução da poda para fluxo de pro-
dução, que visa distribuir os períodos de plantio. Nessa etapa, as hastes
com folhas cortadas são aproveitadas na produção de silagem e feno.
Com essa inovação, os produtores passaram a ter produção com etapas
diferenciadas, conseqüentemente puderam colher em períodos mais pró-
ximos, em produção contínua.
O rendimento da produção da farinha, com o melhoramento da quali-
dade da mandioca, foi maior: a produção anterior, que era de 4 toneladas
por hectare, passou a ser de 10 toneladas por hectare. Houve também o
aproveitamento das cascas para produzir ração.
Um dos grandes ganhos na qualidade do produto foi a conscientização
que os agricultores passaram a ter da necessidade de um padrão de higie-
ne no processo de produção de farinha. A farinha, depois de pronta, é
passada em três peneiras, para se selecionarem os padrões: farinha fina,
média e grossa. Tal variedade de produto, associada à qualidade, resultou
em maior aceitação pelo mercado e consumidores.
Ainda em 2003 foram agendadas reuniões com os gerentes do Banco do
Nordeste e foi oferecido crédito do Programa Nacional de Fortalecimento

8 EDIÇÃO 2004 HISTÓRIAS DE SUCESSO – EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS


MANDIOCA, RAIZ DAS NOSSAS RAÍZES – SEBRAE/MA

da Agricultura Familiar (Pronaf) aos associados. De todas as solicitações


de financiamento, 90% obtiveram resposta positiva.
Como resultado das mudanças realizadas, em dezembro de 2003, os
produtores de Juçaral dos Saraivas participaram da 1ª Feira Regional de
Produtos da Mandioca, que ocorreu no município de Bacabal. Foram le-
vados 150 kg de farinha de mandioca (branca, mista, fina, farinha de puba
e fécula), que foram vendidos ao preço médio de R$ 1,25 o quilo; todas
as variedades estavam acondicionadas em embalagens padronizadas. Se-
gundo consultor Nelson de Alencar: “A nova embalagem, em sacos plás-
ticos de 1 kg, facilita a comercialização, pois o cliente pode ver a
qualidade do produto”.
Além da farinha, outras novidades foram comercializadas, como do-
ces, bolos, sequilhos e até corante (colorau), molho de pimenta e su-
cos, obtidos a partir da mandioca. Maria do Amparo e mais seis amigas
comemoraram as vendas. “Dá trabalho, mas o resultado compensa. To-
das nós ajudamos nossos maridos desde a roça. Agora, nos orgulhamos
de ter um produto melhor e do dinheirinho extra que ganhamos com os
doces”, explicou.
Esse evento gerou um benefício intangível, tão ou mais importante
do que a venda dos produtos ou até mesmo que a receptividade dos
compradores ao produto: a constatação por parte dos produtores de
que, quando se trabalha em parceria, os resultados são maiores e de que,
com a continuidade das atividades, é possível produzir para o próprio
sustento e de suas famílias. Nas palavras do sr. João Luís de Carvalho:
“Com o apoio do SEBRAE, agora a nossa farinha tem mais qualidade.
Hoje estamos produzindo de acordo com o consumidor, mas sempre
procurando melhorar”.

CONCLUSÃO

O homem, desde os mais primevos tempos, sempre lutou contra as ad-


versidades, isso faz parte de suas origens, está impregnado em seus
genes. A experiência vivida pelos produtores de Juçaral dos Saraivas é sua
natureza falando mais forte, dizendo: “Lute, você é capaz!”.
Hoje, a cumplicidade que nasceu entre os produtores de Juçaral dos
Saraivas é visível. A comunidade passou a ser mais unida, em busca de
um objetivo comum. Começaram a trabalhar juntos e unidos conquista-

HISTÓRIAS DE SUCESSO – EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2004 9


AGRONEGÓCIO E EXTRATIVISMO

ram novos espaços. Tal comportamento pode ser bem observado na uti-
lização coletiva que fazem da casa de farinha; nos eventos, como feiras,
quando se organizam para participar juntos; nas reuniões que realizam
para determinar como devem proceder diante de alguma decisão. “A vida
vem melhorando e a gente já pode sonhar mais alto, mas o principal é que
descobrimos a força do trabalhador”, explica Maria do Amparo.
A revitalização da cultura da mandioca em Juçaral dos Saraivas foi
conseqüência do ato de homens comuns que acreditaram em um sonho
e investiram o que tinham – muita garra para vencer e a vontade de me-
lhorar de vida.
Hoje a população local compreende que a união dos produtores resul-
tou em benefício tanto para os que produzem, que passaram a visualizar
novos mercados, como para os consumidores, que, além de obterem um
produto de excelente qualidade, valorizam a produção regional.
“O mercado é crescente, desde que mantenham a qualidade”, revela
John Jacinto, gerente da Agência Regional do SEBRAE/MA, em Bacabal, e
um dos principais incentivadores do projeto.

QUESTÕES PARA DISCUSSÃO

• Com a cultura da mandioca já consolidada (ainda que sua prática este-


ja limitada) e sendo ela um fator ímpar para o desenvolvimento da comu-
nidade de Juçaral dos Saraivas, que estratégias devem ser implantadas
para que sua comercialização possa ser expandida?

• Como Maria do Amparo e os outros associados poderiam sensibilizar


as instituições governamentais, com o intuito de dinamizar as ações de-
senvolvidas pelos produtores?

AGRADECIMENTOS

Diretoria Executiva do SEBRAE/MA: Ana Maria da Silva Ramos Cavalcante, Hélio da Silva Maia
Filho, João Vicente de Abreu Neto.

Coordenação Técnica: Ana Cristina Lameiras da Silveira, responsável pelo centro de resultados da
orientação empresarial; John Nunes Santos Jacinto, gerente regional de Bacabal.

Colaboração: Membros da Associação dos Pequenos Produtores Rurais do Povoado Juçaral dos
Saraivas; equipe da gerência regional do SEBRAE/MA em Bacabal.

10 EDIÇÃO 2004 HISTÓRIAS DE SUCESSO – EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS

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