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Universidade Federal de Viçosa

Centro de Ciências Exatas e Tecnológicas


Departamento de Engenharia Civil

CIV 447 - TRATAMENTO DE ÁGUAS RESIDUÁRIAS II


APOSTILA DE AULAS

PROF. ANN H. MOUNTEER

Viçosa
2015
INDICE

INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................................ 1
LODOS ATIVADOS ........................................................................................................................................................ 2
I. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................................. 2
II. MODELAGEM DO PROCESSO .............................................................................................................................. 3
III. VARIÁVEIS DE PROJETO, OPERAÇÃO E CONTROLE ............................................................................... 10
IV. VARIANTES DO PROCESSO ............................................................................................................................... 15
V. PRINCÍPIOS E SISTEMAS DE AERAÇÃO .......................................................................................................... 18
VI. ROTEIRO DE DIMENSIONAMENTO DO TANQUE DE AERAÇÃO ........................................................... 22
VII. SEPARAÇÃO DE SÓLIDOS – DECANTADOR SECUNDÁRIO .................................................................... 24
VIII. TRATAMENTO E DISPOSIÇÃO FINAL DO LODO ..................................................................................... 28
IX. CONTROLE E MONITORAMENTO DO PROCESSO ..................................................................................... 30
REMOÇÃO BIOLÓGICA DE NUTRIENTES ........................................................................................................... 34
REATORES AERÓBIOS DE LEITO FIXO (BIOFILME) ....................................................................................... 41
TRATAMENTO TERCIÁRIO (AVANÇADO) .......................................................................................................... 47
REFERÊNCIAS .............................................................................................................................................................. 52
CIV 447 – Tratamento de Águas Residuárias II

INTRODUÇÃO
1) Tratamento aeróbio – fluxo de carbono (Corg)
CO2, Corg remanescente,
degradação NH3, SO42-...
30 a 50% do Corg
respiração endógena:
Corg (DBO, DQO, COT)
+ O2 + biomassa - % é (condições operacionais)
- leva à estabilização do lodo
síntese celular
50 a 70% do Corg Biomassa (lodo biológico)
(SSV)

2) Características dos processos aeróbios


a) Elevadas taxas de crescimento de microrganismos (O2 como aceptor de elétrons)
b) Elevadas taxas de remoção de matéria orgânica
c) Grande quantidade de lodo produzido (processos alternativos para reduzir produção de lodo)

3) Principais processos aeróbios de tratamento de águas residuárias

Forma de crescimento Sistema Principais variantes


alta taxa
convencional
disperso (floco microbiano) Lodos ativados
contato/estabilização
aeração prolongada
Sistemas simplificados de lodos valo de oxidação
ativados reator sequencial em batelada
Biorreator a membranas
Lagoa aerada
Filtro biológico percolador alta carga
baixa carga
fluxo ascendente
Filtro aerado submerso
aderido (biofilme) fluxo descendente
fluxo ascendente
Biofiltro aerado submerso fluxo descendente
leito fluidificado
Biodiscos

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CIV 447 – Tratamento de Águas Residuárias II

LODOS ATIVADOS
I. INTRODUÇÃO

1) Unidades essenciais dos sistemas de lodos ativados


a) reator biológico (tanque de aeração)
b) dispositivos de mistura, aeração
c) decantador secundário
d) dispositivos de recirculação, retirada e tratamento do lodo excedente

Efluente Decantador
Tanque Efluente
preliminar 2 ario
de aeração secundário
ou primário

Recirculação
Lodo
excedente

2) Histórico
a) 1913 a 1915 – Adern e Lockett apresentaram uma série de trabalhos “Experiências sobre a oxidação
de esgoto sem a intervenção de filtros I, II, III”, na Real Sociedade de Londres
b) 1914 – foi concedida a 1a patente comercial na Inglaterra
c) 1915 – Frank, EUA, patenteou o termo “activated sludge”
d) 1920s – 1940s – guerra de patentes EUA/Inglaterra atrasou disseminação do processo
e) 1938 – 203 plantas já tinha sido instaladas nos EUA
f) Hoje em dia é o sistema mais utilizado no mundo

3) Principais vantagens e desvantagens do processo de lodos ativados


a) Vantagens
i) Apresenta elevada eficiência de remoção de DBO5
ii) Possui alta flexibilidade de condições operacionais
(1) Trata eficientemente esgotos com altas e baixas cargas orgânicas
(2) Permite operar com diferentes quantidades de biomassa no tanque de aeração
(3) Pode ser projetado com regime hidráulico de fluxo em pistão, mistura completa, células de
mistura completa em série, ou em batelada
(4) Trata eficientemente esgoto doméstico e efluente de diversas tipologias industriais
iii) Possível incorporar remoção de nutrientes (N e P) ao processo, com inclusão de zonas anóxica e,
ou anaeróbia
iv) Apresenta requisitos de área relativamente baixos
b) Desvantagens
i) Tem alto custo de implantação e operação devido à necessidade de sistemas de aeração e
mecanização para recirculação e descarte do lodo
ii) Problemas de separação de sólidos no decantador secundário são comuns
iii) Lodo excedente precisa de tratamento e disposição final adequados

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CIV 447 – Tratamento de Águas Residuárias II

II. MODELAGEM DO PROCESSO

1) Balanço de massa
a) Balanços de massa dos sólidos (X) e substrato (S) são a base para o projeto do reator biológico (tanque
de aeração). Os balanços de massa incluem as vazões para as massas de sólidos ou substrato que
entram e saem do sistema e os termos apropriados para as taxas de reação (produção e, ou consumo)
de sólidos ou substrato dentro do sistema. Os balanços são expressos em unidades de massa por tempo
(ex. kg d-1).
b) O sistema para os balanços de massa de sólidos e substrato no processo de lodos ativados é definido
como:
Volume de controle para
balanços de massa

Tanque de aeração Decantador


Q, X0, S0 (Q + Qr), X, S 2ario (Q – Qex), Xe ,S
V X, S

Qr, Xr, S Qex, Xr, S

S0 = concentração de DBO ou DQO total (solúvel + particulada) no afluente, g m-3


X0 = concentração de sólidos em suspensão inertes e não biodegradáveis no afluente, g m-3
S = concentração de DBO ou DQO solúvel no reator, g m-3
X = concentração de sólidos em suspensão no reator, g m-3
Xe = concentração de sólidos em suspensão no efluente, g m-3
Xr = concentração de sólidos em suspensão no lodo recirculado, g m-3
V = volume do reator, m3
Q = vazão afluente, m3 d-1
Qr = vazão de recirculação, m3 d-1
Qex = vazão de lodo excedente, m3 d-1

Balanço: acúmulo no reator = entrada – saída + produção – consumo


dS dS
Balanço de substrato: V  QS0  (Q  Qex )S  QexS  V
dt dt
dX dX
Balanço de sólidos: V  QX 0  (Q  Qex )Xe  Qex X r  V
dt dt

c) Tempos de detenção hidráulica () e de residência celular (c)


Devido à recirculação de sólidos os tempos de detenção (retenção) hidráulica ( ou TDH) e de
residência celular, ou idade do lodo (c), se tornam independentes:

volume..de..efluente..no..reator V
 
volume..de..efluente..reitrado..por..unidade ..de..tempo Q

massa..de..biomassa..no..reator XV
c  
massa..de..biomassa..retirada..por..unidade ..de..tempo (Q  Qex )X e  Qex X r

VX
Esta expressão pode ser simplificada para: c  , assumindo Xe << Xr
Qex X r

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CIV 447 – Tratamento de Águas Residuárias II

d) Simplificações geralmente assumidas para balanços de massa no dimensionamento e análise do


processo de lodos ativados são:
i) Reações bioquímicas de remoção de substrato (-dS/dt) e crescimento de biomassa (dX/dt) ocorrem
apenas no reator biológico (tanque de aeração)
ii) Biomassa (sólidos, X) está presente apenas no reator biológico
iii) Sistema opera no estado estacionário (Q, S0, S, X não variam com o tempo)
iv) Considerar Qex << Q, portanto Q - Qex  Q
v) Considerar Xe << X, portanto Xe  0 (às vezes essa simplificação é feita para X0 também; deve se
avaliar a possibilidade de assumir X0  0 caso a caso)
vi) No estado estacionário, a biomassa retirada = biomassa produzida, portanto:
XV X
c  
V dX dX
dt dt

2) Caracterização dos sólidos em suspensão


a) As diferentes formas de sólidos em suspensão no reator biológico são:
SS inorgânicos / fixos
SSi ou Xi
SST Classificação quanto à biodegradabilidade
SS ou XT - SSV biodegradáveis, SSb ou Xb
- SSV não-biodegradáveis, SSnb ou Xnb
SS orgânicos / voláteis
SSV ou Xv
Classificação quanto à atividade
- SSV ativos, SSa ou Xa
- SSV não-ativos, SSna ou Xna

i) Xa representa a biomassa (os sólidos) metabolicamente ativa, responsável pela remoção de


substrato; Xa = faXV, onde fa = fração ativa dos SSV (fa < 1)

ii) Xb representa a biomassa ativa que pode ser degradada na fase de decaimento (respiração
endógena); Xb = fbXV, onde fb = fração biodegradável dos SSV (Xb < Xa)

(1) fb = fb´fa, onde fb´= fração de sólidos biodegradáveis na biomassa recém formada (c  0).
(2) Geralmente, adota-se fb´ = 0,8, ou seja, considera-se que 80% dos sólidos orgânicos na
biomassa nova são biodegradáveis

b) O dimensionamento, a operação e o controle dos sistemas de lodos ativados costumam ser feitos
pressupondo que Xa  XV. No entanto, na modelagem mais exata como, por exemplo, a da operação
no estado dinâmico, deve-se considerar Xa = faXv.

3) Cinética das reações bioquímicas


a) Para completar o balanço de massa de sólidos e substrato, precisamos utilizar as expressões
matemáticas que descrevem a produção e, ou consumo dos mesmos no reator.

b) A produção de sólidos depende, em grande parte, da produção de biomassa ativa, composta,


principalmente, de bactérias quimiorganoheterotróficas, e representada por dXa/dt ou dXH/dt, e
descrita pela cinética de 1ª ordem, sendo a taxa líquida de crescimento igual à taxa de crescimento
bruto menos a taxa de respiração endógena. A taxa de crescimento pode ser expressa em função da
biomassa ou do substrato:
dX a
(biomassa):  X a  k d X b  X a  k d f b X v
dt
dX a  S
e sabendo que  varia com S (cinética de saturação):  max X a  k d f b X v
dt K s  S
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CIV 447 – Tratamento de Águas Residuárias II

dX a dS Y(S0  S)
(substrato):  Y  kdXb   kdfbX v
dt dt 

c) A remoção do substrato, também descrita pela cinética de 1ª ordem, leva em consideração apenas a
taxa de crescimento bruto da biomassa ativa, responsável pela remoção de substrato:

dS 1 dXa   S
(biomassa):    X a   max Xa
dt Y dt Y Y Ks  S

dS
(substrato):   kS
dt

onde: Xa = biomassa ativa, g m-3


Xb = biomassa biodegradável, g m-3
Xv = SSV no reator, g m-3
S0 = substrato inicial, g m-3 DBO ou DQO
S = substrato final, g m-3 DBO ou DQO
fb = fração biodegradável dos SSV
kd = coeficiente de respiração endógena, d-1
KS = coeficiente de meia saturação, g m-3 DBO ou DQO
 = taxa específica de crescimento, d-1
max = taxa específica máxima de crescimento, d-1
 = tempo de detenção hidráulica, d-1
Y = coeficiente de rendimento celular, g SSV produzido/gDBO ou DQO removido

d) Por convenção, valores reportados de coeficientes cinéticos (ex. max, kd) são para a temperatura de
20ºC. Para qualquer outra temperatura, corrija-se o valor utilizando a equação van´t Hoff-Arrenhius:

coeficienteTº = coeficiente20º(T – 20)

e) Valores típicos de coeficientes cinéticos no tratamento aeróbio de esgotos domésticos


Coeficiente Faixa Valor típico
max, d -1
2 a 13 6
-3
KS, g DBO m 25 a 50 40
kd, d-1 0,06 a 0,2 0,12
Y, g SSV produzidos/g DBO5 removidos 0,4 a 0,8 0,6
 (coeficiente de temperatura)
para corrigir max 1,03 – 1,08 1,07
para corrigir kd 1,03 – 1,08 1,04

f) Relação entre c e coeficientes cinéticos


i) c é um dois principais parâmetros de dimensionamento e controle dos sistemas de lodos ativados.
A relação entre c e os coeficientes cinéticos de crescimento de biomassa ( e kd) é:
Xv Xv
c  
dX v dt X V  k d f b X V

1
c 
  k dfb

ii) Sendo assim, a operação a maior c permite estabelecer e manter populações de bactérias com
taxas específicas líquidas de crescimento (µ - kdfb) menores.

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CIV 447 – Tratamento de Águas Residuárias II

4) Concentração de sólidos no tanque de aeração


a) Os sólidos no reator incluem a biomassa ativa (Xa), o detrito celular produzido pela respiração
endógena (Xnb), e os sólidos inertes e não biodegradáveis no afluente (X0,i X0,nb), quando esses últimos
não são desconsiderados.
Obs.: Os sólidos biodegradáveis no afluente (X0,b) são considerados parte do substrato (S0) e portanto, não
são considerados como parte dos sólidos no reator.

b) Concentração de biomassa ativa, Xa


i) A única fonte de biomassa ativa, Xa, é pelo crescimento mediante consumo do substrato, S0.
ii) A concentração de Xa pode ser calculada a partir do balanço de massa de substrato no reator:

dS dS
V  QSo  (Q  Q ex )S  Qex S  V
dt dt

mas: no estado estacionário, acúmulo = 0,


não há produção de substrato, e
dS  1 dX a  
consumo =  V   V =  X a V
dt  Y dt  Y
 Q 
Portanto, o balanço fica: 0  QS0  QS  X a V ou (S0  S)  X a V
Y V Y
Q 1 Y (S0  S)
Substituindo por , e rearranjando: X a 
V  .
1
Substituindo  por  k d f b , tem-se a concentração ativa de sólidos no reator:
c
Y (S0  S)  c 
Xa   
(1  k d f b c)   

iii) Pela expressão, observa-se que a concentração de biomassa no tanque de aeração aumenta com o
aumento do c em relação ao  e com o aumento da quantidade de substrato removida (S0–S).

c) Concentração de sólidos não biodegradáveis, Xnb


i) A concentração de Xnb pode ser calculada a partir do balanço de massa dos mesmos no sistema. A
concentração é afetada pela quantidade no afluente (X0,nb), pela quantidade descartada com o lodo
excedente e pela quantidade de detrito celular produzida na respiração endógena.

dX nb dX nb
 QX 0,nb  (Q  Q ex )X e,nb  Q ex X r ,nb  V
dt dt

mas: no estado estacionário, acúmulo = 0,


Xe,nb  0,
X V
pela definição de c, Q ex X r ,nb  nb
c ,
dX nb
produção = V  f D k d X a V , onde fD = fração da biomassa que não é
dt
biodegradável e se torna detrito celular; fD = 1-fb´

X nb V
Portanto, o balanço fica: 0  QX 0, nb   fDk d Xa V
c
Q 1
Substituindo por incluindo a expressão para Xa e rearranjando:
V ,

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CIV 447 – Tratamento de Águas Residuárias II

c  Y(S0  S)  c 
X nb  X 0,nb  f D k d c   
  (1  k d f b c)   

d) Concentração de sólidos em suspensão voláteis, Xv


i) A concentração de sólidos em suspensão voláteis (SSV) no reator é a soma da biomassa ativa e
dos sólidos não biodegradáveis no esgoto bruto e produzidos pela respiração endógena no reator:

Y(S0  S)  c   c   Y(S0  S)  c 
Xv     X 0,nb    f D k d    c , ou
1  k d f bc      1  k f 
d b   
c

 c   Y(S0  S)  c 
X v  X 0,nb    1  f D k d c   
   1  k d f b c   
Xa Xa
ii) A fração ativa dos SSV, a qualquer c, f a   , e, se assumir X0,nb
X v X 0, nb  (1  f D k d c)X a
1
 0, f a 
1  f D k d c
Xb f b
iii) A fração biodegradável dos SSV, a qualquer c, fb = = fb´fa , e f b 
XV 1  f Dk dc

5) Produção de sólidos, PX
a) A quantificação da produção de sólidos (kg/d) é de grande importância para o controle do processo,
no que tange à operação do decantador secundário e ao descarte de lodo em excesso.
i) A carga (kg/d) de sólidos produzidos é a carga que deve ser retirada, para manter o processo
estável:
dX
Px  V
dt
ii) Pela sua definição, o c fornece uma expressão que permite calcular a produção (e descarte) de
lodo no processo de lodos ativados:
X V
c  , e PX  X
dX dt c

onde: PX = sólidos produzidos (e descartados) diariamente, kg d-1


X = sólidos no tanque de aeração, kg m-3
V = volume do tanque de aeração, m3
c = tempo de residência celular, d

b) Uma vez que 1/c representa a fração de sólidos descartada por dia (ex. se c = 10d, 1/10 dos sólidos
deve ser descartado por dia), e o tanque de aeração contém uma mistura homogênea de biomassa (Xa)
e outros sólidos (Xnb, Xi), a expressão para PX pode ser utilizada para calcular a produção de qualquer
fração de sólidos no sistema (ex. totais, voláteis, biodegradáveis), e, portanto, a quantidade que deve
ser descartada por dia.

i) Produção de biomassa ativa, PXa:


V 1 Q YQ (S0  S)
PX a  Xa , e lembrando que  , PXa 
c  V 1  k d f b c

ii) Produção de sólidos não biodegradáveis inclui:


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CIV 447 – Tratamento de Águas Residuárias II

(1) a carga de sólidos não biodegradáveis no esgoto bruto, PX0,nb = Q.X0,nb


(2) a produção de sólidos não biodegradáveis no reator, PXnb
  Y(S0  S)  c   V 1 Q
PXnb  f D k d c     e lembrando que  ,
  (1  k d f b c)     c ,  V
 YQ (S  S) 
PXnb  f D k d c 0 
 1  k f c 
 d b 

iii) Produção de SSV, PXv, inclui:


(1) a carga de sólidos não biodegradáveis no esgoto bruto, PX0,nb = Q.X0,nb
(2) a produção de sólidos não biodegradáveis no reator, PXnb
(3) a produção de biomassa ativa no reator, PXa
PX v  QX 0,nb  PXa  PXnb
 YQ (S0  S) 
PX v  Q.X 0,nb  (1  f D k d c) 
 1  k d f b c 

iv) Produção de sólidos totais, XT (SST), PXT , inclui:


(1) a carga de sólidos não biodegradáveis no esgoto bruto, Q(X0,T – X0,V) = Q.X0,i
(2) a carga de sólidos não biodegradáveis no esgoto bruto, Q.X0,nb
(3) a produção de biomassa ativa no reator, PXa
(4) a produção de sólidos não biodegradáveis no reator, PXnb
(5) Adota-se para a relação entre XV e XT (SSV/SST) na biomassa recém-formada o valor de 0,9,
ou seja, 90% da biomassa nova produzida no reator são sólidos voláteis e 10% são sólidos
inertes (elementos minerais). Dessa forma:

 1   YQ (S0  S) 
PXT  Q.X 0,i  Q.X 0,nb   (1  f D k d c) 
 0,9   1  k d f b c 

v) O afluente contribui apenas sólidos inertes (inorgânicos), X0,i e sólidos não biodegradáveis, X0,nb,
uma vez que os sólidos biodegradáveis, X0,b, são contabilizadas como substrato particulado (S0 =
DBOtotal = DBOparticulada (Xb) + DBOsolúvel). Um resumo dos valores tipicamente adotados para as
relações entre as diferentes frações de sólidos no esgoto doméstico bruto e na biomassa recém-
formada é:
Valor adotado para Valor adotado para
Relação
esgoto bruto* biomassa nova
Fração de sólidos suspensos voláteis (SSV) Xv
0,7 a 0,85 0,9
nos sólidos suspensos totais XT
Fração de sólidos suspensos fixos (SSF) Xi
0,15 a 0,30 0,1
nos sólidos suspensos totais XT
Fração de sólidos suspensos não- X nb
biodegradáveis (SSnb) nos sólidos 0,4 0,2 (fD)
suspensos voláteis (SSV) XV
Fração de sólidos suspensos
biodegradáveis (SSb) nos sólidos
suspensos voláteis (SSV) Xb
0,6 0,8 (fb´)
Obs: No esgoto bruto, essa fração é XV
contabilizada na DBO de entrada, e não na
carga de sólidos
* Por exemplo, um esgoto doméstico com carga de 10 kg SST/d, contribuirá de 1,5 a 3 kg/d Xi e 4 kg/d Xnb ao
reator. Também contribuíra 6 kg/d de Xb, que serão quantificados como parte da DBO de entrada (S0).

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CIV 447 – Tratamento de Águas Residuárias II

vi) A relação entre XV e XT (SSV/SST) no reator, sob qualquer condição de operação (c) pode ser
calculada como PXv/PXT

c) Rendimento observado, Yobs


i) O rendimento celular observado é a relação entre a produção líquida de sólidos (a produção
mensurável) e a carga de substrato removida
ii) Produção de sólidos = PXv ou PXT, para o rendimento é expressa em SSV ou SST
iii) Substrato removido = Q(S0 – S), S expresso como DBO ou DQO
iv) Yobs , expresso como g SSV produzido/ g substrato removido é:

 YQ (S0  S) 
Q.X 0,nb  (1  f D k d c) 
 1  k d f b c 
Yobs 
Q(S0  S)

Y(1  f D k d c) X 0, nb Y(1  f D k d c)


Yobs   e se considerar X0,nb = 0, Yobs 
1  k d f b c (S0  S) 1  k d f b c
,

d) Roteiro de cálculo da produção de sólidos em qualquer c:


i) Adotar valores para fb´e kd. Corrigir kd para as temperaturas do mês mais frio e mais quente.

ii) Determinar fb para cada condição (c e temperatura):


f b
fb 
1  f D k d c

iii) Calcular a produção de biomassa ativa:


Y(S0  S)Q
PX a 
1  k d f b c

iv) Calcular a produção de sólidos não biodegradáveis:


 YQ (S0  S) 
PX nb  QX 0,nb  f D k d c  
 1  k d f b c 

v) Calcular a produção de sólidos voláteis:


 YQ (S0  S) 
PX v  QX 0,nb  (1  f D k d c)  
 1  k d f b c 

vi) Calcular a produção de sólidos totais:


 1   YQ (S0  S) 
PX T  QX 0, nb  Q(X0,T  X0, V )   (1  f D k d ) 
 0,9   1  k d f bc 

vii) Determinar XV/XT no reator = PXv/PXT.

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CIV 447 – Tratamento de Águas Residuárias II

III. VARIÁVEIS DE PROJETO, OPERAÇÃO E CONTROLE

1) Tempo de residência celular, c


a) c precisa ser suficientemente longo para garantir a manutenção da biomassa, ou seja, c > tempo de
duplicação (aumento de X  2X). Pela cinética de crescimento de 1ª ordem temos:
dX dX 2X ln 2
 X   dt dup  ln  t dup   t dup
dt X X 
ln 2
i) Para garantir a manutenção das células, é necessário que  c . Por exemplo, considerar as

seguintes populações de bactérias:
População  típico, d-1* c mínimo, d
Bactérias heterotróficas 2 0,35
Bactérias nitrificantes 0,2 3,5
*valor exato depende das espécies e condições ambientais do reator

ii) c mínimo necessário para manter uma concentração constante de sólidos é calculado para a
condição S = S0:
1 S0 K s  S0
  k d f b   max , e c min 
c min K s  S0 S0 ( max  f b k d )  f b k d K s

b) Quanto maior c, maior a taxa de respiração endógena e a estabilização da biomassa no reator, e,
consequentemente, menor a produção de sólidos no processo.
i) A escolha de c determina o tipo de processo, convencional ou de aeração prolongada
(1) Convencional, c tipicamente entre 5 e 10d
(2) Aeração prolongada, c tipicamente entre 18 e 30d
ii) Essa escolha é feita com base na vazão e cargas a serem tratadas e será discutida em item posterior.

2) Concentração de sólidos no reator


a) Quanto maior a concentração de sólidos no reator, maior a quantidade de biomassa disponível para
remover o substrato, e, portanto, menor o tempo de detenção hidráulica necessária para atingir
determinada eficiência de remoção e, consequentemente, menor o volume do tanque de aeração
necessário.
i) Maiores concentrações se sólidos apresentam maiores requisitos de oxigênio e nutrientes e maiores
áreas para decantação secundária.
ii) Limites práticos para a concentração de sólidos mantidos do tanque de aeração giram em torno de
5000 a 6000 gSSV m-3

b) Recirculação do lodo
i) A recirculação do lodo do fundo do decantador secundário para o tanque de aeração garante a
manutenção da concentração de biomassa desejada no tanque de aeração. A vazão de recirculação
depende da razão de recirculação, R = Qr/Q.

(1) R pode ser determinada pelo balanço de massa de sólidos no tanque de aeração:

Volume de controle para


balanço de massa

Tanque de aeração Decantador


Q, X0 (Q + Qr), X 2 ario (Q – Qex), Xe
V X

Qr, Xr Qex, Xr

acúmulo =entrada – saída + produção – consumo

10
CIV 447 – Tratamento de Águas Residuárias II

no estado estacionário: acúmulo = 0


produção (crescimento) = consumo (descarte)
entrada = QX0 + QrXr
saída = (Q + Qr)X
Q X
e se X0 = 0, balanço é: 0 = QrXr - (Q + Qr)X, portanto, R  r 
Q Xr  X

(2) Quanto maior Xr no fundo do decantador secundário, menor precisa ser R para manter uma
concentração X de biomassa no tanque de aeração.

c) Papel de Qr e Qex
i) Qr controla o balanço de massa entre o tanque de aeração e o decantador secundário
ii) Qex controla a massa total de sólidos no sistema, e controla c

3) DBO5 solúvel (S) e total no efluente

DBO5,total = DBO5,solúvel (S) + DBO5,particulada (Xe,b)

a) DBO5,total é definida com base nos requisitos legais (< 60 mg L-1). Se estabelecer valor aceitável de
Xe,V, pode determinar DBOparticulada nos Xe,b = fb. Xe,V, e descontar essas para determinar a DBOsolúvel (S)
aceitável no efluente

b) Dessa forma, DBO5,total,e – DBO5,particulada,e (Xe,b) = S de projeto para dimensionamento da etapa


biológica. (O valor de S determina a eficiência do tratamento).

c) Sabendo que a célula bacteriana é representada estequiometricamente pela fórmula C5H7O2N, a


demanda de O2 para estabilizar Xe,b pode ser determinada com base na equação da oxidação da
biomassa: C5H7O2N + 5O2  5CO2 + NH3 + 2H2O, ou seja, 1 mol de Xb (113g) demanda 5 mols de
O2 (160g), tem-se:
160gO 2 1,42gO 2
 = DBOúltima dos Xb
113gX b gX b

Lembrando que DBO última  1,46DBO 5 em esgotos domésticos, DBO5 dos Xb pode ser quantificada:
1,42gDBO última 1gDBO 5 1gDBO 5
. 
gX b 1,46gDBO última gX b

1gDBO 5
DBO5 dos Xv = .f b e DBO5 dos XT: = X v .f b
gX b XT

d) A concentração mínima de S que pode ser alcançada pode ser calculada a partir da equação que
descreve a taxa líquida de crescimento (assumindo Xa = XV):

dX v S
 max X k f X
dt Ks  S v d b v

dX v dt 1 S
  max  k df b
Xv c Ks  S

11
CIV 447 – Tratamento de Águas Residuárias II

 1 
Ks   k df b 
 c 
Explicitando S: S 
 1 
 max    k d f b 
 c 

Ksk df b
S mínima será alcançada quando c  , e 1/c  0: Smin 
 max  k d f b

4) Volume do reator (tanque de aeração)


a) O dimensionamento do tanque de aeração parte do pressuposto que Xa  XV, e utiliza a equação de
crescimento de biomassa:
dX V dS Y(S0  S)
 Y  kdXV   k df bX v
dt dt 

dX V dt 1 YQ (S0  S)
   k dfb
Xv c V.X v

Y.Q.(S0  S)c
Explicitando V: V
X v .(1  k d f bc)

Q, S0: dados de entrada


S, c, Xv: variáveis de projeto
Y, kd: variáveis cinéticas / estequiométricas
f b: calculada (com base em c, kd)

b) V depende de:
i) Carga orgânica removida [Q(S0 – S)]
ii) Concentração de sólidos mantida no reator, XV
iii) Tempo de residência celular, c (e, consequentemente, kd e fb)

c) V não depende do tempo de detenção hidráulica, .


Obs.: V = Q. é utilizado apenas para avaliar a estabilidade hidráulica do processo.

5) Variáveis operacionais
a) A relação alimento/microrganismo (A/M) tem sido utilizada para dimensionamento, mas hoje em dia
é mais utilizada para comparar operação de sistemas projetados com base no c. A/M expressa a carga
A Q.S0
de substrato alimentada por unidade de biomassa no reator, 
M X.V

b) A taxa de utilização de substrato (U) expressa a carga de substrato removida por unidade de biomassa
Q(S0  S) (S0  S)
no reator, U  
X.V .X

(So  S) A
c) Se considerar a eficiência de remoção de substrato, E  , tem-se U  .E
So M
i) Relação entre U e c:
dX ds Y(So  S) dX dt Y(So  S)
 Y  kdX   k d X , ou   kd
dt dt  X X.
1
 Y.U  k d
c
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CIV 447 – Tratamento de Águas Residuárias II

QS0
d) Carga orgânica volumétrica, L org  , kg DBO (m3 d)-1
V

6) Requisitos de oxigênio (RO)


a) ROtotal = ROC + RON
i) ROC = demanda carbonácea, kg/d
ii) RON = requisitos de oxigênio para oxidação do NKT, kg/d
b) ROC = demanda carbonácea
i) Requisitos de oxigênio para:
(1) oxidação da DBO de entrada (para síntese)
(2) estabilização de biomassa (na respiração endógena)
ii) Parte da DBOúltima é removida por incorporação na biomassa e a parte da biomassa biodegradável
(Xb) que é removida no lodo descartado não sofre degradação oxidativa, e, portanto, é descontado
no cálculo do ROC: ROC = DBOúltima removida – DBOúltima do lodo descartado

Sabendo que: DBOúltima removida = 1,46.DBO5 removida;


lodo descartado = lodo produzido = PXb; e
DBOúltima do lodo descartado = 1,42 gO2/gXb
Tem-se que: ROC = 1,46.Q.(S0 – S) – 1,42.PXb , onde PXb = fb´.PXa, ou
 YQ (S0  S) 
RO c  1,46Q(S0  S)  1,42.f b' 
 1  k d f b c 
iii) ROC aumenta com o aumento de c
iv) ROC independe de X0
v) Deve-se incluir um fator de segurança (FS) para picos de Qmáx e DBO5,máx

b) RON = demanda nitrogenada


i) As formas reduzidas de nitrogênio (NKT = Norg + NH4+) são oxidadas por um grupo específico de
bactérias quimiolitoautotróficas aeróbias estritas, as bactérias nitrificantes. Essas bactérias
apresentam atividade baixa, que aumenta com o aumento da temperatura. A nitrificação, ou
oxidação bioquímica do NKT, ocorre em 2 etapas, realizadas por diferentes espécies nitrificantes:

2NH4+ + 3O2  2NO2- + 4H+ + energia


2NO2- + O2  2NO3- + energia
Reação global: NH4+ + 2O2  NO3- + 2H+ + energia

A reação global da nitrificação mostra que 1 mol de N (14 g) demanda 2 mols de O2 (64 g), ou
seja, 1 g N consome 64/14 = 4,57 g O2, portanto, RON = 4,57.Q.NKT.

ii) A demanda nitrogenada assume 100% de nitrificação, o que pode ocorrer ou não, dependendo das
condições operacionais do processo.

 YQ (S 0  S) 
c) Os requisitos totais de O2: RO total  Q[1,46(S 0  S)  4,57 NKT ]  1,42.f b' 
 1  k d f b c 

onde: Q = vazão, m3 d-1


S0 = substrato inicial, kg m-3 DBO (particulada e solúvel)
S = substrato final, kg m-3 DBO (solúvel)
NKT = concentração inicial de nitrogênio orgânico + amônio, kgN m-3
Y = coeficiente de rendimento celular, kgSSV/kgDBO
kd = coeficiente de decaimento, d-1
fb’= fração biodegradável dos sólidos (biomassa ativa) recém formados
fb= fração biodegradável dos sólidos no reator
1,46 = fator de conversão de DBO5 a DBOúltima
4,57 = fator de conversão de nitrogênio a DBOúltima
1,42 = fator de conversão de sólidos biodegradáveis a DBOúltima
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CIV 447 – Tratamento de Águas Residuárias II

d) A NBR12209 recomenda os seguintes limites para que o O2 não se torne limitante ao tratamento:
Sistema kg O2/kg DBO5 O2, mg l-1
c < 18 d ou U > 0,15 kg DBO5 (kg SSV d) -1 1,5 2,0
c  18 d ou U  0,15 kg DBO5 (kg SSV d) -1 2,5 1,5
Com nitrificação, sem desnitrificação 3,0 1,5

7) Requisitos de nutrientes
a) Para sustentar uma elevada taxa de crescimento de biomassa e, consequentemente, uma elevada taxa
de remoção de substrato, deve-se fornecer uma quantidade suficiente dos principais nutrientes minerais
constituintes das células (N e P) e, portanto, nutrientes retirados do sistema com o descarte do lodo
excedente devem ser repostos. O lodo descartado é composto de biomassa ativa (Xa) e detrito celular
(Xnb), contendo diferentes proporções de nutrientes
i) biomassa ativa, Xa  12,3% N e 2,6% P
ii) detrito celular, Xnb  7% N e 1% P
fb
b) O lodo descartado é igual ao lodo produzido (PXv). A fração ativa (fa) do lodo é e a fração de
f 'b
f
detrito celular (fD) é (1  b ) , portanto, os requisitos podem ser calculados conforme segue.
f 'b
fb f
i) Requisito de nitrogênio, kg N/d: 0,123 .Pxv  0,07(1  b ).Pxv
f 'b f 'b

fb f
ii) Requisito de fósforo, kg P/d: 0,026 .Pxv  0,01(1  b ).Pxv
f 'b f 'b

iii) Devem ser descontadas as cargas de N e P que entram no esgoto bruto dos requisitos quantificados,
para determinar a quantidade de nutrientes a ser adicionada. Ureia [(NH2)2CO], ácido fosfórico
(H3PO4)2 e mono fosfato de amônio (MAP - NH4H2PO4) são tipicamente utilizados para fornecer
N e P.

c) Sistemas que operam com menor c e maior produção de lodo têm maiores requisitos. Requisitos
típicos são:
Sistema c, d DBO5, kg d-1 N, kg d-1 P, kg d-1
Convencional 4-10 100 4,3-5,6 0,9-1,2
Aeração prolongada 18-30 100 2,6-3,2 0,5-0,6

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CIV 447 – Tratamento de Águas Residuárias II

IV. VARIANTES DO PROCESSO

1) Fluxo em pistão
a) Convencional – conceito original; efluente primário e lodo biológico reciclado do decantador
secundário entram no tanque de aeração e são misturados por aeração mecânica ou difusores de ar.
Sistemas novos têm aeração decrescente, para acompanhar o decréscimo da carga orgânica ao longo
do reator. Geralmente precedido de tratamento primário.
Ef luente
Ef luente primário
Ef luente
primário
secundário Ef luente
secundário
Lodo reciclado
Lodo em
excesso Lodo reciclado
Lodo em
excesso
b) Alta taxa - modificação do sistema de fluxo em pistão convencional; apresenta baixa concentração de
lodo biológico e elevada carga orgânica. Caracterizado por baixo tempo de detenção hidráulica,
elevada razão de recirculação de lodo, elevada razão alimento/microrganismo (gDBO/gSSV.d).
Sistemas de alta taxa apresentam efluente com qualidade inferior ao sistema de mistura completa ou
fluxo em pistão convencional. Geralmente precedido de tratamento primário.

c) Contato/estabilização – utiliza 2 reatores/compartimentos, um para o tratamento do efluente e outro


para a estabilização do lodo biológico. O efluente entra no tanque de contato, com baixo tempo de
detenção hidráulica e menor concentração de lodo biológico do que no tanque de estabilização. DBO
rapidamente biodegradável é removida na zona de contato e DBO coloidal e particulada se adere ao
floco biológico e é estabilizada na zona de estabilização. Geralmente precedido de tratamento
primário.
Ef luente
primário
Ef luente
Estabilização Contato
secundário

Lodo reciclado
Lodo em
excesso
d) Alimentação escalonada – modificação do sistema de fluxo em pistão convencional, com adição do
efluente em 3 a 4 pontos ao longo do reator, para equalizar a relação A/M (DBO/SSV), e assim reduzir
picos de demanda de oxigênio. Permite grande flexibilidade de operação. Pode-se operar com
gradiente de concentração de lodo biológico, de maior a menor, na medida em que efluente for
adicionado. Pode ser operado na forma de contato/estabilização. Geralmente precedido de tratamento
primário.

Ef luente Lodo reciclado


Lodo em
primário
Ef luente excesso
Ef luente
secundário
primário
Ef luente
Lodo reciclado secundário
Lodo em
excesso

e) Oxigênio puro – reator fechado, com 3 a 4 estágios; efluente primário, lodo reciclado e oxigênio de
alta pureza são adicionados no primeiro estágio. A elevada pressão parcial de oxigênio aumenta a
transferência de fase (gás  líquido), e permite operar com maior concentração de lodo biológico,
maior carga orgânica e menor tempo de detenção hidráulica do que o sistema convencional. Principais
vantagens são o menor requisito de área e menor volume de gases malcheirosos liberados (onde
controle de odor é exigido).

2) Mistura completa – desenvolvido na década de 1960, para efluentes industriais com concentrações mais
elevadas de matéria orgânica, substâncias tóxicas, etc., do que esgotos domésticos. Efluente e lodo

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CIV 447 – Tratamento de Águas Residuárias II

reciclado são tipicamente adicionados em diversos pontos no tanque de aeração, que contém concentrações
de O2 e lodo biológico uniformes. Geralmente precedido de tratamento primário.
Ef luente
primário Ef luente
secundário

Lodo reciclado Lodo em


excesso
3) Aeração prolongada

a) Convencional - parecido com o sistema de fluxo em pistão convencional, mas opera na fase de
respiração endógena, que requer baixa carga orgânica e elevados tempos de detenção hidráulica e de
residência celular (c). Uso predominante em comunidades de pequeno porte; geralmente não é
precedido de tratamento primário, mas pode ser. A taxa de aplicação hidráulica do decantador
secundário é menor do que no sistema convencional para suportar melhor as variações de vazão típicas
de pequenas comunidades. O lodo em excesso retirado do sistema é relativamente bem estabilizado
(mas pode precisar de estabilização adicional para permitir reúso).

b) Valo de oxidação – canal circular ou oval equipado com aeradores mecânicos de eixo horizontal, que
direcionam o escoamento e misturam o efluente e lodo biológico ao longo do reator; possui tempo de
detenção hidráulica relativamente longo. Não precedido de tratamento primário. Configuração leva a
minimização de custo de operação quando sistema é limitado pela energia necessária para suspender
a biomassa, e não pela energia necessária para fornecer oxigênio. Aeração é feita por aeradores de eixo
horizontal, também responsável pela circulação horizontal do efluente. Pode operar em batelada, com
fluxo semi-contínuo ou contínuo (necessita de decantador secundário).

Convencional - batelada
Decantação conjugada

Decantação separada Serpentina

4) Reator sequencial em batelada – ideal quando tem fluxo intermitente de efluentes (ex. processos
industriais). Único reator opera como tanque de aeração e decantador secundário, com as fases de
operação: enchimento, reação (aeração), sedimentação, esvaziamento e repouso. Pode ser operado como
convencional ou de aeração prolongada. Permite a remoção biológica de nutrientes.

Enchimento Aeração Sedimentação Retirada

5) Biorreator a membranas (BRM, MBR) - substituição do decantador secundário por cassetes com
módulos de membranas de microfiltração, dentro do tanque de aeração, ou em tanque externo. Excelente
qualidade do efluente final, devido à detenção de sólidos pelas membranas.
Ef luente Ef luente
Ef luente Ef luente
primário primário
secundário secundário

Lodo reciclado
Lodo em Lodo reciclado Lodo em
excesso excesso
Membranas externas
Sistema integrado
6) Critérios de projeto típicos para as principais variantes

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CIV 447 – Tratamento de Águas Residuárias II

Variante Regime1 c, d , h SSTTA2 A/M3 Qr/Q4


Convencional FP 3-15 4-8 1000-3000 0,2-0,4 0,25-0,75

Alta taxa FP 0,5-2 1,5-3 200-1000 1,5-2 1-1,5


Contato/ 0,5-1/ 1000-3000/
FP 5-10 0,2-0,6 0,5-1,5
estabilização 2-4 6000-10000
Alimentação
FP 3-15 3-5 1500-4000 0,2-0,4 0,25-0,75
escalonada
Oxigênio puro FP 1-4 1-3 2000-5000 0,5-1 0,25-0,5

Mistura completa MC 3-15 3-5 1500-4000 0,2-0,6 0,25-1

Aeração prolongada FP 20-40 20-30 2000-5000 0,04-0,1 0,5-1,5

Valo de oxidação FP 15-30 15-30 3000-5000 0,04-0,1 0,75-1,5


Reator sequencial
B 10-30 12-40 2000-5000 0,04-0,1 -
em batelada
Biorreator a
MC 5-20 4-6 4000-8000 0,2-0,4 -
membranas
1
FP = fluxo em pistão; MC = mistura completa; B = batelada
2
SSTTA = sólidos em suspensão totais no tanque de aeração, g m-3
3
A/M = kg DBO (kg SSV.d)-1
4
Qr/Q = razão de recirculação

7) Comparação entre processos convencional e de aeração prolongada

Parâmetro Convencional Aeração prolongada


Eficiência, % DBO5 85-93 93-98
N 30-40 15-30
P 30-45 10-20
Coliformes 60-90 65-90
Requisitos Área, m2/hab 0,2-0,3 0,25-0,35
Potência, W/hab 1,5-2,8 2,5-4,0
Lodo a tratar, m3/(hab.ano) 1,1-1,5 0,7-1,2
Custo de implantação, US$/hab 60-120 40-80
Fonte: (Von Sperling, 2002)

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CIV 447 – Tratamento de Águas Residuárias II

V. PRINCÍPIOS E SISTEMAS DE AERAÇÃO

1) Funções de aeração
a) Introduzir O2
b) Manter biomassa em suspensão

2) Métodos de aeração
a) Aeração mecânica – aeradores causam grande turbilhonamento, expondo gotículas de água ao ar
i) manutenção mais fácil do que difusores de ar, por serem superficiais
ii) oxigenação controlada pelo nível do vertedor ou eixo do aerador
iii) tipos de aeradores mecânicos
(1) aeradores de eixo vertical – tanque de aeração limitado até 3,5 a 4,5m de profundidade útil
(a) baixa rotação, fluxo radial
(i) fixos –- apoiados a pilares ou passarelas
(ii) 20 a 60 rpm
(iii) criam ressalto hídrico
(b) alta rotação, fluxo axial
(i) flutuantes –- ancoradas às margens
(ii) 900 a 1400 rpm
(iii) bombeamento ascensional até difusor  aspersão
(2) aeradores de eixo horizontal –1,5m de profundidade útil
(a) utilizados em valos de oxidação
(b) fixos às laterais do valo
(c) 20 a 60 rpm
(d) proporcionam movimento circulatório do líquido
(e) curvas relacionam rpm e profundidade de imersão com capacidade de oxigenação, kg O2
(m.h)-1

Baixa rotação, fluxo radial Alta rotação, fluxo axial Eixo horizontal

Tipos de aeradores mecânicos superficiais

a) Ar difuso – introduzir ar ou O2 no líquido


i) Tanque de aeração limitado a 4,5 a 6 m de profundidade útil
ii) melhor transferência de oxigênio (maior área superficial entre fases)
iii) problemas com colmatação / manutenção dos difusores
(1) interno – sujeira no ar de entrada; filtro de ar pode minimizar problema
(2) externo – biofilmes; requer manutenção/limpeza periódica
iv) classificação:
(1) bolhas finas < 3mm – pratos, discos, tubos porosos
(2) bolhas médias 3-6 mm – membranas ou tubos perfurados
(3) bolhas grossas > 6mm – orifícios, bocais ou injetores

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CIV 447 – Tratamento de Águas Residuárias II

Tipos de difusores

Sistema de ar difuso

3) Cinética de aeração
a) Transferência de gás – 3 etapas
i) moléculas de O2 se transferem para superfície do líquido
ii) moléculas de O2 atravessam interface por difusão
iii) sob agitação, O2 se mistura no meio líquido por difusão e convecção

dOD
b) Velocidade de transferência:  K La (OD s  OD r )  rM , g m-3 h-1
dt
onde: ODr = concentração de oxigênio dissolvido no reator, g m-3
ODs = concentração de saturação de oxigênio dissolvido, g m-3
KLa = coeficiente global de transferência de O2, h-1
rM = taxa de consumo de OD pelos microrganismos, g m-3 h-1

dOD rM
No estado estacionário,  0 , portanto, rM  K La (OD s  OD r ) , K La 
dt (ODs  OD r )
,
Os valores de rM são facilmente determinados por respirometria, o que permite a detrminação do KLa.

4) Fatores que afetam aeração


a) Temperatura
i) ODs cai com aumento da temperatura (valores tabelados)
ii) KLa aumenta com aumento da temperatura: KLa,T = KLa,20.(T-20),  = 1,024
 H 
b) Altitude: ODs cai com aumento da altitude, ODs, H  f H ODs  1  ODs,0 m
 9450 
onde: fH = fator de aeração
ODs,H= OD de saturação na altitude H
ODs,0m = OD de saturação no nível do mar
H = altitude, m
c) Características do esgoto - presença de sais, agentes tensoativos, sólidos suspensos afeta ODs
OD s esgoto

OD s água lim pa
 = 0,7 a 0,98 (valor tipicamente adotado = 0,95)

d) Intensidade de mistura e geometria do reator afetam taxa de transferência global, KLa


K La esgoto

K La água lim pa
 = 0,6 a 1,2 para aeração mecânica;  = 0,4 a 0,8 para ar difuso

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CIV 447 – Tratamento de Águas Residuárias II

5) Taxa de transferência de O2 no campo e em condições padrão


a) A taxa de transferência de O2 nas condições padrão, TTOp, representa a massa de O2 que pode ser
transferida em água limpa, isenta de OD, a 20ºC, no nível do mar (H = 0 m) pelo aerador; a
determinação é realizada em tanque de teste, com volume V.

K La (ODs,20 )V
TTOp  , kg.h 1
1000

onde: ODs,20 = concentração de saturação de OD a 20C, g m-3, 0m


KLa = coeficiente global de transferência de O2, h-1
V = volume do reator, m3
1000 = fator de conversão de g para kg

b) A taxa de transferência de O2 nas condições de operação em campo, TTOc, representa a quantidade de


O2 transferida (kg h-1) ao esgoto (contendo salinidade, surfactantes, etc.), à temperatura e altitude de
operação, no reator real. A TTOc é igual aos requisitos de oxigênio (ROC + RON). O valor da TTOc é
utilizado para calcular a TTOp necessária e dimensionar o sistema de aeração. Deve-se determinar a
TTOp necessária para o mês mais frio e mês mais quente, e dimensionar o sistema para o valor maior.
 f OD s , T OD r  (T20)
TTO c  TTO p  H 
 OD 
 s , 20 

ODs,T = concentração de saturação de OD no nível do mar, na temperatura do reator

6) Eficiência de oxigenação, EO
a) Valores de EO são fornecidos pelo fabricante dos aeradores para determinar a potência necessária para
a TTOp requerida.
TTO p
EO 
P , kgO2 (kWh)-1

onde: P = potência consumida, kW

b) Valores de EO variam com o tipo de aerador.


Aerador EO padrão, kg O2 (kW.h)-1
Mecânico Baixa rotação, fluxo radial 1,5 – 2,2
Alta rotação, fluxo axial 1,2 – 2,0
Eixo horizontal 1,2 – 2,0
Difusor Bolhas finas 1,2 – 2,0
Bolhas médias 1,0 – 1,6
Bolhas grossas 0,6 – 1,2

c) Aeradores estão disponíveis com potências variando de 1 a 150 cavalos (1 Cv = 0,735 kW)

4) Densidade de potencia consumida, DP

DP = P/V, W.m-3

onde: P = potência, W
V = volume do reator, m3

a) Quanto maior a DP, maior a quantidade de SS que se mantêm dispersos


b) Para lodos ativados recomenda-se DP > 10 W.m-3

20
CIV 447 – Tratamento de Águas Residuárias II

4) Dimensionamento do sistema de aeração


a) Quantificar ROtotal, kg O2 d-1 = TTOc
b) Estabelecer OD a manter no reator (1,5 a 2 mg O2 l-1)
c) Adotar valores de KLa, , , ODs,T - variáveis e coeficientes de aeração
d) Calcular TTOp
e) Selecionar tipo de aeração (mecânica ou ar difuso) e selecionar EO do sistema de aeração (com dados
do fabricante)
f) Calcular potência total requerida, P = TTPp/EO, kW
g) Determinar número e a disposição de aeradores no tanque com base na potência total, no regime
hidráulico e no tipo de aeração
i) Perfil de substrato (S) e oxigênio dissolvido (OD) no reator
(1) para reator com regime hidráulico que se aproxima de mistura completa, se a potência de
aeração for distribuída de forma homogênea no tanque de aeração, haverá um equilíbrio entre
a concentração de substrato e de OD.
(2) para reator com regime hidráulico que se aproxima de fluxo em pistão, se a potência de aeração
for distribuída de forma homogênea no tanque de aeração, haverá um excesso de OD na saída
do reator, e, possivelmente, faltará OD na entrada do reator.
ii) Para sistemas com regime hidráulico de fluxo em pistão, pode ser distribuir a potência dos
aeradores para igualar a demanda de OD, com gradiente da entrada até a saída do reator, na
variante conhecida com aeração decrescente.

Variante Perfil de S e OD no reator

Mistura completa S OD
Alimentação escalonada

tempo/distância tempo/distância

Fluxo em pistão: S OD
Convencional
Aeração prolongada convencional
tempo/distância tempo/distância

Fluxo em pistão: S OD
Aeração decrescente
Reator sequencial em batelada
tempo/distância tempo/distância

21
CIV 447 – Tratamento de Águas Residuárias II

VI. ROTEIRO DE DIMENSIONAMENTO DO TANQUE DE AERAÇÃO

1) Dados de entrada a levantar


a) Características do esgoto bruto: Q, S0, X0, NKT0
i) 54 g DBO5 (hab.d)-1
ii) 60 g SST (hab.d)-1
b) Eficiência requerida (lembrar que DBO5,e = DBO5 dos Xe,b + S
c) Temperatura média do mês mais frio e mês mais quente

2) Variáveis de projeto a escolher


a) c
i) diretriz inicial
(1) < 20.000 hab. – aeração prolongada
(2) 20.000 a 100.000 hab. – estudo técnico-econômico
(3) >100.000 hab. – convencional
ii) refinamento
(1) pré-dimensionamento para volumes, áreas e potências requeridas
(2) estudo econômico da melhor alternativa
b) Xv = SSVTA
c) XT,e = SS no efluente final (< 100 mg L-1)
d) Qr/Q
e) regime hidráulico do reator
f) sistema de aeração (mecânica ou ar difuso)

3) Coeficientes adotados
a) Y, kd, kd
b) fb’
c) Xv/XT e Xb/XT dos sólidos recém-formados e dos sólidos no esgoto bruto
d) O2/Xb, DBOúltima/DBO5
e) KLa, , , ODs,T
f) Resumo de valores típicos de coeficientes cinéticos e estequiométricos
Coeficiente Descrição Unidade Faixa Valor típico
gSSV
Y coef. de produção celular 0,4 – 0,8 0,6
gDBO5
gSSV
kd coef. de respiração endógena 0,06 - 0,2 0,12
gSSV.d
 coef. temperatura para kd - 1,03- 1,08 1,04
fração biodegradável de biomassa gSSb
fb' - 0,80
nova gSSV
Xv/XT fração volátil dos solídos em gSSV
- 0,90
reator suspensão de biomassa nova gSST
Xv/XT fração volátil dos solídos em gSSV
0,7 - 0,85 0,80
esgoto bruto suspensão no esgoto bruto gSST
fração biodegradável dos solídos em gSSb
fb = Xb/XV - 0,60
suspensão volátieis do esgoto bruto gSSV
gDBOu
02/Xb DBO dos sólidos biodegradáveis - 1,42
gSSb
gDBOu
DBOu/DBO5 relação DBO última / DBO5 1,2 - 1,5 1,46
gDBO5
Obs. Correção de temperatura: kT = k20(T – 20) para coeficientes cinéticos

22
CIV 447 – Tratamento de Águas Residuárias II

4) Dados resultantes
a) fb no reator
b) Produção de sólidos, PX
c) Volume do reator, que por sua vez define o tempo de detenção hidráulica
d) XT no reator e relação Xv/XT no reator
e) Requisitos de nutrientes
f) Requisitos de oxigênio
g) DBO total no esgoto tratado
h) Carga de lodo excedente que deve ser descartado
i) Taxa de utilização de substrato, U e relação alimento/microrganismo, A/M
j) TTOc, TTPp e potência de aeração requerida

5) Diretrizes da NBR 12209


a) c: 2 a 40 d
b) A/M: 0,07 a 1,1 kg DBO5 (kg SSV d) -1
c) U: 0,06 a 1,0 kg DBO5 (kg SSV d) -1
d) XT: 1500 a 6000 mg l-1
e)   1 h quando c < 18 d ou U > 0,15 kg DBO5 (kg SSV d) -1
 15 h quando c  18 d ou U  0,15 kg DBO5 (kg SSV d) -1

6) Detalhes construtivos do tanque de aeração


a) Manter relação comprimento/largura adequada para permitir distribuição homogênea dos aeradores e
respeitar regime hidráulico
b) Profundidade útil é função do sistema de aeração:
i) Aeração mecânica – 3,5 a 4,5 m
ii) Aeração por difusores – 4,5 a 6 m
c) Para aeração mecânica, o número de aeradores deve ser:
i) ≥ 2 para Q de 20 a 50 L s-1
ii) ≥ 3 para Q > 50 L s-1
d) Incluir borda livre  0,5 m para evitar transbordo de efluente em períodos de geração de espuma ou
intumescimento do lodo
e) Se Q > 250 l s-1, deve dividir em  2 tanques em paralelo (paredes comuns)
f) Entrada do esgoto no fundo evita liberação de H2S
g) Saída geralmente por vertedores na extremidade oposta à da entrada
h) Incluir dispositivos de quebra de espuma que possa formar na superfície (eventualmente adiciona anti-
espumante no ponto de retorno de lodo reciclado)
i) Incluir dispositivo de drenagem por bombas submersíveis ou descarga de fundo
j) Em caso de interferência do lençol freático, deve ter mecanismo de aliviar sub-pressão quando o
tanque estiver vazio.

23
CIV 447 – Tratamento de Águas Residuárias II

VII. SEPARAÇÃO DE SÓLIDOS – DECANTADOR SECUNDÁRIO

1) Papéis do decantador secundário


a) Clarificação de efluente - separação e sedimentação do lodo (SST)
b) Adensamento dos XT até a concentração desejada (Xr)
i) Quanto maior Xr, menor Qr e Qex para reciclar e descartar determinadas quantidades de lodo
ii) Valor de Xr que pode ser obtido é função da qualidade do floco biológico
OBS.: NBR 12209/2011 determina 10000 mg/L
iii) Controle operacional deve contemplar tanque de aeração e decantador em conjunto para garantir
boa formação de floco e boa sedimentabilidade (decantabilidade)

2) Tipos de sedimentação no decantador secundário


a) Zonal (impedida) – as partículas se mantêm em posições fixas e sedimentam por gravidade como
uma unidade, devido à sua elevada concentração, formando uma interface entre a massa de sólidos
(manta de lodo) e o líquido clarificado
b) Compressão – ocorre no fundo do decantador, apenas por compressão devido ao peso das partículas

3) Análise de sedimentação
a) Transferir amostra homogênea para coluna de ensaio.
b) Acompanhar Ht, a altura da interface formada entre efluente e lodo ao longo do tempo.

1 2 3

Z Z
1 –zonal (Z)
H
H0
H1 2 – transição (T)
T T 3 – compressão (C)
C
H3 C H4 C
t0 t1 t3 t4
tempo

c) Índice volumétrico do lodo, IVL


i) O IVL é uma medida empírica da decantabilidade do lodo que quantifica o volume (mL) ocupado
por g de lodo decantado, após 30 min
mL mg
mL volume de lodo decantado, x 1000
L g
IVL, = mg
g teor de SST, L
ii) Limitações do método
(1) Dois lodos com diferentes velocidades iniciais podem apresentar mesmo IVL
(2) O valor do IVL é influenciado pelo valor de X:
mL 1000mg mL 1000mg
100 x 100mL 1000 x 100mL
L g L g
mg = e mg =
1000 g 10000 g
l l

iii) Para poder comparar IVLs de lodo com diferentes teores de SST, pode-se quantificar o IVL
padronizado, IVLA3,5, ajustando o X a 3500 mg SS L-1; e agitando suavemente (1-2 rpm) durante
a decantação.

iv) IVL e decantabilidade do lodo

Decantabilidade IVL IVLA3,5


Ótima 0 - 50 0 - 40
Boa 50 – 100 40 - 80
Média 100 – 200 80 - 100
Ruim 200 - 300 100 - 120
Péssima > 300 > 120

24
CIV 447 – Tratamento de Águas Residuárias II

4) Teoria de fluxo de limite de sólidos


TAH = Q/A
Ga = [(Q + Qr)/A].X

v v Q - Qex

GL GL

Qu = Qr + Qex
Q + Qr GT = Gg + Gu = X.v + Xr.u

a) Fluxo de sólidos, G = kg SS/m2.h (carga/área)

X(Q+ Qr )
i) Fluxo aplicado, Ga =
A

ii) Fluxo de sólidos no fundo do decantador tem 2 componentes (assumir estado estacionário):

GT = Gg + Gu

(1) Gg = fluxo por gravidade, Gg = X.v, onde v = velocidade de sedimentação zonal

(2) Gu = fluxo pela retirada do fundo, Gu = Xr.u, onde u = Qu/A, velocidade de retirada do fundo

b) Determinação do fluxo limite de sólidos


X1 < X2 < X3
i. Avaliar altura da interface (H) em intervalos
regulares de tempo, para diferentes valores v3
H, cm

de SST (X, mg/L) e determinar a velocidade v1 v2


de sedimentação zonal para cada condição; X3
vi = Hi/tempo, na região de sedimentação X1
X2
zonal da curva
Tempo, min
Velocidade, m/h

ii. Elaborar gráfico de SST versus velocidade v = v0.e-k.X


de sedimentação zonal; v = voe-k,X

X (SST), g/L
Gg, kg/m2.h

iii. Elaborar gráfico de fluxo por gravidade; Gg = v.X


Gg = X.v

X (SST), g/L

25
CIV 447 – Tratamento de Águas Residuárias II

iv. Adotar Xr de projeto ( 10000 mg SST/L) e


traçar tangente à curva de Gg até o eixo das
ordenadas. O intercepto corresponde ao
fluxo limite, GL, o fluxo máximo que pode
ser aplicado sem ter sobrecarga no
decantador por limitação da capacidade de
adensamento.

GL

Gg, kg/m2.h
v. Traçar reta da origem com inclinação igual a A
taxa de aplicação hidráulica, Q/A. A interseção
das retas corresponde ao ponto de estado do
decantador. Xr
Ponto de estado

X, g/L
GL

vi. Traçar reta horizontal do ponto de estado ao

Gg, kg/m2.h
eixo das ordenadas. O intercepto corresponde G0
ao fluxo de projeto, G0, utilizado para
determinar área do decantador para Xr
adensamento.
X, g/L

vii. Para evitar sobrecarga em termos de clarificação, TAH < v, e área necessária para clarificação é:

Q
Ac 
TAH

viii. Para evitar sobrecarga em termos de adensamento Ga < GL ou Ga = G0, e área necessária para
adensamento é:

(Q  Q r ).X
Aa 
G0

Adota-se a área maior entre Ac e Aa para o dimensionamento do decantador.

c) Diretrizes:

TAH, m3 (m2.h)-1 Ga, kg (m2.h)-1


Sistema
Qméd Qmáx Qméd Qmáx
WEF, Metcalf & Eddy:
Convencional 0,67 - 1,33 1,67 - 2,67 4,0 - 6,0 10
Aeração prolongada 0,33 - 0,67 1,00 -1,33 1,0 - 5,0 7
ABNT (NBR 12209):
c<18d ou A/M>0,15kgDBO5/  1,17  6,0
kgSSTVA.d
c>18d ou A/M<0,15kgDBO5/  0,67  5,0
kgSSTVA.d

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CIV 447 – Tratamento de Águas Residuárias II

5) Detalhes construtivos do decantador secundário

a) Profundidade lateral (sem borda livre)


Profundidade (m)
Diâmetro (m)
mínima recomendada
< 12 3,0 3,3
12-20 3,3 3,6
20-30 3,6 3,9
30-40 3,9 4,2
>40 4,2 4,5
ABNT >0,5* > 3,5**
*remoção não-mecanizada do lodo; **remoção mecanizada do lodo

b) Tempo de detenção hidráulica > 1,5 h p/ Qmed


c) Vertedores de saída
i) vertedores em V - menor influência de diferença de nível
ii) comprimento requerido - taxa de vertedor: < 12 m3 (m.h)-1
d) Decantador horizontal
i) comprimento/profundidade: < 10 a 15
iii) comprimento/altura mínima água:  4:1
iv) largura/altura mínima água:  2:1
v) comprimento/largura: > 2:1
vi) velocidade do dispositivo de remoção de lodo:  20 mm/s
e) Decantador circular
i) diâmetro: 10 a 40 m
ii) diâmetro/profundidade:  10
iii) velocidade do dispositivo de remoção de lodo:  40 mm/s
f) Fundo
i) declividade de fundo: 1:12 - remoção por raspadores
ii) fundo plano - remoção por sucção

27
CIV 447 – Tratamento de Águas Residuárias II

VIII. TRATAMENTO E DISPOSIÇÃO FINAL DO LODO

Outras formas de
disposição final
Leito

Natural
Lodo digerido Lodo adensado Lagoa Lodo desaguado Calagem

Higienização
Secagem
SST=1% SST=3-4% Filtro prensa de SST=10-30%
Lodo da Disposição
Adensador Compostagem
ETE placas terrestre

Mecânica
Digestor Filtro prensa de Outros
esteira
Centrífuga

Efluente extraído do lodo


volta ao tratamento
Obs.: O lodo em excesso retirado do sistema é considerado estável, para fins de desidratação e disposição final
se c > 18d ou U < 0,15kgDBO5/(kg SSVTA.d)

1) Digestão do lodo
a) Digestor aeróbio
i) Profundidade entre 2,5 e 10m
ii) TDH ≥ 12d para lodo biológico, ≥ 18d para lodo misto (primário e biológico)
(1) Taxa de aplicação de sólidos ≤ 3,5 kg/m3.d
(2) Requisitos de oxigênio ≥ 2,3 kgO2/kg SSV digerido
(3) OD ≥ 2 mgO2/L
(4) Para aeração mecânica, DP ≥ 25W/m3
(5) Para ar difuso, taxa de aplicação do ar ≥ 1,2m3 ar/(h.m3 do reator)
b) Digestor anaeróbio
i) Para X > 500mg/L, deve usar digestor com homogeneização
(1) recirculação do volume total do lodo em ≤ 8h
(2) misturador com DP ≥ 1W/m3 para digestor convencional (taxa de aplicação de SSV ≤ 1,2
kg/m3.d)
(3) misturador com DP ≥ 5W/m3 para digestor de alta taxa (taxa de aplicação de SSV entre 1,2 e
6 kg/m3.d)
(4) TDH
(a) ≥ 45d para digestor não homogeneizado
(b) ≥ 30d para digestor convencional homogeneizado
(c) ≥ 18d para digestor de alta taxa, aquecido
2) Adensador por gravidade
a) Profundidade ≥ 3m
b) TDH ≤ 24h
c) Taxa de aplicação de sólidos e teor de SS, para dimensionamento
d) Assumir recuperação máxima de 90% dos SS no lodo afluente ao adensador

Tipo de lodo Taxa de aplicação Taxa de aplicação de Consistência lodo


hidráulica m3/m2.d sólidos, kg SS/m2.d adensado(%)
Lodo ativado 8  30 3
Lodo misto  12  50 5
e)
3) Desaguamento (Desidratação) do lodo – natural ou mecanizada
a) Desaguamento mecânico – critérios de dimensionamento
i) Gerais
(1) Massa de sólidos secos do lodo a desaguar, kgSST/d
(2) Densidade do lodo
(3) Vazão de lodo, m3/d
(4) Teor de sólidos do lodo digerido, %
(5) Teor de sólidos final desejado, %

28
CIV 447 – Tratamento de Águas Residuárias II

(6) Condicionante adicionado, % (p/p) ou kg/d e quantidade retida no lodo, %


(7) Período de operação da unidade, h/d e d/semana
ii) Específicos
(1) Filtro prensa de placas (lodo estabilizado)
(a) Densidade e volume da torta
(b) Tempo (min) e número de ciclos de prensagem (ciclos/d)
(c) Dimensões e número de placas (fornecedor)
(2) Filtro esteira (lodo estabilizado)
(a) Massa de sólidos secos do lodo a desaguar, kgSST/d
(b) Capacidade da esteira, kg SST/m.h (fornecedor)
(c) Largura da esteira, m (fornecedor)
(3) Centrífuga (lodo cru ou estabilizado)
(g) Massa de sólidos secos do lodo a desaguar, kgSST/d
(h) Capacidade de transporte do lodo úmido, m3/h (fornecedor)
(i) Captura de sólidos = SST FINAL  SST INICIAL  SSTCENTRADO 
  100
SST INICIAL  SST FINAL  SSTCENTRADO 
iii) Desidratação natural
(1) leito de secagem
(2) lagoa de secagem

iv) Comparação entre métodos


Recuperação de
Unidade Tipo de lodo Sólidos, %
sólidos, %
Leito de secagem 40-50 90-98
Filtro de esteira* lodo misto, via anaeróbia 15-20
85-95
via aeróbia 13-20
Filtro prensa* lodo misto, via anaeróbia 25-40
90-95
via aeróbia 20-25
Centrífuga lodo misto, via anaeróbia 18-30
via aeróbia 15-20 90-95
lodo misto ou 2ario cru 15-20
*apenas lodo estabilizado (digerido)

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CIV 447 – Tratamento de Águas Residuárias II

IX. CONTROLE E MONITORAMENTO DO PROCESSO

1) Controle operacional
a) Oxigênio Dissolvido:
i) tentar manter suprimento de oxigênio próximo ao consumo
ii) medir pelo menos 2 vezes/dia, no tanque de aeração e no decantador
b) Alternativas de operação
i) Vazão de recirculação (Qr) pode ser mantida:
(1) constante
(2) proporcional a Q
(3) variada em função do IVL
(4) variada em função do nível da manta de lodo
ii) Manter SS no tanque de aeração constante
iii) Manter idade do lodo (c) constante
iv) Manter carga de lodo (A/M) constante

2) Programa de monitoramento operacional

Local Parâmetro Freqüência Tipo


Efluente bruto DBO e DQO semanal composta
SS e SSV semanal composta
NKT semanal composta
pH diária pontual
Alcalinidade semanal pontual
Coliformes termotolerantes semanal pontual
Efluente primário DBO e DQO semanal composta
SST semanal composta
Reator Temperatura diária pontual
OD contínua pontual
SST diária pontual
SSV semanal pontual
NO3- semanal pontual
IVL diária pontual
Linha de retorno SST diária composta
Efluente final DBO semanal composta
DQO semanal composta
SST e SSV semanal composta
NKT, NH4+, NO3- semanal composta
pH diária pontual
Coliformes termotolerantes semanal pontual

3) Principais problemas operacionais dos sistemas de lodos ativados

a) Elevada concentração de sólidos em suspensão no efluente secundário


i) lodo ascendente
(1) desnitrificação no fundo do decantador secundário gera N2
(2) condições sépticas no fundo do decantador gera biogás
(3) presença de emulsão de óleos ou graxas
ii) lodo intumescido
(1) baixa concentração de OD no reator
(2) pH < 6,5
(3) baixa relação A/M na entrada do reator
(4) falta de nutrientes
(5) esgoto séptico afluente ao reator
(6) elevada concentração de DBO rapidamente biodegradável

30
CIV 447 – Tratamento de Águas Residuárias II

iii) lodo pulverizado


(1) insuficiência de bactérias filamentosas
(2) falta de nutrientes
(3) aeração excessiva
(4) elevada relação A/M na entrada do reator
iv) lodo disperso
(1) aeração excessiva
(2) baixo c
(3) baixo pH no reator
(4) baixa concentração de OD no reator
(5) presença de substâncias tóxicos no efluente
(6) elevada carga orgânica
v) sobrecarga de sólidos no decantador secundário (fluxo de sólidos aplicado > fluxo limite)
vi) sobrecarga hidráulica no decantador secundário (TAH > vs da interface da manta de lodo)
vii) formação de espuma / escuma na superfície do decantador secundário
(1) aeração excessiva
(2) presença de bactérias filamentosas em excesso
(3) presença de detergentes não biodegradáveis

b) Elevada concentração de DBO no efluente


i) elevada concentração de DBO particulada
(1) elevada concentração de SS no efluente final (discutido em 3.i.)
ii) elevada concentração de DBO solúvel
(1) baixa concentração de OD no reator
(2) baixa concentração de SSTTA
(a) Qex excessiva
(b) Qr insuficiente
(c) perda de sólidos no decantador secundário devido à má decantabilidade
(3) elevada carga e, ou variação de carga de DBO na entrada do reator
(4) inibição por substâncias tóxicas
(5) falta de nutrientes
(6) variação de temperatura
(7) pH do efluente não ajustado entre 6,5 e 8,5

c) elevada concentração de amônio no efluente secundário


i) inibição de crescimento de bactérias nitrificantes
(1) baixa concentração de OD no reator
(2) baixa temperatura no reator
(3) baixo pH no reator
(4) presença de substâncias tóxicos no efluente
ii) baixa concentração de SSTTA (discutido no item 3.b.ii.)
iii) elevada carga de amônio na entrada do reator

4) Monitoramento microbiológico
a) Observações microscópicas da microbiota no tanque de aeração ajudam a diagnosticar causas de
problemas operacionais
b) Floco Microbiano
i) formada por bactérias formadoras de flocos e filamentosas
ii) o floco bem formado garante sua boa decantabilidade
iii) estrutura
(1) macroestrutura – bactérias filamentosas
(2) microestrutura – bactérias formadoras de flocos
iv) floco ideal
(1) equilíbrio entre filamentosas e formadoras de floco
(2) floco forte e grande
floco bem formado

31
CIV 447 – Tratamento de Águas Residuárias II

c) Separação de sólidos - principal problema operacional do sistema de lodos ativados é a má formação


do floco no tanque de aeração, levando à dificuldade de separação/adensamento dos sólidos no
decantador secundário:
Problema Causa
Crescimento disperso Microrganismos não formam flocos
Intumescimento viscoso Excesso de exopolímeros gelatinosos
Floco pulverizado Pouca ou nenhuma bactéria filamentosa
Intumescimento filamentoso Excesso de bactérias filamentosas
Lodo ascendente Desnitrificação no decantador secundário libera N2, flocos aderem
às bolhas de gás e sobem
Espuma/escuma Presença de bactérias filamentosas, ex. Nocardia, Microthrix
parvicella ou tipo 1863

d) Quando ocorre o intumescimento filamentoso (excesso de bactérias filamentosas), a identificação do


tipo de filamento presente no lodo serve para indicar qual condição operacional está inadequada:
Filamento Condição inadequada
Sphaerotilis natans, Haliscomenobacter hydrossis OD baixo
Microthrix parvicella, Nocardia Relação DBO/SSV baixa
Beggiatoa, Thiothrix Presença de sulfetos (septicidade)
Fungos pH baixo
Thiothrix Deficiência de nutrientes

e) Diferenças fisiológicas entre bactérias formadoras de flocos e filamentosas ajudam a definir estratégias
de controle do equilíbrio entre os dois grupos:
Característica fisiológica Formadora de floco Filamentosa
Taxa de assimilação substrato Elevada Reduzida
Taxa de crescimento Elevada Reduzida
Taxa de respiração endógena Elevada Reduzida
Decréscimo da taxa de crescimento em baixa
Significativo Moderado
concentração de substrato
Resistência ao estresse nutricional Reduzida Elevada
Decréscimo da taxa de crescimento em baixa
Significativo Moderado
concentração de OD
Formação de reservas intracelulares Elevada Reduzida
- -
Utilização de NO3 como aceptor de e Sim Não
Reservas de P Sim Não

f) Controle de filamentosas
i) Químico – agentes oxidantes, ex. cloro, peróxido de hidrogênio
ii) Seletores biológicos – favorecem crescimento das bactérias formadoras de flocos
(1) seletor cinético – aeróbio, elevada A/M:
formadoras de flocos

filamentosas

substrato

(2) seletor metabólico: anaeróbio ou anóxico (como na remoção biológica de nutrientes)

iii) critérios de dimensionamento dos seletores


(a) A/M > 5 g DQO solúvel/(g SST.d)
(b) TDH – 10 a 30 min
(c) S solúvel na saída do seletor < 60 mg DQO l-1

32
CIV 447 – Tratamento de Águas Residuárias II

g) Microrganismos eucariontes nos lodos ativados


i) Protozoários
(1) Eucariontes unicelulares
(a) importante no polimento do efluente
(b) alimentam-se de matéria orgânica, bactérias, outros protozoários
(2) Classificação:
(a) Ciliados - livre natantes; predadores de flocos; fixos ou pedunculados
(b) Flagelados
(c) Amebas
ii) Micrometazoários – eucariontes multicelulares
(1) Rotíferos
(2) Nematóides
(3) Anelídeos
(4) Tardígrados
iii) A proporção relativa de organismos eucariontes presentes no tanque de aeração serve como
indicador da eficiência do sistema de lodos ativados
(1) Eucariontes indicadores
Grupo Diagnóstico
Pequenos flagelados Fraca depuração
Flagelados grandes Carga orgânica baixa
Pequenos ciliados livre natantes c baixo ou lodo pouco oxigenado
Grandes ciliados livre natantes Floco jovem e carga orgânica elevada
Ciliados predadores de flocos Floco bem formado
Ciliados Fixos Boa depuração
Amebas com teca Carga orgânica muito baixa
Amebas pequenas Carga orgânica elevada e de difícil degradação
Micrometazoários c elevada

(2) Proporção relativa de eucariontes e eficiência do sistema


Floco fraco Floco bem formado Floco disperso

Rotíferos

Ciliados fixos
Rotíferos Nematóides
Ciliados fixos
Rotíferos

Ciliados livre Ciliados livre


natantes natantes Nematóides
Ciliados livre
natantes Ciliados fixos

Rotíferos

Flagelados Ciliados livre


Flagelados natantes Ciliados fixos
Flagelados Ciliados livre
natantes
Amebas Flagelados Flagelados
Amebas Amebas Amebas Amebas
Reduzido c Elevado
Elevado A/M Reduzido

33
CIV 447 – Tratamento de Águas Residuárias II

REMOÇÃO BIOLÓGICA DE NUTRIENTES


1) Introdução
a) Limites na Resolução CONAMA 357/2005
i) Águas residuárias – padrão de lançamento de N-amoniacal total < 20 mg l-1 – revogado em
12/03/2008
ii) Águas – padrão classe 2
(1) N-NO3- < 10 mg l-1
(2) N-amoniacal total
(a) < 3,7 mg l-1 p/ água com pH  7,5
(b) < 0,5 mg l-1 p/ água com pH > 8,5
(3) P < 0,03 mg l-1 em ambiente lêntico
(a) < 0,05mg l-1 em ambiente intermediário
(b) < 0,1 mg l-1 em ambiente lótico
b) Nutrientes no esgoto
Parâmetro Cont. per capita, g/(hab.d) Concentração
Nitrogênio total 8 50 mg N l-1
Nitrogênio orgânico 2,5 a 5 15 a 30 mg N l-1
Nitrogênio amoniacal 3,5 a 7 20 a 40 mg N-NH4+ l-1
Nitrato 0 a 0,5 0 a 2 mg N-NO3- l-1
Fósforo total 2,5 5 a 25 mg P l-1
Fósforo orgânico 0,3 a 1,5 2 a 8 mg P l-1
Fósforo inorgânico 0,7 a 3,0 4 a 17 mg P l-1

2) Nitrificação
a) Cinética da nitrificação
i) Função da taxa de crescimento das bactérias nitrificantes (dXN/dt)
dX N
  N X N  k d, N X N
dt
NH 4 
 N   N max
K N  NH 4 
Nmax = taxa específica máxima de crescimento de bactérias nitrificantes (0,3 a 0,7 d-1)
KN = coeficiente de meia-saturação para amônia (0,5 a 1,0 mg NKT L-1)
kd,N = taxa de decaimento das bactérias nitrificantes (0,04 a 0,16 d-1)
1 1
ii) c necessário para garantir a nitrificação: c  
 N  k dN  N
iii) Fatores ambientais que afetam N (taxa específica de crescimento das bactérias nitrificantes)
(1) Temperatura
(a) temperatura ótima = 25 a 35C
(b) N,T = N,,20.(T-20)
(i) Nmax,20: 0,3 a 0,7 d-1
(ii) N = 1,10
(2) pH
(a) pH ótimo 7,2 a 8,0
(b) para pH de 6,2 a 7,2: N,pH = N,7,2.[1 -0,83.(7,2 – pH)]
(c) pH < 6 – pouca atividade nitrificante
(3) OD
(a) recomenda-se manter OD > 1,5 mg L-1
 OD 
(b)  N   N ,max  K  OD 
 O 
(i) KO = coeficiente de meia-saturação para OD (0,4 a 1,0 mg O2 L-1)
(ii) OD < 0,2 mg L-1 não ocorre nitrificação

34
CIV 447 – Tratamento de Águas Residuárias II

(4) Efeitos dos fatores ambientais sobre N são multiplicativos:


 NH 4   OD 
 N   N max   [1  0,83.(7,2  pH )] T20 
 K  NH   K O  OD 
 N 4 

iv) Substâncias tóxicas


(2) a baixa diversidade de espécies de bactérias nitrificantes torna o processo mais sensível à
presença de substâncias tóxicas
(3) listas de substâncias inibidoras disponíveis na literatura (fenóis, solventes orgânicos, metais,
benzeno...)
b) Taxa de nitrificação
i) NKT oxidado é proporcional à taxa de crescimento bruto de bactérias nitrificantes, XN:
NTK  N 
 X N  N f N X V , g NKT oxidado/(m3.d)
t YN YN
onde: N = taxa específica de crescimento das bactérias nitrificantes, d-1
YN = coeficiente de rendimento celular das bactérias nitrificantes (0,05 a 0,1 g X N/g
NKT oxidado)
fN = fração das bactérias nitrificantes na biomassa total
X N / t
fN 
X V / t
onde: XN/t = YNNKT oxidado
NKT oxidado = Q(NKTo – NKTe) – 0,12 PXv
PXV = XV/t
XV/t = XV/c

YN [Q( NTK 0  NTK e )  0,12(X V / c)V


fN 
(X V / c)V
onde: Q = vazão, m3/d
NKT0 = NKT que entra no reator, g/m3
NKTe = NKT que sai do reator, g/m3
V = volume do reator, m3

c) Requisitos de alcalinidade para a nitrificação


i) Alcalinidade no pH do tratamento biológico (pH6-8) está na forma de HCO3-
ii) 1 mol (14g) de NKT (ou NH4+) oxidado produz 2 mols de H+ que consomem 2 mols de HCO3-
(122g), ou seja, cada mg de N oxidado, consome 8,7 mg HCO3- (2H+ + 2HCO3  2H2O + 2CO2)
iii) Consumo de alcalinidade, expressa como mg/l CaCO3:

8,7mgHCO 3 1mmolHCO 3 1meqHCO 3 1meqCaCO 3 50mgCaCO 3 mgCaCO 3


. 
. 
. 
.  7,1
L 61mgHCO 3 mmolHCO 3 meqHCO 3 meqCaCO 3 L

portanto 1 mg N-NH4+ oxidado consome 7,1 mg CaCO3 L-1

iv) Consumo de alcalinidade na nitrificação resulta em queda de pH, que por sua vez, resulta em queda
da taxa de nitrificação. Portanto, deve-se garantir alcalinidade suficiente no reator (pode ser
necessário adicionar alcalinizante), para evitar seu consumo total. A alcalinidade disponível no
esgoto bruto é
(1) 110 a 170 mg CaCO3 L-1
(2) 20 a 30 mg CaCO3/(hab.d)

d) Requisitos de oxigênio para a nitrificação:


RON = 4,57.NKT oxidado = 4,57[Q(NKTo – NKTe) – 0,12 PXv]

3) Desnitrificação

35
CIV 447 – Tratamento de Águas Residuárias II

a) Conversão de NO3- a N2, utilizando o nitrato como aceptor final de e- no catabolismo oxidativo de
matéria orgânica biodegradável
b) Realizada por bactérias quimiorganoheterotróficas:
i) com substrato fornecida pela água residuária (matéria orgânica biodegradável solúvel, DBOS,
representada estequiometricamente por C10H19O3N):
C10H19O3N + 10NO3-  10CO2 + 5N2 + NH3 + 10OH- + 3H2O + energia
ii) com substrato fornecida pelo decaimento endógeno (matéria orgânica biodegradável da respiração
endógena representada estequiometricamente por C5H7O2N):
C5H7O2N + 4NO3-  5CO2 + 2N2 + NH3 + 4OH- + energia
iii) com substrato fornecida por fonte exógena (tipicamente metanol ou acetato é adicionado):
5CH3OH + 6NO3-  5CO2 + 3N2 + 7H2O + 6OH- + energia
5CH3COOH + 8NO3-  10CO2 + 4N2 + 6H2O + 8OH- + energia
c) Vantagens de promover a desnitrificação
i) nitrificação provavelmente vai ocorrer, portanto desnitrificação no tanque de aeração evita geração
de N2 no fundo do decantador secundário, que resultaria em lodo ascendente (carreado pelas bolhas
de N2, um gás muito pouco solúvel)
ii) economia de O2 - parte da matéria orgânica é removida utilizando NO3- como aceptor final de e-,
em substituição ao O2
iii) economia de alcalinidade
(1) 1 mol NO3- gera 1 mol OH- que neutraliza 1 mol H+ gerado na nitrificação
(2) economia teórica de 50%, uma vez que 2 mols H+ são gerados na nitrificação, mas estimativa
prática é de 3 mg CaCO3 L-1, portanto nitrificação + desnitrificação consome 7,1 – 3 = 4,1 mg
CaCO3 L -1
 S  NO 3  
d) Cinética de desnitrificação    max 
. . 

 K S  S   K NO 3  NO 3 
onde: S = matéria orgânica biodegradável, g DBO m-3
KS = coeficiente de meia-saturação para substrato, g DBO m-3
NO3- = concentração de nitrogênio na forma de nitrato, g N m-3
KNO3 = coeficiente de meia-saturação para nitrato, g N m-3
(normalmente KNO3 << NO3-, e segundo termo é desprezado)
 desnit mgNO 3 
e) Taxa específica de desnitrificação, TDE  ,
Ydesnit mgSSV .d
Fonte da matéria orgânica Posição da zona anóxica TDE
Esgoto bruto – pré-destnitrificação a montante da zona aerada 0,03-0,11
Respiração endógena – pós-desnitrificação a jusante da zona aerada 0,015-0,045

f) Fatores ambientais que afetam a desnitrificação


i) OD - inibição diretamente proporcional a OD
(1) completamente inibida a OD = 1 mg l-1
 S  NO 3   K
 
(2) Modelo USEPA, IAWQ:  desnit   max .  
OI 
 K S S  K NO 3  NO 3  K OI OD 

KOI = coeficiente de inibição para OD, mg l-1


KOI = 0,2 mg l-1 para biomassa na superfície do floco; = 2 mg l-1 para biomassa no interior
do floco
ii) Temperatura
(1) temperatura ótima = 35 a 45°C
(2) TDET = TDE20(T-20);  = 1,03 -1,20 (1,09)
iii) pH
(1) pH ótimo 7,0 – 7,5
(2) TDE a pH 6 = 40%-80% da TDE máxima
(3) TDE a pH 8 = 70-90% da TDE máxima
iv) Substâncias tóxicas - inibição indireta devido à inibição da nitrificação
4) Sistemas para remoção biológica de nitrogênio (uso de seletores metabólicos anóxicos)

36
CIV 447 – Tratamento de Águas Residuárias II

zona anóxica zona aeróbia

a) Pré-desnitrificação (processo Ludzack-Ettinger modificado)


R= 2 a 4

R=1
b) Pós-desnitrificação

R= 1
c) Bardenpho 4 estágios
R= 3 a 5

R=1
d) Valo de oxidação

R= 1
e) Reator seqüencial em batelada

enchimento reação sedimentação retirada

f) Critérios de projeto para a remoção biológica de nitrogênio


Pré- Pós- Bardenpho 4
Parâmetro Valo de oxidação
desnitrificação desnitrificação estágios
SSVTA, mg l-1 3000-4000 2000-4000 3000-4000 2000-4000
c, d 7-20 10-30 10-20 20-30
TDH total, h 5-15 7-15 8-20 18-30
TDH zona anóxica, h 1-3 - 1-3 variável
TDH zona aeróbia, h 4-12 5-10 4-12 variável
TDH 2a zona anóxica, h - 2-5 2-4 -
TDH 2ª zona aeróbia final, h - - 0,5-1 -
Razão de recirculação do lodo,
50-100 100 50-100 50-100
%
Razão de recirculação do
100-200 - 200-400 -
efluente, %
Fonte: Metcalf e Eddy, 2003

37
CIV 447 – Tratamento de Águas Residuárias II

g) Vantagens e desvantagens dos processos de remoção biológico de nitrogênio


Processo Vantagens Desvantagens
Pré-desnitrificação Economiza energia; remoção de DBO Capacidade de remoção de N depende
antes da zona aeróbia da recirculação do efluente
Alcalinidade produzida antes da Controle de OD necessário para
nitrificação recirculação do efluente
Inclui seletor que melhora IVL
Fácil de adaptar em sistemas existentes
Ntotal final < 8 mg l-1
Reator em batelada Processo flexível e fácil de operar Requer reatores em paralelo
Não há perda de SS Critérios de projeto mas complexos
Ntotal final < 8 mg L-1
Bardenpho 4 estágios Ntotal final < 5 mg L-1 Requer reatores de maiores volumes
Secundo tanque anóxico tem baixa
eficiência
Pós-desnitrificação Ntotal final < 5 mg L-1 Maior custo operacional devido à
com adição de adição de metanol
carbono

3) Remoção de Fósforo
a) Requer alternância de zonas anaeróbias e aeróbias
i) na zona anaeróbia
(1) ácidos orgânicos voláteis (AOVs) são produzidos por pelas bactérias heterotróficas
fermentativas
(2) organismos acumuladores de P (OAPs) assimilam AOVs e os transformam em
polihidroxibutirato (PHB), uma forma de reserva de carbono, cuja síntese requer energia
(OAPs pertencem aos gêneros Agrobacterium, Aquaspirillum, Acidovorax, Sphingomonas,
entre outros)
(3) OAPs hidrolisam polifosfato para fornecer energia e liberam fosfato ao meio

-polihidroxibutirato (PHB) polifosfato (PoliP)


ii) na zona aeróbia
(1) oxidação do PHB gera a energia utilizada para o crescimento dos OAPs
(2) OAPs assimilam fosfato e o armazena na forma de polifosfato, em grânulos de volutina
(3) P é removido com o lodo excedente (P representa 2 a 7% da massa celular)

Anaerobiose Aerobiose

Bactérias facultativas OAPs

DBO AOVs
solúvel AOV PoliP
CO2+H2O
Novas
células
PHB PoliP PHB PoliP

PO43- O2 PO43-

Anaerobiose Aerobiose

mg/L fosfato
DBO solúvel

tempo

iii) Tratamento do lodo deve evitar condições anaeróbias


38
CIV 447 – Tratamento de Águas Residuárias II

(1) alternativas de tratamento incluem flotação; digestão aeróbia; desidratação contínua


(2) lodo retirado é rico em P, e deve-se considerar seu potencial reaproveitamento como
fertilizante

b) Fatores ambientais que afetam a remoção de P


i) OD - deve ser maior que 1,5 mg L-1 na zona aeróbia e = 0 na zona anaeróbia
ii) Temperatura - menor taxa de liberação de P em temperatura baixa vão requer maior TDH para
garantir fermentação suficiente
iii) Presença de nitrato (NO3-) reduz eficiência na zona anaeróbia porque a matéria orgânica será
oxidada utilizando NO3- como aceptor final de e- e não fermentada a AOVs
iv) pH ótimo 7,5 a 8,0
v) c - quanto maior c, menor a quantidade de lodo excedente, portanto menor a remoção de P
vi) DBO do esgoto – precisa de DBO5 solúvel elevada na zona anaeróbia para garantir fermentação
(recomenda DBO5 solúvel/P > 15:1)

c) Estimativa da quantidade de P removido com o lodo excedente


i) Fator de aptidão do sistema para remover fósforo: Pf = (frb.DQO – 25).fan
onde: frb = fração rapidamente biodegradável da DQO
(frb = 15 a 30 % da DQO do esgoto bruto ou 20 a 35% do esgoto primário)
DQO = DQO do esgoto bruto ou primário
fan = fração mássica do lodo anaeróbio (tipicamente 0,1 a 0,25)
ii) Fração de P na biomassa ativa (Water Research Commission, África do Sul,1984):
P / X a  0,35  0,29.e 0,242.Pf
1
onde: Xa = faXV, e f a 
1  0,2k d c

iii) Fração de P nos SSV no lodo excedente: P/XV = fa(P/Xa)


iv) Relação do fósforo removido no lodo excedente por unidade de DBO removida:
Y
P/DBO = Yobs(P/XV) = P / DBO  (P / X V )
1  f b k d c

onde: P/XV = fração de P nos SSV, mg P/mg SSV


Y = coeficiente de rendimento celular
0,8
fb = fração biodegradável dos SSV = f b 
1  0,2k dc
Y P
v) Quantidade de fósforo removido, Prem  . .(S0  S)
1  f b k d c X V

d) Processos para remoção biológica de nutrientes (N e P) – seletores metabólicos

zona anaeróbia zona anóxica zona aeróbia

i) A2O - Anaeróbio/Anóxico/Aeróbio
R = 1-4

R = 0,2-1

ii) UCT – Universidade da Cidade de Cabo (Cape Town)


39
CIV 447 – Tratamento de Águas Residuárias II

R = 2-4 R = 1-3

R=1

iii) Bardenpho 5 estágios


R = 2-4

R = 0,5-1

iv) Reator seqüencial em batelada

enchimento reação sedimentação retirada

e) Critérios de projeto para remoção de fósforo (e nitrogênio)


Reator em Bardenpho 5
Parâmetro A2O UCT
batelada estágios
SSVTA, mg l-1 2000-4000 2000-4000 20-40 2000-4000
c total, d 5-25 10-25 3000-4000 10-20
c aeróbia, d 5 5 6 8
TDH anaeróbia, h 0,5-1,5 1,0-2,0 1,5-3 0,5-1,5
TDH anóxica, h 0,5-1 2,0-4,0 1-3 1-3
TDH aeróbia, h 4-8 4-12 2-4 4-12
TDH 2a anóxica, h - - - 2-4
TDH aeróbia final, h - - - 0,5-1
Razão de recirculação do lodo 0,25-1 0,5-1 0,5-1
Razão de recirculação aeróbia
1-4 1-3 - 2-4
p/anóxica
Razão de recirculação anóxica p/
- 2-4 - -
anaeróbia
Fonte: Metcalf e Eddy, 2003

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CIV 447 – Tratamento de Águas Residuárias II

REATORES AERÓBIOS DE LEITO FIXO (BIOFILME)


1) Tipos
a) Filtro biológico percolador (FBP)
b) Filtro aerado submerso (FAS)
c) Biofiltro aerado submerso (BAS)
d) Biodiscos ou reatores biológicos de contato (RBC)

2) Filtro biológico percolador


a) Conceito: reator com enchimento (pedra britada ou plástico) sobre o qual o efluente percola. É sempre
precedido por unidades de remoção de sólidos grosseiros (grade), areia (desarenador) e sólidos em
suspensão (decantador primário) e seguidos de decantador secundário.
b) Principais componentes do FBP
i) dispositivo de distribuição do esgoto
ii) aspersores fixos ou móveis
iii) meio suporte
(1) material inerte, com arranjo que permite circulação de esgoto e ar
(a) pedra britada
(i) 95% entre 5 e 8 cm (brita n° 4)
(ii) H  3m
(b) suporte plástico
(i) projetos mais novos
(ii) H  12 m
iv) ventilação natural
(1) aberturas para drenagem com área  15% da área do fundo
(2) extremidades do drenos em contato com o ar com área  1% da área do fundo
v) sistema de drenagem no fundo que garante circulação do ar
(1) declividade  1%
(2) vmin = 0,6 m/s
(3) drenos e canaletas com seção molhada  50% da seção transversal, para Q + Qr
Braço Caixa de
distribuidor saída

Efluente
Canal do
efluente
Meio suporte
Orifícios Fundo falso
Saída gases

vi) Decantador primário (NBR 12209)


(1) Taxa de aplicação hidráulica ≤ 36 m3/m2.d
(2) Taxa de escoamento no vertedor de saída ≤ 380 m3/(d.m do vertedor)

c) Classificação baseada em cargas aplicadas


i) carga hidráulica (TAH), m3(m2.d)-1
ii) carga orgânica volumétrica, kg DBO (m3.d)-1
Tipo de suporte
Carga Aplicada Pedra
Plástico
Baixa taxa Alta taxa
Hidráulica, m3/(m2.d) 5  50* 10 -75*
3
Orgânica, kg DBO/(m .d)  0,3  1,2 3
* Inclui vazão de recirculação

41
CIV 447 – Tratamento de Águas Residuárias II

d) Critérios de carga
i) Eficiência de remoção de matéria orgânica é função de c, um parâmetro de difícil determinação
em sistema com crescimento aderido (biofilme)
anóxico
anaeróbio aeróbio

esgoto
NO3-

suporte
NO2-

meio
DBO
H2S OD
AOVs NH4+

DBO

OD

distância do meio suporte

Ambientes bioquímicos no biofilme

ii) Critérios utilizados são:


(1) carga orgânica volumétrica, kg (m3.d)-1
(2) carga orgânica por área superficial do meio suporte, kg (m2.d)-1
Aplicação Carga Qualidade efluente
Tratamento secundário 0,3-1 kg DBO/m3.d 15-30 mg DBO l-1
3
Remoção DBO + nitrificação 0,1-0,3 kg DBO/m .d <10 mg DBO l-1
2
0,2-1,0g NKT/m .d* <3 mg N-NH4+ l-1
2
Tratamento terciário - pós-nitrificação 0,5-2,5 g NKT/m .d* 0,5-3 mg N-NH4+ l-1
Remoção parcial DBO 1,5-4,0 kg DBO/m3.d 40-70% remoção DBO
*área do meio suporte

e) Propriedades físicas de meios suporte


Material Tamanho, cm Ps kg/m3 As m2/m3 Vazios, % Uso*
Pedra 3-8 1250-1450 60 50 C, CN, N
PVC conv. 60x60x120 30-80 90 >95 C, CN, N
PVC alta As 60x60x120 65-95 140 >94 N
PVC randômico variável 30-60 98 80 C, CN, N
PVC randômico, alta As variável 50-80 120 70 N
*Uso: C – remoção DBO; CN – remoção DBO e nitrificação; N – nitrificação

f) Recirculação – recirculação do efluente (não da biomassa) para amortizar variações de vazão,


melhorar operação, garantir molhamento da superfície.
i) Obrigatória em filtros de alta taxa
ii) Vantagens da recirculação
(1) matéria orgânica recirculada semeia filtro com variedade de organismos
(2) vazão recirculada amortece as variações de cargas
(3) recirculação diminui as possibilidades de acúmulo de esgoto e colmatação do filtro
(4) recirculação ao decantador primário tende a reduzir a formação de escuma
(5) problemas de odor e moscas são minimizados
iii) Parâmetros de recirculação
(1) R = razão de recirculação = Qr/Q, valores típicos 0,5 a3,0 (< 5, NBR 12209)
(2) Fator de recirculação da matéria orgânica:
1 R
F
1  R 10 2

42
CIV 447 – Tratamento de Águas Residuárias II

iv) Configurações típicas:


Decantador
Biofiltro Q 1ario 2ario
Qr
Filtro
Accelo Q 1ario 2ario
Qr

Aerofiltro Q 1ario 2ario


Qr

Duplo estágio Q 1ario 2ario


Qr

Q 1ario 2ario 2ario

Qr Qr

g) Taxa de aplicação superficial – lâmina de líquido aplicado sobre leito por revolução do braço
distribuidor (mm/volta)
i) menor taxa resulta em maior remoção de DBO, menos problemas com moscas, etc.
ii) maior taxa resulta em maior eficiência de molhamento, maior agitação e arraste de biomassa;
biofilme menos espessa e mais aeróbio
Carga DBO, kg (m3.d)-1 Aplicação, mm/volta Descarga, mm/volta
0,25 10-30 ≥ 200
0,5 15-45 ≥ 200
1,0 30-90 ≥ 300
2,0 40-120 ≥ 400
3,0 60-180 ≥ 600
4,0 80-240 ≥ 800

iii) velocidade do braço distribuidor, rpm 


1  R q
N.D
R = Qr/Q
N = número braços distribuidores
D = aplicação, m/volta
q = taxa de aplicação hidráulica, m3 (m2.min)-1

h) Dimensionamento
i) Critério do NRC (USEPA) - eficiência de remoção = (R, carga de DBO)

Filtro único Filtro de duplo estágio


100 100
E1, 20  E 2,20 
W1 0,443 W2
1  0,443 1
VF E VF
1 1
100

E1,20 e2,20 = eficiência de remoção de DBO, no 1º e 2º filtro a 20C, %


ETotal = E1 + E2(1 - E1/100) = eficiência global a 20C, %
ETotal, T = E20(1,035)T-20
W1 e 2 = carga orgânica aplicada, no 1º e 2º filtro, kg/d
W2 = (1 - E1/100).W1
V = volume do meio filtrante, m3
F = fator de recirculação

43
CIV 447 – Tratamento de Águas Residuárias II

ii) Critério do Eckenfelder


(1) Taxa de remoção do substrato (1ª ordem)
dS onde: k´ = taxa de remoção, d-1
 k S S = concentração do substrato, mg DBO5 L-1
dt
t = tempo de detenção hidráulica, d
(2) TDH, a carga hidráulica e a profundidade se relacionam:
CD onde: C, n = constantes relacionadas ao meio suporte
t n D = profundidade do meio suporte, m
q
q = carga hidráulica aplicada, m3/m2.d
(3) Xv, a biomassa, é proporcional à superfície específica do meio suporte:
onde: Av = superfície específica do meio suporte, m2/m3
X v  k" A v
k´´ = constante de proporcionalidade
(4) A relação entre eficiência, profundidade e carga hidrúlica é:
S  CD   KD  onde: K = coeficiente dependente do meio suporte
 exp  k ' k" A v n   exp n 
S0  q  q 
(5) Para determinar os valores de K e n
(a) realizar ensaios a diferentes cargas hidráulicas (q) e várias profundidades (D) do meio
suporte e determinar eficiência (S/S0)
(b) elaborar o gráfico de log(S/S0) versus D e determinar os valores das inclinações, i = K/qn

i3 S/S0 = exp(-KD/qn)
logS q3 log(S/S0) = -KD/qn
S0 i2
i1 q2 inclinação = K/qn
q1
D
(c) elaborar o gráfico de log(q) versus log(i); a inclinação é n

log(i) i = K/qn
n
nlogi = logK – nlogq
inclinação = n
log(q)

(d) Elaborar o gráfico de log(S/S0) versus D/qn; a inclinação é K

S/S0 = exp(-KD/qn)
logS
S0
K log(S/S0) = -KD/qn
Inclinação = K

D/qn

3) Filtro aerado submerso


a) Variantes
i) fluxo descendente
ii) fluxo ascendente
b) Meio suporte
i) H 1,6 m
ii) superfície específica < 250 m2/m3
c) Cargas orgânicas
i) volumétrica ≤ 1,8 kg dbo/(m3.d)
ii) superficial ≤ 15 kg DBO/(m2.d)
d) Carga de N para nitrificação
i) carga N-NH4+ ≤ 1 g N/(m2.d)
e) Aeração 30 Nm3 ar/kg DBO

44
CIV 447 – Tratamento de Águas Residuárias II

4) Biofiltro aerado submerso


a) Necessita apenas decantador primário
b) Variantes
i) fluxo descendente
ii) fluxo ascendente
iii) leito fluidificado
c) Meio suporte
i) H  1,6 m
ii) superfície específica > 350 m2/m3
iii) tamanho 2 a 6 mm (areia/argila)
d) Cargas orgânicas
i) volumétrica  4 kg DBO/(m3.d)
ii) superficial  15 kg DBO/(m2.d)
e) Aeração  30 Nm3 ar/kg DBO
f) Retrolavagem p/ remoção de sólidos acumulados
i) Intervalos 24 h
ii) TAH > 600m3/m2.d
iii) lodo de lavagem tipicamente enviado para decantador primário
g) Vantagens do BAS
i) baixos requisitos de área, unidades compactas
ii) trata eficientemente águas residuárias de baixa carga
iii) sem problemas operacionais de separação de sólidos
iv) esteticamente atrativo
h) Desvantagens do BAS
i) controle relativamente complexo
ii) economia de escala limitada
iii) custo de instalação relativamente elevado
i) Exemplos de sistemas proprietários
i) Biocarbone
efluente primário

efluente
secundário

lodo para Retrolavagem


descarte

ar
Remoção DBO Remoção DBO, nitrificação Pós-nitrificação
kgDBO (m3.d)-1 kgDBO (m3.d)-1 kgN (m3.d)-1
3,5 -4,5 2-2,75 1,2-1,5

ii) Biofor
efluente secundário

retrolavagem
(fluidificação)

ar
fundo falso
efluente primário

Remoção DBO Pós-nitrificação


3 -1
Carga kgDBO (m .d) 5-6 -
kgN (m3.d)-1 - 1,5-1,8
TAH m3 (m2.h)-1 5-6 10-12

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CIV 447 – Tratamento de Águas Residuárias II

5) Processos Híbridos
a) Filtro biológico + lodos ativados
i) filtro biológico
(1) estabilidade e resistência a cargas de choque
(2) eficiência e baixos requisitos de energia para remoção parcial de DBO
(3) age como seletor para melhorar decantabilidade do lodo no TA
ii) lodos ativados garante elevada qualidade do efluente final

1 2

Filtro
Filtro

TA TA

Lodos ativados
Filtro
Processo TAH decantador,
kgDBO (m3.d)-1 TDH, h c, d SSTTA, mg l-1
m3 (m2.h)-1
1 0,3-1,2 0,2-1 0,3-2 1000-3000 1,8-3
2 1,2-4,8 0,2-1 2-7 2500-4000 2-3,5

b) Reator de biofilme e leito móvel (MBBR)


i) material suporte, peças sintéticas (carriers) dispersas no TA
ii) aumento de X no TA
iii) menor requisito volumétrico do TA
iv) aumento de taxa de nitrificação
v) possibilidade de desnitrificação dentro do biofilme

tela
peças
ar sintéticas

Carga orgânica, TDH, h Área biofilme, TAH decantador, m3


kgDBO (m3.d)-1 anóxico aeróbio m2/m3 (m2.h)-1
1-1,4 1-1,2 3,5-4,5 200-250 0,5-0,8

vi) Reator UASB + filtro (percolador ou submerso) - sólidos do filtro estabilizados no reator UASB

Esgoto bruto Esgoto tratado

Lodo do filtro

Qualidade do esgoto tratado


Parâmetro Concentração, mg L-1 Eficiência, %
SS 10 95
DBO 10 95
DQO 50 88

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CIV 447 – Tratamento de Águas Residuárias II

TRATAMENTO TERCIÁRIO (AVANÇADO)


1) Constituintes típicos de águas residuárias tratadas biologicamente e seus impactos nos corpos
receptores
Constituinte residual Efeito
Assoreamento
SST Proteção de bactérias contra ação de agentes
Sólidos coloidais e
desinfetantes
suspensos
Coloides Turbidez
inorgânicos e
Matéria orgânica particulada Pode consumir O2
orgânicos
Proteção de bactérias contra ação de agentes
desinfetantes
Sólidos biológicos Bactéria, (oo)cistos, vírus Doenças de veiculação hídrica
Carbono orgânico total Pode consumir O2
Compostos orgânicos refratários Tóxicos, cancerígenos (POPs)
Tóxicos, cancerígenos
Matéria orgânica Compostos orgânicos voláteis
Precursores de oxidantes fotoquímicos
dissolvida
Afetam espécies aquáticas (disreguladores
Fármacos
endócrinos)
Surfactantes Geram espuma, interferem na coagulação
Tóxica a peixes
Eutrofização
Amônia
Conversão a nitrato consome O2
Aumenta demanda de cloro
Methemoglobinemia
Nitrato
Eutrofização
Matéria inorgânica
Eutrofização
dissolvida
Interfere com coagulação
Fósforo (Fosfato)
Interfere com abrandamento pelo processo cal-
soda
Cálcio e magnésio Dureza
Cloretos Sabor
Sólidos dissolvidos totais Interferem com processos agrícolas e industriais

2) Seleção de processo depende de


a) Uso previsto para o efluente tratado
b) Compatibilidade das operações e processos
c) Disponibilidade de métodos para dispor da forma final dos resíduos (sólidos, líquidos, gases)
d) Viabilidade econômica

3) Processos usados no tratamento terciário


a) Processos incorporados aos sistemas de lodos ativados
b) Lagoas de maturação
c) Aplicação no solo
d) Processos físico-químicos
i) Desinfecção
ii) Precipitação química
iii) Adsorção em carvão ativado
iv) Troca iônica
v) Membranas filtrantes
vi) Processos oxidativos avançados

47
CIV 447 – Tratamento de Águas Residuárias II

4) Desinfecção
a) Cloro
i) inativação de bactérias, vírus
ii) remoção de N: Cl2 + NH3    N2
iii) potencial formação de organoclorados
iv) Necessidade de remover cloro residual antes de lançar no corpo receptor, tipicamente feito com
SO2
(1) SO2 + HOCl + H2O  Cl- + SO42- + 2H+
(2) Aplicação de 1-1,2 mg SO2 /mgCl2 residual
b) UV
i) inativação de bactérias, vírus
ii) evita formação de compostos organoclorados
iii) não há residual desinfetante
c) Ozônio
i) Também utilizado para remoção de cor, substâncias recalcitrantes
i) evita formação de compostos organoclorados
ii) não há residual desinfetante

5) Precipitação química
a) Remoção de P (PO43-)
i) adição de sais metálicos (Al, Fe): Al3+ + PO43-  AlPO4(s); Fe3+ + PO43-  FePO4(s)
(1) no tratamento primário
(2) durante o tratamento secundário
(3) após o tratamento secundário
ii) aplicação de cal após decantador secundário: 10 Ca2+ + 6 PO43- + 2OH-  Ca10(PO4)*6(OH)2(s)
(1) pH > 11
(2) precipitação PO43- e SS, seguida de filtração final
b) Remoção de metais pesados
i) precipitação em faixas de pH diferentes
ii) hidróxidos ou sulfetos metálicos

6) Adsorção em carvão ativado (CA)


a) Processo de transferência de massa: líquido  sólido
b) Utilizado para remoção de cor, compostos recalcitrantes, metais
c) Preparo de carvão ativado
i) pirólise de matéria orgânica
ii) 700C, sem O2
iii) ativação
(1) 800-900 C, gases oxidantes
(2) aumenta a estrutura porosa
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CIV 447 – Tratamento de Águas Residuárias II

d) Compostos adsorvidos rapidamente em CA


i) Aromáticos - benzeno, tolueno, nitrobenzenos
ii) Aromáticos clorados - PCBs, clorofenóis
iii) Aromáticos polinucleares - acenaftaleno, benzopirenos
iv) Pesticidas e herbicidas - DDT, aldrina, clordano, atrazina
v) Organoclorados - tetracloreto de carbono, éteres de cloralquila, tricloroeteno, clorofórmio,
bromofórmio
vi) Hidrocarbonetos de alto PM - corantes, gasolina, aminas, material húmico

e) Compostos mal-adsorvidos em CA
i) Cetonas, aldeídos, ácidos de baixo peso molecular
ii) Açucares e amidos
iii) Orgânicos de elevado peso molecular e coloidais
iv) Alifáticos de baixo peso molecular

f) Propriedades do CA
Parâmetro Unidade Granular (CAG) Em pó (CAP)
Área superficial total m2g 700-1300 800-1800
Densidade kgm3 400-500 360-740
Tamanho de partículas mm/µm 0,1-2,36 mm 5-50 µm
Raio médio de poro nm 1,6-3 2-4
Cinzas % 8 6

7) Troca iônica
a) Remoção de íons (ex. NH4+, NO3-) – desmineralização

b) Íons deslocados da resina, permutados com íons na água residuária


i) resinas naturais (zeólitas) - aluminossilicatos (Si-Al)O4
ii) resinas sintéticas catiônicas e aniônicas - copolímeros de divinilbenzeno e estireno com grupos
funcionais ionogênicos:
(1) catiônica: R-SO3H  R-SO3 – ou R-SO3Na  R-SO3 –
(2) aniônica: R-OH  R+

c) Seletividade da resina
i) quanto maior, maior a afinidade da resina pelo íon
ii) escala de seletividade de resinas catiônica/aniônica, fortes:

Cátion Seletividade Ânion Seletividade


H+ 1,3 HPO42- 0,01
Na+ 2 CO32- 0,03
NH4+ 2,6 SO42- 0,15
Ag+ 8,5 CH3COO- 0,2
Mg2+ 3,3 HCO3- 0,4
Zn2+ 3,5 Cl- 1
Co2+ 3,7 CN- 1,3
Cu2+ 3,8 NO2- 1,3
Cd2+ 3,9 HSO4- 1,6
Ca2+ 5,2 Br- 3
Pb2+ 9,9 NO3- 3-4

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CIV 447 – Tratamento de Águas Residuárias II

8) Membranas filtrantes
a) Conceito
Módulo de Membranas
Área, m2
Pa  Pc
P   Pp
2

Alimentação Permeado
Qa = vazão, m3 d -1 Qp = vazão, m3 d -1
Ca = concentração, g m-3 Cp = concentração, g m-3
Pa = pressão, kPa Pp = pressão, kPa
Ja = fluxo, kg m-2d -1 Jp = fluxo, kg m-2 d -1

Rendimento, % = 100x(Jp /Ja)


Concentrado
Qc = vazão, m3 d -1
Cc= concentração, g m-3
Pc = pressão, kPa
Jc = fluxo, kg m-2 d -1

b) Uso de membranas está substituindo a precipitação química nas aplicações de tratamento avançado,
com a vantagem de não gerar lodo, no entanto, gera concentrado.

c) Classificação dos processos de membranas filtrantes


Processo Limites de exclusão Constituintes removidos
Microfiltração 0,08-2,0 µm SST, turbidez, (oo)cistos, bactérias, vírus
>500.000 g mol-1
Ultrafiltração 0,005-0,2 µm bactéria, macromoléculas, colóides,
1.000 – 500.000 g mol-1
Nanofiltração 0,001-0,01 µm vírus, moléculas pequenas
200 – 1.000 g mol-1
Osmose reversa 0,0001-0,001 µm cor, dureza, íons
< 200 g mol-1

OR

MF = microfiltração
UF = ultrfiltração
NF = nanofiltração
OR = osmose inversa

Sólidos em suspensão Íons multivalentes


Macromoléculas Íons monovalentes Água

d) Aplicação de membranas
Constituinte removido MF UF NF OR Observação
Orgânicos    Reúso
Dureza   Reúso
Metais   Reúso
Sólidos dissolvidos   Reúso / Dessalinização
Sólidos em suspensão   Pré-tratamento para NF e OR
Bactéria   Pré-tratamento para NF e OR
Cistos, oocistos, ovos     Desinfecção
Vírus   Desinfecção
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CIV 447 – Tratamento de Águas Residuárias II

e) Condições operacionais típicos


Processo Pressão, kPa Energia, kW/m3 Recuperação, %
Microfiltração 100 0,4 94-98
Ultrafiltração 525 3,0 70-80
Nanofiltração 875 5,3 80-85
Osmose inversa 1575-2800 10,2-18,2 70-85
Eletrodiálise - 9,5 75-85

9) Processos Oxidativos Avançados (POAs)


a) Aplicados para a oxidação de constituintes orgânicos de difícil degradação biológica
b) Baseados na geração e uso do radical hidroxila, HO•
i) forte oxidante
ii) reage de forma não-seletiva
iii) opera a temperatura e pressão normais
c) Leva à degradação dos constituintes sem geração de subprodutos ou resíduos

d) Processos de geração do radical hidroxila


Não-fotoquímicos Fotoquímicos
O3 a pH elevado (>8,5) O3 + UV
O3 + peróxido de hidrogênio (O3/H2O2) H2O2 + UV
O3 + catalisador (O3 + CAT) O3/H2O2/UV
Fenton (H2O2 + Fe2+) Oxidação fotocatalítica (UV/TiO2)

e) Formas de degradação oxidativa


i) extração de um átomo de H: HO• + RH H2O + R•
ii) adição a um átomo que participa de ligação dupla: HO• + X2C=CX2  X2C(OH)-C•X2
iii) extração de um elétron de um ânion: HO• +R-  HO- + R•

10) Outros processos físico-químicos de tratamento terciário


a) Eletrodiálise
i) remoção de sólidos inorgânicos dissolvidos
ii) separação por membranas semipermeáveis seletivas
iii) aplicação de carga separa cátions e ânions
b) Desgaseificação – remoção de NH3
i) efluente a pH > 11
ii) corrente de ar passa em contracorrente ao fluxo de efluente e arrasta a amônia para a atmosfera

11) Fluxogramas típicos de tratamento avançado por processos físico-químicos

Desinfecção
UF OR O3
UV

Efluente Troca Desinfecção


MF OR O3
secundário iônica Cl2

Desinfecção Adsorção Desinfecção


Filtração UF O3
UV CA Cl2

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CIV 447 – Tratamento de Águas Residuárias II

REFERÊNCIAS
ABNT - NBR 12209 - Projeto de estações de tratamento de esgoto sanitário, 2011.
METCALF & EDDY, INC. Wastewater engineering - treatment and reuse. 4. ed. Boston: McGraw-Hill, 2003.
GRADY, C.P.L., DAIGGER, G.T., LIM, H.C. Biological wastewater treatment. 2. ed. New York: Marcel
Dekker, 1999.
JORDAO, E.´P.; PESSOA, C.A. Tratamento de esgotos domésticos, 4 ed. Rio de Janeiro: SEGRAC, 2005.
VAN HAANDEL, C.; MARAIS, G. O comportamento do sistema de lodo ativado. Campina Grande:
EPGRAF, 1994.
VON SPERLING, M. Princípios do tratamento biológico de águas residuárias.Vol 4: Lodos ativados. 2 ed.
Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais. Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental,
2002.

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